SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 49
Artigo Personalidade Millon
O termo personalidade, estreitamente ligado à psicologia nos dias atuais, tem suas
origens na Antiguidade com o teatro greco-romano. A palavra vem de persona, do latim,
cujo significado é “máscara de teatro”. A máscara era utilizada pelos atores, no teatro, tanto
para dar aparência (caracterização) de acordo com o personagem que pretendiam
representar, quanto para amplificar a voz para a platéia (Clapier-Valladon, 1988). Se no
passado a personalidade sugeria uma aparência pretendida, atualmente é entendida como o
próprio indivíduo, suas características aparentes, explícitas e manifestas (Millon & Daves,
1996).
Apesar de ser um dos mais antigos aspectos humanos pesquisados, a personalidade
é um construto da psicologia que se destaca pela dificuldade de ser definida, estudada
(Guzzo, Pinho & Carvalho, 2002), e empiricamente pesquisada (Millon & Daves, 1996).
São diversas as propostas de teorias da personalidade encontradas ao longo do
desenvolvimento da psicologia, contudo, as perspectivas contemporâneas da personalidade
têm convergido para uma abordagem integrativa, considerando os diversos domínios, antes
compreendidos isoladamente, como em constante interação entre si e com o ambiente ao
redor (Millon & Daves, 1996).
Theodore Millon, psicólogo e psiquiatra pesquisador da área de avaliação e
intervenção da personalidade e seus transtornos, destaca-se como um dos teóricos mais
relevantes para a proposta do chamado modelo integrativo no que se refere à avaliação da
personalidade. A perspectiva integrativa surge da necessidade de conciliar as visões
nomotética e idiográfica, assim como de críticas realizadas aos modelos categórico e
dimensional. De um lado, a perspectiva nomotética tem seu foco nas características comuns
entre indivíduos, de outro lado, a perspectiva idiográfica dá ênfase à individualidade,
complexidade e unicidade de cada indivíduo (Millon & Daves, 1996; Tavares, 2003).
A visão integrativa visa sintetizar estas duas tradições, portanto, aponta para
necessidade de conhecer cada construto (dimensão) da personalidade e suas relações e
entrelaçamentos, e também conhecer o universo de mecanismos transacionais através do
qual cada personalidade individual é transformada em seu desenvolvimento (Millon &
Daves, 1996). No que se refere aos modelos categórico e dimensional, o primeiro se orienta
1
através de um sistema que pretende encaixar o indivíduo na avaliação diagnóstica, e o
segundo pretende enquadrar o processo de avaliação diagnóstica no indivíduo.
Assim como a visão integrativa é uma síntese das perspectivas nomotética e
idiográfica, os modelos categórico e dimensional são sintetizados pelo modelo protótipo
proposto por Millon (Millon & Daves, 1996). Este modelo explicita a heterogenia dos
traços de personalidade nos indivíduos, de modo a não assumir limites (impossibilidades)
frente ao sistema diagnóstico (Millon & Daves, 1996). Diferente dos modelos categórico e
dimensional, que levam em conta, respectiva e fundamentalmente aspectos qualitativos e
quantitativos, o modelo protótipo considera ambos aspectos. Este modelo é proposto por
Millon enquanto taxonomia de estilos da personalidade e de modos de funcionamento que
se configuram como transtornos da personalidade. De fato, Millon sugere o uso de
protótipos nomotéticos que se subdividem em subtipos idiográficos (Millon & Daves,
1996).
Além de se caracterizar por ser um modelo integrativo da personalidade, a proposta
teórica de Millon apóia-se nos pressupostos evolucionistas, servindo de base para a
compreensão de sua teoria personalidade (Alchieri, 2004). Diferente dos sistemas
tradicionais utilizados para o diagnóstico da personalidade, que freqüentemente se focam
ou nos aspectos individuais, ou nos aspectos comuns entre os indivíduos, o modelo de
Millon considera ambos aspectos, o que é comum entre e para os indivíduos (Millon &
Daves, 1996).
Segundo Millon, o que justifica o uso de princípios naturais (evolucionistas) em seu
modelo teórico, é que uma teoria da personalidade não deve ficar limitada ao estudo de suas
dimensões e suas relações entre si e com o ambiente, mas deve ir além dos componentes
que integram a personalidade (Millon & Daves, 1996). Deste modo, de acordo com sua
proposta teórica, fundamentada em pressupostos evolucionistas e enquadrada em um
modelo integrativo, Millon propõe nove princípios para conceituar a personalidade e seus
transtornos:
1. Transtornos da personalidade não são doenças: são modos de
funcionamento desadaptativo que não se encontram em uma categoria
diferente dos modelos adaptativos de personalidade, mas são encontrados
2
em um outro ponto de um continuum formado pelos modos adaptativos e
desadaptativos.
2. Transtornos da personalidade são sistemas funcionais e estruturais
diferenciados internamente, e não entidades internamente homogêneas:
sugere que as partes constituintes da personalidade são internamente
diferentes, contudo, função e estrutura se entrelaçam e cooperam entre si.
3. Transtornos da personalidade são sistemas dinâmicos, não estáticos,
entidades sem vida: o que caracteriza um modo como funcional pode
variar de acordo com as dinâmicas internas e externas experienciadas pelo
indivíduo.
4. Personalidade consiste de unidades múltiplas em múltiplos níveis de
informação: os complexos componentes da personalidade levam os
teóricos a conceituá-la em quase infinitos caminhos, mas necessariamente
são selecionados apenas poucos destes inúmeros elementos que podem
ser escolhidos.
5. A personalidade existe em um continuum; não há divisão exata entre
normalidade e patologia: portanto, normalidade e patologia devem ser
entendidos como conceitos relativos que representam pontos arbitrários
de um continuum. Para Millon, normalidade é a capacidade para
funcionar autonomamente e com competência, uma tendência a se ajustar
ao meio de modo efetivo e eficiente, um senso subjetivo de
contentamento e satisfação, e a habilidade para cumprir seu potencial. A
patologia é resultado das mesmas forças que estão envolvidas no
desenvolvimento do funcionamento normal, contudo, é caracterizada por
respostas inflexíveis ou deficientes às demandas cotidianas, trazendo
desconforto, prejuízos e redução nas oportunidades de aprendizagem.
6. A patogênese da personalidade não é linear, mas interativa e seqüencial,
distribuída multiplamente a todo o sistema: o sistema (da personalidade)
é caracterizado por interdependências entre seus elementos constituintes,
no qual cada domínio é influenciado e influencia, direta ou indiretamente,
os outros domínios. Deste modo, mudanças no funcionamento do sistema,
3
em um ou mais domínios, significa mudanças em todas varáveis da
personalidade.
7. Os critérios para avaliar a patologia da personalidade podem ser
logicamente coordenados com o próprio modelo de sistemas: Millon
aponta três critérios para julgar a severidade da patologia da
personalidade. São eles: baixa estabilidade frente ao stress, inflexibilidade
adaptativa, e tendência a perpetuar círculos viciantes ou auto-
destruidores.
8. Transtornos da personalidade podem ser avaliados, mas não
definitivamente diagnosticados: já que os transtornos da personalidade
não são entendidos como doenças, a taxonomia pode ser apenas
considerada como um ponto (importante) para caracterizar o indivíduo,
sobretudo porque nenhum indivíduo é a reencarnação de protótipos. A
avaliação da personalidade busca limites no funcionamento do indivíduo,
verificando o quão uma habilidade é desenvolvida.
9. Transtornos da personalidade requerem planos estratégicos e modos
combinatórios de intervenção tática: intervenções que acessem um único
domínio são congruentes com um modelo linear, mas não com um
modelo integrativo. Em um modelo integrativo, no qual uma das
principais características é o aspecto multiaxial, a intervenção deve ser
coordenada pelo tempo de forma lógica em múltiplos domínios. A
intervenção não deve ser a soma de varias intervenções, mas
multifacetada e entrelaçada.
Os nove princípios propostos por Millon estão de acordo com uma perspectiva
evolucionista e integrativa da personalidade. Em seu modelo teórico, Millon buscou criar
protótipos da personalidade edificados através de deduções formais e identificar possíveis
covariações com outros transtornos mentais encontrados no Eixo I do DSM (Alchieri,
Cervo & Núñes, 2005). Entende-se que o desenvolvimento da personalidade e
psicopatologia é o resultado do interjogo entre o organismo e forças ambientais, de modo
que, este interjogo tem início no momento da concepção e continua ao longo da vida do
indivíduo (Millon & Daves, 1996).
4
Do mesmo modo que o interjogo entre organismo e ambiente é considerado como
importante variável no desenvolvimento da personalidade, à interação entre fatores
biológicos e psicológicos também é dada grande relevância, tal que, segundo Millon,
determinantes biológicos precedem e influenciam o curso da aprendizagem e experiência, e
esta ordem pode ser invertida, sobretudo nos primeiros estágios do desenvolvimento.
Portanto, fatores biológicos podem moldar, facilitando ou dificultando a natureza de
experiências individuais e aprendizado em diversos caminhos (Millon & Daves, 1996). A
partir disso, indivíduos com potenciais biológicos similares emergem freqüentemente com
diferentes traços da personalidade e transtornos clínicos, dependendo de suas experiências
de vida.
Neste sentido, Millon conceitua a personalidade como estilos mais ou menos
adaptativos (eficácia) apresentados pelos indivíduos frente os obstáculos do cotidiano,
representando um padrão de características inter-relacionadas, constantes, não conscientes e
quase automáticas que são manifestadas nos ambientes típicos de um determinado
organismo (Alchieri, 2004). E, emergindo de variáveis similares, os transtornos da
personalidade são conceituados como estilos particulares de funcionamento mal-adaptativo
que se caracterizam por deficiências, descompassos e conflitos na capacidade de lidar com
o ambiente (Millon & Daves, 1996).
Visando atribuir um pano de fundo e fornecer um sólido modelo aos estilos
(adaptativos ou não) de personalidade que fosse além da investigação dos diferentes
domínios que compõem a personalidade (processos cognitivos, comportamentos
observáveis, conteúdos inconscientes, reações neuroquímicas, entre outros) e seus
entrelaçamentos e relações com o ambiente, Millon sugere quatro esferas baseadas nos
princípios evolucionistas, que correspondem às Fases Evolutivas: Existência, Adaptação,
Replicação e Abstração, cada qual com sua correspondente bipolaridade (Millon & Daves,
1996; Davis, 1999).
A primeira fase evolutiva, Existência, refere-se a uma transformação ao acaso, do
organismo, de estados pouco organizados entre aquelas estruturas distintas dominantes de
uma organização maior (Davis, 1999). É uma tendência do organismo adaptado a expressar
mecanismos que favoreçam o aumento e preservação da vida. As polaridades características
desta fase referem-se aos pólos prazer, no qual o indivíduo tende a procurar estímulos que
5
lhe forneçam qualidade de vida, aumentado a probabilidade de sobrevivência, e dor, na qual
há um decréscimo na qualidade de vida e aumento de riscos à própria existência (Alchieri,
2004).
Uma vez que exista uma estrutura integrada (organismo), há a necessidade de
manutenção da própria existência através de trocas de energia e informação com o meio
ambiente. A fase evolutiva seguinte à Existência, a Adaptação, refere-se aos modos de
adaptação que tornam estas trocas (organismo x ambiente) possíveis. Tais trocas podem ser
realizadas a partir de uma orientação ativa, caracterizada por indivíduos que tendem a
modificar o ambiente ao redor, ou uma orientação passiva, caracterizada por indivíduos que
tendem a acomodar-se ao ambiente em que vivem (Millon & Daves, 1996).
Ainda que o organismo que existe esteja adaptado, a existência é limitada, e é
através da terceira fase evolutiva, Replicação, que os organismos são capazes de driblar
esta limitação, desenvolvendo estratégias para reprodução da prole, permitindo a
continuidade dos genes na espécie. Estas estratégias variam entre uma tendência a visar o
eu (pólo eu), com foco na auto-perpetuação, ou uma tendência a visar o outro (pólo outro),
com foco na proteção e sustento da família (Millon & Daves, 1996; Strack, 1999).
As três primeiras fases referem-se, respectivamente, a capacidade do organismo
existir, adaptar-se ao meio e de reprodução. Um organismo capaz de passar por estas fases
é possivelmente apto para refletir acerca da transcendência do imediato e concreto, para
inter-relacionar-se com outros e sintetizar uma diversidade de eventos, para representar
fatos e processá-los simbolicamente, para decidir, para pensar e para antecipar, o que
caracteriza a quarta e última Fase Evolutiva, a Abstração. As polaridades características
desta fase são o pensar, caracterizado pela racionalidade e intelectualização, e o sentir,
caracterizado pela afetividade e o controle dos sentimentos (Millon, Grossman, Millon,
Meagher & Ramnath, 2004).
Cada Fase Evolutiva é representada por bipolaridades, assim como por Estágios
Neuropsicológicos e Tarefas do Desenvolvimento (ver Tabela 1). Os Estágios têm início
enquanto o bebê está no útero da mãe e permanece e se desenvolve por toda a vida do
indivíduo. O que diferencia um Estágio do outro são os períodos de pico (ou críticos) do
desenvolvimento, quando certos processos e tarefas são proeminentes e centrais (Millon &
Daves, 1996).
6
Tabela 1. Quatro Componentes do Modelo Evolucionário
Fases Evolutivas Funções de Sobrevivência
Estágios
Neuropsicológicos
Tarefas do
Desenvolvimento
Existência
Aumento da vida (prazer)
Preservação da vida (dor)
Apego Sensorial
Desenvolver
confiança nos outros
Adaptação
Modificação Ecológica (Ativo)
Acomodação Ecológica
(passivo)
Autonomia
Sensório-motora
Adquirir segurança
adaptativa
Replicação
Sobrevivência da prole (outro)
Propagação individual (eu)
Identidade Sexual
Assimilar papéis
sexuais
Abstração
Racionalidade intelectual
(pensar)
Ressonância afetiva (sentir)
Integração
Intracortical
Equilíbrio entre razão
e emoção
*tabela adaptada de Millon e Daves (1996, p. 110)
O primeiro Estágio Neuropsicológico, Apego Sensorial, refere-se aos primeiros
meses de vida, que são dominados por processos sensitivos nos quais a criança adquire a
capacidade de construir alguma organização em relação aos estímulos experienciados,
sobretudo distinguir objetos prazerosos de objetos dolorosos. É um período em que o
indivíduo necessita e depende em absoluto do outro para sua sobrevivência e, como o bebê
ainda não possui mecanismos característicos da terceira Fase Evolutiva (Abstração), ele
utiliza mecanismos próprios que lhe orientam para atividades que privilegiam o aumento da
qualidade de vida e diminuam a probabilidade de sofrer danos. Como conseqüência de um
empobrecimento do desenvolvimento neste Estágio, indivíduos privados de cuidado
maternal adequado podem demonstrar uma variedade de comportamentos patológicos (por
exemplo, característicos do funcionamento esquizotípico). Do mesmo modo, o
enriquecimento excessivo de estimulação pode resultar em uma supersensibilidade de
determinadas funções sensitivas, levando o indivíduo à procura repetida e compulsiva de
prazer (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
O estágio seguinte, Autonomia Sensório-Motora, caracteriza-se pelo
desenvolvimento de atividades musculares focadas, como brincar, sentar e falar, e não mais
movimentos não organizados. É o período em que a criança começa a ter consciência de
sua própria competência, e a compreender as atitudes e sentimentos comunicados por
fontes de estímulos. O foco deste estágio é na percepção da criança sobre sua existência
com um ambiente ao redor, e é um período em que o estabelecimento de ligações afetivas é
7
muito importante. O retardamento em funções necessárias para o desenvolvimento da
autonomia e iniciativa pode ter como conseqüência características de timidez e submissão
excessivas no indivíduo, e o exagero de liberdade na educação dos pais, pode resultar em
crianças indisciplinadas (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
A criança continua a se desenvolver, e em dado momento atinge o início da
puberdade, que se caracteriza pela iniciação de atividades sexuais que são preparatórias
para emergência de fortes impulsos sexuais e características da autonomia adulta. Este
Estágio é chamado de Identidade Sexual. É o período em que o processo de
desenvolvimento refina o indivíduo, antes difuso e com senso indiferenciado do eu, e os
resultados experienciados dos relacionamentos amorosos (reais ou fantasiosos) revisam e
definem a identidade sexual. Em parte, o objetivo do adolescente é buscar objetos
libidinosos extrafamiliares, assim, pouca identificação e ausência de modelos durante este
período podem resultar em paixões imaginárias, não permitindo o desenvolvimento de um
senso de identidade pessoal, e em uma ausência de direção consistente e propósito de
existência. De modo similar, a estimulação exagerada neste período pode resultar em
dependência excessiva de hábitos e valores de grupos (Millon & Daves, 1996).
O quarto e último Estágio Neuropsicológico, Integração Intracortical, refere-se ao
desenvolvimento de capacidades de abstração pela criança, que a possibilita transcender a
realidade concreta. É o momento de formação de uma imagem do eu e de representações
internas, assim como do desenvolvimento da habilidade de discriminar objetos do mundo
físico, simbolizá-los, manipulá-los e coordená-los. Em alguns casos, o indivíduo pode
compartilhar de menos estimulação que a necessária para seu desenvolvimento saudável,
podendo resultar em jovens difusos e dispersos, com percepções mínimas de caminhos para
seguir sua vida, ou ainda, uma inabilidade para escolha de um caminho, estreitando e
restringido sua adaptabilidade. De outro modo, o excesso de estimulação neste período, por
exemplo, por pais perfeccionistas e muito controladores, pode resultar em um indivíduo que
controla seus sentimentos de modo exagerado, adotando identidades alheias, com pouca
espontaneidade, flexibilidade e criatividade (Millon & Daves, 1996).
Segundo os quatro Estágios Neuropsicológicos propostos por Millon (Millon &
Daves, 1996; Davis, 1999), observa-se a importância da estimulação em determinados
períodos, nomeados de períodos críticos ou de pico. Contudo, não é correto afirmar que o
8
desenvolvimento da personalidade está meramente em função da estimulação em períodos
maturais sensitivos (críticos), a qualidade e o tipo de estimulação e a freqüência são fatores
muito importantes também. Assim como a experiência tem efeitos mais profundos em
determinados Estágios na seqüência do desenvolvimento, com as Tarefas do
Desenvolvimento ocorre o mesmo, sendo que para cada Estágio há uma Tarefa
característica (Millon & Daves, 1996).
A primeira Tarefa do Desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento de
confiança nos outros. Dependendo da qualidade e consistência do suporte dado ao bebê
(que depende totalmente do outro), a confiança se constrói internamente de maneira mais
ou menos consistente no indivíduo. Esta Tarefa está de acordo também com a bipolaridade
da primeira Fase Evolutiva (Existência), prazer x dor, de modo que a confiança (calma
confortante) está mais relacionada à polaridade prazer, e a desconfiança (apreensão tensa)
mais relacionada com a polaridade dor (Millon & Daves, 1996).
Na seqüência do desenvolvimento, a Tarefa do Desenvolvimento corresponde a
aquisição de segurança adaptativa, ou seja, a criança sente-se mais ou menos segura para
exercer suas atividades. Caracteriza-se como um período no qual o indivíduo desenvolve
habilidades de manipulação de objetos, no qual as atitudes dos pais modelam a confiança
da criança nela mesma, para exercer suas crescentes competências. É o que a criança faz e
como ela se sente a respeito disso que irá determinar seus comportamentos, que podem ser
mais orientados para passividade ou para um modo mais ativo frente os obstáculos do
ambiente (Millon & Daves, 1996).
A próxima Tarefa refere-se à assimilação de papéis sexuais, que é caracterizada pela
emergência da interação do adolescente com outros, especialmente em grupos sociais (na
escola, por exemplo). Aderir aos comportamentos dos grupos sociais ajuda o adolescente a
discriminar e avaliar regras relacionadas ao sexo masculino e feminino. É dentro do grupo
que o jovem se depara com regras e demandas que regulam seus impulsos, sentimentos e
inclinações sexuais. A bipolaridade fundamental neste período é a eu x outro, na qual o
adolescente pode estar mais voltado para atividades relacionadas a si próprio, ou para os
grupos sociais (Millon & Daves, 1996).
A última Tarefa do Desenvolvimento relaciona-se ao equilíbrio entre razão (pólo do
pensar) e emoção (pólo do sentir), na qual o jovem é levado a formular uma imagem clara
9
de si, ou seja, uma identidade discernível das identidades alheias. É o período que o
indivíduo adquire um sistema coerente de valores internalizados que irão guiá-lo através
dos diferentes meios sociais, portanto, é neste momento em que ele necessita encontrar sua
própria âncora interna e seu compasso para coordenar seus sentimentos e idéias ao longo da
vida (Davis, 1999).
O Desenvolvimento do Funcionamento Patológico – Transtornos da Personalidade
No modelo teórico de Millon, o que diferencia o patológico e o normal não está
relacionada a uma distinção categórica (patológico x normal), mas sim em um continuum
onde os diversos modos de funcionamento, alguns mais adaptados e outros menos, são
encontrados (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Ao longo das Fases
Evolutivas, caracterizadas por distintas Funções de Sobrevivência, Estágios
Neuropsicológicos e Tarefas do Desenvolvimento, diferentes fatores influenciam a favor ou
não do desenvolvimento normal, ou seja, funcional e adaptado.
Segundo Millon (Millon & Daves, 1996; Davis, 1999; Strack, 1999), os mesmos
fatores que influenciam no desenvolvimento normal, influenciam no desenvolvimento de
modelos patológicos da personalidade. O desenvolvimento patológico é compreendido
como um rompimento e descompasso nos princípios evolutivos que dão base ao
funcionamento humano. Portanto, os transtornos da personalidade podem ser conceituados
como construtos empregados para representar uma variedade de estilos (protótipos) que
exibem comportamentos consistentemente inapropriados, mal-adaptativos ou deficientes
frente o sistema social a que o indivíduo está inserido (Millon & Daves, 1996).
Diferente de indivíduos funcionais, algumas pessoas estabelecem uma interação
muito limitada com o ambiente, resultando em uma variabilidade comportamental
inapropriada e insuficiente frente às necessidades ambientais, caracterizando uma interação
rígida. Um modelo de personalidade desadaptativo e clinicamente relevante caracteriza-se
por atividades e habilidades rígidas (inflexibilidade adaptativa), pela percepção de mundo,
desejos e comportamentos que perpetuam e intensificam dificuldades pré-existentes
(círculos viciosos), e uma tendência do indivíduo em baixar a resiliência frente a situações
de stress (estabilidade frágil) (Alchieri, 2004).
10
O desenvolvimento de transtornos de personalidade, segundo Millon (Millon &
Daves 1996), deve ser visto como um processo no qual as forças do organismo e do
ambiente demonstram influências não somente de circularidade e mutualidade, mas
também com uma ordem e continuidade seqüencial ao longo da vida do indivíduo.
Numerosos determinantes biogênicos e psicogênicos covariam para modelar e resultar em
transtornos da personalidade, e a seqüência formada entre estas fontes biogênicas e
psicogênicas cria uma espiral sem fim – há uma transação multideterminante na qual
potenciais biogênicos singulares e influências psicogênicas distintas moldam-se em
caminhos recíprocos e sucessivamente intricados.
Millon (Millon & Daves, 1996) aponta para a importância dos fatores biológicos
patogênicos, do histórico patogênico da experiência, e das fontes de aprendizagem
patogênica para a compreensão dos transtornos da personalidade. Considerar estes três
aspectos no desenvolvimento da personalidade possibilita uma maior amplitude no
entendimento da emergência de estilos mal-adaptativos da personalidade.
Fatores Biológicos Patogênicos
Por um lado, as funções psicológicas normais dependem da integridade de certas
áreas da estrutura biológica, por outro lado, uma vez que estas áreas sejam estruturadas e
organizadas enquanto disfunções biogênicas, elas são capazes de produzir rupturas na
normalidade, que caracterizam os aspectos patológicos. Contudo, é importante ressaltar que
os fatores psicológicos desempenham importante papel no desenvolvimento destas
estruturas biológicas, moldando sua expressão (Millon & Daves, 1996). Entre as diversas
variáveis biológicas que atuam como contribuintes no desenvolvimento de patologias,
Millon aponta para as seguintes:
- Hereditariedade: os fatores da hereditariedade não são definitivamente
determinantes para o desenvolvimento de transtornos da personalidade, mas
funcionam como uma base fisiológica que torna o indivíduo suscetível para
disfunções quando sob stress, ou ainda, inclinado a aprender comportamentos que
trazem dificuldades sociais.
11
- Individualidade Biofísica: algumas funções cerebrais estão mais relacionadas entre
si, mas o processo é produto da interação entre todas as áreas. Diferenças naturais
interindivíduos na estrutura anatômica e organização, resultantes do complexo
processo cerebral, podem resultar em um continuum de efeitos psicológicos
relevantes.
- Disposições Temperamentais: cada indivíduo vem ao mundo com um modelo
distinto de disposições e sensitividades. A partir disso, seqüências particulares de
experiências de vida irão resultar como conseqüência destes modelos distintos. As
características da criança evocam reações distintas em seus pais e estas reações
podem ser mais ou menos positivas ou negativas ao longo do desenvolvimento.
Alguns fatores se correlacionam de modo significativo com o modelo de
disposições temperamentais: aprendizado adaptativo (o temperamento aumenta ou
diminui a probabilidade de certos traços virem a ser preponderantes no indivíduo) e
reciprocidade interpessoal (o temperamento evoca contra-reações dos indivíduos ao
redor, que confirmam e acentuam as disposições temperamentais iniciais).
História Patogênica da Experiência
Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), simplesmente especificar uma causa
biogênica para o desenvolvimento de transtornos da personalidade, necessita-se traçar uma
seqüência para o desenvolvimento a partir das experiências. Comportamentos patológicos
emergem através de uma complexa seqüência de interações que inclui o aprendizado a
partir de experiências cotidianas. Fatores biológicos e psicológicos contribuem mutua,
recíproca e interdependentemente para o desencadeamento e manutenção de todo e
qualquer comportamento que surge ao longo da vida do indivíduo.
Ainda que se saiba que muitos dos comportamentos surgem e se desenvolvem
conjuntamente com a maturação do indivíduo, alguns comportamentos parecem ser
imutáveis. O que faz parecer que um comportamento é imutável é o quão profundamente e
de maneira penetrante ele se estabelece em um indivíduo, a ponto de ser julgado como
inalterável e integrante de seu conjunto biológico. O fato de uma característica ou
comportamento ser muito arraigado em um indivíduo não significa serem inatos, resultados
12
de traumas ou doenças, mas podem ser resultado de experiências psicológicas que moldam
o sistema biológico de maneira muito profunda (Millon & Daves, 1996).
Deste modo, durante o desenvolvimento de cada indivíduo, as estimulações que, ao
entrarem em contato com o aparato biológico e psicológico intrinsicamente entrelaçados,
podem se caracterizar como enriquecidas ou empobrecidas, a depender de seus aspectos
qualitativos e quantitativos. Uma estimulação muito enriquecida nos primeiros anos de
vida, refere-se a uma quantidade exagerada de estímulos, o que pode não ser saudável para
o indivíduo. Do mesmo modo, uma estimulação empobrecida refere-se a uma falta de
estímulos ambientais que possibilitem a ativação de determinadas reações cerebrais, o que
pode culminar no déficit de certas funções psicológicas (Millon & Daves, 1996).
Fontes de Aprendizagem Patogênica
Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), muito do que é aprendido acumula-se a
partir de uma série de eventos casuais e acidentais, não programados. Além da
administração dos pais na aprendizagem da criança, atividades do cotidiano providenciam
os mais diferenciados modelos de imitação. As crianças copiam estes modelos complexos
de comportamentos interligados no dia-a-dia, sem entendê-los e sem que exista a intenção
dos pais nesta aprendizagem.
Os estilos de personalidade, aponta Millon (Millon & Daves, 1996), são
fundamentalmente resultados das experiências de aprendizagem que se desenvolvem nos
mais diferentes contextos, desde o nascimento do indivíduo. Quando estas condutas são
insuficientes para a adaptação do indivíduo, podem levar à expressão de modos patogênicos
de funcionamento, conforme três possibilidades distintas (Alchieri, 2004):
- Eventos que provocam ansiedade excessiva por irem além das capacidades da
criança ou por questionarem profundamente seus sentimentos de segurança e
conforto.
- Eventos emocionalmente neutros que levam ao aprendizado de comportamentos
mal-adaptativos, ensinando ou reforçando comportamentos que causem dano
quando indevidamente generalizados. Estes comportamentos surgem a partir da
imitação de modelos mal-adaptativos de comportamentos.
13
- Insuficiência de experiências requisitadas para aprender determinados
comportamentos adaptativos, devido a um empobrecimento na estimulação,
experiências mínimas, entre outros fatores.
Além destes três modos distintos de influência na aprendizagem, Millon (Millon &
Daves, 1996) diferencia as fontes de aprendizado patológico em duas diferentes categorias:
experiências penetrantes e duradouras, que influenciam em toda seqüência do
desenvolvimento, e experiências traumáticas, aquelas experiências curtas que podem
ocorrer a qualquer momento durante a vida exercendo influências profundas no
desenvolvimento do indivíduo.
As experiências penetrantes e duradouras se referem, sobretudo, as influências
exercidas pelos integrantes da família de um indivíduo. As circunstâncias do cotidiano
familiar tem um efeito duradouro e acumulativo em todo o aprendizado da criança, assim, a
criança estabelece sentimentos de segurança, imita modelos de comportamento
interpessoal, adquire impressões de como os outros a percebem e se sentem sobre ela,
adquire uma auto-imagem, e aprende a lidar com situações estressoras, em um primeiro
momento, a partir do contato com a família (Millon & Daves, 1996). Millon aponta para
cinco principais aspectos desta categoria:
- Sentimentos e atitudes parentais: não é incomum crianças adquirirem atitudes e
sentimentos sobre si que sejam dicotômicos, em parte refletindo o relacionamento
com o pai, em parte o relacionamento com a mãe. De modo geral, os jovens
refletem o impacto de uma variedade de modelos adultos, resultando em uma
configuração mista da personalidade. De outro modo, pais que demonstram
sentimentos e atitudes de rejeição para com a criança podem contribuir para o
estabelecimento de sentimentos de isolamento e de percepção do mundo como
hostil.
- Métodos de controle do comportamento: refere-se a procedimentos utilizados para
regular o comportamento da criança e modelar minimamente seu aprendizado.
Freqüentemente, métodos acidentais ao longo do desenvolvimento demonstram
efeitos mais profundos do que métodos intencionais, até mesmo por serem mais
freqüentes na maioria dos casos. Os métodos de controle se subdividem em:
métodos punitivos (aumentam a probabilidade de modelos mal-adaptativos, uma
14
vez que tendem a fazer com que a criança guarde para si seus impulsos e contrarie
seus pensamentos), métodos de recompensa contingente (reforçamentos são
contingentes na performance da criança que é aprovada pelos pais. Estas crianças
tendem a ser mais sociáveis e a serem recompensadoras com os outros, mas podem
adquirir uma necessidade de aprovação social insaciável e indiscriminada), métodos
inconsistentes (geralmente os métodos utilizados pelo pai e pela mãe são
inconsistentes e contraditórios entre si, contudo, alguns pais são extremamente
imprevisíveis), métodos protetores (alguns pais restringem de tal forma as
experiências dos filhos que estes falham em aprender modelos básicos de
comportamento autônomo), métodos indulgentes (pais relaxados e muito
permissivos falham em dar qualquer tipo de limite e modelo para a criança, podendo
resultar em indivíduos com dificuldades de disciplina e responsabilidade, assim
como agressivos e não cooperativos).
- Estilos de comunicação da família: cada família constrói seu próprio estilo de
comunicação, portanto, o estilo de comunicação interpessoal a que cada criança é
exposta, serve como modelo para atender, organizar e reagir a expressões,
sentimentos e pensamentos dos outros. Em algumas famílias o estilo de
comunicação se configura enquanto amórfico, fragmentado ou confuso, podem
contribuir para emergência de sentimentos contraditórios e pensamentos irracionais
na criança.
- Conteúdo do aprendizado: os pais transmitem um grande número de valores e
atitudes, de modo intencional e de modo acidental para a criança. No que diz
respeito ao aprendizado patológico, alguns pais demonstram uma preocupação e
controle excessivo com a criança, o que pode resultar em uma ansiedade exagerada,
outros pais demonstram decepção exagerada para com os filhos, por estes falharem
em atender as expectativas parentais, o que pode resultar em sentimentos de culpa e
vergonha na criança. Assim, de um modo geral, atitudes destrutivas podem ser
ensinadas diretamente a partir de limites e disposições enviesadas ou restritas dos
pais.
- Estrutura familiar: a composição da família pode resultar em atitudes e relações
patológicas. Modelos deficientes de família, ou seja, a ausência de figuras adultas
15
significantes, discórdia familiar, na qual as crianças são sujeitas a brigas parentais
persistentes, rivalidade entre irmãos, que requer a divisão da atenção e aprovação
dos pais que nem sempre é equilibrada, e a posição ordinal dos filhos, ser o filho
mais velho, mais novo ou filho único, são fatores apontados por Millon como
importantes para o desenvolvimento de comportamentos patológicos.
É comum, na psicologia, que se atribua a experiências muito severas (traumas) a
manifestação dos mais diferentes transtornos. Contudo, Millon (Millon & Daves, 1996)
aponta para um cuidado que se deve tomar na generalização dos efeitos de eventos
traumáticos, uma vez que atualmente entende-se que muitos comportamentos patológicos
acumulam-se gradualmente através de repetitivas experiências aprendidas.
No que diz respeito aos eventos traumáticos (experiências traumáticas), seus efeitos
podem persistir ao longo do tempo devido ao alto nível de ativação neural que sucede a
resposta do indivíduo frente a situação estressora, culminando em uma grande variedade de
associações neurais relacionadas ao evento, assim como devido a redução nas habilidades
de discriminação do ambiente quando um indivíduo está sob situações extremamente
angustiantes e ansiógenas, resultando em uma generalização da reação emocional deste
indivíduo com relação aos objetos e pessoas que estão, por acaso, associados a fonte
traumática (Millon & Daves, 1996).
Continuidade dos Primeiros Aprendizados
Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), existem três importantes características
que influenciam na manutenção e continuidade dos comportamentos através da infância
para a vida adulta: a freqüência dos comportamentos, a supremacia das primeiras
aprendizagens e a sensitividade biológica. A freqüência diz respeito ao número de vezes
que o indivíduo vivenciou um determinado grupo de experiências, a supremacia se refere a
importância dos aprendizados na infância, que tendem a perpetuar influências ao longo da
vida adulta pela força de seu impacto, e, a sensitividade biológica aponta para as
influências exercidas pelo aparato biológico no aprendizado e nas percepções do indivíduo.
De modo geral, o processo que possibilita a continuidade dos primeiros aprendizados pode
16
ser agrupado em três categorias distintas: resistência à extinção, reforçamento social, e
auto-perpetuação.
A resistência à extinção refere-se a tendência de permanência das condutas
aprendidas, principalmente aprendizagens associadas a eventos difíceis de se reproduzir, de
se repetirem, como por exemplo, eventos da infância que, mesmo que se repitam, nunca
mais serão percebidos e interpretados pelo indivíduo da mesma maneira em sua vida adulta
(Alchieri, 2004).
Verifica-se a importância do reforçamento social enquanto mantenedor de
comportamentos na medida em que os modelos sociais e interpessoais são os que mais
contribuem para persistência de comportamentos (Millon & Daves, 1996). Determinados
aspectos dos vínculos sociais, sobretudo familiares, podem reforçar o que foi aprendido
anteriormente, especialmente a partir de experiências repetidas, reforçamento recíproco de
condutas e a existência de estereótipos que atuem como comportamentos infantis (Alchieri,
2004).
Por fim, a auto-perpetuação diz respeito a experiências significativas na vida infantil
que, mesmo que nunca mais ocorram, permanecem com seus efeitos e deixam sua marca
(registro na memória) na vida adulta. Para Millon (Millon & Daves, 1996), são quatro os
pontos mais importantes na auto-perpetuação das experiências: pressão protetora, distorção
perceptiva e cognitiva, generalização comportamental, e compulsão à repetição.
A pressão protetora refere-se a memórias dolorosas do passado que freqüentemente
são reprimidas, por um lado permitindo uma baixa na ansiedade, por outro, não
possibilitando a aprendizagem de modos de enfrentamento. Distorção perceptiva e
cognitiva aponta para determinados processos que transformam o presente de acordo com o
passado, uma vez que o indivíduo tende a responder a ameaças atuais em sua vida, de
acordo com a expectativa adquirida de ameaças anteriores. A generalização
comportamental diz respeito aos estímulos novos que são vistos como similares a estímulos
da experiência passada, de modo que o indivíduo tende a reagir de maneira similar á que
reagiu no passado. E, por fim, a compulsão à repetição refere-se ao processo em que se
restabelece condições que providenciaram uma gratificação parcial no passado e que
possibilitem satisfação total no presente – repetição de modelos passados (Millon & Daves,
1996).
17
Ainda se referindo à continuidade dos primeiros aprendizados, Millon (Millon &
Daves, 1996) aponta para o importante papel das influências sócio-culturais no
desenvolvimento e continuidade de determinados comportamentos, patológicos ou não.
Todos indivíduos passam pelo processo de socialização no qual aprendem
progressivamente a lidar com seus impulsos e desenvolver seus comportamentos ingênuos,
regulando-nos com as regras e práticas dos grupos sociais a que pertencem. As regras
sociais capacitam o indivíduo a sobreviver, a predizer minimamente o comportamento
alheio, a obter conforto e segurança, e aprender estratégias socialmente aceitáveis para
conseguir recompensas ao longo da vida.
O mundo contemporâneo tem suas contribuições e influências características, que
dificilmente poderiam ser listadas em sua totalidade em um estudo. Contudo, três
importantes condições da vida moderna podem ajudar a compreender influências sócio-
culturais relevantes dos dias atuais. Estas condições dizem respeito à operação de forças
que levam o indivíduo a ultrapassar os padrões a que ele é exposto no dia-a-dia, aos efeitos
contraditórios e ambíguos dos valores sociais contemporâneos, e as conseqüências da
desintegração de crenças sociais e objetivos (Millon & Daves, 1996).
A primeira condição refere-se principalmente ao esforço requerido do indivíduo
para realizações no cotidiano e para a competição nos mais diferentes âmbitos da vida. Em
parte, os valores da sociedade promovem ambição a partir da expectativa de que o
indivíduo sempre consiga vencer seus desafios, um esforço muitas vezes contínuo e
exagerado para ultrapassar o outro, o que pode ter como conseqüências desastrosas para o
indivíduo quando ele não consegue atingir as expectativas sociais (Millon & Daves, 1996).
A segunda condição diz respeito aos padrões sociais atuais, que freqüentemente se
mostram instáveis e contraditórios. Uma vez que os padrões sociais sejam contraditórios ou
ambíguos, o esforço para realização de demandas sociais e a busca pela vitória nas
competições ao longo da vida necessitam estar sempre se alterando, o que pode culminar
em dissonância intrapsíquica que pode trazer prejuízos importantes na vida do indivíduo
(Millon & Daves, 1996).
Por fim, a terceira e última condição aponta, sobretudo, para o aprendizado daqueles
indivíduos considerados como “marginalizados” em relação à maioria da população. Estes
indivíduos, fora da linha média da população, aprendem freqüentemente que existem
18
poucos padrões respeitáveis a que se aspirar, o que pode resultar na desintegração das
crenças que dão base para estas pessoas, assim como em uma ausência de um objetivo
maior para suas vidas (Millon & Daves,1996).
Os Transtornos da Personalidade
Verifica-se que o modelo teórico proposto por Millon (Millon & Daves, 1996;
Davis, 1999), descrito de maneira sintética anteriormente, abrange largamente uma série de
variáveis consideradas como importantes para o desenvolvimento de estilos funcionais e
disfuncionais da personalidade. Segundo esta proposta teórica, a personalidade é um
complexo padrão de características profundamente enraizadas que são expressas
automaticamente em quase todas as áreas do funcionamento psicológico (Millon,
Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
A partir deste conceito de personalidade, Millon diferencia padrões normais (ou
funcionais, adaptados) e padrões patológicos (ou disfuncionais, desadaptados). Contudo,
diferente da visão tradicional que entende o normal e o patológico como duas categorias
diferentes, na teoria de Millon ambos os estilos de funcionamento são colocados como
pontos distintos de um mesmo continuum, o que resulta em uma compreensão mais
abrangente das possibilidades de estilos da personalidade e na inexistência de uma linha
clara que divida estilos adaptativos e desadaptativos. (Millon & Daves, 1996).
Para Millon, a normalidade é a habilidade do indivíduo funcionar
independentemente e competitivamente obtendo senso pessoal de satisfação e
contentamento (Alchieri, 2004). No mesmo sentido, a patologia é caracterizada por
respostas inflexíveis ou deficientes às demandas cotidianas, trazendo desconforto, prejuízos
e redução nas oportunidades de aprendizagem (Millon & Daves, 1996). Quando muitos
traços da personalidade típicos ocorrem em conjunto, constituindo aquilo que Millon
aponta como protótipo da personalidade, verifica-se o desenvolvimento de um transtorno da
personalidade (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
Os transtornos da personalidade podem ser conceituados como um padrão
inapropriado, mal-adaptativo ou deficiente do comportamento frente às demandas sociais
(Millon & Daves, 1996; Alchieri, 2004). Com base em seu modelo teórico integrativo e nos
19
pressupostos evolucionistas, assim como nos grupos propostos no eixo II no DSM-III e
DSM-IV, Millon propôs quatorze transtornos da personalidade, sumarizados na Tabela 2,
extraída de Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath (2004).
Tabela 2. Breve Descrição dos 14 Transtornos da Personalidade
Transtornos da
Personalidade
Principais características
Esquizóide
Apático, indiferente, remoto, solitário. Não deseja relacionamentos humanos; demonstra
mínima consciência de sentimentos sobre si ou outros, assim como pouca ou nenhuma
ambição.
Evitativo
Hesitante, auto-consciente, embaraçado, ansioso. Tenso (por medo ou rejeição) em
situações sociais; impregnado por performance ansiosa constante; se vê como inadequado,
inferior ou desagradável; sente-se sozinho e vazio.
Depressivo
Melancólico, desencorajado, pessimista, taciturno, fatalista. Se vê como vulnerável e
abandonado; sente-se desvalorizado, culpado e impotente; se julga merecedor de críticas e
desprezo.
Dependente
Indefeso, incompetente, submissivo, imaturo. Não assume as responsabilidades; se vê
como frágil e fraco; busca reasseguramento de figuras fortes.
Histriônico
Dramático, sedutor, superficial, procurador de estímulos, vaidoso. Reage exageradamente a
eventos pequenos; exibicionista para assegurar atenção e favores para si; se vê como
atrativo e charmoso.
Narcisista
Egoísta, arrogante, grandioso, indiferente. Preocupado com fantasias de sucesso, beleza ou
realização. Se vê como admirável e superior, e designado a tratamentos especiais.
Antisocial
Impulsivo, irresponsável, depravado, incontrolável. Age sem consideração; agrupa-se
socialmente apenas para causa própria; desrespeita costumes sociais, regras e padrões; se
vê como livre independente.
Sádico
Explosivamente hostil, abrasivo, cruel, dogmático. Tende a explodir subitamente de raiva;
sente-se satisfeito através da dominação, intimidação e humilhação alheia; é teimoso e
fechado (inflexível).
Compulsivo
Contido, consciencioso, respeitoso, rígido. Mantém um estilo de vida limitado às regras;
adere fortemente às convenções sociais; vê o mundo em termos de regulamentos e
hierarquias; se vê como devoto, confiável, eficiente e produtivo.
Negativista
Ressentido, teimoso, cético, descontente. Resistente a expectativa satisfatória dos outros.
Deliberadamente ineficiente; expressa raiva indiretamente para impugnar os objetivos
alheios; humor alternado, irritável, mal-humorado e reservado.
Masoquista
Respeitador, fóbico de prazer, servil, vergonhoso, modesto. Encoraja os outros a tirarem
vantagem; ataca suas realizações deliberadamente; busca parceiros que condenam ou que
os maltratam.
Paranóide Reservado, defensivo, desconfiado e respeitoso. Hipervigilante aos motivos dos outros
visando miná-los ou danificá-los; sempre buscando evidências confirmatórias de esquemas
20
ocultos; sente-se íntegro, mas perseguido.
Esquizotípico
Excêntrico, auto-alienante, bizarro, ausente. Exibe comportamentos peculiares e
maneirismos; acha que pode ler o pensamento dos outros; preocupado com crenças e
sonhos estranhos; linhas obscuras entre fantasias e realidade.
Borderline
Imprevisível, manipulador, instável. Teme freneticamente o abandono e isolação;
experiencia rápidas flutuações no humor; mudanças rápidas entre amor e ódio; vê a si e
outros alternadamente como totalmente bom ou totalmente mal.
Os quatorze grupos de transtornos da personalidade representam protótipos
nomotéticos, que se subdividem em quatro subtipos idiográficos, conforme proposto por
Millon e Daves (1996). A partir de agora serão apresentados os quatorze transtornos da
personalidade, suas principais características e seus respectivos subtipos (Millon,
Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
A Personalidade Esquizóide
A personalidade esquizóide refere-se aquele transtorno da personalidade que
“carece de uma personalidade” (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
De maneira passiva, demonstram claro desinteresse em manter qualquer tipo de
relacionamento com outras pessoas, principalmente por entenderem que não terão ganhos
com estes relacionamentos. Normalmente não são referidos por ninguém, passando
desapercebidos de modo geral, mas podem ser apontados como emocionalmente
desapegados (Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath, 2004; Davis, 1999).
São vistos pelos outros como distantes, introvertidos, despreocupados e indiferentes,
e são caracterizados como indivíduos que se guardam para si. O tema central deste estilo de
personalidade é a ausência de necessidade de se relacionar. Dificilmente experienciam
fortes emoções, não expressam ações significativas, não possuem engajamentos
interpessoais, são remotos e indiferentes, assim como podem demonstrar um
empobrecimento cognitivo e um temperamento dificilmente excitável (Millon & Daves,
1996).
São indivíduos que freqüentemente buscam atividades e hobbies que podem ser
realizados isoladamente, e parecem fazer abstrações acerca do mundo, desenvolvendo
mundos fantasiosos para seus sonhos e ambições. Segundo Millon (Millon, Grossman,
21
Millon, Meagher e Ramnath, 2004), a personalidade esquizóide encontra sua variante
normal no chamado Estilo Retirante. O estilo retirante é caracterizado por indivíduos que
necessitam minimamente de receber ou dar afetos, e pouco se envolvem emocionalmente
com outros; exibem poucos relacionamentos e laços afetivos; são vistos como pessoas
calmas, plácidas, despreocupadas e indiferentes aos sentimentos alheios.
Variações da Personalidade Esquizóide
A personalidade esquizóide apresenta quatro diferentes variações de seu protótipo
puro, que é raramente encontrado no mundo real. Estas variações são propostas, sobretudo,
pela freqüente combinação de características dos protótipos da personalidade encontrada
nos indivíduos (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São elas:
Esquizóide Indiferente, Esquizóide Distante, Esquizóide Despersonalizado, e Esquizóide
Inafetivo.
- Esquizóide Indiferente: combinação com a personalidade depressiva. Demonstra um
ritmo pessoal lento, baixo nível de ativação, e ausência de vigor e energia. São
indivíduos que se fadigam facilmente, expressam fraquejo motor, e são vistos como
pessoas muito confortáveis ou preguiçosas. Não vão atrás de suas responsabilidades
ou de prazeres simples, e não comportam-se espontaneamente. Nas relações
interpessoais, são vistos como quietos, sem graça, com pouca iniciativa, anedônicos
e desapegados.
- Esquizóide Distante: combinação com a personalidade evitativa, e níveis mais
severos podem apresentar características típicas do transtorno da personalidade
esquizotípica. Apresenta capacidade reduzida para sentir e relatar seus sentimentos
para os outros. Podem expressar ansiedade social e manifestar comportamentos
excêntricos, pensamentos autistas e despersonalização. Caracterizam-se por
engajarem-se marginalmente nos relacionamentos, ainda que de maneira
dependente.
- Esquizóide Despersonalizado: combinação com a personalidade esquizotípica. São
indivíduos vistos pelos outros como desligados, sonhadores e distantes, afastados do
mundo real. São extremamente desengajados e desatentos aos temas do dia-a-dia.
22
Parecem preocupados com algo interno, mas de fato não carregam nenhum tipo de
preocupação. São percebidos como observadores externos de si, desapegados não só
do mundo, mas de seus próprios sentimentos e pensamentos, imaginação e fantasias,
e até mesmo de seus corpos físicos.
- Esquizóide Inafetivo: combinação da apatia típica da personalidade esquizóide e a
constrição emocional e formalidade da personalidade compulsiva. São indivíduos
isolados, emocionalmente desapegados, que eliminam efetivamente toda e qualquer
expressão emocional.
Personalidade Evitativa
Algumas pessoas são extremamente sensíveis a humilhação e desaprovação social, e
buscam ativamente a proteção de outros por ameaças percebidas como inevitáveis. Ao
longo da vida engajam-se em pouquíssimas relações interpessoais, têm poucos amigos
íntimos, freqüentemente estabelecem vínculos apenas com familiares (Davis, 1999).
Contudo, são indivíduos que desejam as relações sociais, e sofrem com a solidão e
isolamento, mas permanecem isolados por se perceberem como vulneráveis a humilhações
sociais, assim como incompetentes e estúpidos perante os outros. Segundo Millon (Millon
& Daves, 1996), estas pessoas podem se caracterizar por apresentarem a chamada
personalidade evitativa.
Personalidades evitativas freqüentemente ficam em silêncio e se fazem passar como
invisíveis, desapercebidos pelos outros. Resistem a qualquer mudança de vida que os deixe
mais suscetíveis aos olhos públicos, como promoções no trabalho e outros ganhos de vida.
Ao mesmo tempo em que desejam ter relações, se vêem como desgraçados em um mundo
privado pela vergonha, sozinhos em suas inadequações. Millon (Millon, Grossman, Millon,
Meagher e Ramnath, 2004) aponta para a variante normal da personalidade evitativa,
chamada de Estilo Hesitante.
O estilo hesitante caracteriza-se por uma sensibilidade à indiferença e rejeição
social, são inseguros de si, e são cuidadosos em situações sociais e interpessoais, sobretudo
com estranhos. Antecipam possíveis dificuldades nas relações e temem se embaraçar
23
perante os outros. Muitos preferem trabalhar unicamente sozinhos ou em pequenos grupos,
nos quais sabem que serão aceitos. Uma vez no grupo, mostram-se abertos e cooperativos.
Variações da Personalidade Evitativa
Assim como os demais protótipos de transtornos da personalidade, a personalidade
evitativa possui diferentes subgrupos que apontam para variações no estilo básico do
funcionamento evitativo (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São eles:
Evitativo Conflitante, Evitativo Hipersensitivo, Evitativo Fóbico, e Evitativo Auto-
Abandonado.
- Evitativo Conflitante: possui características combinadas entre a personalidade
evitativa e a personalidade negativista. O conflito básico na personalidade evitativa
refere-se ao desejo de intimidade versus o medo da vulnerabildade, que
naturalmente emerge em relações íntimas com outros. Nesta variação, há uma
ambivalência sobre si e sobre os outros, assim como uma idealização de amigos e
companheiros. São indivíduos que se isolam, e são percebidos como petulantes e
mal-humorados. Podem atacar os outros por estes falharem em atender seus afetos,
e reportam com freqüência não serem atendidos, serem desvalorizados e
humilhados, apresentando humor mais instável que o evitativo clássico. Em
períodos de stress tornam-se indivíduos muito hostis e impulsivos.
- Evitativo Hipersensitivo: combinação com a personalidade paranóide, contudo,
exibe grande contato com a realidade. São conscientes de suas deficiências, mas
atribuem grande parte delas aos outros, não se responsabilizando de suas
dificuldades. Caracterizam-se como indivíduos tensos e irritadiços, vigilantes a
sinais de rejeição e abuso, e são excessivamente atentos aos motivos alheios. Esta
apreensão leva a um humor instável que pode se caracterizar por longos períodos de
auto-desvalorização. Alternam entre uma profunda tristeza (personalidade evitativa)
e uma projeção irracional (personalidade paranóide).
- Evitativo Fóbico: combinação com a personalidade dependente. Do mesmo modo
que o funcionamento evitativo “puro”, o evitativo fóbico deseja relacionar-se
intimamente com outros. Contudo, de outro modo, investem sua confiança em um
24
outro significante e temem exageradamente uma potencial perda do relacionamento.
Ficam presos entre o desejo de se relacionar e o medo da possibilidade de
abandono, o que os leva a procurar um substituo simbólico para seus medos e
raivas. Para muitos evitativos fóbicos, a expressão do medo na presença do objeto
fóbico também representa um desejo de compaixão, um desejo de fazer uso
instrumental do medo como meio de desarmar a rejeição e a ameaça do abandono
do suporte do outro.
- Evitativo Auto-Abandonado: combinação do recuo social da personalidade
evitativa, com a ruminação cognitiva de auto-desvalorização da personalidade
depressiva. São indivíduos que fantasiam para evitar o desconforto de se relacionar
com outros, e são conscientes deste processo, o que os leva a se perceberem mais
dolorosamente como inadequados. Ao longo do tempo as fantasias se tornam cada
vez menos efetivas e seus pensamentos se voltam para o próprio sofrimento. Mais e
mais, não conseguem tolerar serem si próprios e buscam o completo retiro de suas
consciências, o que pode levar a um descuido psíquico e físico de si.
Personalidade Depressiva
Em algumas pessoas, características depressivas, como anedonia e humor triste são
mais que um conjunto de sintomas. São indivíduos que se sentem tristes e culpados, cujo
estado de humor emerge como conseqüência de uma matriz completamente penetrante, de
características muito fixas. Por estarem quase sempre com humor deprimido e triste, se
vêem como inadequados e inúteis.
A personalidade depressiva caracteriza o indivíduo que se submerge em auto-
críticas pelos menores defeitos e tendem a se culpar quando as coisas não dão certo.
Freqüentemente desejam que a vida seja diferente, ainda assim, não tomam qualquer tipo
de iniciativa para mudanças, e se repreendem por perderem oportunidades e se sentem
fracos para mudar o destino.
Variações da Personalidade Depressiva
25
A personalidade depressiva exibe características de outros transtornos da
personalidade. Os humores resultantes e ações que estes indivíduos manifestam dão uma
coloração diferente ao modelo básico da personalidade depressiva. As variações são:
Depressivo de Humor Patológico, Depressivo Temporário, Depressivo Auto-Derrogado,
Depressivo Mórbido, e Depressivo Irriquieto.
- Depressivo de Humor Patológico: esta variação da personalidade depressiva
representa a combinação com a personalidade negativista. São indivíduos que estão
sempre descontentes e reclamando, eternos queixosos, e irritáveis crônicos. Sentem-
se freqüentemente doentes e não se contentam com nada, vacilando entre atormentar
a própria vida ou virar seu negativismo para os outros, para que suas reclamações
sejam ouvidas.
- Depressivo Temporário: refere-se a combinação com as personalidades histriônica
ou narcisista. São pessoas que entendem o sofrimento como algo nobre, e acreditam
que unicamente os capacitados com sensitividades especiais têm a possibilidade
para sentir com profundidade e auto-consciência. Fazem da dor um objeto de
contemplação, e gostam de demonstrar seu humor infeliz através da aparência. Pela
linguagem e leitura rebuscadas, causam a impressão de um sofrimento refinado que
provoca admiração e atenção dos outros.
- Depressivo Auto-Derrogado: diz respeito à combinação com a personalidade
masoquista. Exibem extraordinária culpa, conjuntamente com a necessidade de
descarregá-la através de diferentes modos de auto-punição. Quando há algum
conflito com o outro, antecipam o abandono, levando-os a admitir a fragilidade e a
condenar-se a críticas e a rejeição de ajuda. Manifestam sentimentos de hostilidade
e ressentimento com freqüência.
- Depressivo Mórbido: combinação da personalidade depressiva com as
personalidades masoquista e dependente. Demonstram uma profunda paralisia
depressiva, assim como sentimentos de rejeição e melancolia. Por se verem como
um peso, procuram se despistar dos outros, e suas mentes são preenchidas por
pensamentos opressivos e temem os novos dias que virão. Há o temor de uma
maldição iminente e do absoluto desamparo, assim como um senso penetrante de
culpa e resignação pelo destino desesperançoso. Por fim, exibem crenças de
26
incapacidade para enfrentar os problemas, o que os leva a características típicas dos
dependentes.
- Depressivo Irriquieto: refere-se a combinação com a personalidade evitativa. São
pessoas que manifestam freqüentemente agitação e angústia, são irritadiços, mas
restringem a irritação para si próprios, demonstram desânimo e desafeição a si. São
nervosos, irritados, distraídos, e suas vidas emocionais consistem de uma seqüência
de frágeis humores, curtos e intensos. Desesperados pela ausência de ganhos na
vida, sentem-se obrigados a fazer algo para expressar uma visão profundamente
pessimista de si e do mundo. O suicídio pode ser o modo final para mostrarem
algum controle sobre suas vidas.
Personalidade Dependente
Pessoas que arranjam suas vidas para assegurar suprimentos de cuidado constante
do ambiente e direção na vida, e se preocupam demasiadamente em errar e decepcionar os
outros, são características típicas da personalidade dependente. O bem-estar do outro
sempre vem primeiro, custe o que custar. São comprometidos com seus relacionamentos,
especialmente com seus parceiros e com o casamento. Essencialmente, vivem suas vidas
através dos e para os outros, a quem oferecem carinho, entusiasmo e consideração. Tendem
a assumir um papel mais passivo nos relacionamentos, submetendo-se a opinião e desejos
daqueles que amam, cujo prazer e satisfação eles sentem vicariamente (Davis, 1999).
Preferem harmonia nos relacionamentos e tendem a se desculpar ou a se arrepender
quando, na verdade, outros deveriam assumir grande parte da responsabilidade. Muitas
características da personalidade dependente são esperadas e almejadas pela sociedade,
como estar feliz quando alguém que se ama está feliz e fazer sacrifícios pelos outros. São
indivíduos que freqüentemente temem fazer algo para si próprios, e muitos são incapazes
de tomar uma decisão rotineira sem antes pedir por um conselho externo.
Por colocarem suas vidas sob o controle da vida alheia, acabam sufocando seus
parceiros por serem pegajosos e se deixam vulneráveis ao abandono. Assim, para se
proteger da possibilidade do abandono, se submetem aos desejos dos parceiros ou se
tornam tão amáveis que não deixam abertura para serem deixados. Segundo Millon
27
(Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath, 2004) a personalidade dependente possui
uma variante normal, chamada de Estilo Concordante.
O estilo concordante caracteriza-se por serem pessoas cooperativas, amáveis e
respeitosas. Adaptam suas preferências para serem compatíveis aos que estão em volta. São
indivíduos confiáveis, por serem agradáveis e respeitosos, reconciliam diferenças e fazem
decisões para eliminar conflitos. São genuinamente empáticos e possuem uma grande
capacidade para sustentar amores incondicionais. Infelizmente, todos estes traços saudáveis
podem se tornar facilmente patológicos, uma vez que os dependentes tendem a fusionar
suas identidades com a dos outros (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
Variações da Personalidade Dependente
Para a personalidade dependente existem diversas variações que expressam suas
combinações com outras personalidades. As variações são: Dependente Preocupado,
Dependente Acomodado, Dependente Imaturo, Dependente Ineficaz, e Dependente
Abnegado.
- Dependente Preocupado: refere-se a combinação da personalidade dependente com
a personalidade evitativa. Muitos destes indivíduos vivem uma existência parasita
sustentada por ganhos e requisitos, e possuem uma apreensão exagerada que resulta
em ansiedade para autonomia e pouca iniciativa. Ficam facilmente incomodados e
experienciam um senso generalizado de temor e maus presságios. São
especialmente vulneráveis a ansiedade de separação e temem a perda de suporte e
cuidado dos outros. Diferente das outras variações da personalidade dependente,
podem expressar seus medos com explosões de raiva direcionada para que, falha em
satisfazer suas necessidades.
- Dependente Acomodado: combinação com traços da personalidade masoquista. São
mais submissos, agradáveis, e famintos por afeição, cuidado e segurança que os
outros subtipos da personalidade dependente. O medo do abandono os leva a uma
exagerada obediência e a serem demasiadamente prestativos. Alguns procuram ser o
centro das atenções através de comportamentos de auto-dramatização. São graciosos
e benevolentes nos relacionamentos, evitando conflitos, assim, preocupam-se com a
28
aprovação externa, podendo não desenvolver uma identidade real, sem valorizar as
próprias características, mas unicamente as relações com outros. Tendem a se auto-
sacrificar e assumir o papel de inferior e subordinado. A amabilidade serve para
encorajar os outros a tomar controle de suas vidas, compensando sua
incompetência. Costumam carregar um sorriso no rosto e ter palavras amigáveis,
mas dificilmente tomam responsabilidades para si.
- Dependente Imaturo: é uma variante do funcionamento básico da personalidade
dependente. Caracteriza-se pelo subdesenvolvimento, inexperiência e pouca
sofisticação. São indivíduos que tendem a demonstrar poucas ambições e energia
para o que se espera em adultos, passividade para desenvolver competências, e
dificuldades para assumir papéis. Tornam-se pessoas difíceis de lidar quando há
demandas para eles ou quando se espera que façam algo. Podem ser vistos como
irresponsáveis e negligentes.
- Dependente Ineficaz: refere-se à combinação da personalidade dependente com a
personalidade esquizóide. Manifestam pouca vitalidade, baixo nível de energia,
facilmente fatigáveis, pouco espontâneos e fracos em suas expressões. Devido sua
natureza infantilizada, procuram por um estilo de vida sem problemas, sem
responsabilidades, desligando-se das demandas do cotidiano e não se engajando em
nada que demande profundidade e intimidade.
- Dependente Abnegado: é a combinação com a personalidade depressiva. Os temas
centrais desta variação é a idealização do outro e a total identificação. Carregam a
característica marcante da personalidade dependente de serem indivíduos
subordinados aos outros, contudo, de modo muito mais intenso. Se submetem
completamente aos desejos e necessidades alheias, deixando de lado suas
identidades no processo. Negam seus potenciais e a independência própria não é
almejada. Através da fusão com os outros, asseguram um senso de significância,
estabilidade emocional e propósito de vida, possibilitando adotarem valores e
atitudes diferentes daquelas de suas preferências. Quanto mais se fusam com o outro
idealizado, mais se apegam emocionalmente, e mais se sentem significantes no
mundo. Quando seus relacionamentos apresentam algum tipo de problema, tendem
a expressar ansiedade e depressão, mais do que outras variações expressariam.
29
Personalidade Histriônica
São indivíduos que podem ser descritos como sedutores, indecisos, muito emotivos,
expansivos e procuradores de atenção. A raiz de suas características está no sentimento de
desamparo e necessidade de fazer dos outros o centro de suas vidas. A personalidade
histriônica refere-se a pessoas que gostam de chamar atenção dos outros, são tipicamente
dramáticas e freqüentemente sedutoras. Sentimentos de ressentimento e depressão podem
ser evocados pela falta de admiração e reverência alheia. São extremamente influenciáveis,
sobretudo visando a interação com aqueles que almejam. Uma vez em uma conversação
com a pessoa alvo, comunicam-se de modo expressivo e com riqueza de detalhes, o que
também pode ser notado pelo modo com que se vestem, caracterizando memoráveis
combinações (Davis, 1999).
Do mesmo modo que o estereotipo da personalidade anti-social é o homem, o
estereotipo da personalidade histriônica é a mulher. São indivíduos constantemente
exagerados e atuantes. A variação normal da personalidade histriônica é chamada de Estilo
Sociável, que se caracteriza por indivíduos que se focam mais na socialização do que na
atuação em si, e possuem grande confiança em sua influência e charme (Millon, Grossman,
Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São usualmente descritos como calorosos, vigorosos,
emocionantes, cheios de energia e provocantes, e podem ser percebidos como alegres e
otimistas. Muitos são abertos para novas possibilidades e apreciam novas experiências.
Variações da Personalidade Histriônica
Combinações com modelos secundários levam a diferentes colorações de modelos
primários, ainda assim, ocasionalmente subtipos podem ser constituídos meramente a partir
da combinação de traços principais de um único modelo. As variações da personalidade
histriônica são: Histriônico Teatral, Histriônico Infantil, Histriônico Vivaz, Histriônico
Tempestuoso, e Histriônico Malicioso.
- Histriônico Teatral: é uma variação do protótipo básico da personalidade
histriônica. São especialmente dramáticos, românticos e buscam intensamente por
30
atenção. O self é subordinado às demandas sociais, transformado, sintetizado e
fabricado para otimizar seu apelo ao nicho social. Seu maior esforço consiste na
Busca por conhecer os motivos alheios e lhes dar o que é atrativo, prazeroso e
sedutor. Costumam exibir de modo dramático suas realizações intelectuais ou
sucessos financeiros. Estão freqüentemente engajados em relacionamentos
amorosos, ainda que sejam relacionamentos simbólicos.
- Histriônico Infantilizado: diz respeito à combinação com a personalidade
borderline. Através do engajamento em relacionamentos prematuramente
sexualizados e atração de outros fortes ao redor, experenciam mais gratificações e
poucas frustrações. Assim, não necessitam desenvolver um senso sólido de
identidade própria. Pela ausência do senso de identidade, nos relacionamentos com
outros significantes se mostram extremamente dependentes e exigentes com relação
suas necessidades. Buscam constantemente o reasseguramento para manter a
própria estabilidade e vacilam entre extrema submissão e profunda depressão
quando o reasseguramento externo não vem. São indivíduos que expressam grande
inconstância e imprevisibilidade emocional, que vai do amor para raiva, e então
para intensa culpa.
- Histriônico Vivaz: refere-se à combinação da personalidade histriônica com alguns
traços da personalidade narcisista, ainda assim, é uma síntese da sedução histriônica
com a energia típica da hipomania. Como resultado, verifica-se atratividade,
charme, jovialidade, intensidade e entusiasmo nestes indivíduos. São
interpessoalmente alegres, otimistas, espontâneos e impulsivamente impressionistas,
sem se preocuparem com as conseqüências futuras. São orientados por uma
necessidade de excitação e estimulação, e muitos são apaixonados, engajando-se em
diversos relacionamentos em uma rápida sucessão.
- Histriônico Tempestuoso: é a combinação da personalidade histriônica e negativista.
São indivíduos intensamente mal-humorados e emocionalmente instáveis, que
podem apresentar alguma atratividade e uma superficial sociabilidade quando estão
em períodos tranqüilos de suas vidas. Contudo, são facilmente aborrecidos,
excessivamente dramáticos, e muito reativos à estimulação externa. Muitos
alternam entre períodos de extrema excitação emocional e um impulsivo
31
fingimento. Por possuírem uma identidade fragmentada, como na personalidade
borderline, são muito vulneráveis a modos descontrolados de grosseria e mudam
rapidamente suas emoções, perdem o controle quando são incomodados, e reagem
com turbulência às menores provocações.
- Histriônico Malicioso: refere-se à combinação com a personalidade anti-social. São
indivíduos que causam uma boa impressão em um primeiro momento, e parecem
sociáveis e sinceros, exibindo espontaneidade e charme, de modo que os outros ao
redor tendem a baixar rapidamente suas defesas. Contudo, esta variação mostra-se
mais manipuladora que o funcionamento básico da personalidade histriônica, e
utilizam-se disso para que portas sejam aberta em suas vidas, escondendo
temporariamente características básicas da personalidade anti-social.
Personalidade Narcisista
A personalidade narcisista é caracterizada por indivíduos que se vêem como
superiores, portadores de uma arrogância inviolável. Se perdem em suas fantasias auto-
fabricadas de poder divino, riquezas inacabáveis, gênio intelectual, ou inigualável
celebridade. Percebem-se como melhores que os outros e julgam as pessoas com desprezo e
superioridade. Consideram os outros como meros operários, assim, acreditam que suas
necessidades devam ser atendidas com antecipação, e que os outros devem livrá-los de
obrigações mundanas (Davis, 1999).
O egocentrismo do narcisista o torna indiferente ao que é correto e ao bem-estar
alheio, e até mesmo indiferente e desrespeitador das leis. Visando justificar suas atitudes,
racionalizam constantemente, de modo a apresentar razoes convenientes que explicam sua
desconsideração e atitude superior. Quando confrontado, torna-se ainda mais arrogante,
desprezível e irritadiço.
Millon (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004) nomeou de Estilo
Afirmativo a variação normal da personalidade narcisista. São indivíduos competitivos e
seguros de si. Podem manifestar um senso de ousadia que deriva de suas crenças de
inabalável inteligência ou talento. Ambiciosos, assumem o papel de líderes, ativamente
decisivos, e esperam que os outros reconheçam suas habilidades superiores. São
32
audaciosos, inteligentes e persuasivos. A auto-apreciação do estilo afirmativo pode resultar
em sentimentos de que são superiores e merecem um tratamento especial.
Variações da Personalidade Narcisista
A personalidade narcisista caracteriza indivíduos freqüentemente percebidos como
ofensivos, grandiosos e antipáticos. Contudo, assim como os outros transtornos da
personalidade, seu protótipo básico apresenta variações distintas: Narcisista Imoral,
Narcisista Compensatório, Narcisista Amoroso, e Narcisista Elitista.
- Narcisista Imoral: refere-se a combinação da personalidade narcisista com os
comportamentos recorrentes e irregulares da personalidade anti-social. Muitos são
socialmente bem-sucedidos através da exploração dos limites sociais que fazem
margem com a ilegalidade. Outros são encontrados em programas de reabilitação
para drogadictos, centros para jovens criminosos, e prisões. Outros ainda, são
oportunistas e tiram vantagem dos outros para obterem ganhos pessoais. São
pessoas vingativas e orgulhosas de suas vítimas, e praticamente não internalizam
nenhum tipo de proibição moral. São vistos como inescrupulosos, imorais e
enganadores, e mostram indiferença ao bem-estar alheio.
- Narcisista Compensatório: variação que combina a personalidade narcisista com as
personalidades evitativa e negativista. Caracteriza-se por desenvolver ilusões de
superioridade para compensar profundos sentimentos de inferioridade. Faz da vida
um meio de satisfazer suas aspirações de status, reconhecimento e prestígio. São
indivíduos excessivamente sensitivos às reações alheias, e buscam esconder seu
senso de deficiência sobre si criando uma fachada de superioridade. Ao invés de
viverem suas vidas, se deixam levar por um teatro imaginário e fantasioso, não
relacionado com o mundo real. Quando se sentem ameaçados, se defendem com
arrogância e desrespeito.
- Narcisista Amoroso: combina o temperamento narcisista com traços da
personalidade histriônica. É o subtipo definido por um jogo de sedução erótica que
estes indivíduos jogam com seus objetos de afeição. Demonstram habilidades para
seduzir e atrair aquele que necessita de carinho e afeição, enquanto desempenham
33
seus desejos hedonistas e satisfazem seu apetite sexual. Embora este jogo implique
usualmente em um relacionamento a dois, não são inclinados a intimidade legítima,
escolhendo relacionar-se simultaneamente com potenciais conquistas. Para maior
parte deles, o parceiro não passa de alguém que providencia um corpo caloroso que
eles podem temporariamente explorar quando estão entediados. Confronto, críticas
e punições provavelmente não os farão mudar.
- Narcisista Elitista: é uma variação da personalidade narcisista básica. São
indivíduos que constroem uma falsa fachada para amplificar sua auto-imagem
superior. Mostram-se poderosos, e seu exibicionismo pode ser focado em
habilidades intelectuais ou em riquezas acumuladas. Sabem como exibir símbolos
de status e ganhos, e muitos idolatram o reconhecimento e se engajam em auto-
promoções. Por fazerem muitas afirmações sobre si, expõem uma grade divisão
entre o eu atual e a auto-apresentação.
Personalidade Anti-social
A personalidade anti-social é aquele modo de funcionamento no qual maldade e
loucura são encontrados difusos. Algumas vezes os crimes de indivíduos com um
funcionamento anti-social são tão incompreensíveis e moralmente repugnantes que
observados isoladamente causam dúvidas sobre qualquer possibilidade de sanidade. São
indivíduos com pouca consciência da magnitude de seus atos, contudo, a despeito dos casos
extremos encontrados em filmes e na literatura (geral e científica), a maioria dos anti-
sociais encontram locais confortáveis dentro da sociedade para que possam ter uma vida
mais adequada (algumas profissões, como políticos e militares, podem ser utilizadas como
exemplos) (Davis, 1999).
A variação normal da personalidade anti-social é chamada de Estilo Discordante,
representada por pessoas não convencionais, que fazem as coisas de um modo muito
peculiar e concordam com as conseqüências de seus atos, sem considerar como são ou
serão julgadas. Às vezes utilizam os limites entre legalidade e ilegalidade em busca de seus
desejos e objetivos. Se vêem como independentes e criativos, e são freqüentemente
criticados por serem impulsivos e irresponsáveis.
34
Variações da Personalidade Anti-Social
As variações dos modelos básicos das personalidades são descritas como
combinações entre construtos que descendem diretamente da teoria integrativa e
evolucionista de Millon. As variações da personalidade anti-social são: Anti-social
Cobiçoso, Anti-Social Defensor da Reputação, Anti-social Aventureiro, Anti-social
Nômade, e Anti-Social Malévolo.
- Anti-social Cobiçoso: é uma variação do protótipo básico da personalidade anti-
social. São indivíduos com um grande desejo de possuir e dominar, e sentem que a
vida não lhes dá o que merecem, que são privados de amor, suporte e ganhos
materiais. São orientados pelo desejo de retribuição, em conseguir do destino o que
não lhes foi dado. Em meio a raiva e o ressentimento, seu maior prazer repousa em
ter controle das propriedades e posses alheias. Muitos sentem um profundo senso de
vazio, com imagens vagas de como uma vida diferente poderia ter lhes dado boas
oportunidades.
- Anti-social Defensor da Reputação: refere-se à combinação entre a personalidade
anti-social e personalidade narcisista. São motivados pelo desejo de defender e
estender suas reputações de coragem e resistência. Seus atos visam assegurar que os
outros os noticiem com o respeito que entendem merecer. Vão contra a
possibilidade de desprezo, e atuam para serem vistos como significantes pela
sociedade, e não desrespeitáveis ou indiferentes, caso o contrário, podem ser
intensamente explosivos e ferozes.
- Anti-social Aventureiro: é a combinação com a personalidade histriônica. São
indivíduos que se arriscam com a intenção de impressionar os outros com coragem,
mas são indiferentes sobre a possibilidade de conseqüências dolorosas. Desejam ser
vistos pelos outros como não afetáveis por experiências perigosas, mostrando-se
inabaláveis frente a possibilidade de morte ou acidentes graves. Por fim, são pessoas
irresponsáveis em suas atitudes, e falham em considerar as conseqüências de suas
vidas e dos outros, buscando cada vez mais desafios.
35
- Anti-social Nômade: esta variação diz respeito à combinação da personalidade anti-
social com as personalidades esquizóide e/ou evitativa. São pessoas levadas à
margem da sociedade, buscando fugir do meio social, no qual se sentem
desnecessários, deixados de lado ou abandonados. Se vêem como amaldiçoados e
desejam existir apenas à margem de um mundo que os rejeita. Centrados na auto-
piedade, se afastam da sociedade, sendo vistos como vagabundos, itinerantes ou
ciganos.
- Anti-social Malévolo: refere-se à combinação com as personalidades paranóide e
sádica. Caracterizam-se como indivíduos hostis, rancorosos, cruéis, malignos,
brutos, insensíveis e vingativos, que atuam com desafio odioso e destrutivo frente a
vida social convencional. Antecipam a traição e punição, do mesmo modo que a
personalidade paranóide, e para eles, emoções delicadas são entendidas como sinais
de fraqueza. Quando confrontados com resistência, são experientes na arte de se
exibir e aceitar a pressão do oponente até que este recue.
A Personalidade Sádica
Embora possam ser violentos a ponto de cometerem um assassinato, o
comportamento sádico é caracterizado pelo conhecimento do sofrimento alheio seguido de
prazer pessoal. E, a personalidade sádica se caracteriza não somente por comportamentos
sádicos, mas quando a organização do princípio de vida do indivíduo é movida pelo desejo
de causar dor psicológica e/ou física nos outros. Portanto, a personalidade sádica é
apontada como aquela que causa sofrimentos gratuitos nas pessoas ao redor (Millon,
Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
A variação normal da personalidade sádica, Estilo Controlador, diz respeito a
indivíduos que se satisfazem com o poder de orientar e intimidar o outro, assim como
evocar obediência e respeito. Rígido e não sentimental, são efetivos líderes, determinando
tarefas e coagindo performances e resultados de seus subordinados. Também se satisfazem
ditando e manipulando as pessoas que estão em volta.
Variações da Personalidade Sádica
36
A personalidade sádica pode combinar critérios de diferentes modos de
funcionamento, em diferentes direções, e com diferentes histórias. Muitos possuem
características secundárias da personalidade que sintetizam com o modelo principal
(Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). As variações propostas são:
Sádico Explosivo, Sádico Tirânico, Sádico Impositivo, e Sádico Fraco.
- Sádico Explosivo: é a combinação com a personalidade borderline. São
caracterizados por súbitas explosões de uma incontrolável raiva, freqüentemente
descarregada contra membros da própria família. Parecem poder ser enfrentados
normalmente pelos outros, até que um limiar idiossincrático é alcançado, reagindo
de maneira abrasiva e com possíveis violências físicas. A agressão não é usada para
dominação dos outros, mas para inibir sentimentos de frustração e humilhação.
Muitos são hipersensitivos ao sentimento de traição, e podem ser profundamente
frustrados frente o fracasso e a desesperança.
- Sádico Tirânico: refere-se à combinação com as personalidades negativista ou
paranóide. É provavelmente o mais assustador e cruel subtipo, conjuntamente com o
subtipo anti-social malévolo. Alguns destes indivíduos são fisicamente violentos,
enquanto outros submetem suas vítimas a rígidas críticas, poderosa raiva, e vulgares
e amargas desgraças. Saboreiam ameaças e brutalizam os outros de modo impiedoso
e sem humanidade. Demonstram profunda satisfação em criar sofrimento nos
outros, observar seus efeitos e refletir em suas ações.
- Sádico Impositivo: é a combinação com a personalidade compulsiva. São
indivíduos caracterizados por infligir punição aos outros para fins próprios, e são
incapazes de se satisfazer. Sentem ter o direito de controlar e punir os outros, e se
camuflam através de regras sociais (como buscar um emprego que os permita punir
os outros), justificando suas condenações a partir da justiça, na qual seus profundos
motivos são claros. Por fim, são indivíduos que não demonstram ter algum tipo de
limite em suas emoções.
- Sádico Fraco: diz respeito à combinação da personalidade sádica com a
personalidade evitativa. São pessoas profundamente inseguras e covardes, que
reagem com atitudes agressivas (caricatura do “cara durão) para ocultar seus
37
próprios medos, tentando mostrarem-se fortes e intimidáveis. Seu mundo privado é
povoado por poderosos e agressivos inimigos.
Personalidade Compulsiva
São pessoas muito eficientes, trabalhadoras, organizadas e ordenadas, que se
esforçam para conter o conflito entre obediência e desacato. Tentam fazer tudo com
perfeição para evitar os menores erros ou falhas, que podem deixá-los intensamente
culpados. Rigidamente devotos a produtividade, raramente gastam tempo com si próprios
ou familiares. Colocam padrões altos e irrealistas para si e para os outros, e são
freqüentemente rígidos e dogmáticos com relação à moralidade, regras, ética e valores. São
vistos como extremamente teimosos, rígidos e inflexíveis (Davis, 1999).
A personalidade compulsiva encontra sua variante normal no Estilo Conformista,
que se refere a indivíduos que se constroem com base no que é convencional, preferindo
seguir regras e padrões já estabelecidos. São adequados, convencionais, obedientes e
perfeccionistas. Respeitam tradições e autoridades, sustentam regras e padrões, e seguem
intimamente os regulamentos. Podem ser rígidos e inflexíveis nos relacionamentos, e são
vistos como hábeis e confiáveis.
Variações da Personalidade Compulsiva
Para a personalidade compulsiva foram propostas cinco distintas variações do
protótipo básico: Compulsivo Consciente, Compulsivo Rigoroso, Compulsivo Burocrático,
Compulsivo Sovina, e Compulsivo Atormentado (Millon, Grossman, Millon, Meagher &
Ramnath, 2004).
- Compulsivo Consciente: refere-se à combinação entre as personalidades compulsiva
e dependente. Esta variação exibe uma conformidade dependente mais que os outros
subtipos, são indivíduos obedientes às regras e autoridades, e expressam uma
submissão concordante aos desejos, valores, expectativas e demandas alheias. Se
vêem como atenciosos, solícitos e cooperativos, e manifestam freqüentemente um
grande senso de responsabilidade, que camufla seus sentimentos de inadequação
38
pessoal. Tendem a diminuir seus feitos, portanto, diminuindo a importância de suas
habilidades e classificando seus sucessos em termos de quão bem as expectativas
alheias foram atendidas. São usualmente descritos como cuidadosos, trabalhadores e
eficientes, o que usam para compensar seus sentimentos de auto-dúvidas.
- Compulsivo Rigoroso: combinação com a personalidade paranóide. As orientações
e impulsos destes indivíduos são tão intensos e persistentes que se tornam pessoas
que buscam proteção na justiça divina visando purificação, transformação e
contenção. Muitos sentem uma persistente pressão de uma agressão irracional e
repugnante e de suas orientações sexuais, e adotam um estilo de vida isolado para
proibir estes impulsos sombrios e fantasias. Experienciam o conflito entre
obediência e desafio em um nível muito mais alto que os outros subtipos.
- Compulsivo Burocrático: é a combinação com traços da personalidade narcisista.
Diz respeito a indivíduos que se aliam com valores tradicionais, baseiam-se em
autoridades e em organizações formais. Adotam sinceramente a ordem e estrutura
inerente a instituições reconhecidas, autoridades e costumes sociais. Crescem em
meios organizacionais, onde se sentem confortáveis, fortalecidos e poderosos com a
existência de claras definições entre superior e subordinado, papéis bem definidos, e
expectativas de responsabilidades conhecidas. Uma vez estabilizados, funcionam
lenta e fielmente, mostram-se pontuais e meticulosos, e aderem à ética do trabalho
como formigas, com uma eficiência de “fazer tudo ou não fazer nada”. Ganham um
senso de status pela fusão de suas identidades com uma força maior e sendo parte
indispensável de alguma estrutura.
- Compulsivo Sovina: combinação entre a personalidade compulsiva e personalidade
esquizóide. Para estes indivíduos, a mesquinharia tem uma significância
praticamente simbólica. Cautelosos com a possibilidade da perda, são egoístas,
avarentos e sovinas, assim como auto-protetores com tudo que possuem. Se
identificam com autoridade ou códigos organizacionais para assegurar seus valores
materiais. Suspeitam que os outros possam tirar-lhes suas poucas super-valorizadas
posses – perdem seus limites e agem com excessiva mesquinharia.
- Compulsivo Atormentado: é a combinação com a personalidade negativista. Refere-
se a indivíduos controlados e rigorosos, mas esforçam-se incessantemente por um
39
desejo de obedecer as necessidades e agendas dos outros, e ao mesmo tempo, o
desejo de subverter os outros e afirmar seus próprios interesses. Quando se espera
que ajam decisivamente, vacilam e procrastinam, sentem-se atormentados e
confusos, cautelosos e tímidos, e utilizando raciocínios complexos para adiar a
tomada de decisão. Inaptos a cristalizar a própria identidade e sentindo-se
ambivalentes, podem expressar suas insatisfações através da exaustão, ira e
descontentamento. Por fim, muitos deles se complicam entre “coração”
(sentimentos) e “mente” (pensamentos).
Personalidade Negativista (ou Passivo-Agressiva)
São pessoas que se sentem inseguras para qualquer tipo de mudança em suas vidas,
sempre ambivalentes, vacilam entre sentimentos desconfortáveis de dependência e um
igualmente desconfortável desejo de auto-afirmação. Simultaneamente necessitados e
independentes, sentem-se incompreendidos, desvalorizados e desiludidos, uma vez que
aceitam os requisitos de determinados desempenhos, mas não aceitam nenhum tipo de
controle externo. Caracterizam-se pela teimosia, por não serem cooperativos, por serem
contrários aos outros, minuciosos, aborrecidos e pessimistas, assim, desencorajando as
pessoas ao redor. São ativamente ambivalentes entre a obediência e o desafio (Millon,
Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004).
Variações da Personalidade Negativista
De um modo geral, as combinações dos subtipos da personalidade negativista
resultam em variações que refletem a associação entre características básicas de dois
protótipos de transtornos da personalidade (Millon, Grossman, Millon, Meagher &
Ramnath, 2004). São eles: Negativista Tortuoso, Negativista Abrasivo, Negativista
Descontente, e Negativista Vacilante.
- Negativista Tortuoso: refere-se à combinação com a personalidade dependente. A
característica que define este subtipo é a resistência indireta às expectativas alheias,
sobretudo quando envolve algum tipo de submissão. É aquele indivíduo que se
40
vinga indiretamente e transforma caminhos, solapando ou frustrando qualquer um
que dependa deles ou demandem algum tipo de desempenho. Os métodos do
negativista tortuoso incluem procrastinação, vadiação, teimosia, desconsideração e
ineficiência intencional. Temem expressar diretamente seus ressentimentos, e
executam suas obrigações de modo intencionalmente devagar e com desempenho
inconsistente.
- Negativista Abrasivo: diz respeito à combinação da personalidade negativista a
traços da personalidade sádica. São indivíduos capturados pelo conflito entre suas
agendas e uma intensa lealdade aos outros, tornando-os muito controversos e
brigões. Temem que a lealdade e as tenras emoções sejam apenas uma triste ilusão
criada para camuflar a crueldade da natureza humana. São tão fatigados e cansados
que demonstram profundas dúvidas sobre se a vida pode realmente dar certo e se a
felicidade é possível.
- Negativista Descontente: refere-se à combinação com a personalidade depressiva.
São indivíduos completamente rabugentos, que fazem ataques emocionais através
de inoportunas reclamações, críticas refinadas e encobertas, e resistências não sutis.
Não são pessoas fisicamente agressivas, mas vivem lutas pequenas, desgastantes e
constantes com os outros. Constantemente desaprovadores, buscam algo racional
para expressarem sua negatividade e reclamações. Ainda, apontam para os defeitos
alheios, procuram defeitos para machucar os outros, e irritam as pessoas com
freqüência.
- Negativista Instável: é a combinação entre a personalidade negativista e a
personalidade borderline. Demonstram instabilidade e rápidas flutuações das
emoções e atitudes. Podem estar confortáveis em um momento, e aborrecidos,
irritados e tristes no momento seguinte. Conflituosos, os pensamentos dos
negativistas vacilantes parecem vagar livremente em quase qualquer direção.
Explosões de raiva são comuns.
Personalidade Masoquista (Auto-Destrutiva)
41
A personalidade masoquista diz respeito a indivíduos que colocam obstáculos em
suas próprias vidas, procurando por sofrimento, e necessitando falhar. São amaldiçoados
por um estranho senso de auto-destruição, e freqüentemente clamam por tempestades em
suas vidas, assim como por perdas, frustrações e tristeza. Quando experienciam bons
momentos, reagem com confusão e até mesmo desprazer, assim, realizações concretas são
atribuídas pelo masoquista à sorte, especialmente para evitar o senso de orgulho.
Paradoxalmente, podem ajudar outros com seus ganhos e, então, subitamente
arruinar seus próprios objetivos. No amor, descartam o legítimo carinho, e são atraídos por
pessoas insensíveis ou até mesmo sádicas. O Estilo Submisso refere-se à variação normal
da personalidade masoquista, e se caracteriza por indivíduos que possuem habilidades em
excesso, mas preferem passar desapercebidos. Evitam mostrar seus reais talentos e
desempenhos, se colocando sob uma luz inferior para evitar competições. Às vezes
encorajam as pessoas tomarem vantagem deles (Millon, Grossman, Millon, Meagher &
Ramnath, 2004).
Variações da Personalidade Masoquista
São propostas quatro diferentes subtipos ao protótipo básico da personalidade
masoquista, que são: Masoquista Auto-Arruinador, Masoquista Possessivo, Masoquista
Opressivo, e Masoquista Virtuoso.
- Masoquista Auto-Arruinador: é a combinação com a personalidade evitativa. São
indivíduos que procuram ativa e repetitivamente por circunstâncias que os levem a
sofrer ou até mesmo à própria destruição. Parecem gratificados pela desgraça, falhas
e humilhação, preferindo estar vitimizados, desgraçados e arruinados. Experienciam
conseqüências favoráveis como produtoras de ansiedade, culpa, desprazer e
infelicidade. Procuram por fracasso e punições, diminuindo a probabilidade de bons
acontecimentos.
- Masoquista Possessivo: refere-se à combinação com traços da personalidade
negativista. São aquelas pessoas que se caracterizam por darem tudo de si
constantemente, e por não conseguirem sair de seus relacionamentos. Tornam-se tão
indispensáveis e auto-sacrificantes que os outros não conseguem deixá-los sem se
42
sentirem incrivelmente cruéis. As pessoas são colocadas em uma armadilha e
dominadas pela dependência guiada pela satisfação de suas necessidades. Os
parceiros são superprotegidos e guardados pelo ciúme, subordinados pelo amor, e
controlados pela culpa.
- Masoquista Opressivo: combinação da personalidade masoquista com a
personalidade depressiva. São indivíduos que sofrem reclamando de suas terríveis
condições, mas ao mesmo tempo, pedem para que não tenham dó deles, fazendo
parecer que não querem que se preocupem com eles. Negam qualquer tipo de apoio
e explicam que não querem atrapalhar, no entanto, se fazem de coitados. Não
necessariamente aproveitam seu sofrimento, seu desconforto é meramente um
instrumento designado para assegurar piedade e assistência.
- Masoquista Virtuoso: refere-se à combinação com a personalidade histriônica,
podendo exibir traços da personalidade dependente. São indivíduos orgulhosamente
altruístas e auto-críticos. Desprendidos, ascéticos, e tolerantes de adversidades, são
vistos como nobres e justos, puros e santificados, a glorificação do sofrimento. Se
os outros não lhes dão atenção ou se distanciam emocionalmente, o masoquista
virtuoso reclama por mal-agradecimento e desconsideração.
Personalidade Paranóide
A personalidade paranóide caracteriza aquele indivíduo que questiona a integridade
de tudo que lhe é dito, sempre. Teme que os outros lhe tomem vantagem, e não hesitam em
demonstrar esse temor. Uma vez que a capacidade de confiança do paranóide encontra-se
destruída, são pessoas que desconfiam até mesmo de suas famílias e pessoas íntimas.
Entendem a sinceridade como um mau sinal, como um “cavalo de Tróia”, assim,
freqüentemente constroem altos muros em volta de si próprios para se protegerem.
São vigilantes para qualquer sinal que possa ser interpretado como duvidoso, e são
percebidos como reservados, hostis, fanáticos, rígidos, e manifestam pensamentos de “tudo
ou nada”. Para se protegerem, procuram por informações que corroborem com suas
suspeitas. A variação normal da personalidade paranóide é chamada de Estilo Vigiante
(Oldham & Norris citados por Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004), e se
43
Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado
Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado
Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado
Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado
Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado
Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado

41 autoimagem e resiliência no tratamento oncológico
41   autoimagem e resiliência no tratamento oncológico41   autoimagem e resiliência no tratamento oncológico
41 autoimagem e resiliência no tratamento oncológico
ONCOcare
 
Modelo Comportamental
Modelo ComportamentalModelo Comportamental
Modelo Comportamental
guest06f340
 
Modelo comportamental2733
Modelo comportamental2733Modelo comportamental2733
Modelo comportamental2733
Antonio Diniz
 
Certificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial Humano
Certificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial HumanoCertificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial Humano
Certificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial Humano
Cristina Oneto PCC MCOP BT
 
A abordagem de henri wallon
A abordagem de henri wallonA abordagem de henri wallon
A abordagem de henri wallon
Arnaldo Alves
 
Identidade Pessoal Personalidade
Identidade Pessoal   PersonalidadeIdentidade Pessoal   Personalidade
Identidade Pessoal Personalidade
Carlos Pessoa
 
Andrada, petroni e souza, 2013
Andrada, petroni e souza, 2013Andrada, petroni e souza, 2013
Andrada, petroni e souza, 2013
prosped
 

Semelhante a Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado (20)

41 autoimagem e resiliência no tratamento oncológico
41   autoimagem e resiliência no tratamento oncológico41   autoimagem e resiliência no tratamento oncológico
41 autoimagem e resiliência no tratamento oncológico
 
Início da Vida
Início da VidaInício da Vida
Início da Vida
 
AULA INTRODUTORIA T.DA PERSONALIDADE 2022 .pptx
AULA INTRODUTORIA T.DA PERSONALIDADE 2022 .pptxAULA INTRODUTORIA T.DA PERSONALIDADE 2022 .pptx
AULA INTRODUTORIA T.DA PERSONALIDADE 2022 .pptx
 
Direção
DireçãoDireção
Direção
 
Os 27 subtipos de personalidade do sistema do eneagrama (1)
Os 27 subtipos de personalidade do sistema do eneagrama (1)Os 27 subtipos de personalidade do sistema do eneagrama (1)
Os 27 subtipos de personalidade do sistema do eneagrama (1)
 
12.2 relaes interpessoais
12.2 relaes interpessoais12.2 relaes interpessoais
12.2 relaes interpessoais
 
Tl0197
Tl0197Tl0197
Tl0197
 
Grupos
GruposGrupos
Grupos
 
Grupos
GruposGrupos
Grupos
 
PERSONALIDADE
PERSONALIDADEPERSONALIDADE
PERSONALIDADE
 
Tendencias
TendenciasTendencias
Tendencias
 
Modelo Comportamental
Modelo ComportamentalModelo Comportamental
Modelo Comportamental
 
Modelo comportamental2733
Modelo comportamental2733Modelo comportamental2733
Modelo comportamental2733
 
Teoria comportamental administracao
Teoria comportamental administracaoTeoria comportamental administracao
Teoria comportamental administracao
 
Certificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial Humano
Certificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial HumanoCertificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial Humano
Certificação em Identificação do Potencial y Desenvolvimento do Potencial Humano
 
Psicopatologia
PsicopatologiaPsicopatologia
Psicopatologia
 
A abordagem de henri wallon
A abordagem de henri wallonA abordagem de henri wallon
A abordagem de henri wallon
 
Identidade Pessoal Personalidade
Identidade Pessoal   PersonalidadeIdentidade Pessoal   Personalidade
Identidade Pessoal Personalidade
 
Aula 10-04.pptx
Aula 10-04.pptxAula 10-04.pptx
Aula 10-04.pptx
 
Andrada, petroni e souza, 2013
Andrada, petroni e souza, 2013Andrada, petroni e souza, 2013
Andrada, petroni e souza, 2013
 

Artigo personalidade millon_17_01_07 turbinado

  • 1. Artigo Personalidade Millon O termo personalidade, estreitamente ligado à psicologia nos dias atuais, tem suas origens na Antiguidade com o teatro greco-romano. A palavra vem de persona, do latim, cujo significado é “máscara de teatro”. A máscara era utilizada pelos atores, no teatro, tanto para dar aparência (caracterização) de acordo com o personagem que pretendiam representar, quanto para amplificar a voz para a platéia (Clapier-Valladon, 1988). Se no passado a personalidade sugeria uma aparência pretendida, atualmente é entendida como o próprio indivíduo, suas características aparentes, explícitas e manifestas (Millon & Daves, 1996). Apesar de ser um dos mais antigos aspectos humanos pesquisados, a personalidade é um construto da psicologia que se destaca pela dificuldade de ser definida, estudada (Guzzo, Pinho & Carvalho, 2002), e empiricamente pesquisada (Millon & Daves, 1996). São diversas as propostas de teorias da personalidade encontradas ao longo do desenvolvimento da psicologia, contudo, as perspectivas contemporâneas da personalidade têm convergido para uma abordagem integrativa, considerando os diversos domínios, antes compreendidos isoladamente, como em constante interação entre si e com o ambiente ao redor (Millon & Daves, 1996). Theodore Millon, psicólogo e psiquiatra pesquisador da área de avaliação e intervenção da personalidade e seus transtornos, destaca-se como um dos teóricos mais relevantes para a proposta do chamado modelo integrativo no que se refere à avaliação da personalidade. A perspectiva integrativa surge da necessidade de conciliar as visões nomotética e idiográfica, assim como de críticas realizadas aos modelos categórico e dimensional. De um lado, a perspectiva nomotética tem seu foco nas características comuns entre indivíduos, de outro lado, a perspectiva idiográfica dá ênfase à individualidade, complexidade e unicidade de cada indivíduo (Millon & Daves, 1996; Tavares, 2003). A visão integrativa visa sintetizar estas duas tradições, portanto, aponta para necessidade de conhecer cada construto (dimensão) da personalidade e suas relações e entrelaçamentos, e também conhecer o universo de mecanismos transacionais através do qual cada personalidade individual é transformada em seu desenvolvimento (Millon & Daves, 1996). No que se refere aos modelos categórico e dimensional, o primeiro se orienta 1
  • 2. através de um sistema que pretende encaixar o indivíduo na avaliação diagnóstica, e o segundo pretende enquadrar o processo de avaliação diagnóstica no indivíduo. Assim como a visão integrativa é uma síntese das perspectivas nomotética e idiográfica, os modelos categórico e dimensional são sintetizados pelo modelo protótipo proposto por Millon (Millon & Daves, 1996). Este modelo explicita a heterogenia dos traços de personalidade nos indivíduos, de modo a não assumir limites (impossibilidades) frente ao sistema diagnóstico (Millon & Daves, 1996). Diferente dos modelos categórico e dimensional, que levam em conta, respectiva e fundamentalmente aspectos qualitativos e quantitativos, o modelo protótipo considera ambos aspectos. Este modelo é proposto por Millon enquanto taxonomia de estilos da personalidade e de modos de funcionamento que se configuram como transtornos da personalidade. De fato, Millon sugere o uso de protótipos nomotéticos que se subdividem em subtipos idiográficos (Millon & Daves, 1996). Além de se caracterizar por ser um modelo integrativo da personalidade, a proposta teórica de Millon apóia-se nos pressupostos evolucionistas, servindo de base para a compreensão de sua teoria personalidade (Alchieri, 2004). Diferente dos sistemas tradicionais utilizados para o diagnóstico da personalidade, que freqüentemente se focam ou nos aspectos individuais, ou nos aspectos comuns entre os indivíduos, o modelo de Millon considera ambos aspectos, o que é comum entre e para os indivíduos (Millon & Daves, 1996). Segundo Millon, o que justifica o uso de princípios naturais (evolucionistas) em seu modelo teórico, é que uma teoria da personalidade não deve ficar limitada ao estudo de suas dimensões e suas relações entre si e com o ambiente, mas deve ir além dos componentes que integram a personalidade (Millon & Daves, 1996). Deste modo, de acordo com sua proposta teórica, fundamentada em pressupostos evolucionistas e enquadrada em um modelo integrativo, Millon propõe nove princípios para conceituar a personalidade e seus transtornos: 1. Transtornos da personalidade não são doenças: são modos de funcionamento desadaptativo que não se encontram em uma categoria diferente dos modelos adaptativos de personalidade, mas são encontrados 2
  • 3. em um outro ponto de um continuum formado pelos modos adaptativos e desadaptativos. 2. Transtornos da personalidade são sistemas funcionais e estruturais diferenciados internamente, e não entidades internamente homogêneas: sugere que as partes constituintes da personalidade são internamente diferentes, contudo, função e estrutura se entrelaçam e cooperam entre si. 3. Transtornos da personalidade são sistemas dinâmicos, não estáticos, entidades sem vida: o que caracteriza um modo como funcional pode variar de acordo com as dinâmicas internas e externas experienciadas pelo indivíduo. 4. Personalidade consiste de unidades múltiplas em múltiplos níveis de informação: os complexos componentes da personalidade levam os teóricos a conceituá-la em quase infinitos caminhos, mas necessariamente são selecionados apenas poucos destes inúmeros elementos que podem ser escolhidos. 5. A personalidade existe em um continuum; não há divisão exata entre normalidade e patologia: portanto, normalidade e patologia devem ser entendidos como conceitos relativos que representam pontos arbitrários de um continuum. Para Millon, normalidade é a capacidade para funcionar autonomamente e com competência, uma tendência a se ajustar ao meio de modo efetivo e eficiente, um senso subjetivo de contentamento e satisfação, e a habilidade para cumprir seu potencial. A patologia é resultado das mesmas forças que estão envolvidas no desenvolvimento do funcionamento normal, contudo, é caracterizada por respostas inflexíveis ou deficientes às demandas cotidianas, trazendo desconforto, prejuízos e redução nas oportunidades de aprendizagem. 6. A patogênese da personalidade não é linear, mas interativa e seqüencial, distribuída multiplamente a todo o sistema: o sistema (da personalidade) é caracterizado por interdependências entre seus elementos constituintes, no qual cada domínio é influenciado e influencia, direta ou indiretamente, os outros domínios. Deste modo, mudanças no funcionamento do sistema, 3
  • 4. em um ou mais domínios, significa mudanças em todas varáveis da personalidade. 7. Os critérios para avaliar a patologia da personalidade podem ser logicamente coordenados com o próprio modelo de sistemas: Millon aponta três critérios para julgar a severidade da patologia da personalidade. São eles: baixa estabilidade frente ao stress, inflexibilidade adaptativa, e tendência a perpetuar círculos viciantes ou auto- destruidores. 8. Transtornos da personalidade podem ser avaliados, mas não definitivamente diagnosticados: já que os transtornos da personalidade não são entendidos como doenças, a taxonomia pode ser apenas considerada como um ponto (importante) para caracterizar o indivíduo, sobretudo porque nenhum indivíduo é a reencarnação de protótipos. A avaliação da personalidade busca limites no funcionamento do indivíduo, verificando o quão uma habilidade é desenvolvida. 9. Transtornos da personalidade requerem planos estratégicos e modos combinatórios de intervenção tática: intervenções que acessem um único domínio são congruentes com um modelo linear, mas não com um modelo integrativo. Em um modelo integrativo, no qual uma das principais características é o aspecto multiaxial, a intervenção deve ser coordenada pelo tempo de forma lógica em múltiplos domínios. A intervenção não deve ser a soma de varias intervenções, mas multifacetada e entrelaçada. Os nove princípios propostos por Millon estão de acordo com uma perspectiva evolucionista e integrativa da personalidade. Em seu modelo teórico, Millon buscou criar protótipos da personalidade edificados através de deduções formais e identificar possíveis covariações com outros transtornos mentais encontrados no Eixo I do DSM (Alchieri, Cervo & Núñes, 2005). Entende-se que o desenvolvimento da personalidade e psicopatologia é o resultado do interjogo entre o organismo e forças ambientais, de modo que, este interjogo tem início no momento da concepção e continua ao longo da vida do indivíduo (Millon & Daves, 1996). 4
  • 5. Do mesmo modo que o interjogo entre organismo e ambiente é considerado como importante variável no desenvolvimento da personalidade, à interação entre fatores biológicos e psicológicos também é dada grande relevância, tal que, segundo Millon, determinantes biológicos precedem e influenciam o curso da aprendizagem e experiência, e esta ordem pode ser invertida, sobretudo nos primeiros estágios do desenvolvimento. Portanto, fatores biológicos podem moldar, facilitando ou dificultando a natureza de experiências individuais e aprendizado em diversos caminhos (Millon & Daves, 1996). A partir disso, indivíduos com potenciais biológicos similares emergem freqüentemente com diferentes traços da personalidade e transtornos clínicos, dependendo de suas experiências de vida. Neste sentido, Millon conceitua a personalidade como estilos mais ou menos adaptativos (eficácia) apresentados pelos indivíduos frente os obstáculos do cotidiano, representando um padrão de características inter-relacionadas, constantes, não conscientes e quase automáticas que são manifestadas nos ambientes típicos de um determinado organismo (Alchieri, 2004). E, emergindo de variáveis similares, os transtornos da personalidade são conceituados como estilos particulares de funcionamento mal-adaptativo que se caracterizam por deficiências, descompassos e conflitos na capacidade de lidar com o ambiente (Millon & Daves, 1996). Visando atribuir um pano de fundo e fornecer um sólido modelo aos estilos (adaptativos ou não) de personalidade que fosse além da investigação dos diferentes domínios que compõem a personalidade (processos cognitivos, comportamentos observáveis, conteúdos inconscientes, reações neuroquímicas, entre outros) e seus entrelaçamentos e relações com o ambiente, Millon sugere quatro esferas baseadas nos princípios evolucionistas, que correspondem às Fases Evolutivas: Existência, Adaptação, Replicação e Abstração, cada qual com sua correspondente bipolaridade (Millon & Daves, 1996; Davis, 1999). A primeira fase evolutiva, Existência, refere-se a uma transformação ao acaso, do organismo, de estados pouco organizados entre aquelas estruturas distintas dominantes de uma organização maior (Davis, 1999). É uma tendência do organismo adaptado a expressar mecanismos que favoreçam o aumento e preservação da vida. As polaridades características desta fase referem-se aos pólos prazer, no qual o indivíduo tende a procurar estímulos que 5
  • 6. lhe forneçam qualidade de vida, aumentado a probabilidade de sobrevivência, e dor, na qual há um decréscimo na qualidade de vida e aumento de riscos à própria existência (Alchieri, 2004). Uma vez que exista uma estrutura integrada (organismo), há a necessidade de manutenção da própria existência através de trocas de energia e informação com o meio ambiente. A fase evolutiva seguinte à Existência, a Adaptação, refere-se aos modos de adaptação que tornam estas trocas (organismo x ambiente) possíveis. Tais trocas podem ser realizadas a partir de uma orientação ativa, caracterizada por indivíduos que tendem a modificar o ambiente ao redor, ou uma orientação passiva, caracterizada por indivíduos que tendem a acomodar-se ao ambiente em que vivem (Millon & Daves, 1996). Ainda que o organismo que existe esteja adaptado, a existência é limitada, e é através da terceira fase evolutiva, Replicação, que os organismos são capazes de driblar esta limitação, desenvolvendo estratégias para reprodução da prole, permitindo a continuidade dos genes na espécie. Estas estratégias variam entre uma tendência a visar o eu (pólo eu), com foco na auto-perpetuação, ou uma tendência a visar o outro (pólo outro), com foco na proteção e sustento da família (Millon & Daves, 1996; Strack, 1999). As três primeiras fases referem-se, respectivamente, a capacidade do organismo existir, adaptar-se ao meio e de reprodução. Um organismo capaz de passar por estas fases é possivelmente apto para refletir acerca da transcendência do imediato e concreto, para inter-relacionar-se com outros e sintetizar uma diversidade de eventos, para representar fatos e processá-los simbolicamente, para decidir, para pensar e para antecipar, o que caracteriza a quarta e última Fase Evolutiva, a Abstração. As polaridades características desta fase são o pensar, caracterizado pela racionalidade e intelectualização, e o sentir, caracterizado pela afetividade e o controle dos sentimentos (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Cada Fase Evolutiva é representada por bipolaridades, assim como por Estágios Neuropsicológicos e Tarefas do Desenvolvimento (ver Tabela 1). Os Estágios têm início enquanto o bebê está no útero da mãe e permanece e se desenvolve por toda a vida do indivíduo. O que diferencia um Estágio do outro são os períodos de pico (ou críticos) do desenvolvimento, quando certos processos e tarefas são proeminentes e centrais (Millon & Daves, 1996). 6
  • 7. Tabela 1. Quatro Componentes do Modelo Evolucionário Fases Evolutivas Funções de Sobrevivência Estágios Neuropsicológicos Tarefas do Desenvolvimento Existência Aumento da vida (prazer) Preservação da vida (dor) Apego Sensorial Desenvolver confiança nos outros Adaptação Modificação Ecológica (Ativo) Acomodação Ecológica (passivo) Autonomia Sensório-motora Adquirir segurança adaptativa Replicação Sobrevivência da prole (outro) Propagação individual (eu) Identidade Sexual Assimilar papéis sexuais Abstração Racionalidade intelectual (pensar) Ressonância afetiva (sentir) Integração Intracortical Equilíbrio entre razão e emoção *tabela adaptada de Millon e Daves (1996, p. 110) O primeiro Estágio Neuropsicológico, Apego Sensorial, refere-se aos primeiros meses de vida, que são dominados por processos sensitivos nos quais a criança adquire a capacidade de construir alguma organização em relação aos estímulos experienciados, sobretudo distinguir objetos prazerosos de objetos dolorosos. É um período em que o indivíduo necessita e depende em absoluto do outro para sua sobrevivência e, como o bebê ainda não possui mecanismos característicos da terceira Fase Evolutiva (Abstração), ele utiliza mecanismos próprios que lhe orientam para atividades que privilegiam o aumento da qualidade de vida e diminuam a probabilidade de sofrer danos. Como conseqüência de um empobrecimento do desenvolvimento neste Estágio, indivíduos privados de cuidado maternal adequado podem demonstrar uma variedade de comportamentos patológicos (por exemplo, característicos do funcionamento esquizotípico). Do mesmo modo, o enriquecimento excessivo de estimulação pode resultar em uma supersensibilidade de determinadas funções sensitivas, levando o indivíduo à procura repetida e compulsiva de prazer (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). O estágio seguinte, Autonomia Sensório-Motora, caracteriza-se pelo desenvolvimento de atividades musculares focadas, como brincar, sentar e falar, e não mais movimentos não organizados. É o período em que a criança começa a ter consciência de sua própria competência, e a compreender as atitudes e sentimentos comunicados por fontes de estímulos. O foco deste estágio é na percepção da criança sobre sua existência com um ambiente ao redor, e é um período em que o estabelecimento de ligações afetivas é 7
  • 8. muito importante. O retardamento em funções necessárias para o desenvolvimento da autonomia e iniciativa pode ter como conseqüência características de timidez e submissão excessivas no indivíduo, e o exagero de liberdade na educação dos pais, pode resultar em crianças indisciplinadas (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). A criança continua a se desenvolver, e em dado momento atinge o início da puberdade, que se caracteriza pela iniciação de atividades sexuais que são preparatórias para emergência de fortes impulsos sexuais e características da autonomia adulta. Este Estágio é chamado de Identidade Sexual. É o período em que o processo de desenvolvimento refina o indivíduo, antes difuso e com senso indiferenciado do eu, e os resultados experienciados dos relacionamentos amorosos (reais ou fantasiosos) revisam e definem a identidade sexual. Em parte, o objetivo do adolescente é buscar objetos libidinosos extrafamiliares, assim, pouca identificação e ausência de modelos durante este período podem resultar em paixões imaginárias, não permitindo o desenvolvimento de um senso de identidade pessoal, e em uma ausência de direção consistente e propósito de existência. De modo similar, a estimulação exagerada neste período pode resultar em dependência excessiva de hábitos e valores de grupos (Millon & Daves, 1996). O quarto e último Estágio Neuropsicológico, Integração Intracortical, refere-se ao desenvolvimento de capacidades de abstração pela criança, que a possibilita transcender a realidade concreta. É o momento de formação de uma imagem do eu e de representações internas, assim como do desenvolvimento da habilidade de discriminar objetos do mundo físico, simbolizá-los, manipulá-los e coordená-los. Em alguns casos, o indivíduo pode compartilhar de menos estimulação que a necessária para seu desenvolvimento saudável, podendo resultar em jovens difusos e dispersos, com percepções mínimas de caminhos para seguir sua vida, ou ainda, uma inabilidade para escolha de um caminho, estreitando e restringido sua adaptabilidade. De outro modo, o excesso de estimulação neste período, por exemplo, por pais perfeccionistas e muito controladores, pode resultar em um indivíduo que controla seus sentimentos de modo exagerado, adotando identidades alheias, com pouca espontaneidade, flexibilidade e criatividade (Millon & Daves, 1996). Segundo os quatro Estágios Neuropsicológicos propostos por Millon (Millon & Daves, 1996; Davis, 1999), observa-se a importância da estimulação em determinados períodos, nomeados de períodos críticos ou de pico. Contudo, não é correto afirmar que o 8
  • 9. desenvolvimento da personalidade está meramente em função da estimulação em períodos maturais sensitivos (críticos), a qualidade e o tipo de estimulação e a freqüência são fatores muito importantes também. Assim como a experiência tem efeitos mais profundos em determinados Estágios na seqüência do desenvolvimento, com as Tarefas do Desenvolvimento ocorre o mesmo, sendo que para cada Estágio há uma Tarefa característica (Millon & Daves, 1996). A primeira Tarefa do Desenvolvimento corresponde ao desenvolvimento de confiança nos outros. Dependendo da qualidade e consistência do suporte dado ao bebê (que depende totalmente do outro), a confiança se constrói internamente de maneira mais ou menos consistente no indivíduo. Esta Tarefa está de acordo também com a bipolaridade da primeira Fase Evolutiva (Existência), prazer x dor, de modo que a confiança (calma confortante) está mais relacionada à polaridade prazer, e a desconfiança (apreensão tensa) mais relacionada com a polaridade dor (Millon & Daves, 1996). Na seqüência do desenvolvimento, a Tarefa do Desenvolvimento corresponde a aquisição de segurança adaptativa, ou seja, a criança sente-se mais ou menos segura para exercer suas atividades. Caracteriza-se como um período no qual o indivíduo desenvolve habilidades de manipulação de objetos, no qual as atitudes dos pais modelam a confiança da criança nela mesma, para exercer suas crescentes competências. É o que a criança faz e como ela se sente a respeito disso que irá determinar seus comportamentos, que podem ser mais orientados para passividade ou para um modo mais ativo frente os obstáculos do ambiente (Millon & Daves, 1996). A próxima Tarefa refere-se à assimilação de papéis sexuais, que é caracterizada pela emergência da interação do adolescente com outros, especialmente em grupos sociais (na escola, por exemplo). Aderir aos comportamentos dos grupos sociais ajuda o adolescente a discriminar e avaliar regras relacionadas ao sexo masculino e feminino. É dentro do grupo que o jovem se depara com regras e demandas que regulam seus impulsos, sentimentos e inclinações sexuais. A bipolaridade fundamental neste período é a eu x outro, na qual o adolescente pode estar mais voltado para atividades relacionadas a si próprio, ou para os grupos sociais (Millon & Daves, 1996). A última Tarefa do Desenvolvimento relaciona-se ao equilíbrio entre razão (pólo do pensar) e emoção (pólo do sentir), na qual o jovem é levado a formular uma imagem clara 9
  • 10. de si, ou seja, uma identidade discernível das identidades alheias. É o período que o indivíduo adquire um sistema coerente de valores internalizados que irão guiá-lo através dos diferentes meios sociais, portanto, é neste momento em que ele necessita encontrar sua própria âncora interna e seu compasso para coordenar seus sentimentos e idéias ao longo da vida (Davis, 1999). O Desenvolvimento do Funcionamento Patológico – Transtornos da Personalidade No modelo teórico de Millon, o que diferencia o patológico e o normal não está relacionada a uma distinção categórica (patológico x normal), mas sim em um continuum onde os diversos modos de funcionamento, alguns mais adaptados e outros menos, são encontrados (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Ao longo das Fases Evolutivas, caracterizadas por distintas Funções de Sobrevivência, Estágios Neuropsicológicos e Tarefas do Desenvolvimento, diferentes fatores influenciam a favor ou não do desenvolvimento normal, ou seja, funcional e adaptado. Segundo Millon (Millon & Daves, 1996; Davis, 1999; Strack, 1999), os mesmos fatores que influenciam no desenvolvimento normal, influenciam no desenvolvimento de modelos patológicos da personalidade. O desenvolvimento patológico é compreendido como um rompimento e descompasso nos princípios evolutivos que dão base ao funcionamento humano. Portanto, os transtornos da personalidade podem ser conceituados como construtos empregados para representar uma variedade de estilos (protótipos) que exibem comportamentos consistentemente inapropriados, mal-adaptativos ou deficientes frente o sistema social a que o indivíduo está inserido (Millon & Daves, 1996). Diferente de indivíduos funcionais, algumas pessoas estabelecem uma interação muito limitada com o ambiente, resultando em uma variabilidade comportamental inapropriada e insuficiente frente às necessidades ambientais, caracterizando uma interação rígida. Um modelo de personalidade desadaptativo e clinicamente relevante caracteriza-se por atividades e habilidades rígidas (inflexibilidade adaptativa), pela percepção de mundo, desejos e comportamentos que perpetuam e intensificam dificuldades pré-existentes (círculos viciosos), e uma tendência do indivíduo em baixar a resiliência frente a situações de stress (estabilidade frágil) (Alchieri, 2004). 10
  • 11. O desenvolvimento de transtornos de personalidade, segundo Millon (Millon & Daves 1996), deve ser visto como um processo no qual as forças do organismo e do ambiente demonstram influências não somente de circularidade e mutualidade, mas também com uma ordem e continuidade seqüencial ao longo da vida do indivíduo. Numerosos determinantes biogênicos e psicogênicos covariam para modelar e resultar em transtornos da personalidade, e a seqüência formada entre estas fontes biogênicas e psicogênicas cria uma espiral sem fim – há uma transação multideterminante na qual potenciais biogênicos singulares e influências psicogênicas distintas moldam-se em caminhos recíprocos e sucessivamente intricados. Millon (Millon & Daves, 1996) aponta para a importância dos fatores biológicos patogênicos, do histórico patogênico da experiência, e das fontes de aprendizagem patogênica para a compreensão dos transtornos da personalidade. Considerar estes três aspectos no desenvolvimento da personalidade possibilita uma maior amplitude no entendimento da emergência de estilos mal-adaptativos da personalidade. Fatores Biológicos Patogênicos Por um lado, as funções psicológicas normais dependem da integridade de certas áreas da estrutura biológica, por outro lado, uma vez que estas áreas sejam estruturadas e organizadas enquanto disfunções biogênicas, elas são capazes de produzir rupturas na normalidade, que caracterizam os aspectos patológicos. Contudo, é importante ressaltar que os fatores psicológicos desempenham importante papel no desenvolvimento destas estruturas biológicas, moldando sua expressão (Millon & Daves, 1996). Entre as diversas variáveis biológicas que atuam como contribuintes no desenvolvimento de patologias, Millon aponta para as seguintes: - Hereditariedade: os fatores da hereditariedade não são definitivamente determinantes para o desenvolvimento de transtornos da personalidade, mas funcionam como uma base fisiológica que torna o indivíduo suscetível para disfunções quando sob stress, ou ainda, inclinado a aprender comportamentos que trazem dificuldades sociais. 11
  • 12. - Individualidade Biofísica: algumas funções cerebrais estão mais relacionadas entre si, mas o processo é produto da interação entre todas as áreas. Diferenças naturais interindivíduos na estrutura anatômica e organização, resultantes do complexo processo cerebral, podem resultar em um continuum de efeitos psicológicos relevantes. - Disposições Temperamentais: cada indivíduo vem ao mundo com um modelo distinto de disposições e sensitividades. A partir disso, seqüências particulares de experiências de vida irão resultar como conseqüência destes modelos distintos. As características da criança evocam reações distintas em seus pais e estas reações podem ser mais ou menos positivas ou negativas ao longo do desenvolvimento. Alguns fatores se correlacionam de modo significativo com o modelo de disposições temperamentais: aprendizado adaptativo (o temperamento aumenta ou diminui a probabilidade de certos traços virem a ser preponderantes no indivíduo) e reciprocidade interpessoal (o temperamento evoca contra-reações dos indivíduos ao redor, que confirmam e acentuam as disposições temperamentais iniciais). História Patogênica da Experiência Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), simplesmente especificar uma causa biogênica para o desenvolvimento de transtornos da personalidade, necessita-se traçar uma seqüência para o desenvolvimento a partir das experiências. Comportamentos patológicos emergem através de uma complexa seqüência de interações que inclui o aprendizado a partir de experiências cotidianas. Fatores biológicos e psicológicos contribuem mutua, recíproca e interdependentemente para o desencadeamento e manutenção de todo e qualquer comportamento que surge ao longo da vida do indivíduo. Ainda que se saiba que muitos dos comportamentos surgem e se desenvolvem conjuntamente com a maturação do indivíduo, alguns comportamentos parecem ser imutáveis. O que faz parecer que um comportamento é imutável é o quão profundamente e de maneira penetrante ele se estabelece em um indivíduo, a ponto de ser julgado como inalterável e integrante de seu conjunto biológico. O fato de uma característica ou comportamento ser muito arraigado em um indivíduo não significa serem inatos, resultados 12
  • 13. de traumas ou doenças, mas podem ser resultado de experiências psicológicas que moldam o sistema biológico de maneira muito profunda (Millon & Daves, 1996). Deste modo, durante o desenvolvimento de cada indivíduo, as estimulações que, ao entrarem em contato com o aparato biológico e psicológico intrinsicamente entrelaçados, podem se caracterizar como enriquecidas ou empobrecidas, a depender de seus aspectos qualitativos e quantitativos. Uma estimulação muito enriquecida nos primeiros anos de vida, refere-se a uma quantidade exagerada de estímulos, o que pode não ser saudável para o indivíduo. Do mesmo modo, uma estimulação empobrecida refere-se a uma falta de estímulos ambientais que possibilitem a ativação de determinadas reações cerebrais, o que pode culminar no déficit de certas funções psicológicas (Millon & Daves, 1996). Fontes de Aprendizagem Patogênica Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), muito do que é aprendido acumula-se a partir de uma série de eventos casuais e acidentais, não programados. Além da administração dos pais na aprendizagem da criança, atividades do cotidiano providenciam os mais diferenciados modelos de imitação. As crianças copiam estes modelos complexos de comportamentos interligados no dia-a-dia, sem entendê-los e sem que exista a intenção dos pais nesta aprendizagem. Os estilos de personalidade, aponta Millon (Millon & Daves, 1996), são fundamentalmente resultados das experiências de aprendizagem que se desenvolvem nos mais diferentes contextos, desde o nascimento do indivíduo. Quando estas condutas são insuficientes para a adaptação do indivíduo, podem levar à expressão de modos patogênicos de funcionamento, conforme três possibilidades distintas (Alchieri, 2004): - Eventos que provocam ansiedade excessiva por irem além das capacidades da criança ou por questionarem profundamente seus sentimentos de segurança e conforto. - Eventos emocionalmente neutros que levam ao aprendizado de comportamentos mal-adaptativos, ensinando ou reforçando comportamentos que causem dano quando indevidamente generalizados. Estes comportamentos surgem a partir da imitação de modelos mal-adaptativos de comportamentos. 13
  • 14. - Insuficiência de experiências requisitadas para aprender determinados comportamentos adaptativos, devido a um empobrecimento na estimulação, experiências mínimas, entre outros fatores. Além destes três modos distintos de influência na aprendizagem, Millon (Millon & Daves, 1996) diferencia as fontes de aprendizado patológico em duas diferentes categorias: experiências penetrantes e duradouras, que influenciam em toda seqüência do desenvolvimento, e experiências traumáticas, aquelas experiências curtas que podem ocorrer a qualquer momento durante a vida exercendo influências profundas no desenvolvimento do indivíduo. As experiências penetrantes e duradouras se referem, sobretudo, as influências exercidas pelos integrantes da família de um indivíduo. As circunstâncias do cotidiano familiar tem um efeito duradouro e acumulativo em todo o aprendizado da criança, assim, a criança estabelece sentimentos de segurança, imita modelos de comportamento interpessoal, adquire impressões de como os outros a percebem e se sentem sobre ela, adquire uma auto-imagem, e aprende a lidar com situações estressoras, em um primeiro momento, a partir do contato com a família (Millon & Daves, 1996). Millon aponta para cinco principais aspectos desta categoria: - Sentimentos e atitudes parentais: não é incomum crianças adquirirem atitudes e sentimentos sobre si que sejam dicotômicos, em parte refletindo o relacionamento com o pai, em parte o relacionamento com a mãe. De modo geral, os jovens refletem o impacto de uma variedade de modelos adultos, resultando em uma configuração mista da personalidade. De outro modo, pais que demonstram sentimentos e atitudes de rejeição para com a criança podem contribuir para o estabelecimento de sentimentos de isolamento e de percepção do mundo como hostil. - Métodos de controle do comportamento: refere-se a procedimentos utilizados para regular o comportamento da criança e modelar minimamente seu aprendizado. Freqüentemente, métodos acidentais ao longo do desenvolvimento demonstram efeitos mais profundos do que métodos intencionais, até mesmo por serem mais freqüentes na maioria dos casos. Os métodos de controle se subdividem em: métodos punitivos (aumentam a probabilidade de modelos mal-adaptativos, uma 14
  • 15. vez que tendem a fazer com que a criança guarde para si seus impulsos e contrarie seus pensamentos), métodos de recompensa contingente (reforçamentos são contingentes na performance da criança que é aprovada pelos pais. Estas crianças tendem a ser mais sociáveis e a serem recompensadoras com os outros, mas podem adquirir uma necessidade de aprovação social insaciável e indiscriminada), métodos inconsistentes (geralmente os métodos utilizados pelo pai e pela mãe são inconsistentes e contraditórios entre si, contudo, alguns pais são extremamente imprevisíveis), métodos protetores (alguns pais restringem de tal forma as experiências dos filhos que estes falham em aprender modelos básicos de comportamento autônomo), métodos indulgentes (pais relaxados e muito permissivos falham em dar qualquer tipo de limite e modelo para a criança, podendo resultar em indivíduos com dificuldades de disciplina e responsabilidade, assim como agressivos e não cooperativos). - Estilos de comunicação da família: cada família constrói seu próprio estilo de comunicação, portanto, o estilo de comunicação interpessoal a que cada criança é exposta, serve como modelo para atender, organizar e reagir a expressões, sentimentos e pensamentos dos outros. Em algumas famílias o estilo de comunicação se configura enquanto amórfico, fragmentado ou confuso, podem contribuir para emergência de sentimentos contraditórios e pensamentos irracionais na criança. - Conteúdo do aprendizado: os pais transmitem um grande número de valores e atitudes, de modo intencional e de modo acidental para a criança. No que diz respeito ao aprendizado patológico, alguns pais demonstram uma preocupação e controle excessivo com a criança, o que pode resultar em uma ansiedade exagerada, outros pais demonstram decepção exagerada para com os filhos, por estes falharem em atender as expectativas parentais, o que pode resultar em sentimentos de culpa e vergonha na criança. Assim, de um modo geral, atitudes destrutivas podem ser ensinadas diretamente a partir de limites e disposições enviesadas ou restritas dos pais. - Estrutura familiar: a composição da família pode resultar em atitudes e relações patológicas. Modelos deficientes de família, ou seja, a ausência de figuras adultas 15
  • 16. significantes, discórdia familiar, na qual as crianças são sujeitas a brigas parentais persistentes, rivalidade entre irmãos, que requer a divisão da atenção e aprovação dos pais que nem sempre é equilibrada, e a posição ordinal dos filhos, ser o filho mais velho, mais novo ou filho único, são fatores apontados por Millon como importantes para o desenvolvimento de comportamentos patológicos. É comum, na psicologia, que se atribua a experiências muito severas (traumas) a manifestação dos mais diferentes transtornos. Contudo, Millon (Millon & Daves, 1996) aponta para um cuidado que se deve tomar na generalização dos efeitos de eventos traumáticos, uma vez que atualmente entende-se que muitos comportamentos patológicos acumulam-se gradualmente através de repetitivas experiências aprendidas. No que diz respeito aos eventos traumáticos (experiências traumáticas), seus efeitos podem persistir ao longo do tempo devido ao alto nível de ativação neural que sucede a resposta do indivíduo frente a situação estressora, culminando em uma grande variedade de associações neurais relacionadas ao evento, assim como devido a redução nas habilidades de discriminação do ambiente quando um indivíduo está sob situações extremamente angustiantes e ansiógenas, resultando em uma generalização da reação emocional deste indivíduo com relação aos objetos e pessoas que estão, por acaso, associados a fonte traumática (Millon & Daves, 1996). Continuidade dos Primeiros Aprendizados Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), existem três importantes características que influenciam na manutenção e continuidade dos comportamentos através da infância para a vida adulta: a freqüência dos comportamentos, a supremacia das primeiras aprendizagens e a sensitividade biológica. A freqüência diz respeito ao número de vezes que o indivíduo vivenciou um determinado grupo de experiências, a supremacia se refere a importância dos aprendizados na infância, que tendem a perpetuar influências ao longo da vida adulta pela força de seu impacto, e, a sensitividade biológica aponta para as influências exercidas pelo aparato biológico no aprendizado e nas percepções do indivíduo. De modo geral, o processo que possibilita a continuidade dos primeiros aprendizados pode 16
  • 17. ser agrupado em três categorias distintas: resistência à extinção, reforçamento social, e auto-perpetuação. A resistência à extinção refere-se a tendência de permanência das condutas aprendidas, principalmente aprendizagens associadas a eventos difíceis de se reproduzir, de se repetirem, como por exemplo, eventos da infância que, mesmo que se repitam, nunca mais serão percebidos e interpretados pelo indivíduo da mesma maneira em sua vida adulta (Alchieri, 2004). Verifica-se a importância do reforçamento social enquanto mantenedor de comportamentos na medida em que os modelos sociais e interpessoais são os que mais contribuem para persistência de comportamentos (Millon & Daves, 1996). Determinados aspectos dos vínculos sociais, sobretudo familiares, podem reforçar o que foi aprendido anteriormente, especialmente a partir de experiências repetidas, reforçamento recíproco de condutas e a existência de estereótipos que atuem como comportamentos infantis (Alchieri, 2004). Por fim, a auto-perpetuação diz respeito a experiências significativas na vida infantil que, mesmo que nunca mais ocorram, permanecem com seus efeitos e deixam sua marca (registro na memória) na vida adulta. Para Millon (Millon & Daves, 1996), são quatro os pontos mais importantes na auto-perpetuação das experiências: pressão protetora, distorção perceptiva e cognitiva, generalização comportamental, e compulsão à repetição. A pressão protetora refere-se a memórias dolorosas do passado que freqüentemente são reprimidas, por um lado permitindo uma baixa na ansiedade, por outro, não possibilitando a aprendizagem de modos de enfrentamento. Distorção perceptiva e cognitiva aponta para determinados processos que transformam o presente de acordo com o passado, uma vez que o indivíduo tende a responder a ameaças atuais em sua vida, de acordo com a expectativa adquirida de ameaças anteriores. A generalização comportamental diz respeito aos estímulos novos que são vistos como similares a estímulos da experiência passada, de modo que o indivíduo tende a reagir de maneira similar á que reagiu no passado. E, por fim, a compulsão à repetição refere-se ao processo em que se restabelece condições que providenciaram uma gratificação parcial no passado e que possibilitem satisfação total no presente – repetição de modelos passados (Millon & Daves, 1996). 17
  • 18. Ainda se referindo à continuidade dos primeiros aprendizados, Millon (Millon & Daves, 1996) aponta para o importante papel das influências sócio-culturais no desenvolvimento e continuidade de determinados comportamentos, patológicos ou não. Todos indivíduos passam pelo processo de socialização no qual aprendem progressivamente a lidar com seus impulsos e desenvolver seus comportamentos ingênuos, regulando-nos com as regras e práticas dos grupos sociais a que pertencem. As regras sociais capacitam o indivíduo a sobreviver, a predizer minimamente o comportamento alheio, a obter conforto e segurança, e aprender estratégias socialmente aceitáveis para conseguir recompensas ao longo da vida. O mundo contemporâneo tem suas contribuições e influências características, que dificilmente poderiam ser listadas em sua totalidade em um estudo. Contudo, três importantes condições da vida moderna podem ajudar a compreender influências sócio- culturais relevantes dos dias atuais. Estas condições dizem respeito à operação de forças que levam o indivíduo a ultrapassar os padrões a que ele é exposto no dia-a-dia, aos efeitos contraditórios e ambíguos dos valores sociais contemporâneos, e as conseqüências da desintegração de crenças sociais e objetivos (Millon & Daves, 1996). A primeira condição refere-se principalmente ao esforço requerido do indivíduo para realizações no cotidiano e para a competição nos mais diferentes âmbitos da vida. Em parte, os valores da sociedade promovem ambição a partir da expectativa de que o indivíduo sempre consiga vencer seus desafios, um esforço muitas vezes contínuo e exagerado para ultrapassar o outro, o que pode ter como conseqüências desastrosas para o indivíduo quando ele não consegue atingir as expectativas sociais (Millon & Daves, 1996). A segunda condição diz respeito aos padrões sociais atuais, que freqüentemente se mostram instáveis e contraditórios. Uma vez que os padrões sociais sejam contraditórios ou ambíguos, o esforço para realização de demandas sociais e a busca pela vitória nas competições ao longo da vida necessitam estar sempre se alterando, o que pode culminar em dissonância intrapsíquica que pode trazer prejuízos importantes na vida do indivíduo (Millon & Daves, 1996). Por fim, a terceira e última condição aponta, sobretudo, para o aprendizado daqueles indivíduos considerados como “marginalizados” em relação à maioria da população. Estes indivíduos, fora da linha média da população, aprendem freqüentemente que existem 18
  • 19. poucos padrões respeitáveis a que se aspirar, o que pode resultar na desintegração das crenças que dão base para estas pessoas, assim como em uma ausência de um objetivo maior para suas vidas (Millon & Daves,1996). Os Transtornos da Personalidade Verifica-se que o modelo teórico proposto por Millon (Millon & Daves, 1996; Davis, 1999), descrito de maneira sintética anteriormente, abrange largamente uma série de variáveis consideradas como importantes para o desenvolvimento de estilos funcionais e disfuncionais da personalidade. Segundo esta proposta teórica, a personalidade é um complexo padrão de características profundamente enraizadas que são expressas automaticamente em quase todas as áreas do funcionamento psicológico (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). A partir deste conceito de personalidade, Millon diferencia padrões normais (ou funcionais, adaptados) e padrões patológicos (ou disfuncionais, desadaptados). Contudo, diferente da visão tradicional que entende o normal e o patológico como duas categorias diferentes, na teoria de Millon ambos os estilos de funcionamento são colocados como pontos distintos de um mesmo continuum, o que resulta em uma compreensão mais abrangente das possibilidades de estilos da personalidade e na inexistência de uma linha clara que divida estilos adaptativos e desadaptativos. (Millon & Daves, 1996). Para Millon, a normalidade é a habilidade do indivíduo funcionar independentemente e competitivamente obtendo senso pessoal de satisfação e contentamento (Alchieri, 2004). No mesmo sentido, a patologia é caracterizada por respostas inflexíveis ou deficientes às demandas cotidianas, trazendo desconforto, prejuízos e redução nas oportunidades de aprendizagem (Millon & Daves, 1996). Quando muitos traços da personalidade típicos ocorrem em conjunto, constituindo aquilo que Millon aponta como protótipo da personalidade, verifica-se o desenvolvimento de um transtorno da personalidade (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Os transtornos da personalidade podem ser conceituados como um padrão inapropriado, mal-adaptativo ou deficiente do comportamento frente às demandas sociais (Millon & Daves, 1996; Alchieri, 2004). Com base em seu modelo teórico integrativo e nos 19
  • 20. pressupostos evolucionistas, assim como nos grupos propostos no eixo II no DSM-III e DSM-IV, Millon propôs quatorze transtornos da personalidade, sumarizados na Tabela 2, extraída de Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath (2004). Tabela 2. Breve Descrição dos 14 Transtornos da Personalidade Transtornos da Personalidade Principais características Esquizóide Apático, indiferente, remoto, solitário. Não deseja relacionamentos humanos; demonstra mínima consciência de sentimentos sobre si ou outros, assim como pouca ou nenhuma ambição. Evitativo Hesitante, auto-consciente, embaraçado, ansioso. Tenso (por medo ou rejeição) em situações sociais; impregnado por performance ansiosa constante; se vê como inadequado, inferior ou desagradável; sente-se sozinho e vazio. Depressivo Melancólico, desencorajado, pessimista, taciturno, fatalista. Se vê como vulnerável e abandonado; sente-se desvalorizado, culpado e impotente; se julga merecedor de críticas e desprezo. Dependente Indefeso, incompetente, submissivo, imaturo. Não assume as responsabilidades; se vê como frágil e fraco; busca reasseguramento de figuras fortes. Histriônico Dramático, sedutor, superficial, procurador de estímulos, vaidoso. Reage exageradamente a eventos pequenos; exibicionista para assegurar atenção e favores para si; se vê como atrativo e charmoso. Narcisista Egoísta, arrogante, grandioso, indiferente. Preocupado com fantasias de sucesso, beleza ou realização. Se vê como admirável e superior, e designado a tratamentos especiais. Antisocial Impulsivo, irresponsável, depravado, incontrolável. Age sem consideração; agrupa-se socialmente apenas para causa própria; desrespeita costumes sociais, regras e padrões; se vê como livre independente. Sádico Explosivamente hostil, abrasivo, cruel, dogmático. Tende a explodir subitamente de raiva; sente-se satisfeito através da dominação, intimidação e humilhação alheia; é teimoso e fechado (inflexível). Compulsivo Contido, consciencioso, respeitoso, rígido. Mantém um estilo de vida limitado às regras; adere fortemente às convenções sociais; vê o mundo em termos de regulamentos e hierarquias; se vê como devoto, confiável, eficiente e produtivo. Negativista Ressentido, teimoso, cético, descontente. Resistente a expectativa satisfatória dos outros. Deliberadamente ineficiente; expressa raiva indiretamente para impugnar os objetivos alheios; humor alternado, irritável, mal-humorado e reservado. Masoquista Respeitador, fóbico de prazer, servil, vergonhoso, modesto. Encoraja os outros a tirarem vantagem; ataca suas realizações deliberadamente; busca parceiros que condenam ou que os maltratam. Paranóide Reservado, defensivo, desconfiado e respeitoso. Hipervigilante aos motivos dos outros visando miná-los ou danificá-los; sempre buscando evidências confirmatórias de esquemas 20
  • 21. ocultos; sente-se íntegro, mas perseguido. Esquizotípico Excêntrico, auto-alienante, bizarro, ausente. Exibe comportamentos peculiares e maneirismos; acha que pode ler o pensamento dos outros; preocupado com crenças e sonhos estranhos; linhas obscuras entre fantasias e realidade. Borderline Imprevisível, manipulador, instável. Teme freneticamente o abandono e isolação; experiencia rápidas flutuações no humor; mudanças rápidas entre amor e ódio; vê a si e outros alternadamente como totalmente bom ou totalmente mal. Os quatorze grupos de transtornos da personalidade representam protótipos nomotéticos, que se subdividem em quatro subtipos idiográficos, conforme proposto por Millon e Daves (1996). A partir de agora serão apresentados os quatorze transtornos da personalidade, suas principais características e seus respectivos subtipos (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). A Personalidade Esquizóide A personalidade esquizóide refere-se aquele transtorno da personalidade que “carece de uma personalidade” (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). De maneira passiva, demonstram claro desinteresse em manter qualquer tipo de relacionamento com outras pessoas, principalmente por entenderem que não terão ganhos com estes relacionamentos. Normalmente não são referidos por ninguém, passando desapercebidos de modo geral, mas podem ser apontados como emocionalmente desapegados (Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath, 2004; Davis, 1999). São vistos pelos outros como distantes, introvertidos, despreocupados e indiferentes, e são caracterizados como indivíduos que se guardam para si. O tema central deste estilo de personalidade é a ausência de necessidade de se relacionar. Dificilmente experienciam fortes emoções, não expressam ações significativas, não possuem engajamentos interpessoais, são remotos e indiferentes, assim como podem demonstrar um empobrecimento cognitivo e um temperamento dificilmente excitável (Millon & Daves, 1996). São indivíduos que freqüentemente buscam atividades e hobbies que podem ser realizados isoladamente, e parecem fazer abstrações acerca do mundo, desenvolvendo mundos fantasiosos para seus sonhos e ambições. Segundo Millon (Millon, Grossman, 21
  • 22. Millon, Meagher e Ramnath, 2004), a personalidade esquizóide encontra sua variante normal no chamado Estilo Retirante. O estilo retirante é caracterizado por indivíduos que necessitam minimamente de receber ou dar afetos, e pouco se envolvem emocionalmente com outros; exibem poucos relacionamentos e laços afetivos; são vistos como pessoas calmas, plácidas, despreocupadas e indiferentes aos sentimentos alheios. Variações da Personalidade Esquizóide A personalidade esquizóide apresenta quatro diferentes variações de seu protótipo puro, que é raramente encontrado no mundo real. Estas variações são propostas, sobretudo, pela freqüente combinação de características dos protótipos da personalidade encontrada nos indivíduos (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São elas: Esquizóide Indiferente, Esquizóide Distante, Esquizóide Despersonalizado, e Esquizóide Inafetivo. - Esquizóide Indiferente: combinação com a personalidade depressiva. Demonstra um ritmo pessoal lento, baixo nível de ativação, e ausência de vigor e energia. São indivíduos que se fadigam facilmente, expressam fraquejo motor, e são vistos como pessoas muito confortáveis ou preguiçosas. Não vão atrás de suas responsabilidades ou de prazeres simples, e não comportam-se espontaneamente. Nas relações interpessoais, são vistos como quietos, sem graça, com pouca iniciativa, anedônicos e desapegados. - Esquizóide Distante: combinação com a personalidade evitativa, e níveis mais severos podem apresentar características típicas do transtorno da personalidade esquizotípica. Apresenta capacidade reduzida para sentir e relatar seus sentimentos para os outros. Podem expressar ansiedade social e manifestar comportamentos excêntricos, pensamentos autistas e despersonalização. Caracterizam-se por engajarem-se marginalmente nos relacionamentos, ainda que de maneira dependente. - Esquizóide Despersonalizado: combinação com a personalidade esquizotípica. São indivíduos vistos pelos outros como desligados, sonhadores e distantes, afastados do mundo real. São extremamente desengajados e desatentos aos temas do dia-a-dia. 22
  • 23. Parecem preocupados com algo interno, mas de fato não carregam nenhum tipo de preocupação. São percebidos como observadores externos de si, desapegados não só do mundo, mas de seus próprios sentimentos e pensamentos, imaginação e fantasias, e até mesmo de seus corpos físicos. - Esquizóide Inafetivo: combinação da apatia típica da personalidade esquizóide e a constrição emocional e formalidade da personalidade compulsiva. São indivíduos isolados, emocionalmente desapegados, que eliminam efetivamente toda e qualquer expressão emocional. Personalidade Evitativa Algumas pessoas são extremamente sensíveis a humilhação e desaprovação social, e buscam ativamente a proteção de outros por ameaças percebidas como inevitáveis. Ao longo da vida engajam-se em pouquíssimas relações interpessoais, têm poucos amigos íntimos, freqüentemente estabelecem vínculos apenas com familiares (Davis, 1999). Contudo, são indivíduos que desejam as relações sociais, e sofrem com a solidão e isolamento, mas permanecem isolados por se perceberem como vulneráveis a humilhações sociais, assim como incompetentes e estúpidos perante os outros. Segundo Millon (Millon & Daves, 1996), estas pessoas podem se caracterizar por apresentarem a chamada personalidade evitativa. Personalidades evitativas freqüentemente ficam em silêncio e se fazem passar como invisíveis, desapercebidos pelos outros. Resistem a qualquer mudança de vida que os deixe mais suscetíveis aos olhos públicos, como promoções no trabalho e outros ganhos de vida. Ao mesmo tempo em que desejam ter relações, se vêem como desgraçados em um mundo privado pela vergonha, sozinhos em suas inadequações. Millon (Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath, 2004) aponta para a variante normal da personalidade evitativa, chamada de Estilo Hesitante. O estilo hesitante caracteriza-se por uma sensibilidade à indiferença e rejeição social, são inseguros de si, e são cuidadosos em situações sociais e interpessoais, sobretudo com estranhos. Antecipam possíveis dificuldades nas relações e temem se embaraçar 23
  • 24. perante os outros. Muitos preferem trabalhar unicamente sozinhos ou em pequenos grupos, nos quais sabem que serão aceitos. Uma vez no grupo, mostram-se abertos e cooperativos. Variações da Personalidade Evitativa Assim como os demais protótipos de transtornos da personalidade, a personalidade evitativa possui diferentes subgrupos que apontam para variações no estilo básico do funcionamento evitativo (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São eles: Evitativo Conflitante, Evitativo Hipersensitivo, Evitativo Fóbico, e Evitativo Auto- Abandonado. - Evitativo Conflitante: possui características combinadas entre a personalidade evitativa e a personalidade negativista. O conflito básico na personalidade evitativa refere-se ao desejo de intimidade versus o medo da vulnerabildade, que naturalmente emerge em relações íntimas com outros. Nesta variação, há uma ambivalência sobre si e sobre os outros, assim como uma idealização de amigos e companheiros. São indivíduos que se isolam, e são percebidos como petulantes e mal-humorados. Podem atacar os outros por estes falharem em atender seus afetos, e reportam com freqüência não serem atendidos, serem desvalorizados e humilhados, apresentando humor mais instável que o evitativo clássico. Em períodos de stress tornam-se indivíduos muito hostis e impulsivos. - Evitativo Hipersensitivo: combinação com a personalidade paranóide, contudo, exibe grande contato com a realidade. São conscientes de suas deficiências, mas atribuem grande parte delas aos outros, não se responsabilizando de suas dificuldades. Caracterizam-se como indivíduos tensos e irritadiços, vigilantes a sinais de rejeição e abuso, e são excessivamente atentos aos motivos alheios. Esta apreensão leva a um humor instável que pode se caracterizar por longos períodos de auto-desvalorização. Alternam entre uma profunda tristeza (personalidade evitativa) e uma projeção irracional (personalidade paranóide). - Evitativo Fóbico: combinação com a personalidade dependente. Do mesmo modo que o funcionamento evitativo “puro”, o evitativo fóbico deseja relacionar-se intimamente com outros. Contudo, de outro modo, investem sua confiança em um 24
  • 25. outro significante e temem exageradamente uma potencial perda do relacionamento. Ficam presos entre o desejo de se relacionar e o medo da possibilidade de abandono, o que os leva a procurar um substituo simbólico para seus medos e raivas. Para muitos evitativos fóbicos, a expressão do medo na presença do objeto fóbico também representa um desejo de compaixão, um desejo de fazer uso instrumental do medo como meio de desarmar a rejeição e a ameaça do abandono do suporte do outro. - Evitativo Auto-Abandonado: combinação do recuo social da personalidade evitativa, com a ruminação cognitiva de auto-desvalorização da personalidade depressiva. São indivíduos que fantasiam para evitar o desconforto de se relacionar com outros, e são conscientes deste processo, o que os leva a se perceberem mais dolorosamente como inadequados. Ao longo do tempo as fantasias se tornam cada vez menos efetivas e seus pensamentos se voltam para o próprio sofrimento. Mais e mais, não conseguem tolerar serem si próprios e buscam o completo retiro de suas consciências, o que pode levar a um descuido psíquico e físico de si. Personalidade Depressiva Em algumas pessoas, características depressivas, como anedonia e humor triste são mais que um conjunto de sintomas. São indivíduos que se sentem tristes e culpados, cujo estado de humor emerge como conseqüência de uma matriz completamente penetrante, de características muito fixas. Por estarem quase sempre com humor deprimido e triste, se vêem como inadequados e inúteis. A personalidade depressiva caracteriza o indivíduo que se submerge em auto- críticas pelos menores defeitos e tendem a se culpar quando as coisas não dão certo. Freqüentemente desejam que a vida seja diferente, ainda assim, não tomam qualquer tipo de iniciativa para mudanças, e se repreendem por perderem oportunidades e se sentem fracos para mudar o destino. Variações da Personalidade Depressiva 25
  • 26. A personalidade depressiva exibe características de outros transtornos da personalidade. Os humores resultantes e ações que estes indivíduos manifestam dão uma coloração diferente ao modelo básico da personalidade depressiva. As variações são: Depressivo de Humor Patológico, Depressivo Temporário, Depressivo Auto-Derrogado, Depressivo Mórbido, e Depressivo Irriquieto. - Depressivo de Humor Patológico: esta variação da personalidade depressiva representa a combinação com a personalidade negativista. São indivíduos que estão sempre descontentes e reclamando, eternos queixosos, e irritáveis crônicos. Sentem- se freqüentemente doentes e não se contentam com nada, vacilando entre atormentar a própria vida ou virar seu negativismo para os outros, para que suas reclamações sejam ouvidas. - Depressivo Temporário: refere-se a combinação com as personalidades histriônica ou narcisista. São pessoas que entendem o sofrimento como algo nobre, e acreditam que unicamente os capacitados com sensitividades especiais têm a possibilidade para sentir com profundidade e auto-consciência. Fazem da dor um objeto de contemplação, e gostam de demonstrar seu humor infeliz através da aparência. Pela linguagem e leitura rebuscadas, causam a impressão de um sofrimento refinado que provoca admiração e atenção dos outros. - Depressivo Auto-Derrogado: diz respeito à combinação com a personalidade masoquista. Exibem extraordinária culpa, conjuntamente com a necessidade de descarregá-la através de diferentes modos de auto-punição. Quando há algum conflito com o outro, antecipam o abandono, levando-os a admitir a fragilidade e a condenar-se a críticas e a rejeição de ajuda. Manifestam sentimentos de hostilidade e ressentimento com freqüência. - Depressivo Mórbido: combinação da personalidade depressiva com as personalidades masoquista e dependente. Demonstram uma profunda paralisia depressiva, assim como sentimentos de rejeição e melancolia. Por se verem como um peso, procuram se despistar dos outros, e suas mentes são preenchidas por pensamentos opressivos e temem os novos dias que virão. Há o temor de uma maldição iminente e do absoluto desamparo, assim como um senso penetrante de culpa e resignação pelo destino desesperançoso. Por fim, exibem crenças de 26
  • 27. incapacidade para enfrentar os problemas, o que os leva a características típicas dos dependentes. - Depressivo Irriquieto: refere-se a combinação com a personalidade evitativa. São pessoas que manifestam freqüentemente agitação e angústia, são irritadiços, mas restringem a irritação para si próprios, demonstram desânimo e desafeição a si. São nervosos, irritados, distraídos, e suas vidas emocionais consistem de uma seqüência de frágeis humores, curtos e intensos. Desesperados pela ausência de ganhos na vida, sentem-se obrigados a fazer algo para expressar uma visão profundamente pessimista de si e do mundo. O suicídio pode ser o modo final para mostrarem algum controle sobre suas vidas. Personalidade Dependente Pessoas que arranjam suas vidas para assegurar suprimentos de cuidado constante do ambiente e direção na vida, e se preocupam demasiadamente em errar e decepcionar os outros, são características típicas da personalidade dependente. O bem-estar do outro sempre vem primeiro, custe o que custar. São comprometidos com seus relacionamentos, especialmente com seus parceiros e com o casamento. Essencialmente, vivem suas vidas através dos e para os outros, a quem oferecem carinho, entusiasmo e consideração. Tendem a assumir um papel mais passivo nos relacionamentos, submetendo-se a opinião e desejos daqueles que amam, cujo prazer e satisfação eles sentem vicariamente (Davis, 1999). Preferem harmonia nos relacionamentos e tendem a se desculpar ou a se arrepender quando, na verdade, outros deveriam assumir grande parte da responsabilidade. Muitas características da personalidade dependente são esperadas e almejadas pela sociedade, como estar feliz quando alguém que se ama está feliz e fazer sacrifícios pelos outros. São indivíduos que freqüentemente temem fazer algo para si próprios, e muitos são incapazes de tomar uma decisão rotineira sem antes pedir por um conselho externo. Por colocarem suas vidas sob o controle da vida alheia, acabam sufocando seus parceiros por serem pegajosos e se deixam vulneráveis ao abandono. Assim, para se proteger da possibilidade do abandono, se submetem aos desejos dos parceiros ou se tornam tão amáveis que não deixam abertura para serem deixados. Segundo Millon 27
  • 28. (Millon, Grossman, Millon, Meagher e Ramnath, 2004) a personalidade dependente possui uma variante normal, chamada de Estilo Concordante. O estilo concordante caracteriza-se por serem pessoas cooperativas, amáveis e respeitosas. Adaptam suas preferências para serem compatíveis aos que estão em volta. São indivíduos confiáveis, por serem agradáveis e respeitosos, reconciliam diferenças e fazem decisões para eliminar conflitos. São genuinamente empáticos e possuem uma grande capacidade para sustentar amores incondicionais. Infelizmente, todos estes traços saudáveis podem se tornar facilmente patológicos, uma vez que os dependentes tendem a fusionar suas identidades com a dos outros (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Variações da Personalidade Dependente Para a personalidade dependente existem diversas variações que expressam suas combinações com outras personalidades. As variações são: Dependente Preocupado, Dependente Acomodado, Dependente Imaturo, Dependente Ineficaz, e Dependente Abnegado. - Dependente Preocupado: refere-se a combinação da personalidade dependente com a personalidade evitativa. Muitos destes indivíduos vivem uma existência parasita sustentada por ganhos e requisitos, e possuem uma apreensão exagerada que resulta em ansiedade para autonomia e pouca iniciativa. Ficam facilmente incomodados e experienciam um senso generalizado de temor e maus presságios. São especialmente vulneráveis a ansiedade de separação e temem a perda de suporte e cuidado dos outros. Diferente das outras variações da personalidade dependente, podem expressar seus medos com explosões de raiva direcionada para que, falha em satisfazer suas necessidades. - Dependente Acomodado: combinação com traços da personalidade masoquista. São mais submissos, agradáveis, e famintos por afeição, cuidado e segurança que os outros subtipos da personalidade dependente. O medo do abandono os leva a uma exagerada obediência e a serem demasiadamente prestativos. Alguns procuram ser o centro das atenções através de comportamentos de auto-dramatização. São graciosos e benevolentes nos relacionamentos, evitando conflitos, assim, preocupam-se com a 28
  • 29. aprovação externa, podendo não desenvolver uma identidade real, sem valorizar as próprias características, mas unicamente as relações com outros. Tendem a se auto- sacrificar e assumir o papel de inferior e subordinado. A amabilidade serve para encorajar os outros a tomar controle de suas vidas, compensando sua incompetência. Costumam carregar um sorriso no rosto e ter palavras amigáveis, mas dificilmente tomam responsabilidades para si. - Dependente Imaturo: é uma variante do funcionamento básico da personalidade dependente. Caracteriza-se pelo subdesenvolvimento, inexperiência e pouca sofisticação. São indivíduos que tendem a demonstrar poucas ambições e energia para o que se espera em adultos, passividade para desenvolver competências, e dificuldades para assumir papéis. Tornam-se pessoas difíceis de lidar quando há demandas para eles ou quando se espera que façam algo. Podem ser vistos como irresponsáveis e negligentes. - Dependente Ineficaz: refere-se à combinação da personalidade dependente com a personalidade esquizóide. Manifestam pouca vitalidade, baixo nível de energia, facilmente fatigáveis, pouco espontâneos e fracos em suas expressões. Devido sua natureza infantilizada, procuram por um estilo de vida sem problemas, sem responsabilidades, desligando-se das demandas do cotidiano e não se engajando em nada que demande profundidade e intimidade. - Dependente Abnegado: é a combinação com a personalidade depressiva. Os temas centrais desta variação é a idealização do outro e a total identificação. Carregam a característica marcante da personalidade dependente de serem indivíduos subordinados aos outros, contudo, de modo muito mais intenso. Se submetem completamente aos desejos e necessidades alheias, deixando de lado suas identidades no processo. Negam seus potenciais e a independência própria não é almejada. Através da fusão com os outros, asseguram um senso de significância, estabilidade emocional e propósito de vida, possibilitando adotarem valores e atitudes diferentes daquelas de suas preferências. Quanto mais se fusam com o outro idealizado, mais se apegam emocionalmente, e mais se sentem significantes no mundo. Quando seus relacionamentos apresentam algum tipo de problema, tendem a expressar ansiedade e depressão, mais do que outras variações expressariam. 29
  • 30. Personalidade Histriônica São indivíduos que podem ser descritos como sedutores, indecisos, muito emotivos, expansivos e procuradores de atenção. A raiz de suas características está no sentimento de desamparo e necessidade de fazer dos outros o centro de suas vidas. A personalidade histriônica refere-se a pessoas que gostam de chamar atenção dos outros, são tipicamente dramáticas e freqüentemente sedutoras. Sentimentos de ressentimento e depressão podem ser evocados pela falta de admiração e reverência alheia. São extremamente influenciáveis, sobretudo visando a interação com aqueles que almejam. Uma vez em uma conversação com a pessoa alvo, comunicam-se de modo expressivo e com riqueza de detalhes, o que também pode ser notado pelo modo com que se vestem, caracterizando memoráveis combinações (Davis, 1999). Do mesmo modo que o estereotipo da personalidade anti-social é o homem, o estereotipo da personalidade histriônica é a mulher. São indivíduos constantemente exagerados e atuantes. A variação normal da personalidade histriônica é chamada de Estilo Sociável, que se caracteriza por indivíduos que se focam mais na socialização do que na atuação em si, e possuem grande confiança em sua influência e charme (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São usualmente descritos como calorosos, vigorosos, emocionantes, cheios de energia e provocantes, e podem ser percebidos como alegres e otimistas. Muitos são abertos para novas possibilidades e apreciam novas experiências. Variações da Personalidade Histriônica Combinações com modelos secundários levam a diferentes colorações de modelos primários, ainda assim, ocasionalmente subtipos podem ser constituídos meramente a partir da combinação de traços principais de um único modelo. As variações da personalidade histriônica são: Histriônico Teatral, Histriônico Infantil, Histriônico Vivaz, Histriônico Tempestuoso, e Histriônico Malicioso. - Histriônico Teatral: é uma variação do protótipo básico da personalidade histriônica. São especialmente dramáticos, românticos e buscam intensamente por 30
  • 31. atenção. O self é subordinado às demandas sociais, transformado, sintetizado e fabricado para otimizar seu apelo ao nicho social. Seu maior esforço consiste na Busca por conhecer os motivos alheios e lhes dar o que é atrativo, prazeroso e sedutor. Costumam exibir de modo dramático suas realizações intelectuais ou sucessos financeiros. Estão freqüentemente engajados em relacionamentos amorosos, ainda que sejam relacionamentos simbólicos. - Histriônico Infantilizado: diz respeito à combinação com a personalidade borderline. Através do engajamento em relacionamentos prematuramente sexualizados e atração de outros fortes ao redor, experenciam mais gratificações e poucas frustrações. Assim, não necessitam desenvolver um senso sólido de identidade própria. Pela ausência do senso de identidade, nos relacionamentos com outros significantes se mostram extremamente dependentes e exigentes com relação suas necessidades. Buscam constantemente o reasseguramento para manter a própria estabilidade e vacilam entre extrema submissão e profunda depressão quando o reasseguramento externo não vem. São indivíduos que expressam grande inconstância e imprevisibilidade emocional, que vai do amor para raiva, e então para intensa culpa. - Histriônico Vivaz: refere-se à combinação da personalidade histriônica com alguns traços da personalidade narcisista, ainda assim, é uma síntese da sedução histriônica com a energia típica da hipomania. Como resultado, verifica-se atratividade, charme, jovialidade, intensidade e entusiasmo nestes indivíduos. São interpessoalmente alegres, otimistas, espontâneos e impulsivamente impressionistas, sem se preocuparem com as conseqüências futuras. São orientados por uma necessidade de excitação e estimulação, e muitos são apaixonados, engajando-se em diversos relacionamentos em uma rápida sucessão. - Histriônico Tempestuoso: é a combinação da personalidade histriônica e negativista. São indivíduos intensamente mal-humorados e emocionalmente instáveis, que podem apresentar alguma atratividade e uma superficial sociabilidade quando estão em períodos tranqüilos de suas vidas. Contudo, são facilmente aborrecidos, excessivamente dramáticos, e muito reativos à estimulação externa. Muitos alternam entre períodos de extrema excitação emocional e um impulsivo 31
  • 32. fingimento. Por possuírem uma identidade fragmentada, como na personalidade borderline, são muito vulneráveis a modos descontrolados de grosseria e mudam rapidamente suas emoções, perdem o controle quando são incomodados, e reagem com turbulência às menores provocações. - Histriônico Malicioso: refere-se à combinação com a personalidade anti-social. São indivíduos que causam uma boa impressão em um primeiro momento, e parecem sociáveis e sinceros, exibindo espontaneidade e charme, de modo que os outros ao redor tendem a baixar rapidamente suas defesas. Contudo, esta variação mostra-se mais manipuladora que o funcionamento básico da personalidade histriônica, e utilizam-se disso para que portas sejam aberta em suas vidas, escondendo temporariamente características básicas da personalidade anti-social. Personalidade Narcisista A personalidade narcisista é caracterizada por indivíduos que se vêem como superiores, portadores de uma arrogância inviolável. Se perdem em suas fantasias auto- fabricadas de poder divino, riquezas inacabáveis, gênio intelectual, ou inigualável celebridade. Percebem-se como melhores que os outros e julgam as pessoas com desprezo e superioridade. Consideram os outros como meros operários, assim, acreditam que suas necessidades devam ser atendidas com antecipação, e que os outros devem livrá-los de obrigações mundanas (Davis, 1999). O egocentrismo do narcisista o torna indiferente ao que é correto e ao bem-estar alheio, e até mesmo indiferente e desrespeitador das leis. Visando justificar suas atitudes, racionalizam constantemente, de modo a apresentar razoes convenientes que explicam sua desconsideração e atitude superior. Quando confrontado, torna-se ainda mais arrogante, desprezível e irritadiço. Millon (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004) nomeou de Estilo Afirmativo a variação normal da personalidade narcisista. São indivíduos competitivos e seguros de si. Podem manifestar um senso de ousadia que deriva de suas crenças de inabalável inteligência ou talento. Ambiciosos, assumem o papel de líderes, ativamente decisivos, e esperam que os outros reconheçam suas habilidades superiores. São 32
  • 33. audaciosos, inteligentes e persuasivos. A auto-apreciação do estilo afirmativo pode resultar em sentimentos de que são superiores e merecem um tratamento especial. Variações da Personalidade Narcisista A personalidade narcisista caracteriza indivíduos freqüentemente percebidos como ofensivos, grandiosos e antipáticos. Contudo, assim como os outros transtornos da personalidade, seu protótipo básico apresenta variações distintas: Narcisista Imoral, Narcisista Compensatório, Narcisista Amoroso, e Narcisista Elitista. - Narcisista Imoral: refere-se a combinação da personalidade narcisista com os comportamentos recorrentes e irregulares da personalidade anti-social. Muitos são socialmente bem-sucedidos através da exploração dos limites sociais que fazem margem com a ilegalidade. Outros são encontrados em programas de reabilitação para drogadictos, centros para jovens criminosos, e prisões. Outros ainda, são oportunistas e tiram vantagem dos outros para obterem ganhos pessoais. São pessoas vingativas e orgulhosas de suas vítimas, e praticamente não internalizam nenhum tipo de proibição moral. São vistos como inescrupulosos, imorais e enganadores, e mostram indiferença ao bem-estar alheio. - Narcisista Compensatório: variação que combina a personalidade narcisista com as personalidades evitativa e negativista. Caracteriza-se por desenvolver ilusões de superioridade para compensar profundos sentimentos de inferioridade. Faz da vida um meio de satisfazer suas aspirações de status, reconhecimento e prestígio. São indivíduos excessivamente sensitivos às reações alheias, e buscam esconder seu senso de deficiência sobre si criando uma fachada de superioridade. Ao invés de viverem suas vidas, se deixam levar por um teatro imaginário e fantasioso, não relacionado com o mundo real. Quando se sentem ameaçados, se defendem com arrogância e desrespeito. - Narcisista Amoroso: combina o temperamento narcisista com traços da personalidade histriônica. É o subtipo definido por um jogo de sedução erótica que estes indivíduos jogam com seus objetos de afeição. Demonstram habilidades para seduzir e atrair aquele que necessita de carinho e afeição, enquanto desempenham 33
  • 34. seus desejos hedonistas e satisfazem seu apetite sexual. Embora este jogo implique usualmente em um relacionamento a dois, não são inclinados a intimidade legítima, escolhendo relacionar-se simultaneamente com potenciais conquistas. Para maior parte deles, o parceiro não passa de alguém que providencia um corpo caloroso que eles podem temporariamente explorar quando estão entediados. Confronto, críticas e punições provavelmente não os farão mudar. - Narcisista Elitista: é uma variação da personalidade narcisista básica. São indivíduos que constroem uma falsa fachada para amplificar sua auto-imagem superior. Mostram-se poderosos, e seu exibicionismo pode ser focado em habilidades intelectuais ou em riquezas acumuladas. Sabem como exibir símbolos de status e ganhos, e muitos idolatram o reconhecimento e se engajam em auto- promoções. Por fazerem muitas afirmações sobre si, expõem uma grade divisão entre o eu atual e a auto-apresentação. Personalidade Anti-social A personalidade anti-social é aquele modo de funcionamento no qual maldade e loucura são encontrados difusos. Algumas vezes os crimes de indivíduos com um funcionamento anti-social são tão incompreensíveis e moralmente repugnantes que observados isoladamente causam dúvidas sobre qualquer possibilidade de sanidade. São indivíduos com pouca consciência da magnitude de seus atos, contudo, a despeito dos casos extremos encontrados em filmes e na literatura (geral e científica), a maioria dos anti- sociais encontram locais confortáveis dentro da sociedade para que possam ter uma vida mais adequada (algumas profissões, como políticos e militares, podem ser utilizadas como exemplos) (Davis, 1999). A variação normal da personalidade anti-social é chamada de Estilo Discordante, representada por pessoas não convencionais, que fazem as coisas de um modo muito peculiar e concordam com as conseqüências de seus atos, sem considerar como são ou serão julgadas. Às vezes utilizam os limites entre legalidade e ilegalidade em busca de seus desejos e objetivos. Se vêem como independentes e criativos, e são freqüentemente criticados por serem impulsivos e irresponsáveis. 34
  • 35. Variações da Personalidade Anti-Social As variações dos modelos básicos das personalidades são descritas como combinações entre construtos que descendem diretamente da teoria integrativa e evolucionista de Millon. As variações da personalidade anti-social são: Anti-social Cobiçoso, Anti-Social Defensor da Reputação, Anti-social Aventureiro, Anti-social Nômade, e Anti-Social Malévolo. - Anti-social Cobiçoso: é uma variação do protótipo básico da personalidade anti- social. São indivíduos com um grande desejo de possuir e dominar, e sentem que a vida não lhes dá o que merecem, que são privados de amor, suporte e ganhos materiais. São orientados pelo desejo de retribuição, em conseguir do destino o que não lhes foi dado. Em meio a raiva e o ressentimento, seu maior prazer repousa em ter controle das propriedades e posses alheias. Muitos sentem um profundo senso de vazio, com imagens vagas de como uma vida diferente poderia ter lhes dado boas oportunidades. - Anti-social Defensor da Reputação: refere-se à combinação entre a personalidade anti-social e personalidade narcisista. São motivados pelo desejo de defender e estender suas reputações de coragem e resistência. Seus atos visam assegurar que os outros os noticiem com o respeito que entendem merecer. Vão contra a possibilidade de desprezo, e atuam para serem vistos como significantes pela sociedade, e não desrespeitáveis ou indiferentes, caso o contrário, podem ser intensamente explosivos e ferozes. - Anti-social Aventureiro: é a combinação com a personalidade histriônica. São indivíduos que se arriscam com a intenção de impressionar os outros com coragem, mas são indiferentes sobre a possibilidade de conseqüências dolorosas. Desejam ser vistos pelos outros como não afetáveis por experiências perigosas, mostrando-se inabaláveis frente a possibilidade de morte ou acidentes graves. Por fim, são pessoas irresponsáveis em suas atitudes, e falham em considerar as conseqüências de suas vidas e dos outros, buscando cada vez mais desafios. 35
  • 36. - Anti-social Nômade: esta variação diz respeito à combinação da personalidade anti- social com as personalidades esquizóide e/ou evitativa. São pessoas levadas à margem da sociedade, buscando fugir do meio social, no qual se sentem desnecessários, deixados de lado ou abandonados. Se vêem como amaldiçoados e desejam existir apenas à margem de um mundo que os rejeita. Centrados na auto- piedade, se afastam da sociedade, sendo vistos como vagabundos, itinerantes ou ciganos. - Anti-social Malévolo: refere-se à combinação com as personalidades paranóide e sádica. Caracterizam-se como indivíduos hostis, rancorosos, cruéis, malignos, brutos, insensíveis e vingativos, que atuam com desafio odioso e destrutivo frente a vida social convencional. Antecipam a traição e punição, do mesmo modo que a personalidade paranóide, e para eles, emoções delicadas são entendidas como sinais de fraqueza. Quando confrontados com resistência, são experientes na arte de se exibir e aceitar a pressão do oponente até que este recue. A Personalidade Sádica Embora possam ser violentos a ponto de cometerem um assassinato, o comportamento sádico é caracterizado pelo conhecimento do sofrimento alheio seguido de prazer pessoal. E, a personalidade sádica se caracteriza não somente por comportamentos sádicos, mas quando a organização do princípio de vida do indivíduo é movida pelo desejo de causar dor psicológica e/ou física nos outros. Portanto, a personalidade sádica é apontada como aquela que causa sofrimentos gratuitos nas pessoas ao redor (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). A variação normal da personalidade sádica, Estilo Controlador, diz respeito a indivíduos que se satisfazem com o poder de orientar e intimidar o outro, assim como evocar obediência e respeito. Rígido e não sentimental, são efetivos líderes, determinando tarefas e coagindo performances e resultados de seus subordinados. Também se satisfazem ditando e manipulando as pessoas que estão em volta. Variações da Personalidade Sádica 36
  • 37. A personalidade sádica pode combinar critérios de diferentes modos de funcionamento, em diferentes direções, e com diferentes histórias. Muitos possuem características secundárias da personalidade que sintetizam com o modelo principal (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). As variações propostas são: Sádico Explosivo, Sádico Tirânico, Sádico Impositivo, e Sádico Fraco. - Sádico Explosivo: é a combinação com a personalidade borderline. São caracterizados por súbitas explosões de uma incontrolável raiva, freqüentemente descarregada contra membros da própria família. Parecem poder ser enfrentados normalmente pelos outros, até que um limiar idiossincrático é alcançado, reagindo de maneira abrasiva e com possíveis violências físicas. A agressão não é usada para dominação dos outros, mas para inibir sentimentos de frustração e humilhação. Muitos são hipersensitivos ao sentimento de traição, e podem ser profundamente frustrados frente o fracasso e a desesperança. - Sádico Tirânico: refere-se à combinação com as personalidades negativista ou paranóide. É provavelmente o mais assustador e cruel subtipo, conjuntamente com o subtipo anti-social malévolo. Alguns destes indivíduos são fisicamente violentos, enquanto outros submetem suas vítimas a rígidas críticas, poderosa raiva, e vulgares e amargas desgraças. Saboreiam ameaças e brutalizam os outros de modo impiedoso e sem humanidade. Demonstram profunda satisfação em criar sofrimento nos outros, observar seus efeitos e refletir em suas ações. - Sádico Impositivo: é a combinação com a personalidade compulsiva. São indivíduos caracterizados por infligir punição aos outros para fins próprios, e são incapazes de se satisfazer. Sentem ter o direito de controlar e punir os outros, e se camuflam através de regras sociais (como buscar um emprego que os permita punir os outros), justificando suas condenações a partir da justiça, na qual seus profundos motivos são claros. Por fim, são indivíduos que não demonstram ter algum tipo de limite em suas emoções. - Sádico Fraco: diz respeito à combinação da personalidade sádica com a personalidade evitativa. São pessoas profundamente inseguras e covardes, que reagem com atitudes agressivas (caricatura do “cara durão) para ocultar seus 37
  • 38. próprios medos, tentando mostrarem-se fortes e intimidáveis. Seu mundo privado é povoado por poderosos e agressivos inimigos. Personalidade Compulsiva São pessoas muito eficientes, trabalhadoras, organizadas e ordenadas, que se esforçam para conter o conflito entre obediência e desacato. Tentam fazer tudo com perfeição para evitar os menores erros ou falhas, que podem deixá-los intensamente culpados. Rigidamente devotos a produtividade, raramente gastam tempo com si próprios ou familiares. Colocam padrões altos e irrealistas para si e para os outros, e são freqüentemente rígidos e dogmáticos com relação à moralidade, regras, ética e valores. São vistos como extremamente teimosos, rígidos e inflexíveis (Davis, 1999). A personalidade compulsiva encontra sua variante normal no Estilo Conformista, que se refere a indivíduos que se constroem com base no que é convencional, preferindo seguir regras e padrões já estabelecidos. São adequados, convencionais, obedientes e perfeccionistas. Respeitam tradições e autoridades, sustentam regras e padrões, e seguem intimamente os regulamentos. Podem ser rígidos e inflexíveis nos relacionamentos, e são vistos como hábeis e confiáveis. Variações da Personalidade Compulsiva Para a personalidade compulsiva foram propostas cinco distintas variações do protótipo básico: Compulsivo Consciente, Compulsivo Rigoroso, Compulsivo Burocrático, Compulsivo Sovina, e Compulsivo Atormentado (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). - Compulsivo Consciente: refere-se à combinação entre as personalidades compulsiva e dependente. Esta variação exibe uma conformidade dependente mais que os outros subtipos, são indivíduos obedientes às regras e autoridades, e expressam uma submissão concordante aos desejos, valores, expectativas e demandas alheias. Se vêem como atenciosos, solícitos e cooperativos, e manifestam freqüentemente um grande senso de responsabilidade, que camufla seus sentimentos de inadequação 38
  • 39. pessoal. Tendem a diminuir seus feitos, portanto, diminuindo a importância de suas habilidades e classificando seus sucessos em termos de quão bem as expectativas alheias foram atendidas. São usualmente descritos como cuidadosos, trabalhadores e eficientes, o que usam para compensar seus sentimentos de auto-dúvidas. - Compulsivo Rigoroso: combinação com a personalidade paranóide. As orientações e impulsos destes indivíduos são tão intensos e persistentes que se tornam pessoas que buscam proteção na justiça divina visando purificação, transformação e contenção. Muitos sentem uma persistente pressão de uma agressão irracional e repugnante e de suas orientações sexuais, e adotam um estilo de vida isolado para proibir estes impulsos sombrios e fantasias. Experienciam o conflito entre obediência e desafio em um nível muito mais alto que os outros subtipos. - Compulsivo Burocrático: é a combinação com traços da personalidade narcisista. Diz respeito a indivíduos que se aliam com valores tradicionais, baseiam-se em autoridades e em organizações formais. Adotam sinceramente a ordem e estrutura inerente a instituições reconhecidas, autoridades e costumes sociais. Crescem em meios organizacionais, onde se sentem confortáveis, fortalecidos e poderosos com a existência de claras definições entre superior e subordinado, papéis bem definidos, e expectativas de responsabilidades conhecidas. Uma vez estabilizados, funcionam lenta e fielmente, mostram-se pontuais e meticulosos, e aderem à ética do trabalho como formigas, com uma eficiência de “fazer tudo ou não fazer nada”. Ganham um senso de status pela fusão de suas identidades com uma força maior e sendo parte indispensável de alguma estrutura. - Compulsivo Sovina: combinação entre a personalidade compulsiva e personalidade esquizóide. Para estes indivíduos, a mesquinharia tem uma significância praticamente simbólica. Cautelosos com a possibilidade da perda, são egoístas, avarentos e sovinas, assim como auto-protetores com tudo que possuem. Se identificam com autoridade ou códigos organizacionais para assegurar seus valores materiais. Suspeitam que os outros possam tirar-lhes suas poucas super-valorizadas posses – perdem seus limites e agem com excessiva mesquinharia. - Compulsivo Atormentado: é a combinação com a personalidade negativista. Refere- se a indivíduos controlados e rigorosos, mas esforçam-se incessantemente por um 39
  • 40. desejo de obedecer as necessidades e agendas dos outros, e ao mesmo tempo, o desejo de subverter os outros e afirmar seus próprios interesses. Quando se espera que ajam decisivamente, vacilam e procrastinam, sentem-se atormentados e confusos, cautelosos e tímidos, e utilizando raciocínios complexos para adiar a tomada de decisão. Inaptos a cristalizar a própria identidade e sentindo-se ambivalentes, podem expressar suas insatisfações através da exaustão, ira e descontentamento. Por fim, muitos deles se complicam entre “coração” (sentimentos) e “mente” (pensamentos). Personalidade Negativista (ou Passivo-Agressiva) São pessoas que se sentem inseguras para qualquer tipo de mudança em suas vidas, sempre ambivalentes, vacilam entre sentimentos desconfortáveis de dependência e um igualmente desconfortável desejo de auto-afirmação. Simultaneamente necessitados e independentes, sentem-se incompreendidos, desvalorizados e desiludidos, uma vez que aceitam os requisitos de determinados desempenhos, mas não aceitam nenhum tipo de controle externo. Caracterizam-se pela teimosia, por não serem cooperativos, por serem contrários aos outros, minuciosos, aborrecidos e pessimistas, assim, desencorajando as pessoas ao redor. São ativamente ambivalentes entre a obediência e o desafio (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Variações da Personalidade Negativista De um modo geral, as combinações dos subtipos da personalidade negativista resultam em variações que refletem a associação entre características básicas de dois protótipos de transtornos da personalidade (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). São eles: Negativista Tortuoso, Negativista Abrasivo, Negativista Descontente, e Negativista Vacilante. - Negativista Tortuoso: refere-se à combinação com a personalidade dependente. A característica que define este subtipo é a resistência indireta às expectativas alheias, sobretudo quando envolve algum tipo de submissão. É aquele indivíduo que se 40
  • 41. vinga indiretamente e transforma caminhos, solapando ou frustrando qualquer um que dependa deles ou demandem algum tipo de desempenho. Os métodos do negativista tortuoso incluem procrastinação, vadiação, teimosia, desconsideração e ineficiência intencional. Temem expressar diretamente seus ressentimentos, e executam suas obrigações de modo intencionalmente devagar e com desempenho inconsistente. - Negativista Abrasivo: diz respeito à combinação da personalidade negativista a traços da personalidade sádica. São indivíduos capturados pelo conflito entre suas agendas e uma intensa lealdade aos outros, tornando-os muito controversos e brigões. Temem que a lealdade e as tenras emoções sejam apenas uma triste ilusão criada para camuflar a crueldade da natureza humana. São tão fatigados e cansados que demonstram profundas dúvidas sobre se a vida pode realmente dar certo e se a felicidade é possível. - Negativista Descontente: refere-se à combinação com a personalidade depressiva. São indivíduos completamente rabugentos, que fazem ataques emocionais através de inoportunas reclamações, críticas refinadas e encobertas, e resistências não sutis. Não são pessoas fisicamente agressivas, mas vivem lutas pequenas, desgastantes e constantes com os outros. Constantemente desaprovadores, buscam algo racional para expressarem sua negatividade e reclamações. Ainda, apontam para os defeitos alheios, procuram defeitos para machucar os outros, e irritam as pessoas com freqüência. - Negativista Instável: é a combinação entre a personalidade negativista e a personalidade borderline. Demonstram instabilidade e rápidas flutuações das emoções e atitudes. Podem estar confortáveis em um momento, e aborrecidos, irritados e tristes no momento seguinte. Conflituosos, os pensamentos dos negativistas vacilantes parecem vagar livremente em quase qualquer direção. Explosões de raiva são comuns. Personalidade Masoquista (Auto-Destrutiva) 41
  • 42. A personalidade masoquista diz respeito a indivíduos que colocam obstáculos em suas próprias vidas, procurando por sofrimento, e necessitando falhar. São amaldiçoados por um estranho senso de auto-destruição, e freqüentemente clamam por tempestades em suas vidas, assim como por perdas, frustrações e tristeza. Quando experienciam bons momentos, reagem com confusão e até mesmo desprazer, assim, realizações concretas são atribuídas pelo masoquista à sorte, especialmente para evitar o senso de orgulho. Paradoxalmente, podem ajudar outros com seus ganhos e, então, subitamente arruinar seus próprios objetivos. No amor, descartam o legítimo carinho, e são atraídos por pessoas insensíveis ou até mesmo sádicas. O Estilo Submisso refere-se à variação normal da personalidade masoquista, e se caracteriza por indivíduos que possuem habilidades em excesso, mas preferem passar desapercebidos. Evitam mostrar seus reais talentos e desempenhos, se colocando sob uma luz inferior para evitar competições. Às vezes encorajam as pessoas tomarem vantagem deles (Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004). Variações da Personalidade Masoquista São propostas quatro diferentes subtipos ao protótipo básico da personalidade masoquista, que são: Masoquista Auto-Arruinador, Masoquista Possessivo, Masoquista Opressivo, e Masoquista Virtuoso. - Masoquista Auto-Arruinador: é a combinação com a personalidade evitativa. São indivíduos que procuram ativa e repetitivamente por circunstâncias que os levem a sofrer ou até mesmo à própria destruição. Parecem gratificados pela desgraça, falhas e humilhação, preferindo estar vitimizados, desgraçados e arruinados. Experienciam conseqüências favoráveis como produtoras de ansiedade, culpa, desprazer e infelicidade. Procuram por fracasso e punições, diminuindo a probabilidade de bons acontecimentos. - Masoquista Possessivo: refere-se à combinação com traços da personalidade negativista. São aquelas pessoas que se caracterizam por darem tudo de si constantemente, e por não conseguirem sair de seus relacionamentos. Tornam-se tão indispensáveis e auto-sacrificantes que os outros não conseguem deixá-los sem se 42
  • 43. sentirem incrivelmente cruéis. As pessoas são colocadas em uma armadilha e dominadas pela dependência guiada pela satisfação de suas necessidades. Os parceiros são superprotegidos e guardados pelo ciúme, subordinados pelo amor, e controlados pela culpa. - Masoquista Opressivo: combinação da personalidade masoquista com a personalidade depressiva. São indivíduos que sofrem reclamando de suas terríveis condições, mas ao mesmo tempo, pedem para que não tenham dó deles, fazendo parecer que não querem que se preocupem com eles. Negam qualquer tipo de apoio e explicam que não querem atrapalhar, no entanto, se fazem de coitados. Não necessariamente aproveitam seu sofrimento, seu desconforto é meramente um instrumento designado para assegurar piedade e assistência. - Masoquista Virtuoso: refere-se à combinação com a personalidade histriônica, podendo exibir traços da personalidade dependente. São indivíduos orgulhosamente altruístas e auto-críticos. Desprendidos, ascéticos, e tolerantes de adversidades, são vistos como nobres e justos, puros e santificados, a glorificação do sofrimento. Se os outros não lhes dão atenção ou se distanciam emocionalmente, o masoquista virtuoso reclama por mal-agradecimento e desconsideração. Personalidade Paranóide A personalidade paranóide caracteriza aquele indivíduo que questiona a integridade de tudo que lhe é dito, sempre. Teme que os outros lhe tomem vantagem, e não hesitam em demonstrar esse temor. Uma vez que a capacidade de confiança do paranóide encontra-se destruída, são pessoas que desconfiam até mesmo de suas famílias e pessoas íntimas. Entendem a sinceridade como um mau sinal, como um “cavalo de Tróia”, assim, freqüentemente constroem altos muros em volta de si próprios para se protegerem. São vigilantes para qualquer sinal que possa ser interpretado como duvidoso, e são percebidos como reservados, hostis, fanáticos, rígidos, e manifestam pensamentos de “tudo ou nada”. Para se protegerem, procuram por informações que corroborem com suas suspeitas. A variação normal da personalidade paranóide é chamada de Estilo Vigiante (Oldham & Norris citados por Millon, Grossman, Millon, Meagher & Ramnath, 2004), e se 43