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                                                                 PROSA & VERSO
                                 A vanguarda dos céticos
        Crítico defende atualidade de intelectuais que resistiram a ideais da modernidade
             ENTREVISTA          A imagem usada por                      teaubriand, Léon Bloy, Roland Barthes e o próprio                     uma ambivalência em relação ao moderno, e não uma

     Antoine Compagnon Sartre para descrever                             Baudelaire, entre outros — têm em comum o fato de,                    rejeição: “Hoje a religião do progresso desperta me-
                                 Baudelaire como al-                     mesmo vivendo em períodos de fervor vanguardista,                     nos entusiasmo, ao menos no Ocidente, no Norte. Sa-
    guém que “avança olhando pelo retrovisor” é retoma-                  sustentarem uma visão crítica dos ideais da moder-                    bemos quanto ele custa”. Na entrevista, Compagnon
    da pelo crítico Antoine Compagnon para se referir                    nidade, como a fé irrestrita no progresso. Nascido em                 fala também sobre o lugar da ficção e da teoria lite-
    aos intelectuais que protagonizam o livro “Os antimo-                Bruxelas, na Bélgica, e professor de literatura nas uni-              rária no mundo atual, tema do ensaio “Literatura para
    dernos” (Editora UFMG, tradução de Laura Taddei                      versidades de Columbia e Paris-Sorbonne, Compag-                      quê?”, reeditado agora pela UFMG (também em tra-
    Brandini). Os autores dos séculos XIX e XX evocados                  non defende, em entrevista ao GLOBO por e-mail, a                     dução de Laura Taddei Brandini), transcrição de sua
    por Compagnon — como Joseph de Maistre, Cha-                         atualidade do “antimodernismo”, que define como                       aula inaugural no tradicional Collège de France.
                                                                                                                                                                       Divulgação
              Guilherme Freitas                                                                                                                                                             A função da teoria literária — ao
          guilherme.freitas@oglobo.com.br                                                                                                                                                 menos daquela que eu sempre en-
                                                                                                                                                                                          sinei, tanto na França quanto nos
    O GLOBO: Em “Os antimodernos”, vo-                                                                                                                                                    Estados Unidos — é nos tornar
    cê fala do antimodernismo como uma                                                                                                                                                    mais inteligentes, mais lúcidos, so-
    “ambivalência” em relação ao moder-                                                                                                                                                   bre aquilo que se passa na literatu-
    no, e não uma simples rejeição: os an-                                                                                                                                                ra, e portanto mais livres perante
    timodernos, para você, são os autores                                                                                                                                                 ela e perante o mundo. E também,
    para quem a modernidade é insepará-                                                                                                                                                   portanto, mais antimodernos, já
    vel de uma certa resistência ao mundo                                                                                                                                                 que eu associei o modernismo a
    moderno. Por que essa resistência faz                                                                                                                                                 uma certa cegueira em relação ao
    desses autores “os verdadeiros moder-                                                                                                                                                 mundo e à literatura.
    nos”, como você propõe?
    ANTOINE COMPAGNON: Porque a                                                                                                                                                           ●  Em “A literatura em perigo” (pu-
    resistência os distingue dos futuris-                                                                                                                                                 blicado aqui pela Difel em 2009), o
    tas, vanguardistas e outros entu-                                                                                                                                                     filósofo Tzvetan Todorov faz uma
    siastas do progresso que ignoram a                                                                                                                                                    crítica do momento de apogeu da
    dimensão de esquecimento, de per-                                                                                                                                                     teoria literária nos anos 1960-70, no
    da, de melancolia, de luto inevita-                                                                                                                                                   qual ele próprio teve participação
    velmente associada ao progresso.                                                                                                                                                      importante. Você concorda com To-
    Porque eles sabem que o momento                                                                                                                                                       dorov? O que pensa da herança dei-
    presente é imediatamente levado                                                                                                                                                       xada por aquele momento da teo-
    pela História. Porque eles são lúci-                                                                                                                                                  ria, sobretudo da francesa?
    dos, enquanto os fanáticos do mo-                                                                                                                                                        Sou menos severo do que Todo-
    dernismo são cegos e nos cegam pa-                                                                                                                                                    rov, talvez porque eu tenha sido me-
    ra nossa relação com o passado, o                                                                                                                                                     nos dependente da teoria, menos vi-
    presente e o futuro.                                                                                                                                                                  ciado nela, menos intoxicado por
                                                                                                                                                                                          ela. Sempre a pratiquei cum grano sa-
    ● Por que esses autores continuam                                                                                                                                                     lis, e acabo de lhe dizer que vejo a
    importantes para nós hoje? E o que                                                                                                                                                    teoria como uma escola do grão de
    seria “antimoderno” hoje?                                                                                                                                                             sal, uma escola de maturidade. Isto
       Esses autores continuam impor-                                                                                                                                                     posto, é verdade que, transformada
    tantes, eles têm muito a nos ensinar                                                                                                                                                  em pedagogia na escola secundária,
    sobre a lucidez, porque souberam re-                                                                                                                                                  ela fez estragos: transformou os alu-
    sistir à religião do progresso sem re-                                                                                                                                                nos em pequenos técnicos em vez de
    cusar o progresso, nem a História.                                                                                                                                                    incitá-los a se interrogar sobre o sen-
    Eles não são nem tradicionalistas                                                                                                                                                     tido e o valor dos textos. A literatura
    nem reacionários. Mas hoje o dog-                                                                                                                                                     dá medo, porque perturba. Por isso




                                             “                                                                               “
    ma, a religião do progresso desperta                                                                                                                                                  muitos preferiram evitá-la ou des-
    menos entusiasmo, ao menos no Oci-       ANTOINE COMPAGNON, professor de literatura francesa nas universidades de Paris-Sorbonne (Paris IV) e Columbia (Nova York)                    montá-la como um brinquedinho.
    dente, no Norte. Nós sabemos quan-
    to custa o progresso. Não confiamos                                               dernos acentuaram muito seu po-                                                                     ● Como professor na França e nos
    mais no progresso futuro para resol-                                              der de alienação, convocaram os                                                                     Estados Unidos, como você avalia
    ver os danos causados pelo progres-                                               leitores a desconfiarem da literatu-                                                                o estado atual do ensino e da pes-
    so atual, como nas discussões sobre                                               ra como uma emboscada da alta                                                                       quisa de literatura nas universida-
    ecologia, por exemplo. Não nos dize-                                              cultura, provocaram um cer to                                                                       des europeias e americanas? Quais
    mos mais que, quando os combustí-                                                 ódio da literatura. O antimoderno                                                                   são os campos mais promissores
    veis fósseis tiverem se esgotado, fa-    Os antimodernos têm                      é mais dialético.                         A função da teoria                                        para os estudos literários hoje?
    talmente encontraremos outras for-                                                                                                                                                      Por toda parte, o ensino e a pes-
    mas de energia. Temos consciência        muito a nos ensinar,                     ●  E qual seria o “poder da litera-       literária é nos tornar                                    quisa literários se tornaram mais
    de que os recursos do planeta são fi-
    nitos. Somos todos cada vez mais an-
                                             porque souberam resistir                 tura” hoje? É possível evocá-lo
                                                                                      sem apenas repetir essas defini-
                                                                                                                                mais lúcidos sobre a                                      convencionais do que eram na mi-
                                                                                                                                                                                          nha juventude, mais históricos,
    timodernos, menos inocentes que as       à religião do progresso                  ções históricas?                          literatura, e portanto                                    mais ideológicos, mas também não
    gerações anteriores. Por isso este é                                                 Essas definições históricas não                                                                  há mal nenhum em retornar à His-
    também o momento de defender cer-        sem recusar o progresso,                 são ruins e não há mal nenhum em          mais livres perante ela                                   tória. Me parece que, entre os tra-
                                                                                      retomá-las por nossa conta. Hoje, os
    tos valores modernos que se foram
    com o progresso desde o Iluminis-        nem a História                           filósofos morais mais sofisticados        e perante o mundo                                         balhos mais fecundos sobre litera-
                                                                                                                                                                                          tura hoje, estão aqueles que se re-
    mo, como a liberdade, a democracia                                                não estão longe de aderir à defini-                                                                 lacionam com a história cultural,
    e a tolerância.                          pós-moderna (“Ela é um espaço sa-        ção da literatura como meio de ins-       Brasil em 2010 também pela Edito-                         um domínio que se desenvolveu
                                             grado fora do poder”). Existe uma        trução moral, o que foi seu papel         ra UFMG), você propõe algumas                             muito, considerando a alta cultura
    ●  Em “Literatura para quê?”, você       definição “antimoderna” do poder         durante boa parte da história do          “antidefinições” da teoria literária:                     mas também a cultura de massa.
    lista quatro definições do “poder da     da literatura?                           Ocidente, desde a parábola, passan-       ela “não ensina a escrever roman-                         Também há aqueles que investigam
    literatura” formuladas ao longo da         Sim, claro: a própria definição        do pela fábula, até o romance do sé-      ces”, “não é a filosofia da literatu-                     a ligação da literatura com outros
    História: a clássica (“A literatura      moderna, pois o antimoderno é o          culo XIX. A literatura conserva to-       ra”. Por outro lado, em outros textos                     meios, em todas as épocas, en-
    instrui e diverte”), a romântica         moderno lúcido. Em outras pala-          dos esses poderes históricos.             você já relacionou a teoria com                           quanto nós tínhamos uma tendên-
    (“Ela é um antídoto para a fragmen-      vras, o poder antimoderno da lite-                                                 “uma moral da literatura”. Na sua                         cia a isolá-la, a sacralizá-la de ma-
    tação da experiência”), a moderna        ratura continua a ser seu poder li-      ● Em “O demônio da teoria: Litera-        opinião, quais podem ser os objeti-                       neira um tanto abusiva. A literatura
    (“Ela purifica a linguagem”) e a         berador, emancipador. Os pós-mo-         tura e senso comum” (publicado no         vos da teoria literária?                                  pertence à vida. ■



                                                                                                                                                                      Quando o
                                                                                                                                                                     Livro vai pro                  COMPRO LIVROS E CDS
                                                                                                                                                                        SEBO a
                                                                                                                                                                      HISTÓRIA
                                                                                                                                                                      CONTINUA                                        Outros Livros e CDS
                                                                                                                                                   Leve seu livro usado para o SEBO                 2215-3528 ou 2532-3646
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                                                                                                                                                  Rua José Clemente, 68 - Centro - Niterói - RJ
                                                                                                                                                        Tel.: (21) 2719-6827
                                                                                                                                                    E-mail: livrariapanorama@gmail.com              IMUNIZAÇÃO RACIONAL
                                                                                                                                                                                                    Imunize-se urgentemente, em seu próprio
                                                                                                                                                                                                      benefício, e livre-se de todos os males
                                                                                                                                                                                                        da vida e do corpo. Leia os Livros:
                                                                                                                                                                                                     UNIVERSO EM DESENCANTO



                                                                                                                                                              Compramos Livros em Geral
                                                                                                                                                                         15 anos de Tradição no Centro do Rio
                                                                                                                                                                     Le Bouquiniste Livraria
                                                                                                                                                                                  DVDs, CDs E DISCOS DE VINIL
                                                                                                                                                                • Bibliotecas Pequenas e Grandes • Pagamento à vista • Retiramos na hora.
                                                                                                                                               R. Visconde do Rio Branco, 28 -- Centro
                                                                                                                                               R. Visconde do Rio Branco, 28 Centro                2531-7793 / 2252-3247

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Entrevista antoine compagnon

  • 1. 6 Sábado, 3 de dezembro de 2011 PROSA & VERSO A vanguarda dos céticos Crítico defende atualidade de intelectuais que resistiram a ideais da modernidade ENTREVISTA A imagem usada por teaubriand, Léon Bloy, Roland Barthes e o próprio uma ambivalência em relação ao moderno, e não uma Antoine Compagnon Sartre para descrever Baudelaire, entre outros — têm em comum o fato de, rejeição: “Hoje a religião do progresso desperta me- Baudelaire como al- mesmo vivendo em períodos de fervor vanguardista, nos entusiasmo, ao menos no Ocidente, no Norte. Sa- guém que “avança olhando pelo retrovisor” é retoma- sustentarem uma visão crítica dos ideais da moder- bemos quanto ele custa”. Na entrevista, Compagnon da pelo crítico Antoine Compagnon para se referir nidade, como a fé irrestrita no progresso. Nascido em fala também sobre o lugar da ficção e da teoria lite- aos intelectuais que protagonizam o livro “Os antimo- Bruxelas, na Bélgica, e professor de literatura nas uni- rária no mundo atual, tema do ensaio “Literatura para dernos” (Editora UFMG, tradução de Laura Taddei versidades de Columbia e Paris-Sorbonne, Compag- quê?”, reeditado agora pela UFMG (também em tra- Brandini). Os autores dos séculos XIX e XX evocados non defende, em entrevista ao GLOBO por e-mail, a dução de Laura Taddei Brandini), transcrição de sua por Compagnon — como Joseph de Maistre, Cha- atualidade do “antimodernismo”, que define como aula inaugural no tradicional Collège de France. Divulgação Guilherme Freitas A função da teoria literária — ao guilherme.freitas@oglobo.com.br menos daquela que eu sempre en- sinei, tanto na França quanto nos O GLOBO: Em “Os antimodernos”, vo- Estados Unidos — é nos tornar cê fala do antimodernismo como uma mais inteligentes, mais lúcidos, so- “ambivalência” em relação ao moder- bre aquilo que se passa na literatu- no, e não uma simples rejeição: os an- ra, e portanto mais livres perante timodernos, para você, são os autores ela e perante o mundo. E também, para quem a modernidade é insepará- portanto, mais antimodernos, já vel de uma certa resistência ao mundo que eu associei o modernismo a moderno. Por que essa resistência faz uma certa cegueira em relação ao desses autores “os verdadeiros moder- mundo e à literatura. nos”, como você propõe? ANTOINE COMPAGNON: Porque a ● Em “A literatura em perigo” (pu- resistência os distingue dos futuris- blicado aqui pela Difel em 2009), o tas, vanguardistas e outros entu- filósofo Tzvetan Todorov faz uma siastas do progresso que ignoram a crítica do momento de apogeu da dimensão de esquecimento, de per- teoria literária nos anos 1960-70, no da, de melancolia, de luto inevita- qual ele próprio teve participação velmente associada ao progresso. importante. Você concorda com To- Porque eles sabem que o momento dorov? O que pensa da herança dei- presente é imediatamente levado xada por aquele momento da teo- pela História. Porque eles são lúci- ria, sobretudo da francesa? dos, enquanto os fanáticos do mo- Sou menos severo do que Todo- dernismo são cegos e nos cegam pa- rov, talvez porque eu tenha sido me- ra nossa relação com o passado, o nos dependente da teoria, menos vi- presente e o futuro. ciado nela, menos intoxicado por ela. Sempre a pratiquei cum grano sa- ● Por que esses autores continuam lis, e acabo de lhe dizer que vejo a importantes para nós hoje? E o que teoria como uma escola do grão de seria “antimoderno” hoje? sal, uma escola de maturidade. Isto Esses autores continuam impor- posto, é verdade que, transformada tantes, eles têm muito a nos ensinar em pedagogia na escola secundária, sobre a lucidez, porque souberam re- ela fez estragos: transformou os alu- sistir à religião do progresso sem re- nos em pequenos técnicos em vez de cusar o progresso, nem a História. incitá-los a se interrogar sobre o sen- Eles não são nem tradicionalistas tido e o valor dos textos. A literatura nem reacionários. Mas hoje o dog- dá medo, porque perturba. Por isso “ “ ma, a religião do progresso desperta muitos preferiram evitá-la ou des- menos entusiasmo, ao menos no Oci- ANTOINE COMPAGNON, professor de literatura francesa nas universidades de Paris-Sorbonne (Paris IV) e Columbia (Nova York) montá-la como um brinquedinho. dente, no Norte. Nós sabemos quan- to custa o progresso. Não confiamos dernos acentuaram muito seu po- ● Como professor na França e nos mais no progresso futuro para resol- der de alienação, convocaram os Estados Unidos, como você avalia ver os danos causados pelo progres- leitores a desconfiarem da literatu- o estado atual do ensino e da pes- so atual, como nas discussões sobre ra como uma emboscada da alta quisa de literatura nas universida- ecologia, por exemplo. Não nos dize- cultura, provocaram um cer to des europeias e americanas? Quais mos mais que, quando os combustí- ódio da literatura. O antimoderno são os campos mais promissores veis fósseis tiverem se esgotado, fa- Os antimodernos têm é mais dialético. A função da teoria para os estudos literários hoje? talmente encontraremos outras for- Por toda parte, o ensino e a pes- mas de energia. Temos consciência muito a nos ensinar, ● E qual seria o “poder da litera- literária é nos tornar quisa literários se tornaram mais de que os recursos do planeta são fi- nitos. Somos todos cada vez mais an- porque souberam resistir tura” hoje? É possível evocá-lo sem apenas repetir essas defini- mais lúcidos sobre a convencionais do que eram na mi- nha juventude, mais históricos, timodernos, menos inocentes que as à religião do progresso ções históricas? literatura, e portanto mais ideológicos, mas também não gerações anteriores. Por isso este é Essas definições históricas não há mal nenhum em retornar à His- também o momento de defender cer- sem recusar o progresso, são ruins e não há mal nenhum em mais livres perante ela tória. Me parece que, entre os tra- retomá-las por nossa conta. Hoje, os tos valores modernos que se foram com o progresso desde o Iluminis- nem a História filósofos morais mais sofisticados e perante o mundo balhos mais fecundos sobre litera- tura hoje, estão aqueles que se re- mo, como a liberdade, a democracia não estão longe de aderir à defini- lacionam com a história cultural, e a tolerância. pós-moderna (“Ela é um espaço sa- ção da literatura como meio de ins- Brasil em 2010 também pela Edito- um domínio que se desenvolveu grado fora do poder”). Existe uma trução moral, o que foi seu papel ra UFMG), você propõe algumas muito, considerando a alta cultura ● Em “Literatura para quê?”, você definição “antimoderna” do poder durante boa parte da história do “antidefinições” da teoria literária: mas também a cultura de massa. lista quatro definições do “poder da da literatura? Ocidente, desde a parábola, passan- ela “não ensina a escrever roman- Também há aqueles que investigam literatura” formuladas ao longo da Sim, claro: a própria definição do pela fábula, até o romance do sé- ces”, “não é a filosofia da literatu- a ligação da literatura com outros História: a clássica (“A literatura moderna, pois o antimoderno é o culo XIX. A literatura conserva to- ra”. Por outro lado, em outros textos meios, em todas as épocas, en- instrui e diverte”), a romântica moderno lúcido. Em outras pala- dos esses poderes históricos. você já relacionou a teoria com quanto nós tínhamos uma tendên- (“Ela é um antídoto para a fragmen- vras, o poder antimoderno da lite- “uma moral da literatura”. Na sua cia a isolá-la, a sacralizá-la de ma- tação da experiência”), a moderna ratura continua a ser seu poder li- ● Em “O demônio da teoria: Litera- opinião, quais podem ser os objeti- neira um tanto abusiva. A literatura (“Ela purifica a linguagem”) e a berador, emancipador. Os pós-mo- tura e senso comum” (publicado no vos da teoria literária? pertence à vida. ■ Quando o Livro vai pro COMPRO LIVROS E CDS SEBO a HISTÓRIA CONTINUA Outros Livros e CDS Leve seu livro usado para o SEBO 2215-3528 ou 2532-3646 da LIVRARIA PANORAMA Rua José Clemente, 68 - Centro - Niterói - RJ Tel.: (21) 2719-6827 E-mail: livrariapanorama@gmail.com IMUNIZAÇÃO RACIONAL Imunize-se urgentemente, em seu próprio benefício, e livre-se de todos os males da vida e do corpo. Leia os Livros: UNIVERSO EM DESENCANTO Compramos Livros em Geral 15 anos de Tradição no Centro do Rio Le Bouquiniste Livraria DVDs, CDs E DISCOS DE VINIL • Bibliotecas Pequenas e Grandes • Pagamento à vista • Retiramos na hora. R. Visconde do Rio Branco, 28 -- Centro R. Visconde do Rio Branco, 28 Centro 2531-7793 / 2252-3247