O documento descreve a história do icônico Volkswagen Fusca no Brasil. Ele foi líder absoluto de mercado por décadas e marcou a identidade nacional, com mais de 3 milhões produzidos no país. Algumas histórias mostram como o Fusca fez parte da vida de famílias brasileiras e um homem chegou a nascer dentro de um.
1. E STA D O D E M I N A S ● S Á B A D O , 3 D E J A N E I R O D E 2 0 0 9
VEÍCULOS
50 ANOS
Pessoas foram concebidas e outras nasceram a bordo do Volkswagen Sedan, que foi líder
absoluto de mercado, deixou de ser produzido, renasceu e marcou a identidade nacional
RAFAEL DURAN/AFP -01/08/03
Histórias
DA CALOTINHA
VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO – 5/10/07
DANIEL CAMARGOS te e depois pela Volks, mas só em 1959 atingiu 54% de
componentes nacionais e ganhou a marca de brasilei-
As marcas que o Fusca deixou e ainda deixam pelo ro. No Brasil, foram 3.367.390 produzidos, na primeira
país são inegáveis. Em novembro, por exemplo, foi o fase de 1959 até 1986 e depois de 1993 até 1996. O vo-
sexto carro usado mais comercializado, com 15.894 lume nacional corresponde a cerca de 15% das
unidades, tendo à sua frente somente modelos que 21.592.464 unidades produzidas em diversos países.
ainda são produzidos (Gol, Uno, Palio, Corsa e Celta). Alexander Gromow, especialista em Fusca e autor
Mas, além dos números, o Fusca está no imaginário do da obra Eu amo Fusca (Editora Ripress) explica em seu
brasileiro, encarnado em estradas de terra batida de livro os bastidores da retirada de linha do Fusca, em
um interior remoto ou resplandecente e restaurado no 1986: “Pela primeira vez, a Volkswagen decidiu comu-
estacionamento de um shopping center de alguma nicar o encerramento da fabricação de um produto,
metrópole. Algumas histórias vão além da lata e hu- com meses de antecedência, numa manobra cuja fi-
manizam o carro, tornando-o testemunha de famílias. nalidade era de amortecer o choque que a notícia cau-
saria ao público consumidor”. A peça publicitária
VOLKSWAGEN/DIVULGAÇÃO
anunciando o fim tinha uma frase destacada que re-
sume bem o espírito da fábrica em relação ao modelo
que ajudou a erguê-la: “Às vezes o avanço tecnológico
de uma empresa não está no que ela faz, mas no que
ela deixa de fazer”. A General Motors também produ-
ziu uma peça, com um batendo as portas, como se fos-
sem asas, em direção ao céu e o seguinte texto: “Ho-
menagem da General Motors do Brasil ao seu peque-
no grande concorrente”.
A história do modelo começou em 1933, na Alema-
nha, quando Ferdinand Porsche apresentou o projeto,
mas a produção em escala industrial começou em
1945. Foi produzido até 30 de julho de 2003, no Méxi-
co. Em todo o mundo teve diversas versões e a mais
famosa é a Kombi, originada do projeto Transporter,
uma ideia do revendedor holandês Ben Pon, que pe-
gou no Brasil. Tanto que começou a ser produzida dois
anos antes do Fusca, em setembro de 1957, tornando-
se o primeiro veículo da VW fabricado no país e o mais
antigo em produção, pois é feita até hoje, com outro
motor desde 2003, o 1.4 flex refrigerado a água.
Cassiano Rickli completa 22 anos em fevereiro.
Quando chega a data de seu aniversário, inevitavel- AGÊNCIA ALMAPBBDO/DIVULGAÇÃO
mente, o relato do dia de seu nascimento surge nas
conversas. É que ele nasceu dentro de um Fusca, às
2h30, na BR-376, em Ponta Grossa (PR), a caminho do
hospital em 17 de fevereiro de 1987. “Meus pais mora-
vam em uma fazenda de Tibagi (PR), que fica a mais
ou menos uma hora de Ponta Grossa. Logo que minha
mãe entrou em trabalho de parto, partiram ela, meu
pai, meus dois irmãos e minha tia para Ponta Grossa,
mas, como minha mãe não aguentou esperar, meu
pai teve que parar o carro no acostamento da rodovia.
Foi só ele parar e sair do carro para eu nascer. Então fui
enrolado em uma toalha de banho e fomos os seis pa-
ra o hospital”, conta Cassiano.
O Fusca 1977 da família Rickli foi um presente do
avô de Cassiano para seu pai e durou até 1998, quando
a família decidiu trocar de carro e vendeu o velho Fus-
ca. “Hoje ele está encostado na casa do atual dono, o
que me dói muito, porque ele não quer nos vender.
Era um belo carro azul celeste. Ainda tenho muita von-
tade de tê-lo de volta e deixá-lo quase como era quan-
do novo”, afirma Cassiano.
Cassiano é estudante de Turismo e está em Win-
trhop, no estado de Washington, nos EUA, fazendo in-
tercâmbio de férias e a marca do seu nascimento ficou
para o resto da vida. “No meu antigo apartamento, há
um desenho na parede do meu quarto em formato de
Fusca e montei um painel de fotos nele. Todo mundo
me conhece como o cara que nasceu no Fusca e outros
nem acreditam na história.”
EVOLUÇÃO De 1950 até 1959 o carro era montado em
São Paulo, primeiro por um empresário independen-