4. janeiro
HOMENAGEM DO AGRUPAMENTO DE ESCOLAS FERNÃO DE MAGALHAES
Dia Internacional em
DIA INTERNACIONALEM MEMÓRIA DAS VÍTIMAS DO HOLOCAUSTO
Memória das Vítimas do
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5. Conteúdos
A AFIRMAÇÃO DO NAZISMO NOS ANOS 30 E 40
O ANTISSEMITISMO NAZI
A GUERRA
A CRUELDADE DO HOLOCAUSTO
A SOLUÇÃO FINAL
O GENOCÌDIO
UM PORTUGUÊS NA LUTA CONTRA O GENOCÍDIO
BIOGRAFIA DE ARISTIDES DE SOUSA MENDES
A DESOBEDIÊNCIA
OS ÚLTIMOS DIAS: MISÉRIA E DESONRA
HOMENAGENS
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
WEBGRAFIA
BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
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6. ARTICULAÇÃO INTERDISCIPLINAR
A Afirmação do Nazismo nos anos 30 e 40
Após a abdicação do imperador Guilherme II, nas vésperas da assinatura do armistício
da 1ª guerra mundial, a Alemanha instituiu o regime republicano denominado
República de Weimar. Foi, porém, num clima marcado pelo descontentamento social
gerado pelas falências, pelo desemprego, pela miséria e pela aceitação das condições
do Tratado de Versalhes pelos novos governantes, que as propostas ditatoriais
começaram progressivamente a ganhar mais apoiantes. O Partido Nacional-Socialista
dos Trabalhadores Alemães, abreviadamente Partido Nazi, dirigido por Adolf Hitler
desde 1921, ganhava cada vez mais militantes. Em
1923, Hitler organizou um golpe de Estado que acabou
por falhar e, por isso foi preso.
Durante o seu período de prisão escreveu o livro
MeinKampf (A Minha Luta), onde expõe as suas ideias
políticas.
A crise de 1929 veio, novamente, agravar as condições económicas e sociais na
Alemanha, criando um ambiente propício à propaganda e às ações de terror nazis,
vindo a refletir-se no crescimento do Partido Nazi. Em 1932 já era o partido mais
poderoso do Reichstag, o Parlamento alemão. O sistema parlamentar entrou em
colapso, pois os partidos democráticos não conseguiram assegurar maiorias. A direita
nacionalista e os meios financeiros aliaram-se a Hitler pensando, assim, conseguir a
revisão do tratado de Versalhes e travar o avanço do comunismo. Em 30 de Janeiro
de 1933, sob pressão de um grupo de conservadores, o Presidente da República,
VonHinderburg, nomeia Hitler chanceler (primeiro-ministro) da Alemanha.
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7. O Antissemitismo Nazi
Com a vitória do nazismo em 1933, o Estado policial atingiu a mais elevada
severidade. As milícias e a polícia política (Gestapo) exerceram um controlo apertado
sobre a população e a opinião pública. A todos envolvia uma atmosfera de suspeita e
desconfiança generalizadas, incentivando a vigilância mútua.
A perseguição do III Reich começou logo após a ascensão de Hitler ao poder, no dia
30 de janeiro de 1933. Ele extinguiu partidos políticos, instalou o monopartidarismo e
passou a agir duramente contra os opositores do regime, que eram levados a campos
de concentração. A criação dos primeiros campos de concentração, em 1933,
completou o aparelho repressivo do nazismo (em março de 1933 já havia 25 mil
presos no campo de Dachau, no sul da Alemanha).
Portão de entrada do campo de
Dachau com a frase: O trabalho
Liberta
O desrespeito do nazismo pelos direitos humanos atingiu o seu auge do horror com a
violência do seu racismo.
No fim de março os nazis sentiram-se com poder suficiente para desencadearem o
primeiro ato da sua verdadeira revolução, desta revolução que não se dirigia contra
qualquer regime, mas contra as bases da coabitação humana na terra.
Para os nazis, aqueles que não possuíam sangue ariano não deveriam ser tratados
como seres humanos.
“O primeiro ato intimidatório foi o boicote imposto aos judeus, a 1 de Abril de 1933.
Assim o decidiram Hitler e Goebbels […]: todas as lojas dos judeus seriam boicotadas.
As tropas das SA montariam guarda às portas e impediriam a entrada das pessoas. O
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8. boicote atingiria também os médicos e os advogados judeus, que seriam controlados
nos consultórios e nos escritórios pelas patrulhas das SA. […]
Ao mesmo tempo, arrancou uma grande «campanha de informação» contra os judeus.
Os alemães foram esclarecidos, através de panfletos, cartazes e concentrações, de
que fora um erro terem considerado os judeus como seres humanos. Os judeus eram,
na verdade, «seres inferiores», uma espécie de animais, mas providos de
características demoníacas. As consequências que havia a retirar deste facto não
foram desde logo explicadas. Contudo, a expressão «Morte aos Judeus!» foi proposta
como slogande campanha e grito de guerra” (in HAFNER,Sebastian, História de um Alemão -
Memórias 1914-1933: O que conduziu a Alemanha à loucura do nazismo? Lisboa, Publ. Dom Quixote,
2005 (adapatado)).
A política antissemita do nazismo visou especialmente os judeus, mas não poupou
também ciganos, negros, homossexuais, comunistas e doentes mentais. Estima-se
que entre 5,1 e 6 milhões de judeus tenham sido mortos durante a Segunda Guerra, o
que representava na época cerca de 60% da população judaica na Europa. Foram
assassinados ainda entre 220 mil e 500 mil ciganos. O Tribunal de Nuremberga
estimou em aproximadamente 275 mil alemães considerados doentes incuráveis que
foram executados, mas há estudos que indicam um número menor, cerca de 170 mil.
Não há dados confiáveis a respeito do número de homossexuais, negros e comunistas
mortos pelo regime nazi.
Judeus 6 milhões
Prisioneiros de guerra soviéticos Cerca de 3 milhões
Civis soviéticos 2 milhões
Civis polacos Cerca de 1 milhão
Civis jugoslavos Cerca de 1 milhão
Homens, mulheres e crianças com deficiência mental ou física 70,000
Ciganos Cerca de 200,000
Prisioneiros políticos Desconhecido
Membros da Resistência Desconhecido
Deportados Desconhecido
Homossexuais Desconhecido
Fonte: http://www.bxscience.edu.orgs/holocaust/edguide/deaths.html
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9. A Guerra
A 1 de setembro de 1939, os exércitos de Hitler invadem a Polónia, perante uma
Europa estarrecida. Dois dias depois, a Grã-Bretanha e a França reagem e declaram
guerra à Alemanha nazi. Tinha-se iniciado a II Guerra Mundial que se prolongaria por
seis longos anos, até 1945 (maio, na Europa e agosto na Ásia/Japão). Após a
ocupação da Polónia, os exércitos alemães avançaram com êxito em todas as frentes
de guerra, conquistando quase toda a Europa numa guerra-relâmpago. Esta situação
explica-se pela excelente preparação militar, conjugada com a utilização de poderosas
colunas de tanques blindados (panzer) e a moderna aviação e artilharia.
A 13 de maio de 1940, a França foi invadida pelo norte e não pela fronteira comum
como era esperado. A técnica da “guerra relâmpago” (Blitzkrieg) permitiu arrasar tudo
na sua passagem. A entrada triunfal dos alemães em Paris aconteceu em junho de
1940. Poucos dias depois o general Pétain assinou o armistício em representação do
governo francês. O país ficou dividido em duas zonas: uma ocupada e a outra
autónoma, com capital em Vichy, governada por Petain, mas colaborante com os
alemães. Outra, comandada pelo general Charles de Gaulle, que se havia refugiado
em Londres, que de forma veemente exortava os franceses a lutar contra o invasor e
contra a desistência:
“A frança perdeu uma batalha! Mas a França não perdeu a Guerra! Alguns
governantes capitularam, cedendo ao pânico, esquecendo a honra, entregando o país
à servidão. No entanto, nada […] está perdido, porque esta guerra é uma guerra
mundial. […]. Um dia essas forças esmagarão o inimigo. É preciso que a França,
nesse dia esteja presente na vitória. […] A nossa pátria está em perigo de morte.
Lutemos para a salvar! Viva a França!”
Charles de Gaulle
In NETO, Helena e outros, Viver a História, 9º ano,Santillana Constância, p.124.
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10. A Crueldade do Holocausto
Sob a doutrina racista do III Reich, cerca de 7,5 milhões de pessoas perderam a
dignidade e a vida em campos de concentração, especialmente preparados para
matar em escala industrial.
Entre 1933 e 1945 a Alemanha nazi construiu cerca de 20.000 campos para aprisionar
milhões de vítimas. Os campos eram utilizados para várias finalidades: campos de
trabalho forçado, campos de transição (que serviam como estações de passagem),
e como campos de extermínio construídos principalmente, ou exclusivamente, para
assassinatos em massa.
ROTAS DE DEPORTAÇÃO
Fonte: http://www.ushmm.org/wlc/ptbr/media_nm.php?MediaId=273
Em todas as áreas da Europa por eles ocupada, os alemães prendiam a quem
resistisse ao seu domínio e àqueles que consideravam racialmente inferiores ou
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11. politicamente inaceitáveis. Os presos por resistência ao domínio alemão eram
geralmente enviados para os campos de trabalho escravo. Os nazis deportaram
judeus de toda a Europa sob seu domínio para os campos de extermínio na Polónia,
onde eram sistematicamente assassinados, e também para campos de concentração,
onde eram usados para trabalho escravo. Os campos de trânsito, como os de
Westerbork, Gurs, Mechelen e Drancy no oeste da Europa, e campos de concentração
como os de Bolzano e Fossoli di Carpi, na Itália, eram usados como centros de
recolhimento de judeus, que em seguida eram deportados para os campos de
extermínio. Segundo relatórios das próprias SS, em janeiro de 1945 havia mais de
700.000 prisioneiros registados nos campos de concentração.
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13. A Solução Final
Nesta ocasião, ocorreu o mais famoso dos genocídios - a matança de judeus
promovida por Adolf Hitler e sua Alemanha nazi durante a Segunda Guerra Mundial.
Senhores de uma grande parte da Europa, os nazis puseram em prática um
meticuoloso plano de destruição do povo judaico, que se veio a saldar no genocídio de
quase 6 milhões de judeus. Essa destruição adquiriu a dimensão de um extermínio
designado por “solução final do problema judaico”.
“ A solução final do problema judeu na Europa deverá ser aplicada a cerca de 11
milhões de pessoas.[…] No quadro da solução final do problema, os judeus devem ser
transferidos, sob boa escolta, para leste e aí serem afetados ao serviço de trabalho.
Enquadrados em colónias de trabalho, os judeus válidos, homens de um lado,
mulheres de outro, serão conduzidos nestes territórios para construir estradas; uma
grande parte deles ficará naturalmente eliminada pelo seu estado de decadência
física[…]” in Decisões da Conferência de Wannsee, 20 de Janeiro de 1942, relatadas por Heydrich in
COUTO, Célia Pinto e ROSAS, Maria Antónia Monterroso, História A 12º ano 1ª parte, Porto Editora.
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14. O Genocídio
Genocídioé o nome dado ao assassinato deliberado de um grupo de pessoas e é
caracterizado pela existência de diferenças1.
O termo genocídioé recente na história da humanidade, embora a sua prática seja
longínqua. A palavra só passou a ser utilizada para identificar a matança deliberada de
pessoas no final da primeira metade do século XX.
Antes do início da guerra, os nazis enviaram para os Lager - designação dada aos
campos - a totalidade dos opositores ao regime, fossem eles conservadores ou
comunistas, ou seja, um pequeno número de cidadãos. Só na sequência da Noite de
Cristal, a 10 de Novembro de 1938, e da anexação da Áustria, os judeus se irão juntar
aos presos políticos. A perseguição feroz e paranoica ao povo judeu manifesta-se de
forma mais violenta após a conquista da Polónia, dando corpo às diretivas constantes
da ação de pacificação - era esse o nome dado às referidas diretivas - com que se
pretendia aniquilar a intelligentzia polaca, por forma a impedir a sua influência junto da
população. O führer queria, e as palavras são suas, manter um baixo nível de vida aos
escravos baratos. Este conceito, de aproveitamento económico dos habitantes dos
países ocupados provocará, em 1942, uma viragem na política alemã de utilização dos
campos. Até então o recurso a presos como mão-de-obra para fábricas de armamento
ou de interesse nacional estava formalmente impedido. A partir de setembro desse
ano (1942), o esforço militar alemão impôs uma mudança de filosofia - o extermínio
pelo trabalho - que se traduziu na aniquilação maciça de prisioneiros.
Os primeiros beneficiados com esta alteração foram os homens das SS que a partir de
então se transformaram nos verdadeiros patrões desta quase inesgotável mão-de-
obra, manejando-a e utilizando-a. Deles passa a depender o recrutamento destes
operários forçados, imprescindíveis para o aparelho produtivo alemão.
1
Em 1944, Raphael Lemkin (1900-1959), um advogado judeu polaco, ao tentar encontrar
palavras para descrever as políticas nazis de assassinato sistemático, incluindo a destruição
dos judeus europeus, criou a palavra "genocídio" combinando a palavra grega geno-, que
significa raça ou tribo, com a palavra latina -cídio, que quer dizer matar. Com este termo,
Lemkin definiu o genocídio como "um plano coordenado, com ações de vários tipos, que
objetiva à destruição dos alicerces fundamentais da vida de grupos nacionais com o objetivo de
aniquilá-los". No ano seguinte, o Tribunal Militar Internacional instituído em Nuremberga,
Alemanha, acusou os líderes nazis de haverem cometido "crimes contra a humanidade", e a
palavra "genocídio" foi incluída no processo, embora de forma apenas descritiva, sem cunho
jurídico.
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15. A alimentação, de má qualidade e quase inexistente, surge como a principal causa de
morte de várias centenas de milhar de prisioneiros, facto que, pasme-se, deixou o
chefe máximo das SS, Heinrich Himmler, profundamente indignado. A espiral de
homicídios atingia, em 1944, a espantosa cifra mensal de 30 mil mortos.
O avanço dos Aliados em duas frentes, Ocidental e Oriental, e o colapso da economia
do Reich parecem ter enlouquecido ainda mais os líderes nazis. O extermínio
converteu-se, nas palavras do próprio Himmler, numa “necessidade imperiosa” nos
numerosos campos de concentração.
Os métodos usados então eram baseados no pressuposto de que o terror era a
melhor forma de negar a personalidade do indivíduo e de o manipular. A partir de
então, com os campos em risco de cair em mãos inimigas, a morte quantitativa
substitui o princípio do castigo. Mais do que castigar urge exterminar um número
elevado de seres humanos famintos, moribundos e magoados que, a permanecerem
vivos, não tardarão a pedir aos vencedores que façam justiça.
Vítimas inocentes do nazismo
Fonte: http://www.medicinaintensiva.com.br/holocausto-manifesto.htm
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16. Um Português na Luta Contra o Genocídio
Com a invasão da França pelas tropas nazis em maio de 1940, a salvação posssível
para os judeus era abandonar o território e conseguir entrar num país neutral. Para
isso precisavam de um visto. O cônsul português em Bordéus, Aristides de Sousa
Mendes, estava proibido de emitir vistos a determinadas categorias de refugiados,
sem autorização prévia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, nomeadamente
judeus e antifascistas que, por razões raciais ou ideológicas, eram considerados como
indesejáveis. Porém, Aristides de Sousa Mendes considerava estas normas racistas
e desumanas. Fiel aos seus valores morais e contrariando as ordens de Salazar,
passou milhares de vistos, salvando muitas pesoas de uma morte certa.
Em 1939, Salazar, com a data de 11 de novembro, emitiu a Circular 14, onde
determinava que:sem consulta às autoridadesportuguesas, não se podia passar vistos
a “estrangeiros de nacionalidade indefenida, contestada ou em litígio, apátridas,
portadores de passaportes Nansen (pessoas suspeitas de atividades antinazis);
estrangeiros que apresentem nos seus passaportes sinal de não poderem regressar
ao país de onde provêm, estrangeiros sem meios de subsistência, judeus expulsos
dos países da sua nacionalidade ou daqueles de onde provêm…”in AFONSO, Rui,
Injustiça, Lisboa, Ed. Caminho, 1990.
Visto passado por Aristides de Sousa Mendes
Fonte:http://www.google.pt/imgres?q=vistos+de+aristides&um=1&hl=en&sa=N&tbo=d&rl
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17. Refugiados a aguardar vistos
frente ao Consulado
português, em Bordéus
Fonte: http://bancadadirecta.blogspot.pt/2009_01_01_archive.html
Duas camionetas com destino a
Lisboa, apinhadas de crianças
refugiadas judias que tinham sido
ajudadas a sair da Europa ocupada
pela Alemanha por grupos de resgate
judeus sediados em Lisboa. Outras
tentativas de tirar crianças judias da
Europa fracassaram devido aos
atrasos burocráticos e às
complicações em torno da emissão
de vistos.
Fonte: http://noticias.sapo.pt/fotos/lisboa-centro-da-europa-na-2a-guerra mundial...
A sua ação de desobediência ao Presidente do Conselho foi descoberta pelo governo
de Salazar e recebeu ordens para suspender a sua emissão de vistos, sob ameaça de
procedimento disciplinar.
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18. Biografia de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954)
1885 Nascem os gémeos César e Aristides de Sousa Mendes do Amaral e
Abranches em Cabanas de Viriato, Distrito de Viseu, Portugal.
1907 Licenciatura em Direito na Universidade de Coimbra
1908 Casa-se com a sua prima Angelina. O casal virá a ter 14 filhos. Em
Portugal o rei D. Carlos e o príncipe herdeiro são assassinados
(regícidio).
1910 Ingressou na carreira diplomática
Cônsul de 2ª classe em Demerara, na Guiana Britânica
1911 Cônsul-geral em Zanzibar
1918 Transferência para Curitiba
Promoção a cônsul de 1ªa classe
1921 Direção temporária do consulado em S. Francisco, Califórnia
1924 Cônsul de Maranhão, Brasil
1926 Regresso a Lisboa para prestar serviço na Direção-Geral dos Negócios
Comerciais e Consulares
1927 Cônsul em Vigo, Espanha
1929 Cônsul-geral em Antuérpia, na Bélgica
1936 Condecorado pelo rei belga, Leopoldo III
1938 Transferência para Bordéus, em França
1940 Demissão do cargo de cônsul por Salazar
1954 Morte
Fonte: MAIA, Cristina; Viva a História, 9º ano, Porto Editora ,pp. 128-129.
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19. A Desobediência
Durante a Segunda Guerra Mundial a posição do governo de Salazar sempre foi
dúbia, com fortes traços de simpatia ao regime de Berlim. Lisboa tornara-se uma
capital aberta aos espiões tanto nazis como aliados. Dali partiam as fugas para
Marrocos, Américas do Sul e do Norte. A lavagem dos bens confiscados aos judeus
(obras de arte, jóias) e aos povos conquistados, foram feitas pelos nazis através da
Suíça e de Portugal, conforme a história revelaria décadas mais tarde. A alta cúpula
da igreja católica fecha os olhos às atrocidades de Hitler. Os exércitos alemães são
abençoados pelos clérigos antes de partirem para a guerra. O papa Pio XII seria
acusado mais tarde de conviver pacificamente com o governo nazi. O povo israelita é
deixado à deriva no continente europeu.
É neste contexto histórico que vamos encontrar, em junho de 1940, Aristides de Sousa
Mendes, cônsul de Portugal em Bordéus, na França ocupada. Pelas ruas de Bordéus
milhares de refugiados judeus buscam os consulados de Portugal e da Espanha.
A esperança era fugir para estes países e de lá embarcar para a América. O
consulado espanhol nega a entrada dos refugiados e, consequentemente, nega-lhes
os vistos. A esperança está no cônsul português em Bordéus.
Em 16 de junho, Aristides de Sousa Mendes recebe o
rabi Kruger, fugitivo da Polónia ocupada. Promete
interceder diante do governo de Lisboa a favor dos
milhares de judeus à porta do consulado. Não dá muitas
esperanças, pois Lisboa não lhe respondera autorizando
a concessão de vistos. Naquela noite decisiva acolhe o
rabi e a família em sua casa. Na manhã seguinte Lisboa
proíbe o cônsul de conceder vistos aos judeus.
Consciente dos riscos pessoais que corria, juntamente
com a sua grande família, justificou, deste modo, aos
filhos a sua opção em favor da vida e da resistência à
http://bp0.blogger.com/_fvMmtgX9Xf0/R0t77aZ-
tirania nazi:
bxI/AAAAAAAAAM0/yH183dUn1WQ/s1600-h/Ar.jpg
“Não sei o que o futuro reserva para a vossa mãe, para vocês e para mim mesmo.
Materialmente, a vida não será boa para nós como tem sido até agora. Contudo,
sejamos corajosos e tenhamos em mente que, ao dar a esses refugiados a
possibilidade de viverem, teremos uma possibilidade mais de entrar no Reino dos
céus, porque, ao fazê-lo, não faremos mais do que praticar os mandamentos de
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20. Deus.” In AFONSO, Rui, Um Homem Bom – Aristides de Sousa Mendes, o “Wallenberg Português”,
Lisboa, Ed. Caminho, 1995, p. 100.
Aristides de Sousa Mendes sabe que a recusa desses vistos resultaria no fim da
única esperança daquele povo fugir aos trabalhos forçados nas fábricas nazis, aos
campos de concentração e à morte. Inesperadamente Sousa Mendes avisa o rabi
Kruger que dará vistos a todos. Entre os dias 17, 18 e 19 de Junho, o cônsul
português trabalha exaustivamente na concessão dos vistos. Ao lado de dois dos seus
filhos, não pára sequer para comer. Nesses três dias cerca de trinta mil vistos foram
concedidos, contrariando as ordens de Salazar.
Mas a benevolência e a coragem de Aristides de Sousa Mendes não fica por aqui. Em
Bayonne o consulado português obedece às ordens de Lisboa, recusando conceder
vistos. Intrepidamente Sousa Mendes desloca-se até Bayonne, onde fica estarrecido
com a situação que encontra: milhares de refugiados esperavam junto ao consulado
vistos de entrada em Portugal. Autoritário, entrou no edifício e exclamou para os
funcionários: “Ainda sou vosso superior, pois não fui destituído, passem vistos, a quem
os solicitar”, in AFONSO, Rui, Um Homem Bom – Aristides de Sousa Mendes, o “Wallenberg
Português”, Lisboa, Ed. Caminho, 1995, p. 131.
E como é superior ao cônsul de Bayonne, ele mesmo passa milhares de vistos a quem
ali se dirige.
Segue para Hendaya e procede de igual forma. Mais vistos são concedidos.
No dia 24 de Junho Aristides de Sousa Mendes recebe um telegrama de Salazar a
ordenar-lhe que se apresente em Lisboa para responder ao ato de indisciplina por ter
concedido vistos abusivos aos judeus. Acompanhado da família, o cônsul acatou a
ordem, mas ao passarem por Hendaya já quase a entrar em Espanha, foi de novo
surpreendido: muitas centenas de refugiados apinhavam-se na zona da fronteira: o
governo espanhol recebera informação de que os vistos emitidos pelo cônsul
português não eram válidos. Desembaraçando-se dos agentes não desistiu. Pediu aos
refugiados que o seguissem. Falando de forma determinada, conseguiu que os
guardas espanhóis deixassem passar mil refugiados.
Excerto do filme “O Cônsul de Bordéus”
Aristides junto à fronteira Hendaya com os
refugiados
http://www.dn.pt/cartaz/cinema/interior.aspx?content_id=2216396
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21. Seria demitido sem direito à aposentação ou à indemnização após mais de três
décadas de trabalho na diplomacia do seu país.
Últimos Dias
Miséria e Desonra
A volta para Portugal é de punição e humilhação para o cônsul. Em julho de 1940, a
vida de Aristides começava a estilhaçar-se como vidro. Salazar jamais lhe perdoará o
ato de indisciplina. A retaliação aos seus atos é tanta que Sousa Mendes é impedido
de exercer a sua profissão de advogado e os filhos são proibidos de frequentar a
universidade. O seu irmão, também diplomata, é afastado da profissão. Sem receber
pensão do governo, Aristides de Sousa Mendes é remetido à miséria. O palácio do
Passal, construído pelos seus antepassados fidalgos, alberga ainda os refugiados
judeus que chegam a Portugal mas a miséria leva-o a vender os móveis do palácio e a
hipotecá-lo.
http://bp0.blogger.com/_fvMmtgX9Xf0/R0t8gaZ-byI/AAAAAAAAAM8/zm7RUJshywA/s1600-h/Aristides+-
+Passal.jpg
A comunidade israelita de Lisboa auxilia o diplomata com alimentos e possibilita ajuda
a alguns dos seus filhos para que possam ir para os Estados Unidos e para o Canadá.
Aristides de Sousa Mendes é condenado à miséria e à desonra.
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22. Com o fim da guerra em 1945, as atrocidades cometidas pelos nazis ao povo judeu
vieram à luz. Salazar recebe da comunidade internacional todas as honras pela
concessão dos vistos que possibilitou a sobrevivência de milhares de vidas.
Aristides de Sousa Mendes entra com um pedido de reclamação ao governo
português para que o reabilitasse. Mas não lhe é concedida a reabilitação.
Viúvo desde 1948, morre no dia 3 de Abril de 1954, assistido apenas por uma
sobrinha. Todos os seus filhos estavam a viver nos Estados Unidos e no Canadá.
Morre no ostracismo e na miséria, sem jamais obter o perdão do governo português.
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23. Homenagens
Em 1967, em Nova Iorque, a organização israelita para a recordação dos mártires e
heróis do Holocausto, YadVashem, homenageou Aristides de Sousa Mendes com a
sua mais alta distinção: uma medalha comemorativa com a inscrição do Talmude
“Quem salva uma vida humana é como se salvasse um mundo inteiro”.
Salazar impede que a imprensa portuguesa noticie a homenagem. Somente em 1998
o governo português reabilita Aristides de Sousa Mendes. O Palácio Passal continua a
ruir, a transformar-se em escombros, apesar de todos os projetos portugueses para
restaurá-lo.
A função de um cônsul é ser porta-voz do seu governo e do seu país em terras
estrangeiras, não importa que tipo de governo ele representa, democrata ou ditatorial.
Segundo a ética kantiana, o dever do homem está acima do seu prazer e do seu bem-
estar. Ao ir contra uma decisão do governo do qual era porta-voz, Aristides de Sousa
Mendes deixou de ser ético para com o governo do seu país, mas foi ético para com a
humanidade, o que prova que nem sempre as morais vigentes que formam os
conceitos da ética como ciência são dignas do género humano.
Eis uma frase de Aristides de Sousa Mendes ao rabi Kruger, quando soube da sua
demissão naquele verão de 1940, após conceder mais de 30 mil vistos a refugiados
judeus e outras minorias perseguidas:“Rabi, se tantos judeus sofrem por causa de um
demónio não-judeu, também um cristão pode sofrer com o sofrimento de tantos
judeus...”
Apesar de algumas biografias apontarem para
uma suposta raiz judaica, tomando-o por
cristão-novo, Aristides de Sousa Mendes era
cristão na mais antiga da sua genealogia. Um
cristão velho ao serviço da humanidade,
apelidado por muitos como o maior Humanista
português do século XX.
Estátua de Aristides Sousa Mendes em Santarém, da
escultora Margarida Santos (na foto).
Fonte: http://comunidade.sol.pt/blogs/olindagil/archive/2011/03/12/ARISTIDES-DE-SOUSA-
MENDES.aspx
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24. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
AAVV, Aristides de Sousa Mendes – Um Herói Português,Viseu, Ed. Avis, 1999.
AFONSO, Rui, Injustiça, Lisboa, Ed. Caminho, 1990.
AFONSO, Rui, Um Homem Bom – Aristides de Sousa Mendes, o “Wallenberg
Português”, Lisboa, Ed. Caminho, 1995.
BRUCHFELD,Stephane; LEVINE, Paul, co-autor; (trad. José Lima), Contai aos vossos
filhos... :um livro sobre o Holocausto na Europa, 1933-1945,Lisboa,Gótica, 2000.
COUTO, Célia Pinto e ROSAS, Maria Antónia Monterroso, História A 12º ano 1ª parte,
Porto Editora.
FRALON,José-Alain, Aristides de Sousa Mendes – Um Herói Português,(trad.port.)
Lisboa, Editorial Presença, 1999.
FRANK, Anne, O Diário de Anne Frank,Lisboa, Editora Livros do Brasil, 2009.
HAFNER,Sebastian, História de um Alemão - Memórias 1914-1933: O que conduziu a
Alemanha à loucura do nazismo? (trad.Mª Emília Ferros Moura), Lisboa, Publ. Dom
Quixote, 2005.
MAIA, Cristina; BRANDÂO, Isabel Paulos,(Rev.científica: Luís Miguel Duarte), Viva a
História, 9º ano, Porto Editora.
MARTINS, Maria João, O Paraíso Triste. A Vida Quotidiana em Lisboa durante a II
Guerra Mundial, Lisboa, Ed. Veja, 1995.
NERY, Júlia, O Cônsul, Lisboa, Publ. Dom Quixote, 1991.
NETO, Helena e outros, Viver a História, 9º ano,Santillana Constância.
ROSAS, Fernando, Portugal entre a Paz e a Guerra, Lisboa, Ed. Estampa, 1990.
RUY, José, Aristides de Sousa Mendes- Herói do Holocausto, 1ª ed., Lisboa,
Ancora Editora, 2004.
RUUD van der Rol, RIAN Verhoeven, (trad.Matilde Bento), Anne Frank: uma vida;
Porto : Campo das Letras, 1994.
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26. BIBLIOGRAFIA ESSENCIAL
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