SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
72 | 2015 |
Comportamento
O futuro é feminino
O mundo está percebendo que a bipolaridade homem x mulher impede o
progresso no século 21. Na tecnologia, elas estão prontas para assumir seu
papel na evolução dos negócios
Thalita Matta Machado
As mulheres representam 49,5% da po-
pulação mundial. Porém, dos 195 paí-
ses independentes do planeta, apenas
9% são comandados por elas. Entre as
equipes diretoras das 500 empresas de
maior faturamento dos Estados Unidos,
4% são compostas por mulheres. Na
América Latina, 1,8% das empresas
têm uma diretora-executiva. E na tecno-
logia, o cenário é o mesmo. Há somente
24% de presença feminina nos quadros
da Microsoft; 30%, nos da Apple e da
Google; e 31%, nos do Facebook. Mas
não se iluda. O mindset responsável
pelo progresso no século 21 é feminino.
Publicado por John Gerzema e Michael
D´Antônio, o livro The Athena Doctrine:
How Women (and the Men Who Think
Like Them) Will Rule the Future
apresenta os resultados de mais de
dois anos de pesquisa em 13 países,
incluindo o Brasil, e conclui: os valores
femininos estão em ascensão. Ao todo,
64 mil pessoas foram entrevistadas e
participaram de pesquisas sobre o tema.
Os dados apontaram que a maioria
está insatisfeita com a conduta dos
homens em seus países, especialmente
a Geração Y, e consideraram que o
pensamento bipolarizado de homem x
mulher limita o potencial de progresso
no futuro. Também mostraram que
dois terços dos entrevistados sentem
que o mundo seria um lugar melhor
se os homens pensassem mais como
as mulheres.
A Wevolve, agência de pesquisa e
design da Finlândia, em parceria
com o evento Women in Tech, apon-
tou quatro cenários para a evolução
do setor de TI, e adivinhem: em to-
dos há predominância feminina. Ao
identificar as oportunidades futuras
de desenvolvimento das empresas de
tecnologia, os resultados previram a
direção dos negócios sendo feita por
organizações com perfil feminino e,
consequentemente, mais mulheres
na liderança. “Homens e mulheres
lideram de formas diferentes. Temos
mais empatia pelo outro e atuamos
de maneira holística, mais integra-
da”, afirma Cláudia de Melo, CTO da
ThoughtWorks (TW) no Brasil. Apesar
de as mulheres somarem apenas um
quarto do contingente de funcionários
em todo o planeta, na TW, 50% das
lideranças são delas.
Para Cláudia, ter mais mulheres na
equipe e nas lideranças das grandes
corporações simplesmente faz bem
para os negócios. Ela prevê que mui-
to em breve viveremos a era da eco-
nomia digital, em que não será mais
possível distinguir se uma empresa é
ou não da área de TI, porque a tecno-
logia estará no core de todos os negó-
cios. “Na economia, as mulheres são
as grandes consumidoras, por atuarem
como tomadoras de decisão do que é
ou não adquirido na rotina da casa e
por garantirem a qualidade de vida
da família. Nada mais natural do que
entendê-las e, mais do que isso, trazê-
-las para perto dos negócios, formando
equipes que realmente saibam como
chegar até elas”, explica.
Mas, para isso acontecer, as mulhe-
res precisam estar mais presentes.
O curioso é que, nos primórdios da
computação, havia uma forte presen-
ça feminina. A primeira programadora
da história foi Ada Lovelace, no século
19. E o termo computador foi criado
a partir das “computadoras”, como
eram chamadas as mulheres respon-
sáveis pela programação do primeiro
computador digital eletrônico de gran-
de escala, o Eniac. Também foram
precursoras do Wireless e da lingua-
gem COBOL. Estiveram presentes no
time que desenvolveu o primeiro Ma-
chintosh, atuando ativamente na cria-
ção da famosa interface amigável que
colocou a Apple no topo do mundo.
Contudo, uma pesquisa de gênero re-
alizada pela universidade de Stanford,
nos Estados Unidos, identificou que,
a partir da década de 80, as mulhe-
res simplesmente deixaram de ver a
área de exatas como alternativa pro-
fissional. Em 2009, somente 18% dos
diplomas em Ciência da Computação
nos EUA foram conquistados por mu-
lheres. Aparentemente, a programa-
ção era vista como uma tarefa menor,
que deveria ser executada por elas,
enquanto a construção de hardwares
era um trabalho mais valorizado por
ser mais difícil – como o próprio nome
diz – e, portanto, deveria ser realizado
pelos homens.
À medida que a TI evoluiu e se tornou
um negócio cada vez mais rentável,
começou a atrair, cada vez mais, o
interesse masculino para o desenvol-
vimento de softwares. Aos poucos,
o ambiente foi se masculinizando e,
consequentemente, tornando-se mais
hostil para as mulheres. O artigo What
Silicon Valley thinks of women, publi-
cado pela Newsweek em janeiro deste
ano, causou polêmica ao destacar a
cultura machista do setor, passando
por situações de discriminação de gê-
nero e assédio moral e sexual. “O Vale
do Silício nunca produziu uma versão
feminina de Gates, Zuckerberg ou Ka-
lanick”, alfineta a publicação.
Por mais mulheres
na tecnologia
Nos últimos anos, diversas iniciativas
têm surgido pelo planeta com o intuito
de criar um ambiente favorável para
discutir o assunto, impulsionar a car-
reira das mulheres na área de tecno-
logia, aprender novas linguagens de
programação e desenvolver projetos
inovadores. É o caso do Rails Girls,
evento de origem finlandesa que no
Brasil, especialmente em Belo Hori-
zonte e Porto Alegre, é promovido em
parceria com a ThoughtWorks. “A im-
portância do Girls no nome é porque
ele traduz um ambiente seguro. Que-
remos dizer às participantes que, se oA Cosmopolitan registrou, na década de 60, que a programação era profissão para mulheres
Fotos:Arquivodainternet
| 2015 | 73
74 | 2015 |
mundo lá fora não é acolhedor, aqui elas podem chegar sem
medo de errar, perguntar e aprender”, explica Juliana Dor-
neles, gerente-geral da TW em Belo Horizonte. Coincidência
ou não, quando perguntadas quem compareceria ao evento
caso ele se chamasse apenas Rails, apenas 10% da plateia
ergueu o braço.
A reação é justificada. Sarah Pantaleão, engenheira ambien-
tal e participante do evento, foi uma das que não levantou a
mão. Mulher e negra, ela enfrentou o preconceito em mais
de uma ocasião no seu ambiente de trabalho. “Já pergunta-
ram se eu era filha da faxineira e já me pediram para cha-
mar o responsável pela área de engenharia, que no caso era
eu mesma. Depois de contratada, minha chefe confidenciou
que, antes de me conhecer, imaginava que eu fosse loira e
alta, porque meu currículo era muito bom, com cursos no
exterior e fluência em várias línguas”, conta. Apesar de não
ser da área, é uma apaixonada por tecnologia e pela cultura
organizacional da ThoughtWorks. “É uma comunidade que
me respeita e me faz querer fazer parte”, diz.
Ana Paula Gomes é organizadora do Google Developer Group
(GDG) e do Women Techmakers, em Belo Horizonte. Que-
ria fazer Direito, mas acabou iniciando sua formação num
curso técnico em informática. Apaixonou-se pela tecnologia
e não a largou mais. Ana conta que a primeira situação pre-
conceituosa que viveu foi quando assumiu a coordenação
de um pequeno setor de manutenção de computadores. Iria
liderar dois técnicos homens, mas um deles disse clara-
mente que não faria o que ela pedisse
porque ele não “obedecia” mulheres.
O técnico foi demitido, porém o caso
não foi esquecido. “Existe um estudo
que pontua que uma mulher em com-
putação precisa ser 2,5 vezes melhor
do que um homem para ser conside-
rada igual. Tento ser muito mais vezes
do que isso, para que ninguém tenha
o direito de não me respeitar porque
sou mulher. Faço isso não só por mim,
mas para defender e estimular outras
mulheres e mostrar que elas têm total
capacidade sim”, ressalta.
Em 2009, Márcia Santos Almeida, Lu-
ciana Silva e Narrira Lemos fundaram
a organização sem fins lucrativos Mu-
lheres na Tecnologia, que atua sob três
pilares: conscientização da sociedade,
empoderamento das mulheres e amplia-
ção da participação feminina no univer-
so da tecnologia. O MTI é regido por um
conselho gestor composto por mulheres
e, hoje, tem mais de 370 membros no
grupo de discussão, com uma participa-
ção ainda maior nas redes sociais.
Márcia coordenou o 3° Encontro Nacio-
nal de Mulheres na Tecnologia, realiza-
do em Goiânia, no mês de setembro,
e que, surpreendentemente, registrou
47% de presença masculina. De acordo
com ela, o baixo interesse das mulhe-
res em relação aos cursos de TI ainda
é preocupante, mas também é um in-
centivo para que seja dada uma respos-
ta à sociedade. “Grandes empresas de
tecnologia começaram a se preocupar
em ter mulheres em seus quadros e
já possuem programas de retenção de
talentos femininos e de incentivo à en-
trada de novas mulheres, como a TW,
Google, IBM, Microsoft e HP. O maior
desafio, agora, é demonstrar para as
meninas que a área de TI não precisa
ser majoritariamente masculina e que
existem grandes oportunidades para
elas. Somos otimistas sobre o futuro das
mulheres no setor, mesmo entendendo
que ainda há muito para se trilhar.”
Comportamento
Cláudia Melo, CTO da ThoughtWorks no Brasil
Sarah Pantaleão durante o Rails Girls, em Belo Horizonte
Márcia Santos, do MTI, acredita que a internet e as redes sociais aproximam as mulheres da tecnologia
DivulgaçãoTW
UarlenValério
DivulgaçãoMTI
| 2015 | 75
76 | 2015 |
crescimento profissional das mulheres no mercado de tecnologia:Confira cinco iniciativas que estimulam a participação e oConfira cinco iniciativas que estimulam a participação e o
Elas desenvolveram o futuro
Code Girl
www.codegirl.com.br
A comunidade brasileira surgiu
no Instituto Federal de Educação,
Ciência e Tecnologia do Rio Gran-
de do Norte, para ajudar meninas
estudantes do ensino médio a se-
guirem carreira em tecnologia. O
Code Girl faz parte do projeto Pro-
gramar meu Futuro e versa sobre o
mundo da programação e do em-
preendedorismo.
PyLadies
http://brasil.pyladies.com
Criado por desenvolve-
doras apaixonadas pela
linguagem de programa-
ção Python. No Brasil, é
possível encontrar líderes
da comunidade em Natal
(RN), Recife (PE), Brasília
(DF), Rio de Janeiro (RJ)
e São Carlos (SP).
Mulheres na Tecnologia
www.mulheresnatecnologia.org
A organização sem fins lucra-
tivos surgiu no Brasil para au-
mentar a participação feminina
na área de TI. Homens e mulhe-
res podem compartilhar experi-
ências, capacitar e disseminar
a tecnologia em suas comuni-
dades, por meio de encontros e
workshops.
Rails Girls
www.railsgirls.com
Fundado pelas programadoras
finlandesas Linda Liukas e Kar-
ri Saarinen, o grupo promove
workshops sobre o framework
Ruby on Rails em diversos luga-
res do planeta, incluindo as cida-
des de São Paulo, Belo Horizonte
e Porto Alegre.
Women Techmakers
www.developers.google.com/women-techmakers
Apesar de ainda não mostrar um relatório de diver-
sidade tão justo para mulheres e minorias, a Goo-
gle está engajada em incluir o público feminino no
mundo da tecnologia. Esse projeto é global e conta
com eventos, workshops, encontros e comunidades
virtuais para troca de experiências e encorajamento
das mulheres a seguirem carreira na tecnologia.
Fonte: Info.abril.com.br
Comportamento
1842 - Ada Lovelace
Matemática e escritora in-
glesa, filha do poeta bri-
tânico Lorde Byron, escre-
veu o primeiro algoritmo
a ser processado por uma
máquina. É considerada a
primeira programadora de
toda a história.
1942 - Hedy Lamarr
Atriz e engenheira de te-
lecomunicações, inventou
o precursor da comuni-
cação Wireless durante a
Segunda Guerra Mundial.
1946 - Kathleen McNulty
Mauchly Antonelli, Jean Jen-
nings Bartik, Frances Snyder
Holberton, Marlyn Wescoff
Meltzer, Frances Bilas Spen-
ce, Ruth Lichterman Teitel-
baum e Adele Goldstine
Programadoras do Eniac, o
primeiro computador digital
eletrônico de grande escala.
1952 - Grace Hopper
Pioneira da computação, foi
analista de sistemas da mari-
nha e criadora da linguagem
Flow-Matic, base para a cria-
ção do COBOL.
1983 - Susan Kare e 	
Joanna Hoffman
Susan é designer, ilustradora
e pintora. Concebeu parte da
interface gráfica das primeiras
versões do Mac OS. Joanna
atuou como único membro da
equipe de marketing da Ma-
cintosh e participou da elabo-
ração do primeiro esboço da
Human Interface Guidelines.
1953 - Evelyn Berezin
Era funcionária da Un-
derwood Company quando
criou o primeiro computador
a ser usado em escritórios.
| 2015 | 77

Mais conteúdo relacionado

Destaque

Appy Hour Menu - 9/19/12
Appy Hour Menu - 9/19/12Appy Hour Menu - 9/19/12
Appy Hour Menu - 9/19/12
matthewlipstein
 
ONEIDNET_HR_Policies
ONEIDNET_HR_PoliciesONEIDNET_HR_Policies
ONEIDNET_HR_Policies
Meeta Joshi
 

Destaque (13)

Appy Hour Menu - 9/19/12
Appy Hour Menu - 9/19/12Appy Hour Menu - 9/19/12
Appy Hour Menu - 9/19/12
 
ONEIDNET_HR_Policies
ONEIDNET_HR_PoliciesONEIDNET_HR_Policies
ONEIDNET_HR_Policies
 
Sage corporate presentation june 2016
Sage corporate presentation   june 2016Sage corporate presentation   june 2016
Sage corporate presentation june 2016
 
Tech Days 2015: AdaCore Directions
Tech Days 2015: AdaCore DirectionsTech Days 2015: AdaCore Directions
Tech Days 2015: AdaCore Directions
 
FLSA "Learned or Creative Professional Exemption From Overtime
FLSA "Learned or Creative Professional Exemption From OvertimeFLSA "Learned or Creative Professional Exemption From Overtime
FLSA "Learned or Creative Professional Exemption From Overtime
 
FLSA Administrative Exemption (Job Description Checklist)
FLSA Administrative Exemption (Job Description Checklist)FLSA Administrative Exemption (Job Description Checklist)
FLSA Administrative Exemption (Job Description Checklist)
 
FLSA Executive Exemption From Overtime
FLSA Executive Exemption From OvertimeFLSA Executive Exemption From Overtime
FLSA Executive Exemption From Overtime
 
[@NaukriEngineering] Flux Architecture
[@NaukriEngineering] Flux Architecture[@NaukriEngineering] Flux Architecture
[@NaukriEngineering] Flux Architecture
 
Евгений Хыст: "Server-Side Geo-Clustering Based on Geohash"
Евгений Хыст: "Server-Side Geo-Clustering Based on Geohash"Евгений Хыст: "Server-Side Geo-Clustering Based on Geohash"
Евгений Хыст: "Server-Side Geo-Clustering Based on Geohash"
 
[@NaukriEngineering] Apache Spark
[@NaukriEngineering] Apache Spark[@NaukriEngineering] Apache Spark
[@NaukriEngineering] Apache Spark
 
Tech Days 2015: An Ada Perspective
Tech Days 2015: An Ada PerspectiveTech Days 2015: An Ada Perspective
Tech Days 2015: An Ada Perspective
 
The role of data in the provision of feedback at scale
The role of data in  the provision of feedback at scaleThe role of data in  the provision of feedback at scale
The role of data in the provision of feedback at scale
 
Language as a tool of communication
Language as a tool of communicationLanguage as a tool of communication
Language as a tool of communication
 

Semelhante a O Futuro é Feminino - Revista Inforuso | Sucesu Minas

Geração millennials
Geração millennialsGeração millennials
Geração millennials
Elexsandro
 

Semelhante a O Futuro é Feminino - Revista Inforuso | Sucesu Minas (20)

FC - 5 motivos meninas programar
FC - 5 motivos meninas programarFC - 5 motivos meninas programar
FC - 5 motivos meninas programar
 
Fc - 5 fortes motivos meninas aprenderem a programar já
Fc - 5 fortes motivos meninas aprenderem a programar jáFc - 5 fortes motivos meninas aprenderem a programar já
Fc - 5 fortes motivos meninas aprenderem a programar já
 
TDC Floripa 2018 - Sororidade: como podemos apoiar mulheres a ingressarem na TI?
TDC Floripa 2018 - Sororidade: como podemos apoiar mulheres a ingressarem na TI?TDC Floripa 2018 - Sororidade: como podemos apoiar mulheres a ingressarem na TI?
TDC Floripa 2018 - Sororidade: como podemos apoiar mulheres a ingressarem na TI?
 
Geração millennials
Geração millennialsGeração millennials
Geração millennials
 
UP[W]IT - Projeto Deevas da Tecnologia - TDC4Women - The Developer's Conferen...
UP[W]IT - Projeto Deevas da Tecnologia - TDC4Women - The Developer's Conferen...UP[W]IT - Projeto Deevas da Tecnologia - TDC4Women - The Developer's Conferen...
UP[W]IT - Projeto Deevas da Tecnologia - TDC4Women - The Developer's Conferen...
 
Wtm fortaleza
Wtm fortalezaWtm fortaleza
Wtm fortaleza
 
Palestra mulheres na tecnologia
Palestra mulheres na tecnologiaPalestra mulheres na tecnologia
Palestra mulheres na tecnologia
 
LATEC - UFF. TRAZENDO DIVERSIDADE AO SETOR TECNOLÓGICO.
LATEC - UFF.  TRAZENDO DIVERSIDADE AO SETOR TECNOLÓGICO.LATEC - UFF.  TRAZENDO DIVERSIDADE AO SETOR TECNOLÓGICO.
LATEC - UFF. TRAZENDO DIVERSIDADE AO SETOR TECNOLÓGICO.
 
A importancia da mulher no software livre e na tecnologia danielle costa ca...
A importancia da mulher no software livre e na tecnologia   danielle costa ca...A importancia da mulher no software livre e na tecnologia   danielle costa ca...
A importancia da mulher no software livre e na tecnologia danielle costa ca...
 
Grace Hopper Conference - #WIT
Grace Hopper Conference - #WITGrace Hopper Conference - #WIT
Grace Hopper Conference - #WIT
 
A importância das mulheres na tecnologia.pptx
A importância das mulheres na tecnologia.pptxA importância das mulheres na tecnologia.pptx
A importância das mulheres na tecnologia.pptx
 
PrograMinas - Report do Estudo
PrograMinas - Report do EstudoPrograMinas - Report do Estudo
PrograMinas - Report do Estudo
 
Mulheres na CTEM
Mulheres na CTEMMulheres na CTEM
Mulheres na CTEM
 
Por que o machismo cria barreiras para as mulheres na tecnologia
Por que o machismo cria barreiras para as mulheres na tecnologiaPor que o machismo cria barreiras para as mulheres na tecnologia
Por que o machismo cria barreiras para as mulheres na tecnologia
 
Mulheres na TI - FGSL 8
Mulheres na TI - FGSL 8Mulheres na TI - FGSL 8
Mulheres na TI - FGSL 8
 
Um estudo sobre mulheres na tecnologia da informação
Um estudo sobre mulheres na tecnologia da informaçãoUm estudo sobre mulheres na tecnologia da informação
Um estudo sobre mulheres na tecnologia da informação
 
WIE - IEEE Women in Engineering
WIE - IEEE Women in EngineeringWIE - IEEE Women in Engineering
WIE - IEEE Women in Engineering
 
Artigo - A Mulher no Mercado de Trabalho
Artigo - A Mulher no Mercado de TrabalhoArtigo - A Mulher no Mercado de Trabalho
Artigo - A Mulher no Mercado de Trabalho
 
Dez tendências que podem mudar nosso futuro nos próximos anos
Dez tendências que podem mudar nosso futuro nos próximos anosDez tendências que podem mudar nosso futuro nos próximos anos
Dez tendências que podem mudar nosso futuro nos próximos anos
 
FSB Trocas - Hakeamos silvio meira
FSB Trocas - Hakeamos silvio meira FSB Trocas - Hakeamos silvio meira
FSB Trocas - Hakeamos silvio meira
 

Mais de Thoughtworks

Mais de Thoughtworks (20)

Design System as a Product
Design System as a ProductDesign System as a Product
Design System as a Product
 
Designers, Developers & Dogs
Designers, Developers & DogsDesigners, Developers & Dogs
Designers, Developers & Dogs
 
Cloud-first for fast innovation
Cloud-first for fast innovationCloud-first for fast innovation
Cloud-first for fast innovation
 
More impact with flexible teams
More impact with flexible teamsMore impact with flexible teams
More impact with flexible teams
 
Culture of Innovation
Culture of InnovationCulture of Innovation
Culture of Innovation
 
Dual-Track Agile
Dual-Track AgileDual-Track Agile
Dual-Track Agile
 
Developer Experience
Developer ExperienceDeveloper Experience
Developer Experience
 
When we design together
When we design togetherWhen we design together
When we design together
 
Hardware is hard(er)
Hardware is hard(er)Hardware is hard(er)
Hardware is hard(er)
 
Customer-centric innovation enabled by cloud
 Customer-centric innovation enabled by cloud Customer-centric innovation enabled by cloud
Customer-centric innovation enabled by cloud
 
Amazon's Culture of Innovation
Amazon's Culture of InnovationAmazon's Culture of Innovation
Amazon's Culture of Innovation
 
When in doubt, go live
When in doubt, go liveWhen in doubt, go live
When in doubt, go live
 
Don't cross the Rubicon
Don't cross the RubiconDon't cross the Rubicon
Don't cross the Rubicon
 
Error handling
Error handlingError handling
Error handling
 
Your test coverage is a lie!
Your test coverage is a lie!Your test coverage is a lie!
Your test coverage is a lie!
 
Docker container security
Docker container securityDocker container security
Docker container security
 
Redefining the unit
Redefining the unitRedefining the unit
Redefining the unit
 
Technology Radar Webinar UK - Vol. 22
Technology Radar Webinar UK - Vol. 22Technology Radar Webinar UK - Vol. 22
Technology Radar Webinar UK - Vol. 22
 
A Tribute to Turing
A Tribute to TuringA Tribute to Turing
A Tribute to Turing
 
Rsa maths worked out
Rsa maths worked outRsa maths worked out
Rsa maths worked out
 

O Futuro é Feminino - Revista Inforuso | Sucesu Minas

  • 1. 72 | 2015 | Comportamento O futuro é feminino O mundo está percebendo que a bipolaridade homem x mulher impede o progresso no século 21. Na tecnologia, elas estão prontas para assumir seu papel na evolução dos negócios Thalita Matta Machado As mulheres representam 49,5% da po- pulação mundial. Porém, dos 195 paí- ses independentes do planeta, apenas 9% são comandados por elas. Entre as equipes diretoras das 500 empresas de maior faturamento dos Estados Unidos, 4% são compostas por mulheres. Na América Latina, 1,8% das empresas têm uma diretora-executiva. E na tecno- logia, o cenário é o mesmo. Há somente 24% de presença feminina nos quadros da Microsoft; 30%, nos da Apple e da Google; e 31%, nos do Facebook. Mas não se iluda. O mindset responsável pelo progresso no século 21 é feminino. Publicado por John Gerzema e Michael D´Antônio, o livro The Athena Doctrine: How Women (and the Men Who Think Like Them) Will Rule the Future apresenta os resultados de mais de dois anos de pesquisa em 13 países, incluindo o Brasil, e conclui: os valores femininos estão em ascensão. Ao todo, 64 mil pessoas foram entrevistadas e participaram de pesquisas sobre o tema. Os dados apontaram que a maioria está insatisfeita com a conduta dos homens em seus países, especialmente a Geração Y, e consideraram que o pensamento bipolarizado de homem x mulher limita o potencial de progresso no futuro. Também mostraram que dois terços dos entrevistados sentem que o mundo seria um lugar melhor se os homens pensassem mais como as mulheres. A Wevolve, agência de pesquisa e design da Finlândia, em parceria com o evento Women in Tech, apon- tou quatro cenários para a evolução do setor de TI, e adivinhem: em to- dos há predominância feminina. Ao identificar as oportunidades futuras de desenvolvimento das empresas de tecnologia, os resultados previram a direção dos negócios sendo feita por organizações com perfil feminino e, consequentemente, mais mulheres na liderança. “Homens e mulheres lideram de formas diferentes. Temos mais empatia pelo outro e atuamos de maneira holística, mais integra- da”, afirma Cláudia de Melo, CTO da ThoughtWorks (TW) no Brasil. Apesar de as mulheres somarem apenas um quarto do contingente de funcionários em todo o planeta, na TW, 50% das lideranças são delas. Para Cláudia, ter mais mulheres na equipe e nas lideranças das grandes corporações simplesmente faz bem para os negócios. Ela prevê que mui- to em breve viveremos a era da eco- nomia digital, em que não será mais possível distinguir se uma empresa é ou não da área de TI, porque a tecno- logia estará no core de todos os negó- cios. “Na economia, as mulheres são as grandes consumidoras, por atuarem como tomadoras de decisão do que é ou não adquirido na rotina da casa e por garantirem a qualidade de vida da família. Nada mais natural do que entendê-las e, mais do que isso, trazê- -las para perto dos negócios, formando equipes que realmente saibam como chegar até elas”, explica. Mas, para isso acontecer, as mulhe- res precisam estar mais presentes. O curioso é que, nos primórdios da computação, havia uma forte presen- ça feminina. A primeira programadora da história foi Ada Lovelace, no século 19. E o termo computador foi criado a partir das “computadoras”, como eram chamadas as mulheres respon- sáveis pela programação do primeiro computador digital eletrônico de gran- de escala, o Eniac. Também foram precursoras do Wireless e da lingua- gem COBOL. Estiveram presentes no time que desenvolveu o primeiro Ma- chintosh, atuando ativamente na cria- ção da famosa interface amigável que colocou a Apple no topo do mundo. Contudo, uma pesquisa de gênero re- alizada pela universidade de Stanford, nos Estados Unidos, identificou que, a partir da década de 80, as mulhe- res simplesmente deixaram de ver a área de exatas como alternativa pro- fissional. Em 2009, somente 18% dos diplomas em Ciência da Computação nos EUA foram conquistados por mu- lheres. Aparentemente, a programa- ção era vista como uma tarefa menor, que deveria ser executada por elas, enquanto a construção de hardwares era um trabalho mais valorizado por ser mais difícil – como o próprio nome diz – e, portanto, deveria ser realizado pelos homens. À medida que a TI evoluiu e se tornou um negócio cada vez mais rentável, começou a atrair, cada vez mais, o interesse masculino para o desenvol- vimento de softwares. Aos poucos, o ambiente foi se masculinizando e, consequentemente, tornando-se mais hostil para as mulheres. O artigo What Silicon Valley thinks of women, publi- cado pela Newsweek em janeiro deste ano, causou polêmica ao destacar a cultura machista do setor, passando por situações de discriminação de gê- nero e assédio moral e sexual. “O Vale do Silício nunca produziu uma versão feminina de Gates, Zuckerberg ou Ka- lanick”, alfineta a publicação. Por mais mulheres na tecnologia Nos últimos anos, diversas iniciativas têm surgido pelo planeta com o intuito de criar um ambiente favorável para discutir o assunto, impulsionar a car- reira das mulheres na área de tecno- logia, aprender novas linguagens de programação e desenvolver projetos inovadores. É o caso do Rails Girls, evento de origem finlandesa que no Brasil, especialmente em Belo Hori- zonte e Porto Alegre, é promovido em parceria com a ThoughtWorks. “A im- portância do Girls no nome é porque ele traduz um ambiente seguro. Que- remos dizer às participantes que, se oA Cosmopolitan registrou, na década de 60, que a programação era profissão para mulheres Fotos:Arquivodainternet | 2015 | 73
  • 2. 74 | 2015 | mundo lá fora não é acolhedor, aqui elas podem chegar sem medo de errar, perguntar e aprender”, explica Juliana Dor- neles, gerente-geral da TW em Belo Horizonte. Coincidência ou não, quando perguntadas quem compareceria ao evento caso ele se chamasse apenas Rails, apenas 10% da plateia ergueu o braço. A reação é justificada. Sarah Pantaleão, engenheira ambien- tal e participante do evento, foi uma das que não levantou a mão. Mulher e negra, ela enfrentou o preconceito em mais de uma ocasião no seu ambiente de trabalho. “Já pergunta- ram se eu era filha da faxineira e já me pediram para cha- mar o responsável pela área de engenharia, que no caso era eu mesma. Depois de contratada, minha chefe confidenciou que, antes de me conhecer, imaginava que eu fosse loira e alta, porque meu currículo era muito bom, com cursos no exterior e fluência em várias línguas”, conta. Apesar de não ser da área, é uma apaixonada por tecnologia e pela cultura organizacional da ThoughtWorks. “É uma comunidade que me respeita e me faz querer fazer parte”, diz. Ana Paula Gomes é organizadora do Google Developer Group (GDG) e do Women Techmakers, em Belo Horizonte. Que- ria fazer Direito, mas acabou iniciando sua formação num curso técnico em informática. Apaixonou-se pela tecnologia e não a largou mais. Ana conta que a primeira situação pre- conceituosa que viveu foi quando assumiu a coordenação de um pequeno setor de manutenção de computadores. Iria liderar dois técnicos homens, mas um deles disse clara- mente que não faria o que ela pedisse porque ele não “obedecia” mulheres. O técnico foi demitido, porém o caso não foi esquecido. “Existe um estudo que pontua que uma mulher em com- putação precisa ser 2,5 vezes melhor do que um homem para ser conside- rada igual. Tento ser muito mais vezes do que isso, para que ninguém tenha o direito de não me respeitar porque sou mulher. Faço isso não só por mim, mas para defender e estimular outras mulheres e mostrar que elas têm total capacidade sim”, ressalta. Em 2009, Márcia Santos Almeida, Lu- ciana Silva e Narrira Lemos fundaram a organização sem fins lucrativos Mu- lheres na Tecnologia, que atua sob três pilares: conscientização da sociedade, empoderamento das mulheres e amplia- ção da participação feminina no univer- so da tecnologia. O MTI é regido por um conselho gestor composto por mulheres e, hoje, tem mais de 370 membros no grupo de discussão, com uma participa- ção ainda maior nas redes sociais. Márcia coordenou o 3° Encontro Nacio- nal de Mulheres na Tecnologia, realiza- do em Goiânia, no mês de setembro, e que, surpreendentemente, registrou 47% de presença masculina. De acordo com ela, o baixo interesse das mulhe- res em relação aos cursos de TI ainda é preocupante, mas também é um in- centivo para que seja dada uma respos- ta à sociedade. “Grandes empresas de tecnologia começaram a se preocupar em ter mulheres em seus quadros e já possuem programas de retenção de talentos femininos e de incentivo à en- trada de novas mulheres, como a TW, Google, IBM, Microsoft e HP. O maior desafio, agora, é demonstrar para as meninas que a área de TI não precisa ser majoritariamente masculina e que existem grandes oportunidades para elas. Somos otimistas sobre o futuro das mulheres no setor, mesmo entendendo que ainda há muito para se trilhar.” Comportamento Cláudia Melo, CTO da ThoughtWorks no Brasil Sarah Pantaleão durante o Rails Girls, em Belo Horizonte Márcia Santos, do MTI, acredita que a internet e as redes sociais aproximam as mulheres da tecnologia DivulgaçãoTW UarlenValério DivulgaçãoMTI | 2015 | 75
  • 3. 76 | 2015 | crescimento profissional das mulheres no mercado de tecnologia:Confira cinco iniciativas que estimulam a participação e oConfira cinco iniciativas que estimulam a participação e o Elas desenvolveram o futuro Code Girl www.codegirl.com.br A comunidade brasileira surgiu no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Gran- de do Norte, para ajudar meninas estudantes do ensino médio a se- guirem carreira em tecnologia. O Code Girl faz parte do projeto Pro- gramar meu Futuro e versa sobre o mundo da programação e do em- preendedorismo. PyLadies http://brasil.pyladies.com Criado por desenvolve- doras apaixonadas pela linguagem de programa- ção Python. No Brasil, é possível encontrar líderes da comunidade em Natal (RN), Recife (PE), Brasília (DF), Rio de Janeiro (RJ) e São Carlos (SP). Mulheres na Tecnologia www.mulheresnatecnologia.org A organização sem fins lucra- tivos surgiu no Brasil para au- mentar a participação feminina na área de TI. Homens e mulhe- res podem compartilhar experi- ências, capacitar e disseminar a tecnologia em suas comuni- dades, por meio de encontros e workshops. Rails Girls www.railsgirls.com Fundado pelas programadoras finlandesas Linda Liukas e Kar- ri Saarinen, o grupo promove workshops sobre o framework Ruby on Rails em diversos luga- res do planeta, incluindo as cida- des de São Paulo, Belo Horizonte e Porto Alegre. Women Techmakers www.developers.google.com/women-techmakers Apesar de ainda não mostrar um relatório de diver- sidade tão justo para mulheres e minorias, a Goo- gle está engajada em incluir o público feminino no mundo da tecnologia. Esse projeto é global e conta com eventos, workshops, encontros e comunidades virtuais para troca de experiências e encorajamento das mulheres a seguirem carreira na tecnologia. Fonte: Info.abril.com.br Comportamento 1842 - Ada Lovelace Matemática e escritora in- glesa, filha do poeta bri- tânico Lorde Byron, escre- veu o primeiro algoritmo a ser processado por uma máquina. É considerada a primeira programadora de toda a história. 1942 - Hedy Lamarr Atriz e engenheira de te- lecomunicações, inventou o precursor da comuni- cação Wireless durante a Segunda Guerra Mundial. 1946 - Kathleen McNulty Mauchly Antonelli, Jean Jen- nings Bartik, Frances Snyder Holberton, Marlyn Wescoff Meltzer, Frances Bilas Spen- ce, Ruth Lichterman Teitel- baum e Adele Goldstine Programadoras do Eniac, o primeiro computador digital eletrônico de grande escala. 1952 - Grace Hopper Pioneira da computação, foi analista de sistemas da mari- nha e criadora da linguagem Flow-Matic, base para a cria- ção do COBOL. 1983 - Susan Kare e Joanna Hoffman Susan é designer, ilustradora e pintora. Concebeu parte da interface gráfica das primeiras versões do Mac OS. Joanna atuou como único membro da equipe de marketing da Ma- cintosh e participou da elabo- ração do primeiro esboço da Human Interface Guidelines. 1953 - Evelyn Berezin Era funcionária da Un- derwood Company quando criou o primeiro computador a ser usado em escritórios. | 2015 | 77