Aristides de Sousa Mendes salvou milhares de refugiados como cônsul em Bordéus durante a Segunda Guerra Mundial, desobedecendo às ordens do ditador Salazar de não conceder vistos. Isto levou-o à ruína financeira e pessoal, mas foi posteriormente condecorado por Israel e Portugal.
Aristides de sousa mendes 9ºd(afonso,filipa,rafael)
1.
2. Aristides de Sousa Mendes
Aristides de Sousa Mendes (Fig. 1) foi o diplomata português que salvou
milhares de refugiados no tempo em que era Cônsul em Bordéus - durante a
II Guerra Mundial. Salvou a vida de muitos refugiados que fugiam da
maldade nazi (Fig. 3). Aristides é considerado o Oskar Schindler (Fig. 3) espião e membro do Partido Nazi - português, o que não deixa de ser uma
comparação muito injusta, já que Aristides salvou cerca de 30 mil pessoas
do Holocausto, um número bastante superior aos 1.100 de Oskar.
(Fig. 1)
(Fig. 2)
(Fig. 3)
3. Raízes de Aristides e o
Início da Sua Carreira
Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches
nasceu a 19 de Julho de 1885 em Cabanas de
Viriato, uma pequena vila no distrito de Viseu na
Beira Alta. Foi educado no seio de uma família
aristocrática, conservadora, e com princípios
católicos e monárquicos. Casou-se com a prima,
Angelina de Sousa Mendes (Fig. 4) e juntos tiveram
catorze filhos.
Filhos de um juiz, Aristides e o irmão gémeo César
(Fig. 5), licenciam-se em Direito pela Universidade de
Direito de Coimbra, em 1907. Ambos abraçam
desde logo a carreira diplomática. Aristides ocupou
diversas delegações consulares portuguesas no
mundo: Zanzibar, Brasil, Estados Unidos. O seu
último destino como Cônsul de Portugal foi em
Bordéus, França, no período em que eclodiu a II
Guerra Mundial.
Fig. 4
Fig. 5
4. As Ordens de Salazar
Salazar (Fig. 6), que além de Presidente do Conselho era Ministro dos Negócios
Estrangeiros, proibira os diplomatas de concederem vistos de entrada em
Portugal a „pessoas indesejáveis‟ e a todo o tipo de refugiados através da
Circular nº 14 de 11 de Novembro de 1939.
Citando: “Os cônsules de carreira não podem
conceder vistos sem prévia consulta ao
Ministério dos Negócios estrangeiros. Não
podem passar vistos aos estrangeiros de
nacionalidade indefinida, contestada ou em
litigio, aos apátridas, portadores de passaportes.
E
ainda àqueles que apresentem no seu
passaporte a declaração ou qualquer sinal de
não puderem regressar ao seu país de origem
de onde provêm. Aos judeus, expulsos do país
da sua nacionalidade ou àqueles de onde
provêm.”
Fig. 6
5. Refugiados
Os comboios chegavam a Bordéus
apinhados de gente dos mais
diversos países. Gente perdida, um
desesperado sentido de orfandade.
Naqueles
dias,
milhões
de
franceses
e
de
outras
nacionalidades pegaram no que
puderam
e
puseram-se
em
movimento para sul. A única saída
era Lisboa, o último porto Atlântico
que estava como alternativa. Para
estes fugitivos o próximo passo era
rumar aos EUA (Fig. 7).
Fig. 7
6. Agitação no Consulado
A notícia de que o cônsul português
estava a passar vistos a todos os que lhe
pedissem espalhou-se como um rastilho
de pólvora. As pessoas amontoavam-se à
porta do Consulado numa grande agitação
(Fig. 8), suplicando pelo visto que salvarias
as suas vidas. Aristides recolhia os
passaportes de toda a gente, levava os
documentos para dentro e carimbava.
Depois, com a ajuda de um dos filhos, do
genro, do secretário do consulado e de um
rabi que tinha alojado na sua própria casa
(Fig. 9), regressava com os passaportes
visados que distribuía aos seus respetivos
proprietários.
Fig. 8
Fig. 9
7. Quem foi salvo
Apesar de ter tudo a perder, Aristides acusou-se a acatar a proibição de Salazar.
Seguindo a sua formação católica e humanista, desobedeceu. Aristides passou
vistos (Fig.10) entre 17 e 25 de Junho de 1940 sem olhar à nacionalidade, religião,
etnia ou condição social. Ao todo salvou certa de 30 mil pessoas entre elas perto
de 10 mil judeus.
O Cônsul português passou vistos a
personalidades importantes da época
como o pintor Salvador Dali e sua
esposa Gala (Fig. 11), a família
Rothschild, o ator norte-americano
Robert Montgomery (família judaica
muito poderosa) e a família real de
Luxemburgo,
membros do então
governo belga.
Fig. 10
Fig. 11
8. Penalização e Morte de
Aristides
O gesto humanitário de Sousa Mendes acabou por condicionar o resto da sua
vida: Foi-lhe instaurado um processo disciplinar que o impediria de prosseguir
a carreira diplomática, situação que o levaria a si e à sua família a uma
situação de ruína financeira. Depois dos nove dias de Junho de 1940 o apelido
Sousa Mendes passa a ficar manchado entre as elites políticas. Os seus filhos
viram-se então forçados a emigrar para o Canadá, para os Estados Unidos,
para a Palestina, entre outros países.
Embora consciente das consequências que a sua atitude teve para si e para a
sua família, o cônsul português nunca se arrependeu da sua escolha.
Apesar do apoio da comunidade israelita de Lisboa, Aristides de Sousa
Mendes acabaria por sucumbir às dificuldades financeiras e aos sucessivos
AVC‟s de que foi vítima. Morre numa clínica em Lisboa a 3 de Abril de 1954
com 68 anos.
9. Condecorações
Aristides de Sousa Mendes foi durante muitos anos
esquecido pelos seus compatriotas. A mobilização
da família e de alguns judeus norte-americanos,
salvos pelo Cônsul de Portugal em Bordéus,
contribuíram para que a organização judaica Yad
Vashem atribuísse a Sousa Mendes uma medalha
de ouro a título póstumo, a mais alta condecoração
do Estado de Israel (Fig. 12). A medalha faz
referência a uma citação do Talmud:
"Quem salva uma vida salva o universo inteiro".
Passados 40 anos da sua morte, em 1988, Aristides
de Sousa Mendes é finalmente condecorado pela
República Portuguesa com a Cruz de Mérito a título
póstumo pelas suas ações em Bordéus.
Fig. 12
10. Refugiados nas Caldas
Em 1942, quando a política de controlo das
autoridades portuguesas se afirmara e a
perseguição nazi aos judeus atingia a sua
dimensão mais terrível, o Governo
determinou o internamento em zonas de
residência a todos aqueles que tivessem
entrado ou permanecessem ilegalmente
em Portugal. Era o caso, nomeadamente,
dos que tinham entrado clandestinamente
ou com vistos passados por Aristides
Sousa Mendes, ou que não tivessem
conseguido visto ou passagens para outros
países. As zonas de residência criadas
foram: Caldas da Rainha (Fig. 13), Ericeira,
Figueira da Foz e Curia.
Fig. 13