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DUASOBRASFUNDAMENTAIS
PARAUMANOVAVISÃODAFILOSOFIA
EDACIÊNCIACONTEMPORÂNEAS
ESTUDOSDEHISTÓRIADO
PENSAMENTOFILOSÓFICO
e
ESTUDOSDEHISTÓRIADO
PENSAMENTOCIENTÍFICO
AlexandreKoyré
Nestasobras,editadasnoBrasilpelaEditoraFORENSEUNIVERSITÁRIA,
oleitortomaráconhecimentodaspesquisasrealizadasporKoyrésobreahistória
dosgrandessistemasdeconhecimentofilosóficoecientíficoeosseusefeitos
sobrearevoluçãofilosóficaecientíficadonossotempo.
NosEstudosdeHistóriadoPensamentoFilosófico,onotávelpensadorde
origemrussa,naturalizadofrancês,aborda,comextremaoriginalidade,aspectos
dopensamentodeumgrupodefilósofos,desdeZenãoeoseliatas,atéHegt.ea
fenomenologiadeHusserleHeidegger,alcançandoosfundadoresdomoderno
pensamentológico-matemático,comoRussel.
Nocampodahistóriadaciência,Koyréreúne,comextraordinária
profundidade,nosseusEstudosdeHistóriadoPensamentoCientífico,ensaios
críticossobreasorigensdaciênciamoderna,apartirdostrabalhospioneirosde
Copérnico,Newton,DescarteseGalileu,atéoadventodaeraatómicaeespacial,
comEinsteineBohr.
Koyrésustentaqueopensamentocientíficonãopodeserseparadodo
filosófico,comoodemonstramseusestudosdefilosofiaehistóriadasciências,
queaFORENSEUNIVERSITÁRIAcolocaaoalcancedopúblicobrasileiro.
JEANPIAGET
24-EDIÇÃOREVISTA
f§
151,.4
P579s
04078758
FORENSE
UVERSITÁRIA
JEANPIAGET
SEISESTUDOS
DEPSICOLOGIA
24âEDIÇÃOREVISTAp5^9^Q}
0
PUCRS/BC
0-407.875-8
FORENSE
UNIVERSITÁRIA
PRESERVESUAFONTE
24!edição-1999
©Copyright
EditionsGonthierS.A.Genève
CIP-Brasil.Catalogação-na-fonte
SindicatoNacionaldosEditoresdelivros,RJ
Pó42sPiaget,Jean,1896-1950
24.ed.Seisestudosdepsicologia/JeanPiaget;traduçãoMariaAliceMagalhãesD'AmorimePaulo
SérgioLimaSilva.-24.ed.-RiodeJaneiro:ForenseUniversitária,1999.
Traduçãode:Sixétudesdepsychologie
Contémdadosbiográficos
Inchúbibliografia
ISBN85-218-0246-3
1.Psicologiainfantil.2.Cogniçãonascrianças.I.Título.
99-1265.CDD155.4
CDU159.922.7
ProibidaareproduçãototaloupardaLbemcomoareproduçãodeapostilasapartirdestelivro,de
qualquerformaouporqualquermeioeletrônicooumecânico,inclusiveatravésdeprocessosxerográficos,de
fotocópiaedegravação,sempermissãoexpressadoEditor(Lein29.610,de19.02.98).
i
PUC"3
BlBL!0"ic/^^
;ENTRAL
DATA
Reservadososdireitosdepropriedadedestaediçãopeta
EDITORAFORENSEUNIVERSITÁRIA
RiodeJaneiro:RuadoRosário,100-20041-002-Tels:509-3148/509-7395
SãoPaulo:LargodeSãoFrancisco,20-01005-010-Tels:3104-2005/3104-0396
e-mail:foruniv@unisys.com.brhttp://www.editoras.coni/forenseuniversitária
ImpressonoBrasil
PrintedtnBrazil
BIOGRAFIADOAUTOR
JeanPiagetnasceuemNeuchâtel(Suíça)em1896.
Desdeos16anos,empreendecomsucessocertonúmerodeestudos
sobreZoologia,mostrandoassimraraprecocidadecientífica.
Aos21anos,obtémotítulodelicenciadoemCiênciasNaturaise,no
anoseguinte,odedoutoremCiênciascomtesededicadaàdivisãodos
moluscosnosAlpesvalesianos.
Mas,logoozoologistadeveriacederseulugaraopsicólogoeepiste-
mologistaderenomemundial.
Sucessivamente,échefedetrabalhosnoInstitutoRousseauelivre-do-
centenaFaculdadedeCiências,daUniversidadedeGenebra,professorde
PsicologiaeFilosofiadasCiênciasnaUniversidadedeNeuchâtel,dePsico-
logiaGenéticanaUniversidadedeLausanne,deSociologiaePsicologia
ExperimentalnaUniversidadedeGenebra,sendofinalmentenomeadopro-
fessortitulardePsicologiaGenéticadaSorbonne,em1952.
Atualmente,co-diretordoInstitutodasCiênciasdaEducaçãoem
Genebra,aomesmotempoqueprofessordePsicologiaExperimentalna
FaculdadedeCiências,JeanPiagetéuminovador.Dedicousuaspesquisas,
deumaoriginalidadeerigorexcepcionais,àdescobertasistemáticada
evoluçãomentaldacriança,assimcomoaosproblemasepistemológicos.
Suanumerosaobra,traduzidaemváriaslínguas,pode-sedizer,jáé
clássicanaliteraturapsicológica.
Éofundador,emGenebra,doCentrodeEpistemologiaGenética,que
reúnepesquisadoresdetodosospaísesdaEuropaedoMundo.
PREFÁCIO
AspesquisaspsicológicasdeJeanPiagetgozamderenomemundial.
Iniciadashácercadequarentaanos,nãovisamapenasconliecermelhora
criançaeaperfeiçoarosmétodospedagógicosoueducativos,mas,antes,
compreenderohomem.
AideiamestradePiagetconsiste,comefeito,nófatodepermanecer
indispensávelcompreenderaformaçãodosmecanismosmentaisnacriançapara
todosaquelesquedesejarementendersuanaturezaeseufuncionamentonoadulto.
Quersetrate,noplanodainteligência,dasoperaçõeslógicas,dasnoçõesde
número,deespaçooudetempo,ou,noplanodapercepção,dasconstantes
perceptivas,dasilusõesgeométricas,aúnicainterpretaçãopsicológicaquepossa
serdadaéagenética,queserelacionacomaanálisedeseudesenvolvimento.
Nolimite,emboraesforçando-seporpermanecernoterrenodaciên-
ciapositivaeexperimental,oquetentaapsicologiadePiageté,naverdade,
umaepistemologia.
Asomadeexperiênciasacumuladaspelosábioeseuscolaboradores,
noentanto,bemcomosuadescriçãoesuainterpretaçãonasinúmerasobras
especializadassão,emprimeirolugar,difíceis.Suacomplexidade,sua
tecnicidade,aimportânciadosseusdiversosdesenvolvimentos,osconheci-
mentosdeordemmatemática,biológica,físicaquesupõem,tornam-nas,
quasesempre,poucoacessíveisaograndepúblico.
Estafoiarazãoporquejulgamosútilreunirosdiversosartigose
conferênciasqueconstituemopresentevolume.Emumaprimeiraparte,
apresentamoessencialdasdescobertasdePiagetnodomíniodapsicologia
dacriança.Emumasegundaparte,relacionam-secomcertosproblemas
centrais-comoosdopensamento,dalinguagem,daafetividade-segundo
umaduplaperspectivagenéticaeestruturalista.
Naformaemqueospublicamos,estesSeisEstudosdePsicologia
traçamumasínteseprecisadaobradePiaget,daqualsãoamelhoreamais
rigorosadasintroduções.
OEditor.
ÍNDICE
PRIMEIRAPARTE
1-Odesenvolvimentomentaldacriança13
I-Orecém-nascidoeolactente17
II-Aprimeirainfância:dedoisaseteanos*...24
III-Ainfânciadeseteadozeanos40
IV-Aadolescência57
SEGUNDAPARTE
2-Opensamentodacriança69
3-Alinguagemeopensamentodopontodevistagenético77
4-Opapeldanoçãodeequilíbrionaexplicaçãopsicológica87
5-Problemasdepsicologiagenética99
6-Géneseeestruturanapsicologiadainteligência121
Referências133
Bibliografia135
PRIMEIRAPARTE
1
ODESENVOLVIMENTO
MENTALDACRIANÇA
Odesenyj)lvjmavtopsjquico.jue_começaquandonascemosetermina
naidadeadulta,.écomparávelaocrescimentoorgânico:comoeste,orienta-
se,essencialmente,paraoequilíbrio.Damesmamaneiraqueumcorpoestá
emevoluçãoatéatingirumnívelrelativamenteestável-caracterizadopela
conclusãodocrescimentoepelamaturidadedosórgãos-,tambémavida
mentalpodeserconcebidacomoevoluindonadireçãodeumaformade
equilíbriofinal,repj^senjtaJajKdoespíritoadulto.Odesenvolvimento,por-
tanto,éumaequilibraçãoprogressiva,umapassagemcontínuadeumestado
demenorequilíbrioparaumestadodeequilíbriosuperior.Assim,doponto
devistadainteligência,éfácilseoporainstabilidadeeincoerênciarelativas
dasideiasinfantisàsistematizaçãoderaciocíniodoadulto.Nocampoda
vidaafetiva,notou-se,muitasvezes,quantooequilíbriodossentimentos
aumentacomaidade.E,finalmente,tambémasrelaçõessociaisobedecem
àmesmaleideestabilizaçãogradual.
Noentanto,respeitandoodinamismoinerenteàrealidadeespiritual,
deveserressaltadaumadiferençaessencialentreavidadocorpoeado
espírito.Aformafinaldeequilíbrioatingidapelocrescimentoorgânicoé
maisestáticaqueaquelaparaaqualtendeodesenvolvimentodamente,e
sobretudomaisinstável,detalmodoque,concluídaaevoluçãoascendente,
começa,logoemseguida,automaticamenteumaevoluçãoregressivaque
conduz-àvelhice.Certasfunçõespsíquicasquedependem,intimamente,do
estadodosórgãos,seguemumacurvaanáloga.Aacuidadevisual,por
13
exemplo,atingeummáximonofimdainfância,diminuindoemseguida;
muitascomparaçõesperceptivassãotambémregidasporestamesmalei.Ao
contrário,asfunçõessuperioresdainteligênciaedaafetividadetendemaum
"equilíbriomóvel",istoé,quantomaisestáveis,majs_hayerámobilidade,
pois,nasjdmassadias^afiirtdoxrescimentonãodeterminadomadoalgum
ocomeçodadecadência,mas,sim,autorizaumprogressoespiritualquenada
possuidecontraditóriocomoequilíbriointerior.
É,portanto,emtermosdeequilíbrioquevamosdescreveraevolu-
çãodacriançaedoadolescente.Destepontodevista,odesenvolvimento
mentaléumaconstruçãocontínua,comparávelàedificaçãodeumgrande
prédioque,jj^edjidajme,3eacrescentaalgo,ficarámaissólido^ouà
mõntagenTdeummecanismodelicado,cujasfasesgradativasdeajusta-
mentoconduziriamaumaflexibilidadeeumamobilidadedaspeçastanto
maioresquantomaisestávelsetornasseoequilíbrio.Mas,épreciso
introduzirumaimportantediferençaentredoisaspectoscomplementares
desteprocessodeequilibração.Devem-seopor,desdelogo,asestruturas
variáveis-definindoasformasouestadossucessivosdeequilíbrio—a
umcertofuncionamentoconstantequeasseguraapassagemdequalquer
estadoparaonívelseguinte.
Comparando-seacriançaaoadulto,oraseésurpreendidopelaidenti-
dadedereações-fala-seentãodeuma"pequenapersonalidade"para
designaracriançaquesabebemoquequereage,comonós,emfunçãode
uminteressedefinido-orasedescobreummundodediferenças-nas
brincadeiras,porexemplo,ounomododeraciocinar,dizendo-seentãoque
"acriançanãoéumpequenoadulto".Asduasimpressõessãoverdadeiras.
Dopontodevistafuncional,istoé,considerandoasmotivaçõesgeraisda
condutaedopensamento,existemfunçõesconstantesecomunsatodasas
idades.Emtodososníveis,aaçãosupõesempreuminteressequeadesen-
cadeia,podendo-setratardeumanecessidadefisiológica,afetivaouintelec-
tual(anecessidadeaprescnta-senesteúltimocasosobaformadeuma
perguntaoudeumproblema)._gptnHr.spSníveis^^-iateligênciaprocura
^nmprrpnrirr,fvpiir;)rpig;sóqueseasfunçõesdointeresse,daexplicação
etc.sãocomunsatodososestágios,istoé,"invariáveis"comofunções,não
émenosverdade-que"osinteresses"(emoposiçãoao"interesse")variam,
consideravelmente,deumnívelmentalaoutro,equeasexplicaçõesparti-
culares(emoposiçãoàfunçãodeexplicar)assumemformasmuitodiferentes
deacordocomograudedesenvolvimentointelectual.Aoladodasfunções
-constantes,éprecisodistinguirasestruturasvariáveis,eéprecisamentea
análisedessasestruturasprogressivasouformassucessivasdeequilíbrioque
14
marcaasdiferençasouoposiçõesdeumníveldacondutaparaoutro,desde
oscomportamentoselementaresdolactenteatéàadolescência.
Asestruturasvariáveisserão,então,asformasdeorganizaçãoda.
atividademrnta^sobumduploaspecto:motorouintelectual,deumaparte,
eafetivo,deoutra,comsuasduasdimensõesindividualesocial(interindi-
vidual).Distinguiremos,paramaiorclareza,seisestágiosouperíodosdo
desenvolvimento,quemarcamoaparecimentodessasestruturassucessiva-
menteconstruídas^lajOestágiodosreflexos,oumecanismoshereditários,
assimcomotambémdasprimeirastendênciasinstintivas(nutrições)e
dasprimeirasemoções.2a)Oestágiodosprimeiroshábitosmotoresedas
primeiraspercepçõesorganizadas,comotambémdosprimeirossentimentos
diferenciados.3°;Oestágiodainteligênciasenso-motoraouprática(anterior
àlinguagem),dasregulaçõesafetivaselementaresedasprimeirasfixações
exterioresdaafetividade.Estestrêsprimeirosestágiosconstituemoperíodo
dalactância(atéporvoltadeumanoemeioadoisanos,istoé,anteriorao
desenvolvimentodalinguagemedopensamento),4o.Oestágiodainteligên-
ciaintuitiva,dossentimentosinterindividuaisespontâneosedasrelações
sociaisdesubmissãoaoadulto(dedoisaseteanos,ousegundaparteda
"primeirainfância")(5a/Oestágiodasoperaçõesintelectuaisconcretas
(começodalógica)edossentimentosmoraisesociaisdecooperação(desete
aonze-dozeanos).6oOestágiodasoperaçõesintelectuaisabstratas,da
formaçãodapersonalidadeedainserçãoafetivaeintelectualnasociedade
dosadultos(adolescência).
Caâaestágioérarartpri7adopelaapariçãodeestruturasoriflinajs,cuja
construçãoodistinguedosestágiosanteriores.Oessencialdessasconstru-
çõessucessivaspermanecenodecorrerdosestágiosulteriores,comosubes-
truturas,sobreasquaisseedificamasnovascaracterísticas.Segue-seque,
noadulto,cadaumdosestágiospassadoscorrespondeaumnívelmaisou
menoselementarouelevadodahierarquiadascondutas.Masacadaestágio
correspondemtambémcaracterísticasmomentâneasesecundárias,quesão
modificadaspelodesenvolvimentoulterior,emfunçãodanecessidadede
melhororganização.Cadaestágioconstituientão,pelasestruturasqueo
definem,umaforniaparticulardeequilíbrio,efetiiahdo-seaevõluçãómental
nosentidodcuniaequilibraçãosempremaiscompleta.
Podemosagoracompreenderóquesãoosmecanismosfuncionais
comunsatodososestágios.Pode-sedizerdemaneirageral(nãocomparando
somentecadaestágioaoseguinte,mascadaconduta,nointeriordequalquer
estágio,àcondutaseguinte)quetodaação-istoé.todoiuovimento1pensa—
mentoousentimento-correspondeaumanecessidade.Acriança,comoo
15
adulto,sóexecuta^algumaaçãoexterioroumesmointeiramenteinterior
quandoimpulsionadaporummotivoeestesetraduzsempresobaformade
umanecessidade(umanecessidadeelementarouuminteresse,umapergunta
^tejjOra,comojábemmostrouClaparède.jmancccssidadeésemprea
maiwieste^dejiindesequilíbrio.Elaexistequandoqualquercoisa,forade
nósouemnós(nonossoorganismofísicooumental)semodificou,tratan-
do-se,então,deumreajustamentodacondutaemfunçãodestamudança.jíar
exemplo,afnmpnnafaHigaprnvnrarftr»aprnrnradoaljinentOOUdorepouso.
Oencontrodoobjetoexteriordesencadearáanecessidadedemanipulá-lo;
suautilizaçãoparafinspráticossuscitaráumaperguntaouumproblema
teórico.Umapalavradealguémexcitaráanecessidadedeimitar,desimpa-
tizaroulevaráareservaeoposiçãoquandoentraemconflitocomasnossas
tendências.Inversamente,aaçãosefindadesdequehajasatisfaçãodas
necessidades,istoé,logoqueoequilíbrio-entreofatonovo,quedesenca-
deouanecessidade,eanossaorganizaçãomental,talcomoseapresentava
anteriormente-érestabelecido.
Comeroudormir,brincarouconseguirsuasfinalidades,respondera
perguntasouresolverproblemas,serbem-sucedidonaimitação,estabelecer
umlaçoafetivo,sustentarseupontodevista,sãooutrassatisfaçõesque,nos
exemplosprecedentes,darãofimàcondutaespecíficasuscitadapelaneces-
sidade.Acadainstante,pode-sedizer,aaçãoédesequilibradapelastrans-
formaçõesqueaparecemnomundo,exteriorouinterior,ecadanovaconduta
vaifuncionarnãosópararestabeleceroequilíbrio,comotambémparatender
aumequilíbriomaisestávelqueodoestágioanterioraestaperturbação.
Aaçãohumanaconsiste_nestemovimentocontínuoeperpétuode
j^ajustamiejUojni^^Eporjstõque,nasfasesdeconsjnicãp
inicial,sepodeconsiderarasestrutujaS-inentais-sucessivayTiue-produzemo
desenvolvimentocomoformasdeequilíbrio,ondecadaumaco^mum.
progressosobreas^ecedente.s-.Maslãmbéméprecisocompreenderqueeste
mecanismofuncional,pormaisgeralqueseja,nãoexplicaoconteúdooua
estruturadasdiferentesnecessidades,poiscadaumadentreelasérelativaà
organizaçãodonívelconsiderado.Porexemplo,avisãodeummesmoobjeto
suscitarádiferentesperguntasemumacriançaaindaincapazdeclassificação
eemumamaior,cujasideiassãomaisamplasemaissistemáticas.Os
interessesdeumacriançadependem,portanto,acadamomentodoconjunto
desuasnoçõesadquiridasedesuasdisposiçõesafetivas,jáqueestastendem
acompletá-losemsentidodemelhorequilíbrio.
Antesdeexaminarmosodesenvolvimentoemdetalhes,devemos
precisaraformageraldasnecessidadeseinteressescomunsatodasasidades.
16
Pode-sedizerquetodanecessidadetende:Ia.aincorporarascoisasepessoas
àatividadeprópriadosujeito,istoé,"assinalar"omundoexterioràsestru-
turasjáconstruídas,e2a.areajustarestasúltimasemfunçãodastransforma-
çõesocorridas,ouseja,"acomodá-las"aosobjetosexternos.Nessepontode
vista,todavidamentaleorgânicatendeaassimilarprogressivamenteomeio
ambiente,realizandoestaincorporaçãograçasàsestruturasouórgãospsí-
quicos,cujoraiodeaçãosetornacadavezmaisamplo.Apercepçãoe
movimentoselementares(preensãoetc.)referem-se,primeiramente,aos
objetospróximosnosseusestadosmomentâneos,jáqueamemóriaea
inteligênciapráticapermitem,aomesmotempo,reconstituiroestadoime-
diatamenteanterioreanteciparastransformaçõespróximas.Opensamento
intuitivoreforça,emseguida,estasduascapacidades.Estaevoluçãoculmina
comainteligêncialógica,sobaformadeoperaçõesconcretasefinalmente
dededuçãoabstrata,tornandoosujeitosenhordosacontecimentosmais
longínquosnoespaçoenotempo.Emcadaumdessesníveis,oespírito
desempenhaamesmafunção,istoé,incorporarouniversoasipróprio;a
estruturadeassimilação,noentanto,vaivariardesdeasformasdeincorpo-
raçãosucessivasdapercepçãoedomovimentoatéàsoperaçõessuperiores.
Ora,assimilandoassimosobjetos,aaçãoeopensamentosãocompe-
lidosaseacomodaremaestes,istoé,asereajustaremporocasiãodecada
variaçãoexterior.Pode-sechamar"adaptação"aoequilíbriodestasassimi-
laçõeseacomodações.Estaéaformageraldeequilíbriopsíquico.O
desenvolvimentomentalaparecerá,então,emsuaorganizaçãoprogressiva
comoumaadaptaçãosempremaisprecisaàrealidade.Sãoasetapasdesta
adaptaçãoquevamosagoraestudarconcretamente.
I.ORECÉM-NASCIDOEOLACTENTE
Operíodoquevaidonascimentoatéaaquisiçãodalinguagemé
marcadoporextraordináriodesenvolvimentorn^n^--K44Mt«vezesmalse
suspeitoudaimportânciadesseperíodo;eistoporqueelenãoéacompanhado
depalavrasquepermitamseguir,passoapasso,oprogressodainteligência
edossentimentos,comomaistarde.Mas,naverdade,^tWUivpparatp^p
omrsn<Jaevoluçãopsíquica:representaaconquista,atravésdapercepção
e^jojsmovimentos,detodoouniversopráticoquecercaajerianca.Ora,esta
"assimilaçãol5ensÕ:rrlOT0r^exteriorimediatorealiza,emdezoito
mesesoudoisanos,todaumarevoluçãocopérnicaemminiatura.Enquanto
que,nopontodepartidadestedesenvolvimento,orecém-nascidotraztudo
parasiou,maisprecisamente,paraoseucorpo,nofinal,istoé,quando
começamalinguagemeopensamento;ciesecoloca,praticamente,como
17
umelementoouumcorpoentreosoutros,emumuniversoqueconstruiu
poucoapouco,equesentedepoiscomoexteriorasipróprio.
Vamosdescreverpassoapassoasetapasdestarevoluçãocopérnica,
sobduploaspecto:odainteligênciaeodavidaafetivaemformação.No
primeirodestesdoispontosdevistapodem-se;comojávimosatrás,distin-
guirtrêsestágiosentreonascimentoeofimdesteperíodo:odosreflexos,o
daorganizaçãodaspercepçõesehábitoseodainteligênciasenso-motora
propriamentedita.
Norecém-nascido,avidamentalsereduzaoexerçíçiajdfaparelhos
reflexos,istoé,àscoordenaçõessensoriaisemotorasde„fujndg_he£editária,
quecorrespondematend^nclaTInstintivas,comoanutrição.Aesserespeito
noslimitamosaobservarqueestesreflexos,enquantoestãoligadosàs
condutasquedesempenharãoumpapelnodesenvolvimentopsíquicoulte-
rior,nãotêmnadadestapassividademecânicaqueselhesatribui,mas
manifestamdesdeocomeçoumaatividadeverdadeiraqueatesta,precisa-
mente,aexistênciadeumaassimilaçãosenso-motoraprecoce.Desdeo
início,osreflexosdasucçãomelhoramcomoexercício:umrecém-nascido
mamamelhordepoisdeumaouduassemanasquenosprimeirosdias.Em
seguida,essesreflexosconduzemadiscriminaçõesoureconhecimentos
práticosfáceisdeseremnotados.Enfim,elesdãolugar,sobretudo,auma
espéciedegeneralizaçãodaatividade:olactentenãosecontenta_de_sugar
quandomama,sugandotambémnovazio,seus"3edos(quandoosencontra)
equalquerobjetoapresentadofortuitamente.Coordenaosmovimentosdós
braçoscomasucção,atélevar,sistematicamente-àsvezesdesdeosegundo
mês-,seupolegaràboca.Emsuma,assimilaumapartedeseuuniversoà
sucção,apontoquesepoderiaexprimirseucomportamentoinicial,dizen-
do-seque,paraele,omundoéessencialmenteumarealidadeasugar.É
verdadeque,rapidamente,omesmouniversosetornarátambémumareali-
dadeparaseolhar,Ouvire,logoqueosmovimentospróprioslhepermitam,
paramanipular.
Masestesdiversosexercícios,reflexosquesãooprenúnciodaassimi-
laçãomental,vãorapidamentesetornarmaiscomplexosporintegraçãonos
hábitosepercepçõesorganizados,constituindoopontodepartidadenovas
condutas,adquiridascomajudadaexperiência.Asucção^^tgjaáticajlo
polegarpertencejáaesjesegundoestágio,assimccoriojajnbém^^geilxisjle
_viraracabeçanadireçãodeumruídoToudjsiguirumobjetoemmovimento
_£íç^Dopontodevistaperceptivo,constatamosque,logoqueacriança
começaasorrir(quintasemanaemdiante),reconhececertaspessoasem
oposiçãoaoutrasetc.(masguardemo-nosdelheatribuir,poristo,anoção
18
depessoaoumesmodeobjeto:sãoapariçõessensíveiseanimadasqueela
reconhece,nessafase,oquenãoprovanadaquantoàsuasubstancialidade,
nemquantoàdissociaçãodoeuedouniversoexterior).Entretrêseseisi
meses(comumenteporvoltadequatromesesemeio),olactentecomeçaa*
pegaroquevê,eestacapacidadedepreensão,depoisdemanipulação,
aumentaseupoderdeformarhábitosnovos.
Osconjuntosmotores(hábitos)novoseosconjuntosperceptivos,no
início,formamapenasumsistema;aesserespeito,pode-sefalarde"esque-
massenso-motores".jMascomoseconstroemestesconjuntos?Umciclo
reflexoésempre,nopontodepartida,maisumciclocujoexercício,emlugar
deserepetir,incorporanovoselementos,constituindocomelestotalidades
organizadasmaisamplas,pordiferenciaçõesprogressivas.Aseguir,basta
queosmovimentosdolactente,quaisquerquesejam,atinjamumresultado
interessante-interessanteporqueosmovimentossãoassimiláveisaum
esquemaanterior-paraqueosujeitoreproduzalogoessesnovosmovimen-
tos.Esta"reaçãocircular",comoachamaram,desempenhapapelessencial
nodesenvolvimentosenso-motorerepresentaformamaisevoluídadeassi-
milação.
Mas,vamosaoterceiroestágio,queémaisimportanteaindaparao
cursododesenvolvimento:odainteligênciapráticaousenso-motora._A_
inteligênciaaparece,comefeito,bemantesdalinguagem,istoé,bemantes
dopensamentointeriorquesupõeoempregodesignosverbais(dalinguagem
interiorizada).MasJéumainteligênciatotalmenteprática,queserefereà
^manipulaçãodosobjetosequesóutiliza,emlugardepalavraseconceitos,
percepçõesemovimentosj|jrganizadosem"esquemasdeação".Pegaruma
vareta,parapuxarumobjetodistante,éassimumatodeinteligência(e
mesmobastantetardio:porvoltadedezoitomeses).Nesteato,ummeio,que
éumverdadeiroinstrumento,écoordenadoaumobjetivoprevisto;no
exemplodavareta,éprecisocompreender,antecipadamente,arelaçãoentre
elaeoobjetivo,paradescobri-lacomomeio.Umatodeinteligênciamais
precoceconsistiráemaproximaroobjetivo,puxandoacoberturaouosuporte
sobreoqualestácolocado(porvoltadofimdoprimeiroano).Váriosoutros
exemplospoderiamsercitados.
Investiguemoscomoseconstroemestesatosdeinteligência.Pode-se
falardedoistiposdefatores.Primeiramente,ascondutasprecedentesse
multiplicamesediferenciamcadavezmais,atéalcançarumamaleabilidade
suficientepararegistrarosresultadosdaexperiência.Éassimquenas
"reaçõescirculares"obebénãosecontentamaisapenasemreproduziros
movimentosegestosqueconduziramaumefeitointeressante,masosvaria
19
intcncionahncntejaraestudarosresujtadosdestasvariações,entregando-se
averdadeirasexploraçõesou"experiênciasparaver".Todospuderam
observar,porexemplo,ocomportamentodecriançasdedozemeses,
aproximadamente,queconsistiaemjogarobjetosnochão,emumaou
outradireção,paraanalisarquedasetrajetórias.Deoutrolado,os"esque-
mas"deação,construídosdesdeoníveldoestágioprecedenteemultipli-
cadosgraçasaessasnovascondutasexperimentais,tornam-sesuscetíveis
desecoordenarementresi,porassimilaçãorecíproca,talcomofarãomais
tardeasnoçõesouconceitosdopensamento.Comefeito,umaaçãoapta
aserrepetidaegeneralizadaparasituaçõesnovasécomparávelauma
espéciedeconceitosenso-motor.Éassimque,empresençadeumnovo
'objeto,ver-se-áobebéincorporá-losucessivamenteacadaumdeseus
esquemasdeação(agitar,esfregaroubalançaroobjeto),comosese
tratassedecompreendê-loatravésdouso|Sabe-seque,porvoltadecinco
aseisanos,ascriançasaindadefinemosconceitoscomeçandopelas
palavras"épara":umamesa"éparaescreveremcima"etc.Há,então,aí
uinaassimilaçãosenso-motoracomparávelàquelaqueserámaistardea
assimilaçãodarealidadepormeiodasnoçõesedopensamento.Enatural,
portanto,queestesdiversosesquemasdeaçãoseassimilementresi,isto
é,secoordenemdemaneiraqueunsdeterminemfimàaçãototal,enquan-
tooutroslhesirvamdemeios.Eéporestacoordenação,comparávelàdo
estágioprecedente,maismóveleflexível,quecomeçaainteligência
práticapropriamentedita.
Afinalidadedestedesenvolvimentointelectualé,comojádissemos
acima,transformararepresentaçãodascoisas,apontodeinvertercomple-
tamenteaposiçãoinicialdosujeitoemrelaçãoaelas.Nopontodepartida
daevoluçãomental,nãoexiste,certamente,nenhumadiferenciaçãoentreo
eueomundoexterior,istoé,asimpressõesvividasepercebidasnãosão
relacionadasnemàconsciênciapessoalsentidacomoum"eu",nemaobjetos
concebidoscomoexteriores.Sãosimplesmentedadosemumblocoindisso-
ciado,oucomoqueexpostossobreummesmoplano,quenãoéneminterno
nemexterno,masmeiocaminhoentreessesdoispólos.Estessóseoporão
umaooutropoucoapouco.Ora,porcausadestaindissociaçãoprimitiva,
tudoqueépercebidoécentralizadosobreaprópriaatividade.Oeu,noinício,
estánocentrodarealidade,porqueéinconscientedesimesmo,eàmedida
queseconstróicomoumarealidadeinternaousubjetivaomundoexterior
vai-seobjetivando.Emoutraspalavras,aconsciênciacomeçaporumego-
centrismoinconscienteeintegral,atéqueosprogressosdainteligência
senso-motoralevemàconstruçãodeumuniversoobjetivo,ondeopróprio
20
corpoaparececomoumelementoentreosoutros,eaoqualseopõeavida
interior,localizadanestecorpo.
Quatroprocessosfundamentaiscaracterizamestarevoluçãointelec-
tualrealizadaduranteosdoisprimeirosanosdeexistência:sãoasconstru-
çõesdecategoriasdoobjetoedoespaço,dacausalidadeedotempo,todas
quatronaturalmenteatítulodecategoriaspráticasoudeaçãopuraenãoainda
comonoçõesdopensamento.
Oesquemapráticodoobjetoéapermanênciasubstancialatri-
buídaaosquadrossensoriais.E,portanto,acrençasegundoaqualuma
figurapercebidacorrespondea"qualquercoisa"quecontinuaaexistir,
mesmoquandonãoapercebemosmais.Ora,éfácilmostrarque,
^duranteosprimeirosmeses,qlactentenãopercebeobjetospropria-
menteditos..Reconhececertosquadrossensoriaisfajnjliajes^jnaso
fatodereconhecê-losquandopresentesnãoequivale,deformaneunu-
ma—asj^uá-losemqualquerparte£uárido_estão_foradocampopercep-
tivo.Reconheceemparticularaspessoasesabeque,gritando,fará
retornarsuamãe,logoqueeladesaparece.Masistonãoprovaqueele
lheatribuiumcorpoexistentenoespaço,quandonãoavêmais.De
fatoolactente,quandocomeçaapegaroquevê,nãoapresenta,de
início,nenhumcomportamentonosentidodebuscarosobjetosdese-
jadosqueestãocobertoscomumlenço,emboraeletenhaseguidocom
osolhostudooquefoifeito.Emseguida,procuraráoobjetoescondi-
do,massemsedarcontadosdeslocamentossucessivos,comosecada
objetoestivesseligadoaumasituaçãodeconjuntoenãoconstituísse
ummotivoindependente.Sóporvoltadofimdoprimeiroanoéque
osobjetossãoprocuradosdepoisquesaemdocampodapercepção,e
ésobestecritérioquesepodereconhecerumcomeçodeexterioriza-
çãodomundomaterial.Resumindo,aausênciainicialdeobjetos
substanciais,depoisaconstruçãodeobjetossólidosepermanentes,é
umprimeiroexemplodestapassagemdoegocentrismointegralprimi-
tivoparaaelaboraçãofinaldeumuniversoexterior.
Aevoluçãodoespaçopráticoéinteiramentesolidáriacomaconstru-
çãodosobjetos.Nocomeçohátantosespaços,nãocoordenadosentresi,
quantodomíniossensoriais(espaçobucal,visual,tátiletc.)ecadaumdeles
estácentralizadosobremovimentoseatividadespróprias.Oespaçovisual,
emesnecial,nãotemnocomeçoasmesmasprofundidadesqueconstruirá
emseguida.Nofimdosegundoano,aocontrário,estáconcluídoumespaço
geralquecompreendetodososoutros,caracterizandoasrelaçõesdosobjetos
entresieoscontendonasuatotalidade,inclusiveoprópriocorpo.Ora,a
21
elaboraçãodoespaçoédevidaessencialmenteàcoordenaçãodemovimen-
tos,sentindo-scaquiaestreitarelaçãoqueuneestedesenvolvimentoaoda
inteligênciasenso-motora.
Acausalidadeé,primeiramente,ligadaàatividadeemseuegocentris-
mo:éaligaçãoqueficamuitotempofortuitaparaosujeito,entreum
resultadoempíricoeumaaçãoqualquerqueoatraiu.
Éassimque,puxandooscordõesquependemdoaltodeseuberço,o
lactentedescobreaagitaçãodetodososbrinquedossuspensosnacobertura,
unindoentãocausalisticamenteopuxaroscordõeseoefeitogeraldesta
agitação.Eleseservirálogodesteesquemacausalparaagiràdistânciasobre
qualquercoisa:elepuxaráocordãoparacontinuarumbalançoqueobserva
adoismetrosdeseuberço,parafazerdurarumassovioouvidodofundode
seuquartoetc.Estaespéciedecausalidademágicaou"mágico-fenomenista"
mostraoegocentrismocausalprimitivo.Nocursodosegundoano,ao
contrário,acriançareconheceasrelaçõesdecausalidadedosobjetosentre
si,objetivandoeespacializando,destemodo,ascausas.
Aobjetivaçãodassériestemporaiséparalelaàcausalidade.Emsuma,
emtodososdomíniosencontramosestaespéciederevoluçãocopérnica.Esta
permiteàinteligênciasenso-motorasairdoseuegocentrismoinconsciente
radicalparasesituaremum"universo",nãoimportandoquãopráticoepouco
"reflexivo"esteseja.
Aevoluçãodaafetividadeduranteosdoisprimeirosanosdálugara
umquadroque,noconjunto,corresponde,exatamente,àqueleestabelecido
atravésdoestudodasfunçõesmotorasecognitivas.Existe,comefeito,
umparaleloconstanteentreavidaafetivaeaintelectual.Demosaíapenasum
exemplo,masveremosqueesseparalelismoseseguiránocursodetodoo
desenvolvimentodainfânciaeadolescência.Talconstataçãosósurpreende
quandosereparte,deacordocomosensocomum,avidadoespíritoemdois
compartimentosestanques:odossentimentoseodopensamento.Mas,nada
émaisfalsoesuperficial.Narealidade,oelementoqueéprecisosempre
focalizar,naanálisedavidamental,éa"conduta"propriamentedita,conce-
bida-comoprocuramosexporrapidamentenanossaintrodução—comoum
restabelecimentooufortalecimentodoequilíbrio.Ora,todacondutasupõe
instrumentosouumatécnica:sãoosmovimentoseainteligência.Mas,toda
condutaimplicatambémmodificaçõesevaloresfinais(ovalordosfins):são
ossentimentos.Afetividadeeinteligênciasão,assim,indissociáveisecons-
tituemosdoisaspectoscomplementaresdetodacondutahumana.
Sendoassim,éclaroqueaoprimeiroestágiodetécnicasreflexas
corresponderãoosimpulsosinstintivoselementares,ligadosàalimentação,
22

assimcomoestasespéciesdereflexosafetivosquesãoasemoçõesprimárias.
Mostrou-se,comefeito,recentemente,aproximidadedasemoçõescomo
sistemafisiológicodasatitudesouposturas;osprimeirosmedos,porexem-
plo,podemestarligadosàperdadeequilíbrioouabruscoscontrastesentre
umacontecimentofortuitoeaatitudeanterior.
Aosegundoestágio(percepçõesehábitos),assimcomoaocomeçoda
inteligênciasenso-motora,correspondeumasériedesentimentoselementa-
resouafetosperceptivosligadosàsmodalidadesdaatividadeprópria:o
agradáveleodesagradável,oprazereadoretc.,assimcomoosprimeiros
sentimentosdesucessoefracasso.Namedidaemqueestesestadosafetivos
dependemdaprópriaaçãoenãoaindadaconsciênciadasrelaçõesmantidas
comasoutraspessoas,esteníveldaafetividadetestemunhaumaespéciede
egocentrismogeral,edáailusão,seatribuímosfalsamenteaobebéuma
consciênciadeseueu,deumaespéciedeamorasipróprioedeumaatividade
desseeu.Defato,olactentecomeçaporseinteressaressencialmenteporseu
corpo,seusmovimentosepelosresultadosdestasações.Ospsicanalistas
chamaramde"narcisismo"aesteestágioelementardaafetividade,masé
precisocompreenderqueéumnarcisismosemNarciso,istoé,sema
consciênciapessoalpropriamentedita.j£
Aocontrário,como^esenyolvimentodainteligênciaecomaconse-
quenteelaboraçãodeumuniversoexterior,eprincipalmentecomaconstru-
çãodoesquemado"objeto",apareceumterceironíveldeafetividade:este
écaracterizado,retomandoovocabuláriodapsicanálise,pela"escolhado
objeto",istoé,pelaobjetivaçãodossentimentosepelasuaprojeçãosobre
outrasatividadesquenãoapenasadoeuJNote-sequecomoprogressodas
condutasinteligentes,ossentimentosligadosàprópriaatividadesediferen-
ciamesemultiplicam:alegriasetristezasligadasaosucessoeaofracasso
dosatosintencionais,esforçoseinteressesoufadigasedesinteressesetc.
Masestesestadosafetivospermanecemmuitotempoligadosapenas,como
osafetosperceptivos,àsaçõesdosujeito,semdelimitaçãoprecisaentre
aquiloquelhepertenceespecificamenteeaquiloquepodeseratribuídoao
mundoexterior,istoé,aoutrasfontespossíveisdeatividadesedecausali-
dade.Poroutrolado,quandodoquadroglobaleindiferenciadodasaçõese
percepçõesprimitivas,destacam-se,cadavezmaisnítidos,os"objetos"
concebidoscomoexterioresaoeueindependentesdele,asituaçãose
transformacompletamente.Deumaparte,encontramosaestreitacorrelação
comaconstruçãodoobjeto,aconsciênciado"eu"começandoaseafirmar
comopólointeriordarealidade,emoposiçãoaopóloexternoobjetivo;mas,
deoutraparte,osobjetosconcebidos,emanalogiaaesse"eu",comoativos,
23
vivoseconscientes.Eistoacontece,emespecial,comessesobjetos,
excepcionalmenteimprevistoseinteressantes,quesãoaspessoas.Os
sentimentoselementaresdealegriaetristeza,desucessosefracassosetc.
serãoentãoexperimentadosemfunçãodestaobjetivaçãodascoisasedas
pessoas,originando-sedaíossentimentosinterindividuais.A"escolha
(afetiva)doobjeto",queapsicanáliseopõeaonarcisismo,correspondeà
construçãointelectualdoobjeto,assimcomoonarcisismocorrespondia
àindiferenciaçãoentreomundoexterioreoeu.Esta"escolhadoobjeto"
refere-se,primeiramente,àpessoadamãe,depois(emnegativacomo
positivo)àpessoadopaiedospróximos.Taléocomeçodassimpatiase
antipatiasquesevãodesenvolvertãoamplamentenocursodoperíodo
seguinte.
II.APRIMEIRAINFÂNCIA:DEDOISASETEANOS
Comoaparecimentodalinguagem,ascondutassãoprofundamente
modificadasnoaspectoafetivoenointelectual.Alémdetodasasaçõesreais
oumateriaisqueécapazdeefetuar,comonocursodoperíodoprecedente,
acriançatorna-se,graçasàlinguagem,capazdereconstituirsuasações
passadassobformadenarrativas,edeanteciparsuasaçõesfuturaspela
representaçãoverbal.Daíresultamtrêsconsequênciasessenciaispara
odesenvolvimentomental:umapossíveltrocaentreosindivíduos,ou
seja,oiníciodasocializaçãodaação;umainteriorizaçãodapalavra,istoé,
aapariçãodopensamentopropriamentedito,quetemcomobasealinguagem
interioreosistemadesignos,e,finalmente,umainteriorizaçãodaaçãocomo
tal,que,puramenteperceptivaemotoraqueeraatéentão,podedaíemdiante
sereconstituirnoplanointuitivodasimagensedas"experiênciasmentais".
Dopontodevistaafetivo,ségue-seumasériedetransformaçõesparalelas,
desenvolvimentodesentimentosinterindividuais(simpatiaseantipatias,
respeitoetc.)edeumaafetividadeinferiororganizando-sedemaneiramais
estáveldoquenocursodosprimeirosestágios./
Vamosprimeiramenteexaminaressastrêsmodificaçõesgeraisda
conduta(socialização,pensamentoeintuição),edepoissuasrepercussões
afetivas.Mas,parasecompreenderemdetalhesestasmúltiplasmanifesta-
çõesnovas,éprecisoinsistiraindasobresuacontinuidaderelativacomas
condutasanteriores.Nomomentodaapariçãodalinguagem,acriançase
achaàsvoltas,nãoapenascomojiniyjersQ-físicocomoanteymascomdois
mundosnovoseintimamentesolidários:omundosocialeojias_repre-
sentaçõesinteriores.LémT>rcmo-nòsdequeTTrespeitodbsobjetosmateriais
oucorpos,olactentecomeçaporumaatitudeegocêntrica-naquala
24
incorporaçãodascoisasàsuaatividadepredominasobreaacomodação—
conseguindo,apenasgradativamente,situar-seemumuniversoobjetivado
(ondeaassimilaçãoaosujeitoeaacomodaçãoaorealseharmonizamentre
si).Damesmamaneira,ajeriançareagiráprimeiramenteàsrelaçõessociais
eaopensamentoemformaçãocomumegocentrismoinconsciente[que
prolongaodobebê.Elasóseadaptará,progressivamente,obedecendoàs
leisdeequilíbrioanálogasàsdobebê,mastranspostasemfunçãodestas
novasrealidades.Éporestemotivoqueseobserva,durantetodaaprimeira
infância,umarepetiçãoparcial,emplanosnovos,daevoluçãojárealizada
pelolactentenoplanoelementardasadaptaçõespráticas.Estasespéciesde
repetição,comdefasagemdeumplanoinferioraosplanossuperiores,são
extremamentereveladorasdosmecanismosíntimosdaevoluçãomental.
A.Asocializaçãodaação
'Atrocaeacomunicaçãoentreosindivíduossãoaconsequênciamais
Ievidentedoaparecimentodalinguagem.Semdúvida,estasrelaçõesinterin-
dividuaisexistememgermedesdeasegundametadedoprimeiroano,graças
àimitação,cujosprogressosestãoemíntimaconexãocomodesenvolvimen-
tosenso-motor.Sabe-sequeolactenteaprendepoucoapoucoaimitar,sem
queexistaumatécnicahereditáriadaimitação.Primeiramente,ésimples
excitação,pelosgestosanálogosdooutro,movimentosvisíveisdocorpo
(sobretudodasmãos)queacriançasabeexecutarespontaneamente;em
seguida,aimitaçãosenso-motoratorna-seumacópiacadavezmaisprecisa
demovimentosquelembramosmovimentosconhecidos;e,finalmente,a
criançareproduzosmovimentosnovosmaiscomplexos(osmodelosmais
difíceissãoosqueinteressamàspartesnãovisíveisdoprópriocorpo,como
orostoeacabeça).Aimitaçãodesonstemumaevoluçãosemelhante.
Quandoossonssãoassociadosaaçõesdeterminadas,aimitaçãoprolonga-se
comoaquisiçãodalinguagem(palavras-fraseselementares,depois,substan-
tivoseverbosdiferenciadose,finalmente,frasespropriamenteditas).En-
quantoalinguagemseestabelecesobformadefinida,asrelaçõesinterindi-
viduaisselimitamàimitaçãodegestoscorporaiseexteriores,eaumarelação
afetivaglobalsemcomunicaçõesdiferenciadas.Comapalavra,aocontrário,
éavidainteriorcomotal,queépostaemcomume,deve-seacrescentar,que
seconstróiconscientemente,namedidaemquepodesercomunicada.
Ora,emqueconsistemasfunçõeselementaresdalinguagem?É
interessante,aesserespeito,observaremcriançasdedoisaseteanos,tudo
quedizemefazemdurantealgumashoras,emintervalosregulareseanalisar
estaamostradelinguagemespontâneaouprovocada,dopontodevistadas
25
relaçõessociaisfundamentais.Trêsgrandescategoriasdefatospodem,
assim,serpostosemevidência.
Emprimeirolugar,existemosfatosdesubordinaçãoeasrelaçõesde
coaçãoespiritualexercidapeloadultosobreacriança.Comalinguagem,a
criançadescobreasriquezasinsuspeitasdeummundoderealidadessupe-
rioresaela;seuspaiseosadultosqueacercamlheaparecemjácomoseres
grandesefortes,comofontesdeatividadesimprevistasemisteriosas.Mas
agoraessesmesmosseresrevelamseuspensamentosevontades,eestenovo
iuniversocomeçaaseimporcomseduçãoeprestígioincomparáveis.Um"eu
ideal",comodisseBaldwin,sepropõeaoeudacriança,eosexemplosvindos
doaltoserãomodelosqueacriançadeveprocurarcopiarouigualar.São
dadosordenseavisos,sendo,comomostrouBovet,orespeitodopequeno
pelograndequeostornaaceitáveiseobrigatóriosparaascrianças.Mas,
mesmoforadestesnúcleosdeobediência,desenvolvessetodaumasubmis-
sãoinconsciente,intelectualeafetiva,devidaàcoaçãoespiritualexercida
peloadulto.
Emsegundolugar,existemtodososfatoresdetroca,comoadultoou
comoutrascrianças.Essasintercomunicaçõesdesempenhamigualmente
papeldecisivoparaosprogressosdaação;namedidaemquelevama
formularaprópriaaçãoenarraçãodasaçõespassadas,estasintercomunica-
çõestransformamascondutasmateriaisempensamento.ComodisseJanet,
amemóriaestáligadaànarrativa;areflexão,àdiscussão;acrençaao
engajamentoouàpromessaeopensamentoàlinguagemexteriorouinterior.
Mas,sabeacriançacomunicarinteiramenteseupensamento(eaísenotam
asdefasagensdequefalamosacima),eperceberopontodevistadosoutros?
Ou,melhor,umaaprendizagemdasocializaçãoénecessáriaparaalcançara
cooperaçãoreal?Énestepontoquesetornaútilaanálisedasfunçõesda
linguagemespontânea.Comefeito,éfácilconstatarcomoasconversações
entrecriançassãorudimentareseligadasàaçãomaterialpropriamentedita.
fAproximadamenteatéseteanos,ascriançasnãosabemdiscutirentreelase
selimitamaapresentarsuasafirmaçõescontrárias.Quandoseprocuradar
,umasàsoutras,conseguemcomdificuldadesecolocardoponto
[_devistadaquelaqueignoradoquesetrata,falandocomoqueparasimesmas.
.Esobretudoacontece-lhes,trabalhandoemummesmoquartoouemuma
imesmamesa,defalarcadaumaporsi,acreditandoqueseescutamese
^compreendemumasàsoutras.Estaespéciede"monólogocoletivo"consiste
maisemmútuaexcitaçãoàaçãodo_que^emjrocaiJ|e_jjensajaejitQ5.reais.
Notemos^enfimTqúeascaracterísticasdestalinguagementrecriançassão
encontradasnasbrincadeirascoletivasõúderegra;empartidasdebolasde
26
gude,porexemplo,osgrandessesubmetemàsmesmasregraseajustamseus
jogosindividuaisaosdosoutros,enquantoqueospequenosjogamcadaum
porsi,semseocuparemdasregrasdocompanheiro.
rDaíumaterceiracategoriadefatos:acriançanãofalasomenteàs
outras,fala-seasiprópria,semcessar,emmonólogosvariadosqueacompa-
nhamseusjogosesuaatividade.Comparadosaoqueserãomaistarde,a
linguageminteriorcontínuanoadultoounoadolescente,estessolilóquios
sãodiferentes,pelofatodequesãopronunciadosemvozaltaepela
característicadeauxiliaresdaaçãoimediata.Estesverdadeirosmonólogos,
comooscoletivos,constituemmaisdeumterçodalinguagemespontânea
entrecriançasdetrêsequatroanos,diminuindoporvoltadosseteanos.
Emsuma,oexamedalinguagemespontâneaentrecrianças,comoo
docomportamentodospequenosnosjogoscoletivos,mostraqueasprimei-
rascondutassociaispermanecemaindaameiocaminhodaverdadeira
socialização.Emlugardesairdeseuprópriopontodevistaparacoordená-lo
comodosoutros,oindivíduopermaneceinconscientementecentralizadoem
simesmo;esteegocentrismofaceaogruposocialreproduzeprolongaoque
notamosnolactentefaceaouniversofísico.Nosdoiscasos,háumaindife-
renciaçãoentreoeuearealidadeexterior,aquirepresentadapelosoutros
indivíduosenãomaispelosobjetosisolados;estetipodeconfusãoinicial
estabeleceaprimaziadoprópriopontodevista.Quantoàsrelaçõesentrea
criançaeoadulto,éevidentequeacoaçãoespiritual(eafortiorimaterial)
exercidapelosegundosobreoprimeironãoexcluiemnadaesteegocentris-
mo.Quandosesubmeteaoadultoeocolocamuitoacimadesi,acriançavai
reduzi-lo,muitasvezes,àsuaescala,comocertoscrentesingénuosarespeito
dasuadivindade,chegandomaisaummeio-term.oentreopontodevista
superioreoseupróprio,doqueaumacoordenaçãobemdiferenciada.
B.Agénesedopensamento
Emfunçãodestasmodificaçõesgeraisdaação,assiste-sedurantea
primeiraTnlanciaaumatransformaçãodainteligênciaque,deapenassenso-
motoraoupráticaqueénoinício,seprolongadoravantecomopensamento
propriamenteditosobaduplainfluênciadalinguagemedasocialização.A
linguagem,permitindoaosujeitocontarsuasações,fornecedeumasóvez
acapacidadedereconstituiropassado,portanto,deevocá-lonaausênciade
objetossobreosquaissereferiramascondutasanteriores,deanteciparas
açõesfuturas,aindanãoexecutadas,eatésubstituí-las,àsvezes,pelapalavra
isolada,semnuncarealizá-las.Esteéopontodepartidadopensamento.Mas,
aí,deve-seacrescentarquealinguagemconduzàsocializaçãodasações;
27
|estasdãolugar,graçasaela,aatosdepensamentoquenãopertencem
exclusivamenteaoeuqueosconcebe,mas,sim,aumplanodecomunicação
quelhesmultiplicaaimportância.Alinguageméumveículodeconceitose
noçõesquepertenceatodosereforçaopensamentoindividualcomumvasto
sistemadepensamentocoletivo.Neste,acriançamergulhalogoquemaneja
apalavra.
Masacontececomopensamentooqueacontececomacondutaglobal.
Emvezdeseadaptarlogoàsrealidadesnovasquedescobreequeconstrói
poucoapouco,osujeitodevecomeçarporumaincorporaçãolaboriosados
dadosaoseueueàsuaatividade;estaassimilaçãoegocêntricacaracteriza
tantooiníciodopensamentodacriançacomoodasocialização.Paraser
maisexato,éprecisodizerque,duranteasidadesdedoisaseteanos,
encontram-setodasastransiçõesentreduasformasextremasdepensamento,
representadasemcadaumadasetapaspercorridasduranteesteperíodo,
sendoqueasegundadominapoucoapoucoaprimeira.Aprimeiradestas
formaséadopensamentoporincorporaçãoouassimilaçãopuras,cujo
egocentrismoexclui,porconsequência,todaobjetividade.Asegundadestas
formaséadopensamentoadaptadoaosoutroseaoreal,queprepara,assim,
opensamentológico.Entreosdoisseencontraagrandemaioriadosatosdo
pensamentoinfantilqueoscilaentreestasdireçõescontrárias.
Opensamentoegocêntricopuroaparecenestaespéciedejogo,quese
podechamardejogosimbólico.Sabe-sequeojogoconstituiaformade
atividadeinicialdequasetodatendência,oupelomenosumexercício
funcionaldestatendênciaqueoativaaoladodaaprendizagempropriamente
dita,eque,agindosobreeste,oreforça.Observa-seentão,bemantesda
linguagem,umjogodefunçõessenso-motorasqueéumjogodepuro
exercício,semintervençãodopensamentonemdavidasocial,poissóativa
movimentosepercepções.Noníveldavidacoletiva(deseteadozeanos),
aocontrário,vê-seconstituirnascriançasjogoscaracterizadosporcertas
obrigaçõescomuns,istoé,asregrasdojogo.Entreduascrianças,aparece
umaformadiferentedejogo,muitocaracterísticadaprimeirainfânciaeque
sofreintervençãodopensamento,masumpensamentoindividualquasepuro
comminimumdeelementoscoletivos:éojogosimbólicooujogode
imaginaçãoeimitação.Osexemplossãoabundantes:jogodeboneca,brincar
decomidinha.Éfácildar-secontadequeestesjogossimbólicosconstituem
umaatividaderealdopensamento,emboraessencialmenteegocêntrica,ou
melhor,duplamenteegocêntrica.Suafunçãoconsisteemsatisfazeroeupor
meiodeumatransformaçãodorealemfunçãodosdesejos:acriançaque
brincadebonecarefazsuaprópriavida,corrigindo-aàsuamaneira,erevive
28
todososprazeresouconflitos,resolvendo-os,compensando-os,ouseja,
completandoarealidadeatravésdaficção.Emsuma:ojogosimbóliconão
éumesforçodesubmissãodosujeitoaoreal,mas,aocontrário,uma
assimilaçãodeformadadarealidadeaoeu.Deoutrolado,alinguagem
intervémnestaespéciedepensamentoimaginativo,tendocomoinstrumento
aimagemousímbolo.Ora,osímboloéumsigno-comoapalavraousigno
verbal-maséumsignoindividualelaboradosemorecursodosoutrose
muitasvezescompreendidopeloindivíduo,jáqueaimagemsereferea
lembrançaseestadosíntimosepessoais.É,portanto,nesteduplosentidoque
ojogosimbólicoconstituiopóloegocêntricodopensamento.Pode-sedizer,
mesmo,queeleéopensamentoegocêntricoemestadoquasepuro,só
ultrapassadopelafantasiaepelosonho.
Nooutroextremo,encontra-seaformadepensamentomaisadaptada
aorealqueacriançaconhece,equesepodechamardepensamentointuitivo.
É,emcertosentido,aexperiênciaeacoordenaçãosenso-motoras,mas
reconstituídaseantecipadas,graçasàrepresentação.Voltaremosaela(na
parteC),poisaintuiçãoé,sobcertoaspecto,alógicadaprimeirainfância.
Entreestesdoistiposextremosseencontraumaformadepensamento
simplesmenteverbal,sériaemoposiçãoaojogo,porémmaisdistantedoreal
doqueaprópriaintuição:éopensamentocorrentedacriançadedoisasete
anos.Émuitointeressanteconstataroquantoeleprolongaosmecanismos
deassimilaçãoeaconstruçãodoreal,própriasaoperíodopré-verbal.
Parasaber-secomoacriançapensaespontaneamente,nãohámétodo
maiseficientequeodepesquisareanalisarasperguntasquefaz,abundantes
àsvezes,quaseaomesmotempoemquefala.Entreestasperguntas,asmais
primitivastendemsimplesmenteasaber"onde"seencontramosobjetos
desejadosecomosechamamascoisaspoucoconhecidas:"oqueé?"Mas
desdetrêsanos,emuitasvezesantes,apareceumaformabásicadepergunta
quesemultiplicaatéosseteanos:sãoosfamosos"porquês"dascrianças,
aosquaisoadultotantasvezestemdificuldadeemresponder.Qualosentido
geraldessapalavra?Noadultopodeterdoissignificadosdistintos:afinali-
dade("porquevocêvaiporestecaminho?")ouacausaeficiente("porque
oscorposcaem?").Tudosepassa,aocontrário,comoseos"porquês"da
primeirainfânciaapresentassemumsignificadoindiferenciado,meiocami-
nhoentreofimeacausa,implicando,noentanto,umeoutroaomesmo
tempo."Porqueéqueestárolando?",pergunta,porexemplo,ummeninode
seisanosàpessoaquetomacontadele.Refere-seaumaboladegudeque,
emumterraçolevementeinclinado,dirige-seàpessoasituadanapartemais
baixa;comorespostadir-se-á:"Porqueinclinado",oqueé"umaexplicação
29
puramentecausal;masacriança,nãosatisfeita,perguntanovamente:"Ela
sabequevocêestáembaixo?"Seguramente,nãosedevetomaraopédaletra
estareação:acriançanãoemprestaàboladegudeumaconsciênciahumana.
Sebemqueexista,comoveremos,umaespéciede"animismo"infantil,não
sepoderiainterpretá-locomoumantropomorfismotãogrosseiro.Todavia,
aexplicaçãomecânicanãosatisfazàcriança,porqueelaentendeummovi-
mentocomonecessariamenteorientadoparaumfime,emconsequência,
comointencionaledirigido.Portanto,éacausaeofimdomovimentoda
boladegudequeestacriançaqueriaconhecer,eéporistoqueesteexemplo
étãorepresentativodos"porquês"iniciais.
Umdosmotivosquetornaos"porquês"infantistãoobscurosparaa
consciênciaadultaequeexplicaasdificuldadesquesentimospararesponder
àscrianças,équeumagrandepartedestasperguntasserelacionaafenóme-
nosouacontecimentosquenãocomportamprecisamente"porquês",jáque
ocorremaoacaso.Assim,équeomesmomeninodeseisanos,cujareação
aomovimentoacabamosdedescrever,espanta-sequehajaemGenebradois
Salève,enquantoquenãohádoisCervinemZermatt:"Porqueexistem
doisSalève?"Outrodiapergunta:"PorqueolagodeGenebranãovaiaté
Berna?"Nãosabendocomointerpretarestasperguntasestranhas,resolve-
mospropô-lasaoutrascriançasdamesmaidade,perguntando-lhesoque
teriamrespondidoaseucompanheiro.Arespostaparaelesnãoapresentou
nenhumadificuldade:háumGrandeSalèveparaosgrandespasseiose
adultos,eumPequenoSalèveparaospequenospasseioseparaascrianças,
eolagodeGenebranãochegaatéBernaporquecadacidadedeveteroseu
lago.Emoutraspalavras,nãoháacasonanatureza,porquetudoé"feitopara"
oshomensecrianças,segundoumplanosábioeestabelecido,noqualoser
humanoéocentro.É,portanto,a"razãodeser"dascoisasqueprocurao
"porquê",istoé,umarazãocausalefinalística,eéexatamenteporqueé
precisoquehajaumarazãoparatudoqueacriançafracassanosfenómenos
fortuitosefazperguntassobreeles.
Einsuma,aanálisedamaneiracomoacriançafazsuasperguntas
colocaemevidênciaocaráteraindaegocêntricodeseupensamento,neste
novocampodarepresentaçãodomundo,emoposiçãoaodaorganizaçãodo
universoprático.Tudosepassa,então,comoseosesquemaspráticosfossem
transferidosparaonovoplanoeaíseprolongassem,nãoapenasemfinalis-
mo,comoacabamosdever,mas,ainda,sobasformasseguintes.
Oanimismoinfantiléatendênciaaconceberascoisascomovivase
dotadasdeintenção.Noinício,serávivotodoobjetoqueexerçauma
atividade,sendoestaessencialmenterelacionadacomasuautilidadeparao
30
homem;alâmpadaqueacende,ofornoqueesquenta,aluaquedáclaridade.
Depois,avidaestarádestinadaaosagentesecorposqueparecem-semover
porsipróprios,comoosastroseovento.Deoutrolado,àvidaéacrescentada
aconsciência;nãoumaconsciênciaidênticaàdoshomens,masumaquetem
ominimumdesabereintencionalidade,suficientesparaascoisasrealizarem
suaaçõese,sobretudo,parasemoveremoudirigiremparafinsquelhessão
determinados.Assiméqueasnuvenssabemquesedeslocam,poislevama
chuvae,sobretudo,anoite(anoiteéumagrandenuvemnegraquecobreo
céunahoradedormir).Maistarde,sóomovimentoespontâneoserádotado
deconsciência.Porexemplo,asnuvensnãosabemmais"porqueoventoas
empurra";masoventonãosabeascoisas"porquenãoéumapessoa"como
nós,mas"sabequesopra,porqueéelequemsopra".Osastrossãoespecial-
menteinteligentes:aluanossegueemnossospasseiosereaparecequando
voltamosparacasa.Umsurdo-mudo,estudadoporW.James,pensava,
mesmo,quealuaodenunciavaquandoeleroubavaànoiteedesenvolveu
estetipodereflexõesatéseperguntarseelanãotinharelaçãocomsuaprópria
mãe,enterradapoucoantes.Quantoàscriançasnormais,elassãoquase
unânimesemseacreditaremacompanhadasporela;esteegocentrismoas
impededepensarnoquefariaaluadiantedepessoasviajandoemsentido
opostoumadaoutra.Depoisdeseteanos,aocontrário,estaperguntaé
suficienteparaconduzi-lasàopiniãodequeosmovimentosdaluasão
simplesmenteaparentesquandoseudisconossegue.
Éevidentequetalanimismoprovémdeumaassimilaçãodascoisasà
própriaatividade,comoofinalismoexaminadoacima.Mas,damesma
maneiraqueoegocentrismosenso-motordolactenteresultadeumaindife-
renciaçãoentreoeueomundoexterior,enãodeumahipertrofianarcísica
daconsciênciadoeu,domesmomodooanimismoeofinalismoexprimem
umaconfusãoouindissociaçãoentreomundointerioreosubjetivoeo
universofísico,enãoumprimadodarealidadepsíquicainterna.Opensa-
mentoparaacriança-jáqueestaanimaoscorposinertesematerializaa
vidadaalma-éumavoz,vozessaqueestánabocaou"umapequenavoz
queestáportrás",eestavozé"dovento"(termosantigosanima,psique,
rouchetc).Ossonhossãoimagens,emgeral,umpoucoterríveis,enviadas
pelasluzesnoturnas(alua,aslâmpadas)oupelopróprioar,quevêmencher
oquarto.Ou,umpoucomaistarde,sãoconcebidoscomovindodenós,mas
comoimagensqueestãonacabeçaquandoseestáacordadoequesaempara
secolocarsobreacamaounoquarto,logoquesedorme.Quandoalguémse
vêasipróprionosonho,éporqueestáduplo;apessoaestánacamaolhando
osonho,mastambém"nosonho",comoduplicataimaterialouimagem.Na
31
nossaopinião,nãoacreditamosqueestaspossíveissemelhançasentreo
pensamentodacriançaeodosprimitivos(veremosmaislongecomafísica
grega)sejamdevidosaumahereditariedadequalquer.Apermanênciadas
leisdodesenvolvimentomentalsãosuficientesparaexplicarestasconver-
gências,ecomotodososhomens,incluindoos"primitivos",começaram
sendocrianças,opensamentoinfantilprecedeodenossoslongínquos
antepassados,domesmomodoqueprecedeonosso.
Aofinalismoeaoanimismopode-seacrescentaroartificialismooua
crençadequeascoisasforamconstruídaspelohomemouporumaatividade
divinaoperandodomesmomodoqueafabricaçãohumana.Paraascrianças,
istonãotemnadadecontraditóriocomoanimismo,jáque,segundoelas,os
própriosbebéssãoaomesmotempoconstruídosevivos.Todoouniversoé
feitoassim:asmontanhas"crescem"porqueseplantarampedrinhasdepois
detê-lasfabricado,oslagosforamescavados,eatébemtarde,acriança
imaginaqueascidadesexistiamantesdeseuslagosetc.
Emsuma,todaacausalidade,desenvolvidanaprimeirainfância,
participadasmesmascaracterísticasde:indiferenciaçãoentreopsíquicoeo
físicoeegocentrismointelectual.Asleisnaturaisacessíveisàcriançasão
confundidascomasleismoraiseodeterminismocomaobrigação:osbarcos
flutuamporquedevemflutuarealuailuminasomenteànoite"porquenãoé
elaquemmanda".Omovimentoéconcebidocomoumestadodetransição
tendenteaumafinalidadequeocompleta:osriachoscorremporquetêmum
impulsoqueosconduzparaoslagos,impulsoessequenãolhespermite
voltarparaasmontanhas.Anoçãodeforça,emespecial,dálugaracuriosas
constatações;ativaesubstancial,istoé,ligadaacadacorpoeintransmissível,
elaexplica,comonafísicadeAristóteles,omovimentodoscorpospelaunião
deumacionamentoexternoedeumaforçainterior,ambosnecessários.Por
exemplo:asnuvenssãoempurradaspelovento,maselasprópriasproduzem
umventoquandoavançam.Estaexplicação,quelembraocélebreesquema
peripatéticodomovimentodosprojéteis,éampliadapelacriançaparaincluir
estesúltimos.Seumabolanãocaiimediatamentenaterradepoisdelançadapor
umamão,éporqueelaéimpulsionadapeloarqueamãofazquandosemovimenta
epeloarqueaprópriabolafazrefluiratrásdesiquandosemovimenta.Damesma
forma,osriachossãomovidospeloimpulsoquetomamnocontatocompedrinhas
sobreasquaisdevempassaretc
Noconjunto,vê-seoquantoasdiversasmanifestaçõesdestepensa-
mentoemformaçãosãocoerentesentresi,noseupré-logismo.Consistem
todasemumaassimilaçãodeformadadarealidadeàprópriaatividade.Os
movimentossãodirigidosparaumfim,porqueosprópriosmovimentossão
32
orientadosassim;aforçaéativaesubstancial,porquetaléaforçamuscular;
arealidadeéanimadaeviva;asleisnaturaistêmobediência,emsuma,tudo
émodeladosobreoesquemadopróprioeu.Estesesquemasdeassimilação
egocêntrica,queseexpandemnojogosimbólicoedominamassimopensa-
mentoverbal,nãoserãosuscetíveisdeacomodaçõesmaisprecisasemcertas
situaçõesexperimentais?Éoqueveremos,agora,apropósitododesenvol-
vimentodosmecanismosintuitivos.
C.Aintuição
Háumacoisaquesurpreendenopensamentodacriança:osujeito
afirmatodootempo,semnuncademonstrar.Note-se,aliás,queestacarência
deprovasdecorredascaracterísticassociaisdacondutanestaidade,istoé,
doegocentrismoconcebidocomoindiferenciaçãoentreopontodevista
próprioeodosoutros.Naverdade,quandoseestáfrenteaosoutroséquese
procuramprovas,poisaconfiançaemsipróprioexisteantesqueosoutros
tenhamensinadoadiscutirasobjeçõeseantesquesetenhainteriorizadotal
condutasobformadestadiscussãointerior,aquesechamareflexão.Quando
fazemosperguntasacriançasdemenosdeseteanos,semprenossurpreen-
demospelapobrezadassuasprovas,pelaincapacidadedemotivaras
afirmaçõeseatépeladificuldadequesentememacharporretrospecçãoa
maneiracomoseconduziram.Domesmomodo,acriançadequatroasete
anosnãosabedefinirosconceitosqueempregaeselimitaadesignaros
objetoscorrespondentesouadefinirpelouso("épara...")sobadupla
influênciadofinalismoedadificuldadedejustificação.
Pode-seobjetar,semdúvida,queacriançadestaidadenãopossuiainda
umdomínioverbalacentuado,comojáopossuinaaçãoemanipulação.Isto
éverdade,masmesmonesteterrenoseráelamais"lógica"?Distinguiremos
doiscasos:odainteligênciapropriamentepráticaeodopensamentotenden-
doaoconhecimentonocampoexperimental.
Existeuma"inteligênciaprática"quedesempenhaumimportante
papelentredoiseseteanos,prolongando,deumlado,ainteligênciasenso-
motoradoperíodopré-verbalepreparando,deoutrolado,asnoçõestécnicas
quesedesenvolverãoatéaidadeadulta.Estudou-sebastanteestainteligência
práticaemformação,pormeiodeengenhososdispositivos(alcançarobjeti-
vosporintermédiodeinstrumentosvariados;varetas,ganchos,interruptores
etc.)eefetivamenteseconstatouqueacriançaeramuitomaisadiantadanas
açõesdoquenaspalavras.Mas,mesmonesteterrenoprático,encontraram-se
todosostiposdecomportamentoprimitivo,quelembramemtermosdeação
ascondutaspré-lógicasobservadasnopensamentodomesmonível(A.Rey).
33
Voltandoaopensamentoprópriodesteperíodododesenvolvimento,
procuraremosanalisá-losobperspectivanãomaisverbal,massimexperi-
mental.Comosevaicomportaracriançaempresençadeexperiências
precisas,comamanipulaçãodeummaterial,detalmodoquecadaafirmação
possasercontroladaporumcontatodiretocomosfatos?Raciocinará
logicamenteouosesquemasdeassimilaçãovãoconservarpartedeseu
egocentrismo,acomodando-se,tantoquantosãocapazes,àexperiênciaem
curso?Aanálisedegrandenúmerodefatosmostrou-sedefinitiva.Atécerca
deseteanosacriançapermanecepré-Iógicaesuplementaalógicapelo
mecanismodaintuição;éumasimplesinteriorizaçãodaspercepçõesedos
movimentossobaformadeimagensrepresentativasede"experiências
mentais"queprolongam,assim,osesquemassenso-motoressemcoordena-
çãopropriamenteracional.
Partamosdeumexemploconcreto.Apresenta-seaossujeitosseisa
oitofichasazuisenfileiradascompequenosintervalos,epede-se-lhespara
pegaroutrasfichasvermelhasquepoderãotirardeummonteàdisposição.
Porvoltadequatroacincoanosemmédia,ascriançasconstruirãoumafileira
defichasvermelhasdemesmotamanhoqueadasazuis,massemse
preocuparemcomonúmerodeelementosnemcomacorrespondênciatermo
atermodecadafichavermelhacomaazul.Há,aí,umaformaprimitivade
intuição,queconsisteemavaliaraquantidadesomentepeloespaçoocupado,
istoé,pelasqualidadesperceptivasglobaisdacoleçãofocalizada,semse
importarcomaanálisedasrelações.Porvoltadecincoaseisanos,poroutro
lado,observa-seumareaçãomuitointeressante:acriançacolocaumaficha
vermelhaemfrenteacadafichaazul,concluindo,destacorrespondência
termoatermo,umaigualdadedasduascoleções.Noentanto,seafastarmos
umpoucoasfichasextremasdafileiradasvermelhas,demodoaquenão
fiquemexatamentedebaixodasazuis,umpoucoaolado,acriançaqueviu
quenãosetirounemacrescentounada,avaliaqueasduascoleçõesnãosão
iguaiseafirmaqueafileiramaislongacontém"maisfichas".Colocando-se,
simplesmente,umadasfileirasemumpacotesemtocarnaoutra,aequiva-
lênciadasduascoleçõesperdemaisainda.Emsuma,háequivalência
enquantoexistecorrespondênciavisualouótica.Aigualdadenãoseconserva
porcorrespondêncialógica,nãohavendo,portanto,umaoperaçãoracional,
massimumasimplesintuição.Estaéarticuladaenãomaisglobal,perma-
necendoaindaintuitiva,istoé,submetidaaoprimadodapercepção.
Emqueconsistemtaisintuições?Doisoutrosexemplosnosfarão
compreendê-las.1".Tomam-setrêsbolasdecoresdiferentesA,BeC,que
circulamemumtubo.Vendo-aspartirnaordemABC,ascriançasesperam
34
encontrá-lasnooutroextremodotubonamesmaordemABC.Aintuiçãoé,
portanto,exata.Masseseinclinaotubonosentidodevolta?Osmaisjovens
nãoprevêemaordemCBAeficamsurpresosaoconstatarem-na.Quando
conseguemprevê-laporumaintuiçãoarticulada,imprime-seentãoaotubo
ummovimentodesemi-rotação.Trata-seagoradecompreenderqueaida
dará,daípordiante,CBA,eavolta,ABC.Maselesnãoentendem,e,além
disso,constatandoqueoraA,oraC,sainafrente,esperamqueapareçadepois
emprimeirolugarabolaintermediáriaB.2".Doismóveisseguemomesmo
trajetonamesmadireção,umultrapassandoooutro.Emqualqueridade,a
criançaconcluique"vaimaisdepressa".Mas,seoprimeiropercorreno
mesmotempoumcaminhomaislongosemalcançarosegundo,ouseandam
emsentidoinverso,ouainda,seseguemumemfrentedooutroduaspistas
circularesconcêntricas,acriançanãocompreendemaisessadesigualdade
derapidez,mesmoseasdiferençasdadasentreoscaminhospercorridossão
bemgrandes.Aintuiçãoderapidezreduz-se,então,àdaultrapassagem
efetivaenãochegaàrelaçãodotempoedoespaçotranspostos.
Emqueconsistem,então,estasintuiçõeselementaresdacorrespon-
dênciaespacialouótica,daordemdiretaABCouultrapassagem?Elassão
apenasesquemasperceptivosouesquemasdeação,esquemassenso-moto-
res,portanto,mastranspostosouinteriorizadoscomorepresentações.São
imagensouimitaçõesdarealidade,ameiocaminhoentreaexperiência
efetivaea"experiênciamental",nãoseconstituindoaindaemoperações
lógicaspassíveisdeseremgeneralizadasecombinadasentresi.
Equefaltaaestasintuiçõesparasetornaremoperatóriasesetransfor-
marem,assim,emsistemalógico?Simplesmente,prolongaraaçãojáconhe-
cidadosujeitonosdoissentidos,demaneiraatornarestasintuiçõesmóveis
ereversíveis.Acaracterísticadasintuiçõesprimáriaséarigidezeairre-
versibilidade;elassãocomparáveisaesquemasperceptivoseaatoshabituais
globaisquenãopodemserrevertidos.Todohábito,naverdade,éirreversível:
escreve-sedaesquerdaparaadireita,porexemplo,eseriaprecisotodauma
novaaprendizagemparaseconseguirbomresultadodadireitaparaa
esquerda(evice-versa,paraosárabes).Omesmoacontececomaspercep-
ções,queseguemocursodascoisasecomosatosdainteligênciasenso-mo-
tora,quetendem,tambémeles,paraumfimenãovoltamatrás(anãoserem
certoscasosespeciais).Portanto,énormalqueopensamentodacriança
comeceporserirreversível,eespecialmente,quandoelainteriorizapercep-
çõesemovimentossobformadeexperiênciasmentais,estespermanecem
poucomóveisepoucoreversíveis.Aintuiçãoprimáriaéapenasumesquema
senso-motortranspostocomoatodopensamento,herdando-lhe,naturalmen-
35
te,ascaracterísticas.Masestasconstituemumaaquisiçãopositiva,bastando
prolongarestaaçãointeriorizada,nosentidodamobilidadereversível,para
transformá-laem"operação".
Aintuiçãoarticuladaavançanestadireção.Enquantoqueaintuição
primáriaéapenasumaaçãoglobal,aintuiçãoarticuladaaultrapassanadupla
direçãodeumaantecipaçãodasconsequênciasdestaaçãoedeumareconstitui-
çãodosestadosanteriores.Semdúvida,elapermaneceaindairreversível.Basta
alterarumacorrespondênciaóticaparaqueacriançanãopossaarranjaros
elementosnasuaordemprimitivanopensamento.Ésuficientedarmeia-volta
aotuboparaqueaordeminversaescapeaosujeitoetcMasoiníciodesta
antecipaçãoereconstituiçãopreparaareversibilidade,constituindoumaregula-
çãodasintuiçõesiniciais;estaregulaçãoprenunciaasoperações.Aintuição
articuladaé,portanto,suscetíveldeatingirumníveldeequilíbriomaisestávele
maismóvelaomesmotempodoqueaaçãosenso-motorasozinha,residindoaí
ograndeprogressodopensamentoprópriodesteestágiosobreainteligênciaque
precedealinguagem.Comparadaàlógica,aintuição,dopontodevistado
equilíbrio,émenosestável,dadaaausênciadereversibilidade;mas,emrelação
aosatospré-verbais,representaumaautênticaconquista.
D.Avidaafetiva
•fAstransformaçõesdaaçãoprovenientesdoiníciodasocializaçãonão
têmimportânciaapenasparaainteligênciaeparaopensamento,mas
repercutemtambémprofundamentenavidaafetiva.Comojáentrevimos,
desdeoperíodopré-verbal,existeumestreitoparalelismoentreodesenvol-
vimentodaafetividadeeodasfunçõesintelectuais,jáqueestessãodois
aspectosindissociáveisdecadaação.Emtodaconduta,asmotivaçõeseo
dinamismoenergéticoprovêmdaafetividade,enquantoqueastécnicase
oajustamentodosmeiosempregadosconstituemoaspectocognitivo
(senso-motorouraciona1)*Nuncaháaçãopuramenteintelectual(sentimen-
tosmúltiplosintervêm,porexemplo:nasoluçãodeumproblemamatemáti-
co,interesses,valores,impressãodeharmoniaetc),assimcomotambémnão
háatosquesejampuramenteafetivos(oamorsupõeacompreensão).Sempre
eemtodolugar,nascondutasrelacionadastantoaobjetoscomoapessoas,
osdoiselementosintervêm,porqueseimplicamumaooutro.Existemapenas
espíritosqueseinteressammaispelaspessoasdoquepelascoisasou
abstrações,enquantoquecomoutrossedáoinverso.Istofazcomqueos
primeirospareçammaissentimentaiseosoutrosmaissecos,mastrata-se,
apenas,decondutasesentimentosqueimplicamnecessariamenteaomesmo
tempoainteligênciaeaafetividade.
36
Noníveldedesenvolvimentoqueconsideramosagora,astrêsnovida-
desafetivasessenciaissãoodesenvolvimentodossentimentos*interindivi-
duais(afeições,simpatiaseantipatias)ligadosàsocializaçãodasações,a
apariçãodesentimentosmoraisintuitivos,provenientesdasrelaçõesentre
adultosecrianças,easregularizaçõesdeinteressesevalores,ligadasàsdo
pensamentointuitivoemgeral.
Comecemosporesteterceiroaspecto,queépmaiselementar.O
interesseéoprolongamentodasnecessidades.Éarelaçãoentreumobjetoe
umanecessidade,poisumobjetotorna-seinteressantenamedidaemque
correspondeaumanecessidade.Assimsendo,ointeresseéaorientação
própriaatodoatodeassimilaçãomental.Assimilar,mentalmente,éincor-
porarumobjetoàatividadedosujeito,eestarelaçãodeincorporaçãoentre
oobjetoeoeunãoéoutraqueointeressenosentidomaisdiretodotermo
("inter-esse").Assimsendo,ointeressecomeçacomavidapsíquica,pro-
priamentedita,edesempenha,emparticular,papelessencialnodesenvolvi-
mentodainteligênciasenso-motora.Mas,comodesenvolvimentodopen-
samentointuitivo,osinteressessemultiplicamesediferenciam,dandolugar
aumadissociaçãoprogressivaentreosmecanismosenergéticos,queo
interesseimplica,eosprópriosvaloresqueesteproduz.
Ointeresseapresenta-se,comosesabe,sobdoisaspectoscomplemen-
tares.Deumlado,éreguladordeenergia,comomostrouClaparède.Sua
intervençãomobilizaasreservasinternasdeforça,bastandoqueumtrabalho
interesseparaparecerfácileparaqueafadigadiminua.Époristoque,por
exemplo,osescolaresalcançamumrendimentoinfinitamentemelhorquan-
doseapelaparaseusinteressesequandoosconhecimentospropostos
correspondemàssuasnecessidades.Mas,poroutrolado,ointeresseimplica
umsistemadevalores,quealinguagemcorrentedesignapor"interesses"
(emoposiçãoa"interesse")equesediferenciam,precisamente,nodecurso
dodesenvolvimentomental,determinandofinalidadessempremaiscomple-
xasparaaação.Ora,estesvaloresdependemdeumoutrosistemade
regulações,quecomandaasregulaçõesdasenergiasinterioressemdelas
dependerdiretamenteequetendeaassegurarourestabeleceroequilíbriodo
eu,completandosemcessaraatividadepelaincorporaçãodenovasforças
oudenovoselementosexteriores.Éassimque,duranteaprimeirainfância,
senotaminteressesatravésdaspalavras,dodesenho,dasimagens,dos
ritmos,decertosexercíciosfísicosetc.Todasestasrealidadesadquiremvalor
paraosujeitonamedidadesuasnecessidades,estasdependendodoequilí-
briomentalmomentâneoesobretudodasnovasincorporaçõesnecessáriasà
suamanutenção.
37
L
Aosinteressesouvaloresrelativosàprópriaatividade,estãoligados
depertoossentimentosdeautovalorização:osfamosos"sentimentosde
inferioridadeoudesuperioridade".Todosossucessosefracassosdaativida-
deseregistramemumaespéciedeescalapermanentedevalores,osprimeiros
elevandoaspretensõesdosujeitoeossegundosabaixando-ascomrespeito
àsaçõesfuturas.Daíresultaumjulgamentodesimesmoparaoqualo
indivíduoéconduzidopoucoapoucoequepodetergrandesrepercussões
sobretodoodesenvolvimento.Certasansiedades,emparticular,resultamde
fracassosreaise,sobretudo,imaginários.
Masosistemaconstituídoporestesmúltiplosvalorescondiciona
sobretudoasrelaçõesafetivasinterindividuais.Domesmomodoqueo
pensamentointuitivoourepresentativoestáligado,graçasàlinguagemeà
existênciadossignosverbais,àstrocasintelectuaisentreosindivíduos,
tambémossentimentosespontâneosdepessoaparapessoanascemdeuma
troca,cadavezmaisrica,devalores.Desdequesetornapossívelacomuni-
caçãoentreacriançaeoseuambiente,umjogosutildesimpatiaseantipatias
vai-sedesenvolver,completandoediferenciandoindefinidamenteossenti-
mentoselementaresjáobservadosnodecorrerdoestágioprecedente.Como
regrageral,haverásimpatiaemrelaçãoàspessoasquerespondemaos
interessesdosujeitoequeovalorizam.Asimpatia,então,deumladosupõe
umavalorizaçãomútuae,deoutro,umaescaladevalorescomumque
permitaastrocas.Éoquealinguagemexprime,dizendoqueaspessoasse
gostam:"concordamentresi","têmosmesmosgostos"etc.É,portanto,com
basenestaescalacomumqueseefetuamasvalorizaçõesmútuas.Inversa-
mente,aantipatianascedaausênciadegostoscomunsedaescaladevalores
comuns.Bastaobservaracriançanaescolhadeseusprimeiroscompanheiros
ounareaçãoaadultosestranhosàfamília,parasepoderseguirodesenvol-
vimentodasvalorizaçõesinterindividuais.Quantoaoamordacriançapor
seuspais,oslaçosdesangueestãolongedepoderexplicá-lo,senãose
considerarestaíntimacomunidadedevalorizaçãoquefazcomquetodosos
valoresdascriançassejammoldadosàimagemdeseupaiedesuamãe.Ora,
entreosvaloresinterindividuaisassimconstituídos,existemalgunsespecial-
menteimportantes;sãoosqueacriançareservaparaaquelesquejulgacomo
superioresasi,algumaspessoasmaisvelhaseseuspais.Umsentimento
especialcorrespondeaestasvalorizaçõesunilaterais:éorespeito,queéum
compostodeafeiçãoetemor,estabelecendoestesegundoadesigualdadeque
intervémemtalrelaçãoafetiva.Orespeito,comoBovetjámostrou,estána
origemdosprimeirossentimentosmorais.Comefeito,ésuficientequeos
seresrespeitadosdêemaosqueosrespeitamordensesobretudoavisos,para
38
queestassejamsentidascomoobrigatóriaseproduzamassimosentimento
dodever.Aprimeiramoraldacriançaéadaobediênciaeoprimeirocritério
dobemédurantemuitotempo,paraospequenos,avontadedospais.1Então,
osvaloresmoraisassimconcebidossãovaloresnormativos,nosentidoque
nãosãomaisdeterminadosporsimplesregulaçõesespontâneascomoas
simpatiasouantipatias,masgraçasaorespeito,porregraspropriamente
ditas.Mas,deve-seconcluirque,desdeaprimeirainfância,ossentimentos
interindividuaissãosuscetíveisdealcançaroníveldaquiloquechamaremos
aseguirdeoperaçõesafetivasemcomparaçãocomasoperaçõeslógicas?
Ou,melhor,ossistemasdevaloresmoraisseimplicamumaooutro,racio-
nalmente,comoéocasoemumaconsciênciamoralautónoma?Nãoparece,
poisosprimeirossentimentosmoraisdacriançapermanecemintuitivos,à
maneiradopensamentopróprioatodoesteperíodododesenvolvimento.A
moraldaprimeirainfânciafica,comefeito,essencialmenteheterônoma,isto
é,dependentedeumavontadeexterior,queéadosseresrespeitadosoudos
pais.Éinteressante,aesserespeito,analisarasvalorizaçõesdacriançaem
umcampomoralbemdefinido,comoéocasodamentira.Graçasao
mecanismodorespeitounilateral,acriançaaceitaereconhecearegrade
condutaqueimpõeaveracidadeantesdecompreender,porsisó,ovalorda
verdade,assimcomoanaturezadamentira.Porseushábitosdejogoe
imaginaçãoeportodaatitudeespontâneadeseupensamento,queafirmasem
provaseassimilaorealàprópriaatividadesemseimportarcomaverdadeira
objetividade,acriançaélevadaadeformararealidadeesubmetê-laaseus
desejos.Acontece-lhe,assim,deturparumaverdadesemseaperceber,
constituindooquesechamaa"pseudomentira"dascrianças(oScheinliige
deStern).Noentanto,elaaceitaaregradeveracidadeereconhececomo
legítimoquearepreendamoupunamporsuasprópriasmentiras.Mas,
comoelaavaliaasúltimas?Primeiramente,ascriançasafirmamquea
mentiranãotemnadade"ruim"quandoédirigidaacompanheiros,oquesó
érepreensívelquandoemrelaçãoaosadultos,jáquesãoestesqueaproíbem.
Mas,eraseguida,esobretudo,imaginamqueumamentiraétantopior
quandoaafirmaçãofalsasedistanciamaisdarealidade,eistoinde-
pendentementedasintençõesemjogo.Pede-se,porexemplo,àcriançapara
compararduasmentiras:contaràsuamãequetirouboanotanaescola
quando,naverdade,nãohaviaprestadoexames,oucontar,apóstersido
amedrontadaporumcachorro,queesteeragrandecomoumavaca.As
1Istoiverdadeiro,mesmoseacriançanãoobedece,defato,comoaconteceduranteesteperíodo
deresistênciaqueseobserva,muitasvezes,porvoltadetrêsaquatroanosequeosautores
alemãesdesignaramporTrotzalter.
39
criançascompreendembemqueaprimeiradestasmentirasédestinadaa
obter,indevidamente,umarecompensa,enquantoqueasegundaéapenas
umsimplesexagero.Noentanto,aprimeiraparece"menosruim",porque
acontecequeelatemboasnotase,sobretudo,porque,aafirmaçãosendo
verossímil,aprópriamãepoderiater-seenganado.Asegunda"mentira",ao
contrário,épior,emerececastigomaisexemplar,porque"nuncaacontece
queumcachorrosejatãogrande".Estasreações,queparecemtãogerais
(foram,particularmente,confirmadashápoucoemestudorealizadona
UniversidadedeLouvain),sãomuitoimportantes.Mostramoquantoos
primeirosvaloresmoraissãomoldadosnaregrarecebida,graçasaorespeito
unilateral,equeestaregraétomadaaopédaletraenãoemsuaessência.
Paraqueosmesmosvaloresseorganizememumsistemacoerenteegeral,
seráprecisoqueossentimentosmoraisconsigamumacertaautonomia,
sendo,então,necessárioqueorespeitocessedeserunilateralesetorne
mútuo.Éemparticularquandoestesentimentosedesenvolveentrecompa-
nheirosouiguais,queamentiraaumamigoserásentidatambémcomotão
"ruim"oupioraindaqueadacriançaparaoadulto.
Emsuma,interesses,autovalorizações,valoresinterindividuaisespon-
tâneosevaloresintuitivosparecemserasprincipaiscristalizaçõesdavida
afetivaprópriaaesteníveldodesenvolvimento.
III.AINFÂNCIADESETEADOZEANOS
Aidademédiadeseteanos,quecoincidecomocomeçodaescolari-
dadedacriança,propriamentedita,marcaumamodificaçãodecisivano
desenvolvimentomental.Emcadaumdosaspectoscomplexosdavida
psíquica,quersetratedainteligênciaoudavidaafetiva,dasrelaçõessociais
oudaatividadepropriamenteindividual,observa-seoaparecimentode
formasdeorganizaçõesnovas,quecompletamasconstruçõesesboçadasno
decorrerdoperíodoprecedente,assegurando-lhesumequilíbriomaisestável
equetambéminauguramumasérieininterruptadenovasconstruções.
Seguiremos,paranosguiarnestelabirinto,amesmamarchaque
anteriormente,partindodaaçãoglobaltantoindividualcomosocial,anali-
sando,emseguida,osaspectosintelectuaisedepoisafetivosdestedesenvol-
vimento.
A.Osprogressosdacondutaedasocialização
Quandosevisitamasdiversasclassesemumcolégio"ativo",ondeé
dadaàscriançasaliberdadedetrabalhartantoemgruposcomoisoladamente
edefalarduranteotrabalho,fica-sesurpresocomadiferençaentreosmeios
40
escolaressuperioresaseteanoseasclassesinferiores.Nospequenos,nãose
conseguedistinguircomnitidezaatividadeprivadadafeitaemcolaboração.
As_criançasfalam,masnãopodemossaberseseescutam.Aconteceque
váriosscdediquemaomesmotrabalho,masnãosabemosserealmenteexiste
ajudamútua.Observandoosmaiores,emseguida,fica-sesurpreendidopor
umduploprogresso:concentraçãoindividual,quandoosujeitotrabalha
sozinho,ecolaboraçãoefetivaquandohávidacomum.Ora,estesdois
aspectosdaatividadejnjejejniciamporvoltadeseteanossão,naverdade,
complementareseresultamdasmesmascausas.Sãodetalmodosolidários
que,àprimeiravista,édifícildizerseéporqueacriançasetornoucapazde
umacertareflexãoqueconseguecoordenarsuasaçõescomasdosoutros,
ouseéoprogressodasocializaçãoquefazcomqueopensamentoseja
reforçadoporinteriorização.
Dopontodevistadasrelaçõesinterindividuais,acriança,depoisdos
seteanos,torna-secapazdecooperar,porquenãoconfundemaisseupróprio
pontodevistacomodosoutros,dissociando-osmesmoparacoordená-los.
Istoévisívelnalinguagementrecrianças.Asdiscussõestornam-sepossíveis,
porquecomportamcompreensãoarespeitodospontosdevistado^adyersário
eprocuradejustificaçõesouprovasparaaafirmaçãoprópria.Asexplicações
mútuasentrecriançassedesenvolvemnoplanodopensamentoenão
somentenodaaçãomaterialjAlinguagem"egocêntricaj1desaparecequase
totalmenteeospropósitosespontâneosdacriançatestemunham^íeTFj^pTia
estruturagramatic^j-a-aecessidadedeconexãoentreasideiasedejustifica^
çãológica.
Quantoaocomportamentocoletivodascrianças,constata-sedepois
dosseteanosnotávelmudançanasatitudessociaiscomo,porexemplo,no
casodosjogoscomregra.Sabeseumabrincadeiracoletiva,comoadasbolas
degude,supõeumgrandeevariadonúmeroderegras,sobreomododejogar
asbolas,aslocalizações,aordemsucessivadoslançamentos,osdireitosde
apropriaçãonocasodeganharetc.Ora,trata-sedeumjogoque,nonosso
paíspelomenos,permaneceexclusivamenteinfantileterminanofimda
escolaprimária.Todoestecorpoderegras,comajurisprudêncianecessária
àsuaaplicação,constituiumainstituiçãoprópriaàscrianças,masquese
transmitedegeraçãoemgeraçãocomumaforçadeconservaçãosurpreen-
dente.Naprimeirainfância,osjogadoresdequatroaseisanosprocuram
imitarosexemplosdosmaisvelhoseobservammesmoalgumasregras;mas
cadaumsóconheceumapartedelaseduranteojogonãoseimportacomas
regrasdovizinho,quandoesteédamesmaidade.Naverdade,cadaqualjoga
àsuamaneira,semcoordenaçãonenhuma.Quandoseperguntaaospequenos
41
quemganhounoGmdapartida,ficarabastantesurpreendidos,poistodo
mundoganhaeganharsignificater-sedivertidobastante.Aocontrário,os
jogadoresapartirdeseteanosapresentamumduploprogresso.Semconhecer
aindadecoFtodasasregrasdojogoasseguram-se,aomenos,daunidade
dasregrasadmitidasduranteumamesmapartidaesecontrolamunsaos
outros,demodoamanteraigualdadefrenteaumaleiúnica.Foroutro
lado,otermo"ganhar"assumesentidocoletivo:éserbem-sucedido
depoisdeumacompetiçãocomregras.Éclaroqueoreconhecimento
davitóriadeumjogadorsobreosoutros,assimcomoodireitode
ganharasbolasdegudecomorecompensa,supõemdiscussões,bem
orientadasedefinitivas.
Emestreitaconexãocomosprogressossociais,assiste-seatrans-
formaçõesdeaçãoindividual,emquecausaeefeitosseconfundem.O
essencialéqueacriançasetornasuscetívelaumcomeçodereflexão.Em
vezdascondutasimpulsivasdaprimeirainfância,acompanhadasda
crençaimediataedoegocentrismointelectual,acriança,apartirdesete
oudeoitoanos,pensaantesdeagir,começando,assim,aconquistadeste
processodifícilqueéareflexão.Masumareflexãoéapenasumadelibe-
raçãointerior,istoé,umadiscussãoquesetemconsigomesmo,domodo
comoseagiriacominterlocutoresouopositoresreaiseexteriores.Pode-
seentão,porumlado,dizerqueareflexãoéumacondutasocialde
discussãointeriorizada(comoopensamentoquesupõeumalinguagem
interior,portantointeriorizada),deacordocomaleigeral,segundoaqual
seacabamporaplicarasipróprioascondutasadquiridasemfunçãode
outros,ou,poroutrolado,queadiscussãosocializadaéapenasuma
reflexãoexteriorizada.Narealidade,talproblema,comotodososanálo-
gos,levaàquestãoqualnasceuprimeiro:agalinhaouoovo,jáquetoda
condutahumanaéaomesmotemposocialeindividual.
Oessencialdestasconstataçõeséque,sobesteduploaspecto,acriança
deseteanoscomeçaa^seliberardeseuj^ocerítfísrnr^socialeintelectual,
tornando-se,então,capazdenovascoordenações,queserãodamaiorimpojr-
Jâncja^tantoparaainteligênciaquantoparaaafetividade.Paraainteligência,
trata-sedoiníciodaconstruçãológica,queconstitui,precisamente,osistema
derelaçõesquepermiteacoordenaçãodospontosdevistaentresi.Estes
pontosdevistasãotantoaquelesquecorrespondemaindivíduosdiferentes,
comoaquelescorrespondentesapercepçõesouintuiçõessucessivasdo
mesmoindivíduo.Paraaafetividade,omesmosistemadecoordenações
sociaiseindividuaisproduzumamoraldecooperaçãoedeautonomia
pessoal,emoposiçãoàmoralintuitivadeheteronomiacaracterísticadas
42
crianças.Ora,estenovosistemadevaloresrepresenta,nocampoafetivo,o
equivalentedalógicaparaainteligência.Osinstrumentosmentaisquevão
permitirestaduplacoordenação,lógicaemoral,sãoconstituídospela
operação,notocanteàinteligência,epelavontade,noplanoafetivo.Como
veremos,sãoduasrealidadesnovas,muitopróximasumadaoutra,jáque
resultamdeumamesmainversãoouconversãodoegocentrismoprimitivo.
B.Osprogressosdopensamento
Quandoasformasegocêntricasdecausalidadeederepresentaçãodo
mundo,ouseja,aquelasmoldadasnaprópriaatividade,começamadeclinar
sobainfluênciadosfatoresqueacabamosdever,aparecemnovasformasde
explicação,procedentes,emcertosentido,dasanteriores,emboracorrigin-
do-as.Ésurpreendenteconstatarque,entreasprimeirasaaparecer,há
algumassemelhantesàquelasadoradaspelosgregos,exatamentenaépoca
dodeclíniodasexplicaçõesmitológicas.
Umadasformasmaissimplesdestasrelaçõesracionaisdecausae
efeitoéaexplicaçãoporidentificação.Lembremo-nosdoanimismoe
artificialismomisturados,doperíodoprecedente.Nocasodaorigemdos
astros(perguntaestranhadesefazeraumacriança,emboraaconteçaque
elasprópriasafaçammuitasvezes,espontaneamente),estestiposprimitivos
decausalidadelevamadizer,porexemplo,que"osolnasceuporquenós
nascemos",eque"elecresceporquenóscrescemos".Ora,comadiminuição
desteegocentrismogrosseiro,acriança,emboramantenhaaideiadocresci-
mentodosastros,nãoosconsideramaiscomoumaconstruçãohumanaou
antropomórfica,e,sim,comocorposnaturais,cujaformaçãoparecemais
clara,àprimeiravista.Assiméqueosolealuasaíramdasnuvens,são
pedacinhosdenuvemincandescentesquesedesenvolveram(e"asluas"se
desenvolvemclaramenteaosnossosolhos!).Asprópriasnuvensprovêmda
fumaçaoudoar.Aspedrassãoformadasdeterra,eestadaáguaetc.
Finalmente,quandoestescorposnãotêmmaisumcrescimentoàsemelhança
dosseresvivos,estasfiliaçõesaparecemparaacriançanãomaiscomo
processodeordembiológica,mascomotransmutaçõespropriamenteditas.
Nota-se,comfrequência,arelaçãoentreestesfatoseaexplicaçãopor
reduçãodasmatériasumasàsoutras,emvoganaescoladeMileto(embora
a"natureza"ouphysisdascoisasfosse,paraestesfilósofos,umaespéciede
crescimento,eoseu"hilozoísmo"nãoestivesselongedoanimismoinfantil).
Emqueconsistemestesprimeirostiposdeexplicação?Devemos
admitirque,nascrianças,oanimismodálugaraumaespéciedecausalidade,
fundadanoprincípiodeidentidade,comoseestecélebreprincípiológico
43
dominassearazão,comocertosfilósofosnosquiseramfazeracreditar?
Certamente,hánessesdesenvolvimentosaprovadequeaassimilação
egocêntrica(princípiodoanimismo,finalismoeartificialismo)estáemvias
desetransformaremassimilaçãoracional,istoé,emestruturaçãodareali-
dadepelaprópriarazão,sendoestaassimilaçãoracionalbemmaiscomplexa
queumaidentificaçãopuraesimples.
Masse,emvezdeseguirascriançasnassuasperguntasarespeito
destasrealidadesafastadasouimpossíveisdemanipular,comoosastros,as
montanhasouaságuas,sobreasquaisopensamentosópodepermanecer
verbal,selheperguntarmossobrefatostangíveisepalpáveis,maiores
surpresasnosestãoreservadas.Descobre-seque,desdeosseteanos,acriança
setornacapazdeconstruirexplicaçõesatomísticas,istonaépocaemque
começaasabercontar.Continuandocomanossacomparaçãoinicial,lem-
bremo-nosdequeosgregosinventaramoatomismo,logodepoisdeterem
especuladosobreatransmutaçãodassubstâncias.Observemos,sobretudo,
queoprimeirodosatomistasfoisemdúvidaPitágoras,queacreditavana
composiçãodoscorposnabasedenúmerosmateriais,oupontosdescontí-
nuosdasubstância.Commuitopoucasexceções(que,noentanto,existem),
acriançanãogeneraliza,diferindodosfilósofosgregosnamedidaemque1
nãoconstróisistema.Mas,quandoaexperiênciasepresta,elarecorreaum
atomismoexplícitoeatébastanteracional.
Aexperiênciamaissimplesaesserespeitoconsisteemapresentarà
criançadoiscoposdeáguadeformassemelhantesedimensõesiguais,cheios/
atéunstrêsquartos.Emumdelesjogamosdoispedaçosdeaçúcar,pergun-
tando,antes,seaáguavaisubir.Umavezimersooaçúcar,constata-seonovo
nívelepesam-seosdoiscopos,demodóarealçarqueaáguacontendoo
açúcarpesamaisqueaoutra.Pergunta-se,então,enquantooaçúcarse
dissolve:Io.se,umavezdissolvido,aindaficaráalgumacoisanaágua;2o.
seopesoficarámaiorouigualaodaáguaclaraepura;3o.seoníveldaágua
açucaradaabaixaráatéseigualarcomodooutrocopo,ousepermanecerá
comoestá.Pergunta-seoporquêdetodasasafirmaçõesdacriançae,depois,
terminadaadissolução,retoma-seaconversa,apósconstatarapermanência
dopesoevolume(donível)daáguaaçucarada.Asreaçõesobservadasnas
diferentesidadesforamextremamenteclaras;aordemdesucessãofoitão
regular,quesepodeextrairdestasperguntasconsideraçõesdiagnosticaspara
oestudodosatrasosmentais.Primeiramente,osmenoresdeseteanosnegam,
emgeral,qualquerconservaçãodoaçúcardissolvido,eafortioridopesoe
dovolumeaeleligados.Paraeles,ofatodeoaçúcarderreterimplicasua
totalexterminaçãoe,portanto,nasuadesapariçãodarealidade.Segundoos
mesmossujeitos,permaneceogostodeáguacomaçúcar,masvaidesapare-
ceremalgumashorasoudias,comoumodor,ou,maisexatamente,como
umasombraatrasada,destinadaaonada.Porvoltadeseteanos,aocontrário,
oaçúcarderretidopermanecenaágua,istoé,existeumaconservaçãoda
substância.Mas,sobqueforma?Paracertossujeitos,setransformaem
águaouseliquefazemumxaropequesemisturaiágua:éaexplicação
portransmutaçãodequefalamosacima.Mas,paraosmaisadiantados,
aconteceoutracoisa.Vê-se,dizacriança,opedaçoquesedesfazem
"pedacinhos"duranteadissolução.Bastaadmitir,então,queestes"peda-
cinhos"setornamcadavezmenores,parasecompreenderqueexistem
naáguasobformade"bolinhas"invisíveis."Éistoquedáogosto
açucarado",acrescentamossujeitos.Oatomismo,então,nasceusoba
formadeuma"metafísicadapoeira"oudopó,comodisseumfilósofo
francês.Maséumatomismoaindaqualitativo,jáqueestas"bolinhas"
nãotêmnempesonemvolume,equeacriançaesperaodesaparecimento
doprimeiroeabaixadoníveldaáguadepoisdadissolução.Nocursode
umaetapaseguinte,cujaapariçãoseobservaporvoltadenoveanos,a
criançafazomesmoraciocínio,notocanteàsubstância,masacrescenta
umprogressoessencial.Cadaumadasbolinhasteráseupesoe,somando
todosestespesosparciais,vai-seencontraropesodosdoispedaços
imersosinicialmente.Poroutrolado,emborasejacapazesdeumaexpli-
caçãotãosutilparaafirmaraprioriaconservaçãodopeso,falhampara
ovolumeeesperamqueoníveldaáguadiminuadepoisdadissolução.
Finalmente,porvoltadeonzeadozeanos,acriançageneralizaseu
esquemaexplicativoparaoprópriovolume,edeclaraqueasbolinhas
ocupamcadaumaumlugar,sendoasomadosespaçosigualàdospedaços
imersos,demaneiraqueonívelnãodesçamais.
Assiméoatomismoinfantil.Estenãoéoúnicoexemplo.Asmesmas
explicaçõessãoobtidasemsentidoinverso,quandosefazdilatar,frentea
umacriança,umgrãodemilhoamericanocolocadosobreumachapaquente.
Paraosmenores,asubstânciaaumenta;aosseteanos,conserva-sesem
crescer,masinchaeopesomuda;denoveadezanos,opesoseconserva,
masnuncaovolume;eporvoltadedozeanos,comoafarinhaécomposta
degrãosinvisíveis,devolumeconstante,estesgrãosseafastamsimplesmen-
teunsdosoutrosseparadospeloarquente.
Esteatomismoédignodenota,nãotantopelarepresentaçãodos
grânulos,sugeridapelaexperiênciadopóoudafarinha,masemfunçãodo
processodedutivodecomposiçãoquerevela.Otodoéexplicadopela
composiçãodaspartes,eestasupõe,então,operaçõesreaisdesegmentação
4445
oudivisãoe,inversamente,dereuniãoouadição,assimcomodeslocamentos
porconcentraçãoouafastamento(semprecomonospré-socráticos!).Além
disso,supõe,sobretudo,verdadeirosprincípiosdeconservação,oquetorna
evidentequeasoperaçõesemjogosãogrupadasemsistemasfechadose
coerentes,cujasconservaçõesrepresentamas"invariantes".
Asnoçõesdepermanência,cujaprimeiramanifestaçãoacabamosde
constatar,sãosucessivamenteasdasubstância,pesoevolume.Ora,éfácil
encontrá-lasemoutrasexperiências.Porexemplo,dá-seàcriançaduasbolinhas
demassaparamodelar,demesmotamanhoepeso.Umaélogodeformadaem
panqueca,emsalsichaoucortadaempedaços.Antesdeseteanos,acriança
admiteaconstânciadamatériaemjogo,acreditandoaindanavariaçãodasoutras
qualidades;porvoltadenoveanos,reconheceaconservaçãodopeso,masnão
adovolume;e,porvoltadeonze-dozeanos,adovolume(pordeslocamentos
donível,nocasodeimersãodeobjetosemdoiscoposdeágua).Sobretudo,é
fácilmostrarque,desdeosseteanos,sãoadquiridossucessivamenteoutros
princípiosquefaltavamcompletamentenospequenos.Estesmarcambemo
desenvolvimentodopensamento:aconservaçãodoscomprimentos,nocasode
deformaçãodoscaminhospercorridos,conservaçãodassuperfícies,dosconjun-
tosdescontínuosetc.Estasnoçõesdeinvariânciasãooequivalente,noplanodo
pensamento,daquiloquevimosacimacomrespeitoàconstruçãosenso-motora
doesquemado"objeto",invariantepráticadaação.
Como,então,seelaboramestasnoçõesdeconservação,quedife-
renciamtãoprofundamenteopensamentodasegundainfânciadaquele
anterioraseteanos?Exatamenteàsemelhançadopróprioatomismoou,
parafalardemaneiramaisgenérica,comoexplicaçãocausalporcompo-
siçãopartitiva.Resultam,portanto,deumjogodeoperações,coordenadas
entresiemsistemasdeconjuntos,ecujapropriedademaisnotável,em
oposiçãoaopensamentointuitivodaprimeirainfância,éadeserem
reversíveis.Comefeito,averdadeirarazão,quelevaascriançasdeste
períodoaadmitiraconservaçãodeumasubstância,oudeumpesoetc,
nãoéaidentidade(osmenoresvêemtãobemquantoosgrandesque"não
setirounemacrescentounada"),mas,sim,apossibilidadederetorno
vigorosoaopontodepartida.Assimsendo,apanquecapesatantoquanto
abola,dizemeles,porquevocêpodefazerumabolacomapanqueca.
Veremos,maisadiante,asignificaçãoverdadeiradestasoperações,cujo
resultadoé,portanto,corrigiraintuiçãoperceptiva,vítima,sempre,das
ilusõesmomentânease,porconsequência,de"descentralizar"oegocen-
trismo,seassimsepodedizer,paratransformarasrelaçõesimediatasem
umsistemacoerentederelaçõesobjetivas.
46
Mas,antes,assinalemosaindaasgrandesconquistasdopensamento
assim(tansformado:asdetempo(ecomeleodevelocidadeeespaço),além
dacausalidadeenoçõesdeconservação,comoesquemasgeraisdopensa-
mento,enãomais,simplesmente,comoesquemasdeaçãoouintuição.
Odesenvolvimentodasnoçõesdetempoduranteaevoluçãomental
dacriançalevantaosproblemasmaiscuriosos,emconexãocomasperguntas
colocadaspelaciênciamaismoderna.Éclaroque,emqualqueridade,a
criançasaberádizerqueummóvel,quepercorreocaminhoABC...,estava
emA"antes"deestaremBouC,equeleva"maistempo"parapercorrero
trajetoACqueoAB.Porém,émaisoumenosaistoqueselimitamas
intuiçõestemporaisdaprimeirainfância,esesecomparardoismóveis,um
còmooutro,segundocaminhosparalelos,mascomvelocidadesdiferentes,
constata-se:Io.osmenoresnãotêmaintuiçãodasimultaneidadedospontos
dechegada,poisnãocompreendemaexistênciadeumtempocomumaos
doismovimentos;2o.elesnãotêmaintuiçãodaigualdadedosdoisintervalos
sincrônicos,eistopelamesmarazão;3".elesnãorelacionamosintervalose
assucessões:admitemqueummeninoXémaisjovemqueumY,por
exemplo,emboranãoconcluamqueosegundo,necessariamente,nasceu
"depois"dooutro.Comoseforma,então,otempo?Porcoordenaçõesde
operaçõesanálogasàquelasqueacabamdeserestudadas:osacontecimentos
serãocolocadosemordemdesucessãodeumlado,esimultaneidadedas
duraçõesconcebidascomointervalosentreestesacontecimentos,ficandoos
doissistemas,então,coerentes,jáqueligadosentresi.
Quantoàvelocidade,ospequenostêm,emtodasasidades,aintuição
correiadequeummóvelultrapassaoutroporquevaimaisrápido.Mas,basta
quenãohajamaisultrapassagemvisível(escondendoosmóveissobtúneis
dediferentestamanhosoutornandoaspistasdiferentes,circulareseconcên-
tricas)paraqueaintuiçãodevelocidadesejafalseada.Anoçãoracionalde
velocidade,aocontrário,concebidacomoumarelaçãoentretempoeespaço
percorrido,seelaboraemconexãocomotempo,porvoltadeoitoanosmais
oumenos.
Restaaconstruçãodoespaço,cujaimportânciaéimensa,tantoparaa
compreensãodasleisdodesenvolvimento,quantoparaasaplicaçõespeda-
gógicas,reservadasaestegénerodeestudos.Infelizmente,seconhecemos
razoavelmenteodesenvolvimentodestanoção,sobaformadeesquema
prático,duranteosdoisprimeirosanos,oestadodaspesquisasrelativasà
geometriaespontâneadacriançaestálongedeestartãoavançadoquanto
paraasnoçõesprecedentes.Tudoquepodeserditoéqueasideiasfunda-
mentaisdeordem,continuidade,distância,comprimento,medidaetc,na
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pequenainfância,sódãolugaraintuições,extremamentelimitadasedefor-
madas.Oespaçoprimitivonãoéhomogéneo,nemisótropo(apresenta
dimensõesprivilegiadas),nemcontínuoetc.Sobretudo,estácentradono
sujeito,emvezdeserrepresentávelsobqualquerpontodevista.É,denovo,
depoisdosseteanosqueumespaçoracionalcomeçaaseconstruir,eistose
fazpormeiodasmesmasoperaçõesgerais,cujaformação,propriamentedita,
vamosagoraestudar.
C.Asoperaçõesracionais
As.operaçõesdopensamento,depoisdosseteanos,correspondemà
intuição,queéaformasuperiordeequilíbrioqueopensamentoatingena
primeirainfância.Éporestemotivoqueonúcleooperatóriodainteligência
mereceumexamedetalhado,jáqueseuestudoforneceachavedeumaparte
essencialdodesenvolvimentomental.
Convém,primeiramente,notarqueanoçãodeoperaçãoseaplicaa
realidadesbemdiversas,emborabemdefinidas.Existemoperaçõeslógicas,
comoasquecompuseramumsistemadeconceitosouclasses(reuniãode
indivíduos)ouderelações;operaçõesaritméticas(adição,multiplicação
etc),eseusinversos;operaçõesgeométricas(seções,deslocamentosetc);
temporais(seriaçãodosacontecimentos,e,portanto,desuassucessões,e
simultaneidadedeintervalos),mecânicas,físicasetc.Umaoperaçãoéentão,
psicologicamente,umaaçãoqualquer(reunirindivíduosouunidadesnumé-
ricas,deslocaretc),cujaorigemésempremotora,perceptivaouintuitiva.
Estasações,quesão,nopontodepartida,operações,têm,assim,elas
próprias,porraízes,esquemassenso-motores,experiênciasafetivasoumen-
tais(intuitivas),constituindo,antesdesetornaremoperatórias,matéria
mesmadainteligênciasenso-motorae,depois,daintuição.Mas,comose
explicaapassagemdasintuiçõesparaasoperações?Asprimeirassetrans-
formamnassegundas,desdequeconstituamsistemasdeconjuntos,ao
mesmotempo,passíveisdecomposiçãoerevisão.Ou,melhor,demaneira
geral,asaçõestornam-seoperatórias,logoqueduasaçõesdomesmogénero
possamcomporumaterceira,quepertenceaindaaestegénero,edesdeque
estasdiversasaçõespossamserinvertidas.Assiméqueaaçãodereunir
(adiçãológicaouadiçãoaritmética)éumaoperação,porqueváriasreuniões
sucessivasequivalemaumasóreunião(composiçãodasadições)eas
reuniõespodemserinvertidasemdissociações(subtração).
Ora,éimportanteconstatarque,porvoltadeseteanos,seconstitui,
precisamente,todaumasériedestessistemasdeconjunto,quetransformam
asintuiçõesemoperaçõesdetodasasespécies.Éoqueexplicaastransfor-
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maçõesdopensamento,analisadasacima.Sobretudo,ésurpreendentever
comoestessistemas,porumaespéciedeorganizaçãototaleàsvezesmuito
rápida,seconstituemsempreemfunçãodatotalidadedasoperaçõesdo
mesmogénero,nãoexistindonenhumaoperaçãoemestadodeisolamento.
Porexemplo,umconceitoouumaclasselógica(reuniãodeindivíduos)não
seconstróiisoladamente,masnecessariamentenointeriordeumaclassifi-
caçãodeconjunto,doqualrepresentaumaparte.Umarelaçãológicade
família(irmão,tioetc.)sóécompreendidaemfunçãodeumconjuntode
relaçõesanálogas,cujatotalidadeconstituiumsistemadeparentesco.Os
númerosnãoaparecemcomoindependentesunsdosoutros(3,10,2,5etc.)
esósãotomadoscomoelementosdeumasérieordenada1,2,3...etc.Os
valoressóexistem,portanto,emfunçãodeumsistematotalou"escalade
valores".Umarelaçãoassimétrica,comoBC,sóéinteligívelquandorela-
cionadacomumaseriaçãodeconjuntopossível:OABCD...etc.Aindamais
importanteéofatodeossistemasdeconjuntosóseformaremnopensamento
dacriançaemconexãocomumareversibilidadeprecisadasoperações,
adquirindo,assim,umaestruturadefinidaeacabada.
UmexemploespecialmenteclaroéodaseriaçãoqualitativaABC...
etc.Emtodasasidades,umacriançasaberádistinguirdoisbastõespelo
comprimentoejulgarqueoelementoBémaiorqueoA.Mas,naprimeira
infância,istoéapenasumarelaçãoperceptivaouintuitiva,enãooperação
lógica.Comefeito,sesemostraprimeiroAB,depoisosdoisbastõesBC,
escondendoAsobamesa,eseperguntaseA(quehavíamoscomparadoa
B)émaioroumenorqueC(queestásobreamesacomB),acriançaserecusa
aconcluir(contantoque,naturalmente,asdiferençasnãosejammuito
grandesenãosubsistamnamemória,ligadasàsimagens-lembranças)epede
paravê-losjuntos,poisnãosabededuzirAC,deABedeBC.Quandosaberá
efetuarestadedução?Somentequandosouberconstruirumasérieouescala
debastõessobreamesae,coisacuriosa,elasnãooconseguemantesdosseis
ouseteanos.Éevidenteque,desdecedo,saberáordenarosbastõesde
comprimentosdiferentes,porém,limita-se,então,aarrumá-losemformade
escada,istoé,deumafiguraperceptiva.Poroutrolado,seoscomprimentos
diferempouco,tomando-senecessáriocompararoselementosdoisadois
paraordená-los,começaráentãoporenfileirá-losaospares:CE;AC;BD
etc,semcoordená-losentresi.Depois,fazpequenassériesdetrêsouquatro
elementos,massempresemcoordená-losentresi.Emseguida,conseguea
sériecompleta,masportentativas,esemsaberintercalarnovoselementos
distintos,umavezconstruídaasérietoda.Finalmente,porvoltadosseisanos
emeioousete,descobreummétodooperatório,queconsisteemprocurar
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