1. A nova passeata dos 100 mil
José Carlos Nunes Barreto
A turba caminhava sobre a cidade, inicialmente contida e com comportadas palavras de ordem, depois
agressiva, passando a quebrar tudo e todos que a tentassem impedir de protestar. Quem seriam eles? Durante
o tumulto, até a polícia se escondeu da violência – inaceitável – e foi salva por um heroico grupo de militantes,
enquanto eu, que clamei anos a fio, com minha caneta, por mais reação da população nestes últimos anos,
refém do ilusionismo lulopetista, fiquei aqui, aturdido. Teria o país acordado?
Os políticos, qual ratos de porão, se esconderam. Nenhum deles havia entendido nada: arrogantes como
sempre, continuaram a pensar dentro da caixinha e se deram mal, prova do despreparo geral.
O uso de inteligência pelo Estado brasileiro é indigente, a ponto de nossa soberania estar sob risco. Imagine,
agora, detectar um movimento contra o governo, e que não parta de uma oposição visível e partidária: aí é
querer muito destes nossos arapongas, né?
Será que nossos governantes não têm assessoria especial para estudar os fenômenos sociais? Será que
nunca ouviram falar em perfil tecnográfico social?
Pois quero mostrar ao leitor amigo o que é isso e como este conhecimento poderia ter evitado esta
perplexidade exibida por nossas despreparadas autoridades, Norte a Sul do Brasil.
Primeiro é necessário deixar claro que existe um “groundswell tecnológico” – uma participação ativa de dezenas
de milhões de pessoas conectadas à internet em diversos tipos de redes sociais, e isto mudou para sempre a
forma de se viver na contemporaneidade: publicar, manter e atualizar um blog; usar o Twitter; escutar e baixar
áudio, enviar ratings/críticas sobre produto/serviços; fazer upload de fotografias; acompanhar fóruns; vo tar
online; informar-se online; resolver online sua vida médica.
No livro “Fenômenos sociais nos negócios”, Charlene Li e Josh Bernoff, os autores, mostram uma escada
tecnográfica social, em que os participantes desse groundswell são representados em cada degrau por grupos
de consumidores – uma tribo, como se dizia antigamente.
A dos criadores publica blogs, faz upload de vídeo criado por ela; escreve artigos e histórias e os publica em
sites. A dos conversadores atualiza constantemente status em redes sociais; publica atualizações no Twitter; a
dos críticos publica ratings/críticas de produtos e serviços, escreve em fóruns online, edita artigos em wiki; a
dos colecionadores adiciona tags a páginas da web ou fotos, usa feeds RSS; a dos participantes mantém um
perfil em um site de relacionamento social e visita sites; a dos espectadores lê blogs, ouve podcasts, lê tweets e
ratings e críticas de clientes; por último, a dos inativos, que não faz nenhuma atividade.
Uma simples pesquisa atualizada feita por gente com expertise na área mantém CEOs e governantes com esse
“ouro” refinado: saber de tendências e para onde vai o efeito “manada”. O livro acima citado entre outras
poderosas informações demonstra a qual classe social pertencem esses “consumidores”, o que querem em
detalhes e onde podem estar. Sem quebrar sigilo de ninguém e sem fazer nenhum escândalo obamesco-
americano. Só é pego de surpresa quem é mal assessorado ou mal-intencionado. Estas passeatas já estavam
escritas nas redes sociais.
Muito antes disso, nas estrelas.
Professor doutor e presidente da Academia de Letras de Uberlândia (ALU)