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III Conferência de Políticas para as Mulheres
         Propostas e questões para o debate
III Conferência de Políticas para as Mulheres
         Propostas e questões para o debate




       Brasília, dezembro de 2011
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
Índice
Apresentação _______________________________________ 7

ContextuALIzAção
Discussão 1
É tão mais complexo o que a gente está vivendo hoje _______ 11
Discussão 2
Conjunturas internacional e nacional e as mulheres_________ 15


PoPostAs De PoLítICAs

Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia __________ 25

Autonomia Econômica e Social ________________________ 26

Educação, Cultura e Comunicação _____________________ 28

Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos ___ 30

Enfrentamento a todas as formas de violência
contra as mulheres __________________________________ 31

Autonomia política, institucionalização e financiamento
de políticas públicas para as mulheres ___________________ 33


DoCuMentos De PosIção

Carta à presidenta __________________________________ 37

Contribuições ao Plano Plurianual do governo federal
para o período 2012-2015 ___________________________ 41

Carta Política do Encontro Nacional de Diálogos e Convergências
entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania
Alimentar, Economia Solidária e Feminismo ______________ 43
ContrIbuIções Ao DebAte

Saúde pública em mãos privadas:
para onde vai o SUS no governo Dilma? __________________ 55

Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde da Mulher – PNAISM ________________________ 57

Mulheres e poder: ampliar a participação
para garantir direitos ______________________________ 59

Lutas feministas antipatriarcais, antirracistas
e anticapitalistas – A luta feminista da AMB_____________ 63
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
                             Apresentação

     O espaço das Conferências de            Conferências e publica esta revista para
Políticas é para nós da Articulação de       a Conferência Nacional. Este número
Mulheres Brasileiras (AMB) não ape-          traz uma inovação em relação aos
nas o lugar de construção e negociação       outros, mas mantém a linha editorial
de políticas públicas entre governos e       de apresentar na forma de textos as
sociedade, mas também um espaço              discussões que viemos acumulando no
legítimo de interlocução crítica entre       processo de preparação da Conferência
mulheres feministas e destas com os          e em nossos próprios fóruns de debate
governos sobre as políticas realmente        feminista e nos movimentos sociais.
existentes, seus efeitos e impactos posi-         A revista apresenta inicialmente
tivos e negativos na vida das mulheres.      dois textos de Contextualização desta
     Para nós, as Conferências são tam-      Conferência. Na segunda parte conso-
bém um processo político por meio do         lida e apresenta as Propostas de Políti-
qual organizamos e negociamos com            cas para vários eixos do Plano Nacional
outras mulheres, de diversas organiza-       de Políticas para as Mulheres – PNPM.
ções sociais e movimentos de mulheres,       Na terceira parte apresenta Documen-
nossas demandas e prioridades frente         tos de Posição dos quais somos autoras
à responsabilidade dos governos para         e signatárias e que foram produzidos ao
com a redução das desigualdades.             longo deste primeiro ano do governo
     Dada a importância que con-             Dilma. E por fim traz alguns textos de
ferimos às Conferências para a luta          Contribuição aos Debates, também
feminista nas políticas públicas, reco-      produzidos por integrantes e militantes
nhecemos que precisamos refletir mais        da AMB, como contribuição ao debate
sobre os limites destes espaços, os riscos   de temas relevantes para a conjuntura
de burocratização do movimento e de          em que se realiza esta III CNPM. Entre
perda de sentido de ação contra hege-        estes textos estão alguns dos indicativos
mônica. Contudo, frente o cotidiano          do II Encontro Nacional da AMB, uma
de desigualdades, de raça, gênero, clas-     contribuição de quase 900 mulheres
se, que se concretizam em cada uma das       que ali estavam presentes.
vidas das mulheres, insistimos, mais              Esperamos que esta revista seja
uma vez, e ainda esta vez, em atuar em       um instrumento útil nos trabalhos de
defesa das mulheres na Conferência           grupos e plenárias, na negociação e in-
Nacional de Políticas para as Mulheres.      terlocução da AMB com as delegadas
     Desde 2004, quando aconteceu            de organizações de mulheres e dele-
a I CNPM, a AMB edita documen-               gadas governamentais da III CNPM.
tos de debate e orientação para ação              Contamos que a leitura contribuirá
nas etapas municipais e estaduais das        com nossa formação política feminista.

                                                                                         7
ContextuAlizAção
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
DiSCuSSão
             1
             É tão mais complexo o que a
                gente está vivendo hoje
                                   Silvia Camurça




     Não faz muito tempo estávamos          prevaleceu no plenário, e estávamos
todas nós inaugurando uma nova ex-          num contexto favorável.
periência de participação com a I Con-           Conseguimos, aprovar uma con-
ferência de Políticas para as Mulheres.     cepção do que são políticas para as
Éramos muitas dos movimentos de             mulheres, fixando a ideia de que são as
mulheres, algumas mulheres feminis-         políticas orientadas à promoção da au-
tas em espaços de gestão nos estados e      tonomia. Aprovamos princípios e dire-
muitas mulheres chegando ao debate          trizes importantes, como a laicidade do
sem entender direito do que se tratava.     Estado, a universalização das políticas
     Naquele ano de 2004, não sabía-        com políticas afirmativas. E afirmamos
mos com segurança por onde seguir.          a relevância de ter orçamento e meca-
Algumas de nós já tinha experiência e       nismos executivos de políticas para as
atuação em Conferências de Saúde e          mulheres, Conferências e Conselhos
de Assistência Social, mas “nunca antes     nos três níveis de governo.
da história deste país”, nós ou os gover-        Ali, em 2004, estávamos sob
nos, havíamos feito algo parecido com       efeito positivo da criação da Secretaria
aquela Conferência: juntar, no Plano        de Políticas para as Mulheres – SPM
Nacional, as mais diversas expressões       com status de Ministério, orçamento
políticas de governos e movimentos          próprio e com vinculação direta à Pre-
sociais para construir diretrizes de uma    sidência da República. Conquistamos
Política Nacional para as Mulheres.         a almejada reformulação do CNDM,
     Na primeira Conferência, nosso         que passou a ter representantes de mo-
objetivo principal foi aprovar uma          vimentos sociais eleitos por seus pares,
orientação feminista para as dire-          ao invés de escolhidos pela presidência.
trizes da Política Nacional para as              Hoje, a conjuntura em que acon-
Mulheres no que fomos relativamente         tece esta III CNPM é outra. Estamos
bem sucedidas. Houve aliança entre          em meio ao agravamento da crise in-
movimentos de mulheres de orien-            ternacional do sistema capitalista, crise
tação feminista, força política que         em nome da qual cortam-se direitos


                                                                                        11
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                           sociais ameaçando ao sistemas uni-          recolocam ênfase na maternidade e
                                                           versais de seguridade social dos países     não nas mulheres, com uma força na
                                                           europeus, enquanto nós estamos aqui         abordagem materno-infantil que não
                                                           querendo universalizar e expandir o         víamos há muitos anos.
                                                           acesso a direitos.                               A proposta de políticas para as
                                                                Estamos às vésperas da anuncia-        mulheres era uma novidade em 2004
                                                           da primeira reforma ministerial do          para a maior parte dos municípios e
                                                           Governo Dilma, com propostas e              estados, enquanto hoje o potencial
                                                           “senões” sendo colocado no debate           eleitoreiro da massa de mulheres
                                                           para justificar propostas de rebai-         que as Conferências convocam já
                                                           xamento do status das secretarias           foi percebido e é agora explorado
                                                           especiais, inclusive do Ministério da       por muito setores da política. A
                                                           Mulher/SPM. Além do mais, os cortes         orientação feminista para as políticas
                                                           de gastos deste ano, a possibilidade de     para as mulheres já está abertamente
                                                           reedição da Desvinculação das Recei-        questionada por estes e outros seto-
                                                           tas da União – DRU e a redução de           res, e a domesticação da população
                                                           orçamento para 2012 das secretarias         nos espaços de participação, como as
                                                           especiais, em debate no Congresso           Conferências, cresce.
                                                           Nacional, estão fragilizando as políti-          Somos parte e assistimos a um fe-
                                                           cas para a igualdade e de justiça social.   nômeno ainda por ser compreendido
                                                                No mesmo período da III CNPM           em suas implicações: a participação
                                                           o Congresso estará votando e o governo      política das mulheres nas lutas sociais
                                                           sancionando o PPA para 2012-2015,           vai sendo substituída, para muitos se-
                                                           no qual as políticas para as mulheres       tores populares, pela participação das
                                                           têm apenas um programa, ao contrário        mulheres nos espaços institucionais
                                                           do que propôs a SPM – três progra-          organizados a partir e sob hegemonia
                                                           mas – e muito aquém do que propôs           dos governos.
                                                           a AMB, que defendeu sete programas               Se a I CNPM se constituiu num
                                                           para enfrentar as desigualdades de gê-      campo bastante heterogêneo de dis-
                                                           nero e raça vivida pelas mulheres, que      putas de proposições entre delegados/
                                                           representam um pouco mais da metade         as governamentais e da sociedade civil,
                                                           da população brasileira.                    a III CNPM parece anunciar que a
                                                                Agrava esta situação, o fato já        diferença maior de posições não será
                                                           reconhecido de que, apesar de estar-        entre governos e sociedade civil, mas
                                                           mos vivendo sob o governo Dilma,            entre a diversas perspectivas feminis-
                                                           primeira mulher presidenta do Brasil,       tas sobre Estado e políticas públicas
                                                           não temos garantido uma orientação          e as perspectivas antidireitos das mu-
                                                           feminista e libertária nas políticas para   lheres e antifeminista.
                                                           as mulheres. Ao contrário, iniciativas           A direita conservadora, racis-
                                                           diversas de políticas deste governo         ta, lesbofóbica e antifeminista, que

                                                      12
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
perdeu as eleições de 2010, saiu dela        Assim, mesmo tendo crescido o
fortalecida e está minando e amea-      número de mecanismos de políticas
çando as conquistas que alcançamos      para as mulheres nos estados e mu-
em 2004. O fez ao longo de todo o       nicípios, mesmo tendo-se alcançado
governo Lula e o faz agora no governo   avanços na concretização de direitos
Dilma, com muito mais força. Se, no     das mulheres e novas políticas para as
momento de sua campanha eleitoral       mulheres estejam em curso, será pre-
de 2002, Lula recuou e cedeu espaço     ciso, nesta III CNPM, estarmos mais
para propostas liberais na Carta ao     uma vez atentas e fortes na luta para
Povo Brasileiro, Dilma, também na       garantir uma perspectiva feminista na
campanha eleitoral, recuou e cedeu      orientação da política para mulheres e
espaço aos fundamentalistas e anti-     defender a institucionalização e forta-
feministas com a Carta ao Povo de       lecimento dos atuais mecanismos de
Deus.                                   políticas para as mulheres.




                                                                                  13
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
DiSCuSSão
             2
              Conjunturas internacional e
                nacional e as mulheres
                               Gilsa Helena Barcellos


     Compreender a realidade das            com a visão liberal do século XIX. As
mulheres brasileiras implica compre-        políticas de proteção social passam
ender os aspectos sociais, econômicos,      a constituir a agenda principal do
políticos, ambientais, culturais que        Estado. Entre as décadas de 1940 e
determinam a realidade mais geral.          1970, diversas políticas públicas, em
Ou seja, não é possível analisar a situa-   especial aquelas relacionadas à seguri-
ção das mulheres, resguardadas as suas      dade social, possibilitaram a melhoria
especificidades, desconectada dos fa-       das condições de vida de uma parcela
tores que estruturam a realidade mais       expressiva tanto da população euro-
geral do Brasil e do mundo. Por isso,       péia quanto da norte-americana. Esta
parece-nos fundamental que, antes           última, em razão do forte investimen-
de introduzirmos a discussão acerca         to dos Estados Unidos na indústria
da realidade das mulheres brasileiras,      bélica, contou com políticas sociais
abordemos os eventos que marcaram           mais tímidas.
o século XX e que influenciam tanto              Nos países latino-americanos,
a vida das mulheres quanto à vida do        o Estado de Bem-Estar Social não
conjunto da sociedade no século XXI.        se consolidou, prevalecendo à ideia
Entre os muitos acontecimentos que          liberal de Estado, onde as políticas
marcaram o século passado estiveram         sociais foram destinadas àqueles que
tanto à ascensão quanto o declínio do       estavam fora do mundo do trabalho:
Estado de Bem-Estar Social nos países       indigentes, inválidos, entre outros.
de economia central.                             Nos anos de 1970, iniciou a maior
     O Estado de Bem-Estar Social,          crise vivenciada pelo capitalismo des-
iniciado como resposta à crise de           de a sua existência, o que Ernest Men-
1929 e às sequelas deixadas pelas duas      del denominou de “crise estrutural
grandes guerras mundiais, teve a sua        do capitalismo”. Este acontecimento
conformação mais nítida, particular-        determinou o declínio do Estado de
mente a partir do final dos anos 40,        Bem-Estar Social e irá afetar tanto
em países europeus, quando se rede-         a Europa quanto os Estado Unidos,
finiu o papel do Estado, rompendo           comprometendo as políticas públicas/

                                                                                      15
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                           sociais até então conquistadas. Apesar     Federal de 1988. Na década de 1990,
                                                           de a América Latina não ter vivido o       brasileiras e brasileiros presenciaram a
                                                           Estado de Bem-Estar Social, ela sentiu     entrega do patrimônio público à ini-
                                                           os baques da crise de 1973, levando        ciativa privada e o aprofundamento da
                                                           os seus governos a reduzir aquilo que      privatização da educação, reduzindo a
                                                           já era quase inexistente no campo das      presença do Estado nessa área, dando
                                                           políticas públicas. Como resposta à        lugar ao aparecimento de grandes
                                                           crise do capitalismo ganha força à         grupos empresariais. A educação foi
                                                           ideia de um Estado com contornos           transformada em um negócio bastante
                                                           liberais. No entanto, por ser um con-      rentável. Também pudemos presen-
                                                           texto diferente daquele que antecedeu      ciar a precarização da saúde pública
                                                           a Segunda Guerra Mundial, novos            brasileira, levando a um processo de
                                                           elementos são incorporados a essa          revitimização de uma grande parcela
                                                           noção de Estado, que foi denominado        da população dependente dos serviços
                                                           de Estado neoliberal.                      de saúde, particularmente as mulheres.
                                                                O Estado neoliberal é uma reedi-           É nesse contexto que ocorre a
                                                           ção do Estado liberal adequada à rea-      eleição do governo Lula. Lula se elege
                                                           lidade contemporânea. Nele, prevalece      com uma proposta de enfrentamento
                                                           o propósito de que a relação capital       ao Estado Neoliberal, no entanto,
                                                           x trabalho se autorregula pela lei da      com o passar dos anos, particular-
                                                           oferta e demanda, prescindindo-se,         mente no seu segundo mandato, o
                                                           portanto, da participação estatal na       seu programa de governo incorporou
                                                           economia e nos serviços estatais (Esta-    elementos neoliberais, resultando
                                                           do mínimo), aplicando-se políticas de      num governo permeado por fortes
                                                           privatização de empresas estatais e de     contradições, embora seja consenso
                                                           livre circulação de capitais internacio-   entre as mulheres brasileiras que foi
                                                           nais com ênfase na globalização e na       no governo Lula que mais se avançou
                                                           abertura da economia para a entrada        na elaboração e na implementação de
                                                           de multinacionais, onde a base da eco-     políticas públicas para mulheres.
                                                           nomia deve ser formada por empresas             A eleição de Dilma representou,
                                                           privadas, com desburocratização das        sem dúvida, um avanço do ponto de
                                                           leis e regras econômicas e redução do      vista político-cultural da sociedade
                                                           tamanho do Estado. Dessa forma, hou-       brasileira, por compreender a pos-
                                                           ve um refluxo da presença do Estado na     sibilidade de mulheres assumirem
                                                           economia e na produção de políticas        espaços de poder. Mesmo que muitos
                                                           públicas voltadas ao interesse daqueles    atribuam a Lula a eleição de Dilma,
                                                           que compõem a maioria da população.        não se pode desconsiderar que o fato
                                                                No Brasil, no final dos anos 80,      de ser mulher poderia ter impedido a
                                                           o neoliberalismo chegou atropelando        sua eleição caso prevalecessem às ideias
                                                           conquistas expressas na Constituição       machistas. É fato que as tentativas de

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desmoralização da candidata orien-          agrária, defendida, incansavelmente,
tadas por posicionamentos lesbofó-          pelo MST, tem dado lugar ao agrone-
bicos, conservadores acerca do papel        gócio, que cada vez mais se apropria
da mulher foram ecoadas pela grande         de terras para garantir a produção em
mídia e por parcelas das igrejas, setores   grande escala para exportação.
esses aliados explícitos dos candidatos          À violência urbana, expressão da
adversários. Felizmente, prevaleceu a       questão social cada vez mais aprofun-
noção de que a hipocrisia moral deve        dada no Brasil, o Estado tem respondi-
ser combatida e é maléfica aos direitos     do com a repressão, ignorando as suas
humanos e à equidade de gênero.             causas reais. Cada vez mais, o narco-
     No entanto, o fato de termos           tráfico, a bala perdida e a dependência
uma presidente eleita pela maioria da       química tornam-se acontecimentos
população, inclusive pelas mulheres,        do cotidiano da maioria da população
não significa que seja intrínseco ao seu    que vive nos grandes centros urba-
governo compromissos com os traba-          nos. Cada vez mais a configuração
lhadores e trabalhadoras brasileiras.       urbana é forjada pela desigualdade
Observamos contradições ainda mais          social, aprofundando as demarcações
acentuadas que no governo Lula, a           das fronteiras entre ricos e pobres. O
exemplo da questão ambiental, que           mundo do trabalho, cada vez mais
tem sido objeto de conflito entre os        automatizado, reduz o valor do traba-
movimentos sociais e o governo Dilma,       lho levando à redução de salários e à
que, em nome do desenvolvimento,            instabilidade frequente daqueles que
tem negligenciado, de forma explícita,      trabalham. O trabalho temporário, a
direitos socioambientais de inúme-          terceirização e a quarteirização da mão
ras populações locais que vivem nas         de obra atualizam relações existentes
regiões onde estão sendo construídas        no período colonial: trabalhadores e
grandes obras de infraestrutura, tais       trabalhadoras precisam trabalhar cada
como as diversas barragens das usinas       vez mais para conseguir um salário
hidrelétricas. No mais, presenciamos o      que lhes dê condições mínimas de
Banco Nacional de Desenvolvimento           autosustentação e de suas famílias. O
Econômico e Social – BNDES inves-           mundo nunca esteve tão competitivo
tindo privilegiadamente no econômico        e as pessoas nunca trabalharam tanto
(grandes empresas multinacionais têm        com tão baixos salários e muitos sem
sido beneficiadas pelos financiamentos      direitos sociais e trabalhistas garanti-
do BNDES) em detrimento do social.          dos. As pessoas têm menos tempo de
São baixos os investimentos públicos na     convivência familiar. Vivemos em um
educação, na saúde e nas políticas pú-      tempo traduzido pelo ditado popular
blicas de forma geral, ganhando força       “se correr o bicho pega. Se ficar o bi-
programas de “proteção social” como         cho come”. A desigualdade social no
é o caso do Bolsa Família. A reforma        Brasil se aprofunda a cada dia e cada

                                                                                       17
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                                                           vez mais a população demanda por         obra menos valorizada, as mulheres
                                                           políticas públicas que, ou inexistem     submetem-se à extensa e a várias
                                                           ou estão precarizadas.                   jornadas de trabalho. Precisamos tra-
                                                                A resposta do Estado brasileiro     balhar mais para ganhar o mínimo
                                                           à resistência ao aprofundamento do       necessário à nossa subsistência. Nesse
                                                           projeto neoliberal e à exploração        mundo marcado por variadas formas
                                                           capitalista tem sido dada de diversas    de subordinação, destaca-se a situação
                                                           formas: além da repressão, observa-      das mulheres negras, pois estas traba-
                                                           mos o processo de criminalização dos     lham mais e ganham menos, ocupan-
                                                           movimentos sociais no Brasil. Parcelas   do assim a base da pirâmide salarial
                                                           do Poder Judiciário e Legislativo têm    brasileira. Elas possuem uma renda
                                                           cumprido um papel estratégico na         mensal de R$ 558,00, enquanto ho-
                                                           luta de classes, quando condenam         mens brancos tem uma renda mensal
                                                           movimentos, lideranças e trabalhado-     de R$1.534 (DIEESE, 2011), ou seja
                                                           res e trabalhadoras ao pagamento de      a renda mensal média masculina não-
                                                           multas, à prisão, à CPIs, entre outras   -negra é três vezes maior do da mulher
                                                           medidas que visam retirar esses sujei-   negra. Neste interregno, estão às mu-
                                                           tos da luta política.                    lheres brancas, que ganham em média
                                                                E como estão as mulheres brasi-     R$1.035,00, e os homens negros, que
                                                           leiras dentro dessa realidade?           ganham em média R$ 839,00. Esses
                                                                As mulheres são especialmente       dados revelam que a subordinação de
                                                           atingidas pelas consequências do         raça pode ser ainda mais perversa que
                                                           processo de globalização econômica       a subordinação sexual.
                                                           e do neoliberalismo. Somos hoje               Repercutindo o que foi constata-
                                                           a maioria da população brasileira:       do já na Conferência Mundial de Mu-
                                                           segundo dados do Dieese (2011),          lheres de Beijing (1995), devido ao
                                                           somos 98.439 milhões, sendo 49.162       processo da globalização econômica,
                                                           milhões negras, 49.037 não-negras        à destruição ambiental e à baixa valo-
                                                           e 213 mil indígenas. Somos 20.322        rização da força de trabalho feminina,
                                                           milhões na faixa etária entre 30 e 49    está em curso no mundo, a femini-
                                                           anos, ou seja, mulheres que compõem      zação da pobreza, sendo as mulheres
                                                           a População Economicamente Ativa         negras a maioria entre os pobres no
                                                           – PEA brasileira.                        mundo. Mesmo integrando o mundo
                                                                O mundo do trabalho visto por       da produção (mundo do trabalho)
                                                           alguns autores como a possibilidade      não nos desvencilhamos do trabalho
                                                           de construção da emancipação da          doméstico, ou seja, da responsabiliza-
                                                           mulher, subordina cada vez mais mu-      ção pela criação e educação dos nossos
                                                           lheres a um nível de exploração que      filhos, pela casa, entre outros afazeres
                                                           nos faz lembrar a Revolução Industrial   domésticos. Os homens, definitiva-
                                                           na Europa. Por terem sua mão de          mente, recusam-se a dividir o trabalho

                                                      18
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
doméstico, e as mulheres continuam         comprometido substancialmente a
tomando para si a responsabilidade         sua eficácia. Por isso, presenciamos
pelo mundo da reprodução. Somos,           cotidianamente na imprensa falada e
na atualidade, provedoras principais       escrita mulheres sendo assassinadas,
de 35,2% dos lares brasileiras, ou seja,   mutiladas ou humilhadas, sob o olhar
temos 10.641.456 mulheres chefes de        de muitos governantes e gestores que
família, sendo que, quando analisa-        assistem a situação sem tomar iniciati-
mos as regiões metropolitanas brasilei-    vas que poderiam reduzir a produção
ras, esse percentual sobe: as mulheres     de um fenômeno tão perverso à vida
chegam a chefiar 40,6% das famílias        das mulheres.
ali residentes (DIEESE, 2011).                  Presenciamos iniciativas governa-
     Também somos aquelas mais             mentais de uma suposta “valorização
presentes nos bancos escolares, do         do papel da mulher” dentro da famí-
primeiro ao terceiro grau. No entanto,     lia, a exemplo das mulheres respon-
mesmo com escolaridade superior a          sáveis pelo Programa Bolsa Família
do homem, continuamos ganhando             e por outras políticas de proteção
menos do que ele pelo mesmo tra-           social. Todavia, desconsidera-se que
balho realizado. Segundo dados do          essa valorização produz uma sobre-
Dieese (2011), 52,5% dos homens            carga ainda maior para as mulheres,
com 15 ou mais anos de estudo rece-        reforçando assim, a desobrigação dos
bem cinco salários-mínimos ou mais,        homens com o cuidado da família
enquanto apenas 27,7% das mulheres         e com as funções domésticas. Nesse
na mesma faixa de escolaridade atin-       contexto de sobrecargas, as mulheres
gem essa faixa salarial, revelando que     adoecem cada vez mais jovens. No
o aumento do nível de escolaridade         Brasil, as principais causas de morte
facilita o acesso das mulheres ao mer-     da população feminina foram iden-
cado de trabalho, mas não lhes garante     tificadas pelo Ministério da Saúde
equidade salarial com os homens.           (BRASIL, 2004).
     Mesmo quando adquirimos                    As principais causas de morte da
autonomia financeira, continuamos          população feminina no Brasil são as
vitimadas pela violência: as mulheres      doenças cardiovasculares, destacando-
permanecem vítimas de violência            -se o infarto agudo do miocárdio e o
doméstica e sexual. A Lei Maria da         acidente vascular cerebral; as neoplasias,
Penha, promulgada em 2006, repre-          principalmente o câncer de mama, de
sentou um grande avanço no campo           pulmão e o de colo do útero; as doenças
das políticas públicas e tem sido uma      do aparelho respiratório, marcadamen-
forte aliada no combate à violência        te as pneumonias; e as doenças endó-
contra mulheres. No entanto, há            crinas, nutricionais e metabólicas, em
uma carência de serviços necessários       especial a diabetes, e as causas externas
à implementação da Lei, o que tem          (BRASIL, 2004, p. 16-17).

                                                                                        19
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                                Segundo Milena Piccolin (2008),     pelo INCA, que revela que o câncer
                                                           o padrão de morbimortalidade en-         de pulmão é o segundo tipo de do-
                                                           contrado entre as mulheres brasi-        ença que mais mata as mulheres no
                                                           leiras revela uma realidade na qual      país, perdendo apenas para o câncer
                                                           convivem doenças típicas dos países      de mama (GONCALVES citado por
                                                           desenvolvidos (cardiovasculares e        OLIVEIRA, TONONI, 2011, p. 18)
                                                           crônico-degenerativas) com aquelas            Verifica-se também um proces-
                                                           do mundo subdesenvolvido (morta-         so de feminização da AIDS no país.
                                                           lidade materna e desnutrição). “Essa     Em 1986, a razão era de 15 casos de
                                                           mistura de doenças segue as diferenças   AIDS em homens para cada caso em
                                                           de desenvolvimento regional e de clas-   mulheres. A partir de 2003, a cada 15
                                                           se social”. (PICCOLIN, 2008, p.30).      casos em homens passaram a existir 10
                                                                Entre os problemas de saúde estão   em mulheres (BRASIL, 2009). Entre
                                                           o alcoolismo e o tabagismo. Há 20        homens, a taxa de incidência em 2007
                                                           anos, a proporção era uma mulher         foi de 22 notificações por 100 mil ha-
                                                           alcoolista para cada dez homens.         bitantes, e nas mulheres, de 13,9. Em
                                                           Hoje a proporção é de uma para três.     ambos os sexos, as maiores taxas de
                                                           No Brasil, o número de mulheres          incidência se encontram na faixa etária
                                                           dependentes do álcool aumentou nas       de 25 a 49 anos. Segundo o Ministério
                                                           últimas décadas, conforme indica o       da Saúde (BRASIL, 2009), essa taxa
                                                           “I Levantamento Nacional sobre os        apresenta tendência de crescimento a
                                                           Padrões de Consumo de Álcool na Po-      partir dos 40 anos em homens e dos
                                                           pulação Brasileira”. A pesquisa inves-   30 em mulheres, quando comparado o
                                                           tigou em detalhes como o brasileiro      ano de 1997 com 2007 (OLIVEIRA;
                                                           bebe e mostrou que, em duas décadas,     TONINI, 2011).
                                                           a proporção de mulheres entre a po-           Com relação ao aborto: “Anu-
                                                           pulação alcoólica passou de 10% para     almente 515 mil mulheres morrem
                                                           30% (OLIVEIRA, TONONI, 2011).            por complicações da gravidez, aborto,
                                                                Apesar do registro de redução       parto e puerpério. 99% das mortes
                                                           entre os números de fumantes de          maternas ocorrem em países em
                                                           uma forma geral no Brasil, segun-        desenvolvimento”. Estes são dados
                                                           do o Instituto Nacional do Câncer        divulgados pelo Dossiê de Mortali-
                                                           (INCA), a redução de fumantes en-        dade Materna (REDE NACIONAL
                                                           tre as mulheres no país é menor em       FEMINISTA DE SAÚDE E DI-
                                                           relação aos homens. A OMS afirma         REITOS REPRODUTIVOS, s/d, p.
                                                           que a indústria do cigarro tem in-       5). Sabemos que no Brasil mulheres
                                                           vestido de forma significativa para      de todas as classes sociais praticam
                                                           atrair o público feminino e jovem e,     o aborto, no entanto, das mulheres
                                                           lamentavelmente, o resultado aparece     que morrem ou ficam com sequelas
                                                           em levantamentos como o destacado        a maioria é pobre e não pode pagar

                                                      20
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
pelos serviços oferecidos nas clínicas     homofobia e a lesbofobia. Quantos e
clandestinas.                              quantas, no Brasil, continuam vítimas
     No mais, o alto índice de câncer      de violência por intolerância à sua
de mama e de colo de útero revela que      orientação sexual?
fatores alimentares articulados ao es-          Não podemos subestimar a capa-
tresse cotidiano têm levado mulheres à     cidade do capitalismo em transformar
morte. Também estamos mais propen-         tudo em mercadoria: transformou
sas à hipertensão arterial, às diabetes,   a água, o ar, a terra e nossos corpos
à obesidade, doenças que têm como          em mercadoria. Mulheres são repro-
uma das principais causas o estresse.      duzidas como objeto de venda e de
Mulheres pobres dos grandes centros        consumo. E nessa onda, impõem-se
urbanos têm disputado os seus filhos       e reafirmam-se padrões de beleza às
com o tráfico de drogas. Muitas, por       mulheres, o que tem contribuído para
não poderem cuidar da prole porque         aumentar a discriminação étnica e
têm que sair para trabalhar, são culpa-    racial contra mulheres que fogem ao
bilizadas e culpabilizam-se pela depen-    ideário veiculado e vendido na mídia.
dência ou morte de suas/seus filhas/os.         Diante de tantas violências as
Presenciamos na atualidade estratégias     mulheres lutam, marcham, gritam,
discursivas vindas de entes do Estado      aliam-se e organizam-se em diversas
e da sociedade civil responsabilizando     frentes: movimentos específicos e
mulheres pela desestruturação familiar.    mistos. Na atualidade, mulheres ne-
No entanto, tais sujeitos não explicam     gras, indígenas, quilombolas, jovens,
porque mulheres que têm que trabalhar      idosas, urbanas, camponesas e sem
para sustentar suas famílias não dispõe    terra, trabalhadoras e trabalhadeiras,
de políticas públicas, como creches, por   lésbicas, com deficiência, com HIV,
exemplo, ou escola de tempo integral       entre muitas outras, ocupam as ruas
para deixar as/os suas/seus filhas/os.     para gritar por seus direitos, pela
Afinal, de quem é a verdadeira respon-     garantia de políticas públicas que vi-
sabilidade pela negligência aí posta? O    sam à equidade de gênero e à defesa
discurso dominante diria: “a culpa é       dos direitos humanos das mulheres.
sempre das mulheres”.                      Transformamos o mundo diuturna-
     Neste movimento complexo em           mente nas pequenas e grandes coisas
que se revelam as diversas facetas da      que fazemos; com nossas poesias,
opressão sexual, mulheres lésbicas         músicas e discursos inflamados; cho-
continuam sendo vítimas de violência       ramos e sorrimos como expressão de
e discriminação. Mesmo com alguns          dor e de alegria e alimentamos não
avanços jurídicos no reconhecimento        só o mundo, mas a nossa utopia de
da união civil entre homossexuais,         um dia sermos consideradas não mais
setores de igrejas e parlamentares con-    como cidadãs de segunda classe, mas
servadores continuam disseminando a        como sujeitos imprescindíveis.

                                                                                    21
propoStAS De polÍtiCAS
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
                     propostas de políticas
    O conjunto de propostas a se-            primeiros meses do governo Dilma.
guir apresentadas são resultados de               São propostas que na AMB al-
um escolha entre as muitas propo-            cançam um forte consenso embora
sições que nós integrantes da AMB            estejam longe de ser unanimidade no
viemos debatendo e construindo               feminismo brasileiro. Todas as pro-
coletivamente e, muitas vezes, em            postas guardam uma forte identidade
colaboração com companheiras de              política com o feminismo da AMB
outras organizações e movimentos de          por conta da formulação adotada
mulheres no Brasil, em especial nos          para traduzir demandas coletivas das
espaços das Conferências de Políticas        mulheres em propostas de políticas
ao longo do governo Lula e nestes            públicas com perspectiva feminista.


EnfrEntamEnto Do raCismo, sExismo E lEsbofobia

      Na II CNPM aprovamos, com um           às políticas de enfrentamento ao ra-
esforço redobrado de negociação, um          cismo, sexismo e lesbofobia reconhe-
novo eixo para o Plano Nacional de Po-       cendo-as como políticas de Estado
líticas para as Mulheres, que veio a ser o   que concretizam as responsabilidades
eixo 9. Com esta deliberação aprovada a      de governos democráticos na con-
II CNPM afirmou que cabe às políticas        solidação de valores igualitários e
para as mulheres não apenas atender as       uma cultura de direitos na sociedade
mulheres e promover sua autonomia            brasileira.
como também enfrentar o racismo, o
sexismo e a lesbofobia que imperam nas       Propostas e prioridades
práticas sociais e promovem a desigual-
dade também entre as mulheres.               •	 Fortalecer as estruturas do Minis-
      O enfrentamento do racismo,               tério da Mulher/SPM e SEPPIR
do sexismo e da lesbofobia na vida              efetivando seu caráter e poder de
das mulheres, impõe ao Estado um                ministérios do governo federal;
duplo desafio: reconhecer demandas           •	 Incorporar o princípio da ação
específicas das mulheres negras, ín-            afirmativa em todos os órgãos
dias e lésbicas, e, ao mesmo tempo              da administração pública e nas
enfrentar a articulação de múltiplas            organizações a eles vinculadas;
dimensões da desigualdade na vida            •	 Incluir as desigualdades de gênero
de todas as mulheres.                           e raça e o combate à lesbofobia
      Prioridade para o governo Dil-            entre os conteúdos dos programas
ma: conferir prioridade estratégica             de formação de gestores/as.

                                                                                     25
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                                          autonomia EConômiCa E soCial
                                                           igualdade no mundo do trabalho e desafios do desenvolvimento sustentável
                                                                            Grupo de trabalho 1 da iii CnPm

                                                                A conquista da autonomia econô-          as mulheres negras e brancas e
                                                           mica é importante para nós mulheres           promoção do reconhecimento do
                                                           porque nos permite sair da situação de        valor social do trabalho doméstico;
                                                           dependência e privação em que mui-         •	 Implantar a Política Nacional de
                                                           tas de nós se encontram. É importante         Economia Solidária, com suas
                                                           para nos dar condições objetivas para         diretrizes, princípios e objetivos
                                                           romper ciclos de violência doméstica,         aprovados nas I e II CONAES,
                                                           para conquistar a liberdade de decidir        tomando esta política como uma
                                                           sobre os rumos que queremos dar a             política de desenvolvimento sus-
                                                           nossas vidas, para crescer em autocon-        tentável, de caráter perene, com
                                                           fiança e em autoridade no contexto            participação democrática comu-
                                                           das nossas famílias.                          nitária e popular, não relegada às
                                                                Contudo, nos dias presentes, mes-        políticas de corte assistencial ou
                                                           mo com o crescimento da participação          compensatório.
                                                           das mulheres no mercado de trabalho
                                                           e com o dinamismo do crescimento da
                                                           economia capitalista alcançado nos anos        ProPostas de Políticas
                                                           recentes em nosso país, a autonomia            Prioritárias Para o
                                                           econômica das mulheres está longe do           eixo 1 do PNPM
                                                           horizonte de muitas de nós e a desigual-
                                                           dade entre as mulheres no mundo do             autonomia econômica e
                                                           trabalho cresce em função do racismo.          igualdade no mundo do
                                                                                                          trabalho com inclusão social
                                                           apontamos como prioridades
                                                           para o governo Dilma:                      •	 Permanência e consolidação
                                                                                                         da política de valorização do
                                                           •	 Avançar na direção da igualdade            salário-mínimo;
                                                              de oportunidades para todas as          •	 Estabelecimento de política de
                                                              mulheres no mundo do trabalho,             cota mínima para emprego fe-
                                                              com redução da dupla jornada               minino como contrapartida das
                                                              de trabalho, ampliação do acesso           empresas aos benefícios fiscais
                                                              das mulheres à proteção social,            concedidos pelos organismos
                                                              redução das desigualdades salariais        governamentais de fomento ao
                                                              entre homens e mulheres e entre            desenvolvimento econômico;

                                                      26
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
•	 Garantia de acesso à seguridade            no marco da economia solidária;
   social (saúde, assistência e previ-   •	   Atuar para o fortalecimento da
   dência social) como direito uni-           estrutura do MDA e do INCRA
   versal que precisa ser garantido           garantindo mais investimentos
   também à população trabalhado-             nas políticas de apoio à agri-
   ra dos empreendimentos econô-              cultura agroecológica familiar e
   micos solidários, na condição de           camponesa;
   segurado especial, contemplando       •	   Adotar e promover medidas de
   as especificidades do público do           garantia do direito de livre acesso
   cooperativismo social;                     das mulheres aos bens comuns
•	 Novas medidas de inclusão previ-           da natureza – rios, marés, matas
   denciária que avancem na direção           e florestas – fonte de trabalho
   da universalização do acesso das           para o autosustento de milhões
   mulheres ao benefícios da previ-           de mulheres;
   dência social.                        •	   Garantir o reconhecimento e
                                              desintrusão de territórios quilom-
                                              bolas especialmente aqueles terri-
    ProPostas de Políticas                    tórios onde trabalham mulheres
    Prioritárias Para o                       quebradeiras de coco babaçu;
    eixo 6 do ii PNPM                    •	   Assegurar uma política de fomen-
                                              to ao uso de defensivos agrícolas
    Desenvolvimento sustentável               naturais, em substituição ao uso
    no meio rural, na cidade e                de agrotóxicos, com apoio à estu-
    na floresta, com garantia de              dos e pesquisas.
    justiça ambiental, soberania e
    segurança alimentar
                                              ProPostas Para o eixo 7
•	 Conferir prioridade a políticas que        do ii PNPM
   promovam e garantam o direito à
   formas de organização econômica            Direito a terra, moradia
   baseadas no trabalho associado, na         digna e infraestrutura social
   propriedade coletiva, na coopera-          nos meios rural e urbano,
   ção, na autogestão, na sustentabi-         considerando as comunidades
   lidade e na solidariedade, como            tradicionais
   modelo de desenvolvimento;
•	 Fortalecimento e mais investi-        •	 Conferir prioridade à reforma
   mentos públicos nas políticas            agrária como estratégia de desen-
   e ações de governo em favor da           volvimento democrático, justo
   organização produtiva das mu-            e sustentável, difundido infor-
   lheres, no campo e na cidade,            mações e efetivando o direito de

                                                                                    27
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                              acesso a terra e aos bens comuns       integral e por todo o ano;
                                                              da natureza para as mulheres;       •	 Fim dos despejos forçados em ter-
                                                           •	 Efetivar uma política nacional         ritórios de grandes obras do PAC
                                                              de creches com gestão pública,         e política de moradia, no campo
                                                              implementada em parceria entre         e nas grandes e pequenas cidades,
                                                              os três níveis de governo – fede-      com aceso universal à saneamento
                                                              ral, estadual e municipal – al-        e infraestrutura social (creches,
                                                              cançando o campo e a cidade,           centros de convivência de idosos,
                                                              com funcionamento em horário           restaurantes populares).




                                                                      EDuCação, Cultura E ComuniCação
                                                                            Democráticas e não discriminatórias
                                                                   Grupo de trabalho 2 na iii CnPm: autonomia Cultural

                                                               O sistema de comunicação de        apontamos como prioridade para
                                                           massa no Brasil está sob controle      o governo Dilma:
                                                           de nove famílias que decidem, em
                                                           consonância com a ideologia do         •	 Adoção de medidas de regulação
                                                           poder econômico, toda a grade de          democrática pelo Estado sobre a
                                                           programação cultural e de geração de      estrutura do sistema de comuni-
                                                           consumo que dominam o espectro.           cações, a propriedade dos meios
                                                           Considerando que rádio e TV são           e os conteúdos veiculados, de
                                                           concessões públicas reconhecemos,         forma que estes observem estri-
                                                           portanto, que o Estado é responsável      tamente os princípios constitu-
                                                           pelo que é veiculado através destes       cionais do respeito aos direitos
                                                           meios.                                    humanos;
                                                               O sistema de educação no país      •	 Organização e institucionali-
                                                           ainda é fragmentado apresentando          zação de um Sistema Nacional
                                                           inúmeros problemas da educação            de Educação, que promova, de
                                                           básica ao ensino superior e em rela-      forma articulada, em todo o país,
                                                           ção à educação infantil. No presente      o regime de colaboração entre os
                                                           sofre ataques ao princípio da laici-      entes federados, o financiamento,
                                                           dade e avança muito timidamente           acompanhamento e o controle
                                                           no enfrentamento das discrimi-            social da educação; bem como
                                                           nações e preconceitos no processo         assegure qualidade e a função so-
                                                           pedagógico.                               cial da educação e das instituições


                                                      28
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
   educativas, ou seja, a educação            das políticas para as mulheres a
   pública, gratuita, laica, demo-            formação, o desenvolvimento
   crática, inclusiva e de qualidade;         profissional e a valorização social
•	 Universalização do acesso, a               e salarial das/os trabalhadores/as
   ampliação da jornada escolar e             da educação, categoria formada
   a garantia da permanência bem-             majoritariamente por mulheres;
   -sucedida para crianças, adoles-        •	 Implantar o tema das relações
   centes, jovens e adultos/as, em            entre homens e mulheres e os
   todas as etapas e modalidades.             direitos sexuais e reprodutivos
                                              na política de formação de pro-
                                              fessoras/es e profissionais da rede
    ProPostas Para o eixo 2                   pública de educação.
    do ii PNPM


    Educação inclusiva,                        ProPostas de Políticas
    não-sexista, não-racista                   Para o eixo 8 do ii PNPM
    e não-homofóbica
                                               Cultura, comunicação
•	 Incluir conteúdos relativos às              e mídia, igualitárias,
   desigualdades sociais e relações de         democráticas e
   gênero, racismo e direitos sexuais          não-discriminatórias
   na educação formal e articular
   com as experiências de educação         •	 Garantir o direito de antena e de
   popular e cidadã realizadas pelas          espaço para as organizações de
   mulheres, incorporando-as como             mulheres na grade da programa-
   políticas públicas;                        ção das empresas públicas de co-
•	 Implementar a Lei 10.639/2003              municação: TV, rádio e imprensa;
   (que institui o ensino de História e    •	 Garantir celeridade ao Plano Na-
   Cultura da África e dos Afro-Brasi-        cional de Banda Larga em todos
   leiros/as nas escolas da rede pública      os bairros das cidades e no campo
   e privada) e a Lei 11.645/2008             de todos os municípios brasileiros,
   (que trata da educação indígena)           para garantir acesso das mulheres
   revendo os materiais didáticos e           à Internet, aos serviços e informa-
   promovendo a devida formação               ções disponibilizados pela Internet;
   das/os professores/as, bem como         •	 Assegurar a não exibição e veicu-
   dos demais técnicos/as da rede             lação de mensagens que desquali-
   pública, promovendo sua imple-             fiquem as mulheres nas empresas
   mentação também na rede privada;           públicas de comunicação, seja
•	 Assegurar que esteja presente na           na forma de imagens, músicas,
   agenda de discussão e iniciativas          textos, propagandas ou notícias;

                                                                                     29
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                           •	 Criação e instalação do Conse-             observando as resoluções da I Con-
                                                              lho Nacional de Comunicação,               ferência Nacional de Comunicação.



                                                                     saúDE Das mulhErEs, DirEitos sExuais
                                                                           E DirEitos rEProDutivos

                                                                As históricas condições de de-
                                                           sigualdades e opressão a que nós
                                                                                                         ProPostas de Prioridades
                                                           mulheres estamos submetidas são
                                                                                                         de Políticas Para o eixo 3
                                                           determinantes sociais das formas de
                                                                                                         do ii PNPM
                                                           adoecer e morrer das mulheres e por
                                                           isso exigem uma atenção especial das
                                                                                                         saúde das mulheres, direitos
                                                           políticas públicas de saúde.
                                                                                                         sexuais e direitos reprodutivos
                                                                Os direitos sexuais e os direitos
                                                           reprodutivos são direitos determinan-
                                                                                                     •	 Revisão da legislação punitiva do
                                                           tes para a autonomia das mulheres,
                                                                                                        aborto no Brasil, assegurando que
                                                           pois estão relacionados ao exercício
                                                                                                        nenhuma mulher seja punida,
                                                           e possibilidade de tomada de decisão
                                                                                                        maltratada ou humilhada por ter
                                                           livre e soberana sobre ter ou não ter
                                                                                                        feito um aborto e não corra riscos
                                                           filhos e quando ter filhos, decidir so-
                                                                                                        de morte, garantindo o atendi-
                                                           bre nossa sexualidade, não fazer sexo
                                                                                                        mento humanizado ao aborta-
                                                           forçado e decidir quando e com quem
                                                                                                        mento na rede SUS;
                                                           desejamos o sexo.
                                                                                                     •	 Ampliar e qualificar a atenção
                                                                                                        clínico-ginecológica na rede SUS,
                                                           apontamos como prioridade para               inclusive para as portadoras da
                                                           o governo Dilma:                             infecção pelo HIV e outras DSTs,
                                                                                                        com garantia de realização de
                                                           •	 Consolidar o SUS como sistema             todos os exames ginecológicos
                                                              com gestão pública;                       e de pré-natal, em todos os mu-
                                                           •	 Assegurar o livre exercício da au-        nicípios do país, com resultados
                                                              todeterminação reprodutiva pelas          entregues no máximo em 15 dias
                                                              mulheres;                                 e a certeza da consulta de retorno;
                                                           •	 Combater a lesbofobia, promover        •	 Assegurar atendimento quali-
                                                              os direitos sexuais das mulheres          ficado e não-discriminatório a
                                                              e efetivar a Política Nacional de         mulheres lésbicas e bissexuais;
                                                              Atenção Integral à Saúde da Mu-        •	 Qualificar a atenção ao planeja-
                                                              lher, rompendo com o modelo de            mento reprodutivo, incluindo a as-
                                                              assistência materno-infantil.             sistência à infertilidade, garantindo

                                                      30
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
   a oferta de métodos anticoncepcio-     •	 Prevenir e conter a tendência de
   nais para a população em idade re-        expansão das DSTs e a infecção
   produtiva, ampliando o acesso das         pelo HIV/AIDS entre mulheres
   mulheres às informações sobre as          e ampliar e qualificar a atenção à
   opções de métodos anticoncepcio-          saúde das mulheres vivendo com
   nais e estimulando a participação         HIV e AIDS;
   de homens e adolescentes nas ações     •	 Promover a atenção integral à
   de planejamento reprodutivo;              saúde das mulheres negras: me-
•	 Ampliação e melhoria das condi-           lhorar o registro e produção de
   ções de funcionamento das mater-          dados; capacitar profissionais de
   nidades em todos os municípios            saúde; implantar o Programa de
   com equipe capacitada de profis-          Anemia Falciforme (PAF/MS),
   sionais, garantindo partos huma-          dando ênfase às especificidades
   nizados evitando a ocorrência de          das mulheres em idade fértil e no
   parto cirúrgico desnecessário;            ciclo gravídico-puerperal;
•	 Expandir a cobertura e qualificar      •	 Valorização do serviço e da servi-
   os serviços de atenção às mulheres        dora pública da saúde: concurso,
   em situação de abortamento e ser-         carreira, salário, atualização pro-
   viços de aborto legal nos hospitais       fissional, condições adequadas
   regionais estaduais, com o cumpri-        de trabalho e de vida, paridade
   mento da Norma Técnica do Mi-             na aposentadoria. Contra toda
   nistério da Saúde relativa à Atenção      forma de precarização e a gestão
   Humanizada ao Abortamento;                privada do SUS.


          EnfrEntamEnto a toDas as formas DE
             violênCia Contra as mulhErEs
         Grupo de trabalho 2 na iii CnPm – autonomia pessoal

     A violência contra as mulheres é     violência sexual, dentro e fora de casa e
um dos instrumentos da dominação          nas famílias, lutamos cotidianamente.
masculina no patriarcado. Ela acontece    Contudo, crescem os crimes sexuais
através de humilhações ou violência       contra as mulheres, em especial em
física e sexual, chegando ao extremo      contexto de pobreza, exploração e
do assassinato. Para coibir a violência   omissão do Estado. Crescem os crimes
doméstica e familiar e garantir prote-    violentos marcados por ódio e misogi-
ção e atenção às mulheres, conquista-     nia como no caso do chamado “estu-
mos a Lei Maria da Penha, ainda não       pro corretivo” praticado por homens,
implantada mas já muito questionada       individualmente ou em grupo, contra
pelos poderes instituídos. Contra a       mulheres lésbicas.

                                                                                      31
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                           apontamos como prioridade para              especializadas (DEAMs), casas-
                                                           o governo Dilma:                            -abrigo e casa de abrigamento
                                                                                                       provisório (casas de passagem),
                                                           •	 Instituir no PPA 2012-2015               núcleos de violência contra as
                                                              a manutenção, consolidação e             mulheres nas defensorias públicas
                                                              ampliação do Programa de En-             e promotorias, juizados especiali-
                                                              frentamento à Violência contra as        zados, além de serviços de infor-
                                                              Mulheres, garantindo recuperação         mação nos CRAs e CREAS;
                                                              e ampliação significativa de seu      •	 Apoiar, assessorar e estimular a
                                                              orçamento de modo, o não conti-          construção de redes regionaliza-
                                                              gencimento dos recursos e promo-         das nos estados (intermunicipais)
                                                              ver a ação integrada e colaborativa      para garantir a serviços de atenção
                                                              entre os três níveis de governos na      às mulheres em todas as micror-
                                                              implementação do Programa.               regiões dos estados de nosso país;
                                                                                                    •	 Garantir o cumprimento das
                                                                                                       Normas Técnicas do Ministério da
                                                               ProPostas de Prioridades                Mulher/SPM sobre: o funciona-
                                                               Nas Políticas do eixo 4                 mento das DEAMs e dos CAMs;
                                                               do ii PNPM                           •	 Garantir o cumprimento pelo
                                                                                                       governo da Norma Técnica do
                                                               Enfrentamento de todas                  Ministério da Saúde sobre atenção
                                                               as formas de violência                  à saúde das mulheres vítimas de
                                                               contra as mulheres                      violência, garantindo nas unidades
                                                                                                       de atenção básica e serviços espe-
                                                           •	 Apoiar a implantação de toda a           cializados: a pílula da prevenção
                                                              rede de serviços de atendimento às       de gravidez indesejada (pílula do
                                                              mulheres em situação de violência        dia seguinte), a profilaxia contra
                                                              conforme a Lei Maria da Penha            hepatite C e outras doenças sexual-
                                                              determina: centro de acolhimento         mente transmissíveis e contra vírus
                                                              às mulheres (CAMs), Delegacias           HIV/AIDS.



                                                                 autonomia PolítiCa, instituCionalização
                                                                  E finanCiamEnto DE PolítiCas PúbliCas
                                                                            Para as mulhErEs
                                                                               Grupo de trabalho 4 da iii CnPm

                                                               O Estado brasileiro tem demons-      a desigualdade entre homens e mulhe-
                                                           trado avanços no processo de assumir     res como um problema público. Prova

                                                      32
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
disso é a instituição das políticas para      iniciativas governamentais, par-
as mulheres e a criação de um órgão           lamentares e da sociedade civil
público, a Secretaria de Política para        pela reforma dos sistema políti-
Mulheres, transformando-a poste-              co que estejam em consonância
riormente em Ministério. Neste mo-            com as conclusões da Comissão
mento há rumores de que o governo             Tripartite de 2010/Ministério da
federal tende para uma proposta de            Mulher/SPM;
unificação das várias secretarias espe-    •	 Apoiar a auto-organização das
ciais em um Ministério dos Direitos           mulheres, seus projetos sociais
Humanos. Isto é inaceitável para o            e atuação nas lutas sociais, pro-
movimento feminista. Seria um retro-          movendo a instalação de fundos
cesso em uma conquista histórica das          nacionais de financiamento e co-
mulheres brasileiras, assim como da           operação com tais organizações.
população negra, no caso da SEPPIR
ser incorporada a esta ideia.
      O Ministério da Mulher/SPM é             ProPostas Para o eixo11
um instrumento que fortalece a auto-
nomia política das mulheres, contribui         Gestão e monitoramento
para a democratização do Estado bra-           do Plano
sileiro e para a construção de uma so-
ciedade igualitária e socialmente justa.   •	 Institucionalizar a Política Na-
                                              cional para Mulheres, com suas
apontamos como prioridade para                diretrizes, princípios, objetivos
o governo Dilma:                              e organismos, mecanismos de
                                              monitoramento e avaliação, ela-
•	 Consolidar as políticas de promo-          borada e aprovada na I CNPM
   ção da igualdade e direitos huma-          mas nunca formalizada pelo
   nos, através do fortalecimento das         Poder Executivo;
   secretarias especiais e do aumento      •	 Garantir que as resoluções III
   de financiamento a estas políticas.        CNPM redundem no fortaleci-
                                              mento da Política Nacional para
                                              as Mulheres que se consolidem
    ProPostas Para o eixo 5                   em diretrizes, estratégias, planos,
    do ii PNPM                                programas, projetos, ações, nor-
                                              mas técnicas e que estas sejam
    Participação das mulheres nos             observadas pelos diferentes níveis
    espaços de poder e decisão                de governos fazendo avançar a
                                              implementação da Política Na-
•	 Fortalecer a luta das mulheres             cional para as Mulheres na pers-
   por paridade na política e as              pectiva da igualdade.

                                                                                    33
DoCumentoS De poSição
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
                       Carta à presidenta
    Documento endereçado à presi-          apresentando a posição coletiva das
denta eleita Dilma Rousseff, entregue      seguintes redes e articulações nacio-
ao presidente do Partido dos Traba-        nais feministas acerca do processo de
lhadores, Eduardo Dutra, coordena-         escolha da nova ministra e a política
dor da transição do governo, em au-        para mulheres a ser implementada
diência em Brasília, em 14/12/2010,        pelo novo governo.




    À exceleNtíssiMa                       requerem a reiteração do compromis-
    PresideNta eleita seNhora              so político para alcançar a cidadania
    dilMa rousseff                         plena das brasileiras.
                                                Neste sentido, dirigimo-nos à
    aos cuidados da equiPe                 presidenta eleita, Dilma Roussef, aos
    de traNsição de GoverNo                cuidados da equipe de Transição de
                                           Governo, apresentando propostas e
      Pela primeira vez em nossa histó-    reivindicações para a estruturação e
ria, elegemos uma mulher para presi-       gestão do novo governo federal.
dir o Brasil. Tal fato político, eviden-
cia as mudanças que a luta feminista       Propomos:
das mulheres, ao longo de décadas,
produziu na sociedade brasileira e em      1. Fortalecer a Secretaria de Políticas
sua cultura política ao mesmo tempo           para as Mulheres como organis-
que institui um desafio para o novo           mo de primeiro escalão, articu-
governo: de avançar na promoção da            lador e coordenador da política
igualdade social e política com base no       de Estado orientada ao enfrenta-
respeito e valorização da diversidade,        mento das desigualdades vividas
da democracia, da cidadania e dos             pelas mulheres, o que concretiza-
direitos humanos.                             -se na prática com novos recursos
     Reafirmamos a importância que a          humanos e financeiros;
Secretaria de Políticas para as Mulhe-
res teve nos últimos oito anos para a      2. Escolha de gestora com trajetó-
implementação das políticas públicas          ria ética, competência técnica e
com vistas a enfrentar as desigualda-         política e comprometida com a
des de gênero, raça e classe. Persistem,      agenda de direitos humanos das
entretanto, obstáculos estruturais que        mulheres consubstanciados no

                                                                                     37
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                               Plano Nacional de Política para           abstratas ou genéricas identificadas
                                                               as Mulheres, fruto de processos           com conceitos estritos e conserva-
                                                               participativos; que reconheça             dores que têm sido utilizadas por
                                                               os movimentos de mulheres e               praticamente todas as políticas
                                                               feministas como sujeito político          sociais, salvo raras exceções, como
                                                               de interlocução para a formulação         comunidade, pobres, família, que
                                                               de políticas para as mulheres; que        não permitem o reconhecimento
                                                               respeite a diversidade das mulhe-         das desigualdades vividas pelas
                                                               res e a pluralidade dos movimen-          mulheres;
                                                               tos sociais;
                                                                                                     6. Eliminação dos programas e ações
                                                           3. Avanços significativos na direção         governamentais que legitimam a
                                                              da paridade entre mulheres e ho-          divisão sexual do trabalho, entre
                                                              mens na ocupação dos espaços de           outras estratégias que mantêm e
                                                              poder e decisão do novo governo           atualizam os papéis tradicionais
                                                              federal, nos diferentes escalões          de subordinação e exploração das
                                                              da gestão pública, consideradas           mulheres, inclusive mediante a
                                                              inclusive as dimensões racial e           transferência de responsabilidades
                                                              étnica como critério;                     da esfera do Poder Público para a
                                                                                                        esfera doméstica e comunitária; a
                                                           4. Que o planejamento governamen-            pretensa eficiência econômica de
                                                              tal das políticas públicas (econô-        algumas políticas que reduzem os
                                                              micas, sociais e de desenvolvimen-        gastos públicos vêm tendo custos
                                                              to) responda, de modo estrutural,         muito altos para as mulheres, em
                                                              ao enfrentamento das múltiplas            especial para as que estamos nos
                                                              formas de desigualdade vividas pe-        segmentos mais empobrecidos da
                                                              las mulheres e que, portanto, seja        população;
                                                              garantido espaço de participação
                                                              na elaboração do PPA;                  7. A garantia do sistema público,
                                                                                                        universal, solidário, redistributivo
                                                           5. Que o novo ciclo de políticas             da Seguridade Social; com a incor-
                                                              públicas, com início em 2011, ga-         poração ao sistema das/os trabalha-
                                                              ranta que as metas e os indicadores       doras/es sem cobertura previden-
                                                              estejam orientados a reconhecer,          ciária; universalização do acesso à
                                                              visibilizar e superar as desigualda-      saúde e reafirmação da assistência
                                                              des vividas pelas mulheres. Reivin-       como direito de cidadania;
                                                              dicamos a utilização das categorias
                                                              de gênero, raça, etnia, diversidade    8. O fortalecimento das políticas de
                                                              sexual, geracional, e outras, em          saúde das mulheres e a garantia
                                                              substituição ao uso de categorias         dos direitos sexuais e direitos

                                                      38
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
    reprodutivos, com base na laici-      14. Que o processo preparatório e
    dade, acesso e qualidade, confor-         de realização da III Conferência
    me os compromissos assumidos              Nacional de Políticas para as Mu-
    pelo governo brasileiro;                  lheres, que se inicia em 2011, seja
                                              o espaço privilegiado de discussão,
9. Revisão da legislação restritiva e         negociação e efetiva pactuação de-
   punitiva do direito ao aborto no           mocrática dessa nova construção,
   Brasil;                                    em estreita conexão com o proces-
                                              so de elaboração do Planejamento
10. Ações nos diversos ministérios            Plurianual para 2012-2015;
    que contribuam para a elimi-
    nação de todas as formas de           15. Que no debate sobre a reforma
    violência contra as mulheres e o          tributária a situação de pobreza das
    enfrentamento ao racismo, sexis-          mulheres seja tratada como pro-
    mo e lesbo/transfobia;                    blema de alta relevância, ao qual
                                              a proposta a ser construída deva
11. Propomos fortalecer os espaços            responder para enfrentar a enorme
    de participação e controle social         injustiça fiscal que ainda persiste
    sobre as políticas públicas, como         no sistema tributário brasileiro;
    os Conselhos e Conferências de
    Políticas Públicas;                   16. A severa observância ao princípio
                                              laico que rege o Estado brasileiro,
12. As deliberações das Conferências          condição sine qua non para que
    e Planos que delas emergem se-            as mulheres possam exercer livre-
    jam reconhecidos pelo governo             mente os seus direitos, assim como
    como pactos assumidos com a               sua liberdade sexual e de crença;
    sociedade civil que, portanto,
    devem orientar a gestão, inclusive    17. Que na reforma política, cujo de-
    no nível das finanças públicas. Há        bate deve se iniciar em 2011, a sub-
    que se desfazer a ideia de que os         -representação das mulheres nos
    Planos são meras cartas de inten-         espaços de poder seja eliminada;
    ções, dotando-os de mecanismos
    efetivos de implementação;            18. Que o processo político de cons-
                                              trução da proposta governamen-
13. Que se assegure caráter deliberati-       tal para a reforma política inclua a
    vo aos Conselhos, de modo a for-          abertura de canais de interlocução
    talecer o seu caráter de controle         e negociação com o movimento
    social sobre as políticas públicas,       de mulheres e feminista, assim
    evitando que fiquem reduzidos à           como com as instâncias de mu-
    função de assessoramento;                 lheres em partidos políticos;

                                                                                     39
Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas




                                                           19. Insistimos na importância de se       Articulação de Mulheres Brasileiras
                                                               eliminar todas e quaisquer parce-
                                                                                                     Articulação de Organizações
                                                               rias, ou outras formas colaboração,   de Mulheres Negras Brasileiras
                                                               inclusive em termos econômicos
                                                               do Estado brasileiro com institui-    Comitê Latinoamericano do
                                                                                                     Caribe para a Defesa do Direito
                                                               ções religiosas, confessionais e/ou   da Mulher (CLADEM)
                                                               privadas que violem os direitos das
                                                               mulheres, inclusive pela negação      Jornadas Brasileiras pelo
                                                                                                     Aborto Legal e Seguro
                                                               da prestação de serviços públicos
                                                               responsivos aos direitos conquis-     Liga Brasileira de Lésbicas (LBL)
                                                               tados pelas mulheres.
                                                                                                     Rede Nacional Feminista
                                                                                                     de Saúde, Direitos Sexuais e
                                                           Brasília, 14 de dezembro de 2010.         Direitos Reprodutivos




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Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas
          Contribuições ao plano plurianual
             do governo federal para o
                período 2012-2015

     Documento de orientação da                Consideramos que sobre a ideia
AMB elaborado para o seminário            de igualdade de direitos se apoiam as
‘Diálogos sociais’ reunindo conselhei-    políticas de Estado que se propõem a
ros/as nacionais e entidades convida-     superar as desigualdades de gênero.
das, seminário promovido pela Secreta-    A promoção da igualdade requer o
ria Geral da Presidência da República.    respeito e atenção à diversidade cul-
                                          tural, étnica, racial, inserção social,
visão de futuro                           de situação econômica e regional,
                                          assim como aos diferentes momen-
     À proposta do governo federal de     tos da vida. Demanda o combate
que o Brasil será num país conhecido      às desigualdades de toda sorte, por
por seu modelo de desenvolvimento         meio de políticas de ação afirmativa
sustentável, bem distribuído regio-       e considerando as experiências das
nalmente, que busca igualdade social      mulheres na formulação, implemen-
com educação de qualidade, produção       tação, monitoramento e avaliação
de conhecimento, inovação tecnológi-      das políticas públicas.
ca, acrescentamos que queremos um              Quanto a laicidade, sabemos que
desenvolvimento democrático e com         nunca foi inteiramente implantada no
justiça socioambiental, e queremos o      Brasil, mas afirmamos que as políticas
fim das desigualdades de classe, raça/    públicas de Estado devem ser formu-
etnia e gênero.                           ladas e implementadas de maneira
                                          independente de princípios religiosos,
valores                                   de forma a assegurar efetivamente os
                                          direitos consagrados na Constituição
     Aos valores indicados pelo governo   Federal e em diversos instrumentos
federal para orientação do PPA, tais      internacionais assinados e ratificados
como: Soberania, Democracia, Justiça      pelo Estado brasileiro, como medida
Social, Sustentabilidade, Diversidade     de proteção aos direitos humanos das
Cultural e Identidade Nacional, acres-    mulheres e meninas. (Pressupostos,
centamos que sejam observados os valo-    princípios e diretrizes da Política Na-
res da igualdade e laicidade do Estado.   cional para as Mulheres)


                                                                                    41
Articulando a Luta Feminista - AMB 2011
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Articulando a Luta Feminista - AMB 2011

  • 1. III Conferência de Políticas para as Mulheres Propostas e questões para o debate
  • 2.
  • 3. III Conferência de Políticas para as Mulheres Propostas e questões para o debate Brasília, dezembro de 2011
  • 4.
  • 5. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas Índice Apresentação _______________________________________ 7 ContextuALIzAção Discussão 1 É tão mais complexo o que a gente está vivendo hoje _______ 11 Discussão 2 Conjunturas internacional e nacional e as mulheres_________ 15 PoPostAs De PoLítICAs Enfrentamento do racismo, sexismo e lesbofobia __________ 25 Autonomia Econômica e Social ________________________ 26 Educação, Cultura e Comunicação _____________________ 28 Saúde das mulheres, direitos sexuais e direitos reprodutivos ___ 30 Enfrentamento a todas as formas de violência contra as mulheres __________________________________ 31 Autonomia política, institucionalização e financiamento de políticas públicas para as mulheres ___________________ 33 DoCuMentos De PosIção Carta à presidenta __________________________________ 37 Contribuições ao Plano Plurianual do governo federal para o período 2012-2015 ___________________________ 41 Carta Política do Encontro Nacional de Diálogos e Convergências entre Agroecologia, Saúde e Justiça Ambiental, Soberania Alimentar, Economia Solidária e Feminismo ______________ 43
  • 6. ContrIbuIções Ao DebAte Saúde pública em mãos privadas: para onde vai o SUS no governo Dilma? __________________ 55 Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher – PNAISM ________________________ 57 Mulheres e poder: ampliar a participação para garantir direitos ______________________________ 59 Lutas feministas antipatriarcais, antirracistas e anticapitalistas – A luta feminista da AMB_____________ 63
  • 7. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas Apresentação O espaço das Conferências de Conferências e publica esta revista para Políticas é para nós da Articulação de a Conferência Nacional. Este número Mulheres Brasileiras (AMB) não ape- traz uma inovação em relação aos nas o lugar de construção e negociação outros, mas mantém a linha editorial de políticas públicas entre governos e de apresentar na forma de textos as sociedade, mas também um espaço discussões que viemos acumulando no legítimo de interlocução crítica entre processo de preparação da Conferência mulheres feministas e destas com os e em nossos próprios fóruns de debate governos sobre as políticas realmente feminista e nos movimentos sociais. existentes, seus efeitos e impactos posi- A revista apresenta inicialmente tivos e negativos na vida das mulheres. dois textos de Contextualização desta Para nós, as Conferências são tam- Conferência. Na segunda parte conso- bém um processo político por meio do lida e apresenta as Propostas de Políti- qual organizamos e negociamos com cas para vários eixos do Plano Nacional outras mulheres, de diversas organiza- de Políticas para as Mulheres – PNPM. ções sociais e movimentos de mulheres, Na terceira parte apresenta Documen- nossas demandas e prioridades frente tos de Posição dos quais somos autoras à responsabilidade dos governos para e signatárias e que foram produzidos ao com a redução das desigualdades. longo deste primeiro ano do governo Dada a importância que con- Dilma. E por fim traz alguns textos de ferimos às Conferências para a luta Contribuição aos Debates, também feminista nas políticas públicas, reco- produzidos por integrantes e militantes nhecemos que precisamos refletir mais da AMB, como contribuição ao debate sobre os limites destes espaços, os riscos de temas relevantes para a conjuntura de burocratização do movimento e de em que se realiza esta III CNPM. Entre perda de sentido de ação contra hege- estes textos estão alguns dos indicativos mônica. Contudo, frente o cotidiano do II Encontro Nacional da AMB, uma de desigualdades, de raça, gênero, clas- contribuição de quase 900 mulheres se, que se concretizam em cada uma das que ali estavam presentes. vidas das mulheres, insistimos, mais Esperamos que esta revista seja uma vez, e ainda esta vez, em atuar em um instrumento útil nos trabalhos de defesa das mulheres na Conferência grupos e plenárias, na negociação e in- Nacional de Políticas para as Mulheres. terlocução da AMB com as delegadas Desde 2004, quando aconteceu de organizações de mulheres e dele- a I CNPM, a AMB edita documen- gadas governamentais da III CNPM. tos de debate e orientação para ação Contamos que a leitura contribuirá nas etapas municipais e estaduais das com nossa formação política feminista. 7
  • 8.
  • 10.
  • 11. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas DiSCuSSão 1 É tão mais complexo o que a gente está vivendo hoje Silvia Camurça Não faz muito tempo estávamos prevaleceu no plenário, e estávamos todas nós inaugurando uma nova ex- num contexto favorável. periência de participação com a I Con- Conseguimos, aprovar uma con- ferência de Políticas para as Mulheres. cepção do que são políticas para as Éramos muitas dos movimentos de mulheres, fixando a ideia de que são as mulheres, algumas mulheres feminis- políticas orientadas à promoção da au- tas em espaços de gestão nos estados e tonomia. Aprovamos princípios e dire- muitas mulheres chegando ao debate trizes importantes, como a laicidade do sem entender direito do que se tratava. Estado, a universalização das políticas Naquele ano de 2004, não sabía- com políticas afirmativas. E afirmamos mos com segurança por onde seguir. a relevância de ter orçamento e meca- Algumas de nós já tinha experiência e nismos executivos de políticas para as atuação em Conferências de Saúde e mulheres, Conferências e Conselhos de Assistência Social, mas “nunca antes nos três níveis de governo. da história deste país”, nós ou os gover- Ali, em 2004, estávamos sob nos, havíamos feito algo parecido com efeito positivo da criação da Secretaria aquela Conferência: juntar, no Plano de Políticas para as Mulheres – SPM Nacional, as mais diversas expressões com status de Ministério, orçamento políticas de governos e movimentos próprio e com vinculação direta à Pre- sociais para construir diretrizes de uma sidência da República. Conquistamos Política Nacional para as Mulheres. a almejada reformulação do CNDM, Na primeira Conferência, nosso que passou a ter representantes de mo- objetivo principal foi aprovar uma vimentos sociais eleitos por seus pares, orientação feminista para as dire- ao invés de escolhidos pela presidência. trizes da Política Nacional para as Hoje, a conjuntura em que acon- Mulheres no que fomos relativamente tece esta III CNPM é outra. Estamos bem sucedidas. Houve aliança entre em meio ao agravamento da crise in- movimentos de mulheres de orien- ternacional do sistema capitalista, crise tação feminista, força política que em nome da qual cortam-se direitos 11
  • 12. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas sociais ameaçando ao sistemas uni- recolocam ênfase na maternidade e versais de seguridade social dos países não nas mulheres, com uma força na europeus, enquanto nós estamos aqui abordagem materno-infantil que não querendo universalizar e expandir o víamos há muitos anos. acesso a direitos. A proposta de políticas para as Estamos às vésperas da anuncia- mulheres era uma novidade em 2004 da primeira reforma ministerial do para a maior parte dos municípios e Governo Dilma, com propostas e estados, enquanto hoje o potencial “senões” sendo colocado no debate eleitoreiro da massa de mulheres para justificar propostas de rebai- que as Conferências convocam já xamento do status das secretarias foi percebido e é agora explorado especiais, inclusive do Ministério da por muito setores da política. A Mulher/SPM. Além do mais, os cortes orientação feminista para as políticas de gastos deste ano, a possibilidade de para as mulheres já está abertamente reedição da Desvinculação das Recei- questionada por estes e outros seto- tas da União – DRU e a redução de res, e a domesticação da população orçamento para 2012 das secretarias nos espaços de participação, como as especiais, em debate no Congresso Conferências, cresce. Nacional, estão fragilizando as políti- Somos parte e assistimos a um fe- cas para a igualdade e de justiça social. nômeno ainda por ser compreendido No mesmo período da III CNPM em suas implicações: a participação o Congresso estará votando e o governo política das mulheres nas lutas sociais sancionando o PPA para 2012-2015, vai sendo substituída, para muitos se- no qual as políticas para as mulheres tores populares, pela participação das têm apenas um programa, ao contrário mulheres nos espaços institucionais do que propôs a SPM – três progra- organizados a partir e sob hegemonia mas – e muito aquém do que propôs dos governos. a AMB, que defendeu sete programas Se a I CNPM se constituiu num para enfrentar as desigualdades de gê- campo bastante heterogêneo de dis- nero e raça vivida pelas mulheres, que putas de proposições entre delegados/ representam um pouco mais da metade as governamentais e da sociedade civil, da população brasileira. a III CNPM parece anunciar que a Agrava esta situação, o fato já diferença maior de posições não será reconhecido de que, apesar de estar- entre governos e sociedade civil, mas mos vivendo sob o governo Dilma, entre a diversas perspectivas feminis- primeira mulher presidenta do Brasil, tas sobre Estado e políticas públicas não temos garantido uma orientação e as perspectivas antidireitos das mu- feminista e libertária nas políticas para lheres e antifeminista. as mulheres. Ao contrário, iniciativas A direita conservadora, racis- diversas de políticas deste governo ta, lesbofóbica e antifeminista, que 12
  • 13. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas perdeu as eleições de 2010, saiu dela Assim, mesmo tendo crescido o fortalecida e está minando e amea- número de mecanismos de políticas çando as conquistas que alcançamos para as mulheres nos estados e mu- em 2004. O fez ao longo de todo o nicípios, mesmo tendo-se alcançado governo Lula e o faz agora no governo avanços na concretização de direitos Dilma, com muito mais força. Se, no das mulheres e novas políticas para as momento de sua campanha eleitoral mulheres estejam em curso, será pre- de 2002, Lula recuou e cedeu espaço ciso, nesta III CNPM, estarmos mais para propostas liberais na Carta ao uma vez atentas e fortes na luta para Povo Brasileiro, Dilma, também na garantir uma perspectiva feminista na campanha eleitoral, recuou e cedeu orientação da política para mulheres e espaço aos fundamentalistas e anti- defender a institucionalização e forta- feministas com a Carta ao Povo de lecimento dos atuais mecanismos de Deus. políticas para as mulheres. 13
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  • 15. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas DiSCuSSão 2 Conjunturas internacional e nacional e as mulheres Gilsa Helena Barcellos Compreender a realidade das com a visão liberal do século XIX. As mulheres brasileiras implica compre- políticas de proteção social passam ender os aspectos sociais, econômicos, a constituir a agenda principal do políticos, ambientais, culturais que Estado. Entre as décadas de 1940 e determinam a realidade mais geral. 1970, diversas políticas públicas, em Ou seja, não é possível analisar a situa- especial aquelas relacionadas à seguri- ção das mulheres, resguardadas as suas dade social, possibilitaram a melhoria especificidades, desconectada dos fa- das condições de vida de uma parcela tores que estruturam a realidade mais expressiva tanto da população euro- geral do Brasil e do mundo. Por isso, péia quanto da norte-americana. Esta parece-nos fundamental que, antes última, em razão do forte investimen- de introduzirmos a discussão acerca to dos Estados Unidos na indústria da realidade das mulheres brasileiras, bélica, contou com políticas sociais abordemos os eventos que marcaram mais tímidas. o século XX e que influenciam tanto Nos países latino-americanos, a vida das mulheres quanto à vida do o Estado de Bem-Estar Social não conjunto da sociedade no século XXI. se consolidou, prevalecendo à ideia Entre os muitos acontecimentos que liberal de Estado, onde as políticas marcaram o século passado estiveram sociais foram destinadas àqueles que tanto à ascensão quanto o declínio do estavam fora do mundo do trabalho: Estado de Bem-Estar Social nos países indigentes, inválidos, entre outros. de economia central. Nos anos de 1970, iniciou a maior O Estado de Bem-Estar Social, crise vivenciada pelo capitalismo des- iniciado como resposta à crise de de a sua existência, o que Ernest Men- 1929 e às sequelas deixadas pelas duas del denominou de “crise estrutural grandes guerras mundiais, teve a sua do capitalismo”. Este acontecimento conformação mais nítida, particular- determinou o declínio do Estado de mente a partir do final dos anos 40, Bem-Estar Social e irá afetar tanto em países europeus, quando se rede- a Europa quanto os Estado Unidos, finiu o papel do Estado, rompendo comprometendo as políticas públicas/ 15
  • 16. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas sociais até então conquistadas. Apesar Federal de 1988. Na década de 1990, de a América Latina não ter vivido o brasileiras e brasileiros presenciaram a Estado de Bem-Estar Social, ela sentiu entrega do patrimônio público à ini- os baques da crise de 1973, levando ciativa privada e o aprofundamento da os seus governos a reduzir aquilo que privatização da educação, reduzindo a já era quase inexistente no campo das presença do Estado nessa área, dando políticas públicas. Como resposta à lugar ao aparecimento de grandes crise do capitalismo ganha força à grupos empresariais. A educação foi ideia de um Estado com contornos transformada em um negócio bastante liberais. No entanto, por ser um con- rentável. Também pudemos presen- texto diferente daquele que antecedeu ciar a precarização da saúde pública a Segunda Guerra Mundial, novos brasileira, levando a um processo de elementos são incorporados a essa revitimização de uma grande parcela noção de Estado, que foi denominado da população dependente dos serviços de Estado neoliberal. de saúde, particularmente as mulheres. O Estado neoliberal é uma reedi- É nesse contexto que ocorre a ção do Estado liberal adequada à rea- eleição do governo Lula. Lula se elege lidade contemporânea. Nele, prevalece com uma proposta de enfrentamento o propósito de que a relação capital ao Estado Neoliberal, no entanto, x trabalho se autorregula pela lei da com o passar dos anos, particular- oferta e demanda, prescindindo-se, mente no seu segundo mandato, o portanto, da participação estatal na seu programa de governo incorporou economia e nos serviços estatais (Esta- elementos neoliberais, resultando do mínimo), aplicando-se políticas de num governo permeado por fortes privatização de empresas estatais e de contradições, embora seja consenso livre circulação de capitais internacio- entre as mulheres brasileiras que foi nais com ênfase na globalização e na no governo Lula que mais se avançou abertura da economia para a entrada na elaboração e na implementação de de multinacionais, onde a base da eco- políticas públicas para mulheres. nomia deve ser formada por empresas A eleição de Dilma representou, privadas, com desburocratização das sem dúvida, um avanço do ponto de leis e regras econômicas e redução do vista político-cultural da sociedade tamanho do Estado. Dessa forma, hou- brasileira, por compreender a pos- ve um refluxo da presença do Estado na sibilidade de mulheres assumirem economia e na produção de políticas espaços de poder. Mesmo que muitos públicas voltadas ao interesse daqueles atribuam a Lula a eleição de Dilma, que compõem a maioria da população. não se pode desconsiderar que o fato No Brasil, no final dos anos 80, de ser mulher poderia ter impedido a o neoliberalismo chegou atropelando sua eleição caso prevalecessem às ideias conquistas expressas na Constituição machistas. É fato que as tentativas de 16
  • 17. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas desmoralização da candidata orien- agrária, defendida, incansavelmente, tadas por posicionamentos lesbofó- pelo MST, tem dado lugar ao agrone- bicos, conservadores acerca do papel gócio, que cada vez mais se apropria da mulher foram ecoadas pela grande de terras para garantir a produção em mídia e por parcelas das igrejas, setores grande escala para exportação. esses aliados explícitos dos candidatos À violência urbana, expressão da adversários. Felizmente, prevaleceu a questão social cada vez mais aprofun- noção de que a hipocrisia moral deve dada no Brasil, o Estado tem respondi- ser combatida e é maléfica aos direitos do com a repressão, ignorando as suas humanos e à equidade de gênero. causas reais. Cada vez mais, o narco- No entanto, o fato de termos tráfico, a bala perdida e a dependência uma presidente eleita pela maioria da química tornam-se acontecimentos população, inclusive pelas mulheres, do cotidiano da maioria da população não significa que seja intrínseco ao seu que vive nos grandes centros urba- governo compromissos com os traba- nos. Cada vez mais a configuração lhadores e trabalhadoras brasileiras. urbana é forjada pela desigualdade Observamos contradições ainda mais social, aprofundando as demarcações acentuadas que no governo Lula, a das fronteiras entre ricos e pobres. O exemplo da questão ambiental, que mundo do trabalho, cada vez mais tem sido objeto de conflito entre os automatizado, reduz o valor do traba- movimentos sociais e o governo Dilma, lho levando à redução de salários e à que, em nome do desenvolvimento, instabilidade frequente daqueles que tem negligenciado, de forma explícita, trabalham. O trabalho temporário, a direitos socioambientais de inúme- terceirização e a quarteirização da mão ras populações locais que vivem nas de obra atualizam relações existentes regiões onde estão sendo construídas no período colonial: trabalhadores e grandes obras de infraestrutura, tais trabalhadoras precisam trabalhar cada como as diversas barragens das usinas vez mais para conseguir um salário hidrelétricas. No mais, presenciamos o que lhes dê condições mínimas de Banco Nacional de Desenvolvimento autosustentação e de suas famílias. O Econômico e Social – BNDES inves- mundo nunca esteve tão competitivo tindo privilegiadamente no econômico e as pessoas nunca trabalharam tanto (grandes empresas multinacionais têm com tão baixos salários e muitos sem sido beneficiadas pelos financiamentos direitos sociais e trabalhistas garanti- do BNDES) em detrimento do social. dos. As pessoas têm menos tempo de São baixos os investimentos públicos na convivência familiar. Vivemos em um educação, na saúde e nas políticas pú- tempo traduzido pelo ditado popular blicas de forma geral, ganhando força “se correr o bicho pega. Se ficar o bi- programas de “proteção social” como cho come”. A desigualdade social no é o caso do Bolsa Família. A reforma Brasil se aprofunda a cada dia e cada 17
  • 18. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas vez mais a população demanda por obra menos valorizada, as mulheres políticas públicas que, ou inexistem submetem-se à extensa e a várias ou estão precarizadas. jornadas de trabalho. Precisamos tra- A resposta do Estado brasileiro balhar mais para ganhar o mínimo à resistência ao aprofundamento do necessário à nossa subsistência. Nesse projeto neoliberal e à exploração mundo marcado por variadas formas capitalista tem sido dada de diversas de subordinação, destaca-se a situação formas: além da repressão, observa- das mulheres negras, pois estas traba- mos o processo de criminalização dos lham mais e ganham menos, ocupan- movimentos sociais no Brasil. Parcelas do assim a base da pirâmide salarial do Poder Judiciário e Legislativo têm brasileira. Elas possuem uma renda cumprido um papel estratégico na mensal de R$ 558,00, enquanto ho- luta de classes, quando condenam mens brancos tem uma renda mensal movimentos, lideranças e trabalhado- de R$1.534 (DIEESE, 2011), ou seja res e trabalhadoras ao pagamento de a renda mensal média masculina não- multas, à prisão, à CPIs, entre outras -negra é três vezes maior do da mulher medidas que visam retirar esses sujei- negra. Neste interregno, estão às mu- tos da luta política. lheres brancas, que ganham em média E como estão as mulheres brasi- R$1.035,00, e os homens negros, que leiras dentro dessa realidade? ganham em média R$ 839,00. Esses As mulheres são especialmente dados revelam que a subordinação de atingidas pelas consequências do raça pode ser ainda mais perversa que processo de globalização econômica a subordinação sexual. e do neoliberalismo. Somos hoje Repercutindo o que foi constata- a maioria da população brasileira: do já na Conferência Mundial de Mu- segundo dados do Dieese (2011), lheres de Beijing (1995), devido ao somos 98.439 milhões, sendo 49.162 processo da globalização econômica, milhões negras, 49.037 não-negras à destruição ambiental e à baixa valo- e 213 mil indígenas. Somos 20.322 rização da força de trabalho feminina, milhões na faixa etária entre 30 e 49 está em curso no mundo, a femini- anos, ou seja, mulheres que compõem zação da pobreza, sendo as mulheres a População Economicamente Ativa negras a maioria entre os pobres no – PEA brasileira. mundo. Mesmo integrando o mundo O mundo do trabalho visto por da produção (mundo do trabalho) alguns autores como a possibilidade não nos desvencilhamos do trabalho de construção da emancipação da doméstico, ou seja, da responsabiliza- mulher, subordina cada vez mais mu- ção pela criação e educação dos nossos lheres a um nível de exploração que filhos, pela casa, entre outros afazeres nos faz lembrar a Revolução Industrial domésticos. Os homens, definitiva- na Europa. Por terem sua mão de mente, recusam-se a dividir o trabalho 18
  • 19. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas doméstico, e as mulheres continuam comprometido substancialmente a tomando para si a responsabilidade sua eficácia. Por isso, presenciamos pelo mundo da reprodução. Somos, cotidianamente na imprensa falada e na atualidade, provedoras principais escrita mulheres sendo assassinadas, de 35,2% dos lares brasileiras, ou seja, mutiladas ou humilhadas, sob o olhar temos 10.641.456 mulheres chefes de de muitos governantes e gestores que família, sendo que, quando analisa- assistem a situação sem tomar iniciati- mos as regiões metropolitanas brasilei- vas que poderiam reduzir a produção ras, esse percentual sobe: as mulheres de um fenômeno tão perverso à vida chegam a chefiar 40,6% das famílias das mulheres. ali residentes (DIEESE, 2011). Presenciamos iniciativas governa- Também somos aquelas mais mentais de uma suposta “valorização presentes nos bancos escolares, do do papel da mulher” dentro da famí- primeiro ao terceiro grau. No entanto, lia, a exemplo das mulheres respon- mesmo com escolaridade superior a sáveis pelo Programa Bolsa Família do homem, continuamos ganhando e por outras políticas de proteção menos do que ele pelo mesmo tra- social. Todavia, desconsidera-se que balho realizado. Segundo dados do essa valorização produz uma sobre- Dieese (2011), 52,5% dos homens carga ainda maior para as mulheres, com 15 ou mais anos de estudo rece- reforçando assim, a desobrigação dos bem cinco salários-mínimos ou mais, homens com o cuidado da família enquanto apenas 27,7% das mulheres e com as funções domésticas. Nesse na mesma faixa de escolaridade atin- contexto de sobrecargas, as mulheres gem essa faixa salarial, revelando que adoecem cada vez mais jovens. No o aumento do nível de escolaridade Brasil, as principais causas de morte facilita o acesso das mulheres ao mer- da população feminina foram iden- cado de trabalho, mas não lhes garante tificadas pelo Ministério da Saúde equidade salarial com os homens. (BRASIL, 2004). Mesmo quando adquirimos As principais causas de morte da autonomia financeira, continuamos população feminina no Brasil são as vitimadas pela violência: as mulheres doenças cardiovasculares, destacando- permanecem vítimas de violência -se o infarto agudo do miocárdio e o doméstica e sexual. A Lei Maria da acidente vascular cerebral; as neoplasias, Penha, promulgada em 2006, repre- principalmente o câncer de mama, de sentou um grande avanço no campo pulmão e o de colo do útero; as doenças das políticas públicas e tem sido uma do aparelho respiratório, marcadamen- forte aliada no combate à violência te as pneumonias; e as doenças endó- contra mulheres. No entanto, há crinas, nutricionais e metabólicas, em uma carência de serviços necessários especial a diabetes, e as causas externas à implementação da Lei, o que tem (BRASIL, 2004, p. 16-17). 19
  • 20. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas Segundo Milena Piccolin (2008), pelo INCA, que revela que o câncer o padrão de morbimortalidade en- de pulmão é o segundo tipo de do- contrado entre as mulheres brasi- ença que mais mata as mulheres no leiras revela uma realidade na qual país, perdendo apenas para o câncer convivem doenças típicas dos países de mama (GONCALVES citado por desenvolvidos (cardiovasculares e OLIVEIRA, TONONI, 2011, p. 18) crônico-degenerativas) com aquelas Verifica-se também um proces- do mundo subdesenvolvido (morta- so de feminização da AIDS no país. lidade materna e desnutrição). “Essa Em 1986, a razão era de 15 casos de mistura de doenças segue as diferenças AIDS em homens para cada caso em de desenvolvimento regional e de clas- mulheres. A partir de 2003, a cada 15 se social”. (PICCOLIN, 2008, p.30). casos em homens passaram a existir 10 Entre os problemas de saúde estão em mulheres (BRASIL, 2009). Entre o alcoolismo e o tabagismo. Há 20 homens, a taxa de incidência em 2007 anos, a proporção era uma mulher foi de 22 notificações por 100 mil ha- alcoolista para cada dez homens. bitantes, e nas mulheres, de 13,9. Em Hoje a proporção é de uma para três. ambos os sexos, as maiores taxas de No Brasil, o número de mulheres incidência se encontram na faixa etária dependentes do álcool aumentou nas de 25 a 49 anos. Segundo o Ministério últimas décadas, conforme indica o da Saúde (BRASIL, 2009), essa taxa “I Levantamento Nacional sobre os apresenta tendência de crescimento a Padrões de Consumo de Álcool na Po- partir dos 40 anos em homens e dos pulação Brasileira”. A pesquisa inves- 30 em mulheres, quando comparado o tigou em detalhes como o brasileiro ano de 1997 com 2007 (OLIVEIRA; bebe e mostrou que, em duas décadas, TONINI, 2011). a proporção de mulheres entre a po- Com relação ao aborto: “Anu- pulação alcoólica passou de 10% para almente 515 mil mulheres morrem 30% (OLIVEIRA, TONONI, 2011). por complicações da gravidez, aborto, Apesar do registro de redução parto e puerpério. 99% das mortes entre os números de fumantes de maternas ocorrem em países em uma forma geral no Brasil, segun- desenvolvimento”. Estes são dados do o Instituto Nacional do Câncer divulgados pelo Dossiê de Mortali- (INCA), a redução de fumantes en- dade Materna (REDE NACIONAL tre as mulheres no país é menor em FEMINISTA DE SAÚDE E DI- relação aos homens. A OMS afirma REITOS REPRODUTIVOS, s/d, p. que a indústria do cigarro tem in- 5). Sabemos que no Brasil mulheres vestido de forma significativa para de todas as classes sociais praticam atrair o público feminino e jovem e, o aborto, no entanto, das mulheres lamentavelmente, o resultado aparece que morrem ou ficam com sequelas em levantamentos como o destacado a maioria é pobre e não pode pagar 20
  • 21. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas pelos serviços oferecidos nas clínicas homofobia e a lesbofobia. Quantos e clandestinas. quantas, no Brasil, continuam vítimas No mais, o alto índice de câncer de violência por intolerância à sua de mama e de colo de útero revela que orientação sexual? fatores alimentares articulados ao es- Não podemos subestimar a capa- tresse cotidiano têm levado mulheres à cidade do capitalismo em transformar morte. Também estamos mais propen- tudo em mercadoria: transformou sas à hipertensão arterial, às diabetes, a água, o ar, a terra e nossos corpos à obesidade, doenças que têm como em mercadoria. Mulheres são repro- uma das principais causas o estresse. duzidas como objeto de venda e de Mulheres pobres dos grandes centros consumo. E nessa onda, impõem-se urbanos têm disputado os seus filhos e reafirmam-se padrões de beleza às com o tráfico de drogas. Muitas, por mulheres, o que tem contribuído para não poderem cuidar da prole porque aumentar a discriminação étnica e têm que sair para trabalhar, são culpa- racial contra mulheres que fogem ao bilizadas e culpabilizam-se pela depen- ideário veiculado e vendido na mídia. dência ou morte de suas/seus filhas/os. Diante de tantas violências as Presenciamos na atualidade estratégias mulheres lutam, marcham, gritam, discursivas vindas de entes do Estado aliam-se e organizam-se em diversas e da sociedade civil responsabilizando frentes: movimentos específicos e mulheres pela desestruturação familiar. mistos. Na atualidade, mulheres ne- No entanto, tais sujeitos não explicam gras, indígenas, quilombolas, jovens, porque mulheres que têm que trabalhar idosas, urbanas, camponesas e sem para sustentar suas famílias não dispõe terra, trabalhadoras e trabalhadeiras, de políticas públicas, como creches, por lésbicas, com deficiência, com HIV, exemplo, ou escola de tempo integral entre muitas outras, ocupam as ruas para deixar as/os suas/seus filhas/os. para gritar por seus direitos, pela Afinal, de quem é a verdadeira respon- garantia de políticas públicas que vi- sabilidade pela negligência aí posta? O sam à equidade de gênero e à defesa discurso dominante diria: “a culpa é dos direitos humanos das mulheres. sempre das mulheres”. Transformamos o mundo diuturna- Neste movimento complexo em mente nas pequenas e grandes coisas que se revelam as diversas facetas da que fazemos; com nossas poesias, opressão sexual, mulheres lésbicas músicas e discursos inflamados; cho- continuam sendo vítimas de violência ramos e sorrimos como expressão de e discriminação. Mesmo com alguns dor e de alegria e alimentamos não avanços jurídicos no reconhecimento só o mundo, mas a nossa utopia de da união civil entre homossexuais, um dia sermos consideradas não mais setores de igrejas e parlamentares con- como cidadãs de segunda classe, mas servadores continuam disseminando a como sujeitos imprescindíveis. 21
  • 22.
  • 24.
  • 25. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas propostas de políticas O conjunto de propostas a se- primeiros meses do governo Dilma. guir apresentadas são resultados de São propostas que na AMB al- um escolha entre as muitas propo- cançam um forte consenso embora sições que nós integrantes da AMB estejam longe de ser unanimidade no viemos debatendo e construindo feminismo brasileiro. Todas as pro- coletivamente e, muitas vezes, em postas guardam uma forte identidade colaboração com companheiras de política com o feminismo da AMB outras organizações e movimentos de por conta da formulação adotada mulheres no Brasil, em especial nos para traduzir demandas coletivas das espaços das Conferências de Políticas mulheres em propostas de políticas ao longo do governo Lula e nestes públicas com perspectiva feminista. EnfrEntamEnto Do raCismo, sExismo E lEsbofobia Na II CNPM aprovamos, com um às políticas de enfrentamento ao ra- esforço redobrado de negociação, um cismo, sexismo e lesbofobia reconhe- novo eixo para o Plano Nacional de Po- cendo-as como políticas de Estado líticas para as Mulheres, que veio a ser o que concretizam as responsabilidades eixo 9. Com esta deliberação aprovada a de governos democráticos na con- II CNPM afirmou que cabe às políticas solidação de valores igualitários e para as mulheres não apenas atender as uma cultura de direitos na sociedade mulheres e promover sua autonomia brasileira. como também enfrentar o racismo, o sexismo e a lesbofobia que imperam nas Propostas e prioridades práticas sociais e promovem a desigual- dade também entre as mulheres. • Fortalecer as estruturas do Minis- O enfrentamento do racismo, tério da Mulher/SPM e SEPPIR do sexismo e da lesbofobia na vida efetivando seu caráter e poder de das mulheres, impõe ao Estado um ministérios do governo federal; duplo desafio: reconhecer demandas • Incorporar o princípio da ação específicas das mulheres negras, ín- afirmativa em todos os órgãos dias e lésbicas, e, ao mesmo tempo da administração pública e nas enfrentar a articulação de múltiplas organizações a eles vinculadas; dimensões da desigualdade na vida • Incluir as desigualdades de gênero de todas as mulheres. e raça e o combate à lesbofobia Prioridade para o governo Dil- entre os conteúdos dos programas ma: conferir prioridade estratégica de formação de gestores/as. 25
  • 26. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas autonomia EConômiCa E soCial igualdade no mundo do trabalho e desafios do desenvolvimento sustentável Grupo de trabalho 1 da iii CnPm A conquista da autonomia econô- as mulheres negras e brancas e mica é importante para nós mulheres promoção do reconhecimento do porque nos permite sair da situação de valor social do trabalho doméstico; dependência e privação em que mui- • Implantar a Política Nacional de tas de nós se encontram. É importante Economia Solidária, com suas para nos dar condições objetivas para diretrizes, princípios e objetivos romper ciclos de violência doméstica, aprovados nas I e II CONAES, para conquistar a liberdade de decidir tomando esta política como uma sobre os rumos que queremos dar a política de desenvolvimento sus- nossas vidas, para crescer em autocon- tentável, de caráter perene, com fiança e em autoridade no contexto participação democrática comu- das nossas famílias. nitária e popular, não relegada às Contudo, nos dias presentes, mes- políticas de corte assistencial ou mo com o crescimento da participação compensatório. das mulheres no mercado de trabalho e com o dinamismo do crescimento da economia capitalista alcançado nos anos ProPostas de Políticas recentes em nosso país, a autonomia Prioritárias Para o econômica das mulheres está longe do eixo 1 do PNPM horizonte de muitas de nós e a desigual- dade entre as mulheres no mundo do autonomia econômica e trabalho cresce em função do racismo. igualdade no mundo do trabalho com inclusão social apontamos como prioridades para o governo Dilma: • Permanência e consolidação da política de valorização do • Avançar na direção da igualdade salário-mínimo; de oportunidades para todas as • Estabelecimento de política de mulheres no mundo do trabalho, cota mínima para emprego fe- com redução da dupla jornada minino como contrapartida das de trabalho, ampliação do acesso empresas aos benefícios fiscais das mulheres à proteção social, concedidos pelos organismos redução das desigualdades salariais governamentais de fomento ao entre homens e mulheres e entre desenvolvimento econômico; 26
  • 27. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas • Garantia de acesso à seguridade no marco da economia solidária; social (saúde, assistência e previ- • Atuar para o fortalecimento da dência social) como direito uni- estrutura do MDA e do INCRA versal que precisa ser garantido garantindo mais investimentos também à população trabalhado- nas políticas de apoio à agri- ra dos empreendimentos econô- cultura agroecológica familiar e micos solidários, na condição de camponesa; segurado especial, contemplando • Adotar e promover medidas de as especificidades do público do garantia do direito de livre acesso cooperativismo social; das mulheres aos bens comuns • Novas medidas de inclusão previ- da natureza – rios, marés, matas denciária que avancem na direção e florestas – fonte de trabalho da universalização do acesso das para o autosustento de milhões mulheres ao benefícios da previ- de mulheres; dência social. • Garantir o reconhecimento e desintrusão de territórios quilom- bolas especialmente aqueles terri- ProPostas de Políticas tórios onde trabalham mulheres Prioritárias Para o quebradeiras de coco babaçu; eixo 6 do ii PNPM • Assegurar uma política de fomen- to ao uso de defensivos agrícolas Desenvolvimento sustentável naturais, em substituição ao uso no meio rural, na cidade e de agrotóxicos, com apoio à estu- na floresta, com garantia de dos e pesquisas. justiça ambiental, soberania e segurança alimentar ProPostas Para o eixo 7 • Conferir prioridade a políticas que do ii PNPM promovam e garantam o direito à formas de organização econômica Direito a terra, moradia baseadas no trabalho associado, na digna e infraestrutura social propriedade coletiva, na coopera- nos meios rural e urbano, ção, na autogestão, na sustentabi- considerando as comunidades lidade e na solidariedade, como tradicionais modelo de desenvolvimento; • Fortalecimento e mais investi- • Conferir prioridade à reforma mentos públicos nas políticas agrária como estratégia de desen- e ações de governo em favor da volvimento democrático, justo organização produtiva das mu- e sustentável, difundido infor- lheres, no campo e na cidade, mações e efetivando o direito de 27
  • 28. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas acesso a terra e aos bens comuns integral e por todo o ano; da natureza para as mulheres; • Fim dos despejos forçados em ter- • Efetivar uma política nacional ritórios de grandes obras do PAC de creches com gestão pública, e política de moradia, no campo implementada em parceria entre e nas grandes e pequenas cidades, os três níveis de governo – fede- com aceso universal à saneamento ral, estadual e municipal – al- e infraestrutura social (creches, cançando o campo e a cidade, centros de convivência de idosos, com funcionamento em horário restaurantes populares). EDuCação, Cultura E ComuniCação Democráticas e não discriminatórias Grupo de trabalho 2 na iii CnPm: autonomia Cultural O sistema de comunicação de apontamos como prioridade para massa no Brasil está sob controle o governo Dilma: de nove famílias que decidem, em consonância com a ideologia do • Adoção de medidas de regulação poder econômico, toda a grade de democrática pelo Estado sobre a programação cultural e de geração de estrutura do sistema de comuni- consumo que dominam o espectro. cações, a propriedade dos meios Considerando que rádio e TV são e os conteúdos veiculados, de concessões públicas reconhecemos, forma que estes observem estri- portanto, que o Estado é responsável tamente os princípios constitu- pelo que é veiculado através destes cionais do respeito aos direitos meios. humanos; O sistema de educação no país • Organização e institucionali- ainda é fragmentado apresentando zação de um Sistema Nacional inúmeros problemas da educação de Educação, que promova, de básica ao ensino superior e em rela- forma articulada, em todo o país, ção à educação infantil. No presente o regime de colaboração entre os sofre ataques ao princípio da laici- entes federados, o financiamento, dade e avança muito timidamente acompanhamento e o controle no enfrentamento das discrimi- social da educação; bem como nações e preconceitos no processo assegure qualidade e a função so- pedagógico. cial da educação e das instituições 28
  • 29. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas educativas, ou seja, a educação das políticas para as mulheres a pública, gratuita, laica, demo- formação, o desenvolvimento crática, inclusiva e de qualidade; profissional e a valorização social • Universalização do acesso, a e salarial das/os trabalhadores/as ampliação da jornada escolar e da educação, categoria formada a garantia da permanência bem- majoritariamente por mulheres; -sucedida para crianças, adoles- • Implantar o tema das relações centes, jovens e adultos/as, em entre homens e mulheres e os todas as etapas e modalidades. direitos sexuais e reprodutivos na política de formação de pro- fessoras/es e profissionais da rede ProPostas Para o eixo 2 pública de educação. do ii PNPM Educação inclusiva, ProPostas de Políticas não-sexista, não-racista Para o eixo 8 do ii PNPM e não-homofóbica Cultura, comunicação • Incluir conteúdos relativos às e mídia, igualitárias, desigualdades sociais e relações de democráticas e gênero, racismo e direitos sexuais não-discriminatórias na educação formal e articular com as experiências de educação • Garantir o direito de antena e de popular e cidadã realizadas pelas espaço para as organizações de mulheres, incorporando-as como mulheres na grade da programa- políticas públicas; ção das empresas públicas de co- • Implementar a Lei 10.639/2003 municação: TV, rádio e imprensa; (que institui o ensino de História e • Garantir celeridade ao Plano Na- Cultura da África e dos Afro-Brasi- cional de Banda Larga em todos leiros/as nas escolas da rede pública os bairros das cidades e no campo e privada) e a Lei 11.645/2008 de todos os municípios brasileiros, (que trata da educação indígena) para garantir acesso das mulheres revendo os materiais didáticos e à Internet, aos serviços e informa- promovendo a devida formação ções disponibilizados pela Internet; das/os professores/as, bem como • Assegurar a não exibição e veicu- dos demais técnicos/as da rede lação de mensagens que desquali- pública, promovendo sua imple- fiquem as mulheres nas empresas mentação também na rede privada; públicas de comunicação, seja • Assegurar que esteja presente na na forma de imagens, músicas, agenda de discussão e iniciativas textos, propagandas ou notícias; 29
  • 30. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas • Criação e instalação do Conse- observando as resoluções da I Con- lho Nacional de Comunicação, ferência Nacional de Comunicação. saúDE Das mulhErEs, DirEitos sExuais E DirEitos rEProDutivos As históricas condições de de- sigualdades e opressão a que nós ProPostas de Prioridades mulheres estamos submetidas são de Políticas Para o eixo 3 determinantes sociais das formas de do ii PNPM adoecer e morrer das mulheres e por isso exigem uma atenção especial das saúde das mulheres, direitos políticas públicas de saúde. sexuais e direitos reprodutivos Os direitos sexuais e os direitos reprodutivos são direitos determinan- • Revisão da legislação punitiva do tes para a autonomia das mulheres, aborto no Brasil, assegurando que pois estão relacionados ao exercício nenhuma mulher seja punida, e possibilidade de tomada de decisão maltratada ou humilhada por ter livre e soberana sobre ter ou não ter feito um aborto e não corra riscos filhos e quando ter filhos, decidir so- de morte, garantindo o atendi- bre nossa sexualidade, não fazer sexo mento humanizado ao aborta- forçado e decidir quando e com quem mento na rede SUS; desejamos o sexo. • Ampliar e qualificar a atenção clínico-ginecológica na rede SUS, apontamos como prioridade para inclusive para as portadoras da o governo Dilma: infecção pelo HIV e outras DSTs, com garantia de realização de • Consolidar o SUS como sistema todos os exames ginecológicos com gestão pública; e de pré-natal, em todos os mu- • Assegurar o livre exercício da au- nicípios do país, com resultados todeterminação reprodutiva pelas entregues no máximo em 15 dias mulheres; e a certeza da consulta de retorno; • Combater a lesbofobia, promover • Assegurar atendimento quali- os direitos sexuais das mulheres ficado e não-discriminatório a e efetivar a Política Nacional de mulheres lésbicas e bissexuais; Atenção Integral à Saúde da Mu- • Qualificar a atenção ao planeja- lher, rompendo com o modelo de mento reprodutivo, incluindo a as- assistência materno-infantil. sistência à infertilidade, garantindo 30
  • 31. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas a oferta de métodos anticoncepcio- • Prevenir e conter a tendência de nais para a população em idade re- expansão das DSTs e a infecção produtiva, ampliando o acesso das pelo HIV/AIDS entre mulheres mulheres às informações sobre as e ampliar e qualificar a atenção à opções de métodos anticoncepcio- saúde das mulheres vivendo com nais e estimulando a participação HIV e AIDS; de homens e adolescentes nas ações • Promover a atenção integral à de planejamento reprodutivo; saúde das mulheres negras: me- • Ampliação e melhoria das condi- lhorar o registro e produção de ções de funcionamento das mater- dados; capacitar profissionais de nidades em todos os municípios saúde; implantar o Programa de com equipe capacitada de profis- Anemia Falciforme (PAF/MS), sionais, garantindo partos huma- dando ênfase às especificidades nizados evitando a ocorrência de das mulheres em idade fértil e no parto cirúrgico desnecessário; ciclo gravídico-puerperal; • Expandir a cobertura e qualificar • Valorização do serviço e da servi- os serviços de atenção às mulheres dora pública da saúde: concurso, em situação de abortamento e ser- carreira, salário, atualização pro- viços de aborto legal nos hospitais fissional, condições adequadas regionais estaduais, com o cumpri- de trabalho e de vida, paridade mento da Norma Técnica do Mi- na aposentadoria. Contra toda nistério da Saúde relativa à Atenção forma de precarização e a gestão Humanizada ao Abortamento; privada do SUS. EnfrEntamEnto a toDas as formas DE violênCia Contra as mulhErEs Grupo de trabalho 2 na iii CnPm – autonomia pessoal A violência contra as mulheres é violência sexual, dentro e fora de casa e um dos instrumentos da dominação nas famílias, lutamos cotidianamente. masculina no patriarcado. Ela acontece Contudo, crescem os crimes sexuais através de humilhações ou violência contra as mulheres, em especial em física e sexual, chegando ao extremo contexto de pobreza, exploração e do assassinato. Para coibir a violência omissão do Estado. Crescem os crimes doméstica e familiar e garantir prote- violentos marcados por ódio e misogi- ção e atenção às mulheres, conquista- nia como no caso do chamado “estu- mos a Lei Maria da Penha, ainda não pro corretivo” praticado por homens, implantada mas já muito questionada individualmente ou em grupo, contra pelos poderes instituídos. Contra a mulheres lésbicas. 31
  • 32. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas apontamos como prioridade para especializadas (DEAMs), casas- o governo Dilma: -abrigo e casa de abrigamento provisório (casas de passagem), • Instituir no PPA 2012-2015 núcleos de violência contra as a manutenção, consolidação e mulheres nas defensorias públicas ampliação do Programa de En- e promotorias, juizados especiali- frentamento à Violência contra as zados, além de serviços de infor- Mulheres, garantindo recuperação mação nos CRAs e CREAS; e ampliação significativa de seu • Apoiar, assessorar e estimular a orçamento de modo, o não conti- construção de redes regionaliza- gencimento dos recursos e promo- das nos estados (intermunicipais) ver a ação integrada e colaborativa para garantir a serviços de atenção entre os três níveis de governos na às mulheres em todas as micror- implementação do Programa. regiões dos estados de nosso país; • Garantir o cumprimento das Normas Técnicas do Ministério da ProPostas de Prioridades Mulher/SPM sobre: o funciona- Nas Políticas do eixo 4 mento das DEAMs e dos CAMs; do ii PNPM • Garantir o cumprimento pelo governo da Norma Técnica do Enfrentamento de todas Ministério da Saúde sobre atenção as formas de violência à saúde das mulheres vítimas de contra as mulheres violência, garantindo nas unidades de atenção básica e serviços espe- • Apoiar a implantação de toda a cializados: a pílula da prevenção rede de serviços de atendimento às de gravidez indesejada (pílula do mulheres em situação de violência dia seguinte), a profilaxia contra conforme a Lei Maria da Penha hepatite C e outras doenças sexual- determina: centro de acolhimento mente transmissíveis e contra vírus às mulheres (CAMs), Delegacias HIV/AIDS. autonomia PolítiCa, instituCionalização E finanCiamEnto DE PolítiCas PúbliCas Para as mulhErEs Grupo de trabalho 4 da iii CnPm O Estado brasileiro tem demons- a desigualdade entre homens e mulhe- trado avanços no processo de assumir res como um problema público. Prova 32
  • 33. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas disso é a instituição das políticas para iniciativas governamentais, par- as mulheres e a criação de um órgão lamentares e da sociedade civil público, a Secretaria de Política para pela reforma dos sistema políti- Mulheres, transformando-a poste- co que estejam em consonância riormente em Ministério. Neste mo- com as conclusões da Comissão mento há rumores de que o governo Tripartite de 2010/Ministério da federal tende para uma proposta de Mulher/SPM; unificação das várias secretarias espe- • Apoiar a auto-organização das ciais em um Ministério dos Direitos mulheres, seus projetos sociais Humanos. Isto é inaceitável para o e atuação nas lutas sociais, pro- movimento feminista. Seria um retro- movendo a instalação de fundos cesso em uma conquista histórica das nacionais de financiamento e co- mulheres brasileiras, assim como da operação com tais organizações. população negra, no caso da SEPPIR ser incorporada a esta ideia. O Ministério da Mulher/SPM é ProPostas Para o eixo11 um instrumento que fortalece a auto- nomia política das mulheres, contribui Gestão e monitoramento para a democratização do Estado bra- do Plano sileiro e para a construção de uma so- ciedade igualitária e socialmente justa. • Institucionalizar a Política Na- cional para Mulheres, com suas apontamos como prioridade para diretrizes, princípios, objetivos o governo Dilma: e organismos, mecanismos de monitoramento e avaliação, ela- • Consolidar as políticas de promo- borada e aprovada na I CNPM ção da igualdade e direitos huma- mas nunca formalizada pelo nos, através do fortalecimento das Poder Executivo; secretarias especiais e do aumento • Garantir que as resoluções III de financiamento a estas políticas. CNPM redundem no fortaleci- mento da Política Nacional para as Mulheres que se consolidem ProPostas Para o eixo 5 em diretrizes, estratégias, planos, do ii PNPM programas, projetos, ações, nor- mas técnicas e que estas sejam Participação das mulheres nos observadas pelos diferentes níveis espaços de poder e decisão de governos fazendo avançar a implementação da Política Na- • Fortalecer a luta das mulheres cional para as Mulheres na pers- por paridade na política e as pectiva da igualdade. 33
  • 34.
  • 36.
  • 37. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas Carta à presidenta Documento endereçado à presi- apresentando a posição coletiva das denta eleita Dilma Rousseff, entregue seguintes redes e articulações nacio- ao presidente do Partido dos Traba- nais feministas acerca do processo de lhadores, Eduardo Dutra, coordena- escolha da nova ministra e a política dor da transição do governo, em au- para mulheres a ser implementada diência em Brasília, em 14/12/2010, pelo novo governo. À exceleNtíssiMa requerem a reiteração do compromis- PresideNta eleita seNhora so político para alcançar a cidadania dilMa rousseff plena das brasileiras. Neste sentido, dirigimo-nos à aos cuidados da equiPe presidenta eleita, Dilma Roussef, aos de traNsição de GoverNo cuidados da equipe de Transição de Governo, apresentando propostas e Pela primeira vez em nossa histó- reivindicações para a estruturação e ria, elegemos uma mulher para presi- gestão do novo governo federal. dir o Brasil. Tal fato político, eviden- cia as mudanças que a luta feminista Propomos: das mulheres, ao longo de décadas, produziu na sociedade brasileira e em 1. Fortalecer a Secretaria de Políticas sua cultura política ao mesmo tempo para as Mulheres como organis- que institui um desafio para o novo mo de primeiro escalão, articu- governo: de avançar na promoção da lador e coordenador da política igualdade social e política com base no de Estado orientada ao enfrenta- respeito e valorização da diversidade, mento das desigualdades vividas da democracia, da cidadania e dos pelas mulheres, o que concretiza- direitos humanos. -se na prática com novos recursos Reafirmamos a importância que a humanos e financeiros; Secretaria de Políticas para as Mulhe- res teve nos últimos oito anos para a 2. Escolha de gestora com trajetó- implementação das políticas públicas ria ética, competência técnica e com vistas a enfrentar as desigualda- política e comprometida com a des de gênero, raça e classe. Persistem, agenda de direitos humanos das entretanto, obstáculos estruturais que mulheres consubstanciados no 37
  • 38. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas Plano Nacional de Política para abstratas ou genéricas identificadas as Mulheres, fruto de processos com conceitos estritos e conserva- participativos; que reconheça dores que têm sido utilizadas por os movimentos de mulheres e praticamente todas as políticas feministas como sujeito político sociais, salvo raras exceções, como de interlocução para a formulação comunidade, pobres, família, que de políticas para as mulheres; que não permitem o reconhecimento respeite a diversidade das mulhe- das desigualdades vividas pelas res e a pluralidade dos movimen- mulheres; tos sociais; 6. Eliminação dos programas e ações 3. Avanços significativos na direção governamentais que legitimam a da paridade entre mulheres e ho- divisão sexual do trabalho, entre mens na ocupação dos espaços de outras estratégias que mantêm e poder e decisão do novo governo atualizam os papéis tradicionais federal, nos diferentes escalões de subordinação e exploração das da gestão pública, consideradas mulheres, inclusive mediante a inclusive as dimensões racial e transferência de responsabilidades étnica como critério; da esfera do Poder Público para a esfera doméstica e comunitária; a 4. Que o planejamento governamen- pretensa eficiência econômica de tal das políticas públicas (econô- algumas políticas que reduzem os micas, sociais e de desenvolvimen- gastos públicos vêm tendo custos to) responda, de modo estrutural, muito altos para as mulheres, em ao enfrentamento das múltiplas especial para as que estamos nos formas de desigualdade vividas pe- segmentos mais empobrecidos da las mulheres e que, portanto, seja população; garantido espaço de participação na elaboração do PPA; 7. A garantia do sistema público, universal, solidário, redistributivo 5. Que o novo ciclo de políticas da Seguridade Social; com a incor- públicas, com início em 2011, ga- poração ao sistema das/os trabalha- ranta que as metas e os indicadores doras/es sem cobertura previden- estejam orientados a reconhecer, ciária; universalização do acesso à visibilizar e superar as desigualda- saúde e reafirmação da assistência des vividas pelas mulheres. Reivin- como direito de cidadania; dicamos a utilização das categorias de gênero, raça, etnia, diversidade 8. O fortalecimento das políticas de sexual, geracional, e outras, em saúde das mulheres e a garantia substituição ao uso de categorias dos direitos sexuais e direitos 38
  • 39. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas reprodutivos, com base na laici- 14. Que o processo preparatório e dade, acesso e qualidade, confor- de realização da III Conferência me os compromissos assumidos Nacional de Políticas para as Mu- pelo governo brasileiro; lheres, que se inicia em 2011, seja o espaço privilegiado de discussão, 9. Revisão da legislação restritiva e negociação e efetiva pactuação de- punitiva do direito ao aborto no mocrática dessa nova construção, Brasil; em estreita conexão com o proces- so de elaboração do Planejamento 10. Ações nos diversos ministérios Plurianual para 2012-2015; que contribuam para a elimi- nação de todas as formas de 15. Que no debate sobre a reforma violência contra as mulheres e o tributária a situação de pobreza das enfrentamento ao racismo, sexis- mulheres seja tratada como pro- mo e lesbo/transfobia; blema de alta relevância, ao qual a proposta a ser construída deva 11. Propomos fortalecer os espaços responder para enfrentar a enorme de participação e controle social injustiça fiscal que ainda persiste sobre as políticas públicas, como no sistema tributário brasileiro; os Conselhos e Conferências de Políticas Públicas; 16. A severa observância ao princípio laico que rege o Estado brasileiro, 12. As deliberações das Conferências condição sine qua non para que e Planos que delas emergem se- as mulheres possam exercer livre- jam reconhecidos pelo governo mente os seus direitos, assim como como pactos assumidos com a sua liberdade sexual e de crença; sociedade civil que, portanto, devem orientar a gestão, inclusive 17. Que na reforma política, cujo de- no nível das finanças públicas. Há bate deve se iniciar em 2011, a sub- que se desfazer a ideia de que os -representação das mulheres nos Planos são meras cartas de inten- espaços de poder seja eliminada; ções, dotando-os de mecanismos efetivos de implementação; 18. Que o processo político de cons- trução da proposta governamen- 13. Que se assegure caráter deliberati- tal para a reforma política inclua a vo aos Conselhos, de modo a for- abertura de canais de interlocução talecer o seu caráter de controle e negociação com o movimento social sobre as políticas públicas, de mulheres e feminista, assim evitando que fiquem reduzidos à como com as instâncias de mu- função de assessoramento; lheres em partidos políticos; 39
  • 40. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas 19. Insistimos na importância de se Articulação de Mulheres Brasileiras eliminar todas e quaisquer parce- Articulação de Organizações rias, ou outras formas colaboração, de Mulheres Negras Brasileiras inclusive em termos econômicos do Estado brasileiro com institui- Comitê Latinoamericano do Caribe para a Defesa do Direito ções religiosas, confessionais e/ou da Mulher (CLADEM) privadas que violem os direitos das mulheres, inclusive pela negação Jornadas Brasileiras pelo Aborto Legal e Seguro da prestação de serviços públicos responsivos aos direitos conquis- Liga Brasileira de Lésbicas (LBL) tados pelas mulheres. Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Brasília, 14 de dezembro de 2010. Direitos Reprodutivos 40
  • 41. Articulando a Luta Feminista nas Políticas Públicas Contribuições ao plano plurianual do governo federal para o período 2012-2015 Documento de orientação da Consideramos que sobre a ideia AMB elaborado para o seminário de igualdade de direitos se apoiam as ‘Diálogos sociais’ reunindo conselhei- políticas de Estado que se propõem a ros/as nacionais e entidades convida- superar as desigualdades de gênero. das, seminário promovido pela Secreta- A promoção da igualdade requer o ria Geral da Presidência da República. respeito e atenção à diversidade cul- tural, étnica, racial, inserção social, visão de futuro de situação econômica e regional, assim como aos diferentes momen- À proposta do governo federal de tos da vida. Demanda o combate que o Brasil será num país conhecido às desigualdades de toda sorte, por por seu modelo de desenvolvimento meio de políticas de ação afirmativa sustentável, bem distribuído regio- e considerando as experiências das nalmente, que busca igualdade social mulheres na formulação, implemen- com educação de qualidade, produção tação, monitoramento e avaliação de conhecimento, inovação tecnológi- das políticas públicas. ca, acrescentamos que queremos um Quanto a laicidade, sabemos que desenvolvimento democrático e com nunca foi inteiramente implantada no justiça socioambiental, e queremos o Brasil, mas afirmamos que as políticas fim das desigualdades de classe, raça/ públicas de Estado devem ser formu- etnia e gênero. ladas e implementadas de maneira independente de princípios religiosos, valores de forma a assegurar efetivamente os direitos consagrados na Constituição Aos valores indicados pelo governo Federal e em diversos instrumentos federal para orientação do PPA, tais internacionais assinados e ratificados como: Soberania, Democracia, Justiça pelo Estado brasileiro, como medida Social, Sustentabilidade, Diversidade de proteção aos direitos humanos das Cultural e Identidade Nacional, acres- mulheres e meninas. (Pressupostos, centamos que sejam observados os valo- princípios e diretrizes da Política Na- res da igualdade e laicidade do Estado. cional para as Mulheres) 41