O documento descreve a história da indústria automobilística dos EUA desde Henry Ford até a crise de 2008-2009. Henry Ford revolucionou a produção em série de automóveis na década de 1910, estabelecendo a Ford como líder do mercado. Na década de 1920, a maioria das outras montadoras encerrou as atividades, restando basicamente a Ford, GM e Chrysler. Essas três dominaram o mercado global por décadas, até serem afetadas pela concorrência externa a partir dos anos 1970, levando ao declín
1. Moderna PLUS GEOGRAFIA LYGIA TERRA
REGINA ARAUJO
RAUL BORGES GUIMARÃES
CONEXÕES
Parte I Sociedade e espaço
Unidade A O mundo contemporâneo Volume único
Capítulo 2 A formação da economia global
TEXTO COMPLEMENTAR
a organização sindical mais poderosa do mundo. A empáfia
A Velha América, sob nova do velho Kowalski é uma herança desses tempos de glória.
direção Após a Segunda Guerra, porém, empresas automobilísticas
“Um filme genialmente dirigido e estrelado por Clint surgidas na Europa e no Japão passaram a competir diretamente
Eastwood, Gran Torino (2008) retrata com rara sensibilidade com as gigantes americanas, primeiro nos mercados mundiais
a agonia da Velha América. Nele, Eastwood interpreta Walt e, depois, no próprio território dos Estados Unidos. Produzindo
Kowalski, um sujeito mal-humorado, resmungão e racista que carros mais eficientes e econômicos, essas novas empresas
teima em não reconhecer os movimentos do mundo. Veterano cresceram no rastro da crise do petróleo da década de 1970.
da Guerra da Coreia, ostenta a bandeira dos Estados Unidos na Na mesma época, a japonesa Toyota promovia uma nova revo-
fachada de sua casa e pragueja contra seus vizinhos de origem lução na indústria automobilística, introduzindo a automação e
a organização flexível de trabalho no lugar da rigidez fordista.
asiática. Ex-funcionário da Ford, vocifera contra os filhos que
‘traíram’ a pátria e se renderam à eficiência dos carros japo- Pressionada pela concorrência, a indústria automobilís-
neses. O Gran Torino que dá título ao filme é um Ford modelo tica americana entrou em uma espiral de declínio: no início
1972, enorme e beberrão, que o protagonista mantém intacto, dos anos 1980 empregava mais de 1 milhão de trabalhadores,
com muito orgulho. O tipo de carro que ninguém mais quer hoje emprega pouco mais de 200 mil. Parte dessas pessoas
e que ajudou a condenar a indústria automobilística norte- trabalha nas japonesas Honda e Toyota, que se instalaram
-americana à bancarrota atual. nos Estados Unidos nesse período, mas buscaram localiza-
ções distantes dos poderosos sindicatos tradicionais. Detroit,
Coincidência ou não, Gran Torino estreou no mercado
a outrora ‘capital mundial do automóvel’, é atualmente a
americano 100 anos depois que o pioneiro Henry Ford
capital americana com maior índice de desemprego, além
lançou seu primeiro Modelo T, o carro robusto e relativa-
de ser uma das mais miseráveis: um terço da população
mente barato que inaugurou a moderna era dos automóveis.
sobrevive abaixo da linha de pobreza. [...]
Pouco tempo depois, em 1913, os carros da Ford Company
passaram a ser produzidos em série, de forma a atender um Ao que parece, eficiência energética é o novo nome do
mercado de consumo que crescia exponencialmente. jogo, e o governo Obama pretende distribuir as cartas, já que
as Três Grandes chegaram à bancarrota por conta própria. Para
Utilizando as então recentes conquistas no campo da ele-
renascer das cinzas, a indústria automobilística dos Estados
tricidade, Ford inventou um sistema de trabalho fabril revolu-
Unidos deverá seguir um padrão ambientalmente sustentável.
cionário: a linha de montagem. Nesse sistema, os trabalhadores
Certamente, não haverá lugar para o Gran Torino na Detroit
permanecem em seus postos, realizando tarefas simples e
‘verde’ que o presidente pretende ajudar a construir.”
repetitivas, enquanto uma esteira elétrica move as peças sem-
ARAUJO, Regina. Boletim mundo: geografia e política internacional.
pre na mesma velocidade, imprimindo um ritmo constante à São Paulo: Pangea, ano 17, n. 2, p. 9, abr. 2009.
produção. Essa engrenagem padronizada ampliou de maneira
vertiginosa o volume e reduziu os custos de produção. • Empáfia. Arrogância, orgulho, presunção.
Por causa dela, a Ford se transformou em líder absoluta • Bancarrota. Quebra, falência; ruína, decadência.
do mercado americano. As dezenas de fábricas de automó-
veis que existiam nos Estados Unidos em 1917, excetuando a
Ford, empregavam juntas 70 mil operários e produziam 280 Por causa da concorrência
externa e da crise
mil unidades. A Ford Company, empregando 13 mil funcio- internacional, em 2009, não
nários, produziu 310 mil unidades nesse mesmo ano. só a Ford como a Chrysler e
Na década de 1920, a maior parte dessas fábricas já havia a General Motors acumulam
prejuízos e suas ações têm
encerrado suas atividades. As duas grandes que sobreviveram, apresentado forte queda. As
General Motors e Chrysler, adotaram o sistema produtivo co- três já receberam do governo
nhecido como fordismo, que se espalharia para o conjunto da bilhões de dólares em
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economia industrial no decorrer do século XX, atravessando a empréstimos e créditos. Na
foto, Gran Torino modelo
Depressão dos anos 1930 e a Segunda Guerra Mundial. 1972, da Ford
Estava formado o trio de ouro da indústria automobilís- (EUA, 2008).
tica norte-americana, que dominava os mercados do país
ALBERTO E. RODRIGUEZ/
e do mundo. Detroit, capital do estado de Michigan e sede
de operações das Três Grandes, se transformou em um
GETTY IMAGES
dos centros mais dinâmicos da economia americana. Os
sindicatos dos metalúrgicos das montadoras dos Estados
Unidos, também reunidos em Detroit, despontavam como