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IBEROGRAFIAS
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SOCIEDADE E MEMÓRIA
DOS TERRITÓRIOS
Coordenação:
Rui Jacinto
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Coleção Iberografias
Volume 43
Título: Sociedade e memória dos territórios
Coordenação: Rui Jacinto
Apoio à edição: Ana Margarida Proença
Autores: Ana Cristina Marques Daniel; Arlete Moysés Rodrigues; Bartolomeu Israel de Souza; Carlos Augusto de Amorim Cardoso;
Catarina Gonçalves; Claudete Oliveira Moreira; Cláudio Zanotelli; Davidson Matheus Félix Pereira; Diego Piay Augusto; Dirce
Maria Antunes Suertegaray; Doralice Sátyro Maia; Eline Dornelas; Francisco José Araujo; Gabriel Elias Rodrigues de Souza; Gilberto
Vieira dos Santos; Helena Santana; Inocêncio de Oliveira Borges Neto; Irene Sánchez Izquierdo; Isabel Cristina Antunes Afonso
Lopes; Joana Capela de Campos; Joaquim Miranda Maloa; José Borzacchiello da Silva; Juliana Ramalho Barros; Laís Bronzi Rocha;;
Maíra Suertegaray Rossato; Miguel António Paixão Serra; Nilson Cesar Fraga; Norberto Santos; Patricia Argüelles Álvarez; Rodolfo
Junqueira Fonseca; Rosário Santana; Rui Jacinto; Thais da Silva Matos; Thais de Oliveira Queiroz; Tiago Silva Moreira; Timo
Bartholl; Leila de Oliveira Lima Araujo; Valéria Cristina Pereira da Silva; Vítor Murtinho; Yago Evangelista Tavares de Souza;
Pré-impressão: Âncora Editora
Capa: Tiago Melo | Âncora Editora
Fotografia: Rui Correia
Impressão e acabamento: Locape - Artes Gráficas, Lda.
1.ª edição: junho de 2022
Depósito legal n.º **
ISBN CEI: 978 989 867 633 7
ISBN: 978 972 780 818 2
Edição n.º 41043
Centro de Estudos Ibéricos
Rua Soeiro Viegas n.º 8
6300-758 Guarda
cei@cei.pt
www.cei.pt
Âncora Editora
Avenida Infante Santo, 52 – 3.º Esq.
1350-179 Lisboa
geral@ancora-editora.pt
www.ancora-editora.pt
www.facebook.com/ancoraeditora
O Centro de Estudos Ibéricos respeita os originais dos textos, não se responsabilizando pelos conteúdos, forma e opiniões neles expressas.
A opção ou não pelas regras do novo acordo ortográfico é da responsabilidade dos autores.
Apoios:
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SOCIEDADE E MEMÓRIA DOS TERRITÓRIOS
Rui Jacinto 7
I. PATRIMÓNIO, PATRIMONIALIZAÇÃO E AS LEITURAS DO TERRITÓRIO
Pauliteiros de Miranda: quando a música, a ação e a dança se cruzam em
territórios de fronteira
Helena Santana; Rosário Santana
11
Revitalización de los núcleos de baja densidad a partir del estudio
de las villae romanas
Diego Piay Augusto; Patricia Argüelles Álvarez
29
Projeto Arqueológico Outeiro do Circo (Beja, Portugal): educação patrimonial
e envolvimento comunitário
Miguel António Paixão Serra
41
A linha do tempo da patrimonialização entre a memória e o apagamento
de um Parque Arqueológico em Ouro Preto – Minas Gerais - Brasil
Rodolfo Junqueira Fonseca
59
Imaginar, realizar e compartilhar: oficinas de aprendizagem criativa
como instrumento para uma educação baseada em projetos
Juliana Ramalho Barros
101
Museos y patrimonio inmaterial en la Raya hispano-portuguesa: las museografías
del contrabando
Irene Sánchez Izquierdo
77
A leitura literária como experiência geográfica na escola
Maíra Suertegaray Rossato
109
O mar entre Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner Andresen: partilhas
espaciais e literárias através de imagens poéticas entre Portugal e o Brasil
Valéria Cristina Pereira da Silva
123
Toponímia, identidade e processo de colonização da Paraíba
Inocêncio de Oliveira Borges Neto; Dirce Maria Antunes Suertegaray; Rui Jacinto;
Doralice Sátyro Maia; Bartolomeu Israel de Souza; Carlos Augusto de Amorim Cardoso
137
II. CIDADE E DESENVOLVIMENTO URBANO
Cidade Universitária de Coimbra e a sua relação com a população: uma evolução
ao longo do tempo, vivências e memórias
Joana Capela de Campos; Claudete Oliveira Moreira; Vítor Murtinho; Norberto Santos
173
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Patrimônio: imagens e retratos a partir da paisagem urbana
Eline Dornelas
203
O processo de gentrificação em Moçambique: mudanças e perspectivas
Joaquim Miranda Maloa
209
O crescimento urbano na Ilha do Maranhão e suas contradições socioespaciais
Tiago Silva Moreira
231
Os movimentos sociais urbanos em Campina Grande-Pb: confrontos e resistências
na cidade face à pandemia
Davidson Matheus Félix Pereira
254
O direito à moradia e as políticas públicas de moradia no Brasil
Arlete Moysés Rodrigues
261
III. NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS, MEMÓRIA E DESAFIOS DA GOVERNAÇÃO
Novos, velhos e novíssimos movimentos sociais no Brasil
José Borzacchiello da Silva
279
A interpretação feminina das guerras coloniais na África portuguesa:
a construção de uma nova narrativa
Thais de Oliveira Queiroz
295
O Anticolonialismo como Consciência Histórica Nacional: O Ofício de José Honório
Rodrigues (1946-1987)
Gabriel Elias Rodrigues de Souza
309
O amor virtual transcultural em contextos transnacionais
Catarina Gonçalves
325
Solidariedade ou caridade: pistas para um diálogo com as frentes contra
a Covid-19, em territórios favelados
Timo Bartholl; Leila de Oliveira Lima Araujo; Yago Evangelista Tavares de Souza;
Laís Bronzi Rocha; Thais da Silva Matos
339
Intervenções promotoras de e-government e e-health numa organização
de saúde – o caso da Unidade Local de Saúde da Guarda
Isabel Cristina Antunes Afonso Lopes; Ana Cristina Marques Daniel
359
Por uma arqueogeografia do Contestado – A Guerra do Contestado como crime
contra a Humanidade
Nilson Cesar Fraga
379
Governo Bolsonaro: o retorno da política genocida contra os povos Indígenas
Gilberto Vieira dos Santos
415
O governo neoliberal no Brasil por meio da política de guerra civil entre
territorialização e desterritorialização
Cláudio Zanotelli
435
As Democracias morrem quando a Política declina: facciosismo e arquétipos no Brasil
Francisco José Araujo
459
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Sociedade
e
memória
dos
territórios
Sociedade e memória dos territórios
Rui Jacinto1
O livro que se dá à estampa resulta da XXI edição do Curso de Verão, realizada entre os
dias 6 e 10 de julho de 2021, subordinada ao título “Novas fronteiras, outros diálogos: coo-
peração e desenvolvimento”2
. Esta iniciativa emblemática que o Centro de Estudos Ibéricos
(CEI) realiza ininterruptamente faz duas décadas, a par doutros eventos que promove
anualmente, responde diretamente a uma missão que tem como foco o Conhecimento, a
Cooperação e a Cultura. O Curso de Verão, ao apostar na difusão de informação sobre os
territórios e as culturas ibéricas, afirmou-se como uma importante iniciativa de cooperação
territorial que honra o compromisso do CEI com os espaços mais débeis e excluídos.
A edição de 2021, que decorreu virtualmente, contou com cerca de 350 participantes, disper-
sos por vários pontos do país e do estrangeiro, e a apresentação de cerca de 80 comunicações por
investigadores de diversas nacionalidades. O elevado número de participantes e de comunicações
permitiram organizar um evento que contou com várias Conferências3
, Mesas Redondas4
, um
1
Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território e Centro de Estudos Ibéricos
(CEGOT/CEI-PT)
2
https://www.cei.pt/cv/programacao-2021.html.
3
Conferências: 1. A charneca: memória, paisagem e património (Jorge Gaspar, Portugal); 2. Paisaje y
Patrimonio (Josefina Gómez Mendoza, Espanha); 3. O grito e a explosão do território brasileiro: desigualda-
des e seletividades socioespaiais. Debates urgentes (Maria Adélia Souza, Brasil); 4. O Ensino Superior em
Cabo Verde: cooperação e desenvolvimento territorial (Judite Nacimento, Cabo Verde).
4
As Mesas Redondas estruturam-se em torno de quatro temas fundamentais: I. Paisagens e Patrimónios com
intervenções de Lúcio Cunha; Alipio de Celis; António Campar de Almeida; Antonio Campesino; II. História
Local, História Ibérica, História Pública – Território, Memória, Identidade (Rita Costa Gomes; Diego Piay
Augusto e Patricia Argüelles Álvarez; Irene Sánchez Izquierdo; Antonieta Pinto e António Prata Coelho; Arsenio
Dacosta); III. Cooperação e Desenvolvimento (Valentín Cabero; Victor Casas; António Pedro Pita) IV. Coesão
Territorial (Rui Jacinto; Lorenzo López Trigal; João Ferrão).
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Forum5
e múltiplos Painéis6
envolvendo uma rede de investigadores, que se vai alargando,
oriundos de universidades de diferentes países. Além de Portugal e de Espanha, de Cabo
Verde, Angola e Moçambique, houve inúmeras intervenções do Brasil que fizeram desta
edição a mais participada e mais internacionalizada de sempre. A realização virtual devido
à pandemia implicou substituir os tradicionais Trabalhos de Campo por documentários que
coincidiram com os quatro temas das mesas redondas.
A presente edição reúne vinte e cinco textos relativos a comunicações apresentadas e
que abordam temas que vão ao encontro das atuais agendas tanto da investigação como da
ação, isto é, das preocupações das políticas públicas com incidência territorial. As áreas de
investigação repartem-se por diferentes regiões, especialmente do Brasil (18), engloban-
do outros países como Portugal (4), Espanha (2) e Moçambique (1). Embora abordem
problemáticas relativamente diversas, as afinidades temáticas que evidenciam permitiu
estruturar a sua apresentação em torno de três coordenadas fundamentais: património, pa-
trimonialização e as leituras do território corresponde a uma digressão pelas paisagens cultu-
rais, pela arqueologia e pelo património imaterial ressaltando a importância da literatura e
da toponímia na leitura e interpretação do mundo que nos rodeia; cidade e desenvolvimento
urbano constitui uma visita a vários aspetos que nos ajudam a compreender a diversidade
urbana e as contradições associadas aos atuais processos evolutivos; novos movimentos sociais,
memória e desafios da governação põe em destaque a pluralidade de perspetivas inerentes às
dinâmicas sociais, variáveis a considerar na hora de pensar as políticas públicas.
Importa agradecer a preciosa colaboração dos autores dos textos cujo contributo aumenta
um património coletivo que o CEI dignifica ao promover a sua difusão.
5
Forum “As Novas Geografias dos Países de Língua Portuguesa” (Intervenções de: Lúcio Cunha; Dirce
Suertegaray; José Maria Semedo; Rui Jacinto; José Borzacchiello da Silva; Inês Macamo Raimundo; Maria
Fernanda Delgado Cravidão).
6
Painéis: 1. Geodiversidade, biodiversidade, ordenamento do território, moderado por Lúcio Cunha;
2. Dinâmicas da paisagem e injustiça ambiental (António Campar de Almeida); 3. Recursos naturais e edu-
cação ambiental (Messias Modesto dos Passos); 4. Património e turismo (Maria Fernanda Delgado Cravidão);
5. Património, patrimonialização, memória (António Pedro Pita); 6. Agricultura e desenvolvimento rural
(Rosangela Hespanhol); 7. Rural, segurança alimentar, políticas públicas (María Isabel Martín Jiménez);
8. Cidade e evolução urbana (Valentin Cabero); 9. Cidade, paisagem e imagem urbana (Rui Jacinto);
10. Literatura e leituras do território (Cristina Robalo-Cordeiro); 11. Dinâmicas económicas e sociais (David
Ramos Pérez); 12. Temas pós-coloniais (Ivaldo Lima); 13. Políticas públicas e sistemas de saúde (María Isabel
Martín Jiménez); 14. Governação e movimentos sociais (José Borzacchiello da Silva).
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II. III. PATRIMÓNIO,
PATRIMONIALIZAÇÃO E AS
LEITURAS DO TERRITÓRIO
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Pauliteiros de Miranda: quando a música,
a ação e a dança se cruzam em territórios
de fronteira
Helena Maria da Silva Santana1
Maria do Rosário da Silva Santana2
Introdução
Em Portugal, e ao longo de todo o território do Nordeste Transmontano, várias são
as manifestações culturais que apontam para uma influência recíproca nos dois lados da
fronteira. Não raras são as demostrações que encontram equivalente em terras de Espanha,
como é o caso da prática musical do Tamborileiro, do uso da máscara em certos rituais
ligados às festas do solstício de inverso, ao Entrudo e à Queima dos judas, os rituais da
Amenta das Almas ou algumas danças como aquelas que aqui pretendemos analisar - a Dança
dos Paus. Por Terras de Miranda, e em todo o Planalto Mirandês, ainda hoje as encontramos
preservadas, quiçá devido a uma interioridade, bem como a numerosas outras tradições,
mormente aquelas já identificadas. Quem se desloca pelo Planalto Mirandês, e em parti-
cular por Terras de Miranda do Douro, encontra grupos de rapazes que, através da prática
de alguns rituais em que a prática desta dança se destaca, preserva aquilo que de mais ge-
nuíno a região tem3
. Estes dançarinos, executando a Dança dos Paus, conservam com rigor
e genuinidade os rituais ligados às festas solsticiais, contribuindo, com a sua ação, para o
desenvolvimento turístico da região, bem como para a preservação das suas tradições. A
sua dança encontra lugar de destaque em celebrações de natureza tanto religiosa como
1
Universidade de Aveiro
hsantana@ua.pt
2
Instituto Politécnico da Guarda
rosariosantana@ipg.pt
3
Em Portugal, a Dança dos Paus, conhecida como a Dança dos Pauliteiros, está associada à região de Miranda do
Douro e ao seu território. No entanto, esta subsiste noutras localidades do distrito de Bragança, nomeadamente
nos concelhos de Mogadouro, Bragança e Macedo de Cavaleiros. Esta dança também já se praticou em outros
concelhos da região, mas, nos dias de hoje, esta prática encontra-se neles já extinta, como é o caso de Vimioso.
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profana, e a sua presença se dá em diferentes momentos da festividade e da festa, como são
o Peditório, a Arruada, a Missa ou a Procissão4
. Enquanto rituais de profundo significado
religioso, profano e mitológico, cuja origem é remota no tempo, estas manifestações possi-
bilitam o reconhecimento dos traços identitários de uma cultura e tradição. Estabelecendo
uma forte ligação com o território do Reino de Castilha e Leão, ao qual Miranda do Douro
pertencia antes da fundação da nacionalidade portuguesa, percebemos, bastantes similitudes
ao nível da sua constituição e prática5
.
Diferentes estudos sobre a origem da Dança dos Pauliteiros revelam ascendências tem-
porais e espaciais diversas (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008;
Topa, 2004; Tiza, 2010). O facto promove a diversidade de opinião sobre uma sua origem e
prática6
. Estas danças, ainda hoje praticadas em diferentes pontos do globo, mostram a forma
como os povos adaptaram as suas danças guerreiras de modo a incluí-las na prática do dia-a-
-dia, tornando-as uma forma de manifestação cultural7
. Estas práticas, realizadas em distintas
épocas do ano, e sempre com um propósito bem definido, a participação nas festividades dos
solstícios de verão e de inverno, ditavam os ritmos das colheitas e o ritmo da vida em tempos
onde a ação do relógio não tinha ainda lugar, e os tempos eram ditados pelos ciclos da vida, do
dia e da noite, e pelas estações do ano8
. Neste contexto, as manifestações culturais que grassam
ao longo de todo o território da raia portuguesa revelam-se numerosas e férteis, estando liga-
das a celebrações, rituais e ritos de natureza tanto religiosa como profana. Sendo ações onde
4
Estas danças, manifestações de caracter profano, estiveram até ao século X, arredadas de qualquer festividade
religiosa. A igreja católica começou a admirar a sua presença nas festas dos santos (que correspondiam às épocas
solsticiais), começando assim a ser usadas nas celebrações das colheitas, e nas festas dos santos padroeiros.
5
Em Portugal, a Dança dos Pauliteiros, a par da língua mirandesa, constitui um elemento identificador
do território. De acordo com António Maria Mourinho, a Dança dos Pauliteiros “dançou-se em toda a
região compreendida entre os rios Sabor e Douro, talvez desde Rio de Onor até aos limites do concelho de
Mogadouro, confrontando com os de Freixo de Espada à Cinta e Moncorvo”. (Mourinho, 1984, p. 454).
6
Para alguns estudiosos esta terá aparecido durante a idade do ferro, na Transilvânia, espalhando-se poste-
riormente pela Europa. Estrabão, historiador, geografo e filósofo grego, autor de vasta obra no domínio da
Geografia, nomeadamente a obra homónima em 17 volumes, e cujo terceiro livro é dedicado à Ibéria, refere
que certos povos que habitaram na península no século III se preparavam para os combates realizando este
tipo de danças, trocando apenas o uso das espadas pelo uso de paus de 45 cm, na tentativa de evitar assim,
riscos desnecessários. De salientar que esta obra, magnânima, cobre todo o mundo conhecido pelos povos
da Grécia e Roma antigas, oferecendo valiosa informação sobre os conhecimentos dos geógrafos da época
(Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010).
7
Damos como exemplo a Capoeira, uma forma de expressão cultural brasileira que congrega movimentos de
arte marcial, música e dança. Tendo por base a defesa pessoal, presente nos diferentes movimentos que usa,
estes não se concretizam no ataque e agressão do parceiro, mas sim numa ação apoiada na música que é feita
pelos seus praticantes. Neste caso, os intervenientes, tal como na dança dos pauliteiros, não apenas lutam ou
jogam, mas também tocam instrumentos musicais de apoio ao movimento executados pelos intérpretes.
8
Neste sentido, os povos preservaram estas danças para darem lugar a festas aquando das colheitas e como
forma de assinalarem a passagem dos solstícios de verão e inverno.
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o misticismo, o sagrado e o profano se combinam, descobrimos nelas traços que são comuns
nos dois lados da fronteira. Este facto revela-se no que ao uso da música e da dança diz res-
peito. Recuando no tempo, e simultaneamente no espaço, e questionando sobre a sua origem
e significado, verificamos que esta dança, a Dança dos Paus, exige não só uma indumentária
própria, como um conjunto específico de dançarinos, adereços próprios e uma capacidade
física suficiente grande para produzir uma coreografia bastante exigente e capaz. De um e
outro lado da fronteira, e em face do seu desenvolvimento social e cultural, percebemos algu-
mas dissemelhanças. De entre elas salientamos a presença de grupos que se constituem só de
rapazes, no caso de nos focarmos em território nacional, ou de rapazes, raparigas e/ou mistos
se nos detivermos por terras da vizinha Espanha. Percebemos igualmente o uso de adereços
que diferem em um e outro lado da fronteira, como são o caso dos paus e/ou das castanholas.
A indumentária surge também diversa, seja nos materiais, seja nas cores. Em alguns povoados
de Espanha, como o de Tábara, encontramos ainda a presença de uma figura característica de
nominada de El Birria.
No que concerne a Dança dos Paus, e à sua origem e significado diz respeito, as opi-
niões diferem, e alguns há, que a remetem para a Idade do Ferro, e para a Transilvânia.
Referem ainda que somente numa fase posterior se espalhou pelo continente europeu
(Vasconcelos, 1992; Tiza, 2010). Iremos agora analisar não só os elementos que permitam
identificar uma sua origem e significado, mas também o ritual da dança no que toca alguns
dos seus elementos, nomeadamente a indumentária e os passos, a música e a dança, os
artefactos e os instrumentos musicais usados nos dois lados da fronteira, de modo a iden-
tificar as semelhanças e as diferenças. Neste sentido, enfocamos a nossa atenção naquilo
que nos é oferecido por Terras de Miranda e em todo o Planalto Mirandês, bem como por
Terras de Galiza e da Extremadura, de modo a perceber as suas características mais mar-
cantes, o ethos e o pathos desta prática, bem como das características da música utilizada
neste contexto. Detemos ainda uma atenção particular sobre os instrumentos musicais, de
modo a evidenciar as suas características, bem como as particularidades de um sonoro que
se evidencia numa sua prática, conceção e função.
Os Pauliteiros: origens e características de uma prática cultural, social
e artística
Existindo referências à Dança doa Paus e à Dança dos Pauliteiros desde priscas eras,
percebemos que estas se encontram ligadas a certas festividades de cunho agrário, bem
como aos cultos de fertilidade. Posteriormente surgem associadas a festividades e festas
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de carácter religioso, nomeadamente as festas do Corpo de Deus, da Nossa Senhora e da
Virgem Mãe ou ao culto dos Santos Padroeiros de diferentes regiões do Planalto Mirandês
ou da Região de Castilha e Leão. Os documentos que consultámos associam maiorita-
riamente estas danças aos ritos de fertilidade e de agradecimento pelas colheitas. Na sua
prática, informam ainda sobre o uso de diversos adereços, como são as castanholas e os
paus. De acordo com Josep Crivillé (apud in Tiza, 2010), “os paus representariam as alfaias
com as quais o homem começou a desenvolver os trabalhos agrícolas nas comunidades
agro-pastoris. Assim sendo, a dança assumiu, na sua origem, um carácter de culto. Ainda
hoje, prevalece a crença de que a dança favorece a germinação das colheitas; assim se
compreende a sua atuação nas festas das colheitas do fim do Verão e do início das semen-
teiras; em alguns dos laços da dança9
, os bailadores curvam-se em direção à terra, colocam
verticalmente os paus no chão e dançam à volta de uma medida de cereal (o alqueire),
simbolizando o agradecimento à divindade pelas colheitas recebidas, no ciclo agrário que
terminou, e, ao mesmo tempo, lembrando a atividade agrária da sementeira, no ciclo que
vai começar no fim do Verão e princípios do Outono. Os paus continuarão a representar
as alfaias agrícolas”. (Tiza, 2010, p. 143). A presença da dança dos paus nas celebrações de
culto agrário na Antiguidade, continua assim em algumas festividades cristãs, apesar das
diversas interdições impostas pela Igreja, nomeadamente aquelas que irrompem dos dife-
rentes Concílios de Toledo (Martinez Diez, 2014)10
. De acordo com o expresso, António
Mourinho afirma que, “todas as danças populares, rurais, existentes ao passar-se da Idade
Antiga para a Baixa Idade Média transitaram para esta, porque os costumes romanos e
gentílicos continuaram também” (Mourinho, 1984, p. 391).
Na Alta Idade Média, nomeadamente a partir do século X, existe igualmente refe-
rência à prática destas danças. Segundo Luís de Hoyos, “as danças de espadas e de paus,
sendo só geralmente executadas por homens, a Igreja permitiu-as nas suas solenidades”
(Hoyos apud in Mourinho, 1984, p. 421). Já Rolf Brendnich, declara que “a dança dos
paulitos [nasce] nas danças de espadas de origem indo-europeia, que existiu em toda a
Europa Ocidental, desde a Escócia à Península Ibérica e desde a Alemanha à Jugoslávia”
(Brendnich apud in Mourinho, 1983, p. 64). Este autor refere ainda que “os folcloristas
e etnógrafos britânicos, franceses e alemães passam a considerar a dança dos paus como
sucedânea de danças indo-europeias de espadas, que haviam substituído as espadas por
paus para facilitar a dança” (Brendnich apud in Mourinho, 1983, p. 8)11
.
9
Os laços, ou lhaços, da dança são os elementos da coreografia.
10
Segundo Martinez Diez (2014, p. 121) “Cuando se habla de los Concilios de Toledo se refieren siempre
los autores a la serie numerada de 17 Concilios que encontró acogida y fue divulgada por la Colección
Canónica Hispana en su tercera recensión: La Vulgata del 694.”
11
Não está assim excluída a origem guerreira da dança dos pauliteiros, sendo as espadas substituídas por paus.
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Nos domínios das festividades e festas religiosas, a Dança dos Paus integra a procissão
da festa do Corpus Christi por bula papal de Urbano IV, de 1264, facto que ainda hoje
ocorre em muitas localidades de Zamora (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998;
Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010). O mesmo se encontra em outras festas
patronais, ou naquelas que se associam ao final das colheitas e do ciclo do Inverno, nas
quais os Pauliteiros atuam durante a Missa Solene do Santo Padroeiro e no decorrer da
Procissão. De acordo com Tiza, “alguns historiadores tentam vislumbrar nela [a bula papal
de Urbano IV] a origem da dança, à qual teria sido conferido um carácter processional.
[Assim,] neste contexto, as expressões constantes na bula, cante a fé, dance a esperança
e salte de gozo a caridade foram interpretadas à letra pelo povo, sem que a Igreja tivesse
colocado qualquer impedimento.” (Tiza, 2010, p. 144).
Nos finais do século XIX, João Manuel Pessanha, tentou ligar a Dança dos Paus a uma
origem exclusivamente guerreira, associando-a à dança pírrica greco-romana. No entanto,
José Leite de Vasconcelos, nos seus Estudos de Filologia Mirandesa, aponta num outro
sentido a sua investigação. Vasconcelos (1992) afirma que esta dança, quando se dá a
romanização, altura em que supostamente seria introduzida na Península Ibérica, já aqui
era praticada pelos Celtas e Iberos, em certos rituais de fecundidade agrária ou como mero
exercício físico de preparação para a atividade guerreira. Em outro, e por continuar a ser
praticada em diferentes regiões do planeta, sobressaem, fruto de uma consequente evolu-
ção, algumas divergências no modo como são executados os laços, se formam os grupos, se
constituiu o acompanhamento musical, etc., com a Dança de Paus ou a Dança de Espadas,
o que nos pode levar a pensar, segundo o autor, que nada tem a ver com a dança pírrica,
dança estritamente guerreira, praticada com espadas e a cavalo12
(Vasconcelos, 1992).
Em relação à Dança dos Paus, a influência que apuramos nos dois lados da fronteira
é clara e recíproca. No que à Dança dos Pauliteiros diz respeito encontramos em Espanha
uma dança equivalente, denominada de Danza de Palos, uma prática cultural e artística
que se encontra disseminada por todo o território espanhol desde a região de Galiza até à
da Extremadura. Segundo o folclorista e musicólogo Garcia Matos a Danza de Palos tem
a sua origem numa dança de fertilidade. Contrariamente a este autor, outros afirmam que
esta dança tem a sua origem na época medieval (Martínez Muñiz & Porro Fernández,
1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004)13
.
12
Apesar de todas estas divergências quanto à origem da Dança dos Pauliteiros, nomeadamente no que con-
cerne a sua introdução na Península Ibérica pelos Celtas, encontramos pontos comuns na referência à sua
ligação ao culto, em momentos precisos dos ciclos agrários (tribos dos Vaceos, dos Zoelas e dos Galaicos, e
a presença da Dança dos Paulitos na Escócia) (Tiza, 2010; Vasconcelos, 1992).
13
Independentemente da sua origem, é uma dança comum à Península Ibérica que junta tradições militares
presentes nestes territórios, trazidas pela mão dos repovoadores do Reino de Leão.
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Depois de um período onde estas tradições estiveram em risco de desaparecer, há uma
necessidade de as recuperar de modo a restaurar os territórios, promovendo o seu desen-
volvimento turístico, económico, social e cultural. Neste contexto, a recuperação destas
danças é disso exemplo. Recebendo denominações diferentes de acordo com o território
onde se inserem, designadamente Dança dos Paus, Dança dos Pauliteiros, Danza de Palos,
Danza de Paloteo, Troqueo, Palilleo, Paleo ou Palitroque, têm em comum as funções às
quais se destinava a sua prática, as coreografias, a música e as características dos bailadores
(salvaguardando especificidades, idade, sexo, estado civil, capacidade física e psicológica,
dos participantes) (Vasconcelos, 1992; Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Tiza,
2021)14
. A Dança de Paus mantém-se nos dias de hoje, tal como em Portugal, por toda a
província de Zamora, e por toda a região da raia, onde confirma toda uma influência trans-
fronteiriça15
. Percebemos ainda, e devido à função que vai adquirindo, a manifestação de
uma evolução no que ao seu uso e prática diz respeito, pois não podemos ficar indiferentes
à evolução dos tempos e dos espaços, dos povos e das tradições16
.
Os Pauliteiros: uma vivência e uma prática nos dois lados da fronteira
Se os grupos de dançarinos que utilizam os paus nas suas coreografias proliferam por
toda a região da raia, no que aos Pauliteiros de Miranda diz respeito, apuramos que não
14
Esta dança não só está presente na província de Zamora, mas também por Castilla y León, estendendo-se
com pequenas variações à Cantábria, Catalunha, Comunidade Valenciana, Baleares, Castilla la Mancha,
Galiza e País Basco (na versão de dança das espadas). Elías Martinez Muñiz afirma que a “danza de palos”
se encontra “latente a través de los siglos y constatable como pocos testimonios coreográficos em los docu-
mentos, sino por el apego y gran fuerza que siguen manteniendo em las localidades donde se conserva com
plena vigência y actualidad em su función” (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998, p. 75).
15
Na província de Zamora, subsiste apenas em quatro localidades: Cañizal, comarca de La Guareña, Tábara,
Muelas del Pan e Almaraz de Duero; nesta última, a dança foi recuperada no passado ano de 2009, após
um período de cerca de vinte anos de inatividade. Nas restantes localidades onde a dança foi referenciada,
ela perdeu-se definitivamente: Fuentesaúco, Villamor de los Escuderos, Villaseco, San Miguel de la Ribera,
Toro; a memória das danças permanece ainda nas populações mais idosas de algumas localidades alistanas
(Nuez e Sejas de Aliste), sayaguesas (Muga e Almeida de Sayago) e sanabresas (Lobeznos, Calabor, Ungilde
e San Martín de Castañeda). (Tiza, 2010, p. 143).
16
Estas danças não existem só na Europa. Não podemos deixar de referir a sua prática em outros continentes
que não o europeu. É comum encontrarem-se também em alguns países além-mar onde os Portugueses e
os Espanhóis chegaram aquando da colonização. Se no início foi usada para evangelizar os povos integran-
do as festividades religiosas, evoluiu depois para um uso em contexto profano integrando festividades tais
que os carnavais regionais. Assim temos referência à existência da dança de espadas no Brasil e do “paloteo
mixto” na Colômbia. Na Colômbia notamos influências locais, nomeadamente “as influencias mestizas
(índio-español) y mulatas (blanco-español)”. [De acordo com este autor,] “el paloteo, en sus inicios, fuera
una danza de Corpus Christi, festividad que perdió vigencia al haber perdido con su misión evangeliza-
dora; esto condujo a que danzas que se celebraron en él, como el paloteo, quedaron sueltas y se integraran
posteriormente a los carnavales de la región” (Franco Medina, 2008, p. 169).
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são um grupo originário exclusivamente da cidade de Miranda do Douro, mas sim, prove-
nientes de um conjunto mais vasto de aldeias circundantes, ocupando com a sua prática,
um lugar de destaque na vida das gentes e dos lugares. A sua presença, estando associada
à prática de rituais festivos como aqueles realizados nas festas do Corpus Christi, procede
desde a mais alta antiguidade, de onde sobressai uma clara menção à sua existência. Nesta
menção encontramos ainda informação sobre os diferentes constituintes que compõem a
sua função e prática, no que concerne os componentes da sua indumentária, da sua prática
coreográfica, musical e artística. Deste modo, podemos discernir sobre os elementos relativos
à prática da dança, os elementos coreográficos, bem como diversas informações relativas à
prática musical que os acompanha no que concerne os conteúdos especificamente musicais,
os instrumentos utilizados, as suas características e funções.
Se as referências que deles possuímos remontam à Idade Média, encontrando-se descri-
tas em documentos em posse de distintas Confrarias da zona, percebemos na informação
recolhida que a sua existência, assim como a sua prática, se mostram bastante relevantes,
tanto a nível social como cultural, nas zonas de permanência (Vasconcelos, 1992; Correia,
2001; Tiza, 2010). Os elementos recolhidos informam sobre a organização das festas patro-
nais, festas da maior relevância no contexto social e religioso nos territórios em questão. No
que à prática musical diz respeito, não podemos deixar de mencionar a presença de conjun-
tos instrumentais constituídos pelo Bombo, a Caixa e a Gaita de Foles. Neste contexto, não
podemos deixar de mencionar também a presença dos Gaiteiros e Tamborileiros, pois que
o Tamborileiro era ele uma figura incontornável no que concerne o conhecimento de toda a
organização das festividades e da festa, da realização do Peditório, da Arruada e da Atuação
final. A sua presença, consubstanciando-se ao longo de todo o território raiano, transforma-o
numa figura ímpar a nível cultural e artístico nas regiões onde se estabelece, fazendo-o um
elemento da tradição, a par de tantos outros aqui já referidos (Correia, 2001)17
.
Se em Portugal os grupos de dançarinos são exclusivamente constituídos por rapazes,
já no que concerne a região de Zamora, existe uma maior variedade na formação destes
grupos, sendo que estes podem ser só de rapazes, raparigas ou mistos, solteiros ou não.
Têm em comum o facto de serem constituídos por oito elementos por quadrilha. Alguns
17
Tradicionalmente, e em território português, os Pauliteiros são um grupo constituído exclusivamente por oito
rapazes e três músicos (Gaita de foles, Caixa e Bombo). Tal como o Tamborileiro, o grupo serve os festejos
populares executando o peditório das festas seguindo as antigas formas da tradição. Tal como o Tamborileiro,
começam a ronda às seis horas da manhã, após a alvorada dos gaiteiros, dançando alguns lhaços em frente às
igrejas e capelas, e rezando em frente às casas daqueles que estão de luto. A dança dos Pauliteiros é interpretada
depois da missa religiosa, em frente da igreja. Os principais elementos desta dança são interpretados segundo
uma ordem específica que começa com o lhaço 25 (lhaço para partir os paus), a Bicha (em que se utilizam exclu-
sivamente as castanholas) e o Salto do Castelo (na qual um pauliteiro salta por cima de uma torre humana).
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destes grupos incorporam um elemento mascarado que adquire diferentes denominações
de acordo com a região onde se encontram: El Birria, Zarrón ou Zarragón, Chiborra ou
Zorra, todos eles com funções muito especificas no contexto da dança dos paus (Martínez
Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004). Este personagem,
o El Birria, tem um papel muito importante no decorrer não só da dança como das fes-
tividades18
. Integrando o grupo de dança, interage com ele sem perturbar os passos e os
movimentos dos dançantes. Isto acontece, porque o El Birria é um elemento que conhece
perfeitamente todos os passos de dança efetuados pelo grupo (Martínez Muñiz & Porro
Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010)19
.
O personagem do El Birria corresponde aos personagens El Bobo de Cañizal, Zorra
de Escarabajosa, na província de Segóvia (já desaparecido), Zarragón de Aranda de Duero,
Zorra de Gallegos de la Sierra, na província de Segovia20
. Consoante as localidades, esta
personagem assume variadas funções. Em princípio seria o diretor de dança (o que hoje
raramente acontece), aquele que decide quais os laços que serão executados e o desenrolar
de toda a ação. A vara com chicote (zambomba) que o El Birria ostenta, uma espécie de
bastão de comando, surge símbolo da sua autoridade. Com ela castiga simbolicamente
os dançarinos que se enganam na execução do Paloteo, bem como os espectadores que se
aproximam demasiado dos dançantes, a fim de criar um espaço por entre os assistentes
para que o grupo possa executar a dança sem qualquer constrangimento e/ou dificulda-
de. Interage com os bailadores como alguém que conhece perfeitamente os movimentos
de todos os laços do Paloteo, o que nos permite, considerá-lo, como acima foi referido,
o maestro da dança. A sua autoridade é reconhecida por todos. Acresce-lhe a missão de
entregar os paus aos dançantes e de proceder à sua recolha, no final da mesma. Noutras
circunstâncias ainda é o responsável pela recolha de donativos junto dos espectadores,
donativos esses que revertem a favor da festa (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998;
18
O El Birria é uma personagem estranha e misteriosa cuja indumentária lembra a figura do diabo. No rosto usa
uma máscara de velho, e na cabeça, uma pele de raposa completa que coloca sobre as costas e se estende até aos
quadris. No tronco usa uma jaleca, (chupa, termo castelhano), dividido na vertical em duas cores, a vermelha
e a verde, terminando com folhos nos punhos. No pescoço e sobre os ombros, coloca uma espécie de babeiro
de cor branca e as calças compridas, até quase aos tornozelos, são de duas cores: uma perna de cor vermelha e
a outra verde, em oposição às cores do jaleco. Calça meias de lã (uma de cada cor) e sapatilhas igualmente de
duas cores. À volta da cintura, uma faixa de cor branca. Na mão direita segura uma corda com uma bola verde
e vermelha presa na extremidade; na mão esquerda, umas castanholas de grandes dimensões, trabalhadas em
madeira de espinheiro. De notar que nos dias de hoje, só o grupo de Tábara integra o El Birria (Tiza, 2010).
19
Existe ainda um lhaço em que o El Birria é figura fundamental pois interage com o grupo encenando uma
perseguição.
20
Este personagem pode ter outras denominações tais que Zorra, Zancarrón, Chiborra, Botarda ou Birria, na
província de Zamora, segundo os lugares de proveniência.
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Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza 2010)21
. Em Cañizal (comarca de La Guareña, ao
sul da província), a Dança do Paloteo era inicialmente uma dança exclusiva dos rapazes
solteiros. Contudo, hoje em dia, é dançada quase exclusivamente por mulheres (jovens ou
adultas), com um ou outro elemento masculino a integrar o grupo. Na prática do Paloteo
existe também um elemento mascarado que no caso do mascarado do Paloteo de Cañizal
toma a designação de El Bobo. Veste todo de branco e nas últimas aparições, o “el bobo não
usava máscara, se bem que no passado a tivesse usado, à semelhança do birria. Com a mão,
ostentava uma vara com uma cuíca, zambomba (termo tipicamente castelhano), bexiga de
porco cheia de ar, com a qual executava as suas pantominas. Hoje em dia, caiu em desuso
e deixou de aparecer nas atuações do grupo”. (Tiza, 2010, p. 150).
Das informações recolhidas acerca desta personagem, retiramos que existem algumas
semelhanças com algumas figuras que existem em Portugal e no Planalto Mirandês como são
o Carocho de Constantim, o Farandulo deTó, ou do Velho de São Pedro da Silva. Sem interfe-
rir na Dança dos Pauliteiros, o Carocho desempenha funções que, no seu conjunto, podemos
considerar relacionadas com ritos de fertilidade. Desde logo, faz par com uma personagem
feminina, a Velha. O Carocho e a Velha formam a dualidade indispensável, complementar e
necessária, para que a desejada fertilidade aconteça. Este par vai simulando jogos amorosos,
ao longo do Peditório (o Convite), por todas as casas da aldeia, um apelo claro à fertilidade.
O próprio Peditório constitui uma invocação à abundância que se dirige à divindade a favor
da comunidade e da natureza, através da recolha de produtos da terra oferecidos ao Santo e
consumidos por todos os moradores, numa espécie de refeição comunitária. Invocam-se os
Deuses e os Santos, pedindo a sua proteção através de rituais e ritos, festas e celebrações, de
adoração e agradecimento, pelas bênçãos obtidas (Tiza, 2004; Tiza 2010).
No que à Dança dos Pauliteiros diz respeito, ela denota, como já referido, diferentes
origens e funções. De acordo com o país, a região, época, ritual ou função a ela atribuída,
encontramos referência a elementos que compõem os rituais, a música e a coreogra-
fia, distintos. Da leitura dos documentos relativos ao assunto em análise, percebemos
que algumas personalidades, como o Abade de Baçal defendem que a dança praticada
21
Estas são as funções visíveis do El Birria. Contudo, por detrás delas poderemos discernir outras de carác-
ter simbólico. Recuando no tempo, sabemos ter havido razões que determinaram o seu aparecimento.
O El Birria, dado o contexto festivo em que se insere, é o elo de ligação entre o profano e o sagrado. Não
obstante ser considerado uma figura diabólica (como qualquer mascarado), o El Birria é, na verdade, uma
figura mágica que, à luz das religiões, estabelece a ligação entre o mundo terreno e o sobrenatural, entre
o ser humano e as divindades. Neste sentido, Joaquín Díaz afirma que o “El Birria es un personaje al que
se le han atribuido diferentes simbolismos que van desde el demoníaco hasta el bufonesco pasando por el
taumatúrgico o por el escuetamente hierático”. (Díaz, 2008, p. 6).
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pelos Pauliteiros tem semelhanças com a clássica Dança Pírrica, uma dança guerreira
praticada pelos povos da Antiga Grécia (Mourinho 1984; Correia, 2001; Vasconcelos,
2012; Tiza, 2010). Este investigador, defende existirem poucas diferenças entre a antiga
dança e a Dança dos Pauliteiros que encontramos em Terras de Miranda, e em todo o
Planalto Mirandês. A informação por ele veiculada, concerne ainda a indumentária e as
práticas. No que à indumentária diz respeito, de referir o uso do lenço sobre os ombros
e dos chapéus enfeitados. No que aos instrumentos musicais diz respeito, verifica-se o
uso da Flauta Pastoril (a Flauta de Tamborileiro). Estes elementos surgem como forma
de amenizar o caracter guerreiro da referida dança, na semelhança que demonstra com
as danças praticadas na Antiga Grécia (Tiza, 2010). Simultaneamente mostra-nos que
a Dança dos Paulitos tem semelhanças com algumas danças populares praticadas no
sul de França, bem como com a Dança das Espadas executada pelos Suíços ao longo de
toda a Idade Média22
. Na Dança dos Paulitos, os bailarinos usam armas e escudos de
paus, e simulam o ataque e a defesa num campo de batalha. Usam trajes que anunciam
o caráter guerreiro das referidas danças pois a indumentária é constituída por enáguas
brancas, camisas de linho brancas, coletes com lenços coloridos sobrepostos e chapéus
negros com flores coloridas, lembrando alguns dos elementos de segurança da armadura
de um soldado como sejam o colete e o capacete. Analisando os movimentos da coreo-
grafia averiguamos que têm muitas parecenças com as danças pírricas, pois comportam
a perseguição, a luta, os saltos e uma dança em particular, a dança da vitória. Algumas
das mais famosas coreografias e laços retratam bem essas semelhanças comportando ele-
mentos como o Salto do Castelo (saltos) ou o Vinte Cinco de Roda (dança da vitória)
(Tiza, 2004; Tiza, 2010).
Na província de Zamora existe uma maior variedade nos trajes dos dançarinos do
Paloteo. Cada grupo possui o seu próprio traje, o seu elemento identificador. Em Tábara,
a quadrilha é formada por rapazes e raparigas, num total de oito dançarinos. Os rapazes
vestem camisa branca de linho, com fitas verdes que pendem do ombro ao longo do
braço. Colocam à cintura uma faixa larga, cada qual de sua cor. Vestem calças pretas a
meia perna, confecionados com bombazina, “pegadita a la pierna y atada por el bajo de la
rodilla con hebillas, ligas o botones” (Porro Fernández, 2009, p. 61.). As raparigas vestem
22
Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região. O investigador José Leite
de Vasconcelos, contrariamente ao exposto, afirma que a dança introduzida em Roma e depois espalhada
por todo o Império Romano, nada tinha a ver com a dança pírrica. Os dançantes, com armas e escudos de
pau, simulavam o ataque e a defesa na batalha (Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010). Como indumentária, enver-
gavam túnicas vermelhas e cinturões guarnecidos de aço. Os músicos envergavam capacetes emplumados e
os bailadores colocavam-se em duas filas e dançavam ao som da flauta. No conjunto dos elementos narrados,
encontramos, no nosso entender, notória semelhança com a forma de dançar dos Pauliteiros de Miranda
(Mourinho 1984; Correia, 2001).
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uma camisa branca também de linho e, por cima, um mandil bordado, cruzado sobre o
peito e as costas; uma saia rodada e um avental, ambos de cores diversas (seguindo a tradição
dos trajes regionais). Rapazes e raparigas calçam meias brancas trabalhadas à mão. Como
calçado, sapatos simples ou sapatilhas “en claro recuerdo al pago que recibían estos baila-
dores: un corto salario por su ejercicio y unas zapatillas” (Porro Fernández, 2009, p. 48.).
Na cabeça usam uma espécie de coroas enfeitadas com flores naturais: “muchos de estos
elementos naturales (...) fueron condicionando el indumento sirviendo de diferenciación
local, social, civil o económico, entendiéndose poco a poco como punto de distinción
en virtud de las propiedades mágicas que se suponían por su luz, color, belleza” (Porro
Fernández, 2009, p. 15.). Estas coroas são usadas apenas durante o percurso da Procissão.
Na hora de dançar retiram-nas da cabeça. Os paus são de madeira de espinheiro, por ser
rijo, e são pintados ao gosto de cada interveniente. O traje dos Pauliteiros, mormente o
dos Pauliteiros de Miranda, tem inspiração nos trajes militares greco-romanos. O chapéu
decorado representa o capacete militar, a camisa de linho branco e o colete em sorrubeco,
a armadura dos trajes militares, a saia de linho, os lenços, as meias altas de lã e as botas
em pele, remetem para épocas mais antigas na forma de trajar. Para além dos elemen-
tos do traje, definidores de uma identidade grupal e territorial, podemos afirmar que os
Pauliteiros surgem nestes territórios como figuras singulares, desempenhando funções
sociais, culturais e éticas de caráter insubstituível23
. Mais recentemente, num contexto
festivo e à semelhança de grande parte das aldeias do planalto Mirandês, os primeiros
registos escritos sobre esta dança surgem relacionados com a festa de Santa Bárbara (Festa
da dança). A presença dos Pauliteiros dá-se não só a nível do ritual religioso como das
diferentes festividades e ritualidades profanas. Os Pauliteiros estão presentes no ritual
da Missa, nas Arruadas, no Peditório, na Procissão e no seu final, aquando da Atuação
final, ação realizada no largo defronte à Igreja. No caso do Peditório, participam não só
os Pauliteiros, como o Mordomo da festa. O grupo, constituído exclusivamente por rapazes
(apesar que atualmente já existem grupos femininos e mistos), enverga vestes com elemen-
tos característicos a cada grupo, região e país, executando coreografias complexas com
recurso aos paulitos. Algumas vezes, em algumas regiões da raia, surgem como adereços
para a realização dos laços as castanholas, despertando a atenção de quem os ouve e vê
(Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010).
23
Neste contexto devemos igualmente referir o papel do Tamborileiro, com funções semelhantes no que con-
cerne a organização das festas patronais, nomeadamente na presença aquando da Alvorada, do Peditório e
da Procissão.
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As Festividades: rituais e ritos - constituintes e função
Em todo o território nacional, as danças tradicionais e, em especial, a Dança dos
Pauliteiros, será praticada nos rituais sagrados ligados à liturgia católica. Por Terras de
Miranda, a sua presença ainda acontece aquando das festividades ligadas aos Santos
Padroeiros, na celebração da Missa em sua honra e na Procissão24
. Outro momento impor-
tante a considerar é o das festividades de Nossa Senhora do Rosário ou a Festa dos Moços,
que se celebra no último domingo de Agosto. De notar ainda a sua relevância na Festa das
Colheitas, remetendo-nos para o duplo carácter das festividades, tal como em inúmeros
rituais que ainda hoje se encontram em uso por terras do Planalto Mirandês e pela região
da raia (Tiza, 2004).
A festividade religiosa a um Santo Padroeiro ou a um Santo da devoção possui uma
forte dimensão religiosa, mas também surge enfática a componente profana. Os dois caracte-
res sucedem-se ao longo de toda a festividade e ritual. A presença dos Pauliteiros acontece
a vários níveis e em diferentes ocasiões. Da análise de uma sua prática, percebemos que
os Pauliteiros podem integrar os rituais do Peditório, da Missa, da Procissão e da Atuação
final. O Peditório realiza-se por toda a aldeia. Inicia de madrugada e termina antes da
Missa Solene. Ao longo do Peditório, os Pauliteiros dançam em frente de cada uma das
casas da aldeia e, em todas elas, dançam um laço, ou lhaço, a pedido dos respetivos donos.
Na Missa festiva, a presença dos Pauliteiros dá-se, quando devidamente formados rodeiam
o andor do padroeiro da festa. Ao longo da Procissão, e com acompanhamento musical
da Gaita de foles, a incorporação dos Pauliteiros, faz-se caminhando ao lado do andor do
padroeiro que, obrigatoriamente, se destaca no conjunto de todos os outros. A atuação dos
Pauliteiros, logo após a Procissão, em frente à igreja, perante todo o povo, com o reportó-
rio completo, é um acontecimento apoteótico, próprio ao final. Alguns laços, ou lhaços,
assumem um carácter manifestamente simbólico, ao serem executados em redor de uma
medida de cereal (alqueire), permitindo-nos afirmar que se trata de um ritual agrário de
agradecimento à divindade pelas colheitas obtidas no ciclo que se completa, e de propi-
ciação para o novo ciclo que se inicia justamente nessa altura do ano, o fim do Verão e o
começo do Outono – as sementeiras (Vasconcelos, 1992; Tiza 2010).
Em Constantim, na Festa de São João Evangelista, denominada também festa da
Mocidade ou ainda Festa das Morcelas, que se realiza em Dezembro, a presença e a prática
ritual dos Pauliteiros dá-se não só ao nível dos rituais sagrados como, e obrigatoriamente,
nos atos profanos. Aqui, e tal como noutras localidades do Nordeste Transmontano, os
24
No caso particular de S. Martinho de Angueira, estes rituais celebram-se não só no exterior como no interior
da Igreja.
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rituais da festa são compostos pelo Peditório ou Convite, pela Missa e pela Procissão.
Acresce uma Atuação no adro da Igreja quando finda a Procissão. Descrevendo cada um
dos elementos percebemos que o Peditório ou Convite (designação local), é feito de maneira
idêntica à festividade de São Martinho, com a diferença de que, para além da presença dos
Pauliteiros, intervém um par de mascarados, o Carocho e a Velha25
. Os Pauliteiros acom-
panham todo o Peditório, detendo-se em cada casa em frente da qual dançam um laço,
ou lhaço, a pedido dos donos da mesma, enquanto os mordomos recolhem as oferendas
(Tiza, 2004; Tiza, 2010). A atuação dos Pauliteiros a meio da celebração da Missa, no
momento do Ofertório, é bem clarificadora da aceitação de uma dança tida como profana,
por parte da Igreja, aquando da liturgia mais solene. Também a música interpretada pela
Gaita de foles e a Flauta pastoril, de caráter profano, se faz ouvir no decorrer da Missa,
conferindo solenidade à liturgia sagrada, tal como a festividade exige. Na Procissão, a
música é executada pela Gaita de foles. De notar que os Pauliteiros não efetuam qualquer
dança porque lhes está destinado transportar o andor do santo padroeiro. A presença do
par de mascarados, o Carocho e a Velha, verifica-se apenas na Procissão, com a execução
dos seus habituais jogos amorosos e brincadeiras (com a simulação do ato reprodutor),
no espaço do adro da igreja, já depois de ter terminado todo o ritual litúrgico. De novo
se nota o carácter ritual invocando a fertilidade (Vasconcelos, 1992; Martínez Muñiz &
Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza 2010).
Na análise que vimos efetuando, percebemos ainda que do lado Espanhol se notam al-
gumas semelhanças entre a Danza de Palos e as atuações dos Pauliteiros de Miranda. Essas
semelhanças não se cingem somente no que às danças e trajes diz respeito, mas também
ao contexto em que se efetuam. Assim, em Muelas del Pan, a atuação solene do Paloteo
acontece no Domingo del Señor, o domingo imediatamente a seguir à festa do Corpo de
Deus26
. Tal como pelo Nordeste Transmontano, a interação sagrado-profano ressalta. Os
denominados laços religiosos são executados à volta da igreja e os paganos, onde predomi-
nam temas tais que os ofícios tradicionais, a caça, os animais e o amor, são realizados em
momentos que não os que estão relacionados com a liturgia da festa. O primeiro laço, la
contradanza, é dançado quando a Procissão sai da Igreja. Os bailarinos, sempre voltados
para a imagem de Nossa Senhora, vão dançando e saindo de costas para a porta. Depois,
e aquando da Procissão, são efetuadas paragens em locais estrategicamente escolhidos para
25
Neste ponto, encontramos semelhanças com alguns personagens que intervêm nas Danzas de Palos ou no
Paloteo, na província de Zamora, nomeadamente o El Birria, Zarrón ou Zarragón, Chiborra ou Zorra, com
funções muito especificas no contexto da dança, como já evidenciado ao longo do texto.
26
De notar, que em Espanha, esta festividade não se celebra atualmente na quinta-feira do Corpo de Deus
como em Portugal, onde é ainda mantido este dia festivo como feriado nacional.
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que as danças se efetuem e produzam impacto nos fiéis. Assim, e em função dos espaços
disponíveis, seja em largos e praças, seja noutros locais onde seja possível que os bailarinos
executem os laços, estes são dançados e é dado seguimento à festa. Os laços de carácter
religioso são efetuados, um de cada vez, dada a sua importância, no decorrer da festa. Por
outro lado, os laços ditos paganos são apresentados no período da tarde, na praça principal
da vila ou aldeia. Tal como em Portugal, as peças musicais não incluem uma componente
vocal (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Tiza 2010)27
.
Em Tábara, os rituais de dança são muito idênticos aos de Muelas del Pan. No dia da
celebração, que coincide também com a festa do Corpo de Deus, o Paloteo integra a Missa
Solene e a Procissão, caminhando mesmo à frente do pálio do Santíssimo Sacramento.
As paragens que efetuam para realizar as danças durante a procissão (laços religiosos),
são também elas efetuadas nas praças e nos largos mais espaçosos. A exibição de carácter
profano (laços profanos/lazos paganos), realizada diante de toda a população, é feita na
praça principal da vila, recorrendo ao reportório completo dos lazos paganos, cuja temática
são similarmente os ofícios tradicionais, a caça, os animais e o amor (Vasconcelos, 1992;
Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Tiza 2010)28
.
No que à componente musical diz respeito, e por Terras de Miranda, os instrumentos
musicais são focos irradiadores de animação e prazer para quem os escuta e executa. Os
instrumentos que mais rapidamente identificam a tradição musical mirandesa são a Gaita
de foles, a Caixa e o Bombo, instrumentos presentes no acompanhamento da Dança dos
Pauliteiros, bem como em outras práticas culturais e artísticas de cariz popular e tradicional.
No entanto, não se esgotam aqui as possibilidades. A Flauta pastoril, que faz conjun-
to com o Tamboril, mesmo estando um pouco afastada do acompanhamento da Dança
dos Pauliteiros, usa-se no acompanhamento vocal de diversas atividades ritualistas, assim
como nas danças mistas. O seu aspeto simples, com três orifícios, esconde a complexidade
que verificamos ao nível da sua interpretação. No acompanhamento vocal o conjunto
instrumental usa com frequência ainda os Pandeiros, Pandeiretas, Conchas de Santiago,
Triângulos, Castanholas e pequenos objetos do dia-a-dia, como a saranda, garrafas, testos
de panelas e tachos.
Se no distrito de Bragança, a Dança dos Pauliteiros é acompanhada pelo Gaiteiro, a
Caixa e o Bombo, ou ainda pelo Tamborileiro e o Bombo, este último só usado em Terras
de Miranda, na província de Zamora, o Paloteo é acompanhado somente peloTamborileiro
e pela Gaita de foles, que é tocada pelo mesmo instrumentista em alternância com a flauta,
27
Para que exista sincronia nos passos e nos movimentos, os bailarinos costumam cantar as peças interiormente.
28
De referir que muitos dos laços e das peças musicais são comuns dos dois lados da fronteira (província de
Zamora e distrito de Bragança).
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de acordo com os lhaços de dança a acompanhar. Nalgumas localidades este conjunto ins-
trumental foi substituído pela Dulzaina, instrumento tradicional da província de Castilla,
assim como pela Gaita de foles em algumas localidades da província de Zamora, nomea-
damente em Tábarra e Muelas del Pan. Neste caso é utilizada em alternância com a Flauta
pastoril. De referir ainda que a música que acompanha a dança é somente instrumental,
sendo que os dançarinos cantam interiormente as letras das músicas por forma a se posi-
cionarem no que concerne as coreografias executadas. As sequências dos passos são assim
controladas pelo texto das canções que cantarolam, não havendo lugar a choques durante
as danças e a concretização dos passos pelos bailadores. Destas sequências destacam-se os
cruzamentos, as cabañuelas, as quatradas, as calles e as diferentes formas de golpear com
os paus (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Tiza 2010).
No Paloteo, tal como nos Paulteiros, os dançarinos alinham-se em duas filas uma frente
à outra, sendo que aquando das mudanças de passe, têm que efetuar evoluções diversas,
avanços, cruzamentos, serpenteados, mudanças de lugar dos dois grupos de quatro que
formam as duas filas. Os guias são os bailarinos dos extremos das filas e os panzas, os do
meio. Os toques de paus também têm as suas designações: de frente (toque com o que está
à sua frente), de revés (toque à altura do joelho), moje de palos (toque dos seus próprios
paus à altura do peito) ou em cruz (quando paloteiam guias com panzas e vice-versa) (Tiza,
2010). Estabelecendo um paralelo com a descrição dos passes dos Pauliteiros, entendemos
que existe uma grande afinidade com estes, tanto nas designações como na sua execução,
prática e significado29
.
Considerações Finais
Apesar das fronteiras físicas e geográficas, percebemos que nas regiões da raia, sempre
se mantiveram os laços e os intercâmbios sociais, económicos e culturais ao longo dos
tempos. Disso é exemplo a forma como se desenrolam as festas tradicionais, a forma como
as comunidades organizam a sua vida social e profissional, os casamentos, as festividades
e festas, as indumentárias e os trajes que envergam, e que são detentores de elementos e
características diferenciadoras, evidenciando a natureza das atividades sociais, culturais,
económicas e profissionais para as quais se capacitam, assim como as condições físicas e
29
Na província de Zamora, nalguns laços os paus são substituídos por castanholas. Existem semelhanças do
lado português, no entanto, devemos referir que as castanholas são um instrumento musical usado com
maior frequência do lado espanhol do que do lado português, sendo que poderemos considerar que o seu
uso pelos pauliteiros, resulta de uma apropriação deste elemento pelas constantes trocas culturais, entre os
dois lados da fronteira.
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climatéricas que se vivem dos dois lados da fronteira30
. Da mesma forma, as Danças de
Paus reforçam esta proximidade, seja pela música, pela coreografia ou pelos trajes comuns
dos dois lados da fronteira. De referir ainda o facto de esta dança ser maioritariamente
efetuada por grupos de rapazes, mais viris e guerreiros, do lado do Planalto Mirandês por
requisito do lhaço do Salto ao Castelo, que implica alguma destreza na sua execução. Este
lhaço implica a realização de saltos mortais por cima de colunas humanas criadas pelos
outros bailadores, facto que exige destreza física e emocional31
. O mesmo não ocorre com
os grupos mistos ou femininos, característicos do lado espanhol, onde destacamos a gra-
ciosidade dos passos e dos gestos coreográficos. Comum aos dois lados da fronteira são a
música e a letra das canções que acompanham os laços. Neste sentido, salientamos as simi-
litudes encontradas nas regiões de Tábara, Muelas del Pan, Almaraz de Duero e Cañizal,
da província de Zamora, e do concelho de Miranda do Douro e de Mogadouro, e das
localidades de São Pedro dos Sarracenos, Bragança, e de Salselas, Macedo de Cavaleiros.
Existem laços específicos que estão de acordo com as peças musicais que os acompanham
tais que religiosos, amorosos, pastoris, agrícolas, venatórios, guerreiros, laborais, toponí-
micos, sarcásticos e de temáticas medievais. De notar ainda que existem laços exclusivos
de Miranda do Douro, dos quais destacamos, tal como já referimos, o Salto do Castelo
(Mourinho 1984; Correia, 2001; Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010)32
. Neste sentido, podemos
afirmar que quer sejam laços (português), lhaços (mirandês) ou lazos (espanhol), existem
pontos comuns nas danças dos dois lados da fronteira, na música e na letra que as acom-
panha, assim como nas festas e solenidades onde estão presentes, nomeadamente nas festas
do Corpus Christi, no fim das colheitas ou nas festividades dos solstícios de verão ou de
inverno, assim como em outras ocasiões onde estes bailarinos sejam solicitados por forma
a animar espaços e as comunidades. A sua ação dá-se num território que sabe preservar as
suas tradições, fazendo delas um elemento diferenciador face ao restante território nacio-
nal, delineando, assim, o ethos e o pathos de uma prática que convém estudar, preservar
e divulgar.
30
Neste sentido, referimos a semelhança que existe entre a Capa Mirandesa e da Capa Alistana. Do mesmo
modo, a música e a língua se assemelham, pois que o mirandês deriva do leonês, que outrora se falava na
região. De notar que hoje o mirandês é falado por via do esforço encetado por parte de alguns e do reconhe-
cimento da sua importância para a região. Nesta ação, o papel e o esforço das autarquias locais para a sua
revitalização na comunidade e nas escolas mostrou-se essencial (Tiza, 2004; Tiza, 2010).
31
Este passo de dança, visa ilustrar o assalto a um castelo, o que denota o lado guerreiro da dança e a proximi-
dade fronteiriça que, e apesar de toda a colaboração entre povos, não deixa de existir.
32
Este salto, em específico, não existe do lado espanhol dado que requer alguma destreza e força física, algo
que não é possível com grupos mistos ou femininos como os que aí existem.
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Resumo – As manifestações culturais que encontramos por todo o território português, e
pela região da raia em particular, revelam-se bastante ricas ao nível dos seus conteúdos e práticas,
facto que, no nosso entender, convém analisar, refletir e expressar. Ligadas a certas celebrações, ri-
tuais e ritos de natureza não só religiosa como profana, estas manifestações constituem-se em ações
onde o misticismo, o sagrado e o profano se combinam, descobrindo-se traços de uma prática co-
mum nos dois lados da fronteira. São disso exemplo as festas solsticiais de Inverno, festas que in-
cluem rituais e ritos executados com bastante rigor e genuinidade e onde a dança dos paus se faz
presente. Recuando no tempo e no espaço, questionando sobre a sua origem e significado, verifica-
mos que os elementos obtidos no que concerne esta dança não reúnem consenso, pois as opiniões
diferem, e alguns estudiosos há, que a remetem para a idade do ferro, e para a Transilvânia. Referem
ainda que somente numa fase posterior se espalhou pelo continente europeu, nomeadamente por
Portugal e Espanha. Assim sendo, e nesta nossa proposta, pretendemos analisar não só os elementos
que permitam identificar uma sua origem e significado, como as suas componentes ritualísticas no
que concerne a indumentária e os passos, a música e a dança, os artefactos e os instrumentos musi-
cais usados nos dois lados da fronteira. Neste sentido, enfocamos a nossa atenção naquilo que nos
é oferecido em território nacional por Terras de Miranda e por todo o Planalto Mirandês, bem
como naquilo que se consubstancia como prática por Terras de Galiza e da Extremadura, em território
de Espanha. Os dados obtidos permitirão perceber as suas características mais marcantes, o ethos e o
pathos desta prática, bem como as características da música empregue nos dois lados da fronteira. Uma
maior atenção sobre os instrumentos musicais se consubstanciará, de modo a evidenciar as características
do sonoro que, e indubitavelmente, se fará alvo do nosso particular estudo, reflexão e análise.
Palavras-chave: Dança, Música, Instrumentos musicais, Pauliteiros de Miranda, Danza de palos.
Referências
Correia, M. (2001). Raízes Musicais da Terra de Miranda: Miranda do Douro, Mogadouro e
Vimioso. Vila Nova de Gaia: Sons da Terra.
Díaz, J. & Porro, C. (2008). Las Danzas. Zamora: Museo Etnográfico de Castilla y León.
Franco Medina, C. (2008). La danza en el Carnaval de Barranquilla. Revista de la Universidad del
Norte. vol. 71, 72, 73, 74, 75.
Martinez Diez, G. (2014). Los Concilios de Toledo. p. 119-138. Consultado em: https://realacade-
miatoledo.es/wp-content/uploads/2014/02/files_anales_0003_06.pdf
Martínez Muñiz, E. & Porro Fernández, C. A. (1998). La Danza de Palos: La Recuperación de
“El Palilleo” de Villabaruz de Campos (Valladolid). Nuevas aportaciones. Revista de Folklore
nº 207. 75-83. Valladolid: Obra Social y Cultural de Caja España.
Mourinho, A. (1983). Grupo Folclórico Mirandês de Duas Igrejas-Pauliteiros de Miranda. Miranda
do Douro: Câmara Municipal de Miranda do Douro.
Mourinho, A. (1984). Cancioneiro Tradicional e Danças Populares Mirandesas. Bragança: Escola
Tipográfica de Bragança.
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Porro Fernández, C. (2009) Bailes y Danzas. León: Edilesa.
Tiza, A. P. (2004). Inverno Mágico. Ritos e Mistérios Transmontanos. Lisboa: Ésquilo.
Tiza, A. P. (2010). A dança dos paus: paloteo da província de Zamora e pauliteiros do distrito de
Bragança. Studia Zamorensia. vol. IX.
Topa, A. (2004). Lhaços de Freixenosa. Lisboa: Apenas Livros.
Vasconcelos, J. L. (1992). Estudos de Filologia Mirandesa. Miranda do Douro: Câmara Municipal
de Miranda do Douro.
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Revitalización de los núcleos de baja
densidad a partir del estudio de las
villae romanas
Diego Piay Augusto1
Patricia Ana Argüelles Álvarez2
Introducción
En las siguientes páginas presentamos un estudio arqueológico centrado en yacimien-
tos de época romana desarrollado en el territorio rural de Asturias. Esta propuesta de
trabajo ha sido realizada durante los dos años precedentes a esta publicación, y tiene por
objetivo el poder convertirse en un referente, que sirva de modelo aplicable a la zona gallega-
-portuguesa del río Miño. No obstante, es evidente que cada territorio tiene sus propias
dinámicas de poblamiento, y que la aplicación del modelo propuesto requeriría de un análisis
previo, que permitiese definir las características específicas del territorio luso-galaico.
La distribución de los yacimientos romanos tipificados como villae proporciona una
buena oportunidad para vincular estos elementos del patrimonio cultural al desarrollo
del sector turístico. De este modo, estamos desarrollando una nueva línea en cierto modo
innovadora, que consiste en estudiar cómo impulsar las zonas rurales de baja ocupación,
a través de un elemento muy específico del patrimonio cultural, las villae romanas.
Como es bien sabido (y así lo revelan los datos estadísticos en relación al producto
interior bruto), el turismo representa uno de los motores principales de la economía en
España. Se encuentra además en fase de crecimiento exponencial. El turismo demanda,
cada vez en mayor medida, un aprovechamiento de las áreas rurales y de las actividades
que a ellas se asocian, pues permiten alejarse del bullicio y de los problemas de estrés de la
1
Universidad de Oviedo
piaydiego@uniovi.es
2
Universidad de Salamanca
parguelles@usal.es
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vida cotidiana. En este sentido se da una situación similar, salvando las distancias, a la que
se daba en la sociedad durante la época tardorromana, pues ya los autores del período
señalaban la necesidad de alejarse de la urbe y disfrutar de las comodidades y la tranquilidad
que se disfrutaba en el campo.
Fig. 1 – Vista aérea de la villa del Casale de Piazza Armerina
En el mundo actual, el patrimonio cultural, y los vestigios del pasado, se presentan
como un claro atractivo para esta modalidad vacacional que buscar alternativas al denomi-
nado “turismo de sol y playa”. Cultura, naturaleza y ecoturismo pueden ser considerados,
por tanto, claves como factores impulsores de la economía en las zonas rurales. Quizás
el mayor exponente del turismo rural cultural, vinculado a las villae romanas (principal
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tema de nuestro estudio), lo encontramos en el caso de Piazza Armerina3
, en Sicilia. Esta
localidad de 27.726 habitantes, con una densidad de población de 71.60 hab./km2, atrae,
gracias, a la villa romana más conocida de todo el mundo (y, en especial, a sus fascinantes
mosaicos), a más de 300.000 visitantes al año. Este factor convierte a este yacimiento en
uno de los enclaves turísticos más visitados de toda Sicilia. Su fuerte atractivo desde el
punto de vista turístico hace de la villa del Casale de Piazza Armerina, no solo el motor
económico de la localidad actual (que porta el mismo nombre); sino que, además, ha per-
mitido que este enclave rural haya podido mantener su población en cifras muy similares a
las que poseía a finales del siglo XIX, sin sufrir la despoblación que, por el contrario, sí están
padeciendo prácticamente todas las zonas rurales europeas, particularmente acentuándose
dicha crisis desde los últimos 30 años.
El territorio rural
Como se ha avanzado ya en la introducción, este proyecto se enmarca dentro de un análisis
global de la ocupación rural en el territorio asturiano en época tardorromana. El ambicioso
estudio tiene su origen en un proyecto de innovación docente4
, realizado en la Universidad
de Oviedo durante el curso académico 2019-20 en el grado de Historia. En el desarrollo de
dicho proyecto participó un equipo compuesto por cuatro docentes, y 84 alumnos.
La propuesta desarrollada se basaba en la realización de un catálogo de villae romanas
en Asturias, concentrándose, a partir de la realización de una serie de estudios sectoriales
y específicos, en la génesis y la evolución de este tipo de yacimientos. El proyecto de inno-
vación potenció el aprendizaje activo basado en proyectos, proponiendo una actividad
común a toda el aula que sería la creación de un catálogo de las villae romanas en Asturias
(hasta la fecha inexistente)5
, y, por otro lado, introdujo al alumnado en los resortes de la
investigación con el manejo del método científico. Gracias a esta combinación, los resulta-
dos alcanzados han sido publicados en una monografía que ha visto la luz en el año 2021
en la prestigiosa editorial italiana L´Erma di Bretchsneider6
. La monografía recoge los tra-
bajos de los alumnos y los miembros del equipo, favoreciendo así, no solo el estudio de un
3
Pensabene, P. (ed.). (2019). Piazza Armerina. Villa del Casale. L´Erma di Bretschneider. Roma.
4
“Catálogo deVillas romanas en Asturias: Génesis y evolución”: Proyecto de innovación docente PIN-19-A-002,
financiado con fondos de la Universidad de Oviedo, Universidad de Salamanca, Fundación Cardín y Sidrería
El Llagar.
5
Santos, N., Montero, P. (1982). Introducción al estudio y significado de las villas romanas en Asturias. BIDEA,
36 (105-106). p. 115-154; Fernández, C., García, V., Gil, F. (2008). (eds.). Las villae tardorromanas en el
occidente del Imperio: arquitectura y función. IV Coloquio internacional de Arqueología en Gijón. Ed. Trea.
6
Piay, D. & Argüelles, P. (2021). Villae romanas en Asturias. L´Erma di Bretschneider. Roma.
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elemento fundamental dentro de la historia antigua de Asturias, sino también ofreciendo
una primera toma de contacto con la publicación científica al alumnado participante.
Por tanto, nuestro punto de partida a la hora de analizar la geografía de Asturias era
estudiar el proceso de plasmación de un elemento tan característico de la cultura romana
(las villae) en un territorio tradicionalmente considerado poco romanizado. El desarrollo
de este análisis histórico-arqueológico ha permitido ahondar en la observación de la dispersión
poblacional, en relación con la organización socio-económica, clave en el desarrollo de la
fase imperial romana en la región.
La configuración territorial histórica de la zona ha venido determinada por la pro-
pia orografía de territorio. Los pasos de montaña por los que los romanos diseñarían
las comunicaciones entre el sector cismontano y transmontano del Conventus Asturum,
son rasgos heredados de la actuación de los sistemas glaciares desarrollados durante el
Cuaternario. Y, por otro lado, otro factor relevante de la orografía asturiana, además de
sus característicos accidentes geográficos, es que, en cortas distancias de menos de 20 ki-
lómetros, sus escarpadas cumbres desaparecen en las proximidades del mar Cantábrico.
Junto a esas montañas, destaca la presencia de caudalosos ríos, que, aunque de recorrido
corto, han potenciado la erosión del marcado trazado de los profundos valles7
. Éstos,
juntos a las rías, fruto del avance del mar al interior, han influido en el desarrollo del
hábitat y en el trazado de la red viaria histórica así como en la ocupación y explotación
de los recursos naturales, tal como es el caso de la minería aurífera en el occidente de este
primitivo territorio romano8
.
Al abordar el presente estudio hay que tener en mente que el paisaje es un medio que
está en constante evolución, y ello aumenta la dificultad de su restauración evolutiva, lo
que hace que en ocasiones se pueda caer en el anacronismo, problema heredado del proce-
sualismo al que deberemos hacer frente en la medida de lo posible9
. No obstante, en este
caso en particular, lo que presentamos es la relación entre en la realización del proyecto de
investigación sobre las villae romanas en Asturias, y su interacción con la sociedad moder-
na, a fin de lograr su aprovechamiento como un factor que posibilite la reactivación del
territorio rural de baja densidad de la zona.
7
Morales, G. (1983). El paisaje vegetal asturiano. En Quirós, F. (Dir.). Geografía de Asturias. T.4. (pp. 5-71).
Salinas: Ed. Ayalga.
8
Perea, A. & Sánchez-Palencia, F. J. (1995). Arqueología del oro astur. Orfebrería y minería. Oviedo: Ed. Caja
de Asturias.
9
Orejas, A. & Ruiz del Árbol Mª. (2010). Los registros del paisaje en la investigación arqueológica. Archivo
Español de Arqueología, 75 (185-186), 287-311.
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Las villae y su entorno
La riqueza patrimonial del territorio asturiano es innumerable, riqueza que no dismi-
nuye al analizar el número de villae romanas dispersas por el territorio. En total se han
documentado 26 conjuntos de tipo agropecuario con cronologías tardoantiguas. Ello, sin
duda, permite tener una “materia prima” excelente sobre la que ofrecer una revalorización
turística del territorio. Por tanto, el conjunto de villae, unido a la importancia del turismo
en al región, y su propio carácter rural, crean un vínculo clave a la hora de fomentar el
desarrollo de estos entornos despoblados o de baja densidad.
Fig. 2 – Distribución de los yacimientos tipo villa documentados en el territorio de la Asturias actual
(Elaboración propia)
La interacción de la gente, los espacios y la puesta en valor de un programa turístico, con-
figuran la base que permitirá reconocer en el territorio espacios significativos para un buen
desarrollo sostenible, tal y como se ha constatado en la villa siciliana de Piazza Armerina. Para
el caso español es preciso nombrar el caso de la villa palentina de La Olmeda, alejada de nú-
cleos de población significativos, pero que también recibe una afluencia de público notable.
Para propiciar el desarrollo de su entorno, se ha creado un aula arqueológica en la localidad
de Saldaña, que recoge materiales documentados en la villa o en las necrópolis de su entorno.
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Este caso en particular, nos pone en relación con la iniciativa “Red de Villas romanas
de Hispania”10
que, sin duda, ha logrado ser un referente del turismo arqueológico espa-
ñol. Uno de los objetivos de esta Red de villas romanas de Hispania es promover el turismo
arqueológico en todos estos enclaves rurales, así como fomentar en el ciudadano el interés y
el respeto por la protección y conservación de los yacimientos, llevando de la mano la preser-
vación e investigación patrimonial. Es por ello fundamental recordar que la transferencia del
conocimiento científico hacia la sociedad es vital.
En definitiva, este fin último de acercar el patrimonio a la sociedad a la par que favorecer
una actividad económica sostenible vinculada a las villae, es la propuesta que este estudio
preliminar trata de fomentar. El objetivo es propiciar el desarrollo de núcleos rurales de baja
densidad poblacional a partir de la explotación turística de estos yacimientos tan caracte-
rísticos del mundo tardorromano, ampliamente representados en el territorio asturiano.
Debe destacarse, además, que la frecuencia con la que en este tipo de yacimientos suelen
localizarse mosaicos y estructuras monumentales (conjuntos termales, etc), convierte a las
villae en lugares muy atractivos para fomentar la presencia de visitantes procedentes del
ámbito regional y suprarregional. En este sentido, el proyecto de innovación desarrollado
en la Universidad de Oviedo y su posterior publicación, constituye un paso previo funda-
mental, al lograr dar a conocer la riqueza del patrimonio asturiano de un período concreto
de su historia, y sus enormes posibilidades como recurso de atracción turística.
El territorio asturiano cuenta, en la actualidad, con al menos 26 yacimientos en los
cuales se han detectado estructuras o materiales que los hacen compatibles con su identi-
ficación como villae. Evidentemente, como paso previo a la explotación turística de estos
enclaves se hace necesaria una mayor investigación en la mayor parte de ellos, y una posterior
puesta en valor, a fin de crear productos del patrimonio cultural atractivos.
Es evidente que la difusión del conjunto patrimonial de las villae del territorio asturiano
se ve agravada por las grandes diferencias existentes entre las intervenciones realizadas en
cada uno de los yacimientos, siendo el referente de la región, sin duda, la villa de Veranes11
.
En Murias de Beloño12
, los trabajos realizados en el pasado han hecho posible definir la
10
Sánchez, M. & Mencía, P. (2014). Red de villas romanas de Hispania. Estudios del Patrimonio Cultural, 12,
39-41.
11
Fernández, C., Gil, F. (2008). La villa romana de Veranes (Gijón, Asturias) y otras villas de la vertien-
te septentrional de la Cordillera Cantábrica. In Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.), Las villae tar-
dorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. (pp. 435-480). Gijón: Colección Piedras
Angulares; Fernández, C. et al. (2003). La villa tardorromana de Veranes. Nuevos métodos digitales para
la documentación de mosaicos in situ. In Seminario Internacional de Arqueología de la Arquitectura. Vitoria
2002, Arqueología de la Arquitectura 2, 123-130.
12
Fernández, C. (1984). La villa romana de Murias de Beloño ´Cenero´. In Gijón Romano, Ayuntamiento
de Gijón, pp. 25-28; Jordá, F. (1957). Las Murias de Beloño (Cenero-Gijón): una “villa” romana en Asturias.
Diputación Provincial de Oviedo, Servicio de Investigaciones Arqueológicas.
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planta de la villa con bastante precisión. De Memorana13
, Puelles14
y Valduno15
los datos
son parciales, y más pobre es todavía la representación gráfica conservada de Paraxuga16
.
Igualmente debemos mencionar los ejemplos de Andayón17
y Priañes18
; en primer lugar,
porque son, con Veranes, los únicos yacimientos excavados siguiendo el método estra-
tigráfico; y, en segundo lugar, porque en ambos yacimientos se ha actuado en tiempos
relativamente recientes. En Andayón, se han programado campañas de excavación para el
año corriente, en lo que pretende ser un proyecto de carácter plurianual. No cabe duda de
que los resultados son, hasta la fecha, esperanzadores, no solo por el impacto visual de los
mosaicos descubiertos, sino también por la posibilidad de conocer nuevos datos sobre la
Asturias tardorromana, extrayendo de la tierra datos arqueológicos de suma relevancia, y
completando paulatinamente la planimetría de una villa que parece organizarse en torno
a un patio central. Precisamente Andayón, en el concejo de Las Regueras, es un ejemplo
ideal en el marco del presente estudio y de sus implicaciones. Se trata de un enclave que
cumple con una ocupación de baja densidad en un contexto rural, cuenta en el cercano
pueblo de La Estaca con 10 habitantes, mientras que en el núcleo de Andayón se cuentan
25 habitantes. Si tenemos en cuenta estos datos y los cotejamos con el número de visitas
que el yacimiento ha recibido desde que se han retomado los trabajos de excavación, la
información no puede ser más reveladora: el número de visitas que este yacimiento ha reci-
bido en fechas previas a la pandemia, es decir en el año 2019, ha sido de 1100 personas,
13
Aragoneses, M. J. (1954). El mosaico romano de Vega del Ciego (Asturias), BIDEA, 21, 3-24; Santos, N.
(1984). Las villas romanas en Asturias, Memorias de historia antigua, 6, 155-174.
14
Fernández, J. (1957). Excavaciones arqueológicas de Puelles (Val-de-Diós). La villa hispanorromana de
Boides, (Revista Covadonga, 154, primera ed. 1928, 503-534), Revista Valdediós, 19-27; Fernández, C.,
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histórico, 13. Actas del XIX Cursos monográficos de Patrimonio Histórico, (Reinosa, Julio 2008), (pp. 47-69),
Santander: Universidad de Cantabria.
15
Estrada, R. (2006). Datos preliminares sobre los baños de época romana localizados en el lado meridional
de la iglesia de Sta. Eulalia de Valduno. In Estudios ofrecidos a José Manuel González en el centenario de su
nacimiento, La Piedriquina, 83-97; Estrada, R. (2014). Los baños de época romana de Santa Eulalia de
Valduno (Las Regueras). In Intervenciones en el patrimonio cultural asturiano 2007-2014. Gran Enciclopedia
Asturiana, (pp.123-157), Oviedo: Consejería de Educación, Cultura y Deporte.
16
Requejo, O. (1998). La “villa” romana de Murias de Paraxuga (Oviedo): Estudio cerámico. Trabajo
de Investigación Cursos de Doctorado 1986‐88. Dpto. de Historia y Artes, Área de Conocimiento de
Prehistoria y Arqueología. Inédito. Universidad de Oviedo.
17
Muñiz, J.R. Corrada, M. (2014). Trabajos en la villa de Andayón. Documentación y conservación de la
ruina romana, La Piedriquina: anuario, 7, pp. 12-17; Muñiz, J. R. Corrada, M. (2018). Redescubriendo
la villa romana del Andayón, Las Regueras. In Excavaciones arqueológicas en Asturias, 2013-2016, (pp.262-
-272). Oviedo: Ed. Principado de Asturias.
18
Requejo, O. (2016). El registro cerámico de Priañes (Oviedo): un asentamiento rural tardorromano en la
Asturias transmontana. Revista Nailos, 3, 387-119; Requejo, O., Álvarez, V. (2008). Descubrimiento de la
villa romana de Priañes (Oviedo). In Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.), Las villae tardorromanas en el
occidente del Imperio: arquitectura y función. (pp. 681-691). Gijón: Colección Piedras Angulares.
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mientras que durante el 2020, ya en plena pandemia, ha sido de 49019
. No cabe duda, por
tanto, de que realizando actividades de investigación en este tipo de yacimientos, y llevando
a cabo un plan integral de difusión y divulgación de los resultados de los trabajos, estos se
convierten en un referente en la zona en la que se ubican, propiciando el desplazamiento
de visitantes y el desarrollo de los núcleos colindantes.
Fig. 3 – Vista de los trabajos desarrollados en la villa de Andayón durante el año 2020 (Fotografía Juan Ramón Muñiz)
El desarrollo de la actividad arqueológica tiene, por tanto, el fin último de mejorar el
conocimiento histórico de las sociedades pasadas mediante la difusión de los resultados.
Dicha difusión favorece la reactivación social dando a conocer enclaves rurales, con el
beneficio económico que supone la visita de turistas. Por otro lado, potenciar la propia
investigación arqueológica, conlleva el descubrimiento de estos enclaves, paso previo fun-
damental para que se conviertan en un producto turístico20
. Es necesario señalar, en contra
de la opinión común, que el yacimiento puede aportar rentabilidad desde los primeros
momentos de la investigación, tal y como evidencia la villa de Andayón. Aun excavando
pequeñas áreas del yacimiento, la actividad arqueológica genera mucho interés, y las visitas
19
Las informaciones en relación con las visitas a la villa de Andayón han sido proporcionadas por el director de los
trabajos en el yacimiento, Juan Ramón Rodríguez Muñiz, al que agradecemos encarecidamente su colaboración.
20
Cabrini, L. (2002). Turismo, desarrollo rural y sostenibilidad. In VII Congreso AECIT (Jaén, 21-23 de
Octubre de 2002). Bilbao, AECIT, CD-Rom.
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se suceden. De nuevo debe valorarse que las villae romanas tienen un componente que las
dota de mayor atractivo desde el punto de vista turístico que otros yacimientos arqueológi-
cos; la presencia de estructuras “visibles”, restos monumentales y elementos ornamentales
son un reclamo para el turista. Pero, la riqueza del yacimiento reside también en su propio
entorno. El paisaje cultural no aparece configurado únicamente por el yacimiento (en este
caso la villa romana), sino que es posible enriquecer estas visitas turísticas a elementos del
patrimonio cultural con otras realidades del entorno, como los caminos históricos, los
museos o, incluso, otros yacimientos, etc… haciendo realmente atractiva la oferta turística
en torno a dicha entidad patrimonial y su propia singularidad.
Conclusiones
Las características del territorio actual se ven claramente influenciadas por las formas
de hábitat y estructuración territorial desde el mundo antiguo. No cabe duda de que, en
el pasado, las villae fueron estructuras vertebradoras del territorio en torno a las cuales se
desarrolló una profunda actividad socio-económica, influyendo en los núcleos de población
y la red viaria.
Las propias características de estos enclaves rurales, con funciones agropecuarias,
definen su ocupación en lo que hoy día, en su mayoría, son espacios depauperados y/o
despoblados, así como en espacios geográficos con baja densidad poblacional. Es por ello,
que consideramos que su redescubrimiento y excavación podrían propiciar el desarrollo
de estas zonas y regenerar los espacios rurales, a partir de la explotación de sus propios
paisajes culturales.
Los éxitos generados con este proyecto nos permiten ser optimistas y plantear esta
investigación para el sector transfronterizo a ambas orillas del río Miño. De esta manera
se propone continuar la línea de trabajo con un estudio que localizará los espacios de
hábitat tardoantiguos, para tener un punto de partida en las prospecciones arqueológicas
del territorio gallego-portugués. Con todo ello, podremos realizar un estudio del paisaje
englobando la vinculación de la población y las comunicaciones históricas en tiempos ro-
manos, catalogando de este modo los tipos de hábitat y creando mapas digitalizados. Todo
ello, al igual que en el caso que hemos expuesto del territorio asturiano, permitirá difundir
los resultados con un fin último, el de poner en valor el papel del patrimonio social como
compromiso de las gentes que forman parte de dichos paisajes históricos, promocionando
el patrimonio histórico de estos espacios y su importancia como elementos de promoción
del turismo cultural.
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O direito à moradia e as políticas públicas de moradia no Brasil

  • 1.
  • 5. IBEROGRAFIAS 43 SOCIEDADE E MEMÓRIA DOS TERRITÓRIOS Coordenação: Rui Jacinto Iberografias43-vfinal14Junho.indb 3 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 3 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 6. Coleção Iberografias Volume 43 Título: Sociedade e memória dos territórios Coordenação: Rui Jacinto Apoio à edição: Ana Margarida Proença Autores: Ana Cristina Marques Daniel; Arlete Moysés Rodrigues; Bartolomeu Israel de Souza; Carlos Augusto de Amorim Cardoso; Catarina Gonçalves; Claudete Oliveira Moreira; Cláudio Zanotelli; Davidson Matheus Félix Pereira; Diego Piay Augusto; Dirce Maria Antunes Suertegaray; Doralice Sátyro Maia; Eline Dornelas; Francisco José Araujo; Gabriel Elias Rodrigues de Souza; Gilberto Vieira dos Santos; Helena Santana; Inocêncio de Oliveira Borges Neto; Irene Sánchez Izquierdo; Isabel Cristina Antunes Afonso Lopes; Joana Capela de Campos; Joaquim Miranda Maloa; José Borzacchiello da Silva; Juliana Ramalho Barros; Laís Bronzi Rocha;; Maíra Suertegaray Rossato; Miguel António Paixão Serra; Nilson Cesar Fraga; Norberto Santos; Patricia Argüelles Álvarez; Rodolfo Junqueira Fonseca; Rosário Santana; Rui Jacinto; Thais da Silva Matos; Thais de Oliveira Queiroz; Tiago Silva Moreira; Timo Bartholl; Leila de Oliveira Lima Araujo; Valéria Cristina Pereira da Silva; Vítor Murtinho; Yago Evangelista Tavares de Souza; Pré-impressão: Âncora Editora Capa: Tiago Melo | Âncora Editora Fotografia: Rui Correia Impressão e acabamento: Locape - Artes Gráficas, Lda. 1.ª edição: junho de 2022 Depósito legal n.º ** ISBN CEI: 978 989 867 633 7 ISBN: 978 972 780 818 2 Edição n.º 41043 Centro de Estudos Ibéricos Rua Soeiro Viegas n.º 8 6300-758 Guarda cei@cei.pt www.cei.pt Âncora Editora Avenida Infante Santo, 52 – 3.º Esq. 1350-179 Lisboa geral@ancora-editora.pt www.ancora-editora.pt www.facebook.com/ancoraeditora O Centro de Estudos Ibéricos respeita os originais dos textos, não se responsabilizando pelos conteúdos, forma e opiniões neles expressas. A opção ou não pelas regras do novo acordo ortográfico é da responsabilidade dos autores. Apoios: Iberografias43-vfinal14Junho.indb 4 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 4 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 7. SOCIEDADE E MEMÓRIA DOS TERRITÓRIOS Rui Jacinto 7 I. PATRIMÓNIO, PATRIMONIALIZAÇÃO E AS LEITURAS DO TERRITÓRIO Pauliteiros de Miranda: quando a música, a ação e a dança se cruzam em territórios de fronteira Helena Santana; Rosário Santana 11 Revitalización de los núcleos de baja densidad a partir del estudio de las villae romanas Diego Piay Augusto; Patricia Argüelles Álvarez 29 Projeto Arqueológico Outeiro do Circo (Beja, Portugal): educação patrimonial e envolvimento comunitário Miguel António Paixão Serra 41 A linha do tempo da patrimonialização entre a memória e o apagamento de um Parque Arqueológico em Ouro Preto – Minas Gerais - Brasil Rodolfo Junqueira Fonseca 59 Imaginar, realizar e compartilhar: oficinas de aprendizagem criativa como instrumento para uma educação baseada em projetos Juliana Ramalho Barros 101 Museos y patrimonio inmaterial en la Raya hispano-portuguesa: las museografías del contrabando Irene Sánchez Izquierdo 77 A leitura literária como experiência geográfica na escola Maíra Suertegaray Rossato 109 O mar entre Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner Andresen: partilhas espaciais e literárias através de imagens poéticas entre Portugal e o Brasil Valéria Cristina Pereira da Silva 123 Toponímia, identidade e processo de colonização da Paraíba Inocêncio de Oliveira Borges Neto; Dirce Maria Antunes Suertegaray; Rui Jacinto; Doralice Sátyro Maia; Bartolomeu Israel de Souza; Carlos Augusto de Amorim Cardoso 137 II. CIDADE E DESENVOLVIMENTO URBANO Cidade Universitária de Coimbra e a sua relação com a população: uma evolução ao longo do tempo, vivências e memórias Joana Capela de Campos; Claudete Oliveira Moreira; Vítor Murtinho; Norberto Santos 173 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 5 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 5 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 8. Patrimônio: imagens e retratos a partir da paisagem urbana Eline Dornelas 203 O processo de gentrificação em Moçambique: mudanças e perspectivas Joaquim Miranda Maloa 209 O crescimento urbano na Ilha do Maranhão e suas contradições socioespaciais Tiago Silva Moreira 231 Os movimentos sociais urbanos em Campina Grande-Pb: confrontos e resistências na cidade face à pandemia Davidson Matheus Félix Pereira 254 O direito à moradia e as políticas públicas de moradia no Brasil Arlete Moysés Rodrigues 261 III. NOVOS MOVIMENTOS SOCIAIS, MEMÓRIA E DESAFIOS DA GOVERNAÇÃO Novos, velhos e novíssimos movimentos sociais no Brasil José Borzacchiello da Silva 279 A interpretação feminina das guerras coloniais na África portuguesa: a construção de uma nova narrativa Thais de Oliveira Queiroz 295 O Anticolonialismo como Consciência Histórica Nacional: O Ofício de José Honório Rodrigues (1946-1987) Gabriel Elias Rodrigues de Souza 309 O amor virtual transcultural em contextos transnacionais Catarina Gonçalves 325 Solidariedade ou caridade: pistas para um diálogo com as frentes contra a Covid-19, em territórios favelados Timo Bartholl; Leila de Oliveira Lima Araujo; Yago Evangelista Tavares de Souza; Laís Bronzi Rocha; Thais da Silva Matos 339 Intervenções promotoras de e-government e e-health numa organização de saúde – o caso da Unidade Local de Saúde da Guarda Isabel Cristina Antunes Afonso Lopes; Ana Cristina Marques Daniel 359 Por uma arqueogeografia do Contestado – A Guerra do Contestado como crime contra a Humanidade Nilson Cesar Fraga 379 Governo Bolsonaro: o retorno da política genocida contra os povos Indígenas Gilberto Vieira dos Santos 415 O governo neoliberal no Brasil por meio da política de guerra civil entre territorialização e desterritorialização Cláudio Zanotelli 435 As Democracias morrem quando a Política declina: facciosismo e arquétipos no Brasil Francisco José Araujo 459 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 6 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 6 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 9. 7 // Sociedade e memória dos territórios Sociedade e memória dos territórios Rui Jacinto1 O livro que se dá à estampa resulta da XXI edição do Curso de Verão, realizada entre os dias 6 e 10 de julho de 2021, subordinada ao título “Novas fronteiras, outros diálogos: coo- peração e desenvolvimento”2 . Esta iniciativa emblemática que o Centro de Estudos Ibéricos (CEI) realiza ininterruptamente faz duas décadas, a par doutros eventos que promove anualmente, responde diretamente a uma missão que tem como foco o Conhecimento, a Cooperação e a Cultura. O Curso de Verão, ao apostar na difusão de informação sobre os territórios e as culturas ibéricas, afirmou-se como uma importante iniciativa de cooperação territorial que honra o compromisso do CEI com os espaços mais débeis e excluídos. A edição de 2021, que decorreu virtualmente, contou com cerca de 350 participantes, disper- sos por vários pontos do país e do estrangeiro, e a apresentação de cerca de 80 comunicações por investigadores de diversas nacionalidades. O elevado número de participantes e de comunicações permitiram organizar um evento que contou com várias Conferências3 , Mesas Redondas4 , um 1 Centro de Estudos de Geografia e Ordenamento do Território e Centro de Estudos Ibéricos (CEGOT/CEI-PT) 2 https://www.cei.pt/cv/programacao-2021.html. 3 Conferências: 1. A charneca: memória, paisagem e património (Jorge Gaspar, Portugal); 2. Paisaje y Patrimonio (Josefina Gómez Mendoza, Espanha); 3. O grito e a explosão do território brasileiro: desigualda- des e seletividades socioespaiais. Debates urgentes (Maria Adélia Souza, Brasil); 4. O Ensino Superior em Cabo Verde: cooperação e desenvolvimento territorial (Judite Nacimento, Cabo Verde). 4 As Mesas Redondas estruturam-se em torno de quatro temas fundamentais: I. Paisagens e Patrimónios com intervenções de Lúcio Cunha; Alipio de Celis; António Campar de Almeida; Antonio Campesino; II. História Local, História Ibérica, História Pública – Território, Memória, Identidade (Rita Costa Gomes; Diego Piay Augusto e Patricia Argüelles Álvarez; Irene Sánchez Izquierdo; Antonieta Pinto e António Prata Coelho; Arsenio Dacosta); III. Cooperação e Desenvolvimento (Valentín Cabero; Victor Casas; António Pedro Pita) IV. Coesão Territorial (Rui Jacinto; Lorenzo López Trigal; João Ferrão). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 7 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 7 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 10. 8 // Sociedade e memória dos territórios Forum5 e múltiplos Painéis6 envolvendo uma rede de investigadores, que se vai alargando, oriundos de universidades de diferentes países. Além de Portugal e de Espanha, de Cabo Verde, Angola e Moçambique, houve inúmeras intervenções do Brasil que fizeram desta edição a mais participada e mais internacionalizada de sempre. A realização virtual devido à pandemia implicou substituir os tradicionais Trabalhos de Campo por documentários que coincidiram com os quatro temas das mesas redondas. A presente edição reúne vinte e cinco textos relativos a comunicações apresentadas e que abordam temas que vão ao encontro das atuais agendas tanto da investigação como da ação, isto é, das preocupações das políticas públicas com incidência territorial. As áreas de investigação repartem-se por diferentes regiões, especialmente do Brasil (18), engloban- do outros países como Portugal (4), Espanha (2) e Moçambique (1). Embora abordem problemáticas relativamente diversas, as afinidades temáticas que evidenciam permitiu estruturar a sua apresentação em torno de três coordenadas fundamentais: património, pa- trimonialização e as leituras do território corresponde a uma digressão pelas paisagens cultu- rais, pela arqueologia e pelo património imaterial ressaltando a importância da literatura e da toponímia na leitura e interpretação do mundo que nos rodeia; cidade e desenvolvimento urbano constitui uma visita a vários aspetos que nos ajudam a compreender a diversidade urbana e as contradições associadas aos atuais processos evolutivos; novos movimentos sociais, memória e desafios da governação põe em destaque a pluralidade de perspetivas inerentes às dinâmicas sociais, variáveis a considerar na hora de pensar as políticas públicas. Importa agradecer a preciosa colaboração dos autores dos textos cujo contributo aumenta um património coletivo que o CEI dignifica ao promover a sua difusão. 5 Forum “As Novas Geografias dos Países de Língua Portuguesa” (Intervenções de: Lúcio Cunha; Dirce Suertegaray; José Maria Semedo; Rui Jacinto; José Borzacchiello da Silva; Inês Macamo Raimundo; Maria Fernanda Delgado Cravidão). 6 Painéis: 1. Geodiversidade, biodiversidade, ordenamento do território, moderado por Lúcio Cunha; 2. Dinâmicas da paisagem e injustiça ambiental (António Campar de Almeida); 3. Recursos naturais e edu- cação ambiental (Messias Modesto dos Passos); 4. Património e turismo (Maria Fernanda Delgado Cravidão); 5. Património, patrimonialização, memória (António Pedro Pita); 6. Agricultura e desenvolvimento rural (Rosangela Hespanhol); 7. Rural, segurança alimentar, políticas públicas (María Isabel Martín Jiménez); 8. Cidade e evolução urbana (Valentin Cabero); 9. Cidade, paisagem e imagem urbana (Rui Jacinto); 10. Literatura e leituras do território (Cristina Robalo-Cordeiro); 11. Dinâmicas económicas e sociais (David Ramos Pérez); 12. Temas pós-coloniais (Ivaldo Lima); 13. Políticas públicas e sistemas de saúde (María Isabel Martín Jiménez); 14. Governação e movimentos sociais (José Borzacchiello da Silva). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 8 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 8 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 11. II. III. PATRIMÓNIO, PATRIMONIALIZAÇÃO E AS LEITURAS DO TERRITÓRIO Iberografias43-vfinal14Junho.indb 9 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 9 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 13. 11 // Sociedade e memória dos territórios Pauliteiros de Miranda: quando a música, a ação e a dança se cruzam em territórios de fronteira Helena Maria da Silva Santana1 Maria do Rosário da Silva Santana2 Introdução Em Portugal, e ao longo de todo o território do Nordeste Transmontano, várias são as manifestações culturais que apontam para uma influência recíproca nos dois lados da fronteira. Não raras são as demostrações que encontram equivalente em terras de Espanha, como é o caso da prática musical do Tamborileiro, do uso da máscara em certos rituais ligados às festas do solstício de inverso, ao Entrudo e à Queima dos judas, os rituais da Amenta das Almas ou algumas danças como aquelas que aqui pretendemos analisar - a Dança dos Paus. Por Terras de Miranda, e em todo o Planalto Mirandês, ainda hoje as encontramos preservadas, quiçá devido a uma interioridade, bem como a numerosas outras tradições, mormente aquelas já identificadas. Quem se desloca pelo Planalto Mirandês, e em parti- cular por Terras de Miranda do Douro, encontra grupos de rapazes que, através da prática de alguns rituais em que a prática desta dança se destaca, preserva aquilo que de mais ge- nuíno a região tem3 . Estes dançarinos, executando a Dança dos Paus, conservam com rigor e genuinidade os rituais ligados às festas solsticiais, contribuindo, com a sua ação, para o desenvolvimento turístico da região, bem como para a preservação das suas tradições. A sua dança encontra lugar de destaque em celebrações de natureza tanto religiosa como 1 Universidade de Aveiro hsantana@ua.pt 2 Instituto Politécnico da Guarda rosariosantana@ipg.pt 3 Em Portugal, a Dança dos Paus, conhecida como a Dança dos Pauliteiros, está associada à região de Miranda do Douro e ao seu território. No entanto, esta subsiste noutras localidades do distrito de Bragança, nomeadamente nos concelhos de Mogadouro, Bragança e Macedo de Cavaleiros. Esta dança também já se praticou em outros concelhos da região, mas, nos dias de hoje, esta prática encontra-se neles já extinta, como é o caso de Vimioso. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 11 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 11 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 14. 12 // Sociedade e memória dos territórios profana, e a sua presença se dá em diferentes momentos da festividade e da festa, como são o Peditório, a Arruada, a Missa ou a Procissão4 . Enquanto rituais de profundo significado religioso, profano e mitológico, cuja origem é remota no tempo, estas manifestações possi- bilitam o reconhecimento dos traços identitários de uma cultura e tradição. Estabelecendo uma forte ligação com o território do Reino de Castilha e Leão, ao qual Miranda do Douro pertencia antes da fundação da nacionalidade portuguesa, percebemos, bastantes similitudes ao nível da sua constituição e prática5 . Diferentes estudos sobre a origem da Dança dos Pauliteiros revelam ascendências tem- porais e espaciais diversas (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010). O facto promove a diversidade de opinião sobre uma sua origem e prática6 . Estas danças, ainda hoje praticadas em diferentes pontos do globo, mostram a forma como os povos adaptaram as suas danças guerreiras de modo a incluí-las na prática do dia-a- -dia, tornando-as uma forma de manifestação cultural7 . Estas práticas, realizadas em distintas épocas do ano, e sempre com um propósito bem definido, a participação nas festividades dos solstícios de verão e de inverno, ditavam os ritmos das colheitas e o ritmo da vida em tempos onde a ação do relógio não tinha ainda lugar, e os tempos eram ditados pelos ciclos da vida, do dia e da noite, e pelas estações do ano8 . Neste contexto, as manifestações culturais que grassam ao longo de todo o território da raia portuguesa revelam-se numerosas e férteis, estando liga- das a celebrações, rituais e ritos de natureza tanto religiosa como profana. Sendo ações onde 4 Estas danças, manifestações de caracter profano, estiveram até ao século X, arredadas de qualquer festividade religiosa. A igreja católica começou a admirar a sua presença nas festas dos santos (que correspondiam às épocas solsticiais), começando assim a ser usadas nas celebrações das colheitas, e nas festas dos santos padroeiros. 5 Em Portugal, a Dança dos Pauliteiros, a par da língua mirandesa, constitui um elemento identificador do território. De acordo com António Maria Mourinho, a Dança dos Pauliteiros “dançou-se em toda a região compreendida entre os rios Sabor e Douro, talvez desde Rio de Onor até aos limites do concelho de Mogadouro, confrontando com os de Freixo de Espada à Cinta e Moncorvo”. (Mourinho, 1984, p. 454). 6 Para alguns estudiosos esta terá aparecido durante a idade do ferro, na Transilvânia, espalhando-se poste- riormente pela Europa. Estrabão, historiador, geografo e filósofo grego, autor de vasta obra no domínio da Geografia, nomeadamente a obra homónima em 17 volumes, e cujo terceiro livro é dedicado à Ibéria, refere que certos povos que habitaram na península no século III se preparavam para os combates realizando este tipo de danças, trocando apenas o uso das espadas pelo uso de paus de 45 cm, na tentativa de evitar assim, riscos desnecessários. De salientar que esta obra, magnânima, cobre todo o mundo conhecido pelos povos da Grécia e Roma antigas, oferecendo valiosa informação sobre os conhecimentos dos geógrafos da época (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010). 7 Damos como exemplo a Capoeira, uma forma de expressão cultural brasileira que congrega movimentos de arte marcial, música e dança. Tendo por base a defesa pessoal, presente nos diferentes movimentos que usa, estes não se concretizam no ataque e agressão do parceiro, mas sim numa ação apoiada na música que é feita pelos seus praticantes. Neste caso, os intervenientes, tal como na dança dos pauliteiros, não apenas lutam ou jogam, mas também tocam instrumentos musicais de apoio ao movimento executados pelos intérpretes. 8 Neste sentido, os povos preservaram estas danças para darem lugar a festas aquando das colheitas e como forma de assinalarem a passagem dos solstícios de verão e inverno. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 12 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 12 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 15. 13 // Sociedade e memória dos territórios o misticismo, o sagrado e o profano se combinam, descobrimos nelas traços que são comuns nos dois lados da fronteira. Este facto revela-se no que ao uso da música e da dança diz res- peito. Recuando no tempo, e simultaneamente no espaço, e questionando sobre a sua origem e significado, verificamos que esta dança, a Dança dos Paus, exige não só uma indumentária própria, como um conjunto específico de dançarinos, adereços próprios e uma capacidade física suficiente grande para produzir uma coreografia bastante exigente e capaz. De um e outro lado da fronteira, e em face do seu desenvolvimento social e cultural, percebemos algu- mas dissemelhanças. De entre elas salientamos a presença de grupos que se constituem só de rapazes, no caso de nos focarmos em território nacional, ou de rapazes, raparigas e/ou mistos se nos detivermos por terras da vizinha Espanha. Percebemos igualmente o uso de adereços que diferem em um e outro lado da fronteira, como são o caso dos paus e/ou das castanholas. A indumentária surge também diversa, seja nos materiais, seja nas cores. Em alguns povoados de Espanha, como o de Tábara, encontramos ainda a presença de uma figura característica de nominada de El Birria. No que concerne a Dança dos Paus, e à sua origem e significado diz respeito, as opi- niões diferem, e alguns há, que a remetem para a Idade do Ferro, e para a Transilvânia. Referem ainda que somente numa fase posterior se espalhou pelo continente europeu (Vasconcelos, 1992; Tiza, 2010). Iremos agora analisar não só os elementos que permitam identificar uma sua origem e significado, mas também o ritual da dança no que toca alguns dos seus elementos, nomeadamente a indumentária e os passos, a música e a dança, os artefactos e os instrumentos musicais usados nos dois lados da fronteira, de modo a iden- tificar as semelhanças e as diferenças. Neste sentido, enfocamos a nossa atenção naquilo que nos é oferecido por Terras de Miranda e em todo o Planalto Mirandês, bem como por Terras de Galiza e da Extremadura, de modo a perceber as suas características mais mar- cantes, o ethos e o pathos desta prática, bem como das características da música utilizada neste contexto. Detemos ainda uma atenção particular sobre os instrumentos musicais, de modo a evidenciar as suas características, bem como as particularidades de um sonoro que se evidencia numa sua prática, conceção e função. Os Pauliteiros: origens e características de uma prática cultural, social e artística Existindo referências à Dança doa Paus e à Dança dos Pauliteiros desde priscas eras, percebemos que estas se encontram ligadas a certas festividades de cunho agrário, bem como aos cultos de fertilidade. Posteriormente surgem associadas a festividades e festas Iberografias43-vfinal14Junho.indb 13 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 13 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 16. 14 // Sociedade e memória dos territórios de carácter religioso, nomeadamente as festas do Corpo de Deus, da Nossa Senhora e da Virgem Mãe ou ao culto dos Santos Padroeiros de diferentes regiões do Planalto Mirandês ou da Região de Castilha e Leão. Os documentos que consultámos associam maiorita- riamente estas danças aos ritos de fertilidade e de agradecimento pelas colheitas. Na sua prática, informam ainda sobre o uso de diversos adereços, como são as castanholas e os paus. De acordo com Josep Crivillé (apud in Tiza, 2010), “os paus representariam as alfaias com as quais o homem começou a desenvolver os trabalhos agrícolas nas comunidades agro-pastoris. Assim sendo, a dança assumiu, na sua origem, um carácter de culto. Ainda hoje, prevalece a crença de que a dança favorece a germinação das colheitas; assim se compreende a sua atuação nas festas das colheitas do fim do Verão e do início das semen- teiras; em alguns dos laços da dança9 , os bailadores curvam-se em direção à terra, colocam verticalmente os paus no chão e dançam à volta de uma medida de cereal (o alqueire), simbolizando o agradecimento à divindade pelas colheitas recebidas, no ciclo agrário que terminou, e, ao mesmo tempo, lembrando a atividade agrária da sementeira, no ciclo que vai começar no fim do Verão e princípios do Outono. Os paus continuarão a representar as alfaias agrícolas”. (Tiza, 2010, p. 143). A presença da dança dos paus nas celebrações de culto agrário na Antiguidade, continua assim em algumas festividades cristãs, apesar das diversas interdições impostas pela Igreja, nomeadamente aquelas que irrompem dos dife- rentes Concílios de Toledo (Martinez Diez, 2014)10 . De acordo com o expresso, António Mourinho afirma que, “todas as danças populares, rurais, existentes ao passar-se da Idade Antiga para a Baixa Idade Média transitaram para esta, porque os costumes romanos e gentílicos continuaram também” (Mourinho, 1984, p. 391). Na Alta Idade Média, nomeadamente a partir do século X, existe igualmente refe- rência à prática destas danças. Segundo Luís de Hoyos, “as danças de espadas e de paus, sendo só geralmente executadas por homens, a Igreja permitiu-as nas suas solenidades” (Hoyos apud in Mourinho, 1984, p. 421). Já Rolf Brendnich, declara que “a dança dos paulitos [nasce] nas danças de espadas de origem indo-europeia, que existiu em toda a Europa Ocidental, desde a Escócia à Península Ibérica e desde a Alemanha à Jugoslávia” (Brendnich apud in Mourinho, 1983, p. 64). Este autor refere ainda que “os folcloristas e etnógrafos britânicos, franceses e alemães passam a considerar a dança dos paus como sucedânea de danças indo-europeias de espadas, que haviam substituído as espadas por paus para facilitar a dança” (Brendnich apud in Mourinho, 1983, p. 8)11 . 9 Os laços, ou lhaços, da dança são os elementos da coreografia. 10 Segundo Martinez Diez (2014, p. 121) “Cuando se habla de los Concilios de Toledo se refieren siempre los autores a la serie numerada de 17 Concilios que encontró acogida y fue divulgada por la Colección Canónica Hispana en su tercera recensión: La Vulgata del 694.” 11 Não está assim excluída a origem guerreira da dança dos pauliteiros, sendo as espadas substituídas por paus. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 14 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 14 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 17. 15 // Sociedade e memória dos territórios Nos domínios das festividades e festas religiosas, a Dança dos Paus integra a procissão da festa do Corpus Christi por bula papal de Urbano IV, de 1264, facto que ainda hoje ocorre em muitas localidades de Zamora (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010). O mesmo se encontra em outras festas patronais, ou naquelas que se associam ao final das colheitas e do ciclo do Inverno, nas quais os Pauliteiros atuam durante a Missa Solene do Santo Padroeiro e no decorrer da Procissão. De acordo com Tiza, “alguns historiadores tentam vislumbrar nela [a bula papal de Urbano IV] a origem da dança, à qual teria sido conferido um carácter processional. [Assim,] neste contexto, as expressões constantes na bula, cante a fé, dance a esperança e salte de gozo a caridade foram interpretadas à letra pelo povo, sem que a Igreja tivesse colocado qualquer impedimento.” (Tiza, 2010, p. 144). Nos finais do século XIX, João Manuel Pessanha, tentou ligar a Dança dos Paus a uma origem exclusivamente guerreira, associando-a à dança pírrica greco-romana. No entanto, José Leite de Vasconcelos, nos seus Estudos de Filologia Mirandesa, aponta num outro sentido a sua investigação. Vasconcelos (1992) afirma que esta dança, quando se dá a romanização, altura em que supostamente seria introduzida na Península Ibérica, já aqui era praticada pelos Celtas e Iberos, em certos rituais de fecundidade agrária ou como mero exercício físico de preparação para a atividade guerreira. Em outro, e por continuar a ser praticada em diferentes regiões do planeta, sobressaem, fruto de uma consequente evolu- ção, algumas divergências no modo como são executados os laços, se formam os grupos, se constituiu o acompanhamento musical, etc., com a Dança de Paus ou a Dança de Espadas, o que nos pode levar a pensar, segundo o autor, que nada tem a ver com a dança pírrica, dança estritamente guerreira, praticada com espadas e a cavalo12 (Vasconcelos, 1992). Em relação à Dança dos Paus, a influência que apuramos nos dois lados da fronteira é clara e recíproca. No que à Dança dos Pauliteiros diz respeito encontramos em Espanha uma dança equivalente, denominada de Danza de Palos, uma prática cultural e artística que se encontra disseminada por todo o território espanhol desde a região de Galiza até à da Extremadura. Segundo o folclorista e musicólogo Garcia Matos a Danza de Palos tem a sua origem numa dança de fertilidade. Contrariamente a este autor, outros afirmam que esta dança tem a sua origem na época medieval (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004)13 . 12 Apesar de todas estas divergências quanto à origem da Dança dos Pauliteiros, nomeadamente no que con- cerne a sua introdução na Península Ibérica pelos Celtas, encontramos pontos comuns na referência à sua ligação ao culto, em momentos precisos dos ciclos agrários (tribos dos Vaceos, dos Zoelas e dos Galaicos, e a presença da Dança dos Paulitos na Escócia) (Tiza, 2010; Vasconcelos, 1992). 13 Independentemente da sua origem, é uma dança comum à Península Ibérica que junta tradições militares presentes nestes territórios, trazidas pela mão dos repovoadores do Reino de Leão. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 15 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 15 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 18. 16 // Sociedade e memória dos territórios Depois de um período onde estas tradições estiveram em risco de desaparecer, há uma necessidade de as recuperar de modo a restaurar os territórios, promovendo o seu desen- volvimento turístico, económico, social e cultural. Neste contexto, a recuperação destas danças é disso exemplo. Recebendo denominações diferentes de acordo com o território onde se inserem, designadamente Dança dos Paus, Dança dos Pauliteiros, Danza de Palos, Danza de Paloteo, Troqueo, Palilleo, Paleo ou Palitroque, têm em comum as funções às quais se destinava a sua prática, as coreografias, a música e as características dos bailadores (salvaguardando especificidades, idade, sexo, estado civil, capacidade física e psicológica, dos participantes) (Vasconcelos, 1992; Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Tiza, 2021)14 . A Dança de Paus mantém-se nos dias de hoje, tal como em Portugal, por toda a província de Zamora, e por toda a região da raia, onde confirma toda uma influência trans- fronteiriça15 . Percebemos ainda, e devido à função que vai adquirindo, a manifestação de uma evolução no que ao seu uso e prática diz respeito, pois não podemos ficar indiferentes à evolução dos tempos e dos espaços, dos povos e das tradições16 . Os Pauliteiros: uma vivência e uma prática nos dois lados da fronteira Se os grupos de dançarinos que utilizam os paus nas suas coreografias proliferam por toda a região da raia, no que aos Pauliteiros de Miranda diz respeito, apuramos que não 14 Esta dança não só está presente na província de Zamora, mas também por Castilla y León, estendendo-se com pequenas variações à Cantábria, Catalunha, Comunidade Valenciana, Baleares, Castilla la Mancha, Galiza e País Basco (na versão de dança das espadas). Elías Martinez Muñiz afirma que a “danza de palos” se encontra “latente a través de los siglos y constatable como pocos testimonios coreográficos em los docu- mentos, sino por el apego y gran fuerza que siguen manteniendo em las localidades donde se conserva com plena vigência y actualidad em su función” (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998, p. 75). 15 Na província de Zamora, subsiste apenas em quatro localidades: Cañizal, comarca de La Guareña, Tábara, Muelas del Pan e Almaraz de Duero; nesta última, a dança foi recuperada no passado ano de 2009, após um período de cerca de vinte anos de inatividade. Nas restantes localidades onde a dança foi referenciada, ela perdeu-se definitivamente: Fuentesaúco, Villamor de los Escuderos, Villaseco, San Miguel de la Ribera, Toro; a memória das danças permanece ainda nas populações mais idosas de algumas localidades alistanas (Nuez e Sejas de Aliste), sayaguesas (Muga e Almeida de Sayago) e sanabresas (Lobeznos, Calabor, Ungilde e San Martín de Castañeda). (Tiza, 2010, p. 143). 16 Estas danças não existem só na Europa. Não podemos deixar de referir a sua prática em outros continentes que não o europeu. É comum encontrarem-se também em alguns países além-mar onde os Portugueses e os Espanhóis chegaram aquando da colonização. Se no início foi usada para evangelizar os povos integran- do as festividades religiosas, evoluiu depois para um uso em contexto profano integrando festividades tais que os carnavais regionais. Assim temos referência à existência da dança de espadas no Brasil e do “paloteo mixto” na Colômbia. Na Colômbia notamos influências locais, nomeadamente “as influencias mestizas (índio-español) y mulatas (blanco-español)”. [De acordo com este autor,] “el paloteo, en sus inicios, fuera una danza de Corpus Christi, festividad que perdió vigencia al haber perdido con su misión evangeliza- dora; esto condujo a que danzas que se celebraron en él, como el paloteo, quedaron sueltas y se integraran posteriormente a los carnavales de la región” (Franco Medina, 2008, p. 169). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 16 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 16 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 19. 17 // Sociedade e memória dos territórios são um grupo originário exclusivamente da cidade de Miranda do Douro, mas sim, prove- nientes de um conjunto mais vasto de aldeias circundantes, ocupando com a sua prática, um lugar de destaque na vida das gentes e dos lugares. A sua presença, estando associada à prática de rituais festivos como aqueles realizados nas festas do Corpus Christi, procede desde a mais alta antiguidade, de onde sobressai uma clara menção à sua existência. Nesta menção encontramos ainda informação sobre os diferentes constituintes que compõem a sua função e prática, no que concerne os componentes da sua indumentária, da sua prática coreográfica, musical e artística. Deste modo, podemos discernir sobre os elementos relativos à prática da dança, os elementos coreográficos, bem como diversas informações relativas à prática musical que os acompanha no que concerne os conteúdos especificamente musicais, os instrumentos utilizados, as suas características e funções. Se as referências que deles possuímos remontam à Idade Média, encontrando-se descri- tas em documentos em posse de distintas Confrarias da zona, percebemos na informação recolhida que a sua existência, assim como a sua prática, se mostram bastante relevantes, tanto a nível social como cultural, nas zonas de permanência (Vasconcelos, 1992; Correia, 2001; Tiza, 2010). Os elementos recolhidos informam sobre a organização das festas patro- nais, festas da maior relevância no contexto social e religioso nos territórios em questão. No que à prática musical diz respeito, não podemos deixar de mencionar a presença de conjun- tos instrumentais constituídos pelo Bombo, a Caixa e a Gaita de Foles. Neste contexto, não podemos deixar de mencionar também a presença dos Gaiteiros e Tamborileiros, pois que o Tamborileiro era ele uma figura incontornável no que concerne o conhecimento de toda a organização das festividades e da festa, da realização do Peditório, da Arruada e da Atuação final. A sua presença, consubstanciando-se ao longo de todo o território raiano, transforma-o numa figura ímpar a nível cultural e artístico nas regiões onde se estabelece, fazendo-o um elemento da tradição, a par de tantos outros aqui já referidos (Correia, 2001)17 . Se em Portugal os grupos de dançarinos são exclusivamente constituídos por rapazes, já no que concerne a região de Zamora, existe uma maior variedade na formação destes grupos, sendo que estes podem ser só de rapazes, raparigas ou mistos, solteiros ou não. Têm em comum o facto de serem constituídos por oito elementos por quadrilha. Alguns 17 Tradicionalmente, e em território português, os Pauliteiros são um grupo constituído exclusivamente por oito rapazes e três músicos (Gaita de foles, Caixa e Bombo). Tal como o Tamborileiro, o grupo serve os festejos populares executando o peditório das festas seguindo as antigas formas da tradição. Tal como o Tamborileiro, começam a ronda às seis horas da manhã, após a alvorada dos gaiteiros, dançando alguns lhaços em frente às igrejas e capelas, e rezando em frente às casas daqueles que estão de luto. A dança dos Pauliteiros é interpretada depois da missa religiosa, em frente da igreja. Os principais elementos desta dança são interpretados segundo uma ordem específica que começa com o lhaço 25 (lhaço para partir os paus), a Bicha (em que se utilizam exclu- sivamente as castanholas) e o Salto do Castelo (na qual um pauliteiro salta por cima de uma torre humana). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 17 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 17 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 20. 18 // Sociedade e memória dos territórios destes grupos incorporam um elemento mascarado que adquire diferentes denominações de acordo com a região onde se encontram: El Birria, Zarrón ou Zarragón, Chiborra ou Zorra, todos eles com funções muito especificas no contexto da dança dos paus (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004). Este personagem, o El Birria, tem um papel muito importante no decorrer não só da dança como das fes- tividades18 . Integrando o grupo de dança, interage com ele sem perturbar os passos e os movimentos dos dançantes. Isto acontece, porque o El Birria é um elemento que conhece perfeitamente todos os passos de dança efetuados pelo grupo (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza, 2010)19 . O personagem do El Birria corresponde aos personagens El Bobo de Cañizal, Zorra de Escarabajosa, na província de Segóvia (já desaparecido), Zarragón de Aranda de Duero, Zorra de Gallegos de la Sierra, na província de Segovia20 . Consoante as localidades, esta personagem assume variadas funções. Em princípio seria o diretor de dança (o que hoje raramente acontece), aquele que decide quais os laços que serão executados e o desenrolar de toda a ação. A vara com chicote (zambomba) que o El Birria ostenta, uma espécie de bastão de comando, surge símbolo da sua autoridade. Com ela castiga simbolicamente os dançarinos que se enganam na execução do Paloteo, bem como os espectadores que se aproximam demasiado dos dançantes, a fim de criar um espaço por entre os assistentes para que o grupo possa executar a dança sem qualquer constrangimento e/ou dificulda- de. Interage com os bailadores como alguém que conhece perfeitamente os movimentos de todos os laços do Paloteo, o que nos permite, considerá-lo, como acima foi referido, o maestro da dança. A sua autoridade é reconhecida por todos. Acresce-lhe a missão de entregar os paus aos dançantes e de proceder à sua recolha, no final da mesma. Noutras circunstâncias ainda é o responsável pela recolha de donativos junto dos espectadores, donativos esses que revertem a favor da festa (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; 18 O El Birria é uma personagem estranha e misteriosa cuja indumentária lembra a figura do diabo. No rosto usa uma máscara de velho, e na cabeça, uma pele de raposa completa que coloca sobre as costas e se estende até aos quadris. No tronco usa uma jaleca, (chupa, termo castelhano), dividido na vertical em duas cores, a vermelha e a verde, terminando com folhos nos punhos. No pescoço e sobre os ombros, coloca uma espécie de babeiro de cor branca e as calças compridas, até quase aos tornozelos, são de duas cores: uma perna de cor vermelha e a outra verde, em oposição às cores do jaleco. Calça meias de lã (uma de cada cor) e sapatilhas igualmente de duas cores. À volta da cintura, uma faixa de cor branca. Na mão direita segura uma corda com uma bola verde e vermelha presa na extremidade; na mão esquerda, umas castanholas de grandes dimensões, trabalhadas em madeira de espinheiro. De notar que nos dias de hoje, só o grupo de Tábara integra o El Birria (Tiza, 2010). 19 Existe ainda um lhaço em que o El Birria é figura fundamental pois interage com o grupo encenando uma perseguição. 20 Este personagem pode ter outras denominações tais que Zorra, Zancarrón, Chiborra, Botarda ou Birria, na província de Zamora, segundo os lugares de proveniência. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 18 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 18 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 21. 19 // Sociedade e memória dos territórios Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza 2010)21 . Em Cañizal (comarca de La Guareña, ao sul da província), a Dança do Paloteo era inicialmente uma dança exclusiva dos rapazes solteiros. Contudo, hoje em dia, é dançada quase exclusivamente por mulheres (jovens ou adultas), com um ou outro elemento masculino a integrar o grupo. Na prática do Paloteo existe também um elemento mascarado que no caso do mascarado do Paloteo de Cañizal toma a designação de El Bobo. Veste todo de branco e nas últimas aparições, o “el bobo não usava máscara, se bem que no passado a tivesse usado, à semelhança do birria. Com a mão, ostentava uma vara com uma cuíca, zambomba (termo tipicamente castelhano), bexiga de porco cheia de ar, com a qual executava as suas pantominas. Hoje em dia, caiu em desuso e deixou de aparecer nas atuações do grupo”. (Tiza, 2010, p. 150). Das informações recolhidas acerca desta personagem, retiramos que existem algumas semelhanças com algumas figuras que existem em Portugal e no Planalto Mirandês como são o Carocho de Constantim, o Farandulo deTó, ou do Velho de São Pedro da Silva. Sem interfe- rir na Dança dos Pauliteiros, o Carocho desempenha funções que, no seu conjunto, podemos considerar relacionadas com ritos de fertilidade. Desde logo, faz par com uma personagem feminina, a Velha. O Carocho e a Velha formam a dualidade indispensável, complementar e necessária, para que a desejada fertilidade aconteça. Este par vai simulando jogos amorosos, ao longo do Peditório (o Convite), por todas as casas da aldeia, um apelo claro à fertilidade. O próprio Peditório constitui uma invocação à abundância que se dirige à divindade a favor da comunidade e da natureza, através da recolha de produtos da terra oferecidos ao Santo e consumidos por todos os moradores, numa espécie de refeição comunitária. Invocam-se os Deuses e os Santos, pedindo a sua proteção através de rituais e ritos, festas e celebrações, de adoração e agradecimento, pelas bênçãos obtidas (Tiza, 2004; Tiza 2010). No que à Dança dos Pauliteiros diz respeito, ela denota, como já referido, diferentes origens e funções. De acordo com o país, a região, época, ritual ou função a ela atribuída, encontramos referência a elementos que compõem os rituais, a música e a coreogra- fia, distintos. Da leitura dos documentos relativos ao assunto em análise, percebemos que algumas personalidades, como o Abade de Baçal defendem que a dança praticada 21 Estas são as funções visíveis do El Birria. Contudo, por detrás delas poderemos discernir outras de carác- ter simbólico. Recuando no tempo, sabemos ter havido razões que determinaram o seu aparecimento. O El Birria, dado o contexto festivo em que se insere, é o elo de ligação entre o profano e o sagrado. Não obstante ser considerado uma figura diabólica (como qualquer mascarado), o El Birria é, na verdade, uma figura mágica que, à luz das religiões, estabelece a ligação entre o mundo terreno e o sobrenatural, entre o ser humano e as divindades. Neste sentido, Joaquín Díaz afirma que o “El Birria es un personaje al que se le han atribuido diferentes simbolismos que van desde el demoníaco hasta el bufonesco pasando por el taumatúrgico o por el escuetamente hierático”. (Díaz, 2008, p. 6). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 19 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 19 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 22. 20 // Sociedade e memória dos territórios pelos Pauliteiros tem semelhanças com a clássica Dança Pírrica, uma dança guerreira praticada pelos povos da Antiga Grécia (Mourinho 1984; Correia, 2001; Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010). Este investigador, defende existirem poucas diferenças entre a antiga dança e a Dança dos Pauliteiros que encontramos em Terras de Miranda, e em todo o Planalto Mirandês. A informação por ele veiculada, concerne ainda a indumentária e as práticas. No que à indumentária diz respeito, de referir o uso do lenço sobre os ombros e dos chapéus enfeitados. No que aos instrumentos musicais diz respeito, verifica-se o uso da Flauta Pastoril (a Flauta de Tamborileiro). Estes elementos surgem como forma de amenizar o caracter guerreiro da referida dança, na semelhança que demonstra com as danças praticadas na Antiga Grécia (Tiza, 2010). Simultaneamente mostra-nos que a Dança dos Paulitos tem semelhanças com algumas danças populares praticadas no sul de França, bem como com a Dança das Espadas executada pelos Suíços ao longo de toda a Idade Média22 . Na Dança dos Paulitos, os bailarinos usam armas e escudos de paus, e simulam o ataque e a defesa num campo de batalha. Usam trajes que anunciam o caráter guerreiro das referidas danças pois a indumentária é constituída por enáguas brancas, camisas de linho brancas, coletes com lenços coloridos sobrepostos e chapéus negros com flores coloridas, lembrando alguns dos elementos de segurança da armadura de um soldado como sejam o colete e o capacete. Analisando os movimentos da coreo- grafia averiguamos que têm muitas parecenças com as danças pírricas, pois comportam a perseguição, a luta, os saltos e uma dança em particular, a dança da vitória. Algumas das mais famosas coreografias e laços retratam bem essas semelhanças comportando ele- mentos como o Salto do Castelo (saltos) ou o Vinte Cinco de Roda (dança da vitória) (Tiza, 2004; Tiza, 2010). Na província de Zamora existe uma maior variedade nos trajes dos dançarinos do Paloteo. Cada grupo possui o seu próprio traje, o seu elemento identificador. Em Tábara, a quadrilha é formada por rapazes e raparigas, num total de oito dançarinos. Os rapazes vestem camisa branca de linho, com fitas verdes que pendem do ombro ao longo do braço. Colocam à cintura uma faixa larga, cada qual de sua cor. Vestem calças pretas a meia perna, confecionados com bombazina, “pegadita a la pierna y atada por el bajo de la rodilla con hebillas, ligas o botones” (Porro Fernández, 2009, p. 61.). As raparigas vestem 22 Os romanos seriam os responsáveis pela propagação da dança pírrica a esta região. O investigador José Leite de Vasconcelos, contrariamente ao exposto, afirma que a dança introduzida em Roma e depois espalhada por todo o Império Romano, nada tinha a ver com a dança pírrica. Os dançantes, com armas e escudos de pau, simulavam o ataque e a defesa na batalha (Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010). Como indumentária, enver- gavam túnicas vermelhas e cinturões guarnecidos de aço. Os músicos envergavam capacetes emplumados e os bailadores colocavam-se em duas filas e dançavam ao som da flauta. No conjunto dos elementos narrados, encontramos, no nosso entender, notória semelhança com a forma de dançar dos Pauliteiros de Miranda (Mourinho 1984; Correia, 2001). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 20 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 20 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 23. 21 // Sociedade e memória dos territórios uma camisa branca também de linho e, por cima, um mandil bordado, cruzado sobre o peito e as costas; uma saia rodada e um avental, ambos de cores diversas (seguindo a tradição dos trajes regionais). Rapazes e raparigas calçam meias brancas trabalhadas à mão. Como calçado, sapatos simples ou sapatilhas “en claro recuerdo al pago que recibían estos baila- dores: un corto salario por su ejercicio y unas zapatillas” (Porro Fernández, 2009, p. 48.). Na cabeça usam uma espécie de coroas enfeitadas com flores naturais: “muchos de estos elementos naturales (...) fueron condicionando el indumento sirviendo de diferenciación local, social, civil o económico, entendiéndose poco a poco como punto de distinción en virtud de las propiedades mágicas que se suponían por su luz, color, belleza” (Porro Fernández, 2009, p. 15.). Estas coroas são usadas apenas durante o percurso da Procissão. Na hora de dançar retiram-nas da cabeça. Os paus são de madeira de espinheiro, por ser rijo, e são pintados ao gosto de cada interveniente. O traje dos Pauliteiros, mormente o dos Pauliteiros de Miranda, tem inspiração nos trajes militares greco-romanos. O chapéu decorado representa o capacete militar, a camisa de linho branco e o colete em sorrubeco, a armadura dos trajes militares, a saia de linho, os lenços, as meias altas de lã e as botas em pele, remetem para épocas mais antigas na forma de trajar. Para além dos elemen- tos do traje, definidores de uma identidade grupal e territorial, podemos afirmar que os Pauliteiros surgem nestes territórios como figuras singulares, desempenhando funções sociais, culturais e éticas de caráter insubstituível23 . Mais recentemente, num contexto festivo e à semelhança de grande parte das aldeias do planalto Mirandês, os primeiros registos escritos sobre esta dança surgem relacionados com a festa de Santa Bárbara (Festa da dança). A presença dos Pauliteiros dá-se não só a nível do ritual religioso como das diferentes festividades e ritualidades profanas. Os Pauliteiros estão presentes no ritual da Missa, nas Arruadas, no Peditório, na Procissão e no seu final, aquando da Atuação final, ação realizada no largo defronte à Igreja. No caso do Peditório, participam não só os Pauliteiros, como o Mordomo da festa. O grupo, constituído exclusivamente por rapazes (apesar que atualmente já existem grupos femininos e mistos), enverga vestes com elemen- tos característicos a cada grupo, região e país, executando coreografias complexas com recurso aos paulitos. Algumas vezes, em algumas regiões da raia, surgem como adereços para a realização dos laços as castanholas, despertando a atenção de quem os ouve e vê (Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010). 23 Neste contexto devemos igualmente referir o papel do Tamborileiro, com funções semelhantes no que con- cerne a organização das festas patronais, nomeadamente na presença aquando da Alvorada, do Peditório e da Procissão. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 21 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 21 17/06/2022 18:05:44 17/06/2022 18:05:44
  • 24. 22 // Sociedade e memória dos territórios As Festividades: rituais e ritos - constituintes e função Em todo o território nacional, as danças tradicionais e, em especial, a Dança dos Pauliteiros, será praticada nos rituais sagrados ligados à liturgia católica. Por Terras de Miranda, a sua presença ainda acontece aquando das festividades ligadas aos Santos Padroeiros, na celebração da Missa em sua honra e na Procissão24 . Outro momento impor- tante a considerar é o das festividades de Nossa Senhora do Rosário ou a Festa dos Moços, que se celebra no último domingo de Agosto. De notar ainda a sua relevância na Festa das Colheitas, remetendo-nos para o duplo carácter das festividades, tal como em inúmeros rituais que ainda hoje se encontram em uso por terras do Planalto Mirandês e pela região da raia (Tiza, 2004). A festividade religiosa a um Santo Padroeiro ou a um Santo da devoção possui uma forte dimensão religiosa, mas também surge enfática a componente profana. Os dois caracte- res sucedem-se ao longo de toda a festividade e ritual. A presença dos Pauliteiros acontece a vários níveis e em diferentes ocasiões. Da análise de uma sua prática, percebemos que os Pauliteiros podem integrar os rituais do Peditório, da Missa, da Procissão e da Atuação final. O Peditório realiza-se por toda a aldeia. Inicia de madrugada e termina antes da Missa Solene. Ao longo do Peditório, os Pauliteiros dançam em frente de cada uma das casas da aldeia e, em todas elas, dançam um laço, ou lhaço, a pedido dos respetivos donos. Na Missa festiva, a presença dos Pauliteiros dá-se, quando devidamente formados rodeiam o andor do padroeiro da festa. Ao longo da Procissão, e com acompanhamento musical da Gaita de foles, a incorporação dos Pauliteiros, faz-se caminhando ao lado do andor do padroeiro que, obrigatoriamente, se destaca no conjunto de todos os outros. A atuação dos Pauliteiros, logo após a Procissão, em frente à igreja, perante todo o povo, com o reportó- rio completo, é um acontecimento apoteótico, próprio ao final. Alguns laços, ou lhaços, assumem um carácter manifestamente simbólico, ao serem executados em redor de uma medida de cereal (alqueire), permitindo-nos afirmar que se trata de um ritual agrário de agradecimento à divindade pelas colheitas obtidas no ciclo que se completa, e de propi- ciação para o novo ciclo que se inicia justamente nessa altura do ano, o fim do Verão e o começo do Outono – as sementeiras (Vasconcelos, 1992; Tiza 2010). Em Constantim, na Festa de São João Evangelista, denominada também festa da Mocidade ou ainda Festa das Morcelas, que se realiza em Dezembro, a presença e a prática ritual dos Pauliteiros dá-se não só ao nível dos rituais sagrados como, e obrigatoriamente, nos atos profanos. Aqui, e tal como noutras localidades do Nordeste Transmontano, os 24 No caso particular de S. Martinho de Angueira, estes rituais celebram-se não só no exterior como no interior da Igreja. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 22 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 22 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 25. 23 // Sociedade e memória dos territórios rituais da festa são compostos pelo Peditório ou Convite, pela Missa e pela Procissão. Acresce uma Atuação no adro da Igreja quando finda a Procissão. Descrevendo cada um dos elementos percebemos que o Peditório ou Convite (designação local), é feito de maneira idêntica à festividade de São Martinho, com a diferença de que, para além da presença dos Pauliteiros, intervém um par de mascarados, o Carocho e a Velha25 . Os Pauliteiros acom- panham todo o Peditório, detendo-se em cada casa em frente da qual dançam um laço, ou lhaço, a pedido dos donos da mesma, enquanto os mordomos recolhem as oferendas (Tiza, 2004; Tiza, 2010). A atuação dos Pauliteiros a meio da celebração da Missa, no momento do Ofertório, é bem clarificadora da aceitação de uma dança tida como profana, por parte da Igreja, aquando da liturgia mais solene. Também a música interpretada pela Gaita de foles e a Flauta pastoril, de caráter profano, se faz ouvir no decorrer da Missa, conferindo solenidade à liturgia sagrada, tal como a festividade exige. Na Procissão, a música é executada pela Gaita de foles. De notar que os Pauliteiros não efetuam qualquer dança porque lhes está destinado transportar o andor do santo padroeiro. A presença do par de mascarados, o Carocho e a Velha, verifica-se apenas na Procissão, com a execução dos seus habituais jogos amorosos e brincadeiras (com a simulação do ato reprodutor), no espaço do adro da igreja, já depois de ter terminado todo o ritual litúrgico. De novo se nota o carácter ritual invocando a fertilidade (Vasconcelos, 1992; Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Topa, 2004; Tiza 2010). Na análise que vimos efetuando, percebemos ainda que do lado Espanhol se notam al- gumas semelhanças entre a Danza de Palos e as atuações dos Pauliteiros de Miranda. Essas semelhanças não se cingem somente no que às danças e trajes diz respeito, mas também ao contexto em que se efetuam. Assim, em Muelas del Pan, a atuação solene do Paloteo acontece no Domingo del Señor, o domingo imediatamente a seguir à festa do Corpo de Deus26 . Tal como pelo Nordeste Transmontano, a interação sagrado-profano ressalta. Os denominados laços religiosos são executados à volta da igreja e os paganos, onde predomi- nam temas tais que os ofícios tradicionais, a caça, os animais e o amor, são realizados em momentos que não os que estão relacionados com a liturgia da festa. O primeiro laço, la contradanza, é dançado quando a Procissão sai da Igreja. Os bailarinos, sempre voltados para a imagem de Nossa Senhora, vão dançando e saindo de costas para a porta. Depois, e aquando da Procissão, são efetuadas paragens em locais estrategicamente escolhidos para 25 Neste ponto, encontramos semelhanças com alguns personagens que intervêm nas Danzas de Palos ou no Paloteo, na província de Zamora, nomeadamente o El Birria, Zarrón ou Zarragón, Chiborra ou Zorra, com funções muito especificas no contexto da dança, como já evidenciado ao longo do texto. 26 De notar, que em Espanha, esta festividade não se celebra atualmente na quinta-feira do Corpo de Deus como em Portugal, onde é ainda mantido este dia festivo como feriado nacional. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 23 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 23 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 26. 24 // Sociedade e memória dos territórios que as danças se efetuem e produzam impacto nos fiéis. Assim, e em função dos espaços disponíveis, seja em largos e praças, seja noutros locais onde seja possível que os bailarinos executem os laços, estes são dançados e é dado seguimento à festa. Os laços de carácter religioso são efetuados, um de cada vez, dada a sua importância, no decorrer da festa. Por outro lado, os laços ditos paganos são apresentados no período da tarde, na praça principal da vila ou aldeia. Tal como em Portugal, as peças musicais não incluem uma componente vocal (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Tiza 2010)27 . Em Tábara, os rituais de dança são muito idênticos aos de Muelas del Pan. No dia da celebração, que coincide também com a festa do Corpo de Deus, o Paloteo integra a Missa Solene e a Procissão, caminhando mesmo à frente do pálio do Santíssimo Sacramento. As paragens que efetuam para realizar as danças durante a procissão (laços religiosos), são também elas efetuadas nas praças e nos largos mais espaçosos. A exibição de carácter profano (laços profanos/lazos paganos), realizada diante de toda a população, é feita na praça principal da vila, recorrendo ao reportório completo dos lazos paganos, cuja temática são similarmente os ofícios tradicionais, a caça, os animais e o amor (Vasconcelos, 1992; Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Tiza 2010)28 . No que à componente musical diz respeito, e por Terras de Miranda, os instrumentos musicais são focos irradiadores de animação e prazer para quem os escuta e executa. Os instrumentos que mais rapidamente identificam a tradição musical mirandesa são a Gaita de foles, a Caixa e o Bombo, instrumentos presentes no acompanhamento da Dança dos Pauliteiros, bem como em outras práticas culturais e artísticas de cariz popular e tradicional. No entanto, não se esgotam aqui as possibilidades. A Flauta pastoril, que faz conjun- to com o Tamboril, mesmo estando um pouco afastada do acompanhamento da Dança dos Pauliteiros, usa-se no acompanhamento vocal de diversas atividades ritualistas, assim como nas danças mistas. O seu aspeto simples, com três orifícios, esconde a complexidade que verificamos ao nível da sua interpretação. No acompanhamento vocal o conjunto instrumental usa com frequência ainda os Pandeiros, Pandeiretas, Conchas de Santiago, Triângulos, Castanholas e pequenos objetos do dia-a-dia, como a saranda, garrafas, testos de panelas e tachos. Se no distrito de Bragança, a Dança dos Pauliteiros é acompanhada pelo Gaiteiro, a Caixa e o Bombo, ou ainda pelo Tamborileiro e o Bombo, este último só usado em Terras de Miranda, na província de Zamora, o Paloteo é acompanhado somente peloTamborileiro e pela Gaita de foles, que é tocada pelo mesmo instrumentista em alternância com a flauta, 27 Para que exista sincronia nos passos e nos movimentos, os bailarinos costumam cantar as peças interiormente. 28 De referir que muitos dos laços e das peças musicais são comuns dos dois lados da fronteira (província de Zamora e distrito de Bragança). Iberografias43-vfinal14Junho.indb 24 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 24 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 27. 25 // Sociedade e memória dos territórios de acordo com os lhaços de dança a acompanhar. Nalgumas localidades este conjunto ins- trumental foi substituído pela Dulzaina, instrumento tradicional da província de Castilla, assim como pela Gaita de foles em algumas localidades da província de Zamora, nomea- damente em Tábarra e Muelas del Pan. Neste caso é utilizada em alternância com a Flauta pastoril. De referir ainda que a música que acompanha a dança é somente instrumental, sendo que os dançarinos cantam interiormente as letras das músicas por forma a se posi- cionarem no que concerne as coreografias executadas. As sequências dos passos são assim controladas pelo texto das canções que cantarolam, não havendo lugar a choques durante as danças e a concretização dos passos pelos bailadores. Destas sequências destacam-se os cruzamentos, as cabañuelas, as quatradas, as calles e as diferentes formas de golpear com os paus (Martínez Muñiz & Porro Fernández, 1998; Díaz & Porro, 2008; Tiza 2010). No Paloteo, tal como nos Paulteiros, os dançarinos alinham-se em duas filas uma frente à outra, sendo que aquando das mudanças de passe, têm que efetuar evoluções diversas, avanços, cruzamentos, serpenteados, mudanças de lugar dos dois grupos de quatro que formam as duas filas. Os guias são os bailarinos dos extremos das filas e os panzas, os do meio. Os toques de paus também têm as suas designações: de frente (toque com o que está à sua frente), de revés (toque à altura do joelho), moje de palos (toque dos seus próprios paus à altura do peito) ou em cruz (quando paloteiam guias com panzas e vice-versa) (Tiza, 2010). Estabelecendo um paralelo com a descrição dos passes dos Pauliteiros, entendemos que existe uma grande afinidade com estes, tanto nas designações como na sua execução, prática e significado29 . Considerações Finais Apesar das fronteiras físicas e geográficas, percebemos que nas regiões da raia, sempre se mantiveram os laços e os intercâmbios sociais, económicos e culturais ao longo dos tempos. Disso é exemplo a forma como se desenrolam as festas tradicionais, a forma como as comunidades organizam a sua vida social e profissional, os casamentos, as festividades e festas, as indumentárias e os trajes que envergam, e que são detentores de elementos e características diferenciadoras, evidenciando a natureza das atividades sociais, culturais, económicas e profissionais para as quais se capacitam, assim como as condições físicas e 29 Na província de Zamora, nalguns laços os paus são substituídos por castanholas. Existem semelhanças do lado português, no entanto, devemos referir que as castanholas são um instrumento musical usado com maior frequência do lado espanhol do que do lado português, sendo que poderemos considerar que o seu uso pelos pauliteiros, resulta de uma apropriação deste elemento pelas constantes trocas culturais, entre os dois lados da fronteira. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 25 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 25 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 28. 26 // Sociedade e memória dos territórios climatéricas que se vivem dos dois lados da fronteira30 . Da mesma forma, as Danças de Paus reforçam esta proximidade, seja pela música, pela coreografia ou pelos trajes comuns dos dois lados da fronteira. De referir ainda o facto de esta dança ser maioritariamente efetuada por grupos de rapazes, mais viris e guerreiros, do lado do Planalto Mirandês por requisito do lhaço do Salto ao Castelo, que implica alguma destreza na sua execução. Este lhaço implica a realização de saltos mortais por cima de colunas humanas criadas pelos outros bailadores, facto que exige destreza física e emocional31 . O mesmo não ocorre com os grupos mistos ou femininos, característicos do lado espanhol, onde destacamos a gra- ciosidade dos passos e dos gestos coreográficos. Comum aos dois lados da fronteira são a música e a letra das canções que acompanham os laços. Neste sentido, salientamos as simi- litudes encontradas nas regiões de Tábara, Muelas del Pan, Almaraz de Duero e Cañizal, da província de Zamora, e do concelho de Miranda do Douro e de Mogadouro, e das localidades de São Pedro dos Sarracenos, Bragança, e de Salselas, Macedo de Cavaleiros. Existem laços específicos que estão de acordo com as peças musicais que os acompanham tais que religiosos, amorosos, pastoris, agrícolas, venatórios, guerreiros, laborais, toponí- micos, sarcásticos e de temáticas medievais. De notar ainda que existem laços exclusivos de Miranda do Douro, dos quais destacamos, tal como já referimos, o Salto do Castelo (Mourinho 1984; Correia, 2001; Vasconcelos, 2012; Tiza, 2010)32 . Neste sentido, podemos afirmar que quer sejam laços (português), lhaços (mirandês) ou lazos (espanhol), existem pontos comuns nas danças dos dois lados da fronteira, na música e na letra que as acom- panha, assim como nas festas e solenidades onde estão presentes, nomeadamente nas festas do Corpus Christi, no fim das colheitas ou nas festividades dos solstícios de verão ou de inverno, assim como em outras ocasiões onde estes bailarinos sejam solicitados por forma a animar espaços e as comunidades. A sua ação dá-se num território que sabe preservar as suas tradições, fazendo delas um elemento diferenciador face ao restante território nacio- nal, delineando, assim, o ethos e o pathos de uma prática que convém estudar, preservar e divulgar. 30 Neste sentido, referimos a semelhança que existe entre a Capa Mirandesa e da Capa Alistana. Do mesmo modo, a música e a língua se assemelham, pois que o mirandês deriva do leonês, que outrora se falava na região. De notar que hoje o mirandês é falado por via do esforço encetado por parte de alguns e do reconhe- cimento da sua importância para a região. Nesta ação, o papel e o esforço das autarquias locais para a sua revitalização na comunidade e nas escolas mostrou-se essencial (Tiza, 2004; Tiza, 2010). 31 Este passo de dança, visa ilustrar o assalto a um castelo, o que denota o lado guerreiro da dança e a proximi- dade fronteiriça que, e apesar de toda a colaboração entre povos, não deixa de existir. 32 Este salto, em específico, não existe do lado espanhol dado que requer alguma destreza e força física, algo que não é possível com grupos mistos ou femininos como os que aí existem. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 26 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 26 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 29. 27 // Sociedade e memória dos territórios Resumo – As manifestações culturais que encontramos por todo o território português, e pela região da raia em particular, revelam-se bastante ricas ao nível dos seus conteúdos e práticas, facto que, no nosso entender, convém analisar, refletir e expressar. Ligadas a certas celebrações, ri- tuais e ritos de natureza não só religiosa como profana, estas manifestações constituem-se em ações onde o misticismo, o sagrado e o profano se combinam, descobrindo-se traços de uma prática co- mum nos dois lados da fronteira. São disso exemplo as festas solsticiais de Inverno, festas que in- cluem rituais e ritos executados com bastante rigor e genuinidade e onde a dança dos paus se faz presente. Recuando no tempo e no espaço, questionando sobre a sua origem e significado, verifica- mos que os elementos obtidos no que concerne esta dança não reúnem consenso, pois as opiniões diferem, e alguns estudiosos há, que a remetem para a idade do ferro, e para a Transilvânia. Referem ainda que somente numa fase posterior se espalhou pelo continente europeu, nomeadamente por Portugal e Espanha. Assim sendo, e nesta nossa proposta, pretendemos analisar não só os elementos que permitam identificar uma sua origem e significado, como as suas componentes ritualísticas no que concerne a indumentária e os passos, a música e a dança, os artefactos e os instrumentos musi- cais usados nos dois lados da fronteira. Neste sentido, enfocamos a nossa atenção naquilo que nos é oferecido em território nacional por Terras de Miranda e por todo o Planalto Mirandês, bem como naquilo que se consubstancia como prática por Terras de Galiza e da Extremadura, em território de Espanha. Os dados obtidos permitirão perceber as suas características mais marcantes, o ethos e o pathos desta prática, bem como as características da música empregue nos dois lados da fronteira. Uma maior atenção sobre os instrumentos musicais se consubstanciará, de modo a evidenciar as características do sonoro que, e indubitavelmente, se fará alvo do nosso particular estudo, reflexão e análise. Palavras-chave: Dança, Música, Instrumentos musicais, Pauliteiros de Miranda, Danza de palos. Referências Correia, M. (2001). Raízes Musicais da Terra de Miranda: Miranda do Douro, Mogadouro e Vimioso. Vila Nova de Gaia: Sons da Terra. Díaz, J. & Porro, C. (2008). Las Danzas. Zamora: Museo Etnográfico de Castilla y León. Franco Medina, C. (2008). La danza en el Carnaval de Barranquilla. Revista de la Universidad del Norte. vol. 71, 72, 73, 74, 75. Martinez Diez, G. (2014). Los Concilios de Toledo. p. 119-138. Consultado em: https://realacade- miatoledo.es/wp-content/uploads/2014/02/files_anales_0003_06.pdf Martínez Muñiz, E. & Porro Fernández, C. A. (1998). La Danza de Palos: La Recuperación de “El Palilleo” de Villabaruz de Campos (Valladolid). Nuevas aportaciones. Revista de Folklore nº 207. 75-83. Valladolid: Obra Social y Cultural de Caja España. Mourinho, A. (1983). Grupo Folclórico Mirandês de Duas Igrejas-Pauliteiros de Miranda. Miranda do Douro: Câmara Municipal de Miranda do Douro. Mourinho, A. (1984). Cancioneiro Tradicional e Danças Populares Mirandesas. Bragança: Escola Tipográfica de Bragança. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 27 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 27 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 30. 28 // Sociedade e memória dos territórios Porro Fernández, C. (2009) Bailes y Danzas. León: Edilesa. Tiza, A. P. (2004). Inverno Mágico. Ritos e Mistérios Transmontanos. Lisboa: Ésquilo. Tiza, A. P. (2010). A dança dos paus: paloteo da província de Zamora e pauliteiros do distrito de Bragança. Studia Zamorensia. vol. IX. Topa, A. (2004). Lhaços de Freixenosa. Lisboa: Apenas Livros. Vasconcelos, J. L. (1992). Estudos de Filologia Mirandesa. Miranda do Douro: Câmara Municipal de Miranda do Douro. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 28 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 28 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 31. 29 // Sociedade e memória dos territórios Revitalización de los núcleos de baja densidad a partir del estudio de las villae romanas Diego Piay Augusto1 Patricia Ana Argüelles Álvarez2 Introducción En las siguientes páginas presentamos un estudio arqueológico centrado en yacimien- tos de época romana desarrollado en el territorio rural de Asturias. Esta propuesta de trabajo ha sido realizada durante los dos años precedentes a esta publicación, y tiene por objetivo el poder convertirse en un referente, que sirva de modelo aplicable a la zona gallega- -portuguesa del río Miño. No obstante, es evidente que cada territorio tiene sus propias dinámicas de poblamiento, y que la aplicación del modelo propuesto requeriría de un análisis previo, que permitiese definir las características específicas del territorio luso-galaico. La distribución de los yacimientos romanos tipificados como villae proporciona una buena oportunidad para vincular estos elementos del patrimonio cultural al desarrollo del sector turístico. De este modo, estamos desarrollando una nueva línea en cierto modo innovadora, que consiste en estudiar cómo impulsar las zonas rurales de baja ocupación, a través de un elemento muy específico del patrimonio cultural, las villae romanas. Como es bien sabido (y así lo revelan los datos estadísticos en relación al producto interior bruto), el turismo representa uno de los motores principales de la economía en España. Se encuentra además en fase de crecimiento exponencial. El turismo demanda, cada vez en mayor medida, un aprovechamiento de las áreas rurales y de las actividades que a ellas se asocian, pues permiten alejarse del bullicio y de los problemas de estrés de la 1 Universidad de Oviedo piaydiego@uniovi.es 2 Universidad de Salamanca parguelles@usal.es Iberografias43-vfinal14Junho.indb 29 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 29 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 32. 30 // Sociedade e memória dos territórios vida cotidiana. En este sentido se da una situación similar, salvando las distancias, a la que se daba en la sociedad durante la época tardorromana, pues ya los autores del período señalaban la necesidad de alejarse de la urbe y disfrutar de las comodidades y la tranquilidad que se disfrutaba en el campo. Fig. 1 – Vista aérea de la villa del Casale de Piazza Armerina En el mundo actual, el patrimonio cultural, y los vestigios del pasado, se presentan como un claro atractivo para esta modalidad vacacional que buscar alternativas al denomi- nado “turismo de sol y playa”. Cultura, naturaleza y ecoturismo pueden ser considerados, por tanto, claves como factores impulsores de la economía en las zonas rurales. Quizás el mayor exponente del turismo rural cultural, vinculado a las villae romanas (principal Iberografias43-vfinal14Junho.indb 30 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 30 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 33. 31 // Sociedade e memória dos territórios tema de nuestro estudio), lo encontramos en el caso de Piazza Armerina3 , en Sicilia. Esta localidad de 27.726 habitantes, con una densidad de población de 71.60 hab./km2, atrae, gracias, a la villa romana más conocida de todo el mundo (y, en especial, a sus fascinantes mosaicos), a más de 300.000 visitantes al año. Este factor convierte a este yacimiento en uno de los enclaves turísticos más visitados de toda Sicilia. Su fuerte atractivo desde el punto de vista turístico hace de la villa del Casale de Piazza Armerina, no solo el motor económico de la localidad actual (que porta el mismo nombre); sino que, además, ha per- mitido que este enclave rural haya podido mantener su población en cifras muy similares a las que poseía a finales del siglo XIX, sin sufrir la despoblación que, por el contrario, sí están padeciendo prácticamente todas las zonas rurales europeas, particularmente acentuándose dicha crisis desde los últimos 30 años. El territorio rural Como se ha avanzado ya en la introducción, este proyecto se enmarca dentro de un análisis global de la ocupación rural en el territorio asturiano en época tardorromana. El ambicioso estudio tiene su origen en un proyecto de innovación docente4 , realizado en la Universidad de Oviedo durante el curso académico 2019-20 en el grado de Historia. En el desarrollo de dicho proyecto participó un equipo compuesto por cuatro docentes, y 84 alumnos. La propuesta desarrollada se basaba en la realización de un catálogo de villae romanas en Asturias, concentrándose, a partir de la realización de una serie de estudios sectoriales y específicos, en la génesis y la evolución de este tipo de yacimientos. El proyecto de inno- vación potenció el aprendizaje activo basado en proyectos, proponiendo una actividad común a toda el aula que sería la creación de un catálogo de las villae romanas en Asturias (hasta la fecha inexistente)5 , y, por otro lado, introdujo al alumnado en los resortes de la investigación con el manejo del método científico. Gracias a esta combinación, los resulta- dos alcanzados han sido publicados en una monografía que ha visto la luz en el año 2021 en la prestigiosa editorial italiana L´Erma di Bretchsneider6 . La monografía recoge los tra- bajos de los alumnos y los miembros del equipo, favoreciendo así, no solo el estudio de un 3 Pensabene, P. (ed.). (2019). Piazza Armerina. Villa del Casale. L´Erma di Bretschneider. Roma. 4 “Catálogo deVillas romanas en Asturias: Génesis y evolución”: Proyecto de innovación docente PIN-19-A-002, financiado con fondos de la Universidad de Oviedo, Universidad de Salamanca, Fundación Cardín y Sidrería El Llagar. 5 Santos, N., Montero, P. (1982). Introducción al estudio y significado de las villas romanas en Asturias. BIDEA, 36 (105-106). p. 115-154; Fernández, C., García, V., Gil, F. (2008). (eds.). Las villae tardorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. IV Coloquio internacional de Arqueología en Gijón. Ed. Trea. 6 Piay, D. & Argüelles, P. (2021). Villae romanas en Asturias. L´Erma di Bretschneider. Roma. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 31 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 31 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 34. 32 // Sociedade e memória dos territórios elemento fundamental dentro de la historia antigua de Asturias, sino también ofreciendo una primera toma de contacto con la publicación científica al alumnado participante. Por tanto, nuestro punto de partida a la hora de analizar la geografía de Asturias era estudiar el proceso de plasmación de un elemento tan característico de la cultura romana (las villae) en un territorio tradicionalmente considerado poco romanizado. El desarrollo de este análisis histórico-arqueológico ha permitido ahondar en la observación de la dispersión poblacional, en relación con la organización socio-económica, clave en el desarrollo de la fase imperial romana en la región. La configuración territorial histórica de la zona ha venido determinada por la pro- pia orografía de territorio. Los pasos de montaña por los que los romanos diseñarían las comunicaciones entre el sector cismontano y transmontano del Conventus Asturum, son rasgos heredados de la actuación de los sistemas glaciares desarrollados durante el Cuaternario. Y, por otro lado, otro factor relevante de la orografía asturiana, además de sus característicos accidentes geográficos, es que, en cortas distancias de menos de 20 ki- lómetros, sus escarpadas cumbres desaparecen en las proximidades del mar Cantábrico. Junto a esas montañas, destaca la presencia de caudalosos ríos, que, aunque de recorrido corto, han potenciado la erosión del marcado trazado de los profundos valles7 . Éstos, juntos a las rías, fruto del avance del mar al interior, han influido en el desarrollo del hábitat y en el trazado de la red viaria histórica así como en la ocupación y explotación de los recursos naturales, tal como es el caso de la minería aurífera en el occidente de este primitivo territorio romano8 . Al abordar el presente estudio hay que tener en mente que el paisaje es un medio que está en constante evolución, y ello aumenta la dificultad de su restauración evolutiva, lo que hace que en ocasiones se pueda caer en el anacronismo, problema heredado del proce- sualismo al que deberemos hacer frente en la medida de lo posible9 . No obstante, en este caso en particular, lo que presentamos es la relación entre en la realización del proyecto de investigación sobre las villae romanas en Asturias, y su interacción con la sociedad moder- na, a fin de lograr su aprovechamiento como un factor que posibilite la reactivación del territorio rural de baja densidad de la zona. 7 Morales, G. (1983). El paisaje vegetal asturiano. En Quirós, F. (Dir.). Geografía de Asturias. T.4. (pp. 5-71). Salinas: Ed. Ayalga. 8 Perea, A. & Sánchez-Palencia, F. J. (1995). Arqueología del oro astur. Orfebrería y minería. Oviedo: Ed. Caja de Asturias. 9 Orejas, A. & Ruiz del Árbol Mª. (2010). Los registros del paisaje en la investigación arqueológica. Archivo Español de Arqueología, 75 (185-186), 287-311. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 32 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 32 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 35. 33 // Sociedade e memória dos territórios Las villae y su entorno La riqueza patrimonial del territorio asturiano es innumerable, riqueza que no dismi- nuye al analizar el número de villae romanas dispersas por el territorio. En total se han documentado 26 conjuntos de tipo agropecuario con cronologías tardoantiguas. Ello, sin duda, permite tener una “materia prima” excelente sobre la que ofrecer una revalorización turística del territorio. Por tanto, el conjunto de villae, unido a la importancia del turismo en al región, y su propio carácter rural, crean un vínculo clave a la hora de fomentar el desarrollo de estos entornos despoblados o de baja densidad. Fig. 2 – Distribución de los yacimientos tipo villa documentados en el territorio de la Asturias actual (Elaboración propia) La interacción de la gente, los espacios y la puesta en valor de un programa turístico, con- figuran la base que permitirá reconocer en el territorio espacios significativos para un buen desarrollo sostenible, tal y como se ha constatado en la villa siciliana de Piazza Armerina. Para el caso español es preciso nombrar el caso de la villa palentina de La Olmeda, alejada de nú- cleos de población significativos, pero que también recibe una afluencia de público notable. Para propiciar el desarrollo de su entorno, se ha creado un aula arqueológica en la localidad de Saldaña, que recoge materiales documentados en la villa o en las necrópolis de su entorno. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 33 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 33 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 36. 34 // Sociedade e memória dos territórios Este caso en particular, nos pone en relación con la iniciativa “Red de Villas romanas de Hispania”10 que, sin duda, ha logrado ser un referente del turismo arqueológico espa- ñol. Uno de los objetivos de esta Red de villas romanas de Hispania es promover el turismo arqueológico en todos estos enclaves rurales, así como fomentar en el ciudadano el interés y el respeto por la protección y conservación de los yacimientos, llevando de la mano la preser- vación e investigación patrimonial. Es por ello fundamental recordar que la transferencia del conocimiento científico hacia la sociedad es vital. En definitiva, este fin último de acercar el patrimonio a la sociedad a la par que favorecer una actividad económica sostenible vinculada a las villae, es la propuesta que este estudio preliminar trata de fomentar. El objetivo es propiciar el desarrollo de núcleos rurales de baja densidad poblacional a partir de la explotación turística de estos yacimientos tan caracte- rísticos del mundo tardorromano, ampliamente representados en el territorio asturiano. Debe destacarse, además, que la frecuencia con la que en este tipo de yacimientos suelen localizarse mosaicos y estructuras monumentales (conjuntos termales, etc), convierte a las villae en lugares muy atractivos para fomentar la presencia de visitantes procedentes del ámbito regional y suprarregional. En este sentido, el proyecto de innovación desarrollado en la Universidad de Oviedo y su posterior publicación, constituye un paso previo funda- mental, al lograr dar a conocer la riqueza del patrimonio asturiano de un período concreto de su historia, y sus enormes posibilidades como recurso de atracción turística. El territorio asturiano cuenta, en la actualidad, con al menos 26 yacimientos en los cuales se han detectado estructuras o materiales que los hacen compatibles con su identi- ficación como villae. Evidentemente, como paso previo a la explotación turística de estos enclaves se hace necesaria una mayor investigación en la mayor parte de ellos, y una posterior puesta en valor, a fin de crear productos del patrimonio cultural atractivos. Es evidente que la difusión del conjunto patrimonial de las villae del territorio asturiano se ve agravada por las grandes diferencias existentes entre las intervenciones realizadas en cada uno de los yacimientos, siendo el referente de la región, sin duda, la villa de Veranes11 . En Murias de Beloño12 , los trabajos realizados en el pasado han hecho posible definir la 10 Sánchez, M. & Mencía, P. (2014). Red de villas romanas de Hispania. Estudios del Patrimonio Cultural, 12, 39-41. 11 Fernández, C., Gil, F. (2008). La villa romana de Veranes (Gijón, Asturias) y otras villas de la vertien- te septentrional de la Cordillera Cantábrica. In Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.), Las villae tar- dorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. (pp. 435-480). Gijón: Colección Piedras Angulares; Fernández, C. et al. (2003). La villa tardorromana de Veranes. Nuevos métodos digitales para la documentación de mosaicos in situ. In Seminario Internacional de Arqueología de la Arquitectura. Vitoria 2002, Arqueología de la Arquitectura 2, 123-130. 12 Fernández, C. (1984). La villa romana de Murias de Beloño ´Cenero´. In Gijón Romano, Ayuntamiento de Gijón, pp. 25-28; Jordá, F. (1957). Las Murias de Beloño (Cenero-Gijón): una “villa” romana en Asturias. Diputación Provincial de Oviedo, Servicio de Investigaciones Arqueológicas. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 34 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 34 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 37. 35 // Sociedade e memória dos territórios planta de la villa con bastante precisión. De Memorana13 , Puelles14 y Valduno15 los datos son parciales, y más pobre es todavía la representación gráfica conservada de Paraxuga16 . Igualmente debemos mencionar los ejemplos de Andayón17 y Priañes18 ; en primer lugar, porque son, con Veranes, los únicos yacimientos excavados siguiendo el método estra- tigráfico; y, en segundo lugar, porque en ambos yacimientos se ha actuado en tiempos relativamente recientes. En Andayón, se han programado campañas de excavación para el año corriente, en lo que pretende ser un proyecto de carácter plurianual. No cabe duda de que los resultados son, hasta la fecha, esperanzadores, no solo por el impacto visual de los mosaicos descubiertos, sino también por la posibilidad de conocer nuevos datos sobre la Asturias tardorromana, extrayendo de la tierra datos arqueológicos de suma relevancia, y completando paulatinamente la planimetría de una villa que parece organizarse en torno a un patio central. Precisamente Andayón, en el concejo de Las Regueras, es un ejemplo ideal en el marco del presente estudio y de sus implicaciones. Se trata de un enclave que cumple con una ocupación de baja densidad en un contexto rural, cuenta en el cercano pueblo de La Estaca con 10 habitantes, mientras que en el núcleo de Andayón se cuentan 25 habitantes. Si tenemos en cuenta estos datos y los cotejamos con el número de visitas que el yacimiento ha recibido desde que se han retomado los trabajos de excavación, la información no puede ser más reveladora: el número de visitas que este yacimiento ha reci- bido en fechas previas a la pandemia, es decir en el año 2019, ha sido de 1100 personas, 13 Aragoneses, M. J. (1954). El mosaico romano de Vega del Ciego (Asturias), BIDEA, 21, 3-24; Santos, N. (1984). Las villas romanas en Asturias, Memorias de historia antigua, 6, 155-174. 14 Fernández, J. (1957). Excavaciones arqueológicas de Puelles (Val-de-Diós). La villa hispanorromana de Boides, (Revista Covadonga, 154, primera ed. 1928, 503-534), Revista Valdediós, 19-27; Fernández, C., García, V., Gil, F. (2009). Complejos termales en Asturias. In Iglesias, J. M. (ed.). Cursos sobre el patrimonio histórico, 13. Actas del XIX Cursos monográficos de Patrimonio Histórico, (Reinosa, Julio 2008), (pp. 47-69), Santander: Universidad de Cantabria. 15 Estrada, R. (2006). Datos preliminares sobre los baños de época romana localizados en el lado meridional de la iglesia de Sta. Eulalia de Valduno. In Estudios ofrecidos a José Manuel González en el centenario de su nacimiento, La Piedriquina, 83-97; Estrada, R. (2014). Los baños de época romana de Santa Eulalia de Valduno (Las Regueras). In Intervenciones en el patrimonio cultural asturiano 2007-2014. Gran Enciclopedia Asturiana, (pp.123-157), Oviedo: Consejería de Educación, Cultura y Deporte. 16 Requejo, O. (1998). La “villa” romana de Murias de Paraxuga (Oviedo): Estudio cerámico. Trabajo de Investigación Cursos de Doctorado 1986‐88. Dpto. de Historia y Artes, Área de Conocimiento de Prehistoria y Arqueología. Inédito. Universidad de Oviedo. 17 Muñiz, J.R. Corrada, M. (2014). Trabajos en la villa de Andayón. Documentación y conservación de la ruina romana, La Piedriquina: anuario, 7, pp. 12-17; Muñiz, J. R. Corrada, M. (2018). Redescubriendo la villa romana del Andayón, Las Regueras. In Excavaciones arqueológicas en Asturias, 2013-2016, (pp.262- -272). Oviedo: Ed. Principado de Asturias. 18 Requejo, O. (2016). El registro cerámico de Priañes (Oviedo): un asentamiento rural tardorromano en la Asturias transmontana. Revista Nailos, 3, 387-119; Requejo, O., Álvarez, V. (2008). Descubrimiento de la villa romana de Priañes (Oviedo). In Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.), Las villae tardorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. (pp. 681-691). Gijón: Colección Piedras Angulares. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 35 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 35 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 38. 36 // Sociedade e memória dos territórios mientras que durante el 2020, ya en plena pandemia, ha sido de 49019 . No cabe duda, por tanto, de que realizando actividades de investigación en este tipo de yacimientos, y llevando a cabo un plan integral de difusión y divulgación de los resultados de los trabajos, estos se convierten en un referente en la zona en la que se ubican, propiciando el desplazamiento de visitantes y el desarrollo de los núcleos colindantes. Fig. 3 – Vista de los trabajos desarrollados en la villa de Andayón durante el año 2020 (Fotografía Juan Ramón Muñiz) El desarrollo de la actividad arqueológica tiene, por tanto, el fin último de mejorar el conocimiento histórico de las sociedades pasadas mediante la difusión de los resultados. Dicha difusión favorece la reactivación social dando a conocer enclaves rurales, con el beneficio económico que supone la visita de turistas. Por otro lado, potenciar la propia investigación arqueológica, conlleva el descubrimiento de estos enclaves, paso previo fun- damental para que se conviertan en un producto turístico20 . Es necesario señalar, en contra de la opinión común, que el yacimiento puede aportar rentabilidad desde los primeros momentos de la investigación, tal y como evidencia la villa de Andayón. Aun excavando pequeñas áreas del yacimiento, la actividad arqueológica genera mucho interés, y las visitas 19 Las informaciones en relación con las visitas a la villa de Andayón han sido proporcionadas por el director de los trabajos en el yacimiento, Juan Ramón Rodríguez Muñiz, al que agradecemos encarecidamente su colaboración. 20 Cabrini, L. (2002). Turismo, desarrollo rural y sostenibilidad. In VII Congreso AECIT (Jaén, 21-23 de Octubre de 2002). Bilbao, AECIT, CD-Rom. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 36 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 36 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 39. 37 // Sociedade e memória dos territórios se suceden. De nuevo debe valorarse que las villae romanas tienen un componente que las dota de mayor atractivo desde el punto de vista turístico que otros yacimientos arqueológi- cos; la presencia de estructuras “visibles”, restos monumentales y elementos ornamentales son un reclamo para el turista. Pero, la riqueza del yacimiento reside también en su propio entorno. El paisaje cultural no aparece configurado únicamente por el yacimiento (en este caso la villa romana), sino que es posible enriquecer estas visitas turísticas a elementos del patrimonio cultural con otras realidades del entorno, como los caminos históricos, los museos o, incluso, otros yacimientos, etc… haciendo realmente atractiva la oferta turística en torno a dicha entidad patrimonial y su propia singularidad. Conclusiones Las características del territorio actual se ven claramente influenciadas por las formas de hábitat y estructuración territorial desde el mundo antiguo. No cabe duda de que, en el pasado, las villae fueron estructuras vertebradoras del territorio en torno a las cuales se desarrolló una profunda actividad socio-económica, influyendo en los núcleos de población y la red viaria. Las propias características de estos enclaves rurales, con funciones agropecuarias, definen su ocupación en lo que hoy día, en su mayoría, son espacios depauperados y/o despoblados, así como en espacios geográficos con baja densidad poblacional. Es por ello, que consideramos que su redescubrimiento y excavación podrían propiciar el desarrollo de estas zonas y regenerar los espacios rurales, a partir de la explotación de sus propios paisajes culturales. Los éxitos generados con este proyecto nos permiten ser optimistas y plantear esta investigación para el sector transfronterizo a ambas orillas del río Miño. De esta manera se propone continuar la línea de trabajo con un estudio que localizará los espacios de hábitat tardoantiguos, para tener un punto de partida en las prospecciones arqueológicas del territorio gallego-portugués. Con todo ello, podremos realizar un estudio del paisaje englobando la vinculación de la población y las comunicaciones históricas en tiempos ro- manos, catalogando de este modo los tipos de hábitat y creando mapas digitalizados. Todo ello, al igual que en el caso que hemos expuesto del territorio asturiano, permitirá difundir los resultados con un fin último, el de poner en valor el papel del patrimonio social como compromiso de las gentes que forman parte de dichos paisajes históricos, promocionando el patrimonio histórico de estos espacios y su importancia como elementos de promoción del turismo cultural. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 37 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 37 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 40. 38 // Sociedade e memória dos territórios Bibliografía Aragoneses, M. J. (1954). El mosaico romano de Vega del Ciego (Asturias), BIDEA, 21, 3-24. Cabrini, L. (2002). Turismo, desarrollo rural y sostenibilidad. In VII Congreso AECIT (Jaén, 21-23 de octubre de 2002). Bilbao, AECIT, CD-Rom. Estrada, R. (2006). Datos preliminares sobre los baños de época romana localizados en el lado meridional de la iglesia de Sta. Eulalia de Valduno. In Estudios ofrecidos a José Manuel González en el centenario de su nacimiento, La Piedriquina, 83-97. Estrada, R. (2014). Los baños de época romana de Santa Eulalia de Valduno (Las Regueras). In Intervenciones en el patrimonio cultural asturiano 2007-2014. Gran Enciclopedia Asturiana, (pp.123-157), Oviedo: Consejería de Educación, Cultura y Deporte. Fernández, J. (1957). Excavaciones arqueológicas de Puelles (Val-de-Diós). La villa hispanorroma- na de Boides, (Revista Covadonga, 154, primera ed. 1928, 503-534), Revista Valdediós, 19-27. Fernández, C. (1984). La villa romana de Murias de Beloño ´Cenero´. In Gijón Romano, Ayuntamiento de Gijón, pp. 25-28. Fernández, C., Gil, F. (2008). La villa romana de Veranes (Gijón, Asturias) y otras villas de la ver- tiente septentrional de la Cordillera Cantábrica. In Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.), Las villae tardorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. (pp. 435-480). Gijón: Colección Piedras Angulares. Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.). (2008). Las villae tardorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. IV Coloquio internacional de Arqueología en Gijón. Ed. Trea. Fernández, C., García, V., Gil, F. (2009). Complejos termales en Asturias. In Iglesias, J. M. (ed.). Cursos sobre el patrimonio histórico, 13. Actas del XIX Cursos monográficos de Patrimonio Histórico, (Reinosa, Julio 2008), (pp. 47-69), Santander: Universidad de Cantabria. Fernández, C. et al. (2003). La villa tardorromana de Veranes. Nuevos métodos digitales para la do- cumentación de mosaicos in situ. In Seminario Internacional de Arqueología de la Arquitectura. Vitoria 2002, Arqueología de la Arquitectura 2, 123-130. Jordá, F. (1957). Las Murias de Beloño (Cenero-Gijón): una “villa” romana en Asturias. Diputación Provincial de Oviedo, Servicio de Investigaciones Arqueológicas. Morales, G. (1983). El paisaje vegetal asturiano. In Quirós, F. (dir.). Geografía de Asturias. T.4. (pp. 5-71). Salinas: Ed. Ayalga. Muñiz, J.R. Corrada, M. (2014). Trabajos en la villa de Andayón. Documentación y conservación de la ruina romana, La Piedriquina: anuario, 7, pp. 12-17. Muñiz, J. R. Corrada, M. (2018). Redescubriendo la villa romana del Andayón, Las Regueras. In Excavaciones arqueológicas en Asturias, 2013-2016, (pp.262-272). Oviedo: Ed. Principado de Asturias Orejas, A. & Ruiz del Árbol M. (2010). Los registros del paisaje en la investigación arqueológica. Archivo Español de Arqueología, 75 (185-186), 287-311. Pensabene, P. (ed.). (2019). Piazza Armerina. Villa del Casale. L´Erma di Bretschneider. Roma. Perea, A. & Sánchez-Palencia, F. J. (1995). Arqueología del oro astur. Orfebrería y minería. Oviedo: Ed. Caja de Asturias. Piay, D. & Argüelles, P. (2021). Villae romanas en Asturias. L´Erma di Bretschneider. Roma. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 38 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 38 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45
  • 41. 39 // Sociedade e memória dos territórios Requejo, O. (1998). La “villa” romana de Murias de Paraxuga (Oviedo): Estudio cerámico. Trabajo de Investigación Cursos de Doctorado 1986‐88. Dpto. de Historia y Artes, Área de Conocimiento de Prehistoria y Arqueología. Inédito. Universidad de Oviedo. Requejo, O. (2016). El registro cerámico de Priañes (Oviedo): un asentamiento rural tardorromano en la Asturias transmontana. Revista Nailos, 3, 387-119. Requejo, O., Álvarez, V. (2008). Descubrimiento de la villa romana de Priañes (Oviedo). In Fernández, C., García, V., Gil, F. (eds.), Las villae tardorromanas en el occidente del Imperio: arquitectura y función. (pp. 681-691). Gijón: Colección Piedras Angulares. Sánchez, M. & Mencía, P. (2014). Red de villas romanas de Hispania. Estudios del Patrimonio Cultural, 12, 39-41. Santos, N. (1984). Las villas romanas en Asturias, Memorias de historia antigua, 6, 155-174. Santos, N., Montero, P. (1982). Introducción al estudio y significado de las villas romanas en Asturias. BIDEA, 36 (105-106), 115-154. Iberografias43-vfinal14Junho.indb 39 Iberografias43-vfinal14Junho.indb 39 17/06/2022 18:05:45 17/06/2022 18:05:45