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Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM
                        presentes na solenidade de 24 de março de 2013




  S
              ANTA MARIA, aos 55 dias após 27 de janeiro de 2013.



              É comum organizarmos nosso mundo sobre um cenário de continuidade:
              construímos sonhos; adquirimos carro e casa em financiamentos de longo prazo;
entramos na faculdade com a perspectiva de cursá-la por quatro ou cinco anos para conquistar
uma carreira; começamos um namoro com a vontade de que seja por tempo longo; planejamos
o próximo natal; e, assim, criamos um mundo próprio que contém crenças, concepções e tudo
aquilo que pensamos garantir o nosso futuro. Na maioria das vezes, nesta organização, a
possibilidade de perda é algo que nos escapa, não contamos com as interrupções das vidas de
quem amamos, principalmente se forem por perdas inesperadas e violentas, como foi o caso
dos jovens falecidos pelo incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS).

          É importante sabermos que diante deste cenário ocorrerão reações fora da rotina,
  mas que são normais para as situações anormais e, assim, que a angústia deste mal-estar
  não venha a pesar ainda mais nesta dor.

          Logo no início dos fatos surge tamanha desorganização, tanta coisa a fazer e tanta
  gente envolvida que ficamos como que anestesiados, parecendo que estamos assistindo a
  um filme ou vivendo um pesadelo do qual queremos acordar. Neste período há pouco
  espaço para sentirmos a totalidade da dor decorrente da tragédia.

          Conforme o tempo vai passando, pouco a pouco, dia após dia, na mesma medida em
  que o mundo externo vai reduzindo sua mobilização, o enlutado vai experimentando cenas
  de esvaziamento da presença daqueles que se foram: a cadeira vazia na mesa de jantar; a
  roupa inerte no guarda-roupa, o perfume empoeirado na cômoda; a cama constantemente
  arrumada; os cadernos com páginas em branco que não serão preenchidas, uma data
  festiva sem a presença deles. Todas estas vivencias delatam a realidade do que ocorreu, da
  perda sem retorno, da situação irreversível.
Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM
                      presentes na solenidade de 24 de março de 2013



       Esta consciência, cada vez mais clara, desperta uma dor e uma tristeza sentida em
intensidade e frequência acentuada, trazendo consigo a dúvida se algum dia será possível
superar este sentimento desesperador, que parece fazer tocar as profundezas da alma num
dia sem luz: um sentimento de estar inteiramente amassado pela vida.

       A tentativa, por vezes inconsciente, de reverter essa situação leva o pensamento a
retomar os últimos momentos antes da tragédia para poder responder aos “por quês”
subjetivos: Por que não impedi meu filho de ir?; Por que não tive o “clique” para sentir que
não seria bom?; Por que convidei minhas amigas para a festa?; Por que não consegui ajudar
o namorado (a) sair?; como se fosse possível voltar o tempo, para voltar a história.

    Algumas vezes estes “por quês” podem ser dirigidos ao “outro” numa explosão de
raiva: Por que você permitiu que ele fosse se eu disse que não deixaria? Busca-se um sentido
para o que não se compreende nem tem justificativa, pois estas mortes poderiam ter sido
evitadas, não precisariam ter ocorrido.

    É tudo tão dolorido, mas não precisamos ampliar esta dor pela imputação da culpa a si
próprio ou ao outro, pois foi a sociedade quem falhou, quem chancelou como possível este
espaço de entretenimento para os jovens.

    Nós somos “seres da cultura”, parte de nossa vida é privada e parte é em comunidade:

    - no campo privado: nos cabe inserir a nova geração na cultura, ou seja, no meio
educacional, profissional e social, propiciando a educação básica e os recursos para essa
inserção;

    - no campo público: vivemos em comunidades tendo direitos e deveres, necessitamos
frequentar escolas, igrejas, restaurantes, hospitais e locais de entretenimento. Aqueles que
oferecem ou validam um local de uso público precisam dar conta do que se propuseram
fazer, assegurando a vida e o patrimônio de seus usuários.
Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM
                      presentes na solenidade de 24 de março de 2013



    Precisa ficar bem claro que existe uma diferença entre a responsabilidade que cabe ao
espaço privado e a que cabe ao espaço público, porque nesta tragédia um pai ouviu que a
culpa era sua por deixar o filho ir a boate.

     Essa diferença precisa ficar bem clara, porque do contrário as coisas ficarão confusas e
correremos o risco de este sofrimento prosseguir por um caminho que fragiliza a
comunidade já diminuída pelas graves perdas.

    Ao compreender esta diferença é mais provável que consigamos transformar o
sofrimento em luta para uma mudança social.

    Queremos dizer que, ao se unirem e formarem uma associação, podem falar da mesma
causa, partir em marchas, carregando as fotos de seus mortos estampadas nas camisetas,
transformando o luto particular em luto de ordem pública e, assim, manifestar repúdio pelo
que aconteceu.

    Os laços de solidariedade em torno dos fatos podem provocar uma ruptura na inércia
dos órgãos públicos e proprietários, que por terem negligenciado seu papel, escreveram
essa terrível história de perdas.




    P
             ais, mães, irmãos, filhos, amigos, namorados e parentes em geral: vocês
             podem passar por situações de críticas sociais, cuidem-se para que
             preconceitos não aumentem sua dor.

    A primeira possibilidade é de que as pessoas a sua volta cobrem uma reação rápida de
superação desse luto, mas não é simples assim, sentir a ausência da presença física da
pessoa morta será algo que ocorrerá por mais tempo e é importante entrar em contato com
essa dor, ela faz parte do processo de luto de vocês.

    Em outras situações vocês poderão ser criticados por estarem conseguindo exercitar o
autocuidado, como o caso de uma mãe que procura a manicure, isto é bom e não reduz a
importância nem a saudade da pessoa que se foi. Assim como é importante comer e dormir
bem, procurar ajuda médica, psicoterapêutica, de amigos ou parentes que acolham a dor.
Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM
                     presentes na solenidade de 24 de março de 2013



    Por fim, é possível que: a) Sintam a presença da pessoa que morreu, como se ela
realmente estivesse ali; b) falem com Deus sobre essa pessoa, buscando sua presença na
espiritualidade; c) falem com ela, dando boa noite antes de dormir, peçam ajuda para ela,
compartilhando situações difíceis do dia a dia; d) cuidem dos relicários, criem rituais ou um
santuário com fotos em casa (os japoneses exercitam muito esta prática). São maneiras
esperadas e que estão a serviço de manter vivo o vinculo com a pessoa que morreu, nada
prova que isto está errado, os estudiosos ainda não sabem o porquê, mas sabem que estas
práticas ajudam muito o enlutado.

    A vivência da perda, bem como o tempo desta é singular, é próprio de cada pessoa, que
aos poucos vai percebendo que este duro pesar também indica que a convivência e a
relação com estes queridos tiveram o seu valor e que a saudade é a maior prova de que
valeu a pena o passado, a convivência que tivemos com eles e tudo o que podemos ter
aprendido, amado, respeitado ou discordado deles.

                                     Psicóloga Rosana Teresinha D’Orio de Athayde Bohrer
                                           Presidente da ABRAPEDE – Associação Brasileira
                                                 de Psicologia nas Emergências e Desastres

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Reprodução da palestra sobre luto e superação da tragédia da boate Kiss

  • 1. Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM presentes na solenidade de 24 de março de 2013 S ANTA MARIA, aos 55 dias após 27 de janeiro de 2013. É comum organizarmos nosso mundo sobre um cenário de continuidade: construímos sonhos; adquirimos carro e casa em financiamentos de longo prazo; entramos na faculdade com a perspectiva de cursá-la por quatro ou cinco anos para conquistar uma carreira; começamos um namoro com a vontade de que seja por tempo longo; planejamos o próximo natal; e, assim, criamos um mundo próprio que contém crenças, concepções e tudo aquilo que pensamos garantir o nosso futuro. Na maioria das vezes, nesta organização, a possibilidade de perda é algo que nos escapa, não contamos com as interrupções das vidas de quem amamos, principalmente se forem por perdas inesperadas e violentas, como foi o caso dos jovens falecidos pelo incêndio da Boate Kiss, em Santa Maria (RS). É importante sabermos que diante deste cenário ocorrerão reações fora da rotina, mas que são normais para as situações anormais e, assim, que a angústia deste mal-estar não venha a pesar ainda mais nesta dor. Logo no início dos fatos surge tamanha desorganização, tanta coisa a fazer e tanta gente envolvida que ficamos como que anestesiados, parecendo que estamos assistindo a um filme ou vivendo um pesadelo do qual queremos acordar. Neste período há pouco espaço para sentirmos a totalidade da dor decorrente da tragédia. Conforme o tempo vai passando, pouco a pouco, dia após dia, na mesma medida em que o mundo externo vai reduzindo sua mobilização, o enlutado vai experimentando cenas de esvaziamento da presença daqueles que se foram: a cadeira vazia na mesa de jantar; a roupa inerte no guarda-roupa, o perfume empoeirado na cômoda; a cama constantemente arrumada; os cadernos com páginas em branco que não serão preenchidas, uma data festiva sem a presença deles. Todas estas vivencias delatam a realidade do que ocorreu, da perda sem retorno, da situação irreversível.
  • 2. Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM presentes na solenidade de 24 de março de 2013 Esta consciência, cada vez mais clara, desperta uma dor e uma tristeza sentida em intensidade e frequência acentuada, trazendo consigo a dúvida se algum dia será possível superar este sentimento desesperador, que parece fazer tocar as profundezas da alma num dia sem luz: um sentimento de estar inteiramente amassado pela vida. A tentativa, por vezes inconsciente, de reverter essa situação leva o pensamento a retomar os últimos momentos antes da tragédia para poder responder aos “por quês” subjetivos: Por que não impedi meu filho de ir?; Por que não tive o “clique” para sentir que não seria bom?; Por que convidei minhas amigas para a festa?; Por que não consegui ajudar o namorado (a) sair?; como se fosse possível voltar o tempo, para voltar a história. Algumas vezes estes “por quês” podem ser dirigidos ao “outro” numa explosão de raiva: Por que você permitiu que ele fosse se eu disse que não deixaria? Busca-se um sentido para o que não se compreende nem tem justificativa, pois estas mortes poderiam ter sido evitadas, não precisariam ter ocorrido. É tudo tão dolorido, mas não precisamos ampliar esta dor pela imputação da culpa a si próprio ou ao outro, pois foi a sociedade quem falhou, quem chancelou como possível este espaço de entretenimento para os jovens. Nós somos “seres da cultura”, parte de nossa vida é privada e parte é em comunidade: - no campo privado: nos cabe inserir a nova geração na cultura, ou seja, no meio educacional, profissional e social, propiciando a educação básica e os recursos para essa inserção; - no campo público: vivemos em comunidades tendo direitos e deveres, necessitamos frequentar escolas, igrejas, restaurantes, hospitais e locais de entretenimento. Aqueles que oferecem ou validam um local de uso público precisam dar conta do que se propuseram fazer, assegurando a vida e o patrimônio de seus usuários.
  • 3. Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM presentes na solenidade de 24 de março de 2013 Precisa ficar bem claro que existe uma diferença entre a responsabilidade que cabe ao espaço privado e a que cabe ao espaço público, porque nesta tragédia um pai ouviu que a culpa era sua por deixar o filho ir a boate. Essa diferença precisa ficar bem clara, porque do contrário as coisas ficarão confusas e correremos o risco de este sofrimento prosseguir por um caminho que fragiliza a comunidade já diminuída pelas graves perdas. Ao compreender esta diferença é mais provável que consigamos transformar o sofrimento em luta para uma mudança social. Queremos dizer que, ao se unirem e formarem uma associação, podem falar da mesma causa, partir em marchas, carregando as fotos de seus mortos estampadas nas camisetas, transformando o luto particular em luto de ordem pública e, assim, manifestar repúdio pelo que aconteceu. Os laços de solidariedade em torno dos fatos podem provocar uma ruptura na inércia dos órgãos públicos e proprietários, que por terem negligenciado seu papel, escreveram essa terrível história de perdas. P ais, mães, irmãos, filhos, amigos, namorados e parentes em geral: vocês podem passar por situações de críticas sociais, cuidem-se para que preconceitos não aumentem sua dor. A primeira possibilidade é de que as pessoas a sua volta cobrem uma reação rápida de superação desse luto, mas não é simples assim, sentir a ausência da presença física da pessoa morta será algo que ocorrerá por mais tempo e é importante entrar em contato com essa dor, ela faz parte do processo de luto de vocês. Em outras situações vocês poderão ser criticados por estarem conseguindo exercitar o autocuidado, como o caso de uma mãe que procura a manicure, isto é bom e não reduz a importância nem a saudade da pessoa que se foi. Assim como é importante comer e dormir bem, procurar ajuda médica, psicoterapêutica, de amigos ou parentes que acolham a dor.
  • 4. Reprodução da palestra proferida para os membros da AVTSM presentes na solenidade de 24 de março de 2013 Por fim, é possível que: a) Sintam a presença da pessoa que morreu, como se ela realmente estivesse ali; b) falem com Deus sobre essa pessoa, buscando sua presença na espiritualidade; c) falem com ela, dando boa noite antes de dormir, peçam ajuda para ela, compartilhando situações difíceis do dia a dia; d) cuidem dos relicários, criem rituais ou um santuário com fotos em casa (os japoneses exercitam muito esta prática). São maneiras esperadas e que estão a serviço de manter vivo o vinculo com a pessoa que morreu, nada prova que isto está errado, os estudiosos ainda não sabem o porquê, mas sabem que estas práticas ajudam muito o enlutado. A vivência da perda, bem como o tempo desta é singular, é próprio de cada pessoa, que aos poucos vai percebendo que este duro pesar também indica que a convivência e a relação com estes queridos tiveram o seu valor e que a saudade é a maior prova de que valeu a pena o passado, a convivência que tivemos com eles e tudo o que podemos ter aprendido, amado, respeitado ou discordado deles. Psicóloga Rosana Teresinha D’Orio de Athayde Bohrer Presidente da ABRAPEDE – Associação Brasileira de Psicologia nas Emergências e Desastres