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Atitudes Sociais dos Portugueses
          INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA




Boletim de divulgação nº5                                                                   Março 2002

APRESENTAÇÃO                                           temas de      reflexão   recentes   nas   sociedades
                                                       ocidentais.
No âmbito do projecto Atitudes Sociais dos
Portugueses, coordenado por Manuel Villaverde          O questionário que agora se apresenta é o
Cabral e Jorge Vala, o Instituto de Ciências Sociais   segundo realizado pelo ISSP sobre o ambiente. O
da Universidade de Lisboa (ICS) lançou em 2000         questionário anterior foi aplicado em 1993 em 22
um inquérito sobre questões ambientais. Este           países, mas nessa altura Portugal ainda não fazia
inquérito constitui mais uma edição do                 parte da equipa.
International Social Survey Programme (ISSP),
rede internacional de estudos longitudinais e          O questionário inclui sempre algumas questões
transnacionais na qual Portugal se encontra            gerais       que      permitem     referenciar   os
representado, desde 1997, pelo ICS.                    posicionamentos sociais dos indivíduos (valores
                                                       materialistas e pós-materialistas, posicionamento
Como vem sendo hábito, divulgamos agora os             religioso, auto-posicionamento político) bem como a
resultados obtidos em Portugal comparando-os           suas características socio-demográficas. O módulo
com os de outros países.                               de ambiente inclui questões idênticas às utilizadas
                                                       no questionário de 1993 e 20 questões novas e, no
Apresentamos ainda os resultados de um conjunto        seu conjunto, cobrem tanto o domínio dos
de perguntas realizadas apenas em Portugal sobre       comportamentos pró-ambientais, como o dos
as atitudes e opiniões relativamente ao património     conhecimentos em matéria de ambiente ou as
nacional.                                              atitudes.

AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO                             Explicitaremos em seguida algumas das variáveis
                                                       latentes incluídas em cada um dos grupos de
Os problemas ambientais estão hoje naturalmente        indicadores.
presentes no nosso quotidiano. Habituámo-nos a
ver uma secção sobre ambiente nos jornais e            Relativamente às práticas ambientais, o módulo
revistas, a assistir a notícias sobre protestos        inclui questões acerca da disponibilidade para
ambientais nos noticiários, e a ser alvos de           pagar para a protecção do ambiente (por exemplo,
campanhas de informação e sensibilização para          aceitação de aumentos preços para proteger o
melhorar o ambiente. É hoje para nós                   ambiente), de comportamentos pró-ambientais
pacificamente aceite que a poluição das águas ou       (por exemplo, reciclagem) e de comportamentos
do ar é preocupante, ou que é uma causa nobre          de participação ambiental (por exemplo, ser
contribuir para que não se extingam espécies           membro de um grupo ambientalista).
selvagens. Também não achamos estranho sermos
interpelados para responder a questões sobre as        Relativamente aos conhecimentos, incluem-se
nossas opiniões sobre o estado do ambiente, como       perguntas relativas a conhecimentos científicos
aconteceu com o questionário do International          gerais (por exemplo, “Os antibióticos podem matar
Social Survey Programme (ISSP) que agora               as bactérias mas não os vírus”) e a conhecimentos
apresentamos. De tal forma estas questões fazem        ambientais (“O efeito de estufa é causado por um
parte do nosso quotidiano que nos esquecemos           buraco na atmosfera terrestre”).
que elas nada têm de natural, e são, de facto,
No âmbito das atitudes acerca do ambiente              elevado nível de preocupação ambiental dos
incluem-se uma diversidade de indicadores              portugueses.
relativos tanto a crenças como a preocupações ou
atitudes face a diversos aspectos relacionados com                       Quadro 1
o ambiente. Incluem-se assim questões gerais               Grau de perigosidade para o ambiente
relativas ao ambiente e à natureza (por exemplo,             (extremamente + muito perigoso - %)
sobre a preocupação com o ambiente), mas
também mais específicas relativas à ciência            Centrais nucleares                                   91
(confiança na ciência como forma de resolver os        Poluição dos rios, lagos e albufeiras                87
problemas ambientais), aos diversos perigos para       Aumento da temperatura do planeta                    88
o ambiente (grau de perigosidade associada a           Poluição do ar causada pela indústria                86
diversas actividades humanas como por exemplo          Poluição do ar causada pelos automóveis              84
as centrais nucleares) ou à confiança em diversas      Pesticidas e produtos químicos usados na
                                                                                                            79
                                                       agricultura
fontes de informação ambiental (por exemplo, os
                                                       Modificação genética de produtos agrícolas           77
jornais). Caracteriza-se ainda o envolvimento
relativamente       às     questões      ambientais
                                                       A preocupação dos portugueses com o ambiente surge
considerando a percepção de auto-eficácia
                                                       ainda elevada quando comparada com os níveis de
ambiental (por exemplo, “É difícil para um pessoa
                                                       preocupação apresentados por outros países. Portugal
como eu fazer muito pelo ambiente”), a atribuição
                                                       apresenta o segundo valor médio mais elevado de
de responsabilidade pela resolução dos problemas
                                                       percepção de ameaça ambiental. Em Portugal, a
ambientais (por exemplo, ao governo ou às
                                                       percepção de ameaça ambiental é mais elevada nas
empresas) e à percepção de esforço em prol da
                                                       mulheres, nos menos instruídos, nos mais velhos e nos
protecção do ambiente (por parte dos países
                                                       que têm menores rendimentos. Para além destas
pobres e ricos, do governo ou da indústria, por
                                                       características socio-demográficas procurou-se analisar
exemplo).
                                                       a relação com posições sociais mais gerais.
                                                       No total da amostra, a posição conservadora face às
Montou-se assim um cenário onde estão
                                                       desigualdades sociais está muito associada à defesa de
disponíveis instrumentos de análise muito diversos
                                                       valores mais antropocêntricos e de restrição na
sobre a adesão às ideias ambientalistas na
                                                       conservação do património. Trata-se, portanto, de um
sociedade portuguesa hoje. Resta-nos esperar que
                                                       conjunto de crenças tradicionais, com um pendor
os investigadores os utilizem para a produção de
                                                       fatalista e um pouco miserabilista, que se manifestam
peças de pesquisa que contribuam para o aumento
                                                       de forma coerente ao longo dos três tipos de objectos
do conhecimento científico e que nos permitam
                                                       sociais: as desigualdades, o património e o ambiente. A
compreender melhor a realidade em que vivemos.
                                                       percepção de ameaças ambientais está associada a
                                                       crenças conservadoras relativamente às desigualdades
                                         Luísa Lima
                                                       sociais, mas também a uma orientação ambientalista.

                                                                             Gráfico 1
PERCEPÇÃO DE AMEAÇAS AMBIENTAIS                          Perigosidade dos automóveis e sua difusão
                                                        (médias: escala: 1 nada – 5 extremamente perigoso)
A preocupação com o ambiente surge como uma
preocupação importante para os portugueses:               4,5                                               600
74% dos inquiridos considera que o ambiente               4,3
                                                          4,1                                               500
devia ser uma prioridade nacional. Esta preocupação
geral, reflecte-se nas respostas a um conjunto de         3,9                                               400
questões relativas ao grau de perigosidade para o         3,7
ambiente associado a uma série de actividades             3,5                                               300
humanas.                                                  3,3
                                                          3,1                                               200

A análise destas questões mostra também um                2,9                                               100
elevado nível de preocupação com as 7 actividades         2,7
consideradas: As centrais nucleares são consideradas      2,5                                               0
                                                                República Checa
                                                                      Alemanha




                                                                  Nova Zelândia
                                                                          Suécia




                                                                       Espanha
                                                                       Noruega



                                                                        Bulgária




                                                                         Irlanda
                                                                       Finlândia




                                                                            Chile
                                                                           Japão
                                                                          Russia

                                                                        Portugal
                                                                    Reino Unido
                                                                        Holanda




                                                                 Estados Unidos




                                                                        Filipinas




as mais perigosas para o ambiente, seguidas, a
níveis muito semelhantes das questões associadas
à poluição industrial e ao aumento da temperatura
do planeta, situando-se no fim da lista as questões
ligadas à agricultura (uso de pesticidas e                              perigosidade para o ambiente
manipulação genética) (ver Quadro 1).
                                                                        nº de Automóveis /1000 habitantes

Deste modo, podemos ver que nesta amostra esta
tendência também se confirma a ideia de um
2
A associação entre percepção ambiental e a                                                                                                                               CULTURA CIENTÍFICA E PERCEPÇÃO DO
 experiência com o risco revela um efeito consistente                                                                                                                     PAPEL DA CIÊNCIA
 de habituação à tecnologia (quanto mais divulgada a
 tecnologia, menor a ameaça percebida para o                                                                                                                              A última década assistiu à disseminação intensiva, no
 ambiente) (Gráfico 1) e de saliência da tecnologia                                                                                                                       espaço público, de muitas controvérsias ligando
 (quanto mais rápido o crescimento nos últimos anos                                                                                                                       questões científicas e questões ambientais − questões
 maior a percepção de ameaça ambiental) (Gráfico 2).                                                                                                                      como a BSE, os organismos Geneticamente
                                                                                                                                                                          Modificados, estiveram em discussão pública por todo o
                      Gráfico 2                                                                                                                                           espaço da UE, e outras controvérsias cientificas ligadas
Perigosidade dos automóveis e sua evolução*                                                                                                                               ao ambiente foram também amplamente discutidas
 (médias: escala: 1 nada – 5 extremamente perigosos)                                                                                                                      no nosso país, nesta década, como foi o caso da co-
                                                                                                                                                                          incineração.

 4,5                                                                                                                                                                100   Estas controvérsias implicaram em muitos casos
 4,3                                                                                                                                                                      um inevitável envolvimento de públicos muito
                                                                                                                                                                    80
 4,1                                                                                                                                                                      variados, dado que se prendiam com questões
                                                                                                                                                                    60    ligadas à alimentação e à saúde em geral. E elas
 3,9
                                                                                                                                                                          implicaram, também, um espaço nos media cada vez
 3,7                                                                                                                                                                40    mais alargado, nomeadamente no nosso país, onde a
 3,5                                                                                                                                                                      cobertura de assuntos de âmbito científico na imprensa
                                                                                                                                                                    20
 3,3                                                                                                                                                                      se alargou. Assim, podemos pressupor que, na década
 3,1                                                                                                                                                                0     de 90, as discussões em torno de assuntos que
 2,9                                                                                                                                                                      relacionam a ciência e o ambiente se difundiram
                                                                                                                                                                    -20   socialmente talvez mais rapidamente do que os
 2,7
                                                                                                                                                                          conhecimentos científicos e que tiveram consequências
 2,5                                                                                                                                                                -40
                                                                                                                                                                          para a percepção do papel da ciência em matérias
                                                                                                          República Checa
                                      Alemanha




                                                                                Nova Zelândia
                             Suécia




                                                                                                                 Espanha
                   Noruega



                                                       Bulgária




                                                                                                Irlanda
       Finlândia




                                                                                                                                                Chile
                                                                                                                            Japão
                                                                                                                                    Russia


                                                                                                                                             Portugal
                   Holanda




                                                                  Reino Unido
                                                 Estados Unidos




                                                                                                                                                        Filipinas




                                                                                                                                                                          ambientais.

                                                                                                                                                                          A comparação entre países como Portugal, Espanha e
                                                                                                                                                                          Irlanda que apresentam menor PIB per capita, menor
                       Perigosidade do carro para o ambiente
                                                                                                                                                                          peso do sector dos serviços, menor percentagem de
                       Evolução do nº de automoveis entre 90 e 99
                                                                                                                                                                          valores pós-materialistas (Inglehart, 1995) e menor
                                                                                                                                                                          exposição a uma matéria científica e ambiental
                                                                                                                                                                          controversa, como seja a biotecnologia (Wagner e
 * O indicador de evolução é a taxa de crescimento do número                                                                                                              Kronberger, 2001) e países com características
 de automóveis entre 1990 e 1999.                                                                                                                                         contrastantes como a Alemanha, a Grã-Bretanha, a
                                                                                                                                                                          Holanda e a Suécia, dão algum suporte à hipótese da
                                                                                                                                                                          relação entre conhecimento científico e pós-
 Portugal é, simultaneamente, dos países que tem                                                                                                                          industrialização (Quadro 2).
 menor difusão das tecnologias e que apresentam
 maior crescimento das tecnologias nas duas últimas                                                                                                                                          Quadro 2
 décadas. Deste modo, os elevados níveis de                                                                                                                                 Índice de conhecimento científico* e hipótese
 percepção de ameaça ambiental manifestados                                                                                                                                            da pós-industrialização
 pelos portugueses seriam resultado de dois
 factores que, em simultâneo, produziriam um
                                                                                                                                                                                                          Países                   Médias
 aumento do sentimento de perigo para o
 ambiente:                                                                                                                                                                                               Irlanda                     3
 • por um lado, correspondem a uma resposta realista                                                                                                                           Grupo 1                  Espanha                     2,7
     à rápida difusão das tecnologias em Portugal nos                                                                                                                                                  Portugal                     2,7
     últimos 20 anos,                                                                                                                                                                                  Alemanha                     3,1
 e por outro, indicam que ainda nos falta tempo                                                                                                                                Grupo 2                Grã-Bretanha                  3,9
 para a habituação à tecnologia, que a torne banal                                                                                                                                                      Holanda                     3,4
 e inócua aos nossos olhos.                                                                                                                                                                              Suécia                     3,8
                                                                                                                                                                          * O índice foi construído somando o número de respostas certas a 5
                                                                                                                                                                          perguntas, variando entre 1(0 respostas certas) e 6 (5 respostas
                                                                                                                                                                          certas): (a) os antibióticos podem matar as bactérias, mas não os vírus;
                                                                                                                                                                          (b) os seres humanos evoluíram a partir de espécies animais
                                                                                                                                                                          anteriores; (c) todos os produtos químicos produzidos pelo homem
                                                                                                                                                                          podem causar cancro se forem consumidos em demasia; (d) a
                                                                                                                                                                          exposição a qualquer grau de radioactividade provoca a morte; (e) o
                                                                                                                                                                          efeito de estufa é provocado por um buraco na atmosfera terrestre.



                                                                                                                                                                                                                                                3
Apesar de, globalmente, o índice de conhecimento                                 Na amostra portuguesa identificámos esta aparente
apresentar médias mais elevadas no grupo 2, os dados                             ambivalência relativamente à ciência, mas também
do inquérito ISSP 2000 não mostram diferenças entre                              relativamente ao ambiente. Os resultados mostram que
países relativamente à influência de variáveis                                   se no nosso país todos são ambientalistas, nem todos
sociodemográficas (grupo profissional, sexo, idade,                              são anti-ambientalistas. Por outras palavras, há grupos
escolaridade, rendimento individual, rendimento do                               para quem ambientalismo e anti-ambientalismo são
agregado familiar) no nível de conhecimento científico e                         dimensões opostas e há grupos que aparentemente
a importância destas variáveis para a compreensão                                conciliam esta contradição. A diferenciação entre
do nível de conhecimento científico é sempre                                     estes dois grupos de indivíduos passa em grande
muito baixa. Estes resultados apontam assim para                                 parte      pela      importância        atribuída     à
a existência de forças de homogeneização social.                                 responsabilização do eu versus das instituições no
                                                                                 pensamento sobre o ambiente.
                    Gráfico 3
Ciência moderna resolverá problemas ambientais                                   DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL:
   alterando pouco o nosso estilo de vida (%)
         (Concordo totalmente + concordo)
                                                                                 FACTOS E OPINIÕES
          60             57
                                                                                 Os resultados do inquérito contrariam a ideia
                                                                                 convencional segundo a qual as populações dos países
          50
                                                                                 mais pobres - por estarem demasiado ocupadas com a
          40
                                                                                 sobrevivência - serão menos preocupadas com o
                              33       33         32                             ambiente, do que as populações dos países mais ricos.
          30                                                                     Comparando as respostas, verifica-se que são as
                                                       23
                                                                                 pessoas dos países com menor PIB per capita, que
          20                                                         15          mais dramatizam o risco dos problemas ambientais
                                                                            12
                                                                                 - desde a utilização dos pesticidas, à poluição das
          10                                                                     águas, passando pela poluição do ar gerada pela
                                                                                 indústria e pelos automóveis (Gráfico 5).
           0
                   l
                ga      ha      nh
                                  a
                                          nd
                                             a
                                                              nd
                                                                 a                                   Gráfico 5
            rtu       an     pa       rla                la
          Po Ale
                     m              I                  Ho                         Perigosidade dos problemas ambientais* versus
                          Es
                                                                                                  PIB per capita
                                                                                   %                                                             $
Apesar de ter níveis mais baixos de conhecimentos
científicos comparativamente com os outros países                                 100                                                        35.000
considerados, Portugal manifesta simultaneamente                                   90
maiores níveis de confiança na ciência para a                                                                                                30.000
resolução dos problemas ambientais (Gráfico 3), e                                  80
menores níveis de confiança nos centros de                                         70                                                        25.000
investigação para informar sobre a ciência (Gráfico 4).
                                                                                   60
                                                                                                                                             20.000
                     Gráfico 4                                                     50
    Confiança nos centros de investigação para
                                                                                                                                             15.000
           informar sobre poluição (%)                                             40
          (Concordo totalmente + concordo)
                                                                                   30                                                        10.000
          90             84
                              79                                                   20
          80                          75
                                                  70
                                                                                                                                             5.000
                                                       68                          10
          70                                                         63
                                                                            56      0                                                        0
          60

          50

          40

          30
                                                                                                 Perigosidade             PIB per capita
          20

          10
                                                                                 * Média da perigosidade atribuída à poluição da água, aos
            0                                                                    pesticidas, à poluição do ar (indústria e automóveis)
                     a                                         l        a
                nd                 nh
                                      a      ha              ga       nd
              la                pa        an             rt u      la            Portugal, que ocupa uma posição de charneira entre os
           Ir                 Es        em             Po        Ho
                                     Al                                          países mais e menos desenvolvidos considerados neste
                                                                                 inquérito, faz parte dos casos (depois do Chile, países
4
de Leste e Filipinas) onde se manifesta maior                        recursos naturais e paisagísticos acaba por ser
    preocupação com a perigosidade dos problemas                         prejudicial ao próprio processo de desenvolvimento.
    ambientais. Assim, à medida que o PIB per capita dos                 Aquilo que já é uma evidência para populações de
    países vai baixando, as populações sentem-se mais                    países industrializados e desenvolvidos, como no caso
    ameaçadas.                                                           dos países nórdicos europeus – actualmente em franca
                                                                         regeneração ambiental – parece tornar-se agora nítido
    Nuns casos porque eventualmente percepcionam uma                     para as outras.
    menor preparação técnico-científica e capacidade                     Portugal destaca-se por ser o país onde a opinião
    reactiva por parte das respectivas autoridades                       pública revela maior consciência desta situação,
    responsáveis, caso ocorra algum incidente; noutros                   concordando maioritariamente “que o crescimento
    porque se ressentem dos efeitos de degradação                        económico prejudica sempre o ambiente”. Os
    ambiental provocados pelo agravamento de muitos                      portugueses intuem, assim, que o progresso
    problemas (incluindo necessidades básicas como a                     económico necessita de integrar e ter em conta a
    água potável).                                                       prestação ambiental, sob o risco de deixar de ser
                                                                         “progresso” (Gráfico 6).
    Noutros casos ainda, a mediatização intensa de certos                E, para acautelar e gerir os recursos ambientais
    problemas ambientais globais, como as alterações                     não se dispensa a intervenção de um Estado que
    climáticas, insistentemente referidos como causadores                regule os impactos das actividades privadas (de
    das sucessivas catástrofes ocorridas nos últimos                     pessoas e empresas) sobre o ambiente. A
    tempos (cheias, secas, tempestades), terá contribuído                esmagadora maioria das populações dos países
    para criar uma inquietação generalizada na opinião                   inquiridos requer a criação de leis e sua aplicação
    pública dos países mais vitimados, que também são os                 efectiva por parte dos respectivos governos para
    mais pobres.                                                         defender o ambiente. Praticamente nenhum país
                                                                         assume, maioritariamente, uma atitude pró-liberal,
                              Gráfico 6                                  seja no sentido de deixar as decisões à consciência
                  O crescimento económico prejudica                      dos cidadãos, seja, menos ainda, ao livre arbítrio
                        sempre o ambiente (%)                            das empresas.
                     (concorda totalmente + concorda)                    Portugal também está no pelotão da frente na
                                                                         defesa deste intervencionismo normativo por parte
  B angladesh
                                                                         do Estado (Gráfico 7), rejeitando o liberalismo
                                 23
      Filipinas
                                                                         autoregulativo tão alardeado numa série de outras
                                                   43
                                                                         matérias, mas visto como ineficaz e irrealista
      B ulgária                                  40
                                                                         enquanto “fórmula” para defender um património
       Rússia                              33
                                                                         comum como o ambiente.
         Chile                                            49                                    Gráfico 7
  Rep. Checa                     23                                             É preciso leis para defender o ambiente
     P o rtugal                                                58
     Espanha                     24                                        Bangladesh
No va Zelândia             15                                                 Filipinas
       Irlanda                             33                                 Bulgária
    A lemanha                     27                                           Rússia
  Reino Unido              14                                                    Chile
     Finlandia                        29                                   Rep. Checa
        Japão                                        44                       Portugal
     Ho landa                     26                                          Espanha
          EUA               17                                           Nova Zelândia
       Suécia              15                                                   Irlanda
     No ruega             14                                                Alemanha
                                                                          Reino Unido
                  0         20                  40             60   80
                                                                             Finlandia
                                                                                Japão
    Outra ideia que os resultados deste inquérito                             Holanda
    contrariam, é a clássica oposição entre                                       EUA
    crescimento e ambiente, segundo a qual o                                   Suécia
    processo de desenvolvimento económico não pode                            Noruega
    co-existir com a protecção ambiental. Tudo indica
    que as populações dos países menos desenvolvidos                                      0        20            40
                                                                                                                      %   60          80        100
    começam a consciencializar o ambiente como um
    factor-chave. E por razões muito pragmáticas: a                                       Decisão das empresas            Criação de Leis
    percepção aguda de que a ausência da protecção dos

                                                                                                                                            5
O favorecimento de uma intervenção estatal à                                             Ora se a existência de uma sociedade civil com pouca
       escala nacional, reflecte-se também ao nível de                                          capacidade reivindicativa e tradicionalmente pouco
       uma intervenção “supraestatal” na salvaguarda do                                         interventiva implicará sempre algum distanciamento
       ambiente à escala global. De facto, os resultados                                        das populações para com os problemas globais que
       mostram que existe um grande consenso no que                                             dizem respeito a todos (como será o caso dos
       respeita à necessidade de Acordos Internacionais                                         problemas ambientais), as diversas situações de
       para meter “o mundo na ordem” em termos                                                  degradação ambiental que têm vindo a proliferar,
       ambientais (Gráfico 8).                                                                  difundidas pelos media e pelas organizações de defesa
                                                                                                do ambiente, concorrem para o florescimento de uma
       Estas respostas indicam, por um lado, que a                                              sociedade civil que, neste processo, reforça a
       população mundial tende a integrar uma noção de                                          mobilização pelo ambiente e, simultaneamente, sai
       ambiente como património comum. E, por outro                                             reforçada para agir em defesa dos interesses
       lado, que só uma decisão política de escala                                              partilhados em geral e do ambiente em particular.
       internacional, eventualmente conduzida por entidades
       independentes, terá força para se sobrepor aos                                           Se as dificuldades de mobilização ambiental se
       interesses nacionais e económicos.                                                       prendem, por isso, com alguma imaturidade da
                                                                                                sociedade civil portuguesa, os resultados do
                            Gráfico 8                                                           inquérito apontam para algumas dimensões onde,
             Concorda com acordos internacionais (%)                                            aparentemente, podemos ombrear com sociedades,
                                                                                                supostamente mais avançadas neste processo
  Bangladesh                   35                           42                                  ainda a dar os primeiros passos entre nós. De
     Filipinas       14                          57                                             facto, no que diz respeito a dimensões como a
     Bulgária                               67                                  17
                                                                                                disponibilidade para aceitar sacrifícios em nome da
                                                                                                preservação ambiental, os níveis de preocupação com o
       Rússia                              63                                   28              estado do ambiente ou, ainda, a algum sentido crítico
        Chile             25                               53                                   face à vida moderna e suas consequências, as
  Rep. Checa                               63                                   28              respostas dos portugueses não se distanciam
                                                                                                significativamente dos alemães, dos britânicos ou
     Portugal              30                                   56
                                                                                                dos espanhóis (Gráfico 9).
     Espanha                          53                                   37
Nova Zelândia              33                                   51                                                Gráfico 9
      Irlanda                  37                               41
                                                                                                    Activismo, disponibilidade e crítica ao
                                                                                                              crescimento (%)
   Alemanha                                62                                   30
 Reino Unido               30                                   52                                   35                                          31
                                                                                                     30     28 28        27                           28
    Finlandia                    43                                   45
                                                                                                                    25           26 24 26                  26 27
                                                                                                                              24
       Japão                         51                               30                             25
     Holanda               33                                    54                                  20
           EUA        22                              49                                             15
       Suécia                        49                                    41                        10
     Noruega                    38                                    54                              5

                 0              20               40              60                  80   100         0
                                                                                                          Disponibilidade       Confiança        Crítica ao
                          Concorda totalmente %                      Concorda
                                                                                                                                                crescimento


       MOBILIZAÇÃO AMBIENTAL E                                                                         Alemanha          Grã-Bretanha       Espanha        Portugal
       CIDADANIA

       A progressiva degradação das condições ambientais e,                                     O que parece fazer a diferença, mais do que
       sobretudo, a sua crescente visibilidade transformaram a                                  predisposições e atitudes, são as práticas e os
       questão ambiental num problema social que tem vindo                                      níveis de activismo que (porque implicam esforço e
       a ganhar terreno na sociedade portuguesa,                                                actividade efectiva em prol do ambiente) se
       suscitando a emergência de novas atitudes,                                               mostram bastante modestos quando comparados
       valores e comportamentos que corporizam um                                               com os desempenhos dos outros europeus
       processo progressivo de mobilização social pela                                          (Gráfico 10).
       defesa do ambiente e das condições ecológicas em
       geral.


       6
Recolhendo menores valores de importância mas, ainda
                  Gráfico 10                            assim, significativos são os tipos de património que
     Activismo em defesa do ambiente (%)                designamos por “lugares de memória recente” por
                                                        corresponderem, em geral, a bens patrimoniais ou
                    20                                  patrimonializáveis representativos do passado recente,
     20
            16                                          como o espaço rural essencialmente agrícola,
                           15
                                                        simbolizado pela casa rústica com cerca de 300 anos,
     15
                                                        as fases mais antigas da industrialização, representadas
     10                              7                  pela velha fábrica de destilação ou o património
                                                        histórico-literário do século passado, simbolizado pela
      5                                                 casa de um poeta famoso que morreu há cerca de 100
                                                        anos.
      0
                                                        Os resultados representados no gráfico 11 dão mais
            A




                           Es


                                     Po
             le




                             pa


                                       rt
                                                        uma ideia de como a valorização e conservação do
               m




                                         ug
                               n
                an




                                ha


                                            al

                                                        património é algo que está sedimentado nas
                  ha




                                                        preocupações dos portugueses. A conservação do
                                                        património é vista principalmente como uma obrigação
PATRIMÓNIO E AMBIENTE                                   do Estado e uma prioridade nacional.

O inquérito português incluía ainda um conjunto                               Gráfico 11
de questões concebidas com o objectivo de captar                  Atitudes face ao património (%)
informação que permitisse registar o crescimento                   (Concordo totalmente + concordo)
de dinâmicas culturais associadas a preocupações
de preservação do património, relacionando-as
com a emergência de novas formas de cidadania                90         81
política, nomeadamente formas de acção colectiva             80
que lutam por interesses de natureza cultural,
                                                             70                       61
como movimentos ambientalistas e de defesa do
património.                                                  60
                                                                                                    47
Os resultados permitem constatar, em primeiro                50
lugar, o facto de estar a alastrar, entre a                  40
população portuguesa, como vem acontecendo há
                                                             30
mais tempo em vários países da Europa, a
atracção pelo património histórico, visitando                20
lugares de memória. Em segundo, o facto de o                 10
conjunto de factores sociais, como idade,
                                                              0
instrução, classe social, não estabelecer diferenças              Obrigação do   Prioridade     Luxo de
muito acentuadas, apesar de significativas, no que                  Estado        nacional    países ricos
respeita ao tipo de visitantes.
Quanto aos tipos de património mais valorizados, a      Contudo, a incapacidade de conversão destas atitudes,
proteger face à ameaça de certas opções de              globalmente positivas para com a protecção e
desenvolvimento,      destacam-se     o    histórico-   valorização    do   património,   em     acções    e
monumental, representado pelo lugar pré-histórico       comportamentos dirigidos para a sua defesa não podia
e pela igreja medieval e o património ambiental,        ser mais flagrante.
representado pela formação geológica rara e pelo
lugar de ninhos de aves em extinção (Quadro 3).         Apenas 1.3% é membro de associações de defesa do
                                                        património histórico-cultural, subindo a percentagem
                       Quadro 3
                                                        ligeiramente para a participação em acções concretas
          Tipos de património valorizado (%)
              (Muita + alguma importância)
                                                        relacionadas com a protecção do património: 2.7%
                                                        dizem ter assinado petições, 2.3% dizem ter participado
                                                        em protestos ou manifestações, 2.6% deu dinheiro a
Tipo de património                                 %
                                                        grupos, movimentos ou acções de defesa do
Um lugar pré-histórico                             87   património, 2.7% deu trabalho gratuitamente para
Uma igreja medieval                                89   resolver questões relacionadas com o património.
Uma casa rústica com cerca de 300 anos             77   Construído um índice de cidadania de defesa do
Uma velha fábrica de destilação                    58   património, com base nos indicadores de participação
A casa de um poeta famoso que morreu há 100 anos   76   associada e mobilização política, verifica-se que a média
Uma formação geológica rara                        85   de participação corresponde a 0.12.
Um lugar de ninhos de aves em extinção             86

                                                                                                               7
ASP
                                                               PUBLICAÇÕES



                                           Bases de Dados
    Atitudes Sociais dos Portugueses


           Coordenação Geral
          Manuel Villaverde Cabral
                Jorge Vala

         Coordenação ASP 2000
               Luísa Lima




             Colaboradores
           Aida Valadas de Lima
                João Guerra
                 Luísa Lima
               Luísa Schmidt
               Manuela Reis
                Paula Castro
              Susana Valente
                                           Atitudes Sociais dos Portugueses

         Secretariado Científico
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                Patrocínios
    Fundação para a Ciência e Tecnologia
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              Desenvolvimento
                                           Próximos volumes:

                                           Vala, J., Cabral, M.V., Ramos, A. (Org.) (2002). Valores
    Instituto de Ciências Sociais da       Sociais numa perspectiva Comparativa (título provisório).
          Universidade de Lisboa           Lisboa: ICS.
    Ed. ISCTE, Ala Sul, 1º - 1600 Lisboa   Cabral, M.V., Vala, J.(Org.) (2002). Desigualdades Sociais e
     Tel: 21 7995000 Fax: 21 7964953       Justiça Social (título provisório). Lisboa: ICS.
       E-mail: alice.ramos@ics.ul.pt;
         Internet: www.ics.ul.pt/asp




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Atitudes ambientais dos portugueses

  • 1. Atitudes Sociais dos Portugueses INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA Boletim de divulgação nº5 Março 2002 APRESENTAÇÃO temas de reflexão recentes nas sociedades ocidentais. No âmbito do projecto Atitudes Sociais dos Portugueses, coordenado por Manuel Villaverde O questionário que agora se apresenta é o Cabral e Jorge Vala, o Instituto de Ciências Sociais segundo realizado pelo ISSP sobre o ambiente. O da Universidade de Lisboa (ICS) lançou em 2000 questionário anterior foi aplicado em 1993 em 22 um inquérito sobre questões ambientais. Este países, mas nessa altura Portugal ainda não fazia inquérito constitui mais uma edição do parte da equipa. International Social Survey Programme (ISSP), rede internacional de estudos longitudinais e O questionário inclui sempre algumas questões transnacionais na qual Portugal se encontra gerais que permitem referenciar os representado, desde 1997, pelo ICS. posicionamentos sociais dos indivíduos (valores materialistas e pós-materialistas, posicionamento Como vem sendo hábito, divulgamos agora os religioso, auto-posicionamento político) bem como a resultados obtidos em Portugal comparando-os suas características socio-demográficas. O módulo com os de outros países. de ambiente inclui questões idênticas às utilizadas no questionário de 1993 e 20 questões novas e, no Apresentamos ainda os resultados de um conjunto seu conjunto, cobrem tanto o domínio dos de perguntas realizadas apenas em Portugal sobre comportamentos pró-ambientais, como o dos as atitudes e opiniões relativamente ao património conhecimentos em matéria de ambiente ou as nacional. atitudes. AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO Explicitaremos em seguida algumas das variáveis latentes incluídas em cada um dos grupos de Os problemas ambientais estão hoje naturalmente indicadores. presentes no nosso quotidiano. Habituámo-nos a ver uma secção sobre ambiente nos jornais e Relativamente às práticas ambientais, o módulo revistas, a assistir a notícias sobre protestos inclui questões acerca da disponibilidade para ambientais nos noticiários, e a ser alvos de pagar para a protecção do ambiente (por exemplo, campanhas de informação e sensibilização para aceitação de aumentos preços para proteger o melhorar o ambiente. É hoje para nós ambiente), de comportamentos pró-ambientais pacificamente aceite que a poluição das águas ou (por exemplo, reciclagem) e de comportamentos do ar é preocupante, ou que é uma causa nobre de participação ambiental (por exemplo, ser contribuir para que não se extingam espécies membro de um grupo ambientalista). selvagens. Também não achamos estranho sermos interpelados para responder a questões sobre as Relativamente aos conhecimentos, incluem-se nossas opiniões sobre o estado do ambiente, como perguntas relativas a conhecimentos científicos aconteceu com o questionário do International gerais (por exemplo, “Os antibióticos podem matar Social Survey Programme (ISSP) que agora as bactérias mas não os vírus”) e a conhecimentos apresentamos. De tal forma estas questões fazem ambientais (“O efeito de estufa é causado por um parte do nosso quotidiano que nos esquecemos buraco na atmosfera terrestre”). que elas nada têm de natural, e são, de facto,
  • 2. No âmbito das atitudes acerca do ambiente elevado nível de preocupação ambiental dos incluem-se uma diversidade de indicadores portugueses. relativos tanto a crenças como a preocupações ou atitudes face a diversos aspectos relacionados com Quadro 1 o ambiente. Incluem-se assim questões gerais Grau de perigosidade para o ambiente relativas ao ambiente e à natureza (por exemplo, (extremamente + muito perigoso - %) sobre a preocupação com o ambiente), mas também mais específicas relativas à ciência Centrais nucleares 91 (confiança na ciência como forma de resolver os Poluição dos rios, lagos e albufeiras 87 problemas ambientais), aos diversos perigos para Aumento da temperatura do planeta 88 o ambiente (grau de perigosidade associada a Poluição do ar causada pela indústria 86 diversas actividades humanas como por exemplo Poluição do ar causada pelos automóveis 84 as centrais nucleares) ou à confiança em diversas Pesticidas e produtos químicos usados na 79 agricultura fontes de informação ambiental (por exemplo, os Modificação genética de produtos agrícolas 77 jornais). Caracteriza-se ainda o envolvimento relativamente às questões ambientais A preocupação dos portugueses com o ambiente surge considerando a percepção de auto-eficácia ainda elevada quando comparada com os níveis de ambiental (por exemplo, “É difícil para um pessoa preocupação apresentados por outros países. Portugal como eu fazer muito pelo ambiente”), a atribuição apresenta o segundo valor médio mais elevado de de responsabilidade pela resolução dos problemas percepção de ameaça ambiental. Em Portugal, a ambientais (por exemplo, ao governo ou às percepção de ameaça ambiental é mais elevada nas empresas) e à percepção de esforço em prol da mulheres, nos menos instruídos, nos mais velhos e nos protecção do ambiente (por parte dos países que têm menores rendimentos. Para além destas pobres e ricos, do governo ou da indústria, por características socio-demográficas procurou-se analisar exemplo). a relação com posições sociais mais gerais. No total da amostra, a posição conservadora face às Montou-se assim um cenário onde estão desigualdades sociais está muito associada à defesa de disponíveis instrumentos de análise muito diversos valores mais antropocêntricos e de restrição na sobre a adesão às ideias ambientalistas na conservação do património. Trata-se, portanto, de um sociedade portuguesa hoje. Resta-nos esperar que conjunto de crenças tradicionais, com um pendor os investigadores os utilizem para a produção de fatalista e um pouco miserabilista, que se manifestam peças de pesquisa que contribuam para o aumento de forma coerente ao longo dos três tipos de objectos do conhecimento científico e que nos permitam sociais: as desigualdades, o património e o ambiente. A compreender melhor a realidade em que vivemos. percepção de ameaças ambientais está associada a crenças conservadoras relativamente às desigualdades Luísa Lima sociais, mas também a uma orientação ambientalista. Gráfico 1 PERCEPÇÃO DE AMEAÇAS AMBIENTAIS Perigosidade dos automóveis e sua difusão (médias: escala: 1 nada – 5 extremamente perigoso) A preocupação com o ambiente surge como uma preocupação importante para os portugueses: 4,5 600 74% dos inquiridos considera que o ambiente 4,3 4,1 500 devia ser uma prioridade nacional. Esta preocupação geral, reflecte-se nas respostas a um conjunto de 3,9 400 questões relativas ao grau de perigosidade para o 3,7 ambiente associado a uma série de actividades 3,5 300 humanas. 3,3 3,1 200 A análise destas questões mostra também um 2,9 100 elevado nível de preocupação com as 7 actividades 2,7 consideradas: As centrais nucleares são consideradas 2,5 0 República Checa Alemanha Nova Zelândia Suécia Espanha Noruega Bulgária Irlanda Finlândia Chile Japão Russia Portugal Reino Unido Holanda Estados Unidos Filipinas as mais perigosas para o ambiente, seguidas, a níveis muito semelhantes das questões associadas à poluição industrial e ao aumento da temperatura do planeta, situando-se no fim da lista as questões ligadas à agricultura (uso de pesticidas e perigosidade para o ambiente manipulação genética) (ver Quadro 1). nº de Automóveis /1000 habitantes Deste modo, podemos ver que nesta amostra esta tendência também se confirma a ideia de um 2
  • 3. A associação entre percepção ambiental e a CULTURA CIENTÍFICA E PERCEPÇÃO DO experiência com o risco revela um efeito consistente PAPEL DA CIÊNCIA de habituação à tecnologia (quanto mais divulgada a tecnologia, menor a ameaça percebida para o A última década assistiu à disseminação intensiva, no ambiente) (Gráfico 1) e de saliência da tecnologia espaço público, de muitas controvérsias ligando (quanto mais rápido o crescimento nos últimos anos questões científicas e questões ambientais − questões maior a percepção de ameaça ambiental) (Gráfico 2). como a BSE, os organismos Geneticamente Modificados, estiveram em discussão pública por todo o Gráfico 2 espaço da UE, e outras controvérsias cientificas ligadas Perigosidade dos automóveis e sua evolução* ao ambiente foram também amplamente discutidas (médias: escala: 1 nada – 5 extremamente perigosos) no nosso país, nesta década, como foi o caso da co- incineração. 4,5 100 Estas controvérsias implicaram em muitos casos 4,3 um inevitável envolvimento de públicos muito 80 4,1 variados, dado que se prendiam com questões 60 ligadas à alimentação e à saúde em geral. E elas 3,9 implicaram, também, um espaço nos media cada vez 3,7 40 mais alargado, nomeadamente no nosso país, onde a 3,5 cobertura de assuntos de âmbito científico na imprensa 20 3,3 se alargou. Assim, podemos pressupor que, na década 3,1 0 de 90, as discussões em torno de assuntos que 2,9 relacionam a ciência e o ambiente se difundiram -20 socialmente talvez mais rapidamente do que os 2,7 conhecimentos científicos e que tiveram consequências 2,5 -40 para a percepção do papel da ciência em matérias República Checa Alemanha Nova Zelândia Suécia Espanha Noruega Bulgária Irlanda Finlândia Chile Japão Russia Portugal Holanda Reino Unido Estados Unidos Filipinas ambientais. A comparação entre países como Portugal, Espanha e Irlanda que apresentam menor PIB per capita, menor Perigosidade do carro para o ambiente peso do sector dos serviços, menor percentagem de Evolução do nº de automoveis entre 90 e 99 valores pós-materialistas (Inglehart, 1995) e menor exposição a uma matéria científica e ambiental controversa, como seja a biotecnologia (Wagner e * O indicador de evolução é a taxa de crescimento do número Kronberger, 2001) e países com características de automóveis entre 1990 e 1999. contrastantes como a Alemanha, a Grã-Bretanha, a Holanda e a Suécia, dão algum suporte à hipótese da relação entre conhecimento científico e pós- Portugal é, simultaneamente, dos países que tem industrialização (Quadro 2). menor difusão das tecnologias e que apresentam maior crescimento das tecnologias nas duas últimas Quadro 2 décadas. Deste modo, os elevados níveis de Índice de conhecimento científico* e hipótese percepção de ameaça ambiental manifestados da pós-industrialização pelos portugueses seriam resultado de dois factores que, em simultâneo, produziriam um Países Médias aumento do sentimento de perigo para o ambiente: Irlanda 3 • por um lado, correspondem a uma resposta realista Grupo 1 Espanha 2,7 à rápida difusão das tecnologias em Portugal nos Portugal 2,7 últimos 20 anos, Alemanha 3,1 e por outro, indicam que ainda nos falta tempo Grupo 2 Grã-Bretanha 3,9 para a habituação à tecnologia, que a torne banal Holanda 3,4 e inócua aos nossos olhos. Suécia 3,8 * O índice foi construído somando o número de respostas certas a 5 perguntas, variando entre 1(0 respostas certas) e 6 (5 respostas certas): (a) os antibióticos podem matar as bactérias, mas não os vírus; (b) os seres humanos evoluíram a partir de espécies animais anteriores; (c) todos os produtos químicos produzidos pelo homem podem causar cancro se forem consumidos em demasia; (d) a exposição a qualquer grau de radioactividade provoca a morte; (e) o efeito de estufa é provocado por um buraco na atmosfera terrestre. 3
  • 4. Apesar de, globalmente, o índice de conhecimento Na amostra portuguesa identificámos esta aparente apresentar médias mais elevadas no grupo 2, os dados ambivalência relativamente à ciência, mas também do inquérito ISSP 2000 não mostram diferenças entre relativamente ao ambiente. Os resultados mostram que países relativamente à influência de variáveis se no nosso país todos são ambientalistas, nem todos sociodemográficas (grupo profissional, sexo, idade, são anti-ambientalistas. Por outras palavras, há grupos escolaridade, rendimento individual, rendimento do para quem ambientalismo e anti-ambientalismo são agregado familiar) no nível de conhecimento científico e dimensões opostas e há grupos que aparentemente a importância destas variáveis para a compreensão conciliam esta contradição. A diferenciação entre do nível de conhecimento científico é sempre estes dois grupos de indivíduos passa em grande muito baixa. Estes resultados apontam assim para parte pela importância atribuída à a existência de forças de homogeneização social. responsabilização do eu versus das instituições no pensamento sobre o ambiente. Gráfico 3 Ciência moderna resolverá problemas ambientais DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: alterando pouco o nosso estilo de vida (%) (Concordo totalmente + concordo) FACTOS E OPINIÕES 60 57 Os resultados do inquérito contrariam a ideia convencional segundo a qual as populações dos países 50 mais pobres - por estarem demasiado ocupadas com a 40 sobrevivência - serão menos preocupadas com o 33 33 32 ambiente, do que as populações dos países mais ricos. 30 Comparando as respostas, verifica-se que são as 23 pessoas dos países com menor PIB per capita, que 20 15 mais dramatizam o risco dos problemas ambientais 12 - desde a utilização dos pesticidas, à poluição das 10 águas, passando pela poluição do ar gerada pela indústria e pelos automóveis (Gráfico 5). 0 l ga ha nh a nd a nd a Gráfico 5 rtu an pa rla la Po Ale m I Ho Perigosidade dos problemas ambientais* versus Es PIB per capita % $ Apesar de ter níveis mais baixos de conhecimentos científicos comparativamente com os outros países 100 35.000 considerados, Portugal manifesta simultaneamente 90 maiores níveis de confiança na ciência para a 30.000 resolução dos problemas ambientais (Gráfico 3), e 80 menores níveis de confiança nos centros de 70 25.000 investigação para informar sobre a ciência (Gráfico 4). 60 20.000 Gráfico 4 50 Confiança nos centros de investigação para 15.000 informar sobre poluição (%) 40 (Concordo totalmente + concordo) 30 10.000 90 84 79 20 80 75 70 5.000 68 10 70 63 56 0 0 60 50 40 30 Perigosidade PIB per capita 20 10 * Média da perigosidade atribuída à poluição da água, aos 0 pesticidas, à poluição do ar (indústria e automóveis) a l a nd nh a ha ga nd la pa an rt u la Portugal, que ocupa uma posição de charneira entre os Ir Es em Po Ho Al países mais e menos desenvolvidos considerados neste inquérito, faz parte dos casos (depois do Chile, países 4
  • 5. de Leste e Filipinas) onde se manifesta maior recursos naturais e paisagísticos acaba por ser preocupação com a perigosidade dos problemas prejudicial ao próprio processo de desenvolvimento. ambientais. Assim, à medida que o PIB per capita dos Aquilo que já é uma evidência para populações de países vai baixando, as populações sentem-se mais países industrializados e desenvolvidos, como no caso ameaçadas. dos países nórdicos europeus – actualmente em franca regeneração ambiental – parece tornar-se agora nítido Nuns casos porque eventualmente percepcionam uma para as outras. menor preparação técnico-científica e capacidade Portugal destaca-se por ser o país onde a opinião reactiva por parte das respectivas autoridades pública revela maior consciência desta situação, responsáveis, caso ocorra algum incidente; noutros concordando maioritariamente “que o crescimento porque se ressentem dos efeitos de degradação económico prejudica sempre o ambiente”. Os ambiental provocados pelo agravamento de muitos portugueses intuem, assim, que o progresso problemas (incluindo necessidades básicas como a económico necessita de integrar e ter em conta a água potável). prestação ambiental, sob o risco de deixar de ser “progresso” (Gráfico 6). Noutros casos ainda, a mediatização intensa de certos E, para acautelar e gerir os recursos ambientais problemas ambientais globais, como as alterações não se dispensa a intervenção de um Estado que climáticas, insistentemente referidos como causadores regule os impactos das actividades privadas (de das sucessivas catástrofes ocorridas nos últimos pessoas e empresas) sobre o ambiente. A tempos (cheias, secas, tempestades), terá contribuído esmagadora maioria das populações dos países para criar uma inquietação generalizada na opinião inquiridos requer a criação de leis e sua aplicação pública dos países mais vitimados, que também são os efectiva por parte dos respectivos governos para mais pobres. defender o ambiente. Praticamente nenhum país assume, maioritariamente, uma atitude pró-liberal, Gráfico 6 seja no sentido de deixar as decisões à consciência O crescimento económico prejudica dos cidadãos, seja, menos ainda, ao livre arbítrio sempre o ambiente (%) das empresas. (concorda totalmente + concorda) Portugal também está no pelotão da frente na defesa deste intervencionismo normativo por parte B angladesh do Estado (Gráfico 7), rejeitando o liberalismo 23 Filipinas autoregulativo tão alardeado numa série de outras 43 matérias, mas visto como ineficaz e irrealista B ulgária 40 enquanto “fórmula” para defender um património Rússia 33 comum como o ambiente. Chile 49 Gráfico 7 Rep. Checa 23 É preciso leis para defender o ambiente P o rtugal 58 Espanha 24 Bangladesh No va Zelândia 15 Filipinas Irlanda 33 Bulgária A lemanha 27 Rússia Reino Unido 14 Chile Finlandia 29 Rep. Checa Japão 44 Portugal Ho landa 26 Espanha EUA 17 Nova Zelândia Suécia 15 Irlanda No ruega 14 Alemanha Reino Unido 0 20 40 60 80 Finlandia Japão Outra ideia que os resultados deste inquérito Holanda contrariam, é a clássica oposição entre EUA crescimento e ambiente, segundo a qual o Suécia processo de desenvolvimento económico não pode Noruega co-existir com a protecção ambiental. Tudo indica que as populações dos países menos desenvolvidos 0 20 40 % 60 80 100 começam a consciencializar o ambiente como um factor-chave. E por razões muito pragmáticas: a Decisão das empresas Criação de Leis percepção aguda de que a ausência da protecção dos 5
  • 6. O favorecimento de uma intervenção estatal à Ora se a existência de uma sociedade civil com pouca escala nacional, reflecte-se também ao nível de capacidade reivindicativa e tradicionalmente pouco uma intervenção “supraestatal” na salvaguarda do interventiva implicará sempre algum distanciamento ambiente à escala global. De facto, os resultados das populações para com os problemas globais que mostram que existe um grande consenso no que dizem respeito a todos (como será o caso dos respeita à necessidade de Acordos Internacionais problemas ambientais), as diversas situações de para meter “o mundo na ordem” em termos degradação ambiental que têm vindo a proliferar, ambientais (Gráfico 8). difundidas pelos media e pelas organizações de defesa do ambiente, concorrem para o florescimento de uma Estas respostas indicam, por um lado, que a sociedade civil que, neste processo, reforça a população mundial tende a integrar uma noção de mobilização pelo ambiente e, simultaneamente, sai ambiente como património comum. E, por outro reforçada para agir em defesa dos interesses lado, que só uma decisão política de escala partilhados em geral e do ambiente em particular. internacional, eventualmente conduzida por entidades independentes, terá força para se sobrepor aos Se as dificuldades de mobilização ambiental se interesses nacionais e económicos. prendem, por isso, com alguma imaturidade da sociedade civil portuguesa, os resultados do Gráfico 8 inquérito apontam para algumas dimensões onde, Concorda com acordos internacionais (%) aparentemente, podemos ombrear com sociedades, supostamente mais avançadas neste processo Bangladesh 35 42 ainda a dar os primeiros passos entre nós. De Filipinas 14 57 facto, no que diz respeito a dimensões como a Bulgária 67 17 disponibilidade para aceitar sacrifícios em nome da preservação ambiental, os níveis de preocupação com o Rússia 63 28 estado do ambiente ou, ainda, a algum sentido crítico Chile 25 53 face à vida moderna e suas consequências, as Rep. Checa 63 28 respostas dos portugueses não se distanciam significativamente dos alemães, dos britânicos ou Portugal 30 56 dos espanhóis (Gráfico 9). Espanha 53 37 Nova Zelândia 33 51 Gráfico 9 Irlanda 37 41 Activismo, disponibilidade e crítica ao crescimento (%) Alemanha 62 30 Reino Unido 30 52 35 31 30 28 28 27 28 Finlandia 43 45 25 26 24 26 26 27 24 Japão 51 30 25 Holanda 33 54 20 EUA 22 49 15 Suécia 49 41 10 Noruega 38 54 5 0 20 40 60 80 100 0 Disponibilidade Confiança Crítica ao Concorda totalmente % Concorda crescimento MOBILIZAÇÃO AMBIENTAL E Alemanha Grã-Bretanha Espanha Portugal CIDADANIA A progressiva degradação das condições ambientais e, O que parece fazer a diferença, mais do que sobretudo, a sua crescente visibilidade transformaram a predisposições e atitudes, são as práticas e os questão ambiental num problema social que tem vindo níveis de activismo que (porque implicam esforço e a ganhar terreno na sociedade portuguesa, actividade efectiva em prol do ambiente) se suscitando a emergência de novas atitudes, mostram bastante modestos quando comparados valores e comportamentos que corporizam um com os desempenhos dos outros europeus processo progressivo de mobilização social pela (Gráfico 10). defesa do ambiente e das condições ecológicas em geral. 6
  • 7. Recolhendo menores valores de importância mas, ainda Gráfico 10 assim, significativos são os tipos de património que Activismo em defesa do ambiente (%) designamos por “lugares de memória recente” por corresponderem, em geral, a bens patrimoniais ou 20 patrimonializáveis representativos do passado recente, 20 16 como o espaço rural essencialmente agrícola, 15 simbolizado pela casa rústica com cerca de 300 anos, 15 as fases mais antigas da industrialização, representadas 10 7 pela velha fábrica de destilação ou o património histórico-literário do século passado, simbolizado pela 5 casa de um poeta famoso que morreu há cerca de 100 anos. 0 Os resultados representados no gráfico 11 dão mais A Es Po le pa rt uma ideia de como a valorização e conservação do m ug n an ha al património é algo que está sedimentado nas ha preocupações dos portugueses. A conservação do património é vista principalmente como uma obrigação PATRIMÓNIO E AMBIENTE do Estado e uma prioridade nacional. O inquérito português incluía ainda um conjunto Gráfico 11 de questões concebidas com o objectivo de captar Atitudes face ao património (%) informação que permitisse registar o crescimento (Concordo totalmente + concordo) de dinâmicas culturais associadas a preocupações de preservação do património, relacionando-as com a emergência de novas formas de cidadania 90 81 política, nomeadamente formas de acção colectiva 80 que lutam por interesses de natureza cultural, 70 61 como movimentos ambientalistas e de defesa do património. 60 47 Os resultados permitem constatar, em primeiro 50 lugar, o facto de estar a alastrar, entre a 40 população portuguesa, como vem acontecendo há 30 mais tempo em vários países da Europa, a atracção pelo património histórico, visitando 20 lugares de memória. Em segundo, o facto de o 10 conjunto de factores sociais, como idade, 0 instrução, classe social, não estabelecer diferenças Obrigação do Prioridade Luxo de muito acentuadas, apesar de significativas, no que Estado nacional países ricos respeita ao tipo de visitantes. Quanto aos tipos de património mais valorizados, a Contudo, a incapacidade de conversão destas atitudes, proteger face à ameaça de certas opções de globalmente positivas para com a protecção e desenvolvimento, destacam-se o histórico- valorização do património, em acções e monumental, representado pelo lugar pré-histórico comportamentos dirigidos para a sua defesa não podia e pela igreja medieval e o património ambiental, ser mais flagrante. representado pela formação geológica rara e pelo lugar de ninhos de aves em extinção (Quadro 3). Apenas 1.3% é membro de associações de defesa do património histórico-cultural, subindo a percentagem Quadro 3 ligeiramente para a participação em acções concretas Tipos de património valorizado (%) (Muita + alguma importância) relacionadas com a protecção do património: 2.7% dizem ter assinado petições, 2.3% dizem ter participado em protestos ou manifestações, 2.6% deu dinheiro a Tipo de património % grupos, movimentos ou acções de defesa do Um lugar pré-histórico 87 património, 2.7% deu trabalho gratuitamente para Uma igreja medieval 89 resolver questões relacionadas com o património. Uma casa rústica com cerca de 300 anos 77 Construído um índice de cidadania de defesa do Uma velha fábrica de destilação 58 património, com base nos indicadores de participação A casa de um poeta famoso que morreu há 100 anos 76 associada e mobilização política, verifica-se que a média Uma formação geológica rara 85 de participação corresponde a 0.12. Um lugar de ninhos de aves em extinção 86 7
  • 8. ASP PUBLICAÇÕES Bases de Dados Atitudes Sociais dos Portugueses Coordenação Geral Manuel Villaverde Cabral Jorge Vala Coordenação ASP 2000 Luísa Lima Colaboradores Aida Valadas de Lima João Guerra Luísa Lima Luísa Schmidt Manuela Reis Paula Castro Susana Valente Atitudes Sociais dos Portugueses Secretariado Científico Alice Ramos Patrocínios Fundação para a Ciência e Tecnologia Caixa Geral de Depósitos Instituto de Ciências Sociais Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento Próximos volumes: Vala, J., Cabral, M.V., Ramos, A. (Org.) (2002). Valores Instituto de Ciências Sociais da Sociais numa perspectiva Comparativa (título provisório). Universidade de Lisboa Lisboa: ICS. Ed. ISCTE, Ala Sul, 1º - 1600 Lisboa Cabral, M.V., Vala, J.(Org.) (2002). Desigualdades Sociais e Tel: 21 7995000 Fax: 21 7964953 Justiça Social (título provisório). Lisboa: ICS. E-mail: alice.ramos@ics.ul.pt; Internet: www.ics.ul.pt/asp 8
  • 9. 9