Uma onda de frio atingiu culturas sensíveis como trigo, café e hortaliças no estado de São Paulo, causando perdas de produção. Os preços destes produtos e de outros como leite e carne devem subir por causa das perdas na safra. O governo permitirá que empresas que já administram aeroportos disputem novos leilões, evitando paralisações judiciais.
Nematoides são responsaveis por perdas de até 30% dos canaviais
Temperatura menor, preço maior
1. 19
Onda de frio compromete produtividade de diversas culturas mais sensíveis às variações do clima
Governo recua e empresa que já administra aeroporto disputará novas licitações
Adriana Leite
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
aleite@rac.com.br
O frio dos últimos dez dias pro-
vocou estragos no campo. Os
prejuízos ainda serão mensu-
rados, mas os consumidores
devem se preparar para altas
pontuais de preços em alguns
produtos.
Culturas como trigo, café,
hortaliças, cana de açúcar, pas-
tagens e seringais são as mais
suscetíveis aos impactos de
geadas e baixas temperaturas.
No Estado de São Paulo, im-
portantes regiões produtoras
dessas culturas enfrentaram
temperaturas que chegaram a
menos de 1ºC.
Especialistas afirmaram
que as perdas provocadas pe-
lo frio são causadas não só pe-
las geadas, mas também pela
queda da produtividade das
plantas. Em algumas culturas,
a recuperação da produção é
mais rápida, em outras leva
mais tempo.
As hortaliças são as primei-
ras a sentir o recuo na quanti-
dade produzida. Mas no próxi-
mo plantio, se as condições cli-
máticas forem favoráveis, o vo-
lume volta ao patamar normal.
Já produtos como trigo e café
podem levar mais que apenas
uma safra para recuperar o vi-
gor.
De acordo com dados do
Instituto Agronômico de Cam-
pinas (IAC), em regiões como
o Sudoeste de São Paulo, hou-
ve ocorrência de geada forte,
afetando plantações de trigo
(Vale do Paranapanema) e ca-
fé (Piraju e Sarutaiá). O cereal
que dá origem à farinha utiliza-
da na confecção de pães e ma-
carrão já sofre com a pressão
de preços. - desde o começo
deste mês, houve uma alta de
3% no custo da tonelada do tri-
go produzido no Estado do Pa-
raná.
Segundo dados do Centro
de Estudos Avançados em Eco-
nomia Aplicada (Cepea), da Es-
cola Superior de Agricultura
Luiz de Queiroz (Esalq), da
USP, o valor da tonelada do tri-
go passou de R$ 876,20 em 5
de julho para R$ 902,53 no últi-
mo dia 26. No Rio Grande do
Sul, o valor subiu de R$ 738,31
para R$ 806,80 no mesmo pe-
ríodo.
Análise técnica do Cepea
lançada na semana passada
destacou que a “geada negra”,
que atingiu plantações de tri-
go no Paraná, causa o congela-
mento da parte interna da
planta, causando sua morte.
Outro problema foi a neve em
várias regiões onde as planta-
ções estavam ainda em fase
de formação - fase especial-
mente sensível para o desen-
volvimento da lavoura. No Rio
Grande do Sul, o estágio de
produção era mais avançado
e, por isso, as plantas estavam
menos vulneráveis aos efeitos
do clima.
Frio
O pesquisador do Instituto
Agronômico (IAC), de Campi-
nas, da Secretaria de Agricultu-
ra e Abastecimento do Estado
de São Paulo, Orivaldo Bruni-
ni, afirmou que foram registra-
das temperaturas abaixo de
4ºC negativos no Estado.
“Tivemos geadas que afeta-
ram regiões produtoras de ca-
fé, trigo, viveiros de seringuei-
ras e cana de açúcar”, comen-
tou. Ele acrescentou que re-
giões nas quais predominam
as hortaliças registraram tem-
peraturas baixas que têm efei-
to no desenvolvimento das
plantas.
“Muitos produtores utili-
zam técnicas que amenizam
os impactos das baixas tempe-
raturas, como a irrigação. Mas
o frio sempre afeta várias cultu-
ras”, ressaltou. O especialista
lembrou que, em média, a ca-
da dez anos são registradas gea-
das mais fortes no Estado.
“O Outono e o Inverno des-
te ano estão atípicos, com regis-
tro de muita chuva”, lembrou.
Brunini afirmou que não está
descartada nos próximos me-
ses uma outra frente fria inten-
sa nas regiões Sul e Sudeste.
Perdas
O proprietário da Fazenda
Ituau, em Salto, Marcelo Cury
Abumussi, afirmou que mes-
mo realizando o plantio prote-
gido em estufa o frio tem refle-
xos no cultivo de hortaliças.
“As plantas não se desenvol-
vem com o mesmo vigor em
baixas temperaturas. Nessas úl-
timas semanas, tivemos chuva,
chuva de pedra e muito frio.
Outro fator ruim é que há uma
diferença muito grande entre
as mínimas e as máximas regis-
tradas num mesmo dia”, disse.
Para dar uma ideia do tama-
nho das perdas, ele contou
que, antes da última frente fria,
colhia de 30 a 40 caixas de pepi-
no por dia. Agora, só consegue
de três a quatro. “A produtivi-
dade despencou”.
Abumussi afirmou que, nes-
sas condições, os preços dos
produtos mais afetados pelo
frio, que ainda estão no mes-
mo patamar de semanas ante-
riores, vão subir.
“Mas como nessa época do
ano o consumo de hortaliças
costuma diminuir, a pressão
sobre os preços não deverá ser
muito forte. Mas virá”.
Mercado
O engenheiro agrônomo e pro-
fessor da IBE-FGV, Roberto Ho-
ffmann Palmieri, afirmou que
ainda não é possível avaliar o
impacto do frio sobre o custo
dos alimentos, mas que é certo
que haverá uma alta nas cultu-
ras mais sensíveis às baixas
temperaturas.
“Lavouras como café e trigo
sofrem as perdas em mais de
uma safra. O frio também pre-
judicou as pastagens, o que te-
rá efeito sobre o custo do leite
e da carne”, comentou.
O professor da FGV disse
que para minimizar a possível
alta no campo seria necessário
que o governo tivesse estoques
regulatórios para colocar no
mercado em momentos de es-
cassez.
“O grande problema é que
o Brasil não tem planos emer-
genciais para muitas culturas.
O trigo é uma delas. Como a Ar-
gentina também está com pro-
blemas no fornecimento, o
País deve importar mais dos Es-
tados Unidos e Canadá. E com
o dólar em alta, isso vai ser
mais uma fonte de pressão so-
bre os preços”, analisou.
De Brasília
Para evitar o risco de o leilão
dos aeroportos do Galeão (RJ)
e Confins (MG) ser paralisado
pela Justiça, o governo recuou
e vai aceitar lances dos vence-
dores da etapa anterior, que en-
volveu os aeroportos de Guaru-
lhos, Viracopos e Brasília.
O grupo é composto princi-
palmente por fundos de pen-
são e construtoras. Eles pode-
rão, individualmente ou em
grupo, ficar com até 15% da
parte privada das novas conces-
sões, segundo o ministro-chefe
da Secretaria de Aviação Civil
(SAC), Moreira Franco.
O governo pretende enviar
o edital do leilão para análise o
Tribunal de Contas da União
(TCU) ainda esta semana. A ex-
pectativa é de que os dois aero-
portos sejam leiloados em outu-
bro. “Tenho recebido informa-
ções de que há grande interes-
se das empresas em partici-
par”, disse o ministro.
A regra que impedia a parti-
cipação dos vencedores do lei-
lão anterior era uma das inova-
ções do presente edital. O go-
verno queria barrá-los para im-
pedir um “monopólio priva-
do”, como informou o próprio
Moreira Franco quando o pri-
meiro esboço das regras do lei-
lão foi divulgado, no final de
maio.
Porém, diante do risco de ju-
dicialização, a Advocacia-Geral
da União (AGU) foi acionada e
agora trabalha num ajuste do
edital. Moreira Franco avalia
que o limite de 15% para a par-
ticipação dessas empresas será
suficiente para garantir a con-
corrência.
Ele ressaltou que as empre-
sas poderão ter até 15% da par-
te privada das concessões, que
é 51% do total. Os outros 49% fi-
cam com a Infraero.
Segundo a área técnica, os
empreendedores que já estão
em Guarulhos, Viracopos e Bra-
sília queriam participar do lei-
lão para montar redes de aero-
portos sob sua administração,
o que daria vantagem na estru-
turação de seus negócios.
Por outro lado, o governo
não atendeu à reivindicação
dos potenciais interessados de
elevar a Taxa Interna de Retor-
no (TIR) de 6% para 9%, como
havia revelado a ministra-chefe
da Casa Civil, Gleisi Hoffmann
no último sábado.
As empresas alegam que pre-
cisam dessa TIR mais alta para
igualar seus ganhos aos dos
vencedores da etapa ante-
rior. Embora os estudos que
servem de base aos contra-
tos de concessão de Guaru-
lhos, Viracopos e Brasília in-
diquem uma TIR de 6%, os
empreendedores alegam
que o ganho dos concessio-
nários subiu depois que o go-
verno aceitou parcelar a ou-
torga.
O governo não abriu
mão, porém, de exigir a pre-
sença, nos consórcios vence-
dores, de um operador inter-
nacional que tenha adminis-
trado aeroporto com movi-
mento mínimo de 35 mi-
lhões de passageiros por
ano.
A intenção é atrair tecno-
logia na gestão aeroportuá-
ria, a ser entregue à Infraero
que, por sua vez, utilizará a
experiência em outros aero-
portos do País. O fato de ope-
radores internacionais pe-
quenos estarem entre os ven-
cedores da etapa anterior foi
uma frustração para o gover-
no.
As estimativas apontam
para investimentos de R$ 8,7
bilhões nos dois aeroportos.
No leilão, será considerado
vencedor quem oferecer o
maior lance acima do valor
mínimo da outorga. As con-
cessões serão de 25 e 30
anos, respectivamente. (Da
Agência Estado)
Mantega solicita ao
FMI alteração em
cálculo da dívida
Temperatura menor, preço maior
Relação “real” seria de 58,7% do PIB,
e não de 68% como indica o órgão
CAMPO ||| PROBLEMAS
Os agricultores Moises Francisco da Silva e Maria Bratel em plantação de hortaliças na região rural de Nova Aparecida: frio atrapalha
Carlos Sousa Ramos/AAN
Divulgação
Vencedores podem entrar na briga
De Brasília
O ministro da Fazenda, Guido
Mantega, enviou correspondên-
cia este mês à diretora-gerente
do Fundo Monetário Interna-
cional (FMI), Christine Lagar-
de, pedindo alteração na meto-
dologia de cálculo da dívida
bruta brasileira. Pelos critérios
oficiais do País, a dívida fechou
2012 em 58,7% do Produto In-
terno Bruto (PIB). Mas, nas con-
tas do organismo multilateral,
chega a 68% do PIB.
“O governo brasileiro enten-
de que critérios padronizados
para estatísticas nacionais são
importantes para o FMI”, diz a
carta. “Porém, dado que o crité-
rio corrente distorce a estimati-
va da dívida bruta brasileira, so-
licitamos a revisão da metodo-
logia”. Em outro trecho, o docu-
mento afirma que os dados do
FMI estão “substancialmente
superestimados” e que isso pre-
judica a percepção sobre a si-
tuação fiscal brasileira.
Mantega explica, na carta,
que a metodologia de apura-
ção da dívida bruta foi alterada
em 2008 para dar um retrato
mais fiel sobre a situação das
contas nacionais. Ele informa
que, desde 2000, por causa da
Lei de Responsabilidade Fiscal,
o Banco Central está proibido
de emitir títulos. Porém, possui
em carteira um volume eleva-
do de papéis emitidos pelo Te-
souro Nacional. No final de
2012, somava 20,6% do PIB.
Diferente do FMI, que consi-
dera todos os papéis emitidos
pelo Tesouro como dívida bru-
ta, o governo brasileiro só conta-
biliza como endividamento a
parcela dos títulos que são utili-
zados em operações compro-
missadas, “dado que esse valor
é associado à dívida do Tesouro
Nacional em poder do público”.
Essas operações são realiza-
das pelo Banco Central com o
objetivo de retirar o excesso de
liquidez do mercado. A parcela
correspondia a 11,9% do PIB
em dezembro de 2012. Os de-
mais papéis, explica a carta, es-
tão em carteira por razões “me-
ramente técnicas” e “não inter-
ferem nas condições de merca-
do da dívida pública em nenhu-
ma circunstância”, uma vez
que não têm natureza fiscal e
não criam riscos de refinancia-
mento. (Da Agência Estado)
CONTAS ||| EXTERNAS
RELIGIÃO
foi a alta do custo do
litro de leite no produtor
no comparativo de
junho de 2012 e o mesmo
mês deste ano
O papa Francisco abre as portas da
Igreja aos gays e condena
discriminação. PÁGINA B4
Trigo, café, hortaliças
e cana estão entre
as mais afetadas
Terminal do Galeão, no Rio: na lista das próximas privatizações
AEROPORTOS ||| LEILÃO
POR CENTO
+ digital
CORREIO POPULARCampinas, terça-feira, 30 de julho de 2013