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Baixar para ler offline
O Corvo
Para ler ao som de Kamelot – The Haunting
Certa noite, Elena debruçou-se sobre a varanda do apartamento novo no terceiro andar. Uma
lua avermelhada, como uma rainha de copas, jazia majestosa no céu negro. Em meio à
contemplação do belo, por um segundo, Elena desejou possuir asas e voar de encontro ao
escarlate, pois ela está entregue a uma devoção divina aos deuses do universo e a perfeição
da natureza. Certamente, aquela bola sangrenta era um espetáculo voluptuoso e hipnotizante
para os olhos humanos.
A noite avançava negra e fria enquanto Elena permanecia debruçada na varanda admirando a
lua. Repentinamente, ela foi despertada do seu transe lunar por um som pesado e mórbido
que vinha do pêndulo do relógio disposto cuidadosamente sobre a parede branca da sala de
seu apartamento. A relíquia familiar que contrastava o passado em meio ao presente avisava,
penosamente, a chegada da meia noite.
Subitamente, a lua foi encoberta por nuvens negras enquanto um nevoeiro tomava conta da
rua solitária. Os pelos dos braços de Elena eriçaram por causa do frio gélido que havia chegado
há pouco tempo. Ela jogou os braços em volta do corpo e se dispões a entrar no apartamento.
Quando sua mão pálida pousou sobre a frieza da maçaneta da porta branca - o ronco alto do
motor de uma máquina de duas rodas ecoou bruscamente na rua.
Elena voltou seu corpo novamente para a varanda. A silhueta de um homem e sua moto
surgiram na curva da encruzilhada. Ele avançou velozmente pela rua cortando a névoa
fúnebre ao meio, parou diante do apartamento e desceu soberbamente da moto negra. Suas
vestias contrastavam tonalidades obscuras que se adequavam perfeitamente ao seu corpo
másculo. O homem retirou o capacete preto revelando suas madeixas negras onduladas que
caíam sobre sua face. Ele fitou a lua que estava novamente disposta na escuridão do universo
e se dispões a caminhar em direção ao portão que levava a entrada principal dos
apartamentos.
Elena sentiu um misto de terror e emoção quando o homem desviou os olhos do céu e os
pousou nela. Os olhos negros e profundos esconderam-se em meio às pálpebras e os cachos
do cabelo enquanto ele, calmamente, abria o pesado portão de ferro. O som dos passos dele
subindo as escadas causaram calafrios em Elena que logo afastou-se da varanda. Quando ele
surgiu no corredor o coração dela acelerou.
O homem avançou pelo corredor. Quando seu corpo ultrapassou por infinidade o espaço do
corpo dela e, por fracções de segundos, a jaqueta de couro dele tocou a pele pálida de
mulher, por um momento, Elena perdeu toda a noção do movimento humano em virtude de
uma inquietação do espírito. Ele parou diante do apartamento ao lado do dela e antes de
adentrar na escuridão do lar olhou rapidamente a imagem daquela mulher que o encarava.
Naquela noite, Elena não conseguiu dormir. Na extremidade mais distante dos seus devaneios
humanos ela foi assombrada em sonho pela imagem de um corvo que se debatia ferozmente
contra o vidro da janela de seu quarto. O animal possuía uma plumagem majestosa, digna
da inveja dos
outros seres noturnos. Essa beleza fez Elena levantar-se da cama e abrir a janela para que a ave
entrasse em seu mundo privado.
O pássaro sobrevoou o interior do quarto e pousou delicadamente no ombro de Elena. Ela, ao
olhar-se no espelho viu a imagem fantasmagórica de uma mulher em seu traje branco de
dormir com um corvo a adornar a extremidade superior do seu corpo. Já a imagem do corvo
ultrapassava a própria insanidade dos limites indecifráveis das obscuras regiões das trevas da
mente humana. Quando finalmente o sol surgiu, e as trevas tornaram-se luz, Elena caiu,
finalmente, em um sono profundo. Logo o dia tornou-se noite.
Uma sucessão de gritos altos e agudos despertaram Elena para à noite recém-chegada.
Durante breve instante ela hesitou em levantar-se da cama e ir até a varanda, pois sentia medo
de saber de qual lugar vinham os gritos agudos, mas principalmente o que eles representavam.
Elena pegou o seu roupão de seda branca e vestiu-se, caminhou lentamente até a porta da
sala, abriu-a. Um vento gélido adentrou no apartamento. Vagarosamente ela caminhou pelo
corredor até a extremidade da varanda. Elena procurou pela rua algum vestígio horrendo dos
gritos. Nada! Absolutamente nada, a rua estava calma e silenciosa. Elena levantou os olhos
para o céu, a lua cheia imperava de forma deslumbrante.
- Bela lua – a voz grave e masculina surgiu como o som de um trovão inesperado. Elena voltou-
se rapidamente para trás. O homem alto e esquio aproximou-se dela, trazia no canto da boca
um sorriso irônico.
– Prazer, Samael – ele estendeu a mão.
- Elena – ela pronunciou o seu nome pausadamente, enquanto o seu corpo perdia as
inclinações para o movimento de segurar a mão dele.
Delicadamente, Samael pegou a mão de Elena e a levou à boca, seus lábios quentes tocaram a
pele pálida daquela mulher, mas, isso durou pouco, pois, logo depois sua atenção voltou-se
para a lua. – Tenho para mim, chamar de outro mundo essa lua, ela que aparece vermelha a
cada noite em meio a um céu obscuro e misterioso. Quantos segredos esconde o universo?
Será que mais alguém vê a lua como eu a vejo? – ele aproximou-se de Elena, colocou
suavemente o cabelo dela para trás da orelha e sussurrou em seu ouvido o mais perturbador
trecho do poema:
– Sinto o roçar de asas negras em minhas têmporas. Eu, ansioso pela lua, busco
incessantemente a dama que me queira amar. Abra a janela do seu peito e deixe o amor
entrar.
Elena tremeu quando a boca quente dele tocou a pele do seu pescoço – Siga-me! Elena! –
sussurrou ele enquanto a conduzia até o seu apartamento.
O hálito quente dele agora estava nos lábios dela. Elena começou a respirar mais rápido, ela
alimentava-se do hálito dele enquanto os as bocas se encostavam.
– Eu estou condenado Elena – disse ele ao atirá-la bruscamente sobre a cama.
Agora Elena sentia o hálito quente dele em meio aos seus seios
– Condenado? – perguntou ela meio que gaguejando.
- Estou condenado a vagar eternamente pelas estradas obscuras da eternidade, mas me
encontro condenado, principalmente a sua beleza divina, não há mulher mais bela na terra do
que você Elena, deusa da noite. Sua cor lembra-me a cor mais clara da alma humana, o seu
cheiro é o cheiro de mil rosas vermelhas ao desabrocharem no leitor da noite. A cor dos seus
cabelos lembra o negro das profundezas de um lago ébano. A Elena das Elenas. A minha Elena.
As mãos dela buscaram a pele dele após retirar a camiseta velha. Quando seus dedos
alcançaram as costas dele... ela sentiu na pele de Samael uma extremidade alta.
Desajeitadamente, ela saiu debaixo dele, os olhos procuraram decifrar em meio à escuridão a
tatuagem que lhe tomava as costas inteiras.
A imagem era de uma exatidão perfeita, um corvo. Um enorme e sombrio corvo de olhos
avermelhados e asas estendidas. Um pavor tomou conta de Elena, mas não era um pavor
físico. O pânico que ela sentia aumentava ao mesmo nível do seu desejo por Samael.
- O que... o que você é? – Elena respirou fundo, o coração batendo violentamente contra o
peito.
- Eu... – ele pausou, olhou fixamente para ela. Os olhos negros tornaram-se vermelhos. O
canto da boca levantou discretamente - Eu sou o seu desejo.
Naquele momento, Elena reconheceu a presença da morte escarlate. Ironicamente ela não
sentiu medo. – Por que demorastes tanto a vir? – Ela se inclinou sobre o corpo dele e se
amaram ardentemente. Tão mortificamente vivos.
Naquela noite de lua cheia, quando o pêndulo do relógio marcou meia noite, Elena despertou,
piscou os cílios pesadamente, em seguida, levantou-se vagarosamente, pois temia fazer
qualquer movimento brusco e despertar o corpo que dormia ao seu lado.
Funebremente, Elena caminhou pelo corredor, debruçou-se sobre o ferro da varanda. Olhou
para a lua, o céu encontrava-se nebuloso. Ela sentia-se exausta, mortalmente exausta. Em
segundos, ela começou a sentir a perda dos sentidos – a sentença da morte foi anunciada.
Com os braços abertos Elena atirou-se para o vazio violento da morte. Um grito alto e
agudo ecoou de sua garganta antes do seu corpo chocar-se com o chão. O grito que foi ouvido
em algum lugar do mundo por alguma jovem cujo nome é Elena.
No quarto, o grito de Elena despertou Samael, para ele o berro dela foi a mais bela melodia já
ouvida por um anjo ceifador. Samael arregalou os olhos, seu corpo humano começou a tomar
a forma de um animal com asas, especificamente um corvo. A ave alçou voo pela janela do
quarto em direção a lua mais vermelha que o céu já possuiu.
Sidy Batalha
18 de outubro de 2014
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O corvo. sb

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  • 2. O Corvo Para ler ao som de Kamelot – The Haunting Certa noite, Elena debruçou-se sobre a varanda do apartamento novo no terceiro andar. Uma lua avermelhada, como uma rainha de copas, jazia majestosa no céu negro. Em meio à contemplação do belo, por um segundo, Elena desejou possuir asas e voar de encontro ao escarlate, pois ela está entregue a uma devoção divina aos deuses do universo e a perfeição da natureza. Certamente, aquela bola sangrenta era um espetáculo voluptuoso e hipnotizante para os olhos humanos. A noite avançava negra e fria enquanto Elena permanecia debruçada na varanda admirando a lua. Repentinamente, ela foi despertada do seu transe lunar por um som pesado e mórbido que vinha do pêndulo do relógio disposto cuidadosamente sobre a parede branca da sala de seu apartamento. A relíquia familiar que contrastava o passado em meio ao presente avisava, penosamente, a chegada da meia noite. Subitamente, a lua foi encoberta por nuvens negras enquanto um nevoeiro tomava conta da rua solitária. Os pelos dos braços de Elena eriçaram por causa do frio gélido que havia chegado há pouco tempo. Ela jogou os braços em volta do corpo e se dispões a entrar no apartamento. Quando sua mão pálida pousou sobre a frieza da maçaneta da porta branca - o ronco alto do motor de uma máquina de duas rodas ecoou bruscamente na rua. Elena voltou seu corpo novamente para a varanda. A silhueta de um homem e sua moto surgiram na curva da encruzilhada. Ele avançou velozmente pela rua cortando a névoa fúnebre ao meio, parou diante do apartamento e desceu soberbamente da moto negra. Suas vestias contrastavam tonalidades obscuras que se adequavam perfeitamente ao seu corpo másculo. O homem retirou o capacete preto revelando suas madeixas negras onduladas que caíam sobre sua face. Ele fitou a lua que estava novamente disposta na escuridão do universo e se dispões a caminhar em direção ao portão que levava a entrada principal dos apartamentos. Elena sentiu um misto de terror e emoção quando o homem desviou os olhos do céu e os pousou nela. Os olhos negros e profundos esconderam-se em meio às pálpebras e os cachos do cabelo enquanto ele, calmamente, abria o pesado portão de ferro. O som dos passos dele subindo as escadas causaram calafrios em Elena que logo afastou-se da varanda. Quando ele surgiu no corredor o coração dela acelerou. O homem avançou pelo corredor. Quando seu corpo ultrapassou por infinidade o espaço do corpo dela e, por fracções de segundos, a jaqueta de couro dele tocou a pele pálida de mulher, por um momento, Elena perdeu toda a noção do movimento humano em virtude de uma inquietação do espírito. Ele parou diante do apartamento ao lado do dela e antes de adentrar na escuridão do lar olhou rapidamente a imagem daquela mulher que o encarava. Naquela noite, Elena não conseguiu dormir. Na extremidade mais distante dos seus devaneios humanos ela foi assombrada em sonho pela imagem de um corvo que se debatia ferozmente contra o vidro da janela de seu quarto. O animal possuía uma plumagem majestosa, digna da inveja dos
  • 3. outros seres noturnos. Essa beleza fez Elena levantar-se da cama e abrir a janela para que a ave entrasse em seu mundo privado. O pássaro sobrevoou o interior do quarto e pousou delicadamente no ombro de Elena. Ela, ao olhar-se no espelho viu a imagem fantasmagórica de uma mulher em seu traje branco de dormir com um corvo a adornar a extremidade superior do seu corpo. Já a imagem do corvo ultrapassava a própria insanidade dos limites indecifráveis das obscuras regiões das trevas da mente humana. Quando finalmente o sol surgiu, e as trevas tornaram-se luz, Elena caiu, finalmente, em um sono profundo. Logo o dia tornou-se noite. Uma sucessão de gritos altos e agudos despertaram Elena para à noite recém-chegada. Durante breve instante ela hesitou em levantar-se da cama e ir até a varanda, pois sentia medo de saber de qual lugar vinham os gritos agudos, mas principalmente o que eles representavam. Elena pegou o seu roupão de seda branca e vestiu-se, caminhou lentamente até a porta da sala, abriu-a. Um vento gélido adentrou no apartamento. Vagarosamente ela caminhou pelo corredor até a extremidade da varanda. Elena procurou pela rua algum vestígio horrendo dos gritos. Nada! Absolutamente nada, a rua estava calma e silenciosa. Elena levantou os olhos para o céu, a lua cheia imperava de forma deslumbrante. - Bela lua – a voz grave e masculina surgiu como o som de um trovão inesperado. Elena voltou- se rapidamente para trás. O homem alto e esquio aproximou-se dela, trazia no canto da boca um sorriso irônico. – Prazer, Samael – ele estendeu a mão. - Elena – ela pronunciou o seu nome pausadamente, enquanto o seu corpo perdia as inclinações para o movimento de segurar a mão dele. Delicadamente, Samael pegou a mão de Elena e a levou à boca, seus lábios quentes tocaram a pele pálida daquela mulher, mas, isso durou pouco, pois, logo depois sua atenção voltou-se para a lua. – Tenho para mim, chamar de outro mundo essa lua, ela que aparece vermelha a cada noite em meio a um céu obscuro e misterioso. Quantos segredos esconde o universo? Será que mais alguém vê a lua como eu a vejo? – ele aproximou-se de Elena, colocou suavemente o cabelo dela para trás da orelha e sussurrou em seu ouvido o mais perturbador trecho do poema: – Sinto o roçar de asas negras em minhas têmporas. Eu, ansioso pela lua, busco incessantemente a dama que me queira amar. Abra a janela do seu peito e deixe o amor entrar. Elena tremeu quando a boca quente dele tocou a pele do seu pescoço – Siga-me! Elena! – sussurrou ele enquanto a conduzia até o seu apartamento. O hálito quente dele agora estava nos lábios dela. Elena começou a respirar mais rápido, ela alimentava-se do hálito dele enquanto os as bocas se encostavam. – Eu estou condenado Elena – disse ele ao atirá-la bruscamente sobre a cama. Agora Elena sentia o hálito quente dele em meio aos seus seios – Condenado? – perguntou ela meio que gaguejando.
  • 4. - Estou condenado a vagar eternamente pelas estradas obscuras da eternidade, mas me encontro condenado, principalmente a sua beleza divina, não há mulher mais bela na terra do que você Elena, deusa da noite. Sua cor lembra-me a cor mais clara da alma humana, o seu cheiro é o cheiro de mil rosas vermelhas ao desabrocharem no leitor da noite. A cor dos seus cabelos lembra o negro das profundezas de um lago ébano. A Elena das Elenas. A minha Elena. As mãos dela buscaram a pele dele após retirar a camiseta velha. Quando seus dedos alcançaram as costas dele... ela sentiu na pele de Samael uma extremidade alta. Desajeitadamente, ela saiu debaixo dele, os olhos procuraram decifrar em meio à escuridão a tatuagem que lhe tomava as costas inteiras. A imagem era de uma exatidão perfeita, um corvo. Um enorme e sombrio corvo de olhos avermelhados e asas estendidas. Um pavor tomou conta de Elena, mas não era um pavor físico. O pânico que ela sentia aumentava ao mesmo nível do seu desejo por Samael. - O que... o que você é? – Elena respirou fundo, o coração batendo violentamente contra o peito. - Eu... – ele pausou, olhou fixamente para ela. Os olhos negros tornaram-se vermelhos. O canto da boca levantou discretamente - Eu sou o seu desejo. Naquele momento, Elena reconheceu a presença da morte escarlate. Ironicamente ela não sentiu medo. – Por que demorastes tanto a vir? – Ela se inclinou sobre o corpo dele e se amaram ardentemente. Tão mortificamente vivos. Naquela noite de lua cheia, quando o pêndulo do relógio marcou meia noite, Elena despertou, piscou os cílios pesadamente, em seguida, levantou-se vagarosamente, pois temia fazer qualquer movimento brusco e despertar o corpo que dormia ao seu lado. Funebremente, Elena caminhou pelo corredor, debruçou-se sobre o ferro da varanda. Olhou para a lua, o céu encontrava-se nebuloso. Ela sentia-se exausta, mortalmente exausta. Em segundos, ela começou a sentir a perda dos sentidos – a sentença da morte foi anunciada. Com os braços abertos Elena atirou-se para o vazio violento da morte. Um grito alto e agudo ecoou de sua garganta antes do seu corpo chocar-se com o chão. O grito que foi ouvido em algum lugar do mundo por alguma jovem cujo nome é Elena. No quarto, o grito de Elena despertou Samael, para ele o berro dela foi a mais bela melodia já ouvida por um anjo ceifador. Samael arregalou os olhos, seu corpo humano começou a tomar a forma de um animal com asas, especificamente um corvo. A ave alçou voo pela janela do quarto em direção a lua mais vermelha que o céu já possuiu. Sidy Batalha 18 de outubro de 2014