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“ A fé é um conhecimento para  o qual é preciso despertar, é Deus conhecendo-se  a Si mesmo em nós.” Jean-Yves Leloup
A lufada de vento arranca folhas  das plantas.
Entrego-me  à causa que  é esperança.
Uma saudade.  Funda, farta,  forte, fértil.
Seis anos, Quatro meses, Nove dias.
À noite  segue o dia. Não há tribulação  sem consolação.
O reencontro.
O abraço e o riso, a comemoração.
Um toque, uma palavra, um olhar.
A mãe, e a filha.
O tão esperado beijo, após a mais  longa e penosa espera.
“ Esses filhos são minha luz,  minha lua, minhas estrelas.”
“ Por eles encontrei coragem para  enfrentar a selva, para voltar a vê-los.”
 
As lágrimas. Feitos de  barro e sopro,  somos um feixe  de surpreendentes emoções.
O amor  dos filhos. E o amor  dos pais.
Ingrid Betancourt  nasceu no dia de Natal,  em dezembro de 1961. Como todos os pais,  sua mãe e seu pai  desejam à filha  recém-nascida todo  o bem do mundo.
“ Que encontre na felicidade  uma constante companheira, filha amada. Saiba que se  te machucares, Nós também  iremos  nos ferir...”
cabe aos pais conduzir os  passos dos filhos pelo  melhor dos caminhos.  Diante do oceano de possibilidades da vida,
E Ingrid teve nos  seus pais um vivo exemplo  de generosidade,  de integridade,  e de amoroso serviço ao próximo necessitado.
A mãe de Ingrid, dona Yolanda Pulecio, sempre  esteve envolvida em  causas sociais.  Ainda no ano de 1958, criou o Albergue  Infantil de Bogotá,  instituição destinada a acolher menores carentes  em situação de risco social.
Yolanda Pulecio,  em 1958.
Ao longo de mais  de cinco décadas  de existência,  aproximadamente  12.000 crianças  encontraram abrigo  na instituição.
Hoje, ao caminhar pela  capital colombiana, dona Yolanda não raramente se depara com algum  ex-aluno da instituição,  já adulto, que a abraça e agradece todo o carinho  e cuidado recebidos,  tratando-a carinhosamente  por “Máma Yolanda”.
E, no exemplo da  sua querida mãe, encontrou Ingrid a  lição da importância  do cuidado e  da compaixão.
O olhar da mãe  e o olhar da filha. Missão, dever,  destino. O que é que torna  plena uma vida?
A Caridade,  a Compaixão e a Justiça. Os movimentos da alma. A leveza proporcionada  pela conscientização  do dever a ser cumprido, –  a promoção da  dignidade humana.
“ A vida, para ser bela,  deve estar cercada  de verdade, de bondade,  de liberdade.  Essas são as coisas  pelas quais vale  a pena morrer.” Rubem Alves
O pai de Ingrid, Gabriel Betancourt,  dedicou a sua vida a outra causa igualmente  nobre, – a promoção  da educação e da cultura.
Atuou, inicialmente,  como ministro da Educação,  na Colômbia, sendo posteriormente designado embaixador  colombiano na Unesco,  o que motivou a mudança  da família para a França,  quando Ingrid ainda  era pequena.
A residência da família  era um local de encontro  para renomados pensadores  e artistas latino-americanos,  como Pablo Neruda,  Fernando Botero e  Gabriel García Márquez.
Dentre as recordações  de Ingrid desta época  figuram as tardes que  ela, adolescente, passava  lendo poesia ao lado  de Pablo Neruda.
Certa vez, perguntaram  ao poeta qual a coisa  mais importante  do mundo, ao que ele respondeu:  “ Tratar de que  o mundo seja digno  para todas as vidas humanas, não só  para algumas.”
E Ingrid cresce ouvindo  os conselhos de seu pai: “ Foi graças à Colômbia  que você conheceu  a Europa, frequentou as  melhores escolas e viveu  um esplendor cultural  que colombiano algum  dificilmente conhecerá...”
“ Todas essas possibilidades  de que você se beneficia  fazem com que hoje  você tenha uma dívida  com o país.  Não se esqueça disso.”
E com tais palavras em  mente, Ingrid se forma  em Ciências Sociais, pelo  Instituto de Estudos  Políticos de Paris. Em 1983, casa-se com  o diplomata francês  Fabrice Delloye, com quem  tem dois filhos, Mélanie,  nascida em 1985, e  Lorenzo, nascido em 1988.
Aos 29 anos de idade,  depois de conhecer as vantagens de uma  vida confortável  e privilegiada na  capital francesa,  Ingrid Betancourt resolve  fazer o inimaginável.
Lança-se de corpo e alma, disposta a contribuir  na plena medida de suas  forças para o resgate  de seu país de origem,  a Colômbia.
Um país mergulhado  num cenário explosivo,  caracterizado pelo poder dos narcotraficantes,  a corrupção de autoridades,  e o terror dos paramilitares  de extrema direita.
Uma jovem mulher,  com os seus sonhos  e as suas esperanças. O que seria de nós,  se não sonhássemos?...
Em 1994, aos 33 anos,  é eleita Deputada,  com a maior votação  registrada no país. Incansável militante,  torna-se uma árdua  promotora da justiça  social e da educação,  elegendo-se posteriormente Senadora, outra vez com a maior votação já registrada para o cargo no país.
Uma vez que a causa  que abraça,  –  o combate à corja de  políticos corruptos  e ao narcotráfico –, defronta muitos  interesses escusos, não tarda até que comece  a receber seguidas  ameaças de morte.
Tais ameaças, no entanto, apenas reforçam a sua  convicção da necessidade  de seus esforços e da validade  da causa pela qual luta. Ingrid mantém a sua agenda,  sendo que a única mudança  na sua rotina é o colete à  prova de balas, que passa  a usar constantemente.
Uma jovem mulher, com a sua fé e a sua coragem.
Coragem significa arriscar  o conhecido em nome  do desconhecido,  o familiar pelo não familiar, o que é confortável  pela peregrinação  desconfortável e árdua  rumo a outro destino.
Não é possível saber se conseguiremos fazer  a travessia ou não.  É uma aposta. Mas apenas os que  apostam sabem  o que é a vida.
E em 2002, aos 40 anos  de idade, Ingrid Betancourt  resolve se candidatar à  presidência da Colômbia.
23 de fevereiro de 2002 Foto tirada minutos antes de seu sequestro.
Em plena campanha presidencial,  vestindo uma camiseta que leva o slogan  da sua campanha – “Colombia Nueva”.
Durante o deslocamento para o vilarejo de San Vicente,  a emboscada, o sequestro, a violência.
Ingrid é arrancada  do veículo, e  levada prisioneira  para o desconhecido. Uma guerrilha tão sangrenta,  quanto imprevisível. O cruel cativeiro  nas densas florestas colombianas.
A fragilidade feminina diante do cruel encarceramento. A sua fragilidade,  e a sua força...
tornando praticamente impossível a sua localização por aeronaves  que porventura  sobrevoassem a área. Um cativeiro localizado em meio à densa vegetação, sob várias camadas de sombras formadas pela copa das árvores,
Sombras sobre sombras, fazendo com que por vezes  os reféns fiquem vários  dias sem ver a luz do sol.
E apenas um mês após o sequestro, o pai de Ingrid, em meio  ao desespero, vem a falecer em decorrência  de problemas  cardio-respiratórios.
A família lança um apelo humanitário,  para que Ingrid seja liberta, de modo a poder participar do enterro do pai.  O pedido é ignorado.
Os constantes deslocamentos, visando dificultar possíveis  operações de localização  e resgate.  As durezas da rotina nos acampamentos,  as longas marchas mata adentro,  todas as privações, humilhações, torturas.
Num vídeo gravado como  prova de vida, Ingrid afirma: “ Estou bem, estou viva.  Só peço a Deus que  me ajude a colocar  um pé na frente do  outro para poder  andar dia após dia.”
Numa entrevista concedida após  a sua libertação, Ingrid recorda: “ Nós (os sequestrados)  levávamos a dor  do mundo em todas  as suas dimensões.  Em todas as  suas expressões”.
“ A floresta é um lugar hostil. Tudo dói nela. A pele não é um espaço de proteção, mas de dor.  Comer dói,  ir ao banheiro dói,  tomar banho dói, viver dói, respirar dói. Não ver o céu dói. Não ver as pessoas  que a gente ama dói”.
“ Os incessantes sons macabros dos animais, e, à noite, o som dos gemidos  dos companheiros que choravam dormindo  e gritavam seus pesadelos”. “ Um deserto  de afeição,  de solidariedade,  de afeto.”
“ Como reféns, passávamos por  uma humilhação constante. Éramos vítimas de total arbitrariedade. Você passa a conhecer  o pior que pode existir  numa alma humana.”
“ O que me permitiu passar por tamanho sofrimento foi o sentimento  de que Deus estava ao nosso lado. Não fosse por este  sentimento, dificilmente  conseguiria suportar  as penas impostas  no cativeiro.”
Desce a tarde.  No céu, luz sutilíssima,  quase invisível, está  o primeiro sinal da lua.
E por cinco  vezes, Ingrid tenta fugir  do cruel cativeiro. Em uma das ocasiões, passa três dias perdida  na selva antes de ser recapturada.
Ela conta que durante  os dias que passou  perdida na selva, era motivo de alívio  e tranquilidade sentir-se  livre, a salvo dos olhares vigilantes dos guardas, das armas e das correntes. apesar de todos os  riscos e das incertezas  a que estava exposta,
Acrescenta que parte  da noite buscava  uma clareira em meio  à densa vegetação,  e ao se deitar contemplava,  em liberdade, a lua e  as estrelas antes de dormir.
E, em meio ao desconhecido, não sabia para que lado ir, se encontraria algo com  que pudesse se alimentar,  ou mesmo se sairia viva  daquela situação. Sabia, porém, que estava  livre, e isto lhe bastava.
“ Durante os anos de  cativeiro, descobri que  a liberdade é tão vital  quanto o oxigênio. Ingrid Betancourt Ela é a principal chave  para a dignidade humana.”
“ Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, Cecília Meireles que não há ninguém  que explique e ninguém que  não entenda...”
O alvorecer de mais um dia, recebido na  frágil liberdade que a fuga concedera.
O incessante caminhar, até o fim  das forças ao cair da noite.
A serena beleza  do horizonte  só encontra sentido  quando se está livre. O côncavo do céu,  e a interrogação  das estrelas.
E após cada captura, o castigo redobrado. A fragilidade de um corpo,  diante das garras do agressor. As correntes cada vez mais pesadas, as privações e humilhações  cada vez mais severas.
Não raro, os carcereiros executam os fugitivos  que são recapturados, de modo a servir de lição, e desencorajar os demais reféns. Ingrid Betancourt, no entanto, é considerada  uma moeda de troca de  alto valor, o que faz com  que sua vida seja poupada.
Embora lhe poupem  a vida, não lhe  aliviam os castigos,  cada vez mais severos  após cada tentativa de fuga.
Numa ocasião,  ela é acorrentada pelo  pescoço a uma árvore. Por três dias é forçada  a permanecer em pé,  sob o jugo do cruel castigo, até que resolvam lhe  abrandar a pena.
Em outra ocasião,  Ingrid tem as  botas confiscadas.
Outra punição para  os fugitivos capturados  é atormentá-los durante  o sono com tarântulas  e cobras.  Lembrando-lhes que a selva  que os cerca está infestada  destes e outros perigos.
A fragilidade de  uma mulher  e a sua fortaleza. A sua fé, e  o seu calvário...
Certa vez, determinaram  que Ingrid deveria reparar  e costurar os uniformes  gastos e rasgados. Além da pilha de uniformes velhos, entregaram-lhe também  material de costura.
Foi nessa ocasião  que ela confeccionou, com linhas, botões  e alguns gravetos,  o rosário que viria a  acompanhá-la durante  as duras penas  do cativeiro.
Um símbolo  de fé. Um símbolo  de resistência.
Um símbolo  de fé. Um símbolo  de resistência.
“ Na selva eu perdi  a infância de  meus filhos...  e ganhei Deus,  ganhei humildade  e muito amor  pelo mundo.”
Tribulações podem  ser joias para  a alma, uma ocasião para  a elevação do  espírito.
Quantas lágrimas não regaram o solo  do cativeiro em meio à selva fechada?
A ilimitada resignação necessária  quando a fé é testada até o extremo.
Na nossa caminhada pela vida terrena,  há momentos em que somos obrigados a peregrinar por terras candentes e áridas.
Há momentos em que constatamos  que, salvo a nossa fé e a nossa esperança,  tudo mais nos foi roubado, tudo mais perdemos.
E é neste instante que descobrimos  que tudo ainda possuímos...
Salvo a Fé, o Amor e a Esperança, tudo mais perece.
São os sonhos dos homens que  sustentam o mundo em sua órbita.
Que seria de nós,  se não sonhássemos?...
Um antigo  ditado ensina: “ Quanto mais  intenso o inverno, mais bela a primavera floresce ...”
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02 de julho, 2008. O milagre do resgate.
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O tão aguardado abraço.
Quem algum dia sondará o que se passou  no coração desta mãe, e no coração da sua filha?...
 
Feitos de  barro e sopro,  somos um feixe  de surpreendentes emoções.
Não há tribulação  sem consolação,  já diziam  os povos antigos.
A supressão do  tempo na dilatação amorosa do espírito. Há momentos  em que o Amor derrama-se abundante,  gratuito, fundo  e forte.
E nos dias de cativeiro, a constante  lembrança dos filhos –  Mélanie e Lorenzo, de quem fora apartada ainda pequenos.
Mélanie contava,  então, com dezesseis anos de idade,  e Lorenzo, com  apenas treze.
O tempo que corre sem cessar.  E que transforma crianças  e adolescentes  em jovens adultos.
Lacunas a serem preenchidas.
Lembranças e histórias  a serem compartilhadas...
Diante da pergunta  se o dia mais feliz  da sua vida foi o dia  da sua libertação,  Ingrid, sem hesitar  por um segundo, responde...
...que não, acrescentando que  os dias mais felizes  da sua vida foram  as datas em que  seus filhos tão amados nasceram.
E ao ser questionada  sobre a carreira  política interrompida, ela responde que  a sua experiência  político-partidária  a fez perder as  esperanças de que as  mudanças necessárias  possam advir da  arena política.
Acrescenta  que abandona  a política partidária, mas não a Política. A Política com  “ p” maiúsculo, que  move, que mobiliza,  que impulsiona  rumo ao Amor,  à Justiça, e  à Solidariedade.
A Política  do Amor. A Política da Compaixão. A Política da Fraternidade.
E apenas poucas semanas após a  sua libertação, Ingrid inicia uma série  de visitas a presidentes e autoridades,  com o intuito de  agradecer o apoio  que resultou na  sua soltura,...
...e, principalmente, de mobilizar as lideranças  para a urgente necessidade de se buscar saídas  para o impasse dos tantos que ainda se encontram  sequestrados e mantidos cativos nas  selvas colombianas.
A incansável  caminhada – agendas, encontros, reuniões. A utopia de  um outro  mundo possível.
Brasil
Chile Bolívia
Equador Venezuela
Espanha México
Argentina
Peru Colômbia
França
Título de “Cidadã de Honra”,  conferido pela Prefeitura de Paris.
“ Ontem chorava lágrimas de tristeza, hoje, lágrimas de alegria...”
Na Sede da Organização  das Nações Unidas  (ONU) Nova York, EUA
Troféu “Pellegrino di Pace”  (“Peregrino da Paz”) Roma, Itália
Na cerimônia de encerramento da conferência “ A Civilização da Paz: Diálogo entre Culturas  e Religiões”, Ingrid dirigiu-se aos participantes:
“ É preciso acreditar num mundo melhor,  que o bem sempre vence o mal, e que nos próximos dias haveremos de testemunhar o início do tempo do espírito,  tão esperado por nós.”
“ Os valores da nossa civilização devem mudar,  com a sede de poder e a ganância dando lugar  ao serviço e à doação.”
“ A verdadeira mudança deve começar  em cada um de nós. É a partir do somatório  das mudanças individuais que poderemos  construir um mundo melhor.”
“ Nós somos os construtores de um tempo novo,  aqueles que inauguram um tempo novo do espírito,  um tempo oportuno para que os sonhos  se tornem realidade.”
“ Com a fé tudo é possível.”
Evento promovido  pela comissão organizadora do  Prêmio Nobel da Paz.
Ao lado de Bono Vox,  ativista com trabalhos humanitários na África.
O emocionante reencontro com  o policial colombiano Pinchao,  ex-companheiro de cativeiro.
Depois de oito anos no cativeiro, Pinchao conseguiu fugir,  em 2007, do acampamento onde era mantido refém,  deixando-se levar, durante uma tempestade,  para a liberdade pela correnteza de um rio,  seguido de dezoito dias de caminhada pela selva.
Recordando os tempos difíceis de cativeiro,  e o apoio recebido em tais horas, ele afirma:  “ Ingrid foi minha luz, meu caminho, meu guia  nos momentos em que estava na escuridão”.
Prêmio  “ Mulher do Ano 2008” Viena, Áustria
Encontro “Como construir um mundo melhor”
Ao lado de Luis Eladio Pérez, ex-congressista colombiano, que aborda em seu livro, intitulado “Inferno Verde”, os sete anos em que  permaneceu confinado no cárcere das Farc.
Durante o lançamento  do livro de seu ex- colega de cativeiro,  Ingrid, com a voz embargada e chorando  em alguns momentos,  lembrou os reféns que  ainda permanecem  cativos na selva,  à espera de resgate:
“ Sou muito feliz...  mas meu coração  ainda está preso  nas árvores da  floresta...”
 
A importância dos vínculos afetivos.
“ Minha terapia é o amor de minha família,  com eles eu volto a ser feliz”,...
...afirma Ingrid, cercada dos filhos, da mãe,  da irmã, Astrid, e do sobrinho.
Uma família feliz nada mais é  que o paraíso antecipado.
Entrega do Prêmio  Príncipe de Astúrias  da Concórdia 2008.  Cidade de Oviedo, Espanha.
Um reconhecimento  “ da dignidade e da  coragem” de Ingrid  diante do cativeiro.
Segundo o júri, ela personifica todos  aqueles no mundo  que estão privados  de liberdade devido à “defesa  dos direitos humanos  e luta contra  a violência,  a corrupção e  o narcotráfico”.
Ingrid, após afirmar que não merece  “ semelhante distinção”, aceita receber o prêmio,  com “imensa emoção, muito respeito e humildade”  em nome de seus antigos colegas de cativeiro,  vivos e mortos.
Dedica o prêmio à sua “amada Pátria, a Colômbia,  sedenta de concórdia e paz”.  E, agradecendo a Deus, pede para que Ele a guie para  “ poder responder com altura e sabedoria às oportunidades  que se abrem para servir aos que sofrem,  e ser a voz dos que não podem se expressar”.
“ Atrevo-me a receber o prêmio em nome  de meus companheiros sequestrados,  aqueles que estão esperando sua vez para a liberdade,  e, com muito amor, em nome dos meus companheiros  que não voltarão, aqueles que morreram na selva”.
 
Cerimônia de entrega  da medalha da  “ Legião da Honra”,  a mais alta condecoração  da França.
O mundo, e as voltas que ele dá.
 
A fragilidade e a força,  a fé e a coragem  de uma mulher. A fragilidade e a força,  a fé e a coragem  de todas as mulheres.
A fragilidade e a força,  a fé e a coragem  de uma mulher. A fragilidade e a força,  a fé e a coragem  de todas as mulheres. Tema musical:  La Vie Continue (Andre Rieu)   Formatação:  [email_address]
 
 

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A Força e a Fragilidade de Ingrid Betancourt

  • 1. “ A fé é um conhecimento para o qual é preciso despertar, é Deus conhecendo-se a Si mesmo em nós.” Jean-Yves Leloup
  • 2. A lufada de vento arranca folhas das plantas.
  • 3. Entrego-me à causa que é esperança.
  • 4. Uma saudade. Funda, farta, forte, fértil.
  • 5. Seis anos, Quatro meses, Nove dias.
  • 6. À noite segue o dia. Não há tribulação sem consolação.
  • 8. O abraço e o riso, a comemoração.
  • 9. Um toque, uma palavra, um olhar.
  • 10. A mãe, e a filha.
  • 11. O tão esperado beijo, após a mais longa e penosa espera.
  • 12. “ Esses filhos são minha luz, minha lua, minhas estrelas.”
  • 13. “ Por eles encontrei coragem para enfrentar a selva, para voltar a vê-los.”
  • 14.  
  • 15. As lágrimas. Feitos de barro e sopro, somos um feixe de surpreendentes emoções.
  • 16. O amor dos filhos. E o amor dos pais.
  • 17. Ingrid Betancourt nasceu no dia de Natal, em dezembro de 1961. Como todos os pais, sua mãe e seu pai desejam à filha recém-nascida todo o bem do mundo.
  • 18. “ Que encontre na felicidade uma constante companheira, filha amada. Saiba que se te machucares, Nós também iremos nos ferir...”
  • 19. cabe aos pais conduzir os passos dos filhos pelo melhor dos caminhos. Diante do oceano de possibilidades da vida,
  • 20. E Ingrid teve nos seus pais um vivo exemplo de generosidade, de integridade, e de amoroso serviço ao próximo necessitado.
  • 21. A mãe de Ingrid, dona Yolanda Pulecio, sempre esteve envolvida em causas sociais. Ainda no ano de 1958, criou o Albergue Infantil de Bogotá, instituição destinada a acolher menores carentes em situação de risco social.
  • 22. Yolanda Pulecio, em 1958.
  • 23. Ao longo de mais de cinco décadas de existência, aproximadamente 12.000 crianças encontraram abrigo na instituição.
  • 24. Hoje, ao caminhar pela capital colombiana, dona Yolanda não raramente se depara com algum ex-aluno da instituição, já adulto, que a abraça e agradece todo o carinho e cuidado recebidos, tratando-a carinhosamente por “Máma Yolanda”.
  • 25. E, no exemplo da sua querida mãe, encontrou Ingrid a lição da importância do cuidado e da compaixão.
  • 26. O olhar da mãe e o olhar da filha. Missão, dever, destino. O que é que torna plena uma vida?
  • 27. A Caridade, a Compaixão e a Justiça. Os movimentos da alma. A leveza proporcionada pela conscientização do dever a ser cumprido, – a promoção da dignidade humana.
  • 28. “ A vida, para ser bela, deve estar cercada de verdade, de bondade, de liberdade. Essas são as coisas pelas quais vale a pena morrer.” Rubem Alves
  • 29. O pai de Ingrid, Gabriel Betancourt, dedicou a sua vida a outra causa igualmente nobre, – a promoção da educação e da cultura.
  • 30. Atuou, inicialmente, como ministro da Educação, na Colômbia, sendo posteriormente designado embaixador colombiano na Unesco, o que motivou a mudança da família para a França, quando Ingrid ainda era pequena.
  • 31. A residência da família era um local de encontro para renomados pensadores e artistas latino-americanos, como Pablo Neruda, Fernando Botero e Gabriel García Márquez.
  • 32. Dentre as recordações de Ingrid desta época figuram as tardes que ela, adolescente, passava lendo poesia ao lado de Pablo Neruda.
  • 33. Certa vez, perguntaram ao poeta qual a coisa mais importante do mundo, ao que ele respondeu: “ Tratar de que o mundo seja digno para todas as vidas humanas, não só para algumas.”
  • 34. E Ingrid cresce ouvindo os conselhos de seu pai: “ Foi graças à Colômbia que você conheceu a Europa, frequentou as melhores escolas e viveu um esplendor cultural que colombiano algum dificilmente conhecerá...”
  • 35. “ Todas essas possibilidades de que você se beneficia fazem com que hoje você tenha uma dívida com o país. Não se esqueça disso.”
  • 36. E com tais palavras em mente, Ingrid se forma em Ciências Sociais, pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris. Em 1983, casa-se com o diplomata francês Fabrice Delloye, com quem tem dois filhos, Mélanie, nascida em 1985, e Lorenzo, nascido em 1988.
  • 37. Aos 29 anos de idade, depois de conhecer as vantagens de uma vida confortável e privilegiada na capital francesa, Ingrid Betancourt resolve fazer o inimaginável.
  • 38. Lança-se de corpo e alma, disposta a contribuir na plena medida de suas forças para o resgate de seu país de origem, a Colômbia.
  • 39. Um país mergulhado num cenário explosivo, caracterizado pelo poder dos narcotraficantes, a corrupção de autoridades, e o terror dos paramilitares de extrema direita.
  • 40. Uma jovem mulher, com os seus sonhos e as suas esperanças. O que seria de nós, se não sonhássemos?...
  • 41. Em 1994, aos 33 anos, é eleita Deputada, com a maior votação registrada no país. Incansável militante, torna-se uma árdua promotora da justiça social e da educação, elegendo-se posteriormente Senadora, outra vez com a maior votação já registrada para o cargo no país.
  • 42. Uma vez que a causa que abraça, – o combate à corja de políticos corruptos e ao narcotráfico –, defronta muitos interesses escusos, não tarda até que comece a receber seguidas ameaças de morte.
  • 43. Tais ameaças, no entanto, apenas reforçam a sua convicção da necessidade de seus esforços e da validade da causa pela qual luta. Ingrid mantém a sua agenda, sendo que a única mudança na sua rotina é o colete à prova de balas, que passa a usar constantemente.
  • 44. Uma jovem mulher, com a sua fé e a sua coragem.
  • 45. Coragem significa arriscar o conhecido em nome do desconhecido, o familiar pelo não familiar, o que é confortável pela peregrinação desconfortável e árdua rumo a outro destino.
  • 46. Não é possível saber se conseguiremos fazer a travessia ou não. É uma aposta. Mas apenas os que apostam sabem o que é a vida.
  • 47. E em 2002, aos 40 anos de idade, Ingrid Betancourt resolve se candidatar à presidência da Colômbia.
  • 48. 23 de fevereiro de 2002 Foto tirada minutos antes de seu sequestro.
  • 49. Em plena campanha presidencial, vestindo uma camiseta que leva o slogan da sua campanha – “Colombia Nueva”.
  • 50. Durante o deslocamento para o vilarejo de San Vicente, a emboscada, o sequestro, a violência.
  • 51. Ingrid é arrancada do veículo, e levada prisioneira para o desconhecido. Uma guerrilha tão sangrenta, quanto imprevisível. O cruel cativeiro nas densas florestas colombianas.
  • 52. A fragilidade feminina diante do cruel encarceramento. A sua fragilidade, e a sua força...
  • 53. tornando praticamente impossível a sua localização por aeronaves que porventura sobrevoassem a área. Um cativeiro localizado em meio à densa vegetação, sob várias camadas de sombras formadas pela copa das árvores,
  • 54. Sombras sobre sombras, fazendo com que por vezes os reféns fiquem vários dias sem ver a luz do sol.
  • 55. E apenas um mês após o sequestro, o pai de Ingrid, em meio ao desespero, vem a falecer em decorrência de problemas cardio-respiratórios.
  • 56. A família lança um apelo humanitário, para que Ingrid seja liberta, de modo a poder participar do enterro do pai. O pedido é ignorado.
  • 57. Os constantes deslocamentos, visando dificultar possíveis operações de localização e resgate. As durezas da rotina nos acampamentos, as longas marchas mata adentro, todas as privações, humilhações, torturas.
  • 58. Num vídeo gravado como prova de vida, Ingrid afirma: “ Estou bem, estou viva. Só peço a Deus que me ajude a colocar um pé na frente do outro para poder andar dia após dia.”
  • 59. Numa entrevista concedida após a sua libertação, Ingrid recorda: “ Nós (os sequestrados) levávamos a dor do mundo em todas as suas dimensões. Em todas as suas expressões”.
  • 60. “ A floresta é um lugar hostil. Tudo dói nela. A pele não é um espaço de proteção, mas de dor. Comer dói, ir ao banheiro dói, tomar banho dói, viver dói, respirar dói. Não ver o céu dói. Não ver as pessoas que a gente ama dói”.
  • 61. “ Os incessantes sons macabros dos animais, e, à noite, o som dos gemidos dos companheiros que choravam dormindo e gritavam seus pesadelos”. “ Um deserto de afeição, de solidariedade, de afeto.”
  • 62. “ Como reféns, passávamos por uma humilhação constante. Éramos vítimas de total arbitrariedade. Você passa a conhecer o pior que pode existir numa alma humana.”
  • 63. “ O que me permitiu passar por tamanho sofrimento foi o sentimento de que Deus estava ao nosso lado. Não fosse por este sentimento, dificilmente conseguiria suportar as penas impostas no cativeiro.”
  • 64. Desce a tarde. No céu, luz sutilíssima, quase invisível, está o primeiro sinal da lua.
  • 65. E por cinco vezes, Ingrid tenta fugir do cruel cativeiro. Em uma das ocasiões, passa três dias perdida na selva antes de ser recapturada.
  • 66. Ela conta que durante os dias que passou perdida na selva, era motivo de alívio e tranquilidade sentir-se livre, a salvo dos olhares vigilantes dos guardas, das armas e das correntes. apesar de todos os riscos e das incertezas a que estava exposta,
  • 67. Acrescenta que parte da noite buscava uma clareira em meio à densa vegetação, e ao se deitar contemplava, em liberdade, a lua e as estrelas antes de dormir.
  • 68. E, em meio ao desconhecido, não sabia para que lado ir, se encontraria algo com que pudesse se alimentar, ou mesmo se sairia viva daquela situação. Sabia, porém, que estava livre, e isto lhe bastava.
  • 69. “ Durante os anos de cativeiro, descobri que a liberdade é tão vital quanto o oxigênio. Ingrid Betancourt Ela é a principal chave para a dignidade humana.”
  • 70. “ Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, Cecília Meireles que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda...”
  • 71. O alvorecer de mais um dia, recebido na frágil liberdade que a fuga concedera.
  • 72. O incessante caminhar, até o fim das forças ao cair da noite.
  • 73. A serena beleza do horizonte só encontra sentido quando se está livre. O côncavo do céu, e a interrogação das estrelas.
  • 74. E após cada captura, o castigo redobrado. A fragilidade de um corpo, diante das garras do agressor. As correntes cada vez mais pesadas, as privações e humilhações cada vez mais severas.
  • 75. Não raro, os carcereiros executam os fugitivos que são recapturados, de modo a servir de lição, e desencorajar os demais reféns. Ingrid Betancourt, no entanto, é considerada uma moeda de troca de alto valor, o que faz com que sua vida seja poupada.
  • 76. Embora lhe poupem a vida, não lhe aliviam os castigos, cada vez mais severos após cada tentativa de fuga.
  • 77. Numa ocasião, ela é acorrentada pelo pescoço a uma árvore. Por três dias é forçada a permanecer em pé, sob o jugo do cruel castigo, até que resolvam lhe abrandar a pena.
  • 78. Em outra ocasião, Ingrid tem as botas confiscadas.
  • 79. Outra punição para os fugitivos capturados é atormentá-los durante o sono com tarântulas e cobras. Lembrando-lhes que a selva que os cerca está infestada destes e outros perigos.
  • 80. A fragilidade de uma mulher e a sua fortaleza. A sua fé, e o seu calvário...
  • 81. Certa vez, determinaram que Ingrid deveria reparar e costurar os uniformes gastos e rasgados. Além da pilha de uniformes velhos, entregaram-lhe também material de costura.
  • 82. Foi nessa ocasião que ela confeccionou, com linhas, botões e alguns gravetos, o rosário que viria a acompanhá-la durante as duras penas do cativeiro.
  • 83. Um símbolo de fé. Um símbolo de resistência.
  • 84. Um símbolo de fé. Um símbolo de resistência.
  • 85. “ Na selva eu perdi a infância de meus filhos... e ganhei Deus, ganhei humildade e muito amor pelo mundo.”
  • 86. Tribulações podem ser joias para a alma, uma ocasião para a elevação do espírito.
  • 87. Quantas lágrimas não regaram o solo do cativeiro em meio à selva fechada?
  • 88. A ilimitada resignação necessária quando a fé é testada até o extremo.
  • 89. Na nossa caminhada pela vida terrena, há momentos em que somos obrigados a peregrinar por terras candentes e áridas.
  • 90. Há momentos em que constatamos que, salvo a nossa fé e a nossa esperança, tudo mais nos foi roubado, tudo mais perdemos.
  • 91. E é neste instante que descobrimos que tudo ainda possuímos...
  • 92. Salvo a Fé, o Amor e a Esperança, tudo mais perece.
  • 93. São os sonhos dos homens que sustentam o mundo em sua órbita.
  • 94. Que seria de nós, se não sonhássemos?...
  • 95. Um antigo ditado ensina: “ Quanto mais intenso o inverno, mais bela a primavera floresce ...”
  • 96. Um antigo ditado ensina: “ Quanto mais intenso o inverno, mais bela a primavera floresce ...”
  • 97. 02 de julho, 2008. O milagre do resgate.
  • 98. 02 de julho, 2008. O milagre do resgate.
  • 99. O tão aguardado abraço.
  • 100. Quem algum dia sondará o que se passou no coração desta mãe, e no coração da sua filha?...
  • 101.  
  • 102. Feitos de barro e sopro, somos um feixe de surpreendentes emoções.
  • 103. Não há tribulação sem consolação, já diziam os povos antigos.
  • 104. A supressão do tempo na dilatação amorosa do espírito. Há momentos em que o Amor derrama-se abundante, gratuito, fundo e forte.
  • 105. E nos dias de cativeiro, a constante lembrança dos filhos – Mélanie e Lorenzo, de quem fora apartada ainda pequenos.
  • 106. Mélanie contava, então, com dezesseis anos de idade, e Lorenzo, com apenas treze.
  • 107. O tempo que corre sem cessar. E que transforma crianças e adolescentes em jovens adultos.
  • 108. Lacunas a serem preenchidas.
  • 109. Lembranças e histórias a serem compartilhadas...
  • 110. Diante da pergunta se o dia mais feliz da sua vida foi o dia da sua libertação, Ingrid, sem hesitar por um segundo, responde...
  • 111. ...que não, acrescentando que os dias mais felizes da sua vida foram as datas em que seus filhos tão amados nasceram.
  • 112. E ao ser questionada sobre a carreira política interrompida, ela responde que a sua experiência político-partidária a fez perder as esperanças de que as mudanças necessárias possam advir da arena política.
  • 113. Acrescenta que abandona a política partidária, mas não a Política. A Política com “ p” maiúsculo, que move, que mobiliza, que impulsiona rumo ao Amor, à Justiça, e à Solidariedade.
  • 114. A Política do Amor. A Política da Compaixão. A Política da Fraternidade.
  • 115. E apenas poucas semanas após a sua libertação, Ingrid inicia uma série de visitas a presidentes e autoridades, com o intuito de agradecer o apoio que resultou na sua soltura,...
  • 116. ...e, principalmente, de mobilizar as lideranças para a urgente necessidade de se buscar saídas para o impasse dos tantos que ainda se encontram sequestrados e mantidos cativos nas selvas colombianas.
  • 117. A incansável caminhada – agendas, encontros, reuniões. A utopia de um outro mundo possível.
  • 118. Brasil
  • 125. Título de “Cidadã de Honra”, conferido pela Prefeitura de Paris.
  • 126. “ Ontem chorava lágrimas de tristeza, hoje, lágrimas de alegria...”
  • 127. Na Sede da Organização das Nações Unidas (ONU) Nova York, EUA
  • 128. Troféu “Pellegrino di Pace” (“Peregrino da Paz”) Roma, Itália
  • 129. Na cerimônia de encerramento da conferência “ A Civilização da Paz: Diálogo entre Culturas e Religiões”, Ingrid dirigiu-se aos participantes:
  • 130. “ É preciso acreditar num mundo melhor, que o bem sempre vence o mal, e que nos próximos dias haveremos de testemunhar o início do tempo do espírito, tão esperado por nós.”
  • 131. “ Os valores da nossa civilização devem mudar, com a sede de poder e a ganância dando lugar ao serviço e à doação.”
  • 132. “ A verdadeira mudança deve começar em cada um de nós. É a partir do somatório das mudanças individuais que poderemos construir um mundo melhor.”
  • 133. “ Nós somos os construtores de um tempo novo, aqueles que inauguram um tempo novo do espírito, um tempo oportuno para que os sonhos se tornem realidade.”
  • 134. “ Com a fé tudo é possível.”
  • 135. Evento promovido pela comissão organizadora do Prêmio Nobel da Paz.
  • 136. Ao lado de Bono Vox, ativista com trabalhos humanitários na África.
  • 137. O emocionante reencontro com o policial colombiano Pinchao, ex-companheiro de cativeiro.
  • 138. Depois de oito anos no cativeiro, Pinchao conseguiu fugir, em 2007, do acampamento onde era mantido refém, deixando-se levar, durante uma tempestade, para a liberdade pela correnteza de um rio, seguido de dezoito dias de caminhada pela selva.
  • 139. Recordando os tempos difíceis de cativeiro, e o apoio recebido em tais horas, ele afirma: “ Ingrid foi minha luz, meu caminho, meu guia nos momentos em que estava na escuridão”.
  • 140. Prêmio “ Mulher do Ano 2008” Viena, Áustria
  • 141. Encontro “Como construir um mundo melhor”
  • 142. Ao lado de Luis Eladio Pérez, ex-congressista colombiano, que aborda em seu livro, intitulado “Inferno Verde”, os sete anos em que permaneceu confinado no cárcere das Farc.
  • 143. Durante o lançamento do livro de seu ex- colega de cativeiro, Ingrid, com a voz embargada e chorando em alguns momentos, lembrou os reféns que ainda permanecem cativos na selva, à espera de resgate:
  • 144. “ Sou muito feliz... mas meu coração ainda está preso nas árvores da floresta...”
  • 145.  
  • 146. A importância dos vínculos afetivos.
  • 147. “ Minha terapia é o amor de minha família, com eles eu volto a ser feliz”,...
  • 148. ...afirma Ingrid, cercada dos filhos, da mãe, da irmã, Astrid, e do sobrinho.
  • 149. Uma família feliz nada mais é que o paraíso antecipado.
  • 150. Entrega do Prêmio Príncipe de Astúrias da Concórdia 2008. Cidade de Oviedo, Espanha.
  • 151. Um reconhecimento “ da dignidade e da coragem” de Ingrid diante do cativeiro.
  • 152. Segundo o júri, ela personifica todos aqueles no mundo que estão privados de liberdade devido à “defesa dos direitos humanos e luta contra a violência, a corrupção e o narcotráfico”.
  • 153. Ingrid, após afirmar que não merece “ semelhante distinção”, aceita receber o prêmio, com “imensa emoção, muito respeito e humildade” em nome de seus antigos colegas de cativeiro, vivos e mortos.
  • 154. Dedica o prêmio à sua “amada Pátria, a Colômbia, sedenta de concórdia e paz”. E, agradecendo a Deus, pede para que Ele a guie para “ poder responder com altura e sabedoria às oportunidades que se abrem para servir aos que sofrem, e ser a voz dos que não podem se expressar”.
  • 155. “ Atrevo-me a receber o prêmio em nome de meus companheiros sequestrados, aqueles que estão esperando sua vez para a liberdade, e, com muito amor, em nome dos meus companheiros que não voltarão, aqueles que morreram na selva”.
  • 156.  
  • 157. Cerimônia de entrega da medalha da “ Legião da Honra”, a mais alta condecoração da França.
  • 158. O mundo, e as voltas que ele dá.
  • 159.  
  • 160. A fragilidade e a força, a fé e a coragem de uma mulher. A fragilidade e a força, a fé e a coragem de todas as mulheres.
  • 161. A fragilidade e a força, a fé e a coragem de uma mulher. A fragilidade e a força, a fé e a coragem de todas as mulheres. Tema musical: La Vie Continue (Andre Rieu) Formatação: [email_address]
  • 162.  
  • 163.