O documento descreve uma expedição de rafting no rio Cubatão do Sul, no trecho conhecido como Cânion Preto, em Santo Amaro da Imperatriz. A expedição enfrentou corredeiras de nível 4 e 5 utilizando embarcações do tipo "duck". O local é considerado um dos melhores pontos para a prática de rafting no Brasil, porém também apresenta riscos devido às corredeiras perigosas. O rio passa por uma área de grande beleza natural, cercado pela Serra do Tabuleiro.
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DIARINHO Segunda-feira, 28 de maio de 2012 23
Estância hidromineral
Especial
Santo Amaro da Imperatriz é famosa por suas águas termais. Foi Dom João VI, no começo do século
retrasado, quem mandou fundar a estância hidromineral para tratar a saúde dos ricos da época. É a
estância mais antiga do país. Ela se chamou Caldas da Imperatriz e Dom Pedro II a frequentava. O prédio
do hospital (foto), com 194 anos, é patrimônio histórico nacional e hoje virou um hotel temático
Expedição cânion Preto
Um rafting
RADICAL
além da
conta aos
pés da
serra do
Tabuleiro
O DIARINHO se aventurou nas corredeiras de
uma das áreas mais isoladas da Grande Floripa Canoístas encaram 13 quilômetros de remadas
Por: Sandro Silva
sandro@diarinho.com.br
tes do rafting. “Os níveis de dificul- nas águas nervosas do rio Cubatão do Sul
dades por lá vão de ‘classe 1’, que
Fotos: Marcos Maba e é apenas a água em movimento A primeira coisa que vem à o condicionamento físico e às vezes Imperatriz. O primeiro trecho,
Sebastian Perez Gimenez com poucos obstáculos, até a ‘clas- cabeça quando se fala em rafting – parecia que você estava sozinho”, de aproximadamente um quilô-
R
se 6’, que são obstáculos com nível além do rio, é claro – é um bote de avalia o servidor público federal Pe- metro, é tranquilo. As corredei-
afting. Todo mundo já extremo de navegação e de dificul- borracha e várias pessoas remando dro Giovani Cunha e Silva, 32, de ras são travadas, mas pequenas.
ouviu falar. Muita gen- dade”, observa Marcos Maba, 30, ao mesmo tempo. Na expedição Blumenau, que acompanhou o DIA- Ma basta alguns minutos de
te até já experimentou guia da Apuama Rafting, a opera- ao cânion Preto foi diferente. A op- RINHO na aventura. remada pra se ter noção do que
fazê-lo num nível mais dora contratada pelo DIARINHO ção dos guias da Apuama foi usar Pedro Giovani já havia feito rafting vai vir pela frente. Depois dis-
básico e conhece pelo menos pra encarar o desafio. o duck (pato, em inglês), uma es- com um grupo de amigos nas cau- so é que o rio Cubatão do Sul
seus fundamentos. Mas o que Pelo bem da verdade, vale dizer pécie de caiaque inflável com 3,6 dalosas águas do rio Itajaí-açu, no mostra porque é um dos melho-
poucas pessoas sabem é que que o grupo abriu mão de descer metros de comprimento e onde só alto vale do Itajaí (só desce o cânion res points de rafting. Nervosa,
Santa Catarina tem algumas uma queda considerada de ‘nível cabem duas pessoas. Ele é muito Preto quem já teve contato com a ati- a água escorre rápido entre as
das melhores corredeiras do país 6’. Até hoje, nenhum brasileiro mais rápido, mas também mais vidade). Achou o rio Cubatão do Sul pedras e quedas, exigindo ha-
para a prática desse esporte pra lá ainda teve a coragem de encarar ágil pra manobrar. Uma sacada pra bem mais difícil e arriscado de des- bilidade, força e resistência de
de radical. “Pode-se dizer que so- a descida, que foi vencida apenas deixar a aventura ainda mais radi- cer. “O ponto mais perigoso foi uma quem encara sua navegação. A
mos o Havaí do rafting no Brasil”, uma vez por uma equipe profissio- cal do que já é. “Com o duck você queda de nível 5, onde tivemos que aventura termina 13 quilôme-
compara o empresário, surfista nal norte-americana. Mas nem é mais requisitado, utiliza mais parar, ficar analisando a corredeira tros adiante, na ponte de acesso
e canoísta Eleazar Gardelotto, o por isso a expedição foi menor. pra escolher o melhor caminho a Caldas da Imperatriz, já per-
Keko, 49 anos, responsável por le- Navegamos – entre um caldo para atravessá-la”, lembra. Pro- tinho da área urbana de Santo
var o esporte pra região na década e outro – nas perigosas corre- blemas com isso? Que nada! Amaro.
de 90. Foi um desses picos, que deiras de nível 4 e 5. A expe- Pra ele, esse foi um dos pon- Apesar do cansaço, fica aque-
figuram entre os points mais cobi- dição aconteceu no sábado tos máximos da aventura. “A le gostinho de querer repetir o
çados pelos praticantes tupiniquins de 19 de maio. mistura de ansiedade e medo desafio. Quando o DIARINHO
do rafting, que o DIARINHO enca- Se você gosta de aventu- enquanto ficávamos olhando encarou o cânion Preto, o nível
rou: a expedição ao cânion Preto, ras, é vidrado em esportes aquela queda foi algo muito da água estava mais de meio
uma descida de 13 quilômetros pe- radicais ou simplesmente bom”, faz questão de dizer. metro abaixo do normal. “É o
las corredeiras do rio Cubatão do curte conhecer roteiros do Nível abaixo do normal menor nível dos últimos três
Embarcação usada pra
Sul, no trecho em que ele bolina as ecoturismo, então está no vencer exigiu mais técnica anos”, informa a canoísta Cláu-
o cânion Preto foi um
montanhas do parque estadual da lugar certo: a expedição ao duck, um A expedição de rafting ao dia Laurent, 44, dona da Apua-
caiaque inflável que só
Serra do Tabuleiro, em Santo Ama- cânion Preto junta tudo isso tem cânion Preto começa na comu- ma. Isso fez o rafting perder em
lugar pra dois canoístas
ro da Imperatriz e Águas Mornas. e mais o exagerado tempero nidade da Vargem Grande, na velocidade, mas ganhar em exi-
A descida do cânion Preto é con- da beleza ímpar das mon- parte oeste de Santo Amaro da gência técnica.
siderada clássica entre os pratican- tanhas catarinenses.
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24 Especial Segunda-feira, 28 de maio de 2012 DIARINHO
Bonito, mas Tomar caldo em plena
corredeira tem lá seus
perigos, mas é uma das
perigoso muitas emoções
da aventura
D
esafiar o Cubatão do Sul da Imperatriz e lide-
no cânion Preto é estar rou a equipe de cano-
pronto pra quase tudo ístas que, em 1999,
que um esporte de aventura fez o reconhecimento
proporciona: beleza, adrenalina por terra e depois a
a mil e riscos. Isso mesmo, a primeira expedição
expedição tem lá seus perigos. navegada ao cânion
Cada uma das duas embarcações Preto.
virou três vezes, um remo chegou Capacete, colete,
a ser perdido (e resgatado depois neoprene (a famosa
com certa dificuldade) e, num roupa de borracha),
dos caldos, um dos participantes cordas de resgate,
machucou o joelho no choque celulares e a impres-
com uma pedra. “Em se tratando cindível caixinha de
de esporte radical o risco sempre primeiros socorros.
está presente, em alguns lugares A expedição ao
pequeno em outros um pouco cânion Preto tinha
maior”, avalia Pedro Giovani, o tudo isso. Além dos
convidado do DIARINHO para a dois guias no duck,
aventura. a operadora contra-
Quem conhece do assunto não tada ainda disponi-
Sem a presença humana, cânion
se espanta com isso. “Os riscos bilizou um terceiro profissional, que
que se tem são afogamento, que- acompanhou o trajeto num caiaque,
da, escoriações. Tem uma série para atuar em casos de emergência.
deles e normalmente as empresas
mais capacitadas têm um sistema
de gerenciamento de controle de
“Quanto maior a dificuldade das
corredeiras, maiores são as precau-
ções a serem tomadas”, diz o guia
mais parece um vale perdido
D
riscos”, observa Keko Gardelotto, Marcos Maba, pra justificar tanto
da operadora Trecking das Águas cuidado. “Além disso, o isolamento escer o rio Cubatão do cal. A expedição de quatro horas é pássaros, que a todo momento
(TDA). Cancha não lhe falta pra do cânion Preto é um dos fatores Sul no trecho do cânion um presente para os olhos e para eram vistos nas copas ou voando
falar do assunto. Foi Keko quem que levamos em conta na hora de Preto é muito mais do alma. “O grande lance do Cuba- pelo canal do vale, compensou a
levou o rafting para Santo Amaro pensar a segurança.” que apenas uma aventura radi- tão é que tá preservado e o câ- falta das lontras.
nion Preto tá na borda da serra Numa parte dos 13 quilômetros
do Tabuleiro, com água bastante totais do cânion, o Cubatão do Sul
limpa. É um cânion verde, encai- faz extrema com o parque estadu-
Localizado na borda xado entre montanhas”, descreve al da Serra do Tabuleiro, a maior
do parque estadual do
Keko Gardelotto. área de preservação ambiental da
Tabuleiro, o cânion Preto
O contraste da mata verde com Santa & Bela, com mais de 84 mil
é de uma beleza ímpar
o fluxo irrequieto das águas entre hectares (1% do território catari-
as pedras dá uma sensação de se na). É essa proximidade com uma
estar num vale perdido, daque- das áreas inóspitas do parque e,
les em que não se vê viva alma. por consequência, a dificuldade
“Foi muito bom descer o rio sem de acesso, que faz com o que o rio
nenhum contato com a civiliza- ainda preserve suas características
ção”, comenta Pedro Giovani, naturais. “O rio Cubatão do Sul
completando: “Achei legal encon- nesse trecho do cânion preto está
trar fezes de lontras e saber que bastante isolado e bem preserva-
já viram algumas vezes pegadas do”, reforça o guia Marcos Maba.
de puma nas prainhas por onde É praticamente impossível não
passamos”. se encantar com as montanhas que
Se você tá se perguntando crescem nas duas margens e que
como alguém conhece fezes de parecem querer pressionar o Cuba-
lontras, a resposta é fácil. Elas tão do Sul. Os paredões de rocha,
são depositadas sempre sobre as as enormes pedras incrustadas no
pedras à beira ou no meio do rio leito e que, vez ou outra, cedem
e, se olhar de perto, é possível ver lugar aos remansos, as pequenas
restos de peixe, como espinhas e ilhas fluviais e uma queda d’água
escamas. Como o grupo começou que, exibida, aparece rente à mar-
o trajeto lá pelas 10h da manhã, gem direita, completam o cenário
os animais não puderam mais ser e explicam um pouco do porquê
vistos, já que têm hábitos notur- desse rio ser tão cobiçado pelos
nos. Mas a grande variedade de canoístas.
Brincadeira com botes é a mais indicada para grupos Um dos trechos do cânion é considerado de dificuldade nível 5...
Pra quem vai em turma, o gostosa brincadeira em botes
mais indicado é o rafting que com seis tripulantes, mais o
as operadoras chamam de guia. “Achei a atividade irada.
‘radical’. Ele é feito na parte Parece que víamos tudo de uma
mais ao leste do rio Cubatão do [lente] grande angular”, avalia
Sul. Por lá há corredeiras com Vinícius da Silveira, instrutor de
dificuldades de nível 3 e 4, o esportes radicais da academia
suficiente pra fazer o coração Viva Vida, que juntou o grupo
disparar de medo. formado por gente de Itajaí
Duas semanas antes de e Navegantes. “Já estou me
enfrentar os desafios do cânion organizando pra, assim que o
Preto, o DIARINHO acompanhou tempo der uma esquentada, a
um grupo de 22 pessoas. gente partir pra lá novamente”,
Foram cinco quilômetros de avisa.
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DIARINHO Segunda-feira, 28 de maio de 2012 Especial 25
Praticantes do esporte deixam Quanto custa pra
R$ 1,5 milhão por ano na cidade fazer um rafting
L
As três operadoras de turismo de aventura
uiz Gonzaga dos Santos, se- to Amaro. E o rafting é o principal jovens com poder aquisitivo mais que fazem rafting em Santo Amaro têm
cretário de Turismo de Santo deles. Pelos cálculos dos técnicos alto. Atualmente, a procura tem praticamente os mesmos pacotes e os mesmos
Amaro da Imperatriz, estima da secretaria de Turismo, só na sido também por famílias, grupos preços. “Aqui é o rafting mais barato do Brasil”,
que a cidade receba por ano algo temporada que vai de novembro a de empresas, turmas de escolas faz questão de dizer Cláudia Laurent.
perto de 300 mil turistas. A maio- março, entre 10 mil e 13 mil pes- e curiosos de todas as idades”,
ria aparece por lá atrás das mila- soas visitam a cidade pra cair nas afirma. Pra família e pros idosos
O mais barato é um destinado especialmente para famílias ou
grosas águas das estâncias hidro- corredeiras. Estimam ainda que Santo Amaro da Imperatriz tem
grupos de idosos. Pode ser feito por criança acima de três anos
minerais. “As águas termais são os praticantes do rafting deixam 17 mil habitantes e mais de 60%
e até o vovozinho. É praticado em corredeiras tranquilas, que
o carro-chefe, 50% dos turistas por lá R$ 1,5 milhão ao ano. “É da sua área é coberta pela floresta
atingem o nível 2 de dificuldade. Custa uns R$ 50 por cabeça.
vêm atrás delas”, diz o secretário. um público de classe média-alta, da Mata Atlântica. É a geografia
Costuma durar uma hora é tem três quilômetros de remadas.
Por um milagre vão também os naturalista, que procura uma vida montanhosa que fez nascer os
romeiros que visitam o conventi- saudável e gasta com combustí- rios ricos em corredeiras e perfei-
nho do frei Hugolino Back, faleci- vel, hospedagem, boa alimenta- tos para o rafting, atividade que
Pros amigos
Pra quem quer um pouco mais de emoção, mas não tem tanta
do em 11 de abril do ano passado, ção”, avalia Luiz Gonzaga. emprega diretamente 50 pessoas experiência ou não é tão chegado em atividades extremas, as
aos 86 anos. A importância do A canoísta Cláudia Laurent che- na cidade. “Funcionando o ano operadoras oferecem um programa que chamam de ‘radical’.
turismo religioso pra cidade é tão gou há 10 anos na cidade como inteiro são três operadoras”, in- Dura em média duas horas e pode ser praticado por pessoas com
grande, afirma Luiz Gonzaga, que guia de rafting. Empreendedora, forma Luiz Gonzaga. A Apuama idade acima de oito anos. As dificuldades são de classe 3 e 4 e
a prefeitura assumiu a estrutura montou uma operadora de turis- (de Cláudia Laurent), a Trecking custa em média R$ 60. São cinco quilômetros de rio.
montada pelo frei, que inclui ain- mo de aventura e um café. Nes- das Águas (de Keko Gardelotto)
da um museu. se tempo viu mudar o perfil do e a Ativa (aquela mesmo, famo- Pros ousados
Os esportes de aventura com- público que consome o turismo sa pelos raftings no rio Itajaí-açu, Esse é a expedição ao cânion Preto. É destinado pra quem já
pletam o tripé do turismo de San- de aventura. “No começo eram entre Ibirama e Apiúna). tem alguma experiência em rafting e procura emoções mais
fortes. São, no mínimo, quatro horas de atividades e lascados 13
quilômetros de remadas entre corredeiras - algumas atingem o
nível 5 de dificuldade. O custo por pessoa costuma ser de R$ 120.
Pra você se encontrar
Como chegar em Santo Amaro
Pra chegar lá é fácil, fácil. Você pega a BR-101 em direção
ao sul. Se sair de Itajaí, vai rodar 94,5 quilômetros até
chegar em Palhoça. Passou da entrada de Floripa, fique
atento às placas da direita, que vão indicar a BR-282.
Entrando nessa outra rodovia são pouco mais de 12
quilômetros até o portal de entrada da city. Cinco
quilômetros adiante fica a entrada da comunidade
de Caldas da Imperatriz. Lá estão as três operadoras
certificadas e que funcionam o ano inteiro.
Onde ficam as operadoras de rafting
• Trecking das Águas – • Ativa Rafting – Fica na
Fica na rodovia Princesa estrada geral da Várzea do
Leopoldina, 68, em Caldas Braço, também em Caldas
da Imperatriz. O telefone é da Imperatriz. O telefone
(48 ) 3245-7279 e o MSN é é (48) 3245-7021.
tda_rafting@hotmail.com . www.ativarafting.com.br
www.tdarafting.com.br
• Apuama – Fica na rodovia Princesa
Leopoldina, 1900, na localidade de Caldas da
Imperatriz. O telefone é o (48) 3245-7602 e o
MSN é apuama.rafting@hotmail.com .
www.apuamarafting.com.br
Esportes de
aventura, como o
rafting, completam
o tripé do turismo
de Santo Amaro
... é justamente nesse ponto que ele mostra por que sua travessia é tão cobiçada pelos canoístas