SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 2
Baixar para ler offline
Ter é querer, dizia o anúncio gigante ao fundo das escadas de uma das
principais estações de metro da cidade. Ter é querer: um pouco por toda a parte,
o slogan invadia a cidade nos locais estratégicos do costume.
Os bens de consumo imediato, os símbolos de aparente riqueza “adornavam” a
frase, numa simbiose perfeita, entre a mensagem explícita e o seu duplo, oculto
na imagem. Enquanto lemos, vemos e aprendemos. Na sociedade do
espectáculo que dos nossos dias, tudo conduz a tudo, num ciclo quase tão
perfeito como um ciclo biológico.
A realidade (a)parece-nos, em todas as esferas da actividade, inevitável e
omnipotente. Uma gigantesca cadeia em que o fast food é um dos símbolos mais
inócuos.
O velho Ter é poder não perdeu a glória neste anúncio publicitário:
transformou-se pela enésima vez, numa nova mensagem, capaz de repropor ao
cidadão os binómios ter=poder, ter=querer, de onde se presume que querer e
poder não são mais do que sinónimos.
Eu quero, eu posso. Foi a partir desta premissa que quisémos ver a Escola dos
nossos dias. Uma Escola onde desaguam fornadas de alunos imbuídos de
culturas tão heterogéneas que as competências e o desempenho escolar se
volatilizam perante esse traço diferenciador, essa marca que (ainda) os
persegue.
Quer isto dizer que, sem generalizações simplistas, um conjunto de alunos pode
e deve ser abordado, recorrendo, ainda que parcialmente, às boas práticas de
uma abordagem multicultural. Sem hipocrisias politicamente correctas, é de tal
forma gritante a assimetria de oportunidades que os alunos trazem consigo, que
só uma mudança radical na velha tendência uniformizadora da Escola, poderá
fazer a diferença.
As diferentes vivências que nos chegam nas pessoas que são os alunos,
continuam a ser claramente desperdiçadas num ensino que ainda promove a
aquisição do conhecimento como competência máxima em si, sem contemplar a
eficácia do mesmo na construção do saber e da (in)formação de que esse aluno
irá ser portador.
O cais de culturas que é actualmente uma escola, nomeadamente urbana,
deveria ser o ponto de partida de um projecto de escola que veiculasse uma
cultura própria, com a qual os alunos e a comunidade educativa se
identificassem. Trata-se de um investimento a longo prazo: a arquitectura de
uma atitude para uma determinada comunidade. Só deste modo se poderão
desenvolver, com um espaço adequado aos seus direitos, as competências
plenas dos alunos.
Note-se que não pretendemos colocar a escola no papel de salvadora da
desorganização familiar que prolifera, nem sequer substitutiva dos
imprescindíveis laços de ajuda parental.
No entanto, a nível social, a escola tem de assumir o seu papel formador, dada a
importância crucial daquilo que nela se joga.
Por outro lado, as actuais ferramentas de que a escola parece dispor deveriam,
em teoria, possibilitar aos docentes criar o tal currículum pleno, em que ao
aluno é fornecida uma pista de integração em que ele deve participar de muitas
e variadas formas: no “comportamento”, na aquisição de conhecimentos, na
colaboração espontânea nas tarefas, mas também na organização de um
caderno diário, na sociabilidade, no sentido de companheirismo, na ajuda os
colegas, na capacidade de auto-crítica, na inteligibilidade do mundo.
É inútil continuar a adiar esta questão: com todo o seu aparato organizacional, a
escola continua a não ser um organismo vivo, capaz de discutir e de se discutir.
Com os pré-requisitos de que alguns alunos são possuidores quando chegam aos
bancos da escola, os vencedores e os vencidos parecem estar já alinhados. Trata-
se de saber se a Escola pode e quer modificar as convenções já estabelecidas na
vida dos alunos antes de lá entrarem.
Ser é poder. A escola como uma meta, uma parte da vida, um lugar onde
também se mora. Onde se aprendem deveres e normas, regras para a vida.
Ordem e disciplina, mas também tolerância e capacidade criativa para fazer dos
rituais escolares bases para uma cultura da cidadania.

Mais conteúdo relacionado

Destaque (20)

Comportamento
ComportamentoComportamento
Comportamento
 
Jovem guarda de volta a
Jovem guarda de volta aJovem guarda de volta a
Jovem guarda de volta a
 
Vidas perigosas
Vidas perigosasVidas perigosas
Vidas perigosas
 
procv e prochx
procv e prochxprocv e prochx
procv e prochx
 
Súmula jogo 3 formiga x ituiutaba
Súmula jogo 3 formiga x ituiutabaSúmula jogo 3 formiga x ituiutaba
Súmula jogo 3 formiga x ituiutaba
 
Descrição do vice presidente
Descrição do vice presidenteDescrição do vice presidente
Descrição do vice presidente
 
Ft 2
Ft 2Ft 2
Ft 2
 
Planejamento coletivo.ef aula81
Planejamento coletivo.ef  aula81Planejamento coletivo.ef  aula81
Planejamento coletivo.ef aula81
 
Parcerias acosta
Parcerias acostaParcerias acosta
Parcerias acosta
 
Mes tema
Mes temaMes tema
Mes tema
 
Tecnologia
TecnologiaTecnologia
Tecnologia
 
Comunicação e Informação
Comunicação e InformaçãoComunicação e Informação
Comunicação e Informação
 
oracion a santa elena
oracion a santa elenaoracion a santa elena
oracion a santa elena
 
Bolsa formaçao barbosa
Bolsa formaçao barbosaBolsa formaçao barbosa
Bolsa formaçao barbosa
 
Calendário actividades 2010 2011
Calendário actividades 2010 2011Calendário actividades 2010 2011
Calendário actividades 2010 2011
 
Regulamento promoção guaraná tuchaua 2
Regulamento   promoção guaraná tuchaua 2Regulamento   promoção guaraná tuchaua 2
Regulamento promoção guaraná tuchaua 2
 
Passe Livre - Edição 462
Passe Livre - Edição 462Passe Livre - Edição 462
Passe Livre - Edição 462
 
Trabalho interdisciplinar
Trabalho interdisciplinarTrabalho interdisciplinar
Trabalho interdisciplinar
 
Resumo proj 03_10_2010
Resumo proj 03_10_2010Resumo proj 03_10_2010
Resumo proj 03_10_2010
 
Portada11
Portada11Portada11
Portada11
 

Semelhante a Ter é querer

Currículo escolar em debate
Currículo escolar em debateCurrículo escolar em debate
Currículo escolar em debateFatima Costa
 
A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...
A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...
A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...Claudinei Gonçalves de Lima
 
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...LUANASILVAARAUJOMART
 
Artigo acadêmico piaget e vigotsky
Artigo acadêmico   piaget e vigotskyArtigo acadêmico   piaget e vigotsky
Artigo acadêmico piaget e vigotskyGladis Maia
 
Adeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdf
Adeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdfAdeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdf
Adeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdfDenise De Ramos
 
Fins e príncípios da Educação
Fins e príncípios da  EducaçãoFins e príncípios da  Educação
Fins e príncípios da EducaçãoAntonio Futuro
 
O uso responsável do celular na sala de aula
O uso responsável do celular na sala de aulaO uso responsável do celular na sala de aula
O uso responsável do celular na sala de aulaEdison Paulo
 
O ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBID
O ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBIDO ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBID
O ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBIDpibidgeo
 
Manual projecto-acessibilidades (1)
Manual projecto-acessibilidades (1)Manual projecto-acessibilidades (1)
Manual projecto-acessibilidades (1)Ramon Nascimento
 
Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)tamyris24
 
Artigo Docência no Ensino Superior
Artigo Docência no Ensino SuperiorArtigo Docência no Ensino Superior
Artigo Docência no Ensino SuperiorVALERIAOLIVEIRAAMORI
 
Cultura e artes
Cultura e artesCultura e artes
Cultura e artesTecaAdri
 
As comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papelAs comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papeljapquimica
 
As comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papelAs comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papeljapquimica
 

Semelhante a Ter é querer (20)

Currículo escolar em debate
Currículo escolar em debateCurrículo escolar em debate
Currículo escolar em debate
 
A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...
A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...
A ESCOLA E SUA CONTRIBUIÇÃO NA FORMAÇÃO DE SUJEITOS: UM OLHAR A PARTIR DA NOV...
 
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...
CORTELLA, Mario Sergio. A escola e o conhecimento: fundamentos epistemológico...
 
Artigo acadêmico piaget e vigotsky
Artigo acadêmico   piaget e vigotskyArtigo acadêmico   piaget e vigotsky
Artigo acadêmico piaget e vigotsky
 
Adeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdf
Adeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdfAdeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdf
Adeus_professor_Adeus_professora_J.C._Li.pdf
 
Fins e príncípios da Educação
Fins e príncípios da  EducaçãoFins e príncípios da  Educação
Fins e príncípios da Educação
 
Manifesto pela educação
Manifesto pela educaçãoManifesto pela educação
Manifesto pela educação
 
Manifesto pela Educação
Manifesto pela EducaçãoManifesto pela Educação
Manifesto pela Educação
 
O uso responsável do celular na sala de aula
O uso responsável do celular na sala de aulaO uso responsável do celular na sala de aula
O uso responsável do celular na sala de aula
 
O ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBID
O ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBIDO ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBID
O ENSINO DA ESCOLA PÚBLICA: UMA VISÃO ANALÍTICA ATRAVÉS DO PIBID
 
Guia print
Guia printGuia print
Guia print
 
Manual projecto-acessibilidades (1)
Manual projecto-acessibilidades (1)Manual projecto-acessibilidades (1)
Manual projecto-acessibilidades (1)
 
Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)Cartilha eliezer final (1)
Cartilha eliezer final (1)
 
Artigo Docência no Ensino Superior
Artigo Docência no Ensino SuperiorArtigo Docência no Ensino Superior
Artigo Docência no Ensino Superior
 
Cultura e artes
Cultura e artesCultura e artes
Cultura e artes
 
Educacao360
Educacao360Educacao360
Educacao360
 
As comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papelAs comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papel
 
As comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papelAs comunidades de aprendizagens e o novo papel
As comunidades de aprendizagens e o novo papel
 
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLAFUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA
 
TEXTO 1.pdf
TEXTO 1.pdfTEXTO 1.pdf
TEXTO 1.pdf
 

Último

Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasCassio Meira Jr.
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduraAdryan Luiz
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesMary Alvarenga
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMVanessaCavalcante37
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresLilianPiola
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -Aline Santana
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasraveccavp
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxssuserf54fa01
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxRonys4
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxOsnilReis1
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxleandropereira983288
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinhaMary Alvarenga
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalJacqueline Cerqueira
 

Último (20)

Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades MotorasPrograma de Intervenção com Habilidades Motoras
Programa de Intervenção com Habilidades Motoras
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptxSlides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
Slides Lição 4, Betel, Ordenança quanto à contribuição financeira, 2Tr24.pptx
 
trabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditaduratrabalho wanda rocha ditadura
trabalho wanda rocha ditadura
 
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das MãesA Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
A Arte de Escrever Poemas - Dia das Mães
 
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEMCOMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
COMPETÊNCIA 1 DA REDAÇÃO DO ENEM - REDAÇÃO ENEM
 
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA      -
XI OLIMPÍADAS DA LÍNGUA PORTUGUESA -
 
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolaresALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
ALMANANHE DE BRINCADEIRAS - 500 atividades escolares
 
Bullying, sai pra lá
Bullying,  sai pra láBullying,  sai pra lá
Bullying, sai pra lá
 
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
DESAFIO LITERÁRIO - 2024 - EASB/ÁRVORE -
 
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptxSlides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
Slides Lição 04, Central Gospel, O Tribunal De Cristo, 1Tr24.pptx
 
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisasNova BNCC Atualizada para novas pesquisas
Nova BNCC Atualizada para novas pesquisas
 
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptxSlide língua portuguesa português 8 ano.pptx
Slide língua portuguesa português 8 ano.pptx
 
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptxD9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
D9 RECONHECER GENERO DISCURSIVO SPA.pptx
 
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptxATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
ATIVIDADE AVALIATIVA VOZES VERBAIS 7º ano.pptx
 
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptxPedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
Pedologia- Geografia - Geologia - aula_01.pptx
 
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
Orientação Técnico-Pedagógica EMBcae Nº 001, de 16 de abril de 2024
 
Bullying - Texto e cruzadinha
Bullying        -     Texto e cruzadinhaBullying        -     Texto e cruzadinha
Bullying - Texto e cruzadinha
 
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 5, CPAD, Os Inimigos do Cristão, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem OrganizacionalGerenciando a Aprendizagem Organizacional
Gerenciando a Aprendizagem Organizacional
 

Ter é querer

  • 1. Ter é querer, dizia o anúncio gigante ao fundo das escadas de uma das principais estações de metro da cidade. Ter é querer: um pouco por toda a parte, o slogan invadia a cidade nos locais estratégicos do costume. Os bens de consumo imediato, os símbolos de aparente riqueza “adornavam” a frase, numa simbiose perfeita, entre a mensagem explícita e o seu duplo, oculto na imagem. Enquanto lemos, vemos e aprendemos. Na sociedade do espectáculo que dos nossos dias, tudo conduz a tudo, num ciclo quase tão perfeito como um ciclo biológico. A realidade (a)parece-nos, em todas as esferas da actividade, inevitável e omnipotente. Uma gigantesca cadeia em que o fast food é um dos símbolos mais inócuos. O velho Ter é poder não perdeu a glória neste anúncio publicitário: transformou-se pela enésima vez, numa nova mensagem, capaz de repropor ao cidadão os binómios ter=poder, ter=querer, de onde se presume que querer e poder não são mais do que sinónimos. Eu quero, eu posso. Foi a partir desta premissa que quisémos ver a Escola dos nossos dias. Uma Escola onde desaguam fornadas de alunos imbuídos de culturas tão heterogéneas que as competências e o desempenho escolar se volatilizam perante esse traço diferenciador, essa marca que (ainda) os persegue. Quer isto dizer que, sem generalizações simplistas, um conjunto de alunos pode e deve ser abordado, recorrendo, ainda que parcialmente, às boas práticas de uma abordagem multicultural. Sem hipocrisias politicamente correctas, é de tal forma gritante a assimetria de oportunidades que os alunos trazem consigo, que só uma mudança radical na velha tendência uniformizadora da Escola, poderá fazer a diferença. As diferentes vivências que nos chegam nas pessoas que são os alunos, continuam a ser claramente desperdiçadas num ensino que ainda promove a aquisição do conhecimento como competência máxima em si, sem contemplar a eficácia do mesmo na construção do saber e da (in)formação de que esse aluno irá ser portador. O cais de culturas que é actualmente uma escola, nomeadamente urbana, deveria ser o ponto de partida de um projecto de escola que veiculasse uma cultura própria, com a qual os alunos e a comunidade educativa se identificassem. Trata-se de um investimento a longo prazo: a arquitectura de uma atitude para uma determinada comunidade. Só deste modo se poderão desenvolver, com um espaço adequado aos seus direitos, as competências plenas dos alunos. Note-se que não pretendemos colocar a escola no papel de salvadora da desorganização familiar que prolifera, nem sequer substitutiva dos imprescindíveis laços de ajuda parental. No entanto, a nível social, a escola tem de assumir o seu papel formador, dada a importância crucial daquilo que nela se joga. Por outro lado, as actuais ferramentas de que a escola parece dispor deveriam,
  • 2. em teoria, possibilitar aos docentes criar o tal currículum pleno, em que ao aluno é fornecida uma pista de integração em que ele deve participar de muitas e variadas formas: no “comportamento”, na aquisição de conhecimentos, na colaboração espontânea nas tarefas, mas também na organização de um caderno diário, na sociabilidade, no sentido de companheirismo, na ajuda os colegas, na capacidade de auto-crítica, na inteligibilidade do mundo. É inútil continuar a adiar esta questão: com todo o seu aparato organizacional, a escola continua a não ser um organismo vivo, capaz de discutir e de se discutir. Com os pré-requisitos de que alguns alunos são possuidores quando chegam aos bancos da escola, os vencedores e os vencidos parecem estar já alinhados. Trata- se de saber se a Escola pode e quer modificar as convenções já estabelecidas na vida dos alunos antes de lá entrarem. Ser é poder. A escola como uma meta, uma parte da vida, um lugar onde também se mora. Onde se aprendem deveres e normas, regras para a vida. Ordem e disciplina, mas também tolerância e capacidade criativa para fazer dos rituais escolares bases para uma cultura da cidadania.