1. Formação Profissional e Ética no Curso de Administração:
Leituras de Estudantes de Graduação de uma Faculdade Particular
Autoria: André Moura Xavier, Washington José de Souza, Juceli Bengert Lima, Virginia
Donizete de Carvalho, Afonso Carneiro Lima
Resumo
O presente texto descreve percepções de ética de alunos do Curso de Administração tomando
como espaço de verificação empírica uma Faculdade particular localizada em Fortaleza. A
pesquisa ocorreu em uma instituição que, por ocasião da investigação, possuía oito cursos de
graduação, dentre os quais, o de Administração. O estudo foi de natureza quanti-qualitativo, do
tipo exploratório e descritivo. Nos resultados, merece destaque que, quanto mais elevado o nível
na hierarquia, a ética da convicção, apesar de aparecer com destaque na influência da tomada de
decisão, tende a ser relativisada, ficando o ocupante do cargo (Administrador) passível de adoção
de postura não-ética ou de ética da responsabilidade. Em outras palavras, a postura dos
pesquisados em relação à ética se altera de acordo com a posição na hierarquia e, portanto, na
medida em que aumenta a complexidade das decisões a serem tomadas. Como conclusão, dentre
outras, fica patente que, não obstante as modificações recentes nos currículos, trazidas pelas
Diretrizes Curriculares para o Curso de Administração, esta pesquisa alerta para a necessidade de
maior esforço acadêmico na tentativa de formar profissionais conscientes do componente ético e
do papel que assume o Administrador na sociedade.
1. INTRODUÇÃO
Este artigo retoma e amplia discussão anterior abordada pelos autores em dois
trabalhos publicados no IX Colóquio Internacional sobre Poder Local (Salvador, 2003) e no
XXVII Encontro Nacional de Pós-Graduação em Administração – EnANPAD (Atibaia, 2003).
No primeiro trabalho foram analisadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) frente à
concepção de ética esboçada por estudantes, professores e funcionários vinculados ao Curso de
Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Sob o título de Ética
no Curso de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, o estudo apontou
que para 87,5% dos estudantes valores éticos variam em função de diversos fatores como o
ambiente físico, cultural e econômico, em contraposição a 80% dos funcionários e 53,3% dos
professores para os quais valores éticos são absolutos. Outra constatação relevante é que
honestidade e competência profissional são apresentadas como indispensáveis ao exercício
profissional. Em outro momento da pesquisa os alunos apontaram justiça social e liberdade como
valores fundamentais para o bem-estar da sociedade. Diante dessas constatações, um
questionamento central aflorou: ao tomar a ética como valor relativo, quais seriam as escolhas
dos Administradores quando se defrontassem com dilemas entre honestidade e competência
profissional, ou entre elevação de custos financeiros ou de produção e justiça social? A
elucidação dessa questão recaiu na necessidade de se debruçar sobre as DCN, visando ao
delineamento do conteúdo e da forma como o tema da ética é abordado.
O exercício de leitura das DCN foi realizado à luz de fundamentos teóricos de
racionalidade instrumental e substantiva, de acordo com Ramos (1989). O Quadro 1 sintetiza
resultados alcançados naquela oportunidade. As informações analisadas foram aquelas que
1
2. aparecem orientando as Diretrizes Curriculares Nacionais – perfil profissional, competências e
habilidades e conteúdos. Embora o documento produzido, sob a coordenação do Ministério da
Educação, trate de matérias de racionalidade substantiva, como a formação ética e a capacidade
de compreender temas sociais, predominam, nas DCN de Administração, componentes de
racionalidade instrumental. Foi possível, então, com base nas análises, afirmar que, embora
atentem para a formação ética, as DCN conduzem à formação de profissionais orientados para o
domínio técnico-científico em detrimento da formação cidadã preconizada o que demandaria
maior ênfase em valores morais e éticos. Há, assim, dilemas internos no documento.
QUADRO 1 – SÍNTESE DAS DIRETRIZES CURRICULARES DOS CURSOS DE ADMINISTAÇÃO SOB
A ÓTICA DAS RACIONALIDADES SUBSTANTIVA E INSTRUMENTAL
RACIONALIDADE SUBSTANTIVA RACIONALIDADE INSTRUMENTAL
PERFIL PROFISSIONAL
- Compreender as questões sociais. - Compreender as questões científicas, técnicas e econômicas
da produção e de seu gerenciamento no seu conjunto.
- Tratamento de situações diversas presentes ou emergentes
nos vários segmentos do campo de atuação do administrador.
COMPETÊNCIAS E HABILIDADES
− Compreender problemas sociais. − Pensar estrategicamente, compreender questões
− Ter consciência da qualidade e das implicações científicas, técnicas, econômicas da produção.
éticas do seu exercício profissional. − Reconhecer e definir problemas, equacionar soluções,
processo de negociação,
− Desenvolver raciocínio lógico e analítico para operar
com valores e formulações matemáticas presentes nas
relações formais e causais entre fenômenos produtivos,
administrativos e controles.
− Refletir e atuar criticamente sobre a esfera da produção.
CONTEÚDOS
− Conteúdos de Formação Básica: estudos − Conteúdos de Formação Profissional, compreendendo
relacionados com as Ciências Sociais, a Filosofia, a Estudos da Teoria da Administração e das Organizações e
Psicologia, a Ética, a Política, o Comportamento, a suas respectivas funções, dos Fenômenos Empresariais,
Linguagem, a Comunicação e Informação; Gerenciais, Organizacionais, Estratégicos, estabelecidas suas
− Estudos Ambientais. inter-relações com a realidade social, objetivando uma visão
crítica da validade de suas dimensões, bem como os aspectos
legais e contábeis;
− Conteúdos de Formação Complementar, compreendendo
Estudos Econômicos, Financeiros e de Mercado, e suas inter-
relações com a realidade nacional e internacional, segundo
uma perspectiva histórica e contextualizada de sua
aplicabilidade no âmbito das organizações e na utilização de
novas tecnologias;
− Conteúdos de Estudos Quantitativos e suas Tecnologias,
abrangendo Pesquisa Operacional, Teoria dos Jogos, Modelos
Matemáticos e Estatísticos e aplicação de tecnologias que
contribuam para a definição e utilização de estratégias e
procedimentos inerentes à Administração.
Fonte: Xavier & Souza, 2003.
O segundo estudo partiu, pois, para uma exploração das DCN numa perspectiva
comparativa, envolvendo as DCN do Curso de Ciências Contábeis. O intuito foi verificar a
coerência interna das duas DCN isoladamente, inferindo sob o potencial de contribuição para a
2
3. formação ética de Administradores e Contabilistas. A inserção das DCN de Ciências Contábeis
ocorreu por três razões básicas:
a) da mesma forma que o Curso de Administração, à época, Ciências Contábeis
igualmente possuía DCN aprovadas pelo Conselho Nacional de Educação;
b) havia a necessidade de se inserir um outro conjunto de DCN no intuito de se
alcançar a verificação do nível de presença e de consistência interna para a formação ética do
Administrador em contraste com uma outra formação que teve padrões curriculares gerais
definidos em momento simultâneo ao de Administração;
c) Ciências Contábeis é curso que possui afinidades com Administração servindo,
portanto, como parâmetro de comparação.
Como resultado, foi evidenciado que no que diz respeito ao perfil desejado, manifesto
nas DCN, há um privilégio à formação técnico-instrumental. Foi possível perceber, ainda, que os
valores substantivos, igualmente importantes à atuação profissional cidadã, constantes em
algumas partes dos textos, não estão nítidas, principalmente no caso da Administração.
No que diz respeito às competências e habilidades pôde-se verificar que a idéia de
ética se faz presente, contudo, aparece circunscrita à atuação profissional, o que representa uma
fragilidade, visto que o sujeito é um ser integral que vive e age além do mundo do trabalho.
Com relação aos conteúdos curriculares, a principal diferença entre os dois cursos
está no fato de que o Curso de Administração propõe conteúdos mais diversos, contemplando
estudos relacionados às Ciências Sociais e Humanas tais como filosofia, ética, política e
comportamento, além dos conteúdos técnicos e específicos. Há disciplinas que se destinam a
desenvolver a racionalidade substantiva e habilitar o profissional à elaboração e julgamentos de
valores associados à vida, à existência humana.
Já no curso de Ciências Contábeis não são destacadas aquelas disciplinas e estão
propostos conteúdos de formação básica com foco em estudos relacionados às áreas de
administração, economia, matemática, direito e estatística. Há, assim, uma nítida tendência à
formação técnica, pois não se encontram conteúdos relacionados às Ciências Humanas, como
filosofia ou sociologia.
A maior parte dos conteúdos propostos, nos dois casos, está fundada na racionalidade
instrumental, na perspectiva da maior ou menor convergência para atingir fins organizacionais
preestabelecidos, independentes dos conteúdos implícitos às ações. Uma exceção ocorre,
entretanto, no Curso de Administração, quando se destaca a preocupação com o ambiente e as
inter-relações da organização com a realidade social.
Estudos que abordam essa temática são relevantes, pois, práticas cotidianas no mundo
dos negócios ganham evidência pelo desprezo e desrespeito a regras morais e conduta ética de
profissionais de Administração e de outras áreas. Além disso, problemas de ordem moral e ética
são expostos como fatos naturais ou anacrônicos inerentes aos negócios numa perspectiva de
senso comum de que para esse mal não há cura. É importante, ainda, registrar que, com base na
experiência docente dos autores deste artigo, há expectativas discentes em torno do aprendizado
instantâneo, enlatado, numa espécie de fast-learning, a exemplo de fast-foods, de técnicas para
maximizar tempo e recursos ou encontrar caminhos apressados para ganhar a vida.
Concorrência, vantagem competitiva, downsizing, just in time, qualidade total,
capacitação profissional são conteúdos referenciais de racionalidade instrumental, capitalista, que
aproximam as organizações da maximização de resultados: fazer sempre mais com menos. Por
outro lado, desemprego, desigualdade social, degradação ambiental, stress, transgressões morais
e éticas são conseqüências dessa racionalidade e, por essa razão, tornam-se necessárias
mediações entre conteúdos de formação técnica e de formação social.
3
4. A partir desses estudos anteriores e motivados por inquietações trazidas a partir da
ascensão da Responsabilidade Social Corporativa, que frequentemente aparece enfatizando a
ética nos negócios, o presente texto descreve percepções de ética de alunos do Curso de
Administração tomando como espaço de verificação empírica uma Faculdade particular
localizada em Fortaleza. Para esse intento, o texto aborda uma discussão a respeito da formação
moral e ética, seqüenciado pela descrição dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa
de campo e resultados alcançados. Nas considerações finais tem destaque, dentre outros pontos, o
alerta da possibilidade de infidelidade dos sujeitos no tratamento do tema da ética, uma vez que
os resultados conduzem a interpretações dúbias entre posicionamentos teóricos pela ética de
convicção e posicionamentos concretos na ética da responsabilidade ou na ausência de ética.
2. MORAL E ÉTICA: UM RESGATE NA HISTÓRIA
A formação moral do indivíduo tem como fundamento regras de conduta e padrões
estabelecidos e aceitos nos grupos sociais dos quais faz parte. Portanto, a vida em sociedade é um
dos critérios para a existência de tal formação, tendo Chauí (1999, p.337) apresentado outras
condições para a constituição do sujeito:
a) ser consciente de si e dos outros, isto é, ser capaz de reflexão e de reconhecer a
existência dos outros como sujeitos éticos iguais a ele;
b) ser dotado de vontade, isto é, de capacidade para controlar e orientar desejos,
impulsos, tendências, sentidos (para que estejam em conformidade com a consciência) e de
capacidade para deliberar e decidir entre várias alternativas possíveis;
c) ser responsável, isto é, reconhecer-se como autor da ação, avaliar os efeitos e
conseqüências dela sobre si e sobre os outros, assumi-la bem como às suas conseqüências,
respondendo por elas;
d) ser livre, isto é, ser capaz de se oferecer como causa interna de sentimentos,
atitudes e ações, por não estar submetido a poderes externos que o forcem e o constranjam a
sentir, a querer e a fazer alguma coisa indesejável. A liberdade não é tanto o poder para escolher
entre vários caminhos possíveis, mas o poder para se autodeterminar, dando a si mesmo regras de
conduta.
O campo ético é, portanto, constituído por dois pólos internamente relacionados: o
agente ou sujeito moral e os valores morais ou virtudes éticas. O agente ou sujeito moral está
relacionado àquele que pratica (ser ativo) ou recebe (ser passivo) uma ação. Em relação aos
valores morais, a ética apresenta a maneira como a sociedade define para si o que julga ser
violência, crime, mal e vício e, como contrapartida, o que considera ser o bem e a virtude.
(CHAUI, 1999).
Considerando a perspectiva de formação moral e a ação dos indivíduos, Dewey (1980,
p.196) apresenta
três níveis de conhecimento e conduta: 1) atuação motivada por várias
necessidades de ordem biológica, econômica ou outros impulsos morais (e.g.
família, vida, trabalho); 2) comportamento ou conduta, pelo qual o indivíduo
aceita, com reflexão crítica relativamente pequena, os padrões e processos de seu
grupo conforme se acham incorporados nos costumes ou mores; 3) conduta pela
qual o indivíduo pensa e julga por si, considera se um objeto é bom ou direito,
resolve e escolhe e não aceita, sem reflexão, os padrões de seu grupo.
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5. Para que haja o sujeito responsável, que julga e pensa por si, que é consciente da
existência do outro, que avalia as conseqüências de seus atos, necessariamente deve haver
liberdade, ou, em outros termos, autonomia. A existência da autonomia não pode desconsiderar a
heteronomia que, para Ribeiro et. al. (2003, p.113), “representa a força social atuando no
indivíduo através da memória e da cultura, preservando, através do processo de coação moral, os
valores que a sociedade acredita serem importantes para o funcionamento das relações sociais”
Frente à racionalidade capitalista, à elevação do poder das organizações, aos
problemas sociais, e à concentração de renda, é importante refletir se no atual contexto dos
negócios os indivíduos são autônomos (condição sine qua non para constituição do sujeito
moral), haja vista que, a partir de um olhar reflexivo, é possível identificar elevada presença de
elementos de heteronomia na racionalidade corrente. Neste sentido é oportuno um resgate acerca
de como os valores morais e a ética foram percebidos ao longo da história do homem.
Desde tempos mais remotos os temas relacionados à moralidade e à ética são
discutidos. Entretanto é a partir do movimento sofista (Séc. V a.C.) que o homem, e, de certa
forma, as relações sociais, passam a ser foco de estudos dos filósofos clássicos, denominados de
pré-socráticos. É nesse momento, também, que a matéria relacionada à moral começa a ser
discutida, perdurando até os dias atuais.
O sofismo é considerado um movimento antropocêntrico, pois passou a olhar o
homem enquanto ser que age e participa da cidade (polis). Teve como objetivo formar sujeitos
que dominassem tanto o uso da linguagem como de técnicas de retórica. Seus representantes se
autoproclamavam especialistas do saber, preparados para formar sujeitos aptos à participação na
vida política. Esse movimento guarda como característica fundamental a relatividade das coisas,
isto é, nada é permanente ou absoluto. A idéia central do movimento é ilustrada por Protágoras na
afirmação de que o homem é a medida de todas as coisas.
O ponto forte da escola sofista reside, sobretudo, na atenção ao homem enquanto
indivíduo participante da polis. Por outro lado, as críticas ao movimento são motivadas no
relativismo, na idéia de que a essência das coisas é mutável e contingente e que não há uma
verdade objetiva, visto que é impossível alcançar a certeza. A partir dessa perspectiva é que o
movimento e seus representantes são classificados, por Sócrates e Platão, como desrespeitadores
da moral e não merecedores de credibilidade.
Sócrates, que de maneira inconteste estabeleceu um marco no pensamento filosófico,
aprofundou e ampliou os estudos da moral, defendendo a busca de valores absolutos, opondo-se,
desta forma, aos princípios relativistas da escola sofística. “Diferentemente dos sofistas,
acreditava na existência de uma ordem universal e de verdades e valores morais absolutos”
(TEIXEIRA, 1999, p. 21). Em oposição ao movimento sofista, afirmava que sabia que nada
sabia. Essa postura, em certa medida exagerada, associada a um método investigativo particular
tinha como finalidade despertar nos contemporâneos a consciência de que as certezas e verdades
são frágeis e infundadas. Acreditava Sócrates que através de sucessivas perguntas e do diálogo
crítico o homem chegaria ao conhecimento e, através desse, conheceria e colocaria em prática as
virtudes. Para este filósofo a “virtude é conhecimento e o vício é ignorância” (REALE &
ANTISERI, 2004).
Platão de Atenas, discípulo de Sócrates construiu o seu pensamento considerando o
método dialógico do mestre. “Todo o sistema educativo platônico está edificado sobre o alicerce
da verdade e sobre a possibilidade da conquista da verdade através da ciência racional”.
(TEIXEIRA, 1999, p. 23). Destaca Platão que a dialética e o uso da razão formam indivíduos
com elevada consciência de justiça e capazes de viverem harmoniosamente na polis.
5
6. Aristóteles, discípulo de Platão, ocupou-se, dentre outros temas, da ética. Em seus
estudos é nítida a importância dos valores morais na formação do indivíduo e para o alcance da
finalidade última do homem, a felicidade. A busca da felicidade, ou bem supremo, ocorreria
através da vida virtuosa que, por sua vez, viria pela vida vivida, praticada e, sobretudo, refletida.
A partir dessa reflexão (uso da razão), o homem avaliaria suas ações e poderia identificar a justa
medida de seus atos.
Para Aristóteles a excelência moral
consiste num meio termo (o meio termo relativo a nós) determinado pela razão
(a razão graças à qual um homem é dotado de discernimento o determina).
Trata-se de um estado intermediário, porque nas várias formas de deficiência
moral há falta ou excesso do que é conveniente tanto nas emoções quanto nas
ações, enquanto a excelência moral encontra e prefere o meio termo (2001, p.
42).
Assim, a ética aristotélica tem características dialéticas e totalizantes, pois a ação
refletida conduz a práticas morais (virtuosas) adequadas para a vida dos homens, que, inseridos
na sociedade, deverão necessariamente contemplar a existência do semelhante.
Cortina (2005, p.61) classifica a proposta ética aristotélica de eudaimonista, pois
entende a vida moral como um modo de “auto-realização”, já que busca a felicidade. Essa
classificação é importante para distinguir o pensamento de Aristóteles da escola epicurista
(hedonismo) que “é uma explicação da moral em termos da busca da felicidade entendida como
prazer, como satisfação de caráter sensível”.
E é com o mote do prazer que o utilitarismo, um “hedonismo renovado” (CORTINA,
2005, p. 75), ganha espaço de discussão no Século XVIII.
O utilitarismo pode ser considerado hedonista porque afirma que o que impele os
homens a agir é a busca do prazer, mas considera que todos temos alguns
sentimentos sociais, entre os quais se destaca o da simpatia, que nos levam a
perceber que os outros também desejam alcançar tal prazer. O objetivo da moral
é, portanto, atingir a máxima felicidade, ou seja, o maior prazer para o maior
número de seres vivos. Portanto, diante de qualquer escolha, atuará corretamente
do ponto de vista moral aquele que optar pela ação que proporcione a “maior
felicidade ao maior número”.
Ao refletir sobre a maior felicidade para o maior número, pode-se pensar também na
menor felicidade (ou ainda, infelicidade) para um menor número o que, a princípio soa coerente.
Entretanto, ao se considerar o menor número em uma perspectiva humana, isto é, em indivíduo, a
positividade do utilitarismo é questionada. Ressalte-se que a idéia exposta respalda o bem em
detrimento do número de pessoas. “Em outras palavras, em uma circunstância na qual o maior
bem beneficie poucos, em contraposição ao bem menor que possa ser feito a muitos, a primeira
atitude deverá ser a escolhida” (MOREIRA, 1999, p. 22).
Duas críticas principais podem ser feitas com base na análise da ética utilitarista.
Primeiramente, a dificuldade de se avaliar o que seria o bem maior para a sociedade em cada
situação especifica. Em segundo lugar, o utilitarismo subjuga os valores morais a regras
matemáticas.
As perspectivas expostas no utilitarismo ganham espaço em decorrência dos desafios
e das constantes transformações na sociedade e do compromisso com o não dogmático e seu
caráter teleológico (telos - finalidade) assumindo, desta forma, um modo pragmático que passa a
6
7. colocar a finalidade e a razão como elementos primeiros do agir moral. Entretanto, é digno de
nota que a idéia de razão não mais se apresenta com o mesmo conteúdo semântico da filosofia
clássica, visto que “com o avanço do Iluminismo (Séc XVIII) a razão, antes tida como atributo
humano importante relacionado à justiça, igualdade, felicidade e tolerância, foi perdendo seu
sentido e sendo formalizada no modelo de razão instrumental”. (PASSOS, 2004).
É, pois, sobre essa nova compreensão de razão, que os estudos de Max Weber são
importantes ao apontar que as ações humanas devem ser consideradas sob duas perspectivas: a) a
ação racional funcional (classificada posteriormente de instrumental) que é portadora de
consciência sistemática vinculada à finalidade, contempla a auto-racionalização e está atenta ao
imperativo de adequar condições e meios a fins deliberadamente elegidos e b) a ação racional
substancial (substantiva), que é a conduta que testemunha fé ou crença num valor ético, religioso,
ou de outra natureza, orientada por um critério transcendente. (RAMOS, 1966).
Essas duas racionalidades conservam características éticas específicas que foram
identificadas e classificadas por Weber como ética da responsabilidade, que guarda estreita
relação com a racionalidade instrumental, e ética da convicção, que se vincula à racionalidade
substantiva. Em outros termos, a ética da convicção importa-se com a convicção interna, a pureza
da intenção, a correção da religião ou a visão de mundo pela qual se orienta (CORTINA, 2005).
É entendida como ética deontológica por se relacionar à ação em função do dever. (SROUR,
2000). Já a ética da responsabilidade, que remete ao conceito de finalidade, associa-se à ética
teleológica e se incorpora à perspectiva da ética utilitarista.
Não há a intenção neste trabalho de esgotar o estudo das abordagens e correntes éticas
da História da humanidade. De fato, o que se busca aqui é um arcabouço teórico que possa dar
suporte à discussão a respeito da constituição do sujeito moral, como forma de subsidiar a análise
de dados empíricos junto ao estudante de Administração. Neste sentido, refletir, analisar
resultados e implicações futuras acerca da formação moral de estudantes de Administração é
relevante para a compreensão da realidade social pela via do mapeamento de fundamentos
comportamentais que alimentam processos de formação de uma categoria profissional detentora
de possibilidades de replicações de uma forma de pensar e de agir no mundo do trabalho, com
implicações no mundo da vida de vários sujeitos. É importante destacar, aqui, que a formação do
Administrador, ou a sua atividade profissional, implica no entendimento da possibilidade de
ocupação e exercício de função de liderança em organizações, lidando com variáveis
comportamentais, expectativas e perspectivas próprias e de outros atores sociais.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
A presente pesquisa ocorreu em uma instituição de ensino particular sediada em
Fortaleza que, por ocasião da investigação, possuía oito cursos de graduação, dentre os quais, o
de Administração de Empresas.
O estudo foi de natureza quanti-qualitativo, do tipo exploratório e descritivo.
Exploratório porque, embora outros trabalhos elaborados dentro da instituição houvessem
abordado o tema da responsabilidade social, o presente se mostra singular quanto aos objetivos: a
percepção e o posicionamento dos alunos do curso de Administração de uma faculdade particular
acerca da ética. Por outro lado, a pesquisa se enquadra como descritiva uma vez que evidenciou
características da população em questão, definindo correlações entre variáveis.
A população dos alunos do Curso de Administração de Empresas da Instituição era de
380 alunos na ocasião da pesquisa tendo sido abordadas todas as turmas, numa perspectiva
7
8. censitária, resultando no total de 187 respondentes – os presentes no momento da coleta. Esse
número representa um percentual de 49,2% da população.
Anterior à coleta de dados, foi realizado um teste piloto com um grupo de 20 alunos,
escolhidos de forma não-aleatória, com a intenção de se verificar falhas ou limitações que
demandassem ajustes ao instrumento.
Para a coleta definitiva dos dados, um questionário semi-estruturado, dividido em três
partes, serviu de base. A primeira parte correspondeu ao perfil da população em estudo,
constando, da segunda parte, sete exemplos de dilemas possíveis de ocorrência no cotidiano das
empresas. A partir deles, o respondente escolheria uma alternativa de resposta a cada dilema. A
terceira parte, de natureza qualitativa, permitiu aos sujeitos a expressão do entendimento de ética.
A tabulação e a organização dos dados se deram a partir do auxílio de um software de
análise estatística, o SPSS – Statistical Package for Social Sciences, o que propiciou agilidade no
processamento das variáveis de natureza quantitativa. Quando às informações qualitativas, o
tratamento dispensado zelou pela categorização nas dimensões conceituais da ética.
4. ANÁLISE DOS RESULTADOS
A partir da tabulação dos dados quantitativos, foi possível, em um primeiro plano,
analisar descritivamente a amostra e, em seguida, sistematiza os dados relativos às alternativas
escolhidas para os dilemas empresariais.
A maioria dos estudantes pesquisados (66,3%) se encontra a mais de um semestre no
Curso, o que indica algum grau de familiaridade com temas e dilemas do cotidiano
organizacional. No que se refere ao gênero, há um equilíbrio, visto que 48% (90 sujeitos) são
homens e 52% (97) são do sexo feminino. A faixa etária do grupo está distribuída em intervalos
que vai de 17 a 52 anos. Entretanto, apesar da distribuição homogênea dos alunos em relação à
idade, há ligeira concentração entre dezenove (19) e vinte (20) anos, em conseqüência do
percentual de 33,7% que se encontra no 1º semestre do Curso. A média de idade da população é
de 24,9 anos.
Quanto à atividade profissional, aproximadamente 70% está atuando no mercado de
trabalho, enquanto um percentual de 28% está desempregado ou não desenvolve atividade
profissional. Dentre os quase 30% referentes àqueles que não estão trabalhando, isto é, 52
indivíduos, há aqueles que nunca trabalharam – os mais jovens da população, recém-chegados à
Instituição. Embora esse último grupo não tenha vivenciado dilemas éticos no ambiente
empresarial, é oportuno lembrar que os dilemas éticos expostos retratavam situações do cotidiano
humano. Nesse sentido, os alunos que não haviam vivenciado dilemas no mercado de trabalho
haviam, de outra forma, vivenciado situações em que necessitaram de posicionamentos ético,
como por exemplo, na escola, na família ou nos grupos sociais em que integra.
Com relação à posição ocupada, dentre aqueles que trabalham, foram declaradas
situações principais: estagiário, operacional-administrativo, supervisão-gerência e direção-
proprietário. 41,4% deles ocupam a função operacional-administrativa seguidos pelo nível de
supervisão-gerência com 24,3%. 17,1% são estagiários e outros 17,1% detêm a condição de
direção-proprietário. È factível inferir, portanto, que 82% do total dos que atuam no mercado de
trabalho (níveis operacional-administrativo, supervisão-gerência e direção-proprietário) são
tomadores de decisão nas organizações em que atuam, sendo importante lembrar que, em tese,
quanto mais elevado é o nível ocupado maior amplitude tem as decisões tomadas pelo sujeito.
8
9. O questionário identificou o numero de alunos que conheciam o Código de Ética do
Administrador. Do total dos 184 que responderam a essa questão específica, a maioria, 139
(representando 76%), declarou não conhecê-lo. Resultado semelhante foi obtido por Rodrigues
(2002) ao constatar que 86% do alunado não conheciam o conteúdo do referido documento. O
fato é preocupante já que, nesses dois casos, parte significativa de administradores e de futuros
administradores não dá importância a essa referência normativa e padrão de conduta esperada
daqueles que atuam como Administrador.
A segunda seção de análise tratou do posicionamento ético dos respondentes. Para a
realização dessa fase, a pesquisa adotou Srour (2000) na classificação da matriz ética de Max
Weber, neste caso, utilizando-se de questionamentos referentes a dilemas éticos. As respostas
marcadas foram tomadas como opção de decisão dos sujeitos em situação real. Os respondentes
poderiam, frente aos dilemas apresentados, expressar posicionamentos alternativos, expondo
justificativas e juízos de valor para escolhas não contempladas no instrumento.
Inicialmente, as respostas foram classificadas entre ética da convicção, ética da
responsabilidade e ausência de conteúdo ético de acordo com a matriz weberiana. Em seguida,
ocorreram relações entre as opções marcadas e as posições ocupadas pelos respondentes nas
organizações, no caso daqueles que trabalham.
Tabela 1: Relação posicionamento ético e posição ocupada na organização
Operacional/ Supervisão/ Direção/
Referência ética Estagiário
administrativo gerência proprietário
Ética da Convicção 50% 47% 51% 39%
Ética da Responsabilidade 30% 34% 26% 27%
Ausência 20% 19% 23% 33%
Total das respostas 100% 100% 100% 100%
Fonte: dados da pesquisa, 2005
Para efeito da interpretação do posicionamento dos alunos, de acordo com o cargo
ocupado, a maioria dos representantes de cada posição profissional opta por escolhas baseadas
tanto em valores éticos pré-concebidos quanto naqueles de juízos naturais. Entretanto, é elevado
o percentual (mais de 23% obtidos pela média ponderada) daqueles sujeitos que tomariam
decisões desprovidas de conteúdo ético.
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10. Ilustração 1: Relação posicionamento ético e ocupação na organização
Direção/proprietário 39% 27% 33%
Supervisão/gerência 51% 26% 23% Ética da Convicção
Operacional Ética da
/administrativo
47% 34% 19%
Responsabilidade
Estagiário 50% 30% 20% Ausência
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Fonte: dados da pesquisa, 2005.
De acordo com a ilustração acima, no total dos alunos, descriminados por nível de
atuação nas organizações, há concentração em comportamento ético de convicção. Indicando
concepção ética fundamentada em princípios sólidos. As decisões, nesse caso, são fortemente
influenciadas por princípios advindos da formação religiosa ou de valores familiares. Quanto à
ética da responsabilidade, nela foram centralizadas as respostas de 29,25 % do total, enquanto
que 23,75 % das respostas estavam desprovidas de conteúdo ético passível de classificação nas
duas categorias weberianas.
Ao se considerar o posicionamento ético do grupo direção/proprietário, merece
destaque a maior incidência (33 %) na ausência de conteúdo ético em relação aos demais grupos.
Há alegações de que o ambiente de negócios privilegia a concorrência e a busca crescente por
novos produtos e mercados. Outro fator reside na carga tributária que, em parte significativa dos
casos, faz com que dirigentes e empresários tenham que optar entre a sobrevivência do negócio e
o não cumprimento das obrigações legais.
Outro aspecto que merece destaque é que, quando aos alunos foi solicitada a
conceituação de ética, a minoria tende para a ética da responsabilidade, numa perspectiva
utilitária ou individualista, a exemplo das falas destacadas a seguir:
Relaciona ao administrador, a ética é uma forma de saber expor idéias sensatas com polidez. É
saber administrar bem a profissão, tentando, na maioria das vezes, agradar às pessoas e à Lei,
sabendo planejar, coordenar, ordenar, organizar no trabalho.
Ética é a conduta legal, moral e profissional de uma pessoa, procurando cumprir seus deveres
colocando a empresa no seu principal objetivo, preservando seu caráter e sua índole.
Ética é uma escolha e nessa escolha assumimos uma posição, nosso comportamento. É como
iremos encarar momentos de extrema importância no que diz respeito às situações. Como
médicos, advogados, engenheiros ou administradores nós temos um compromisso com o que
aprendemos e acreditamos como sendo verdade.
É a harmonia entre atitudes e pensamentos que resultam em trabalhos geradores de lucros, não
apenas unilateral.
Ética é uma conduta pessoal. Ela segue aquilo que você acha certo; às vezes o que é certo pra
mim, é errado para outra pessoa.
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11. São posturas, ações legais de um indivíduo diante da população.
Ética é você procurar ser correto, ao ponto de não se prejudicar e não prejudicar o próximo, e tirar
proveito disso para ganhar e se firmar no mercado.
É trabalhar formalmente segundo as normas da empresa, com sigilo de informações.
Além disso, ocorreram sentimentos de descompromisso, de descrença, de desencanto
e interpretação de ética como algo utópico:
Pra mim não significa nada. O mundo se tornou muito padronizado socialmente. Existem certas
regras nas quais não concordo com milhares, que pra mim não fazem sentido por não ter
respostas lógicas. Por isso eu dito as minhas regras, mas, infelizmente, tenho que fazer certas
coisas que não gosto.
Pratico no dia-a-dia, mas está virando utopia.
Por outro lado, a pesquisa mapeou que a maioria dos alunos percebe o tema à luz da
ética da convicção, sendo possível classificá-las a partir de referências aos fundamentos
motivadores, a exemplo da preocupação:
a) com o coletivo:
Não faço a alguém o que não gostaria que fizessem comigo.
É a capacidade do individuo agir de forma verdadeira com ele próprio e com seus colegas de
trabalho.
Ter princípios, seguir opinião sempre procurando respeitar a si e aos outros; pensar no outro
como você mesmo.
Forma correta de convivência em grupo, onde o respeito pelo outro é a principal base de
convivência; respeito à individualidade e aos limites do outro, tanto profissionalmente quanto
socialmente.
É o estudo do comportamento de forma a levar o individuo a agir de forma que não venha a
prejudicar o semelhante. Agir de boa fé.
Agir de forma justa respeitando os limites do outro e procurando sempre ser o melhor, sem
trapaças ou prejuízos a alguém.
b) com o caráter normativo-dogmático:
Consiste em exercer a profissão dentro das normas e leis, respeitando os concorrentes.
É você ser uma pessoa leal, andando conforme a Lei.
É uma conduta legal e justa, ou seja, um profissional que se enquadra como honesto e justo.
Entendo que representa a forma correta como o ser humano deve agir com o próximo nos vários
setores da vida, independente das situações apresentadas.
Ética é norma moral que devemos seguir para que tenhamos uma boa convivência com todos.
Ética é norma, meio de manter uma boa relação e de respeito com a empresa, colegas e clientes.
Pra mim é seguir normas e ser justo nas tomadas de decisão.
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12. Não quebrar princípios legais.
Fazer o certo de acordo com um sistema prescrito.
Respeito às pessoas, às leis e às normas de conduta de sociedade.
Ética significa para mim, ser justo, saber respeitar normas impostas, mesmo que essas sejam
duvidosas.
Agir de forma legal seguindo as leis sem prejudicar o outro
É nítida a predominância, nas falas descritivas, de interpretação do tema como norma
legal ou regra moral consolidada pela sociedade, isto é, da ética da convicção. Um elemento
revelador deste estudo é que, quando solicitados ao posicionamento em relação aos dilemas
apresentados no questionário, conforme posto na Ilustração 1, 22,5% dos sujeitos apresentaram
respostas que não se alinhavam à postura ética ao passo que 30% emitiram respostas enquadradas
na ética da responsabilidade. Fica aqui, exposto um conflito dos sujeitos. Ao emitirem opinião
aberta a respeito do entendimento do que é ética, há tendências para a ética da convicção.
Contudo, no momento em que emitiram opinião a respeito de situações passíveis de ocorrência
no mundo do trabalho, o grupo pesquisado adota posição favorável à ética da responsabilidade ou
à ausência de ética. Em síntese, está presente uma contradição em que, no plano ideal, descritivo,
o entendimento dos atores difere da atitude que assumiriam em situações concretas; Tal
ocorrência pode indicar que, embora o profissional-estudante de administração tenha
conceitualmente a ética com valor absoluto, possivelmente construído no seio familiar ou no
contexto religioso, no plano do cotidiano ela é relativisada em função de contingências e
observações a respeito do mundo da vida.
Quanto à posição ocupada na organização, um outro componente explorado na pesquisa,
foi constatado que, quanto mais elevado nível na hierarquia, a ética da convicção, apesar de
aparecer com destaque na influência da tomada de decisão, tende a ser relativisada, ficando o
ocupante do cargo (Administrador) passível de adoção de postura não-ética ou de ética da
responsabilidade. Em outras palavras, a percepção dos pesquisados em relação à ética se altera de
acordo com a posição na hierarquia e, portanto, à medida que aumenta a complexidade das
decisões a serem tomadas.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa, desenvolvida em um ambiente acadêmico, destinada a alunos de
um Curso de Administração, mapeou posicionamentos em relação à concepção conceitual e à
dilemas éticos no mundo dos negócios. A partir dos dados processados, pôde-se chegar às
seguintes conclusões:
- a população possui posicionamento ético preponderantemente baseado em valores
religiosos e familiares que influencia as decisões, enquadrando-se na classificação da ética da
convicção, sintetizada na expressão “cumpra o seu dever”. As decisões são, assim, regidas em
maior proporção de acordo com princípios dogmáticos, diretrizes ou posturas idealizadas pré-
concebidas;
- é reduzido o percentual de decisões fundadas na ética da responsabilidade, que
permite a pré-avaliação de efeitos e conseqüências de uma decisão. Os estudantes são
predominantemente influenciados pelo o que acreditam em detrimento de análises profundas
acerca dos impactos e responsabilidades das decisões que tomam (ou tomariam);
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13. - a elevada incidência de respostas aos dilemas com ausência de qualquer
fundamentação ética, mostra que há certa irrelevância dos estudantes quanto à adoção de postura
antiética, situação que pode indicar a possibilidade de execução de atos condenáveis, passíveis de
causar prejuízos ao profissional, a outras pessoas à profissão de Administrador.
- em que pesem as modificações recentes nos currículos, trazidas pelas Diretrizes
Curriculares para o Curso de Administração, esta pesquisa alerta para a necessidade de maior
esforço acadêmico na tentativa de formar profissionais conscientes do componente ético e do
papel que assume na sociedade.
É oportuno, então, denunciar o risco que Administradores correm ao ascenderem a
posições de destaque na hierarquia das organizações, cabendo o seguinte questionamento: que
conseqüências advirão – para a profissão, para o Administrador e para outros sujeitos – quando a
ética da convicção, que foi aqui privilegiada em termos conceituais, passa a ser substituída, no
plano profissional, no instante em que gestores (e futuros gestores) assumem maior grau de
importância nas organizações?
Um outro ponto importante é que os dados indicam que, em um mesmo sujeito,
habitam “duas éticas”: a primeira, no campo teórico-ideal, está fundamentada na vertente da ética
da convicção; a segunda, passível de manifestação em situações no mundo do trabalho, toma
dinâmicas de mercado como referência e conduz os sujeitos ao comportamento ausente de ética
ou de ética da responsabilidade. Essa perspectiva é paradoxal visto que as duas correntes éticas
são “totalmente diferentes e irredutivelmente opostas”, conforme defende SROUR (2000). As
dicotomias captadas, portanto, podem estar retratando infidelidades dos sujeitos em algumas
respostas ao longo do instrumento aplicado.
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