1) O documento descreve a visita da rainha D. Filipa de Lencastre ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória, onde ela orava.
2) Ela conversa com o guia turístico e um frade sobre as mudanças ocorridas desde sua época, incluindo as novas tecnologias.
3) Eles visitam os túmulos dos filhos da rainha, importantes figuras históricas de Portugal.
Visita de D. Filipa de Lencastre ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória
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Visita de D. Filipa de Lencastre ao
Mosteiro de Santa Maria da Vitória
de Constantino Mendes Alves
Guia turístico – Estão todos, do grupo, aí? For the visit? Yes ok!
Che bella entrata, non è vero? Ah! Pois, vocês falam português, de onde vêm?
Sim, bonita localidade.
Eu serei o vosso guia.
É uma entrada e tanto, hem! Esta é uma entrada transversal à própria igreja do
mosteiro. Falarei da história dele noutro local. Agora apreciem:
A beleza dos arcos originais góticos, ideia do mestre de obras Afonso Domingos, depois
dirijam a vossa atenção para uma certa exuberância do ornamento, do mestre Huget,
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encimados pelos brasões régios de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. Podemos
admitir que a presença dos dois brasões signifique um poder partilhado entre os dois
esposos, que aliás, como consta viveram uma longa vida de harmonia familiar, e
também uma espécie de assinatura da filosofia, da ideia fundadora da obra, e que
obra, este monumento.
Quando derem uma volta inteira a este mosteiro, poderão admirar esta obra, única em
Portugal, no que concerne ao esplendor do gótico, um estilo adotado no período
medieval.
Frade (sai da igreja) - Ad angelum meum!
Guia turístico – “Pelo meu anjo”, frade, já anda por aí a falar latim sozinho?
Frade – Não sabes o que aconteceu, a Deo, um milagre!
Guia turístico – De qual fala? Milagres e lendas é o que para aqui mais há.
Frade – Vinde comigo e vê com os teus olhos.
Guia turístico – Terei de levar também estes jovens que me acompanham.
Frade – Vinde todos.
(entram)
Guia turístico - Denn alle? Está todo el mundo? Então frade?
Frade – Ali, a orar. Vês quem é?
Guia turístico – Não sei, posso tentar ver na internet…estou ligado e assim será mais
fácil…(ajeita os óculos)
Frade – Senhora, podeis chegar aqui?
(ela vem)
D. Filipa de Lencastre - My good brother, what you want me?
Guia turístico – Ela pergunta “o que lhe quereis?”
Frade – Diz-lhe que aqui pode falar português, eu sei que ela é boa falante.
Guia turístico – You may speak portuguese.
D. Filipa de Lencastre – Claro! Oh! Que surpresa estou no meu amado reino de
Portugal.
Eu sabia que um dia voltaria, da minha mais pura oração, do mais casto jejum, a minha
alma vogaria, quem saberia, no céu, até ao meu regresso, para visitar um futuro que só
pode ser generoso a quem tanto lhe deu.
Frade – Oh! Mas que alegria, Santa Maria parecia. É o céu enganando, com a virtude
comunicando, por ti, quase santa, por Portugal, celebrada.
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(dirige-se ao público) - A vós que não a conheceis, tenho para vós uma adivinha…
Veio de Inglaterra com uma aliança
A mais que um casamento
A sua ínclita prole lhe afiança
O zelo, a educação, e talento
Frade – Por quem sois, rainha de Portugal, D.Filipa de Lencastre, do céu é esta casa
também, lar final, de tantos ilustres do nosso amado reino.
Filipa – Mas estou perdida, no espaço e no verbo, …deixa-me adivinhar…o mosteiro de
Santa Maria da Vitória?!
Frade - Pois que sim, a obra sempre se concluiu.
D. Filipa de Lencastre – Um futuro muito distante, da minha morte. Pois que vejo
cousas, que outrora não se faziam e desafiavam o próprio demo. Ainda agora, na
minha oração, fui interrompida, por me desafiarem por uma coisa que disseram, de
“selfie”, por o que me parece da palavra, tem cousa da minha Inglaterra, mas não
cheguei a saber o quê, pois não quis romper a minha oração com deus, que é Ele na
nossa fé, nos diz quem somos e nos aponta o caminho que devemos percorrer.
Guia turístico – Desculpe a maçada, minha rainha, a selfie é um retrato a si próprio,
vivemos num tempo…
Frade – Que cada um se “endeusa”, num rodízio de egoísmo.
Guia turístico – Pode assim ser…., mas também a alegria de ser.
D. Filipa de Lencastre – Bonito, “a alegria de ser”, que ser, com a virtude, tem de
educar.
E estes jovens, tão…como qualificar, diferentes… fazem parte de uma escola
eclesiástica do convento, frade?
Frade – Como explicar, para dizer a verdade os frades dominicanos já mão residem
aqui, eu…
Guia turístico – I can explain, bom, eu explico, o frade é um visitante e zelador eterno,
todos daqui o conhecem desde sempre. Quanto aos rapazes e raparigas, minha
senhora, bom, como dizer, estamos no século XXI , o que torna tudo possível, cada um
veste-se como quer ou calha, corta o cabelo á moda ou ao gosto, eles fazem parte de
uma escola, mas fora do convento, hoje há escolas por toda a parte, todos podem
aprender as coisas mais diversificadas, é que eu digo:
No século XXI , tudo é possível, tudo mais um.
“Ok! Do you want something simple?”
Frade: Avancemos, que eu quero-lhe mostrar algo mui especial…
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(avançam para a nave central)
Frade - Dizem que o mestre de obras Huget procurou agradar-lhe, inspirando-se na sua
dedicação à oração.
Guia turístico – Senhora, quem não quereria agradar-lhe, o seu rosto, o seu sorriso
inspiraria qualquer raper…
Frade - Não seja vulgar, o que acontece aqui, é algo eterno, indelével e sagrado, cada
coisa no seu lugar, o prosaico…
D. Filipa de Lencastre – Fazem-me corar, que tempo este, frade, mas aqui celebra-se a
santa missa?
Frade – Sim, minha altíssima senhora, por enquanto os concertos rock ainda não
entraram aqui.
D. Filipa de Lencastre – Parece-me que a igreja ficou lindíssima, como outras catedrais
do meu primeiro país, a mesma luz, a luz, tão necessária para quem como nós vivemos
na escuridão da existência.
Frade – A luz é o olhar de deus.
Guia turístico – A luz, ok, também participo. (Imita fascinação com a luz, como
transando)
D. Filipa de Lencastre – Todas esta paleta de cores. Parece uma festa de Deus, que nos
inspira no seu sagrado coração.
Guia turístico – Amor! (toca no peito)
D. Filipa de Lencastre - Sim, l’amour.
Frade (pisando o pé do Guia) – Amor santo, bebido da fonte da fé. (benze-se)
Guia turístico - Ugh! Essa doeu. Faith Makes All Things Possible. Love Makes All Things
Beautiful.
D. Filipa de Lencastre – Beautiful indeed, Who is you?
Guia turístico - I´m Georges Silva, at your service.
Frade – E eu a ver navios…o que lhe disseste?
Guia turístico – Que a fé torna as coisas possíveis. O amor torna as coisas bonitas. Mais
ou menos, em português não tem piada…
D. Filipa de Lencastre - Mas esta capela…
Frade – É a do fundador.
D. Filipa de Lencastre – Dieu, viens à le faire! Et je parlais au roi dans sa construction ...
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Frade – Se fez, pois mais digno assim fica.
Guia turístico – A nossa rainha também fala francês, que era uma língua muito usada
pela corte daquele tempo, muito chic. (falando para a rainha) Entrons-nous?
Frade – Aqui reside em leito eterno toda a sua família, toda menos D. Duarte que foi
rei depois de seu marido.
D. Filipa de Lencastre – O rei e eu própria de mãos dadas, eternos esposos.
Guia turístico – Nós agora atribuímos a este túmulo assim de 2 pessoas adjacentes na
horizontal, de influência inglesa.
D. Filipa de Lencastre – Pois, que muito se mudou, na corte e no reino, os costumes
que por cá andavam, digamos, parados. É uma honra ser assim lembrada assim com o
meu amado rei, a nossa vida, como a descrever…a aventura de um novo tempo…
Frade – Costumes parados? É um eufemismo de sua senhoria, é branda na sua crítica.
Os Costumes, os hábitos da corte eram no mínimo deploráveis, perdoe-me, mas eram
completamente degradantes, a falta de honra e dignidade, o rebaixamento à vontade
da carne, as orgias…para não falar da intriga constante, de costumes dignos isso sim,
de bárbaros.
D. Filipa de Lencastre – Sim, tivemos de mudar muitas coisas, até na prática religiosa.
Guia turístico – Então frade? Tiveram então uma professora de Teologia?
D. Filipa de Lencastre - Mas vejamos, quem está aqui sepultado? Assim me dediquei
toda a vida, ao meu marido e rei, à minha prole, os meus filhos, ao reino.
Frade – Os seus filhos, 4 deles, um neto e um bisneto. O infante D. Duarte, que foi rei,
depois do seu esposo, está noutro local deste mosteiro.
Guia turístico – A ínclita geração, como ficou chamada. Estes homens foram uns
senhores.
Frade – Homens que muito dignificaram a corte portuguesa,
D. Filipa de Lencastre – Muito contento fico de saber como os meus filhos singraram
na vida portuguesa.
Guia turístico – Aqui jaz, o seu mais novo.
Frade – D.Fernando, o santo.
D. Filipa de Lencastre – Era tão jovem quando eu parti, não mais de 13 anos. Porque
ficou conhecido por santo?
Guia turístico – Ficou refém do povo árabe a quando da tomada de Tânger.
D. Filipa de Lencastre – Não houve resgate?
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Frade – O rei, seu filho D.Duarte, nunca aceitou trocá-lo por Ceuta. Foi um mártir,
morreu em cárcere.
D. Filipa de Lencastre – Lamento-o profundamente, não me esquecerei dele nas
minhas orações.
Guia turístico – Mais uma morte estúpida.
Frade - Todas as mortes o são, morrer com honra é uma causa nobre.
Guia turístico – Viver com honra é ainda muito mais à frente, tá a ver?! (aponta dois
dedos aos seus olhos)
Frade – Pronto já cá faltava a respondice.
D. Filipa de Lencastre – E este túmulo de quem é?
Frade – Senhora, do infante D.João, seu filho. Foi mestre da ordem de Santiago.
Guia turístico – E Condestável de Portugal.
D. Filipa de Lencastre – Réplica de D. Nuno Álvares Pereira, portanto, essa inspiração
divina. Que honra.
Frade – Os seus filhos ainda hoje são uma inspiração para todos nós.
Guia turístico – Isso é bem verdade, toda a família pertenceu à ordem da Jarreteira.
D. Filipa de Lencastre – Eu própria pertencia à Irmandade da Jarreteira do meu reino
de origem.
Frade – Nunca uma família dinástica foi tão distinguida por essa ordem, como a vossa.
Guia turístico – Pois, toda a gente gosta de uma medalhinha de vez em quando.
Frade – Tenha propósito, uma condecoração como aquela era e ainda é para poucos.
Guia turístico – A busca do santo Graal, não será uma utopia? Assim como uma coisa
inalcançável?
Frade – É a fé meu rapaz, que move o mundo.
D. Filipa de Lencastre – A lenda dos cavaleiros da távola redonda e o grande rei Artur,
são a raiz da cultura de um cavaleiro.
Guia turístico – Sempre pensei nessa lenda como histórias para crianças.
Frade – As crianças são os homens de amanhã.
Guia turístico – Ok! Crianças ao poder! Tragam as vossas fantasias e ideais para o
mundo de adultos, estamos na hora da morte.
Frade – Insolente! Rainha, este é o 3º túmulo, o infante D. Henrique, dizem o seu mais
acarinhado filho.
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D. Filipa de Lencastre – (debruçando-se no túmulo) Dói esta alma de mãe, ver morto
um filho a quem tanto demos. O que fez ele? Sei que também foi a Ceuta.
Guia turístico – Sim, Henrique, O Navegador, sobre ele haveria muito a dizer. Digamos
que foi apenas o grande impulsionador das viagens marítima dos portugueses
naqueles séculos.
Frade – Mestre da Ordem de Cristo.
Guia turístico – Já cá faltava o pai nosso.
Frade pisa-lhe o pé – dói não dói? É para aprender a respeitar a santa casa onde
estamos.
Guia turístico – (doído) Jesus deu a outra face quando foi esbofeteado.
Frade – Nunca conseguirei ser como Ele (irónico).
D. Filipa de Lencastre – Estes meus filhos foram severamente preparados para o
governo do reino e de se tornarem exemplos a outros cavaleiros.
Frade – Não houve quem os excedesse em cavalaria e sabedoria.
Guia turístico – At Last but not least, “Charam!” D. Pedro, o grande embaixador
português do século XV.
D. Filipa de Lencastre – Como era inteligente, dedicava-se com enorme vocação à
leitura e à sabedoria.
Guia turístico – Chegou a governar, depois da morte de D.Duarte, enquanto o infante,
seu neto, que viria a ser Afonso V, o africano, ainda não tinha idade para tomar as lides
da nação.
D. Filipa de Lencastre – Meu neto que nunca conheci.
Guia turístico – Chamaram-lhe o Africano, porque fez inúmeras conquistas em solo do
norte de África.
D. Filipa de Lencastre – Ceuta então deu certo em 1415, expandimo-nos pelo mundo?
Guia turístico – Aqui o seu bisneto, D. João II, foi o génio, de uma expansão por via
marítima sem precedentes até à altura.
Frade – Era importante expandir a fé cristã.
Guia turístico – Já não está quem falou, Atenção agora vai falar-se de mártires.
Frade – Não, não vou falar de mártires. Mártir estou a ficar eu de tanto ouvir dislates
seus.
D. Filipa de Lencastre – Senhores tenham contenção a fé, o amor pelos outros deve
ser algo que nos una e nos dê proveito enquanto irmãos Homem, a humanidade.
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Guia turístico – Humanidade senhora, é coisa que não falta, estamos sobrelotados de
humanidade, a tal ponto que vira desumanidade, o mundo está perdido.
D. Filipa de Lencastre – Talvez, pois a flor do coração humano precisa de ser regada
com amor
Tanto pelos homens como da natureza.
Frade – Toma lá! Sabichão da internet.
Guia turístico – Pelo menos não leio só o breviário.
D. Filipa de Lencastre – Calma, calma
Frade - Que vergonha!
D. Filipa de Lencastre – O nosso túmulo é lindissimo, e tem os nossos brasões. O meu
marido era muito, com dizer, um rei com muita autoridade, mas procurava partilhar
sempre o seu bom governo.
Frade – Por três vezes esses brasões estão casados em tantos outros sítios do
mosteiro. Aqui se vê a harmonia do seu casamento.
D. Filipa de Lencastre – Um casamento muito feliz na verdade.
Guia turístico – A infanta D.Isabel, não está aqui sepultada, foi duquesa de Borgonha,
cada com Filipe III de França, foi também rainha. Uma rainha que teve também um
papel importante na corte de França.
D. Filipa de Lencastre – Foi ela que me amparou nos últimos momentos…
Guia turístico – Agora vamos à porta central do mosteiro.
D. Filipa de Lencastre – E Duarte?
Guia turístico – Falaremos dele.
À porta central do mosteiro
Guia turístico – Agora não quero ser interrompido, (olhando para o frade) se alguém
quiser rezar o terço, peço-lhe que o faça em silêncio.
Agora é a hora do mosteiro.
Relato.
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Rap
(Refrão)
Agora, Agora, Agora
Agora não é passado, mas fica bem
Pensar o que aconteceu, mal ou bem
Tá na hora de se fazer o certo, sem
Perder o seu fuso, de viver, também.
Havia uma nação à deriva, lusa, que queria estar viva, então,
Castela era o temor, de perder a pátria, o terror e
D’Aviz vem o senhor, que s’alevanta e desfecha o invasor, vem
Nun´Álvares o condestável na batalha inabalável
De um contra dez quem ganhou foi o português
Com a ajuda do quadrado inglês.
Se chamou de Aljubarrota a batalha em que Castela se derrota
E aí se prometeu a construção do que eu me deslumbro como num museu
De santa maria da vitória em honra da virgem em glória
Para que não se apagasse da história ação tão emancipatória.
(Refrão)
Agora, Agora, Agora
Agora não é passado, mas fica bem
Pensar o que aconteceu, mal ou bem
Tá na hora de se fazer o certo, sem
Perder o seu fuso, de viver, também.
Disfrutem, vejam, observem, deslumbrem
Este mosteiro de setecentos anos, tão belo como novo
A esta obra do e para o povo Tecido no calcário, rendilhado como religioso relicário
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Uma obra gótica, não é ilusão de ótica, é construção fantástica
Majestática, portas aristocráticas, janelas espampanantes, pináculos elegantes.
O primeiro mestre de obras Afonso Domingues um dos mestres insignes que lhe deu o
estilo gótico arcaico pouco mais ou menos prosaico
Mas foi Huget que no gótico flamejante crê, ao mosteiro deu este jeito porreiro,
Tão lindo ao céu rindo como o povo quisesse inteiro o paraíso prazenteiro.
(Refrão)
Agora, Agora, Agora
Agora não é passado, mas fica bem
Pensar o que aconteceu, mal ou bem
Tá na hora de se fazer o certo, sem
Perder o seu fuso, de viver, também.
Enfim a porta sem defeito nem torta…
De cada lado, devidamente ornamentado
Estão baldaquinos de lavor requintado,
Perfilam-se os Apóstolos, seis de cada lado,
Por cima, as primeiras arquivoltas, virgens, mártires e confessoras; como escoltas
papas, bispos, diáconos, monges e mártires com a sua palma, elevando a alma
Nas duas seguintes estão os reis de Judá, reino que já não há,
Antepassados de Maria mãe de Cristo e vejam só isto,
Os profetas e patriarcas que deixaram as suas marcas,
Na divulgação do Novo testamento da sua religião.
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(Refrão)
Agora, Agora, Agora
Agora não é passado, mas fica bem
Pensar o que aconteceu, mal ou bem
Tá na hora de se fazer o certo, sem
Perder o seu fuso, de viver, também.
As duas arquivoltas interiores, estão ocupadas por anjos não priores:
Os primeiros são músicos inteiros
Os outros de três pares de asas são serafins diferentes dos primeiros,
Todos sem idade que alembram a divindade.
E no centro de Deus saliente quer ser omnipotente.
É um ancião, como o rei da universal nação,
Sensação vejam como coloca a mão sobre o mundo que faz.
Ao lado cada evangelista sentado, acompanhado:
A águia de S. João, S. Marcos com o leão,
Vejam também o boi com S. Lucas e
S. Mateus com o anjo. Todos por bem.
(Refrão)
Agora, Agora, Agora
Agora não é passado, mas fica bem
Pensar o que aconteceu, mal ou bem
Tá na hora de se fazer o certo, sem
Perder o seu fuso, de viver, também.
Este grandioso conjunto escultórico remata-se
Com a cena da Coroação da Virgem, padroeira do mosteiro
Frade – Ia vomitando com tanta palavra sagrada misturada com calão. Como se sente
D.Filipa?
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D. Filipa de Lencastre – Bem como transportada em carruagem em estrada
esburacada. Mas esta porta é lindíssima, mestre Huget superou-se largamente,
homem de grandes artes que o reino português soube aliciar para este projeto.
Guia turístico – Passemos para o mosteiro propriamente dito.
Frade – Ora bem, Agora o Guia sou eu. Entrámos no mosteiro propriamente dito. Aqui viviam
os frades que professavam a regra de S. Domingos.
Guia turístico – Vulgo dominicanos.
D. Filipa de Lencastre – Sim lembro-me perfeitamente. A quando da escolha da Ordem que
devia aqui residir, eu própria em conjunto com o rei, decidimos que devia ser esta Ordem
pregadora da palavra de Cristo a residir em tão importante mosteiro. Queríamos ligar a palavra
de Deus, a verdade divina, aos feitos dos portugueses nesta dinastia.
Frade – Neste claustro, os frades cumpriam a sua regra, orando e refletindo sobre a palavra de
Cristo.
Guia turístico – o Estilo Manuelino…
Frade – O estilo Manuelino pode esperar com certeza, tratando-se de palavra de Deus, e nesta
propriedade dominicana, a regra de Santo Agostinho terá primazia.
Guia turístico – Eu sei, amemos Deus e um ao outro…
D. Filipa de Lencastre (interrompendo). Ora aí está, façamos a trégua, amem-se um ao outro,
pelo menos até ao fim desta jornada.
Cumprimentam-se.
D. Filipa de Lencastre – Mas que isto ficou bonito ficou, deslumbrante! Foi ainda Afonso
Domingues ou o mestre Huget que a projetaram?
Guia turístico – Não rainha, Este claustro foi acabado já no tempo do primo do seu bisneto, o
rei D, Manuel I, o arquiteto foi Mateus Fernandes.
Frade – Foi um período de grande expansão territorial e da fé cristã.
Guia turístico – A Grande Expansão marítima portuguesa, por isso os motivos marítimos
presentes no ornamento dos arcos do claustro.
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
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Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;
Ámen!
D. Filipa de Lencastre – Coisa grande que iniciámos como dinastia de Aviz. Contemplemos.
Avançam para a sala do capítulo.
Frade – Aqui é a sala do capítulo, onde todos os frades se reuniam para orações e encontros
presididos pelo prior.
Guia turístico – Aqui surgiu a famosa lenda da construção da cúpula da sala. Dizia-se que
Afonso Domingues teria passado 3 noites debaixo da cúpula para provar que esta era sólida.
D. Filipa de Lencastre – Na verdade, parece uma cúpula de difícil construção.
Guia turístico – Mas ao que consta foi mestre Huget quem a acabou.
D. Filipa de Lencastre – E estes soldados? Porque aqui estão?
Frade – Prestam homenagem ao soldado português desconhecido, tombado nas diferentes
guerras onde Portugal esteve envolvido. Agora sim, Ámen!
Guia turístico – Pois que Ámen também, o meu amado frade é que é o perito de Ámenes.
D. Filipa de Lencastre – Sim, Ámen, uma homenagem devida aos nossos soldados.
Frade – Em frente, …/… Aqui estão as salas da cozinha e refeitórios, ali os dormitórios.
Toda a vida do mosteiro fazia-se à volta do claustro, para além das missas diárias na igreja, que
não eram poucas, só as que D. João I nos obrigava por testamento, era uma verdadeira
maratona.
D. Filipa de Lencastre – Na nossa família levávamos a religião a sério, era a base da nossa
educação e cultura.
Frade – Por acaso sabe a rainha que foi o infante D. Duarte que preparou toda a cerimónia
religiosa do seu funeral?
D. Filipa de Lencastre – Não me admiro, Duarte era um grande conhecedor das práticas
religiosas.
Guia turístico – Mudando de assunto, comia-se bem aqui no mosteiro?
Frade – Que pergunta essa? Comia-se o necessário para o corpo ficar são em mente sã.
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Tínhamos o nosso mingau, ementa baseada nos legumes, algum peixe e porventura alguma
carne, o pão ázimo e pouco vinho. Não vivíamos para comer. Grande parte do ano, fazíamos o
nosso jejum.
A nossa dedicação era a obra de Deus e Jesus Cristo, isso sim dávamos imensa importância,
tínhamos inúmeros frades formados a nível superior.
Guia turístico – E o vosso sustento donde vinha?
Frade – Eramos ordens mendicantes por isso recebíamos doações, o próprio rei as fazia
regularmente.
D. Filipa de Lencastre – Sim, isso foi acordado desde o início.
D. Filipa de Lencastre – Este lavatório é deslumbrante!
Guia turístico – Próprio para fazer umas selfies.
Frade – Mas que raio de vício, essas máquinas não se cansam?
D. Filipa de Lencastre – Aparelhos curiosos, como funcionam?
Guia turístico – Quer dizer têm um chip eletrónico, é tudo eletrónico, bem para explicar é
preciso explicar como se chegou aqui, houve muito avanço tecnológico, caramba como é difícil
explicar o óbvio, vocês ficaram umas centenas de anos para trás.
Frade – Eu ainda vivo sem essas coisas todas, mas faz-me jeito o rádio, posso ouvir as missas.
D. Filipa de Lencastre – É estonteante este futuro, acabaram com as guerras?
Guia turístico – Infelizmente não, parecem estar para durar
Frade – Sabe Vossa Majestade que este mosteiro chegou a ser uma universidade?
D. Filipa de Lencastre – Não me admira devido ao grau de conhecimentos dos frades
dominicanos, foram muito úteis ao reino.
Guia turístico – Bom, se me é permitido, passemos ao segundo claustro
…/…
D. Filipa de Lencastre – Mas o que vem a ser isto? É tão bonito como estranho. Uma
capela sem teto, queria alguém chegar mais perto do céu nas suas orações?
Guia turístico – Chamam-se as capelas Imperfeitas, um panteão criado por D. Duarte,
seu filho, que nunca vieram a ser acabadas.
Frade – Como a obra de Deus nunca está acabada.
Guia turístico – Como queira, então Deus, o Criador inacabado.
Frade – Insolente!
D. Filipa de Lencastre – Mas o que ia na cabeça dele, queria fazer uma dinastia nova?
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Frade - Nesta época já os portugueses se tinham lançado na expansão marítima,
lançando a palavra de Deus por outras paragens, talvez quisesse celebrar esse novo
impulso da política portuguesa.
Guia turístico – Foi também Huget que as desenhou e a começou a construir, mas foi
Mateus Fernandes, umas décadas depois, que as continuou dando-lhe este
ornamento, agora chamado de “Manuelino”, na época do rei D. Manuel I, primo de D.
João II, seu bisneto.
D. Filipa de Lencastre – Aquele túmulo?
Guia turístico – É de D. Duarte e sua esposa.
D. Filipa de Lencastre (aproxima-se do túmulo) – Duarte ouvia Deus.
Frade – Os portugueses foram fiéis seguidores da palavra d’Ele!
Guia turístico – Cala-te boca! Mas nem só de Deus vive o homem, e os portugueses
também foram ambiciosos, no que concerne às vantagens económicas, mas eu só
quero paz, peace, paix, please!
D. Filipa de Lencastre – Um proveito que Deus nos permitiu conquistar. Frade! Senhor
Jorge!
Deus é tão grande que alberga no seu reino todas as criaturas, uns que fazem porque
creem n’Ele outros que fazem e toleram. Aos intolerantes o castigo do isolamento.
O meu grande Duarte acabou por deixar esta simbólica herança, uma nova partida
para a nação. O acaso abriu-nos a porta para o firmamento, para a energia universal.
(no centro do espaço) A minha viagem está a chegar ao fim, da minha vida, onde dei os
primeiros passos nas terras de Inglaterra, do olhar de minha mãe Blanche de Lancaster,
do meu pai Jonh Plangeneta, aos salões do palácio Savoy, da minha educação cheia e
esmerada, o convívio de poetas e senhores de cultura, os meus primos reis, e depois o
casamento com D. João e com esta nação, com o país que amei como se fosse meu
desde sempre. Os meus valorosos filhos e todos os seus feitos. A renovação da corte e
sua governança. Estou feliz, sinto-me uma verdadeira rainha com sorte (a piada da
analogia com a palavra consorte). Deus deu-me a possibilidade de construir uma nova
dinastia em Portugal virada para o mundo, para novos desafios do Ultramar. Sei que
esta nação ficou grande, tão grande que vocês, herdeiros dessas gerações, para além de
sentirem orgulho, têm também o legado da ambição de ir mais longe e melhor. Sejam
generosos, não esqueceis os outros, o poder só se pode exercer com os outros para
todos.
Uma mãe sabe isso, o que é ser mãe senão o ofício da dádiva, o poder da
generosidade, dando vidas ao mundo?
Unamos as mãos, todos (todo o público à volta da capela)
Façamos deste episódio fantástico uma memória para o futuro.
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Sintamos a energia da união de todos na contemplação deste local magnífico
Pode ser este cadinho de mais um novo Portugal.
Guia turístico – Não há outro local onde haja mais independência de Portugal
Então levantemos as mãos ao meu sinal: hip hip, Urrah – Portugal – Hip Hip Urrah
Frade – E um pai-nosso não vai, amigo lusitano?
Guia turístico – Dos 4 costados! Mas fique em paz padre, gosto de o ver por aí, afinal
estamos na mesma nau, e o timoneiro pode ser diferente mas o destino da viagem é a
mesma, paz, saúde, felicidade, Isto é uma grande arca de Noé.
D. Filipa de Lencastre – (agarra a batina do frade), vamos nós para vésperas, façamos
nós as orações no nosso recato.
Guia turístico – Isto é o Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Foi um prazer estar
convosco.
Fim da visita
Constantino Mendes Alves