A importância das auditorias ambientais nas empresas
Atitudes ambientais dos portugueses
1. Atitudes Sociais dos Portugueses
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
Boletim de divulgação nº5 Março 2002
APRESENTAÇÃO temas de reflexão recentes nas sociedades
ocidentais.
No âmbito do projecto Atitudes Sociais dos
Portugueses, coordenado por Manuel Villaverde O questionário que agora se apresenta é o
Cabral e Jorge Vala, o Instituto de Ciências Sociais segundo realizado pelo ISSP sobre o ambiente. O
da Universidade de Lisboa (ICS) lançou em 2000 questionário anterior foi aplicado em 1993 em 22
um inquérito sobre questões ambientais. Este países, mas nessa altura Portugal ainda não fazia
inquérito constitui mais uma edição do parte da equipa.
International Social Survey Programme (ISSP),
rede internacional de estudos longitudinais e O questionário inclui sempre algumas questões
transnacionais na qual Portugal se encontra gerais que permitem referenciar os
representado, desde 1997, pelo ICS. posicionamentos sociais dos indivíduos (valores
materialistas e pós-materialistas, posicionamento
Como vem sendo hábito, divulgamos agora os religioso, auto-posicionamento político) bem como a
resultados obtidos em Portugal comparando-os suas características socio-demográficas. O módulo
com os de outros países. de ambiente inclui questões idênticas às utilizadas
no questionário de 1993 e 20 questões novas e, no
Apresentamos ainda os resultados de um conjunto seu conjunto, cobrem tanto o domínio dos
de perguntas realizadas apenas em Portugal sobre comportamentos pró-ambientais, como o dos
as atitudes e opiniões relativamente ao património conhecimentos em matéria de ambiente ou as
nacional. atitudes.
AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Explicitaremos em seguida algumas das variáveis
latentes incluídas em cada um dos grupos de
Os problemas ambientais estão hoje naturalmente indicadores.
presentes no nosso quotidiano. Habituámo-nos a
ver uma secção sobre ambiente nos jornais e Relativamente às práticas ambientais, o módulo
revistas, a assistir a notícias sobre protestos inclui questões acerca da disponibilidade para
ambientais nos noticiários, e a ser alvos de pagar para a protecção do ambiente (por exemplo,
campanhas de informação e sensibilização para aceitação de aumentos preços para proteger o
melhorar o ambiente. É hoje para nós ambiente), de comportamentos pró-ambientais
pacificamente aceite que a poluição das águas ou (por exemplo, reciclagem) e de comportamentos
do ar é preocupante, ou que é uma causa nobre de participação ambiental (por exemplo, ser
contribuir para que não se extingam espécies membro de um grupo ambientalista).
selvagens. Também não achamos estranho sermos
interpelados para responder a questões sobre as Relativamente aos conhecimentos, incluem-se
nossas opiniões sobre o estado do ambiente, como perguntas relativas a conhecimentos científicos
aconteceu com o questionário do International gerais (por exemplo, “Os antibióticos podem matar
Social Survey Programme (ISSP) que agora as bactérias mas não os vírus”) e a conhecimentos
apresentamos. De tal forma estas questões fazem ambientais (“O efeito de estufa é causado por um
parte do nosso quotidiano que nos esquecemos buraco na atmosfera terrestre”).
que elas nada têm de natural, e são, de facto,
2. No âmbito das atitudes acerca do ambiente elevado nível de preocupação ambiental dos
incluem-se uma diversidade de indicadores portugueses.
relativos tanto a crenças como a preocupações ou
atitudes face a diversos aspectos relacionados com Quadro 1
o ambiente. Incluem-se assim questões gerais Grau de perigosidade para o ambiente
relativas ao ambiente e à natureza (por exemplo, (extremamente + muito perigoso - %)
sobre a preocupação com o ambiente), mas
também mais específicas relativas à ciência Centrais nucleares 91
(confiança na ciência como forma de resolver os Poluição dos rios, lagos e albufeiras 87
problemas ambientais), aos diversos perigos para Aumento da temperatura do planeta 88
o ambiente (grau de perigosidade associada a Poluição do ar causada pela indústria 86
diversas actividades humanas como por exemplo Poluição do ar causada pelos automóveis 84
as centrais nucleares) ou à confiança em diversas Pesticidas e produtos químicos usados na
79
agricultura
fontes de informação ambiental (por exemplo, os
Modificação genética de produtos agrícolas 77
jornais). Caracteriza-se ainda o envolvimento
relativamente às questões ambientais
A preocupação dos portugueses com o ambiente surge
considerando a percepção de auto-eficácia
ainda elevada quando comparada com os níveis de
ambiental (por exemplo, “É difícil para um pessoa
preocupação apresentados por outros países. Portugal
como eu fazer muito pelo ambiente”), a atribuição
apresenta o segundo valor médio mais elevado de
de responsabilidade pela resolução dos problemas
percepção de ameaça ambiental. Em Portugal, a
ambientais (por exemplo, ao governo ou às
percepção de ameaça ambiental é mais elevada nas
empresas) e à percepção de esforço em prol da
mulheres, nos menos instruídos, nos mais velhos e nos
protecção do ambiente (por parte dos países
que têm menores rendimentos. Para além destas
pobres e ricos, do governo ou da indústria, por
características socio-demográficas procurou-se analisar
exemplo).
a relação com posições sociais mais gerais.
No total da amostra, a posição conservadora face às
Montou-se assim um cenário onde estão
desigualdades sociais está muito associada à defesa de
disponíveis instrumentos de análise muito diversos
valores mais antropocêntricos e de restrição na
sobre a adesão às ideias ambientalistas na
conservação do património. Trata-se, portanto, de um
sociedade portuguesa hoje. Resta-nos esperar que
conjunto de crenças tradicionais, com um pendor
os investigadores os utilizem para a produção de
fatalista e um pouco miserabilista, que se manifestam
peças de pesquisa que contribuam para o aumento
de forma coerente ao longo dos três tipos de objectos
do conhecimento científico e que nos permitam
sociais: as desigualdades, o património e o ambiente. A
compreender melhor a realidade em que vivemos.
percepção de ameaças ambientais está associada a
crenças conservadoras relativamente às desigualdades
Luísa Lima
sociais, mas também a uma orientação ambientalista.
Gráfico 1
PERCEPÇÃO DE AMEAÇAS AMBIENTAIS Perigosidade dos automóveis e sua difusão
(médias: escala: 1 nada – 5 extremamente perigoso)
A preocupação com o ambiente surge como uma
preocupação importante para os portugueses: 4,5 600
74% dos inquiridos considera que o ambiente 4,3
4,1 500
devia ser uma prioridade nacional. Esta preocupação
geral, reflecte-se nas respostas a um conjunto de 3,9 400
questões relativas ao grau de perigosidade para o 3,7
ambiente associado a uma série de actividades 3,5 300
humanas. 3,3
3,1 200
A análise destas questões mostra também um 2,9 100
elevado nível de preocupação com as 7 actividades 2,7
consideradas: As centrais nucleares são consideradas 2,5 0
República Checa
Alemanha
Nova Zelândia
Suécia
Espanha
Noruega
Bulgária
Irlanda
Finlândia
Chile
Japão
Russia
Portugal
Reino Unido
Holanda
Estados Unidos
Filipinas
as mais perigosas para o ambiente, seguidas, a
níveis muito semelhantes das questões associadas
à poluição industrial e ao aumento da temperatura
do planeta, situando-se no fim da lista as questões
ligadas à agricultura (uso de pesticidas e perigosidade para o ambiente
manipulação genética) (ver Quadro 1).
nº de Automóveis /1000 habitantes
Deste modo, podemos ver que nesta amostra esta
tendência também se confirma a ideia de um
2
3. A associação entre percepção ambiental e a CULTURA CIENTÍFICA E PERCEPÇÃO DO
experiência com o risco revela um efeito consistente PAPEL DA CIÊNCIA
de habituação à tecnologia (quanto mais divulgada a
tecnologia, menor a ameaça percebida para o A última década assistiu à disseminação intensiva, no
ambiente) (Gráfico 1) e de saliência da tecnologia espaço público, de muitas controvérsias ligando
(quanto mais rápido o crescimento nos últimos anos questões científicas e questões ambientais − questões
maior a percepção de ameaça ambiental) (Gráfico 2). como a BSE, os organismos Geneticamente
Modificados, estiveram em discussão pública por todo o
Gráfico 2 espaço da UE, e outras controvérsias cientificas ligadas
Perigosidade dos automóveis e sua evolução* ao ambiente foram também amplamente discutidas
(médias: escala: 1 nada – 5 extremamente perigosos) no nosso país, nesta década, como foi o caso da co-
incineração.
4,5 100 Estas controvérsias implicaram em muitos casos
4,3 um inevitável envolvimento de públicos muito
80
4,1 variados, dado que se prendiam com questões
60 ligadas à alimentação e à saúde em geral. E elas
3,9
implicaram, também, um espaço nos media cada vez
3,7 40 mais alargado, nomeadamente no nosso país, onde a
3,5 cobertura de assuntos de âmbito científico na imprensa
20
3,3 se alargou. Assim, podemos pressupor que, na década
3,1 0 de 90, as discussões em torno de assuntos que
2,9 relacionam a ciência e o ambiente se difundiram
-20 socialmente talvez mais rapidamente do que os
2,7
conhecimentos científicos e que tiveram consequências
2,5 -40
para a percepção do papel da ciência em matérias
República Checa
Alemanha
Nova Zelândia
Suécia
Espanha
Noruega
Bulgária
Irlanda
Finlândia
Chile
Japão
Russia
Portugal
Holanda
Reino Unido
Estados Unidos
Filipinas
ambientais.
A comparação entre países como Portugal, Espanha e
Irlanda que apresentam menor PIB per capita, menor
Perigosidade do carro para o ambiente
peso do sector dos serviços, menor percentagem de
Evolução do nº de automoveis entre 90 e 99
valores pós-materialistas (Inglehart, 1995) e menor
exposição a uma matéria científica e ambiental
controversa, como seja a biotecnologia (Wagner e
* O indicador de evolução é a taxa de crescimento do número Kronberger, 2001) e países com características
de automóveis entre 1990 e 1999. contrastantes como a Alemanha, a Grã-Bretanha, a
Holanda e a Suécia, dão algum suporte à hipótese da
relação entre conhecimento científico e pós-
Portugal é, simultaneamente, dos países que tem industrialização (Quadro 2).
menor difusão das tecnologias e que apresentam
maior crescimento das tecnologias nas duas últimas Quadro 2
décadas. Deste modo, os elevados níveis de Índice de conhecimento científico* e hipótese
percepção de ameaça ambiental manifestados da pós-industrialização
pelos portugueses seriam resultado de dois
factores que, em simultâneo, produziriam um
Países Médias
aumento do sentimento de perigo para o
ambiente: Irlanda 3
• por um lado, correspondem a uma resposta realista Grupo 1 Espanha 2,7
à rápida difusão das tecnologias em Portugal nos Portugal 2,7
últimos 20 anos, Alemanha 3,1
e por outro, indicam que ainda nos falta tempo Grupo 2 Grã-Bretanha 3,9
para a habituação à tecnologia, que a torne banal Holanda 3,4
e inócua aos nossos olhos. Suécia 3,8
* O índice foi construído somando o número de respostas certas a 5
perguntas, variando entre 1(0 respostas certas) e 6 (5 respostas
certas): (a) os antibióticos podem matar as bactérias, mas não os vírus;
(b) os seres humanos evoluíram a partir de espécies animais
anteriores; (c) todos os produtos químicos produzidos pelo homem
podem causar cancro se forem consumidos em demasia; (d) a
exposição a qualquer grau de radioactividade provoca a morte; (e) o
efeito de estufa é provocado por um buraco na atmosfera terrestre.
3
4. Apesar de, globalmente, o índice de conhecimento Na amostra portuguesa identificámos esta aparente
apresentar médias mais elevadas no grupo 2, os dados ambivalência relativamente à ciência, mas também
do inquérito ISSP 2000 não mostram diferenças entre relativamente ao ambiente. Os resultados mostram que
países relativamente à influência de variáveis se no nosso país todos são ambientalistas, nem todos
sociodemográficas (grupo profissional, sexo, idade, são anti-ambientalistas. Por outras palavras, há grupos
escolaridade, rendimento individual, rendimento do para quem ambientalismo e anti-ambientalismo são
agregado familiar) no nível de conhecimento científico e dimensões opostas e há grupos que aparentemente
a importância destas variáveis para a compreensão conciliam esta contradição. A diferenciação entre
do nível de conhecimento científico é sempre estes dois grupos de indivíduos passa em grande
muito baixa. Estes resultados apontam assim para parte pela importância atribuída à
a existência de forças de homogeneização social. responsabilização do eu versus das instituições no
pensamento sobre o ambiente.
Gráfico 3
Ciência moderna resolverá problemas ambientais DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
alterando pouco o nosso estilo de vida (%)
(Concordo totalmente + concordo)
FACTOS E OPINIÕES
60 57
Os resultados do inquérito contrariam a ideia
convencional segundo a qual as populações dos países
50
mais pobres - por estarem demasiado ocupadas com a
40
sobrevivência - serão menos preocupadas com o
33 33 32 ambiente, do que as populações dos países mais ricos.
30 Comparando as respostas, verifica-se que são as
23
pessoas dos países com menor PIB per capita, que
20 15 mais dramatizam o risco dos problemas ambientais
12
- desde a utilização dos pesticidas, à poluição das
10 águas, passando pela poluição do ar gerada pela
indústria e pelos automóveis (Gráfico 5).
0
l
ga ha nh
a
nd
a
nd
a Gráfico 5
rtu an pa rla la
Po Ale
m I Ho Perigosidade dos problemas ambientais* versus
Es
PIB per capita
% $
Apesar de ter níveis mais baixos de conhecimentos
científicos comparativamente com os outros países 100 35.000
considerados, Portugal manifesta simultaneamente 90
maiores níveis de confiança na ciência para a 30.000
resolução dos problemas ambientais (Gráfico 3), e 80
menores níveis de confiança nos centros de 70 25.000
investigação para informar sobre a ciência (Gráfico 4).
60
20.000
Gráfico 4 50
Confiança nos centros de investigação para
15.000
informar sobre poluição (%) 40
(Concordo totalmente + concordo)
30 10.000
90 84
79 20
80 75
70
5.000
68 10
70 63
56 0 0
60
50
40
30
Perigosidade PIB per capita
20
10
* Média da perigosidade atribuída à poluição da água, aos
0 pesticidas, à poluição do ar (indústria e automóveis)
a l a
nd nh
a ha ga nd
la pa an rt u la Portugal, que ocupa uma posição de charneira entre os
Ir Es em Po Ho
Al países mais e menos desenvolvidos considerados neste
inquérito, faz parte dos casos (depois do Chile, países
4
5. de Leste e Filipinas) onde se manifesta maior recursos naturais e paisagísticos acaba por ser
preocupação com a perigosidade dos problemas prejudicial ao próprio processo de desenvolvimento.
ambientais. Assim, à medida que o PIB per capita dos Aquilo que já é uma evidência para populações de
países vai baixando, as populações sentem-se mais países industrializados e desenvolvidos, como no caso
ameaçadas. dos países nórdicos europeus – actualmente em franca
regeneração ambiental – parece tornar-se agora nítido
Nuns casos porque eventualmente percepcionam uma para as outras.
menor preparação técnico-científica e capacidade Portugal destaca-se por ser o país onde a opinião
reactiva por parte das respectivas autoridades pública revela maior consciência desta situação,
responsáveis, caso ocorra algum incidente; noutros concordando maioritariamente “que o crescimento
porque se ressentem dos efeitos de degradação económico prejudica sempre o ambiente”. Os
ambiental provocados pelo agravamento de muitos portugueses intuem, assim, que o progresso
problemas (incluindo necessidades básicas como a económico necessita de integrar e ter em conta a
água potável). prestação ambiental, sob o risco de deixar de ser
“progresso” (Gráfico 6).
Noutros casos ainda, a mediatização intensa de certos E, para acautelar e gerir os recursos ambientais
problemas ambientais globais, como as alterações não se dispensa a intervenção de um Estado que
climáticas, insistentemente referidos como causadores regule os impactos das actividades privadas (de
das sucessivas catástrofes ocorridas nos últimos pessoas e empresas) sobre o ambiente. A
tempos (cheias, secas, tempestades), terá contribuído esmagadora maioria das populações dos países
para criar uma inquietação generalizada na opinião inquiridos requer a criação de leis e sua aplicação
pública dos países mais vitimados, que também são os efectiva por parte dos respectivos governos para
mais pobres. defender o ambiente. Praticamente nenhum país
assume, maioritariamente, uma atitude pró-liberal,
Gráfico 6 seja no sentido de deixar as decisões à consciência
O crescimento económico prejudica dos cidadãos, seja, menos ainda, ao livre arbítrio
sempre o ambiente (%) das empresas.
(concorda totalmente + concorda) Portugal também está no pelotão da frente na
defesa deste intervencionismo normativo por parte
B angladesh
do Estado (Gráfico 7), rejeitando o liberalismo
23
Filipinas
autoregulativo tão alardeado numa série de outras
43
matérias, mas visto como ineficaz e irrealista
B ulgária 40
enquanto “fórmula” para defender um património
Rússia 33
comum como o ambiente.
Chile 49 Gráfico 7
Rep. Checa 23 É preciso leis para defender o ambiente
P o rtugal 58
Espanha 24 Bangladesh
No va Zelândia 15 Filipinas
Irlanda 33 Bulgária
A lemanha 27 Rússia
Reino Unido 14 Chile
Finlandia 29 Rep. Checa
Japão 44 Portugal
Ho landa 26 Espanha
EUA 17 Nova Zelândia
Suécia 15 Irlanda
No ruega 14 Alemanha
Reino Unido
0 20 40 60 80
Finlandia
Japão
Outra ideia que os resultados deste inquérito Holanda
contrariam, é a clássica oposição entre EUA
crescimento e ambiente, segundo a qual o Suécia
processo de desenvolvimento económico não pode Noruega
co-existir com a protecção ambiental. Tudo indica
que as populações dos países menos desenvolvidos 0 20 40
% 60 80 100
começam a consciencializar o ambiente como um
factor-chave. E por razões muito pragmáticas: a Decisão das empresas Criação de Leis
percepção aguda de que a ausência da protecção dos
5
6. O favorecimento de uma intervenção estatal à Ora se a existência de uma sociedade civil com pouca
escala nacional, reflecte-se também ao nível de capacidade reivindicativa e tradicionalmente pouco
uma intervenção “supraestatal” na salvaguarda do interventiva implicará sempre algum distanciamento
ambiente à escala global. De facto, os resultados das populações para com os problemas globais que
mostram que existe um grande consenso no que dizem respeito a todos (como será o caso dos
respeita à necessidade de Acordos Internacionais problemas ambientais), as diversas situações de
para meter “o mundo na ordem” em termos degradação ambiental que têm vindo a proliferar,
ambientais (Gráfico 8). difundidas pelos media e pelas organizações de defesa
do ambiente, concorrem para o florescimento de uma
Estas respostas indicam, por um lado, que a sociedade civil que, neste processo, reforça a
população mundial tende a integrar uma noção de mobilização pelo ambiente e, simultaneamente, sai
ambiente como património comum. E, por outro reforçada para agir em defesa dos interesses
lado, que só uma decisão política de escala partilhados em geral e do ambiente em particular.
internacional, eventualmente conduzida por entidades
independentes, terá força para se sobrepor aos Se as dificuldades de mobilização ambiental se
interesses nacionais e económicos. prendem, por isso, com alguma imaturidade da
sociedade civil portuguesa, os resultados do
Gráfico 8 inquérito apontam para algumas dimensões onde,
Concorda com acordos internacionais (%) aparentemente, podemos ombrear com sociedades,
supostamente mais avançadas neste processo
Bangladesh 35 42 ainda a dar os primeiros passos entre nós. De
Filipinas 14 57 facto, no que diz respeito a dimensões como a
Bulgária 67 17
disponibilidade para aceitar sacrifícios em nome da
preservação ambiental, os níveis de preocupação com o
Rússia 63 28 estado do ambiente ou, ainda, a algum sentido crítico
Chile 25 53 face à vida moderna e suas consequências, as
Rep. Checa 63 28 respostas dos portugueses não se distanciam
significativamente dos alemães, dos britânicos ou
Portugal 30 56
dos espanhóis (Gráfico 9).
Espanha 53 37
Nova Zelândia 33 51 Gráfico 9
Irlanda 37 41
Activismo, disponibilidade e crítica ao
crescimento (%)
Alemanha 62 30
Reino Unido 30 52 35 31
30 28 28 27 28
Finlandia 43 45
25 26 24 26 26 27
24
Japão 51 30 25
Holanda 33 54 20
EUA 22 49 15
Suécia 49 41 10
Noruega 38 54 5
0 20 40 60 80 100 0
Disponibilidade Confiança Crítica ao
Concorda totalmente % Concorda
crescimento
MOBILIZAÇÃO AMBIENTAL E Alemanha Grã-Bretanha Espanha Portugal
CIDADANIA
A progressiva degradação das condições ambientais e, O que parece fazer a diferença, mais do que
sobretudo, a sua crescente visibilidade transformaram a predisposições e atitudes, são as práticas e os
questão ambiental num problema social que tem vindo níveis de activismo que (porque implicam esforço e
a ganhar terreno na sociedade portuguesa, actividade efectiva em prol do ambiente) se
suscitando a emergência de novas atitudes, mostram bastante modestos quando comparados
valores e comportamentos que corporizam um com os desempenhos dos outros europeus
processo progressivo de mobilização social pela (Gráfico 10).
defesa do ambiente e das condições ecológicas em
geral.
6
7. Recolhendo menores valores de importância mas, ainda
Gráfico 10 assim, significativos são os tipos de património que
Activismo em defesa do ambiente (%) designamos por “lugares de memória recente” por
corresponderem, em geral, a bens patrimoniais ou
20 patrimonializáveis representativos do passado recente,
20
16 como o espaço rural essencialmente agrícola,
15
simbolizado pela casa rústica com cerca de 300 anos,
15
as fases mais antigas da industrialização, representadas
10 7 pela velha fábrica de destilação ou o património
histórico-literário do século passado, simbolizado pela
5 casa de um poeta famoso que morreu há cerca de 100
anos.
0
Os resultados representados no gráfico 11 dão mais
A
Es
Po
le
pa
rt
uma ideia de como a valorização e conservação do
m
ug
n
an
ha
al
património é algo que está sedimentado nas
ha
preocupações dos portugueses. A conservação do
património é vista principalmente como uma obrigação
PATRIMÓNIO E AMBIENTE do Estado e uma prioridade nacional.
O inquérito português incluía ainda um conjunto Gráfico 11
de questões concebidas com o objectivo de captar Atitudes face ao património (%)
informação que permitisse registar o crescimento (Concordo totalmente + concordo)
de dinâmicas culturais associadas a preocupações
de preservação do património, relacionando-as
com a emergência de novas formas de cidadania 90 81
política, nomeadamente formas de acção colectiva 80
que lutam por interesses de natureza cultural,
70 61
como movimentos ambientalistas e de defesa do
património. 60
47
Os resultados permitem constatar, em primeiro 50
lugar, o facto de estar a alastrar, entre a 40
população portuguesa, como vem acontecendo há
30
mais tempo em vários países da Europa, a
atracção pelo património histórico, visitando 20
lugares de memória. Em segundo, o facto de o 10
conjunto de factores sociais, como idade,
0
instrução, classe social, não estabelecer diferenças Obrigação do Prioridade Luxo de
muito acentuadas, apesar de significativas, no que Estado nacional países ricos
respeita ao tipo de visitantes.
Quanto aos tipos de património mais valorizados, a Contudo, a incapacidade de conversão destas atitudes,
proteger face à ameaça de certas opções de globalmente positivas para com a protecção e
desenvolvimento, destacam-se o histórico- valorização do património, em acções e
monumental, representado pelo lugar pré-histórico comportamentos dirigidos para a sua defesa não podia
e pela igreja medieval e o património ambiental, ser mais flagrante.
representado pela formação geológica rara e pelo
lugar de ninhos de aves em extinção (Quadro 3). Apenas 1.3% é membro de associações de defesa do
património histórico-cultural, subindo a percentagem
Quadro 3
ligeiramente para a participação em acções concretas
Tipos de património valorizado (%)
(Muita + alguma importância)
relacionadas com a protecção do património: 2.7%
dizem ter assinado petições, 2.3% dizem ter participado
em protestos ou manifestações, 2.6% deu dinheiro a
Tipo de património %
grupos, movimentos ou acções de defesa do
Um lugar pré-histórico 87 património, 2.7% deu trabalho gratuitamente para
Uma igreja medieval 89 resolver questões relacionadas com o património.
Uma casa rústica com cerca de 300 anos 77 Construído um índice de cidadania de defesa do
Uma velha fábrica de destilação 58 património, com base nos indicadores de participação
A casa de um poeta famoso que morreu há 100 anos 76 associada e mobilização política, verifica-se que a média
Uma formação geológica rara 85 de participação corresponde a 0.12.
Um lugar de ninhos de aves em extinção 86
7
8. ASP
PUBLICAÇÕES
Bases de Dados
Atitudes Sociais dos Portugueses
Coordenação Geral
Manuel Villaverde Cabral
Jorge Vala
Coordenação ASP 2000
Luísa Lima
Colaboradores
Aida Valadas de Lima
João Guerra
Luísa Lima
Luísa Schmidt
Manuela Reis
Paula Castro
Susana Valente
Atitudes Sociais dos Portugueses
Secretariado Científico
Alice Ramos
Patrocínios
Fundação para a Ciência e Tecnologia
Caixa Geral de Depósitos
Instituto de Ciências Sociais
Fundação Luso-Americana para o
Desenvolvimento
Próximos volumes:
Vala, J., Cabral, M.V., Ramos, A. (Org.) (2002). Valores
Instituto de Ciências Sociais da Sociais numa perspectiva Comparativa (título provisório).
Universidade de Lisboa Lisboa: ICS.
Ed. ISCTE, Ala Sul, 1º - 1600 Lisboa Cabral, M.V., Vala, J.(Org.) (2002). Desigualdades Sociais e
Tel: 21 7995000 Fax: 21 7964953 Justiça Social (título provisório). Lisboa: ICS.
E-mail: alice.ramos@ics.ul.pt;
Internet: www.ics.ul.pt/asp
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