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CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT 
ALINE ALVES 
NAIARA BARROS 
O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE 
CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. 
Desafios e limites na prática profissional do 
Assistente Social. 
Santos 
2010
ALINE ALVES 
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Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao 
Centro Universitário Monte Serrat como exigência 
parcial para a obtenção do Título de Bacharel em 
Serviço Social, orientado pela Profª Ms. Mª 
Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra. 
Orientadora: Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes 
Bueno Guerra 
Co-orientadora: Profª Ms. Carla Bornhausen 
Gonzaga 
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ALINE ALVES
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CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. 
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Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra. 
Orientadora: Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes 
Bueno Guerra 
Co-orientadora: Profª Ms. Carla Bornhausen 
Gonzaga 
BANCA EXAMINADORA: 
___________________________________________________________________ 
Nome do examinador: Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra 
Titulação: Mestre em Serviço Social 
Instituição: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE 
___________________________________________________________________ 
Nome do examinador: Carla Bornhausen Gonzaga 
Titulação: Mestre em Serviço Social 
Instituição: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE 
Local: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE 
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, pois sem a fé não teria conseguido realizar 
esse sonho, sem Ele não teria encontrado o Serviço Social e essa maravilhosa 
profissão que escolhi. 
A meu querido companheiro Adriano, pela dedicação e paciência em todos os 
momentos dessa caminhada, pelo carinho e amor com que me confortou nos 
momentos mais difíceis e pelo incentivo quando o cansaço chegava. 
Minha família, mãe, irmãs e meu sobrinho querido pelo apoio, em especial a 
meu pai Damião que acreditou em mim, me incentivou e acompanhou essa fase de 
minha vida. 
Agradeço muito a equipe da SENAT por ter nos recebido, principalmente a 
Luciana que foi muito importante nesse momento, tirando nossas dúvidas sempre 
que possível. 
Um muito obrigada a todos que entrevistamos, principalmente aos usuários e 
as famílias que se disponibilizaram em nos ajudar na construção de nosso trabalho, 
expondo suas vidas, compartilhando suas dores e esperanças. 
Agradeço de coração a minha orientadora Nathália pela dedicação, incentivo 
e carinho em todo o processo, assim como a nossa co-orientadora. 
E enfim, agradeço aos meus queridos amigos que construí nesse período, em 
especial a Daniely pelo carinho e apoio, mas principalmente a minha querida amiga 
Naiara pela parceria que formamos nesses quatro anos de faculdade, pela 
paciência, pelas risadas, pela sintonia, enfim por essa amizade que formamos e que 
vamos levar para nossa vida.
AGRADECIMENTOS
“Ao amanhecer, todas as 
coisas de ontem pertencem ao 
passado. Hoje é um novo dia e 
a vida pode recomeçar” 
(Autor desconhecido) 
RESUMO
A dependência química do Crack vem crescendo e agravando as consequências do 
uso para o sujeito dependente, sua família e a sociedade. Inicialmente o uso dessa 
droga era associado as pessoas de baixa renda ou em situação de rua, mas esse 
quadro sofreu alterações significativas, atingindo as classes média e alta. O 
crescimento da dependência dessa droga, que possui um preço acessível, efeito 
mais rápido e agressivo no organismo, desafia os profissionais a pensar em novas 
estratégias de intervenção de atendimento e trabalho para essa nova demanda que 
vem afetando de forma tão dramática milhares de famílias. A pesquisa foi realizada 
com o objetivo de compreender o universo vivenciado pelo usuário de Crack, 
identificar as Políticas Públicas que vem trabalhando para o enfrentamento da 
dependência química, o tratamento oferecido a esses usuários pela Seção Núcleo 
de Atendimento ao Tóxico Dependente - SENAT e a atuação dos profissionais na 
instituição, com ênfase no trabalho do Assistente Social. Foi realizada uma pesquisa 
qualitativa, contribuindo para a valorização dos sujeitos. Utilizamos observação 
participante e entrevistas semi estruturadas, com os sujeitos, familiares e 
profissionais. Através da pesquisa revelamos as dificuldades apresentadas pelos 
sujeitos e suas famílias no processo de adesão ao tratamento da dependência 
química, a relevância do envolvimento da família nesse processo. Possibilitou 
revelar a importância do Assistente Social na instituição para o tratamento do 
dependente químico e que a participação da família nesse processo é fundamental, 
bem como a necessidade de uma equipe trabalhando de maneira interdisciplinar, 
contribuindo para um acolhimento humanizado que é essencial para adesão do 
sujeito ao tratamento e ao serviço de saúde. 
Palavras-chaves: Crack. Dependência Química. Tratamento ao usuário de crack. 
Serviço Social.
ABSTRACT 
Keywords: The Crack addiction is increasing and aggravating the consequences of 
using the subject to subject, his family and society. Initially this drug was associated 
with people of low income or homeless, but this picture has changed significantly, 
reaching the middle and upper classes. The growth of drug addiction, which has an 
affordable, faster and more aggressive effect in the body, challenges the students to 
think about new strategies of intervention and treatment work for this new demand 
that has so dramatically affecting thousands of families. The survey was conducted 
with the aim of understanding the universe experienced by crack users, identify the 
public policy which has been working to combat the addiction, the treatment offered 
to these users by Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente - SENAT 
and the performance of professionals in the institution, with emphasis on the work of 
the Social Worker. We conducted a qualitative research, contributing to the 
enhancement of the subjects. Used participant observation and semi structured 
interviews with the subjects, families and professionals. Through the research 
revealed the difficulties presented by the subjects and their families in the process of 
accession to the addiction, the importance of family involvement in this process. 
Allowed to reveal the importance of the social worker at the institution for the 
treatment of chemically dependent and that family involvement is crucial in this 
process, as well as the need for a team working in an interdisciplinary manner, 
contributing to a humanized approach that is essential for adhesion of the subject 
treatment and health service. 
Keywords: crack, Chemical dependency and treatmant for crack users. Social 
Worker
LISTA DE TABELAS, FIGURAS E QUADROS 
Tabela 1: Levantamento do uso de droga nos anos de 2001 e 2005........................27 
......................................................................................................................................7 
INTRODUÇÃO............................................................................................................13 
CAPÍTULO I.................................................................................................................16 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE 
NO BRASIL.................................................................................................................16 
1.1 A saúde no Brasil..................................................................................................16 
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio 
Psicossocial (NAPS)...................................................................................................20 
CAPÍTULO II................................................................................................................25 
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA...........................................25 
2.1 O que é dependência química?...........................................................................25 
2.2 O que é o Crack?..................................................................................................25 
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil .........................................................26 
2.2.2 O usuário de Crack............................................................................................28 
CAPÍTULO III...............................................................................................................33 
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): 
CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. ...............................................33 
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao 
tratamento...................................................................................................................33 
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.........34 
3.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................37 
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. ............................................................38 
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química.............................39 
3.5 Análise dos dados.................................................................................................42 
3.5.1 O usuário de Crack............................................................................................42 
3.5.2 A realidade vivida pelas famílias........................................................................45 
3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento.......................................47 
3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente 
Social. .........................................................................................................................49
3.5.5 Trabalho Interdisciplinar.....................................................................................51 
3.5.6 Redução de Danos.............................................................................................53 
3.5.7 Trabalho em rede..............................................................................................54 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................56 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59 
FONTES ELETRÔNICAS...........................................................................................61 
ANEXO I......................................................................................................................62 
ANEXO II.....................................................................................................................63 
ANEXO III....................................................................................................................64 
ANEXO IV....................................................................................................................65 
ANEXO V.....................................................................................................................66 
7 
......................................................................................................................................7 
INTRODUÇÃO............................................................................................................13 
CAPÍTULO I.................................................................................................................16 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE 
NO BRASIL.................................................................................................................16 
1.1 A saúde no Brasil..................................................................................................16 
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio 
Psicossocial (NAPS)...................................................................................................20 
CAPÍTULO II................................................................................................................25 
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA...........................................25 
2.1 O que é dependência química?...........................................................................25 
2.2 O que é o Crack?..................................................................................................25 
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil .........................................................26 
2.2.2 O usuário de Crack............................................................................................28 
CAPÍTULO III...............................................................................................................33 
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): 
CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. ...............................................33 
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao 
tratamento...................................................................................................................33 
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.........34 
3.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................37
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. ............................................................38 
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química.............................39 
3.5 Análise dos dados.................................................................................................42 
3.5.1 O usuário de Crack............................................................................................42 
3.5.2 A realidade vivida pelas famílias........................................................................45 
3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento.......................................47 
3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente 
Social. .........................................................................................................................49 
3.5.5 Trabalho Interdisciplinar.....................................................................................51 
3.5.6 Redução de Danos.............................................................................................53 
3.5.7 Trabalho em rede..............................................................................................54 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................56 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59 
FONTES ELETRÔNICAS...........................................................................................61 
ANEXO I......................................................................................................................62 
ANEXO II.....................................................................................................................63 
ANEXO III....................................................................................................................64 
ANEXO IV....................................................................................................................65 
ANEXO V.....................................................................................................................66
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
AIDS (Sindrome da Imunodeficiência Humana) 
......................................................................................................................................7 
INTRODUÇÃO............................................................................................................13 
CAPÍTULO I.................................................................................................................16 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE 
NO BRASIL.................................................................................................................16 
1.1 A saúde no Brasil..................................................................................................16 
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio 
Psicossocial (NAPS)...................................................................................................20 
CAPÍTULO II................................................................................................................25 
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA...........................................25 
2.1 O que é dependência química?...........................................................................25 
2.2 O que é o Crack?..................................................................................................25 
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil .........................................................26 
2.2.2 O usuário de Crack............................................................................................28 
CAPÍTULO III...............................................................................................................33 
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): 
CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. ...............................................33 
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao 
tratamento...................................................................................................................33 
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.........34 
3.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................37 
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. ............................................................38 
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química.............................39 
3.5 Análise dos dados.................................................................................................42 
3.5.1 O usuário de Crack............................................................................................42 
3.5.2 A realidade vivida pelas famílias........................................................................45 
3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento.......................................47 
3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente 
Social. .........................................................................................................................49 
3.5.5 Trabalho Interdisciplinar.....................................................................................51 
3.5.6 Redução de Danos.............................................................................................53
3.5.7 Trabalho em rede..............................................................................................54 
CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................56 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59 
FONTES ELETRÔNICAS...........................................................................................61 
ANEXO I......................................................................................................................62 
ANEXO II.....................................................................................................................63 
ANEXO III....................................................................................................................64 
ANEXO IV....................................................................................................................65 
ANEXO V.....................................................................................................................66
SUMÁRIO 
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 
INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 
CAPÍTULO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE 
NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 
1.1 A saúde no Brasi l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio 
Psicossocial (NAPS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 
CAPÍTULO I I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 
2.1 O que é dependência química? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 
2.2 O que é o Crack? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 
2.2.2 O usuário de Crack . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 
CAPÍTULO II I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): 
CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao 
tratamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química. . . . . . . . . 34 
3.2 Metodologia da pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 
3.5 Análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 
3.5.1 O usuário de Crack . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 
3.5.2 A realidade vivida pelas famílias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 
3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente 
Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 
3.5.5 Trabalho Interdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 
3.5.6 Redução de Danos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 
3.5.7 Trabalho em rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 
CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 
FONTES ELETRÔNICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 
ANEXO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 
ANEXO I I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 
ANEXO II I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 
ANEXO IV....................................................................................................................65 
ANEXO V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
INTRODUÇÃO 
13 
O presente estudo procurou conhecer mediante pesquisa o tratamento de 
saúde oferecido aos dependentes químicos, usuários de crack, no município de 
Santos e o papel profissional do Assistente Social no enfrentamento dessa 
problemática. 
Busca revelar o universo vivenciado pelo usuário de crack, demanda que 
atualmente vem crescendo significativamente, devido ao crack possuir um preço 
acessível e efeito rápido no organismo. Esta droga que surgiu no Brasil em meados 
dos anos 80/90 tem efeitos avassaladores e negativos na vida do indivíduo e de sua 
família, causando à dependência física e psíquica e com graves consequências 
sociais. 
Inicialmente o crack era considerado uma droga utilizada predominantemente 
por população de baixa renda e população em “situação de rua”, porém, dados de 
pesquisas do Ministério da Saúde comprovam que a droga tem sido consumida por 
todos os segmentos e classes sociais nos últimos anos. 
Com o decorrer do tempo na história do uso abusivo de drogas surgem novas 
substâncias, como o crack, mais baratas e potentes, que impõe a necessidade de se 
criar também novas estratégias de intervenção de trabalho, devido ao seu poder 
devastador e baixo custo, facilitando o acesso e consumo de grandes parcelas da 
população. Desafia o Estado, a sociedade e as famílias a enfrentarem um problema 
tão grave que muitas vezes impõe ao ser humano uma condição que atenta contra a 
vida. 
Vamos identificar como as Políticas Públicas vem historicamente trabalhando 
com os dependentes químicos, onde inicialmente não havia um tratamento 
específico para essa demanda. Através da reforma psiquiátrica, em meados dos 
anos 90, foi possível identificar as diferenças entre os usuários da saúde mental, 
pessoas com transtornos mentais e o usuário de substâncias psicoativas e assim, 
garantir diretrizes para um tratamento específico para os dependentes de álcool e 
outras drogas na busca da qualidade do atendimento e tratamento. 
A história revela que as Políticas Públicas são recentes no enfrentamento 
dessa questão, e por haver o crescimento expressivo dessa demanda e por
14 
consequência, aumento dos graves problemas sociais, no nível familiar e também 
seu vínculo com o tráfico de drogas, com a violência, com danos graves para a 
saúde individual e coletiva. Há preocupação do governo frente a esta questão social 
e a recente definição de diretrizes políticas do Ministério da Saúde - MS, através da 
formulação das políticas de prevenção, enfrentamento e de redução de danos, como 
as lançadas recentemente no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras 
Drogas, em junho de 2010 que tem como uma das suas diretrizes fundamentais a 
Atenção Integral aos usuários de Crack. 
O tratamento aos dependentes de crack é uma questão recente e 
desafiadora, encontramos poucos materiais que apresentam trabalhos 
especificamente sobre essa problemática. O presente estudo pretende contribuir 
para essa reflexão e através da análise das informações obtidas, aprofundar 
questões relevantes para o acesso e tratamento ao usuário de crack nos serviços de 
saúde. 
Nesse sentido, sentimos a necessidade de realizar uma pesquisa para 
conhecer qual é o tratamento oferecido aos usuários de crack no município de 
Santos, como se dá a adesão dos usuários ao programa, seu olhar frente ao 
tratamento em que estão inseridos e o acolhimento que se dá a esse sujeito na 
instituição. 
Buscaremos também no processo deste estudo, identificar e aprofundar o 
trabalho interdisciplinar desenvolvido pelo serviço de saúde, considerando a 
importância deste para o tratamento de dependência do Crack. Estaremos aqui, 
ressaltando o papel do Assistente Social dentro da instituição, sua proposta de 
atuação, desafios e limites da prática profissional. 
Nosso objetivo é que possamos contribuir para a compreensão desse 
fenômeno tão complexo, que é a dependência química do Crack, e através da 
análise aprofundar o trabalho desenvolvido para o seu enfrentamento. Sabemos da 
importância de combater as formas de preconceito e discriminação que não 
contribuem para enfrentar a dependência química. É preciso discutir o uso abusivo 
de drogas como um fenômeno social, onde a família, a sociedade civil e o Estado 
tem responsabilidades a serem compartilhadas, na prevenção, no combate e no 
tratamento aos usuários de Crack.
15 
No capítulo I fazemos um breve histórico da Política de saúde no Brasil, e as 
ações voltadas ao tratamento da dependência química no decorrer da história do 
país. 
No capítulo II abordaremos a dependência química, com ênfase no Crack e 
suas problemáticas, referências de consumo no país e o perfil do usuário de Crack. 
No capítulo III por meio da pesquisa de campo apresentaremos o serviço de 
saúde que é referência no município de Santos no tratamento da dependência 
química, a prática do Assistente Social e demais profissionais da instituição, o olhar 
dos sujeitos e familiares que acessam o serviço. Buscaremos através da análise das 
falas desses sujeitos, revelar a vivencia desses usuários e familiares no 
enfrentamento a dependência química, limites e possibilidades no processo de 
tratamento. E ainda identificar o trabalho profissional da Assistente Social neste 
contexto. 
No percurso deste estudo, temos a certeza da urgência, da sociedade 
brasileira, agir no combate a este fenômeno. E é isto que este estudo e 
principalmente, os sujeitos da pesquisa, em suas trajetórias aqui reveladas vão nos 
mostrar.
CAPÍTULO I 
16 
SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA 
PELA SAÚDE NO BRASIL. 
1.1 A saúde no Brasil 
No início do século XX, a saúde da população brasileira não era reconhecida 
como um direito do cidadão e dever do Estado, ficando a mercê de atendimento 
filantrópico nos hospitais de caridade mantidos pela Igreja Católica. A saúde era 
entendida como um serviço de caráter individual, paliativo e curativo. 
O Estado brasileiro restringia a sua atuação na área da saúde em ações de 
saneamento nas grandes cidades e portos para combater as epidemias da época, 
principalmente quando estas epidemias interferiam na economia e traziam prejuízos, 
como por exemplo, o combate a febre amarela e outras doenças infecto-contagiosas 
através de programas de saneamento no Rio de Janeiro e no porto de Santos que 
resultou também em campanhas de vacinação obrigatória no Brasil. 
Em 1923, fruto do crescimento industrial e da mobilização dos trabalhadores, 
foi criada a lei Eloi Chaves que regulamenta e cria as Caixas de Aposentadoria e 
Pensão (CAPS), que eram entidades públicas que possuíam autonomia em relação 
ao Estado, administradas com a participação direta dos trabalhadores e 
empresários, sendo financiada pela empresa, trabalhador e União, garantindo 
assistência médica e aposentadoria. Os benefícios e serviços de saúde destinavam-se 
a empregados de empresas específicas, sem recursos do poder público. 
A saúde nesta época estava condicionada à inserção no mercado de trabalho, 
onde apenas os trabalhadores urbanos assalariados com alto poder aquisitivo e a 
classe social dominante tinham acesso a mesma. 
Na década de 1930, na chamada Era Vargas, foi criado o Instituto de 
Aposentadoria e Pensões (IAPS), organizados por categorias profissionais e não 
mais por empresas. No final da década de 1930 e início da década de 1940, os IAPS 
já concentravam uma grande quantidade de recursos, resultado do crescimento 
contínuo da arrecadação, fruto do aumento do número de trabalhadores com 
carteira assinada. Ao mesmo tempo, os gastos eram poucos já que a demanda por 
aposentadoria ainda era pequena, porém o Governo Vargas utilizou grande parte
17 
dos recursos dos IAPS de forma indevida, no financiamento da industrialização do 
Brasil, emprestando para empresários ou investindo diretamente, como foi o caso do 
desenvolvimento da indústria siderúrgica. 
Com o processo de industrialização na década de 30, no país tivemos o 
“êxodo rural” aumentando a população nos centros urbanos que objetivavam a 
busca de emprego nas indústrias. No entanto a demanda foi maior que a oferta de 
emprego, contribuindo para aceleração da urbanização e a ampliação da massa 
trabalhadora, em precárias condições de higiene, saúde e habitação. 
A conjuntura de 30, com suas características econômicas e políticas, 
possibilitou o surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem às 
questões sociais de forma orgânica e sistemática. As questões sociais em 
geral e as de saúde em particular, já colocadas na década de 20, precisavam 
ser enfrentadas de forma mais sofisticada. Necessitavam transformar-se em 
questão política, com a intervenção estatal e a criação de novos aparelhos 
que contemplassem, de algum modo, os assalariados urbanos, que se 
caracterizavam como sujeitos sociais importantes no cenário político nacional, 
em decorrência da nova dinâmica da acumulação. (BRAVO, 2007, p. 91). 
Nas constituições do Brasil de 1934 e 1937 notamos avanços da assistência 
médica ao trabalhador: 
Art.121 § 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além 
de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador:[...] h) 
assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a 
esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do 
emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, 
do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da 
maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte (BRASIL, 
1934) 
Art 137 - A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes 
preceitos:[...] l) assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, 
assegurado a esta, sem prejuízo do salário, um período de repouso antes e 
depois do parto; (BRASIL, 1937) 
A constituição do Brasil de 1946 amplia as competências do Estado em 
relação à saúde: 
Art 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos 
seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos 
trabalhadores: [...] XIV - assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica 
preventiva, ao trabalhador e à gestante; [...] XVI - previdência, mediante 
contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da 
maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e 
da morte;
18 
Esses avanços na Constituição foram conquistas sociais, fruto das lutas e 
reivindicações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, juntamente 
com a pressão sindical e a participação de outros atores políticos. Até 1950 as 
atividades de saúde baseavam–se na atenção médica curativa e de prevenção 
coletiva, sendo que durante o regime militar de 1964, os problemas não foram 
resolvidos intensificando ainda mais a situação. 
Em face da “questão social” no período 64/74, o Estado utilizou para sua 
intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial 
ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a 
finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as 
tensões sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir 
de mecanismo de acumulação do capital. (BRAVO, 2007, p. 93). 
Em 1966 houve a unificação dos IAPS, tornando-se Instituto Nacional de 
Previdência Social (INPS). 
Na década de 1970 após a consolidação dos serviços privados e públicos, 
fica clara a divisão de acesso à saúde, isto é, entre os que podiam pagar por 
serviços de saúde privada e a população carente que era atendida na saúde pública. 
Em 1978 aconteceu em Alma-Ata, União das Repúblicas Socialistas 
Soviéticas (URSS), a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de 
Saúde, expressando a necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos 
os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade 
mundial para promover a saúde de todos os povos do mundo. 
Nesse contexto a sociedade civil organiza-se no país para mobilização e 
conquista do direito à saúde. Como um direito universal e dever do Estado. Esse 
movimento ficou conhecido como movimento sanitarista representado pelos 
profissionais da saúde e sociedade civil. Os movimentos organizados participavam 
das conferências propondo os seguintes princípios: universalização da saúde, 
descentralização, com equidade e participação popular. 
Em 1986, pós o regime militar, e em processo de abertura política no país é 
realizado a 8ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília, grande marco na história 
das conferências de saúde no Brasil. Foi a primeira vez que a população participou 
das discussões da conferência. Participaram dessa conferência mais de 4.000 
delegados, impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, e propuseram a 
criação de uma ação institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde, 
que envolve promoção, proteção e recuperação.
19 
Em 1988 suas propostas foram contempladas e aprovadas pela Constituição 
Federal (C.F.) e o Sistema Único de Saúde (SUS) regulamentado pelas leis 
orgânicas da saúde 8.080/90 e 8.142/90, garantindo legalmente a proteção e a 
defesa da saúde, corroborando com a definição da Organização Mundial da Saúde 
(OMS) “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a 
ausência de enfermidade ou invalidez”, garantindo um direito de todos os cidadãos 
brasileiros e dever do Estado. 
Art. 196 - A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante 
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de 
outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a 
sua promoção, proteção e recuperação (C.F BRASIL, 1988). 
Concretizava -se através dos princípios do SUS: 
Universalidade: atendimento a todo e qualquer cidadão, de acordo com a 
necessidade (independente do pagamento a Previdência Social). 
Integralidade: percepção da pessoa como um todo, que faz parte da 
sociedade. Ações de prevenção e tratamento voltadas ao indivíduo e a comunidade. 
Unidades prestadoras de serviços nos diversos graus de complexidade formando 
um todo indivisível prestando assistência integral. Respeito a dignidade humana. 
Equidade: direito ao atendimento frente às necessidades específicas, estando 
atento as desigualdades existentes, ajustando as ações às necessidades de cada 
parcela da população considerando suas vulnerabilidades. 
Descentralização: poder de decisão na mão dos responsáveis pela execução 
das ações (Comando Único) nas esferas (municipal, estadual e federal). 
Regionalização / Hierarquização: serviços devem ser organizados em níveis 
de complexidade tecnológica crescente, com área geograficamente definida e 
definição da população a ser atendida. 
Eficácia / Resolutividade: produzir resultados positivos quando for procurado 
pela população ou quando um problema se apresenta na comunidade. Ter qualidade 
no atendimento ao usuário e comunidade. 
Participação Popular: direito de participação a todos os segmentos envolvidos 
com o sistema (gestores, prestadores de serviço, trabalhadores de saúde e a 
população usuária dos serviços). Participação através dos Conselhos de Saúde e 
Conferências Municipais.
20 
Complementaridade do Setor Privado: quando por insuficiência do setor 
público, poderá ser contratado serviço privado, mantendo-se os princípios do SUS. 
Deve-se dar preferência a serviços não lucrativos. 
O SUS é resultado da mobilização do movimento sanitarista, da classe 
trabalhadora, juntamente com outros atores da sociedade civil que reivindicavam o 
direito ao acesso integral, universal e gratuito a saúde de todos os brasileiros. 
Busca romper com a lógica neoliberal de insuficiência de recursos públicos 
investidos em saúde no Brasil pelo Estado, que se revela através da privatização e 
sucateamento da saúde. 
O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. No entanto 
apesar de seu caráter inovador, o SUS efetivado está longe do SUS constitucional. 
Existe um hiato entre os ideais defendidos e propostos pelos movimentos e a prática 
do sistema público de saúde que historicamente tem grandes desafios na garantia 
da saúde pública no país. 
1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de 
Apoio Psicossocial (NAPS) 
A Política de Saúde Mental consolidada no Brasil é consequência, 
principalmente, do processo de questionamento e reflexão iniciado no final da 
década de 70 pelos trabalhadores de saúde mental, familiares, sindicalistas que 
colocaram “um ponto final” ao paradigma e ao modelo psiquiátrico vigente na época. 
Este Movimento passa ser protagonista na defesa dos direitos das pessoas 
com transtornos mentais, denúncia à violência dos manicômios, da mercantilização 
da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e crítica ao chamado 
saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com 
transtornos mentais. 
As experiências que ocorreram na Itália, de desinstitucionalização em 
psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio têm repercussão positiva no Brasil, 
pois revela que é possível uma ruptura ao modelo de violência asilar estabelecido na 
época. Passaram a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da 
assistência. 
Em 1987 na cidade de São Paulo é construído o primeiro Centro de Apoio 
Psicossocial (CAPS) no Brasil. Em 1989 na cidade de Santos por meio da Secretaria
21 
Municipal de Saúde, inicia-se o processo de intervenção para construção de uma 
rede de cuidados efetivos em substituição ao hospital psiquiátrico, Casa de Saúde 
Anchieta da cidade de Santos, local de maus-tratos e mortes de pacientes. A 
experiência da cidade de Santos é um marco no processo de Reforma Psiquiátrica 
brasileira, pois revela e transmite para o país a realidade dos hospitais psiquiátricos, 
demonstra que é possível transformar essa problemática e que precisa ser 
enfrentada, trazendo à tona a urgente necessidade da extinção dos manicômios do 
país. 
A Reforma Psiquiátrica tem o apoio do Deputado Federal Paulo Delgado 
(PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos 
mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país e sua substituição por 
outros recursos assistenciais e regulamenta a internação psiquiátrica compulsória 
através do Projeto de Lei 3.657/89. 
Em 1992, surgem movimentos sociais inspirados no Projeto de Lei Paulo 
Delgado, que conquistam as primeiras leis que determinam a substituição do modelo 
vigente, manicomial, apesar da resistência do setor privado, propondo uma rede 
integrada de atenção a saúde mental. Ainda na década de 90 é firmado pelo Brasil, 
através da assinatura na Declaração de Caracas e pela realização da II Conferencia 
Nacional de Saúde Mental, o compromisso em criar normas federais e serviços de 
atenção diários. Sendo assim são fundados os primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dias 
e as primeiras normas para a fiscalização e a classificação dos hospitais 
psiquiátricos. 
Somente após 12 anos a Lei Paulo Delgado é sancionada, mas é apenas 
uma substituição do Projeto de Lei 3.657/89 original e traz modificações importantes, 
pois a Lei 10.216 de 06 de abril de 2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das 
pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em 
saúde mental. A aprovação da Lei 10.216/01 foi um marco ético-legal da Reforma 
Psiquiátrica, ratificando de forma histórica, as diretrizes básicas que constituem o 
Sistema Único de Saúde - SUS; garantindo aos usuários de serviços de saúde 
mental e consequentemente, aos que sofrem por transtornos decorrentes do 
consumo de álcool e outras drogas – a universalidade de acesso e direito à 
assistência, bem como à sua integralidade; valoriza a descentralização do modelo 
de atendimento quando determina a estruturação de serviços mais próximos do 
convívio social de seus usuários, configurando redes assistenciais mais atentas às
22 
desigualdades existentes, ajustando de forma equânime e democrática as suas 
ações às necessidades da população. 
1.3 Saúde mental e usuários de álcool e outras drogas 
Inicialmente os usuários de álcool e outras drogas não tinham assistência 
específica, sua política de atendimento ficava restrita ao tratamento de saúde 
mental. O tema era tratado com preconceito, onde os dependentes eram vistos 
como marginais e não como doentes. Esse preconceito associado à criminalidade, 
vinculava o tratamento a modelos de exclusão e de internação, acreditando que 
manter longe e em abstinência seria a solução. 
Mas a realidade contemporânea nos coloca a frente de novos desafios, 
exigindo dos profissionais novas formas de atuação. A questão da dependência 
química que era abordada especificadamente por médicos da saúde mental, onde 
os profissionais e suas disciplinas eram compartimentalizadas e o conhecimento 
fragmentado, passa a exigir novas estratégias, onde o conhecimento não é privativo 
de uma única área do saber, portanto faz necessário a interlocução entre elas. 
A interdisciplinaridade promove a troca de informações e de conhecimentos 
entre disciplinas mas, fundamentalmente, transfere métodos de uma 
disciplina para outras. Por exemplo: os métodos da física nuclear podem 
auxiliar na cura do câncer, na engenharia de alimentos ou de remédios, etc. 
Corresponde a um espectro mais ampliado de ação, alcançando um processo 
de interação entre as disciplinas capaz de promover a conjugação de 
conhecimentos que elevem os níveis de saber. (RODRIGUES, 2004, p. 52) 
A interdisciplinaridade possibilita a complementaridade do conhecimento das 
diversas disciplinas, proporciona que várias áreas do conhecimento possam dialogar 
entre si, verificando as diferentes formas de abordar a realidade. O trabalho 
interdisciplinar faz-se necessário cada vez mais devido a dificuldade que 
encontramos para enfrentar a diversidade e a complexidade dos problemas 
associado ao uso de substâncias psicoativas, contribuindo para compreensão do 
aumento do uso abusivo de álcool e outras drogas e suas implicações que são 
multidimensionais, já que envolve aspectos sociais, psicológicos, econômicos e 
políticos, afetando a todos os segmentos sociais. 
Em 2002, junto às recomendações da III Conferência Nacional de Saúde 
Mental, o Ministério da Saúde implementa o Programa Nacional de Atenção
23 
Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, voltando sua 
estratégia de atuação para a ampliação do acesso dos usuários ao tratamento, a 
compreensão integral e dinâmica da problemática, a promoção de seus direitos e a 
abordagem de redução de danos. Afirma-se assim, através do Estado uma 
estratégia que visa enfrentar um problema que passa a ser considerado de saúde 
pública. De acordo com as Organizações Mundiais de Saúde, 10% da população 
dos centros urbanos do mundo consomem substâncias psicoativas, sem distinção 
de idade, sexo, nível de escolaridade e poder aquisitivo. 
Ao ser organizada essa nova rede de trabalho no enfrentamento dessa 
problemática, visa-se a reabilitação e a reinserção social do dependente, o que 
levou o Ministério da Saúde a instituir ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Plano 
Nacional de Atenção Comunitária e Integral aos usuários de Álcool e outras drogas, 
que tem como uma de suas diretrizes a intersetorialidade, a atenção integral, a 
prevenção, a promoção e proteção a saúde de consumidores de álcool e outras 
drogas, o modelos de atenção (CAPS) e redes assistenciais e o controle de 
entorpecentes – padronização de serviços. Estabelecendo serviços extra 
hospitalares específicos para essa demanda articulada junto à rede de atenção 
psicossocial e abordando em conjunto a redução de danos. 
São criados os CAPSad, Centros de Atenção Psicossocial para o atendimento 
de pacientes com dependência e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas, 
devendo ser trabalhado todo o cenário do usuário: o sistema de saúde, assistência 
social e familiar. 
Os CAPSad devem oferecer atendimentos diários a sujeitos que fazem uso 
prejudicial de álcool e outras drogas, desenvolver atividades que envolvam desde 
atendimentos individuais (medicamentoso, psicoterápicos, de orientação, dentre 
outros) até atendimentos em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares. 
Devem oferecer também, espaços de repouso para desintoxicação ambulatorial de 
pacientes que necessitem desses cuidados e que não seja necessário atendimento 
hospitalar. 
O trabalho de prevenção pelo CAPSad pode ser definido como um processo 
de planejamento, implantação e implementação de múltiplas estratégicas voltadas 
para a redução dos fatores de riscos específicos e fortalecimento dos fatores de 
proteção, o que implica a inserção comunitária das práticas propostas juntamente 
com a colaboração de todos os segmentos sociais.
24 
A lógica sugerida pelo Ministério da Saúde é a Redução de Danos que visa 
minimizar as consequências causadas pelo uso de drogas como a transmissão de 
doenças, como hepatite e Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, através de 
utensílios perfuro cortantes compartilhados entre os usuários, como seringas e 
cachimbos. 
Segundo o Ministério da Saúde para funcionar o CAPSad deve oferecer a 
seguinte equipe multiprofissional: médico psiquiatra; enfermeiro com formação em 
saúde mental; médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e 
acompanhamento das intercorrências clínicas; profissionais de nível superior entre 
as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, 
terapeuta ocupacional, pedagogo, ou outro profissional necessário para o processo 
terapêutico; profissionais de nível médio: técnico e / ou auxiliar de enfermagem, 
técnico administrativo, técnico educacional e artesão. 
Destacamos neste capítulo aspectos relevantes do desenvolvimento da 
política de saúde no Brasil, e nesse processo, a necessidade de priorizar de forma 
que se organize uma atuação diferenciada junto aos usuários de álcool e outras 
drogas na política de saúde local.
CAPÍTULO II 
CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA 
2.1 O que é dependência química? 
25 
A dependência é, essencialmente, uma relação alterada entre o usuário e o 
seu modo de consumo. Todo o consumo de substâncias psicoativas, seja ele 
lícito ou ilícito, é influenciado por uma série de fatores que diminuem ou 
aumentam o risco de complicações agudas e crônicas. (COMUDA, 2006, p. 
117). 
Durante a vida, cada indivíduo adquire um modo particular de consumo de 
substâncias, que sofre influência de diversos fatores de proteção e risco, podendo 
serem de natureza biológica, psicológica e social. Esses fatores se influenciam 
mutuamente, podendo comprometer vários campos da vida. Vale ressaltar que 
nunca um fator de risco isolado leva a dependência, é necessário que haja outros 
fatores sobre a história de cada um conduzindo-o ao abuso ou à dependência. 
Assim, fica claro que os fatores ligados ao indivíduo, a natureza das 
substâncias e seu ambiente social, desenvolvem padrões diferentes de consumo 
dessas substâncias. Tomando como exemplo o álcool, um consumo em baixas 
doses, com precauções necessárias é considerado de baixo risco, o eventual 
acompanhado de brigas, perda de compromissos é considerada nociva ou abuso e 
quando o consumo é frequente, compulsivo, é considerado dependência. 
2.2 O que é o Crack? 
O Crack é uma substância psicoativa, resultado da mistura da cocaína (pasta 
da coca ou ela pura) e substâncias alcalinas, como bicarbonato de sódio e amônia. 
Atualmente, nota-se o crescimento da utilização de outras substâncias na 
composição do Crack para aumentar sua produção, o que causa efeitos ainda mais 
graves ao organismo do usuário. 
Essa mistura é consistente e cortada em pequenos pedaços que são as 
pedras, que os usuários fumam em um cachimbo que pode ser facilmente 
improvisado com latas. Durante o aquecimento, cristais da cocaína são queimados e 
fazem o barulho que deu nome a droga “Crack”.
26 
O Crack inicialmente foi tido como uma droga de rua, de pessoas conhecidas 
popularmente como “nóias”, indivíduos de baixa renda ou em situação de rua. 
Atualmente ela atinge todos os segmentos da sociedade independente de gênero, 
idade, sexo e classe social. 
Quando a pessoa experimenta o Crack, o corpo cria uma espécie de memória 
biológica das sensações que obteve independente de serem prazerosas ou 
desagradáveis. A pessoa deseja sentir a sensação de êxtase, de bem estar e euforia 
da primeira vez novamente, acredita que a parte ruim não vai se repetir. 
O Crack age no cérebro de 05 a 10 segundos, e tem um efeito de 
aproximadamente 15 minutos. Causa fortes efeitos psíquicos como euforia, que dá a 
sensação de que ele pode tudo; redução da fadiga e da fome; irritabilidade e 
impulsividade; sintomas depressivos e junto a uma forte necessidade de consumir 
mais; ansiedade, sensação de pânico, mania de perseguição e perda do auto 
controle. Esses efeitos, como nas demais drogas, agem conforme cada indivíduo e 
seu organismo, seu estado psicológico e físico. Os efeitos físicos são o aumento da 
frequência cardíaca e da pressão arterial; alta temperatura corpórea; aumento do 
ritmo intestinal; tremores; dilatação da pupila; sudorese. Os efeitos sociais surgem 
de acordo com o grau de dependência do usuário, quando está na “fissura”, não tem 
respeito por nada nem ninguém, seu único “amigo” é o Crack, nada tem sentido, 
sem a droga sente-se perdido e em seus poucos instantes de lucidez vem a 
depressão, o sentimento de culpa, a raiva por se sentir incapaz, a preocupação, o 
medo e a insegurança. Aos que possuem o apoio da família, mesmo com vergonha, 
conseguem pedir ajuda, mas logo a vontade volta e o “cega”, levando - o novamente 
a correr atrás da droga. É capaz de tudo para conseguir o Crack, engana, inicia 
pequenos furtos, rouba, faz qualquer coisa e passa por cima de tudo e todos para 
conseguir mais uma pedra. 
2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil 
Os dados mais recentes sobre o consumo do Crack no país estão disponíveis 
pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). O seu 
II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil divulgado 
em 2005 demonstra que houve um aumento do uso de Crack no Brasil em 
comparação com o I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas
27 
no Brasil divulgado em 2001. Conforme podemos observar na tabela abaixo, que é 
a comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005, sobre o uso do crack em sua 
vida, distribuído segundo sexo e a faixa etária dos entrevistados das 108 cidades 
com mais de 200 mil habitantes do Brasil. 
Tabela 1: Levantamento do uso de droga nos anos de 2001 e 2005. 
DROGA ANO 2001 ANO 2005 
Crack 
Masc. 
0,7 
Fem. 
0,2 
TOTAL 
0,4 
Masc. 
1,5 
Fem. 
0,2 
TOTAL 
0,7 
Fonte: CEBRID, 2005. 
O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil 
divulgado em 2005 revela a quantidade do consumo de crack na vida, sendo 0,7 % 
equivalente a 381 mil usuários de crack, no ano 0,1 % e no mês 01%. Entre os 
brasileiros a porcentagem é maior no sexo masculino (3,2%) e na faixa etária de 25 
a 34 anos. 
Cerca de 600.000 pessoas fumam Crack hoje no Brasil, segundo estimativa 
do Ministério da Saúde. Em 2005, esse número era de 380.000. O aumento foi de 
58%. (VEJA São Paulo, 2010. p. 37). 
Figura 1: Principais causas de óbito pelo uso do Crack 
Fonte: Veja São Paulo, data abr. 2010. 
Um em cada três usuários de Crack morre nos primeiros cinco anos de 
consumo da droga, segundo estudo da Unifesp, divulgado pela revista Veja. As
28 
principais causas de óbito pelo uso de Crack são demonstradas através da figura 
acima e por meio dela podemos constatar que o maior índice de mortes é em 
decorrência da violência por traficantes ou pela polícia e em segundo por 
decorrência da Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS). 
2.2.2 O usuário de Crack 
Há poucas informações sobre a chegada do crack ao Brasil, em sua maioria 
provenientes da imprensa leiga ou de órgãos policiais. Segundo os primeiros 
estudos iniciados no final da década de 80, a cidade de São Paulo foi a mais 
atingida. A primeira apreensão da substância no município registrada nos arquivos 
da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE), aconteceu em 1990 
(Uchôa, 1996). Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em 
bairros da Zona Leste da cidade (São Mateus, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista) 
para em seguida alcançar a região da Estação da Luz (conhecida como 
"Cracolândia") e o centro da cidade (Uchôa, 1996). A partir daí espalhou-se para 
vários pontos da cidade, estimulado pelo ambiente de exclusão social (Uchôa, 
1996). 
O Crack era usado pela população de baixa renda, em específico, pessoas 
em situação de rua. Geralmente homens, com menos de 30 anos, desempregados, 
com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo, e oriundos de ambiente familiar em 
situação de vulnerabilidade social. 
Foi analisado que o usuário de Crack tem um padrão mais alto de 
necessidade de consumo, maior envolvimento em atividades ilegais e prostituição. 
Possuem também, maior número de problemas de saúde e sociais que os usuários 
dos demais entorpecentes. 
Geralmente o usuário de Crack usou outras drogas pesadas e teve seu início 
em idade precoce, o que dificulta ainda mais seu tratamento, pois estão 
biologicamente mais prejudicados devido ao início danoso em sua fase de 
crescimento e desenvolvimento bio-psicossocial. 
Esse quadro inicial veio se modificando com o desenvolvimento de nossa 
sociedade e a falta de intervenção de Políticas Públicas específicas aos usuários de 
álcool e outras drogas e em especial para o usuário de Crack que, atualmente, não 
tem distinção de classe social, raça ou nível de escolaridade. São indivíduos que
29 
buscam a droga por motivos que são diversos e complexos, pois são subjetivos para 
cada sujeito em seu contexto. 
Segundo o “Guia Prático sobre Uso, Abuso e Dependência de Substâncias 
Psicotrópicas para Educadores e Profissionais da Saúde”, elaborado pela Prefeitura 
Municipal de São Paulo, podemos tentar analisar o usuário de Crack avaliando 
fatores que possam influenciar e potencializar seu uso. 
Fatores Biológicos: nos usuários de Crack a depressão e os transtornos de 
ansiedade são os mais apresentados, mostrando uma correlação significativa entre 
esses sintomas e a gravidade da dependência. 
Fatores Individuais: depressão, ansiedade, alienação, comportamento 
compulsivo, isolamento, timidez, dificuldades de concentração e pessimismos. É 
válido acrescentar que, o uso precoce aumenta em até quatro vezes a chance de 
uso contínuo e de dependência. 
Fatores Sociais: fatores relacionais se referem ao grupo social a que pertence 
aquele indivíduo, de onde ele quer fazer parte, se destacar, ser reconhecido. Grupo 
esse em ambiente que ele cresceu e aprendeu, tendo como referência suas 
características. 
Fatores Familiares: que vão variar de acordo com o que ele vivencia e 
aprende cotidianamente, desde a infância, como a violência, situação 
socioeconômica, falta de comunicação entre os membros da família, dentre outros. 
Fatores Escolares: variam desde problemas de adaptação e de relação entre 
escola e estudante, onde não há o reforço do valor da escola, ao invés disso, exclui, 
estigmatiza, rejeita e reforça negativamente, não possui regras, nem informações, e 
apresentam professores não capacitados para lidar com essa questão, dentre 
outros. 
Os fatores apresentados se referem ao que pode potencializar o uso e a 
dependência, mas precisamos analisar como ficam comprometidas essas relações 
quando a dependência já está instalada. 
O dependente de Crack vive para a droga, só pensa nela e na próxima dose, 
assim tudo o mais fica irrelevante para o usuário. 
Em casa, com sua família, começam as pequenas mentiras, em pouco tempo 
é percebido seu uso, pois o usuário não consegue segurar a “fissura”1 e passa a 
1 Fissura é um termo utilizado para se referir ao momento de abstinência que o usuário não consegue 
suportar, em que não esta usando droga, mas sente o desejo incontrolável.
30 
usá-la em casa, improvisando cachimbos com latas de refrigerante e usam 
constantemente o incenso para tentar disfarçar o cheiro característico da droga. 
Dá-se início então a venda de seus pertences particulares, celular, tênis, até 
roupas, passando a fazer pequenos furtos na própria família, televisão, DVD, tudo o 
que acreditar ter valor de troca para o traficante. Quando já não tiver mais nada para 
vender em casa passa a fazer pequenos furtos na rua, sendo violento quando 
necessário, pois não pode perder tempo, “precisa do Crack” e é capaz de tudo para 
consegui-lo. Sua relação familiar passa a ficar comprometida, brigas constantes, 
pois o usuário não aceita sua dependência, se acha capaz de tudo e que tem 
controle sobre a droga, dizendo que pode parar de usar quando quiser. Sem 
entender a droga, a família não sabe como agir e tentam de tudo para ajudar, mas 
chega o momento em que perdem a esperança, pois o usuário de Crack passa a 
ficar extremamente violento, já que uma das características da droga é que quando 
está ativa dá uma forte sensação de poder. Geralmente apenas um membro da 
família insiste no usuário, os demais, perdem a esperança, chegando a acreditar que 
a morte é a solução mais esperada, tamanho o desespero e a desilusão, não 
acreditando no tratamento, pois o usuário de Crack costuma ter diversas recaídas. 
A abstinência do Crack é extremamente estressante para o usuário, suor, 
calafrios, tremores, dores abdominais, fazendo-o colocar a droga como um objetivo 
a ser conquistado naquele momento e quando seus meios materiais terminam passa 
a se prostituir, independente de sexo e idade, o usuário vende seu corpo por uma 
pedra de Crack. É físico, é biológico, ele precisa, ele tem que ter mais uma pedra e 
qualquer coisa que o faça conquistá-la é válida. Não pensa nas consequências e 
nas doenças que pode adquirir e transmitir, sob efeito da droga ele não consegue 
pensar, não consegue raciocinar, assim não vai usar preservativo, nem é capaz de 
lembrar. 
Na escola, a frequência diminui consideravelmente, chegando a deixá-la 
definitivamente quanto instalada a dependência, pois não consegue acompanhar os 
demais e nem há o interesse. Os profissionais da escola não estão capacitados para 
lidar com o usuário de drogas, sendo assim, sentem-se impotentes e pouco ou nada 
podem fazer para mudar o quadro. 
O Usuário de Crack não consegue exercer atividade remunerada, seu 
comprometimento não o deixa se concentrar no trabalho, tem tremores e passa a 
ficar dias somente usando a droga, o que o impossibilita de continuar em um
31 
emprego. Destacamos também que o usuário de Crack não é confiável, quando 
precisa de uma pedra não pensa antes de enganar, mentir, sendo assim, o 
empregador não abre precedentes, prefere mandá-lo embora a ter prejuízos. 
Fisicamente os efeitos do Crack se instalam visivelmente, emagrecem até que 
fiquem com aspecto cadavérico, pois a droga inibe completamente o apetite, os 
deixando dias sem comer. Apresentam feridas nos lábios decorrentes das 
queimaduras no uso da droga, assim como em seus dedos, alem das rachaduras e 
da cor amarelada. 
2.3 O desenvolvimento das ações de Redução de Danos - RD no Brasil no 
enfrentamento da dependência química. 
A Redução de Danos é uma estratégia da saúde pública que visa diminuir as 
consequências adversas decorrentes da prática de risco ao uso de drogas (lícitas e 
ilícitas) ocasionando danos à saúde, como por exemplo, compartilhar apetrechos de 
seringas e cachimbos, que podem transmitir doenças como hepatite, AIDS, Sífilis, 
Herpes entre outras. 
A primeira experiência de Redução de Danos no Brasil começou em 
dezembro de 1989 no município de Santos – SP. O então prefeito da cidade, 
preocupado com o rápido crescimento de contaminação pelo vírus HIV/AIDS nos 
usuário de drogas injetáveis, usou como estratégia para controle da epidemia a 
proposta de distribuir seringas e agulhas para uso do indivíduo. Essa medida gerou 
muita polêmica e controversas. Inclusive foi enquadrada, na época pelo Ministério 
Público, que entendeu que o objetivo era incentivar o uso de entorpecentes 
conforme a Lei 6.368 de 1976 “qualquer forma de auxílio /incentivo àqueles que se 
utilizam de substâncias entorpecentes” é considerado crime. Inviabilizando assim a 
proposta naquele momento. 
No ano de 1995 em Salvador – BA e em outros estados o trabalho de 
Redução Danos já estava sendo desenvolvido mesmo sem uma legislação que a 
liberasse ou se opusesse. Os avanços passam a surgir após a participação e 
mobilização da população e profissionais em conferências e debates. Em 1998 foi 
aprovada a lei que protegia os Redutores de Danos, que atuavam junto aos usuários 
de drogas. Atualmente o Ministério da Saúde incentiva à parceria e o fortalecimento 
entre os Programas de Saúde Mental, de Hepatite Virais e o de DST e AIDS
32 
objetivando promover a integralidade da atenção e a visibilidade da Redução de 
Danos como uma política de saúde pública. 
A Portaria nº. 1.028 de 4 de julho de 2005 do Ministério da Saúde preconiza 
estabelecer diretrizes que orientam a implantação das ações e, desta forma, 
subsidia municípios e estados na manutenção ou implantação de ações de Redução 
de Danos voltadas aos dependentes usuários de drogas. 
O objetivo é reduzir os danos daqueles usuários que não querem ou não 
conseguem parar de usar drogas, pelo menos naquele momento, e, portanto, 
compartilham muitas vezes a seringa, o cachimbo ou praticam atividades sexuais 
sem o uso do preservativo e se expõem à infecção pela AIDS, Hepatite e outras 
doenças. A Redução de Danos surge como uma alternativa de prevenção ao usuário 
de drogas que não está preparado para aderir ao tratamento que tem por objetivo a 
abstinência. 
A redução de danos propõe a escuta e o acolhimento sem julgamento, 
reconhecendo cada usuário e sua singularidade e o uso que ele faz das drogas e, 
partindo disso, traça com ele estratégias para reduzir tanto quanto possível os 
eventuais prejuízos que vem sendo acarretados a esse indivíduo pelo uso indevido 
das drogas, bem como, orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial a 
sua saúde. O objetivo a ser alcançado não é o da abstinência, tem como principal 
meta a ser alcançada a defesa da vida humana, o direito a saúde, gerar informações 
adequadas sobre riscos e danos, estimulando práticas de cuidado e valorizando 
suas escolhas, diminuindo os impactos social, físico e mental. 
Não podemos confundir as estratégias de Redução de Danos com o incentivo 
ao uso indevido de drogas, pois se trata de uma estratégia de prevenção de 
doenças decorrentes do uso contínuo de substâncias psicoativas. Pressupõe avaliar 
junto ao usuário os danos causados pelo uso sem controle da droga em sua vida, e 
junto com ele, estabelecer estratégias para maior controle para sua dependência, 
diminuindo riscos e danos, para si, para outros e sua família.
CAPÍTULO III 
33 
SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE 
(SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. 
3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o 
acesso ao tratamento. 
A SENAT é um serviço que atua no enfrentamento da dependência química 
em atendimento ambulatorial, ou seja, trata o usuário na instituição, mas oferece 
encaminhamentos para as comunidades terapêuticas quando diagnosticado pela 
equipe técnica sua necessidade. Faz parte da Secretaria Municipal de Saúde e 
funciona como um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad). 
Oferece atendimento diário a sujeitos que fazem uso prejudicial de álcool e 
outras drogas, desenvolvendo atividades desde atendimentos individuais até 
atendimentos em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares. Oferecem 
também, espaços de repouso para desintoxicação ambulatorial de pacientes que 
necessitem desses cuidados mas que não precisam de atendimento hospitalar. 
A Instituição conta com equipe multiprofissional: Assistente Social, 
Psicólogos, Psiquiatras, Acompanhantes Terapêuticos, Enfermeiro e Técnicos de 
Enfermagem. 
O usuário que chega a SENAT tem o entendimento de sua dependência, ou 
seja, quer se tratar e parar de usar a droga. Mas há também os casos que são 
encaminhados pelo judiciário, como os adolescentes ou pela Central de Penas e 
Medidas Alternativas de Santos, onde pessoas que não tem condições de prestar 
serviço comunitário por causa da dependência química, após autorização do juiz, 
fará seu tratamento que servirá como prestação de serviço a comunidade. Vale 
ressaltar que nesses dois últimos casos é muito difícil a adesão ao tratamento pois 
muitos não se consideram dependentes e assim desistem quando passado o prazo 
exigido ou simplesmente o abandona. O maior índice de desistência vem justamente 
dessa demanda onde o juiz determinou um tratamento em que eles não acreditam, 
segundo técnicos da equipe. 
Grande parte dos que acessam a SENAT vem encaminhados de outros 
serviços, como as unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da
34 
Família (USF), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), dentre outros. 
O usuário que chega por conta própria já está em estado de “aceitação” devido as 
perdas, onde sua família, seu trabalho, sua vida social, está prejudicada de forma 
desastrosa pelo vício. Segundo pesquisa de campo existe pouca divulgação da 
instituição, e essa divulgação é realizada por outros equipamentos da prefeitura, 
dificultando o acesso da demanda que não passa por esses equipamentos. Porém 
percebemos que a demanda do município é grande para a quantidade de 
profissionais, sendo necessário que essa estrutura seja revista, pois mesmo que a 
equipe esteja de acordo com as exigências do Ministério da Saúde, ela também 
deve ser adequada com o fluxo de atendimento do município. Vale ressaltar que 
conforme informações na instituição, está previsto a implementação de um novo 
SENAT, para adolescentes, que mudará a estrutura de funcionamento do serviço, 
pois deixará de atender a essa demanda. 
3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência 
química. 
Conforme levantamento disponibilizado pela SENAT referente ao mês de 
Agosto de 2010, foram atendidos 226 usuários de drogas, 199 são homens e 27 são 
mulheres, destes 68 utilizam o Crack, associado a outras drogas, representando 
30% dos pacientes atendidos no mês. 
O tratamento dá inicio com o acolhimento. Definimos acolhimento como 
sendo todo contato com o usuário onde a intenção seja de receber de forma 
humanizada favorecendo a criação de vínculos, sendo realizado durante o 
atendimento na recepção, na sala de espera ou atendimento pelo plantonista, pois 
todas essas formas visam o contato com o usuário. 
O acolhimento e o espaço para a criação de vínculos nos atendimentos[...] 
acontecem, inicialmente, através de pequenas atitudes dos profissionais, tais 
como: chamar o usuário ou familiar pelo nome, fazê-los aguardar pouco pelo 
atendimento e mantê-los informados em casos de atraso, disponibilizar um 
espaço de privacidade para o atendimento, ouvir o que o usuário tem a dizer 
e direcionar a conversa sem causar desconforto. Outro aspecto fundamental 
é a forma e a linguagem utilizada para que as informações ou orientações 
possam ser compreendidas de maneira satisfatória. (FERNANDES, 2006, 
p.7) 
Nessa primeira fase o usuário chega ao serviço e passa pelo profissional de 
plantão, que é rotativo entre o Assistente Social, Psicólogo, Enfermeiro, Terapeuta
35 
Ocupacional e Acompanhante Terapêutico, cada dia um desses profissionais fica de 
plantão. Esse profissional faz uma primeira avaliação e o orienta quanto ao 
tratamento em que irá seguir, sobre os atendimentos e grupos que frequentará, o 
que se chama Projeto Terapêutico, que é individual respeitando a subjetividade dos 
sujeitos. Neste momento é agendado com os demais profissionais da instituição e 
com os grupos que fazem parte do tratamento, grupos de acolhimento, de 
abstinência e de manutenção. Esses são os principais, mas ele também poderá 
fazer parte da Terapia Comunitária e do Grupo de Serviço Social e das Oficinas 
oferecidas. 
Assim o fluxo do atendimento segue a seguinte lógica: Acolhimento pela 
recepção – acolhimento pelo plantonista – agendamento com os profissionais de 
assistência social, psicólogo, enfermeiro e psiquiatra – agendamento nos grupos de 
acolhimento e depois de determinado tempo neste grupo ele passa ao grupo de 
abstinência e quando estiver preparado passa ao grupo de manutenção, sendo este 
o último, preparando-o para deixar a instituição. Reforçamos que os Projetos 
Terapêuticos são individuais e seguem a necessidade de cada um, assim após cada 
caso ser avaliado é ou não encaminhado aos demais grupos e oficinas oferecidas na 
SENAT. 
Vale ressaltar que quando o indivíduo chega a SENAT, ele está muitas vezes 
em situação de rua, fragilizado, precisando de atendimento imediato, assim esse 
primeiro acolhimento é de extrema importância e os agendamentos são realizados o 
mais rápido possível, cerca de três dias conforme informações da SENAT, para que 
esses pacientes não desistam do tratamento. 
A família do usuário também é acolhida e seu papel é importantíssimo para o 
desenvolvimento do mesmo. A família passa por atendimento com o plantonista e 
com os demais profissionais da instituição sempre que houver necessidade e 
participa do Grupo de Família, especialmente criado para essa demanda. 
Após a avaliação dos profissionais, é estudado o grau de dependência do 
usuário, para que assim possa ser feito seu Projeto Terapêutico dentro da 
instituição, não há uma escala de dependência, mas a equipe avalia a vontade de 
parar de usar a droga, o tipo de droga em específico, pois no caso do Crack é muito 
difícil esse primeiro momento de abstinência, onde o paciente pode ser risco para si, 
como em casos de tentativa anterior de suicídio ou para o outro, em casos de
36 
violência aos familiares ou externos para conseguir a droga, assim, pode ser 
sugerida também a internação em Comunidades Terapêuticas. 
São três as Comunidades Terapêuticas conveniadas com a Secretaria 
Municipal de Saúde: 
Comunidade Terapêutica Recanto das Garças, em Bragança Paulista-SP, 
que atende adolescentes de 12 a 18 anos. São 10 vagas e a duração do tratamento 
é de 6 meses. 
Comunidade Terapêutica Vitória, em Mariporã-SP, que atende adultos 
homens. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 6 meses. 
Comunidade Terapêutica Respeitar, em Pedro de Toledo-SP, que atende 
adultos, homens e mulheres. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 7 
meses. 
Grande parte dos usuários da SENAT, principalmente os usuários de Crack, 
chega solicitando internação, devido ao grau de fragilidade em que se encontram e o 
de suas famílias, já esgotadas com o vício. Mas como já dito anteriormente, a 
internação acontece após o diagnóstico da equipe técnica. 
Ao iniciar o tratamento o usuário passa pelos atendimentos com os 
profissionais e nos grupos. Inicia no grupo de acolhimento e com mais ou menos 3 
meses passa ao grupo de abstinência, esse tempo não é determinado, ele será de 
acordo com a evolução do usuário, após mais ou menos 3 meses passa ao grupo de 
manutenção, onde será preparado para retornar as suas atividades. Esse último 
grupo é de extrema importância para o usuário, pois a dependência química não tem 
cura, a vontade de usar a droga vai permanecer por muito tempo e ele vai ter que 
aprender a lidar com essa vontade a partir das mudanças de comportamento que se 
fazem necessárias. 
É importante ressaltar que durante a pesquisa na instituição e participação 
nos grupos, percebemos que há uma quantidade significativa de usuários que são 
trabalhadores das mediações do Porto de Santos. Em um dos grupos um usuário 
relatou sobre seu medo de terminar o tratamento na SENAT, pois em seu ambiente 
de trabalho sente vontade de usar a droga e tem medo de não conseguir resistir sem 
as reuniões da SENAT, ele já está trabalhando e seu tratamento está no final. Por 
isso a importância de avaliar se esse paciente está preparado para concluir o 
tratamento, sentir-se seguro é primordial para que ele não recaia.
37 
Muitos pacientes que chegam a SENAT não tem condições de trabalhar, 
assim são orientados sobre o direito de afastamento do trabalho durante o 
tratamento. Esta orientação é feita pelo serviço social ou pelo médico. Alguns 
pacientes já possuem o conhecimento desse direito. Ressaltamos que o laudo só é 
oferecido quando o paciente está fazendo o tratamento regularmente, participando 
dos grupos, das terapias, dos atendimentos e consultas médicas, caso contrário é 
negado. 
3.2 Metodologia da pesquisa 
Realizamos uma pesquisa qualitativa na SENAT, que está subordinada a 
Coordenadoria de Saúde Mental e da Secretaria Municipal de Saúde, que 
possibilitou valorizar o conhecimento que os sujeitos possuem sobre a realidade 
vivida, contribuindo assim para o desenvolvimento deste trabalho. A pesquisa 
qualitativa é importante, pois dá voz ao sujeito, reconhecendo-o como protagonista 
da pesquisa e consequentemente do processo de conhecimento. 
A pesquisa qualitativa: 
[...] tem por objetivo trazer à tona o que os participantes pensam a respeito do 
que está sendo pesquisado, não é só a minha visão de pesquisador em 
relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me dizer a 
respeito. (MARTINELLI, 1999, p.21). 
Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, onde obtivemos o conhecimento 
teórico sobre a droga, suas características e as dos usuários, os efeitos do Crack no 
organismo e suas consequências psicossociais, bem como as Políticas e Diretrizes 
propostas para o enfrentamento da mesma. Na pesquisa de campo realizada foram 
utilizados os seguintes instrumentais: 
Entrevista semi - estruturada (Anexo I): foi realizada com os usuários do 
serviço no intuito de obter a opinião dos sujeitos a respeito do tratamento oferecido, 
sua história de vida, as dificuldades enfrentadas durante o tratamento, os conflitos 
familiares e suas sugestões para melhorar o atendimento; 
Os usuários entrevistados foram convidados durante processo de grupo em 
que participavam, são 5 usuários: sexo masculino e sexo feminino, de faixas etárias 
diversas e que aceitaram participar da pesquisa.
38 
Entrevista semi – estruturada: foi realizada com a Assistente Social (Anexo II) 
e a equipe interdisciplinar (Anexo III) que compartilhou suas experiências, o seu 
conhecimento sobre os usuários de Crack, o que observa sobre as dificuldades para 
adesão ao tratamento, a opinião sobre o papel da família e as dificuldades 
enfrentadas no cotidiano, no trabalho interdisciplinar e no trabalho em rede; 
Observação participante: foi realizada durante todo o processo de 
desenvolvimento da pesquisa de campo, proporcionou conhecer a rotina de trabalho 
da instituição, dos profissionais, o fluxo da demanda, o acolhimento e a participação 
dos usuários nos grupos. 
A pesquisa foi realizada em dias agendados com a direção da Unidade, onde 
permanecemos durante os meses de setembro e outubro de 2010. Realizamos 
entrevistas com profissionais da assistência social, psicologia e funcionário 
acompanhante terapêutico. Os sujeitos da pesquisa foram selecionados em uma 
amostragem intencional sendo orientados sobre seu objetivo através do termo de 
consentimento livre e esclarecido – TCLE. 
As entrevistas realizadas foram gravadas com o consentimento dos 
entrevistados, através do TCLE, com o intuito de valorizar o seu conhecimento e 
experiências, dando maior visibilidade ao sujeito por meio da sua fala sobre essa 
problemática, expondo suas formas de pensar e avaliar o processo de tratamento. 
Foi garantido a não identificação no relatório final da pesquisa, resguardando-se sua 
privacidade. 
3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. 
Entrevistamos os profissionais e funcionários da SENAT, que é referência no 
tratamento da dependência química no município de Santos. Para a seleção dos 
funcionários e profissionais foram escolhidos conforme sua área de atuação e 
interesse em participar da pesquisa, Assistentes Sociais, Psicólogos e 
Acompanhantes Terapêutico. A entrevista foi previamente agendada conforme 
disponibilidade dos mesmos, sendo realizadas na SENAT. Os usuários e familiares 
foram convidados durante sua participação nos grupos de acolhimento e de família. 
Os integrantes dos grupos que se sentiram a vontade em participar, após o término 
do mesmo nos acompanharam para aplicação da entrevista na própria instituição. 
Foi explicado o objetivo do trabalho e firmado o compromisso da devolutiva do
39 
mesmo, bem como foram convidados a assistir a apresentação do trabalho de 
conclusão de curso – TCC. 
Para aplicação da pesquisa foram selecionados 4 sujeitos entre profissionais 
e funcionários, 3 usuários e 2 familiares. Vale ressaltar que dentre os entrevistados 
profissionais, havia 2 Assistentes Sociais, onde uma atualmente atua como gestora 
da unidade, mas por muito tempo atuou como Assistente social, e sua opinião como 
profissional do serviço social foi de extrema importância para a compreensão do 
quanto essa área é requisitada na SENAT. Para que os profissionais não sejam 
identificados, garantindo sua privacidade, principalmente por que a equipe da 
SENAT é pequena, optamos por não relacioná-los por profissão, vamos utilizar as 
letras A, B, C e D de maneira aleatória. Quando nos referirmos a atuação do 
Assistente Social – A.S. vamos utilizar os números 1 e 2, para que não seja 
identificado qual profissional citou determinada frase. Os usuários e familiares 
também serão apresentados pelas letras E, F, G, H e I, para manter o sigilo. 
Estaremos desta forma buscando garantir o sigilo e a privacidade dos sujeitos 
de pesquisa e destacando o que é mais importante, suas formas de pensar e avaliar 
a problemática do dependente químico do Crack. 
3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química 
No contexto grupal, o indivíduo pode encontrar maior possibilidade de 
perceber a si mesmo e ao outro, através daquilo que podemos chamar 
“reação espelho” (enxergar-se a si a partir do outro), além disso, pode se 
familiarizar com novas maneiras de sofrimento e de soluções, representadas 
por pessoas reais colocadas na mesma sala. (MELO e FIGLIE, 2010, p.429). 
A abordagem grupal no processo de tratamento da dependência química 
possibilita oferecer ao indivíduo um espaço no qual ele não é discriminado / 
excluído, ao contrário, proporciona um ambiente onde todos são iguais frente a sua 
problemática, favorecendo para que ele sinta-se um integrante do grupo, identifique– 
se com o outro, troque experiências, compartilhe os seus sentimentos, sua história 
de vida, saindo do individual para o coletivo, um fortalecendo o outro, criando saídas 
e alternativas para problemática enfrentada. 
[...] aqui nas terapias a gente fala e desabafa, coloca tudo pra fora, mas tem 
gente que não fala uma palavra e vai pra casa, fica quieto, aqui você 
descarrega. (Usuário F).
40 
Além desses aspectos a intervenção em grupo permite atender um número 
maior de pessoas, sendo uma técnica e estratégia viável, levando em consideração 
a demanda e a quantidade de profissionais para realizar o atendimento. 
A SENAT conforme foi dito anteriormente é um serviço ambulatorial, portanto 
possui uma grande rotatividade de pessoas no tratamento. Dessa forma para facilitar 
o atendimento existem grupos abertos que possibilita a entrada de um novo 
integrante no grupo que está iniciando o tratamento independente do momento. Os 
grupos abertos são: Serviço Social, Família e Terapia Comunitária. 
 Grupo de Serviço Social: é coordenado pela assistente social e 
acompanhante terapêutico. O grupo é realizado com os dependentes 
químicos que estão em tratamento. Seu objetivo é abordar assuntos 
pertinentes ao enfrentamento da dependência química, por exemplo, projeto 
de vida. 
 Grupo de Família: é coordenado pela assistente social e acompanhante 
terapêutico. O grupo é composto pelos familiares dos dependentes químicos 
que estão em tratamento. Seu intuito é discutir as questões trazidas pelos 
familiares e fazer a reflexão junto com seus integrantes. 
 Terapia Comunitária: é realizada pela enfermeira e acompanhante 
terapêutico. Os integrantes do grupo são os dependentes químicos em 
tratamento e os seus familiares. 
Existem os grupos fechados que tem o propósito de caminhar juntos durante 
o tratamento e tendo um tempo pré determinado para início e fim do mesmo. 
Entretanto é respeitado o tempo de cada pessoa em cada grupo, levando em 
consideração a singularidade do sujeito. 
[...] Não existe tempo certo para o fim do tratamento em média 1 ano mas 
algumas pessoas aparentam estar bem, quando chega no final precisa de um 
apoio maior, nada vai impedir que ele fique mais 2 ou 3 meses, não tem essa 
coisa muito certa não, esta avaliação é constante com os pacientes e com os 
técnicos. (Profissional B). 
Os grupos fechados são: Acolhimento, Abstinência e Manutenção. 
 Grupo de Acolhimento: é coordenado pela terapeuta ocupacional e
41 
acompanhante terapêutico. Os participantes do grupo são dependentes 
químicos que estão iniciando o tratamento ou estão retornando, em casos de 
recaída. O grupo tem duração prevista de três meses. 
 Grupo de Abstinência: é coordenado pela psicóloga. O grupo é freqüentado 
por dependentes químicos que já estão um tempo sem usar drogas e que já 
passaram pelo grupo de acolhimento. O grupo tem duração prevista de dois 
meses. 
 Grupo de Manutenção: é coordenado pelo psicólogo. Os participantes desse 
grupo são dependentes químicos que já passaram pelos grupos de 
acolhimento e abstinência. Sua duração tem previsão de dois meses. 
Na SENAT também existe o Grupo de Adolescentes: que é coordenado pela 
psicóloga, no entanto a nossa pesquisa foi realizada somente com usuários adultos. 
Quadro 1: Grupos Desenvolvidos na SENAT 
Grupo: Funcionamento: 
Grupo de Serviço Social Quinta – feira ás 13h00 
Grupo de Família Segunda – feira ás 15h00 
Terapia Comunitária Segunda – feira ás 10h00 
Grupo de Acolhimento Segunda – feira ás 09h00 
Grupo de Abstinência Quarta – feira ás 16h00 
Grupo de Manutenção Sexta – feira ás 08h00 
Grupo de Adolescente Quinta – feira ás 15h00 
Fonte: Pesquisa de Campo, set. e out., 2010 
Conforme ilustração do Quadro I, os grupos da SENAT acontecem 
semanalmente, entre os grupos, o de Manutenção é o único que acontece no 
primeiro horário, o que não é por acaso. Segundo relato dos profissionais, no início 
do tratamento o usuário chega com a sua rotina comprometida dependendo do grau
42 
de dependência em que se encontra, sendo difícil sua participação. No início do 
tratamento os usuários têm dificuldade em cumprir com os horários estabelecidos 
pela SENAT, seja dos grupos ou dos atendimentos individuais, entretanto a partir do 
grupo de Manutenção é importante que o usuário já comece se acostumar com sua 
rotina de trabalho, estudo, enfim suas responsabilidades e compromissos do 
cotidiano, pois estão no final do tratamento e precisam estar preparados para voltar 
a sua rotina de vida. 
Todos os grupos da SENAT são heterogêneos, isto é, não existe uma divisão 
por gênero, tipo de droga (lícita ou ilícita) e o tipo de dependência (álcool, maconha, 
crack e etc). 
O grupo heterogêneo proporciona aspectos positivos e negativos, enriquece 
a interação, troca de informações e ajuda mútua entre os integrantes do grupo. 
Entretanto ainda que o assunto tratado no grupo seja o mesmo, isto é, a 
dependência química, o coordenador do grupo precisa estar preparado e atento 
para trabalhar questões que possam surgir, como por exemplo: o preconceito entre 
os usuários de drogas lícitas para com os que usam drogas ilícitas, já que os tipos 
de perdas, o comportamento, a maneira de encarar a dependência são diferentes, 
por exemplo, um alcoolista em relação a um usuário de crack, ou seja, um 
dependente de álcool não se acha tão debilitado quanto um dependente de Crack. 
3.5 Análise dos dados 
3.5.1 O usuário de Crack 
Podemos confirmar através das falas dos sujeitos que não existe um único 
motivo ou modo de se iniciar o uso de drogas, cada indivíduo é único e tem sua 
subjetividade. Assim as decisões são tomadas por cada um de maneira que 
satisfaça suas próprias necessidades. Para cada um algo diferente os tocou, os 
afetou de maneira que o entorpecente e seus prazeres seja uma espécie de 
paliativo, fuga para seu dia a dia e dificuldades que enfrentam. 
Lá atrás, teve o acidente com meus pais, que morreram os dois juntos, eu 
tinha 19 anos, eles morreram e para mim foi um bum, eu não usava nada, eu 
era tranquilo, eu tinha irmãos que usavam, eu era contra, eu tinha ódio de ver 
eles usando, até quando aconteceu essas coisas, então fui usando, usando,
43 
vi meus irmãos usando e naquela de provar, provei, gostei e pronto. Comecei 
com 20 anos com a cocaína, o Crack foi depois (Usuário E). 
A partir dos 13 anos passei a usar cigarro, meio que pra chamar a atenção 
dos pais, não sei, não tenho certeza disso, eu tinha liberdade total em casa, 
horário, não tinha esse problema. (Usuário E). 
[...] eu tive algumas dificuldades na família de ver pai bebendo, brigando e tal, 
não sei dizer se de alguma forma foi isso que ficou, mas que eu lembro é, 
minha mãe também mas só que eles pararam [...].A primeira droga que usei 
foi a maconha, aquela famosa história eu tava só conhecendo, [...], mas eu já 
saia, já bebia e se eu não me engano foi 6 meses depois ou um ano que eu 
conheci a cocaína, como sendo a cura da bebedeira, você bebia muito, e 
ficava bem legal, e isso progrediu bem rápido, eu não sabia que eu tinha 
esta pré disposição e fui cada vez aumentando as doses. (Usuário F). 
[...] alguma droga tinha que ter no dia, foi aumentando o uso em qualquer 
horário, antes era só a noite, até que chegou a qualquer dia, qualquer 
horário, de manhã eu não tinha horário e já era uma característica da minha 
dependência e aos dezesseis anos eu conheci o crack e nessa época ainda, 
nem existia, a gente fazia o crack, a gente pegava a cocaína, de boa 
qualidade, já tinha pronto mais era mais fácil você fazer, você misturava 
bicarbonato com água, fervia e quando secasse ficava aquela pasta, que era 
o crack,[...]. (Usuário - G). 
Podemos fazer uma relação com os informações citadas anteriormente no 
capítulo 2, que fala a respeito de fatores que possam influenciar e potencializar o 
uso, como as questões familiares do cotidiano, da vivência de presenciar brigas, 
alcoolismo dos pais, questões sociais de influências de amigos, experimentando 
para fazer parte do grupo, são alguns destaques que podemos relacionar. 
Seja pelo excesso de liberdade em casa, pela perda de pessoas queridas, 
somada as questões de propensão a dependência química, faz com que esses 
sujeitos percam sua identidade para o Crack. Perde sua dignidade, o controle de si e 
acabam ferindo sua família e as pessoas que estão a sua volta. 
Você desliga do mundo, da família, de tomar um banho, é onde a pessoa 
chega nesse ponto de ficar na rua, não tem nada, não corta o cabelo, não 
escova o dente. Você tem tudo ali, mais você não faz, fazendo da sua casa 
uma loucura, você tem toda a estrutura mas você não faz nada, o negócio é 
impressionante mesmo [...] a recaída é pior que no começo, a gente fica num 
estado que pior que um chão. (Usuário E) 
O Crack tem o efeito instantâneo, trago já deu a deixa, a primeira tragada é 
um prazer, depois você vai se transformando no seu problema, vou me 
transformando num bicho. (usuário G)
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  • 1. CENTRO UNIVERSITÁRIO MONTE SERRAT ALINE ALVES NAIARA BARROS O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. Desafios e limites na prática profissional do Assistente Social. Santos 2010
  • 2. ALINE ALVES NAIARA BARROS O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. Desafios e limites na prática profissional do Assistente Social. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra. Orientadora: Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra Co-orientadora: Profª Ms. Carla Bornhausen Gonzaga Santos 2010 ALINE ALVES
  • 3. NAIARA BARROS O TRATAMENTO OFERECIDO AO USUÁRIO DE CRACK NO MUNICÍPIO DE SANTOS. Desafios e limites na prática profissional do Assistente Social. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Monte Serrat como exigência parcial para a obtenção do Título de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra. Orientadora: Profª Ms. Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra Co-orientadora: Profª Ms. Carla Bornhausen Gonzaga BANCA EXAMINADORA: ___________________________________________________________________ Nome do examinador: Mª Natalia Ornelas Pontes Bueno Guerra Titulação: Mestre em Serviço Social Instituição: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE ___________________________________________________________________ Nome do examinador: Carla Bornhausen Gonzaga Titulação: Mestre em Serviço Social Instituição: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE Local: Centro Universitário Monte Serrat – UNIMONTE AGRADECIMENTOS
  • 4. Agradeço primeiramente a Deus, pois sem a fé não teria conseguido realizar esse sonho, sem Ele não teria encontrado o Serviço Social e essa maravilhosa profissão que escolhi. A meu querido companheiro Adriano, pela dedicação e paciência em todos os momentos dessa caminhada, pelo carinho e amor com que me confortou nos momentos mais difíceis e pelo incentivo quando o cansaço chegava. Minha família, mãe, irmãs e meu sobrinho querido pelo apoio, em especial a meu pai Damião que acreditou em mim, me incentivou e acompanhou essa fase de minha vida. Agradeço muito a equipe da SENAT por ter nos recebido, principalmente a Luciana que foi muito importante nesse momento, tirando nossas dúvidas sempre que possível. Um muito obrigada a todos que entrevistamos, principalmente aos usuários e as famílias que se disponibilizaram em nos ajudar na construção de nosso trabalho, expondo suas vidas, compartilhando suas dores e esperanças. Agradeço de coração a minha orientadora Nathália pela dedicação, incentivo e carinho em todo o processo, assim como a nossa co-orientadora. E enfim, agradeço aos meus queridos amigos que construí nesse período, em especial a Daniely pelo carinho e apoio, mas principalmente a minha querida amiga Naiara pela parceria que formamos nesses quatro anos de faculdade, pela paciência, pelas risadas, pela sintonia, enfim por essa amizade que formamos e que vamos levar para nossa vida.
  • 6. “Ao amanhecer, todas as coisas de ontem pertencem ao passado. Hoje é um novo dia e a vida pode recomeçar” (Autor desconhecido) RESUMO
  • 7. A dependência química do Crack vem crescendo e agravando as consequências do uso para o sujeito dependente, sua família e a sociedade. Inicialmente o uso dessa droga era associado as pessoas de baixa renda ou em situação de rua, mas esse quadro sofreu alterações significativas, atingindo as classes média e alta. O crescimento da dependência dessa droga, que possui um preço acessível, efeito mais rápido e agressivo no organismo, desafia os profissionais a pensar em novas estratégias de intervenção de atendimento e trabalho para essa nova demanda que vem afetando de forma tão dramática milhares de famílias. A pesquisa foi realizada com o objetivo de compreender o universo vivenciado pelo usuário de Crack, identificar as Políticas Públicas que vem trabalhando para o enfrentamento da dependência química, o tratamento oferecido a esses usuários pela Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente - SENAT e a atuação dos profissionais na instituição, com ênfase no trabalho do Assistente Social. Foi realizada uma pesquisa qualitativa, contribuindo para a valorização dos sujeitos. Utilizamos observação participante e entrevistas semi estruturadas, com os sujeitos, familiares e profissionais. Através da pesquisa revelamos as dificuldades apresentadas pelos sujeitos e suas famílias no processo de adesão ao tratamento da dependência química, a relevância do envolvimento da família nesse processo. Possibilitou revelar a importância do Assistente Social na instituição para o tratamento do dependente químico e que a participação da família nesse processo é fundamental, bem como a necessidade de uma equipe trabalhando de maneira interdisciplinar, contribuindo para um acolhimento humanizado que é essencial para adesão do sujeito ao tratamento e ao serviço de saúde. Palavras-chaves: Crack. Dependência Química. Tratamento ao usuário de crack. Serviço Social.
  • 8. ABSTRACT Keywords: The Crack addiction is increasing and aggravating the consequences of using the subject to subject, his family and society. Initially this drug was associated with people of low income or homeless, but this picture has changed significantly, reaching the middle and upper classes. The growth of drug addiction, which has an affordable, faster and more aggressive effect in the body, challenges the students to think about new strategies of intervention and treatment work for this new demand that has so dramatically affecting thousands of families. The survey was conducted with the aim of understanding the universe experienced by crack users, identify the public policy which has been working to combat the addiction, the treatment offered to these users by Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente - SENAT and the performance of professionals in the institution, with emphasis on the work of the Social Worker. We conducted a qualitative research, contributing to the enhancement of the subjects. Used participant observation and semi structured interviews with the subjects, families and professionals. Through the research revealed the difficulties presented by the subjects and their families in the process of accession to the addiction, the importance of family involvement in this process. Allowed to reveal the importance of the social worker at the institution for the treatment of chemically dependent and that family involvement is crucial in this process, as well as the need for a team working in an interdisciplinary manner, contributing to a humanized approach that is essential for adhesion of the subject treatment and health service. Keywords: crack, Chemical dependency and treatmant for crack users. Social Worker
  • 9. LISTA DE TABELAS, FIGURAS E QUADROS Tabela 1: Levantamento do uso de droga nos anos de 2001 e 2005........................27 ......................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO............................................................................................................13 CAPÍTULO I.................................................................................................................16 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL.................................................................................................................16 1.1 A saúde no Brasil..................................................................................................16 1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPS)...................................................................................................20 CAPÍTULO II................................................................................................................25 CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA...........................................25 2.1 O que é dependência química?...........................................................................25 2.2 O que é o Crack?..................................................................................................25 2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil .........................................................26 2.2.2 O usuário de Crack............................................................................................28 CAPÍTULO III...............................................................................................................33 SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. ...............................................33 3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao tratamento...................................................................................................................33 3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.........34 3.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................37 3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. ............................................................38 3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química.............................39 3.5 Análise dos dados.................................................................................................42 3.5.1 O usuário de Crack............................................................................................42 3.5.2 A realidade vivida pelas famílias........................................................................45 3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento.......................................47 3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente Social. .........................................................................................................................49
  • 10. 3.5.5 Trabalho Interdisciplinar.....................................................................................51 3.5.6 Redução de Danos.............................................................................................53 3.5.7 Trabalho em rede..............................................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59 FONTES ELETRÔNICAS...........................................................................................61 ANEXO I......................................................................................................................62 ANEXO II.....................................................................................................................63 ANEXO III....................................................................................................................64 ANEXO IV....................................................................................................................65 ANEXO V.....................................................................................................................66 7 ......................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO............................................................................................................13 CAPÍTULO I.................................................................................................................16 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL.................................................................................................................16 1.1 A saúde no Brasil..................................................................................................16 1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPS)...................................................................................................20 CAPÍTULO II................................................................................................................25 CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA...........................................25 2.1 O que é dependência química?...........................................................................25 2.2 O que é o Crack?..................................................................................................25 2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil .........................................................26 2.2.2 O usuário de Crack............................................................................................28 CAPÍTULO III...............................................................................................................33 SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. ...............................................33 3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao tratamento...................................................................................................................33 3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.........34 3.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................37
  • 11. 3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. ............................................................38 3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química.............................39 3.5 Análise dos dados.................................................................................................42 3.5.1 O usuário de Crack............................................................................................42 3.5.2 A realidade vivida pelas famílias........................................................................45 3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento.......................................47 3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente Social. .........................................................................................................................49 3.5.5 Trabalho Interdisciplinar.....................................................................................51 3.5.6 Redução de Danos.............................................................................................53 3.5.7 Trabalho em rede..............................................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59 FONTES ELETRÔNICAS...........................................................................................61 ANEXO I......................................................................................................................62 ANEXO II.....................................................................................................................63 ANEXO III....................................................................................................................64 ANEXO IV....................................................................................................................65 ANEXO V.....................................................................................................................66
  • 12. LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AIDS (Sindrome da Imunodeficiência Humana) ......................................................................................................................................7 INTRODUÇÃO............................................................................................................13 CAPÍTULO I.................................................................................................................16 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL.................................................................................................................16 1.1 A saúde no Brasil..................................................................................................16 1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPS)...................................................................................................20 CAPÍTULO II................................................................................................................25 CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA...........................................25 2.1 O que é dependência química?...........................................................................25 2.2 O que é o Crack?..................................................................................................25 2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil .........................................................26 2.2.2 O usuário de Crack............................................................................................28 CAPÍTULO III...............................................................................................................33 SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. ...............................................33 3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao tratamento...................................................................................................................33 3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química.........34 3.2 Metodologia da pesquisa......................................................................................37 3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. ............................................................38 3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química.............................39 3.5 Análise dos dados.................................................................................................42 3.5.1 O usuário de Crack............................................................................................42 3.5.2 A realidade vivida pelas famílias........................................................................45 3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento.......................................47 3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente Social. .........................................................................................................................49 3.5.5 Trabalho Interdisciplinar.....................................................................................51 3.5.6 Redução de Danos.............................................................................................53
  • 13. 3.5.7 Trabalho em rede..............................................................................................54 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................59 FONTES ELETRÔNICAS...........................................................................................61 ANEXO I......................................................................................................................62 ANEXO II.....................................................................................................................63 ANEXO III....................................................................................................................64 ANEXO IV....................................................................................................................65 ANEXO V.....................................................................................................................66
  • 14. SUMÁRIO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7 INTRODUÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 CAPÍTULO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.1 A saúde no Brasi l . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPS) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 CAPÍTULO I I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.1 O que é dependência química? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2 O que é o Crack? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25 2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.2.2 O usuário de Crack . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 CAPÍTULO II I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao tratamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química. . . . . . . . . 34 3.2 Metodologia da pesquisa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 3.5 Análise dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.5.1 O usuário de Crack . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42 3.5.2 A realidade vivida pelas famílias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 3.5.3 Dificuldades e sugestões para adesão ao tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
  • 15. 3.5.4 Dificuldades do cotidiano na equipe da SENAT: A atuação do Assistente Social. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 3.5.5 Trabalho Interdisciplinar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.5.6 Redução de Danos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 3.5.7 Trabalho em rede . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54 CONSIDERAÇÕES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 FONTES ELETRÔNICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 ANEXO I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62 ANEXO I I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 ANEXO II I . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64 ANEXO IV....................................................................................................................65 ANEXO V . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
  • 16. INTRODUÇÃO 13 O presente estudo procurou conhecer mediante pesquisa o tratamento de saúde oferecido aos dependentes químicos, usuários de crack, no município de Santos e o papel profissional do Assistente Social no enfrentamento dessa problemática. Busca revelar o universo vivenciado pelo usuário de crack, demanda que atualmente vem crescendo significativamente, devido ao crack possuir um preço acessível e efeito rápido no organismo. Esta droga que surgiu no Brasil em meados dos anos 80/90 tem efeitos avassaladores e negativos na vida do indivíduo e de sua família, causando à dependência física e psíquica e com graves consequências sociais. Inicialmente o crack era considerado uma droga utilizada predominantemente por população de baixa renda e população em “situação de rua”, porém, dados de pesquisas do Ministério da Saúde comprovam que a droga tem sido consumida por todos os segmentos e classes sociais nos últimos anos. Com o decorrer do tempo na história do uso abusivo de drogas surgem novas substâncias, como o crack, mais baratas e potentes, que impõe a necessidade de se criar também novas estratégias de intervenção de trabalho, devido ao seu poder devastador e baixo custo, facilitando o acesso e consumo de grandes parcelas da população. Desafia o Estado, a sociedade e as famílias a enfrentarem um problema tão grave que muitas vezes impõe ao ser humano uma condição que atenta contra a vida. Vamos identificar como as Políticas Públicas vem historicamente trabalhando com os dependentes químicos, onde inicialmente não havia um tratamento específico para essa demanda. Através da reforma psiquiátrica, em meados dos anos 90, foi possível identificar as diferenças entre os usuários da saúde mental, pessoas com transtornos mentais e o usuário de substâncias psicoativas e assim, garantir diretrizes para um tratamento específico para os dependentes de álcool e outras drogas na busca da qualidade do atendimento e tratamento. A história revela que as Políticas Públicas são recentes no enfrentamento dessa questão, e por haver o crescimento expressivo dessa demanda e por
  • 17. 14 consequência, aumento dos graves problemas sociais, no nível familiar e também seu vínculo com o tráfico de drogas, com a violência, com danos graves para a saúde individual e coletiva. Há preocupação do governo frente a esta questão social e a recente definição de diretrizes políticas do Ministério da Saúde - MS, através da formulação das políticas de prevenção, enfrentamento e de redução de danos, como as lançadas recentemente no Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, em junho de 2010 que tem como uma das suas diretrizes fundamentais a Atenção Integral aos usuários de Crack. O tratamento aos dependentes de crack é uma questão recente e desafiadora, encontramos poucos materiais que apresentam trabalhos especificamente sobre essa problemática. O presente estudo pretende contribuir para essa reflexão e através da análise das informações obtidas, aprofundar questões relevantes para o acesso e tratamento ao usuário de crack nos serviços de saúde. Nesse sentido, sentimos a necessidade de realizar uma pesquisa para conhecer qual é o tratamento oferecido aos usuários de crack no município de Santos, como se dá a adesão dos usuários ao programa, seu olhar frente ao tratamento em que estão inseridos e o acolhimento que se dá a esse sujeito na instituição. Buscaremos também no processo deste estudo, identificar e aprofundar o trabalho interdisciplinar desenvolvido pelo serviço de saúde, considerando a importância deste para o tratamento de dependência do Crack. Estaremos aqui, ressaltando o papel do Assistente Social dentro da instituição, sua proposta de atuação, desafios e limites da prática profissional. Nosso objetivo é que possamos contribuir para a compreensão desse fenômeno tão complexo, que é a dependência química do Crack, e através da análise aprofundar o trabalho desenvolvido para o seu enfrentamento. Sabemos da importância de combater as formas de preconceito e discriminação que não contribuem para enfrentar a dependência química. É preciso discutir o uso abusivo de drogas como um fenômeno social, onde a família, a sociedade civil e o Estado tem responsabilidades a serem compartilhadas, na prevenção, no combate e no tratamento aos usuários de Crack.
  • 18. 15 No capítulo I fazemos um breve histórico da Política de saúde no Brasil, e as ações voltadas ao tratamento da dependência química no decorrer da história do país. No capítulo II abordaremos a dependência química, com ênfase no Crack e suas problemáticas, referências de consumo no país e o perfil do usuário de Crack. No capítulo III por meio da pesquisa de campo apresentaremos o serviço de saúde que é referência no município de Santos no tratamento da dependência química, a prática do Assistente Social e demais profissionais da instituição, o olhar dos sujeitos e familiares que acessam o serviço. Buscaremos através da análise das falas desses sujeitos, revelar a vivencia desses usuários e familiares no enfrentamento a dependência química, limites e possibilidades no processo de tratamento. E ainda identificar o trabalho profissional da Assistente Social neste contexto. No percurso deste estudo, temos a certeza da urgência, da sociedade brasileira, agir no combate a este fenômeno. E é isto que este estudo e principalmente, os sujeitos da pesquisa, em suas trajetórias aqui reveladas vão nos mostrar.
  • 19. CAPÍTULO I 16 SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS): UMA TRAJETÓRIA DE LUTA PELA SAÚDE NO BRASIL. 1.1 A saúde no Brasil No início do século XX, a saúde da população brasileira não era reconhecida como um direito do cidadão e dever do Estado, ficando a mercê de atendimento filantrópico nos hospitais de caridade mantidos pela Igreja Católica. A saúde era entendida como um serviço de caráter individual, paliativo e curativo. O Estado brasileiro restringia a sua atuação na área da saúde em ações de saneamento nas grandes cidades e portos para combater as epidemias da época, principalmente quando estas epidemias interferiam na economia e traziam prejuízos, como por exemplo, o combate a febre amarela e outras doenças infecto-contagiosas através de programas de saneamento no Rio de Janeiro e no porto de Santos que resultou também em campanhas de vacinação obrigatória no Brasil. Em 1923, fruto do crescimento industrial e da mobilização dos trabalhadores, foi criada a lei Eloi Chaves que regulamenta e cria as Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPS), que eram entidades públicas que possuíam autonomia em relação ao Estado, administradas com a participação direta dos trabalhadores e empresários, sendo financiada pela empresa, trabalhador e União, garantindo assistência médica e aposentadoria. Os benefícios e serviços de saúde destinavam-se a empregados de empresas específicas, sem recursos do poder público. A saúde nesta época estava condicionada à inserção no mercado de trabalho, onde apenas os trabalhadores urbanos assalariados com alto poder aquisitivo e a classe social dominante tinham acesso a mesma. Na década de 1930, na chamada Era Vargas, foi criado o Instituto de Aposentadoria e Pensões (IAPS), organizados por categorias profissionais e não mais por empresas. No final da década de 1930 e início da década de 1940, os IAPS já concentravam uma grande quantidade de recursos, resultado do crescimento contínuo da arrecadação, fruto do aumento do número de trabalhadores com carteira assinada. Ao mesmo tempo, os gastos eram poucos já que a demanda por aposentadoria ainda era pequena, porém o Governo Vargas utilizou grande parte
  • 20. 17 dos recursos dos IAPS de forma indevida, no financiamento da industrialização do Brasil, emprestando para empresários ou investindo diretamente, como foi o caso do desenvolvimento da indústria siderúrgica. Com o processo de industrialização na década de 30, no país tivemos o “êxodo rural” aumentando a população nos centros urbanos que objetivavam a busca de emprego nas indústrias. No entanto a demanda foi maior que a oferta de emprego, contribuindo para aceleração da urbanização e a ampliação da massa trabalhadora, em precárias condições de higiene, saúde e habitação. A conjuntura de 30, com suas características econômicas e políticas, possibilitou o surgimento de políticas sociais nacionais que respondessem às questões sociais de forma orgânica e sistemática. As questões sociais em geral e as de saúde em particular, já colocadas na década de 20, precisavam ser enfrentadas de forma mais sofisticada. Necessitavam transformar-se em questão política, com a intervenção estatal e a criação de novos aparelhos que contemplassem, de algum modo, os assalariados urbanos, que se caracterizavam como sujeitos sociais importantes no cenário político nacional, em decorrência da nova dinâmica da acumulação. (BRAVO, 2007, p. 91). Nas constituições do Brasil de 1934 e 1937 notamos avanços da assistência médica ao trabalhador: Art.121 § 1º - A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de outros que colimem melhorar as condições do trabalhador:[...] h) assistência médica e sanitária ao trabalhador e à gestante, assegurando a esta descanso antes e depois do parto, sem prejuízo do salário e do emprego, e instituição de previdência, mediante contribuição igual da União, do empregador e do empregado, a favor da velhice, da invalidez, da maternidade e nos casos de acidentes de trabalho ou de morte (BRASIL, 1934) Art 137 - A legislação do trabalho observará, além de outros, os seguintes preceitos:[...] l) assistência médica e higiênica ao trabalhador e à gestante, assegurado a esta, sem prejuízo do salário, um período de repouso antes e depois do parto; (BRASIL, 1937) A constituição do Brasil de 1946 amplia as competências do Estado em relação à saúde: Art 157 - A legislação do trabalho e a da previdência social obedecerão nos seguintes preceitos, além de outros que visem a melhoria da condição dos trabalhadores: [...] XIV - assistência sanitária, inclusive hospitalar e médica preventiva, ao trabalhador e à gestante; [...] XVI - previdência, mediante contribuição da União, do empregador e do empregado, em favor da maternidade e contra as conseqüências da doença, da velhice, da invalidez e da morte;
  • 21. 18 Esses avanços na Constituição foram conquistas sociais, fruto das lutas e reivindicações dos trabalhadores por melhores condições de trabalho, juntamente com a pressão sindical e a participação de outros atores políticos. Até 1950 as atividades de saúde baseavam–se na atenção médica curativa e de prevenção coletiva, sendo que durante o regime militar de 1964, os problemas não foram resolvidos intensificando ainda mais a situação. Em face da “questão social” no período 64/74, o Estado utilizou para sua intervenção o binômio repressão-assistência, sendo a política assistencial ampliada, burocratizada e modernizada pela máquina estatal com a finalidade de aumentar o poder de regulação sobre a sociedade, suavizar as tensões sociais e conseguir legitimidade para o regime, como também servir de mecanismo de acumulação do capital. (BRAVO, 2007, p. 93). Em 1966 houve a unificação dos IAPS, tornando-se Instituto Nacional de Previdência Social (INPS). Na década de 1970 após a consolidação dos serviços privados e públicos, fica clara a divisão de acesso à saúde, isto é, entre os que podiam pagar por serviços de saúde privada e a população carente que era atendida na saúde pública. Em 1978 aconteceu em Alma-Ata, União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), a Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, expressando a necessidade de ação urgente de todos os governos, de todos os que trabalham nos campos da saúde e do desenvolvimento e da comunidade mundial para promover a saúde de todos os povos do mundo. Nesse contexto a sociedade civil organiza-se no país para mobilização e conquista do direito à saúde. Como um direito universal e dever do Estado. Esse movimento ficou conhecido como movimento sanitarista representado pelos profissionais da saúde e sociedade civil. Os movimentos organizados participavam das conferências propondo os seguintes princípios: universalização da saúde, descentralização, com equidade e participação popular. Em 1986, pós o regime militar, e em processo de abertura política no país é realizado a 8ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília, grande marco na história das conferências de saúde no Brasil. Foi a primeira vez que a população participou das discussões da conferência. Participaram dessa conferência mais de 4.000 delegados, impulsionados pelo movimento da Reforma Sanitária, e propuseram a criação de uma ação institucional correspondente ao conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção e recuperação.
  • 22. 19 Em 1988 suas propostas foram contempladas e aprovadas pela Constituição Federal (C.F.) e o Sistema Único de Saúde (SUS) regulamentado pelas leis orgânicas da saúde 8.080/90 e 8.142/90, garantindo legalmente a proteção e a defesa da saúde, corroborando com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS) “estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não somente a ausência de enfermidade ou invalidez”, garantindo um direito de todos os cidadãos brasileiros e dever do Estado. Art. 196 - A Saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e recuperação (C.F BRASIL, 1988). Concretizava -se através dos princípios do SUS: Universalidade: atendimento a todo e qualquer cidadão, de acordo com a necessidade (independente do pagamento a Previdência Social). Integralidade: percepção da pessoa como um todo, que faz parte da sociedade. Ações de prevenção e tratamento voltadas ao indivíduo e a comunidade. Unidades prestadoras de serviços nos diversos graus de complexidade formando um todo indivisível prestando assistência integral. Respeito a dignidade humana. Equidade: direito ao atendimento frente às necessidades específicas, estando atento as desigualdades existentes, ajustando as ações às necessidades de cada parcela da população considerando suas vulnerabilidades. Descentralização: poder de decisão na mão dos responsáveis pela execução das ações (Comando Único) nas esferas (municipal, estadual e federal). Regionalização / Hierarquização: serviços devem ser organizados em níveis de complexidade tecnológica crescente, com área geograficamente definida e definição da população a ser atendida. Eficácia / Resolutividade: produzir resultados positivos quando for procurado pela população ou quando um problema se apresenta na comunidade. Ter qualidade no atendimento ao usuário e comunidade. Participação Popular: direito de participação a todos os segmentos envolvidos com o sistema (gestores, prestadores de serviço, trabalhadores de saúde e a população usuária dos serviços). Participação através dos Conselhos de Saúde e Conferências Municipais.
  • 23. 20 Complementaridade do Setor Privado: quando por insuficiência do setor público, poderá ser contratado serviço privado, mantendo-se os princípios do SUS. Deve-se dar preferência a serviços não lucrativos. O SUS é resultado da mobilização do movimento sanitarista, da classe trabalhadora, juntamente com outros atores da sociedade civil que reivindicavam o direito ao acesso integral, universal e gratuito a saúde de todos os brasileiros. Busca romper com a lógica neoliberal de insuficiência de recursos públicos investidos em saúde no Brasil pelo Estado, que se revela através da privatização e sucateamento da saúde. O SUS é um dos maiores sistemas públicos de saúde do mundo. No entanto apesar de seu caráter inovador, o SUS efetivado está longe do SUS constitucional. Existe um hiato entre os ideais defendidos e propostos pelos movimentos e a prática do sistema público de saúde que historicamente tem grandes desafios na garantia da saúde pública no país. 1.2 Saúde Mental e Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) / Núcleo de Apoio Psicossocial (NAPS) A Política de Saúde Mental consolidada no Brasil é consequência, principalmente, do processo de questionamento e reflexão iniciado no final da década de 70 pelos trabalhadores de saúde mental, familiares, sindicalistas que colocaram “um ponto final” ao paradigma e ao modelo psiquiátrico vigente na época. Este Movimento passa ser protagonista na defesa dos direitos das pessoas com transtornos mentais, denúncia à violência dos manicômios, da mercantilização da loucura, da hegemonia de uma rede privada de assistência e crítica ao chamado saber psiquiátrico e ao modelo hospitalocêntrico na assistência às pessoas com transtornos mentais. As experiências que ocorreram na Itália, de desinstitucionalização em psiquiatria e sua crítica radical ao manicômio têm repercussão positiva no Brasil, pois revela que é possível uma ruptura ao modelo de violência asilar estabelecido na época. Passaram a surgir as primeiras propostas e ações para a reorientação da assistência. Em 1987 na cidade de São Paulo é construído o primeiro Centro de Apoio Psicossocial (CAPS) no Brasil. Em 1989 na cidade de Santos por meio da Secretaria
  • 24. 21 Municipal de Saúde, inicia-se o processo de intervenção para construção de uma rede de cuidados efetivos em substituição ao hospital psiquiátrico, Casa de Saúde Anchieta da cidade de Santos, local de maus-tratos e mortes de pacientes. A experiência da cidade de Santos é um marco no processo de Reforma Psiquiátrica brasileira, pois revela e transmite para o país a realidade dos hospitais psiquiátricos, demonstra que é possível transformar essa problemática e que precisa ser enfrentada, trazendo à tona a urgente necessidade da extinção dos manicômios do país. A Reforma Psiquiátrica tem o apoio do Deputado Federal Paulo Delgado (PT/MG), que propõe a regulamentação dos direitos da pessoa com transtornos mentais e a extinção progressiva dos manicômios no país e sua substituição por outros recursos assistenciais e regulamenta a internação psiquiátrica compulsória através do Projeto de Lei 3.657/89. Em 1992, surgem movimentos sociais inspirados no Projeto de Lei Paulo Delgado, que conquistam as primeiras leis que determinam a substituição do modelo vigente, manicomial, apesar da resistência do setor privado, propondo uma rede integrada de atenção a saúde mental. Ainda na década de 90 é firmado pelo Brasil, através da assinatura na Declaração de Caracas e pela realização da II Conferencia Nacional de Saúde Mental, o compromisso em criar normas federais e serviços de atenção diários. Sendo assim são fundados os primeiros CAPS, NAPS e Hospitais-dias e as primeiras normas para a fiscalização e a classificação dos hospitais psiquiátricos. Somente após 12 anos a Lei Paulo Delgado é sancionada, mas é apenas uma substituição do Projeto de Lei 3.657/89 original e traz modificações importantes, pois a Lei 10.216 de 06 de abril de 2001 dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. A aprovação da Lei 10.216/01 foi um marco ético-legal da Reforma Psiquiátrica, ratificando de forma histórica, as diretrizes básicas que constituem o Sistema Único de Saúde - SUS; garantindo aos usuários de serviços de saúde mental e consequentemente, aos que sofrem por transtornos decorrentes do consumo de álcool e outras drogas – a universalidade de acesso e direito à assistência, bem como à sua integralidade; valoriza a descentralização do modelo de atendimento quando determina a estruturação de serviços mais próximos do convívio social de seus usuários, configurando redes assistenciais mais atentas às
  • 25. 22 desigualdades existentes, ajustando de forma equânime e democrática as suas ações às necessidades da população. 1.3 Saúde mental e usuários de álcool e outras drogas Inicialmente os usuários de álcool e outras drogas não tinham assistência específica, sua política de atendimento ficava restrita ao tratamento de saúde mental. O tema era tratado com preconceito, onde os dependentes eram vistos como marginais e não como doentes. Esse preconceito associado à criminalidade, vinculava o tratamento a modelos de exclusão e de internação, acreditando que manter longe e em abstinência seria a solução. Mas a realidade contemporânea nos coloca a frente de novos desafios, exigindo dos profissionais novas formas de atuação. A questão da dependência química que era abordada especificadamente por médicos da saúde mental, onde os profissionais e suas disciplinas eram compartimentalizadas e o conhecimento fragmentado, passa a exigir novas estratégias, onde o conhecimento não é privativo de uma única área do saber, portanto faz necessário a interlocução entre elas. A interdisciplinaridade promove a troca de informações e de conhecimentos entre disciplinas mas, fundamentalmente, transfere métodos de uma disciplina para outras. Por exemplo: os métodos da física nuclear podem auxiliar na cura do câncer, na engenharia de alimentos ou de remédios, etc. Corresponde a um espectro mais ampliado de ação, alcançando um processo de interação entre as disciplinas capaz de promover a conjugação de conhecimentos que elevem os níveis de saber. (RODRIGUES, 2004, p. 52) A interdisciplinaridade possibilita a complementaridade do conhecimento das diversas disciplinas, proporciona que várias áreas do conhecimento possam dialogar entre si, verificando as diferentes formas de abordar a realidade. O trabalho interdisciplinar faz-se necessário cada vez mais devido a dificuldade que encontramos para enfrentar a diversidade e a complexidade dos problemas associado ao uso de substâncias psicoativas, contribuindo para compreensão do aumento do uso abusivo de álcool e outras drogas e suas implicações que são multidimensionais, já que envolve aspectos sociais, psicológicos, econômicos e políticos, afetando a todos os segmentos sociais. Em 2002, junto às recomendações da III Conferência Nacional de Saúde Mental, o Ministério da Saúde implementa o Programa Nacional de Atenção
  • 26. 23 Comunitária Integrada aos Usuários de Álcool e outras Drogas, voltando sua estratégia de atuação para a ampliação do acesso dos usuários ao tratamento, a compreensão integral e dinâmica da problemática, a promoção de seus direitos e a abordagem de redução de danos. Afirma-se assim, através do Estado uma estratégia que visa enfrentar um problema que passa a ser considerado de saúde pública. De acordo com as Organizações Mundiais de Saúde, 10% da população dos centros urbanos do mundo consomem substâncias psicoativas, sem distinção de idade, sexo, nível de escolaridade e poder aquisitivo. Ao ser organizada essa nova rede de trabalho no enfrentamento dessa problemática, visa-se a reabilitação e a reinserção social do dependente, o que levou o Ministério da Saúde a instituir ao Sistema Único de Saúde (SUS), o Plano Nacional de Atenção Comunitária e Integral aos usuários de Álcool e outras drogas, que tem como uma de suas diretrizes a intersetorialidade, a atenção integral, a prevenção, a promoção e proteção a saúde de consumidores de álcool e outras drogas, o modelos de atenção (CAPS) e redes assistenciais e o controle de entorpecentes – padronização de serviços. Estabelecendo serviços extra hospitalares específicos para essa demanda articulada junto à rede de atenção psicossocial e abordando em conjunto a redução de danos. São criados os CAPSad, Centros de Atenção Psicossocial para o atendimento de pacientes com dependência e/ou uso prejudicial de álcool e outras drogas, devendo ser trabalhado todo o cenário do usuário: o sistema de saúde, assistência social e familiar. Os CAPSad devem oferecer atendimentos diários a sujeitos que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, desenvolver atividades que envolvam desde atendimentos individuais (medicamentoso, psicoterápicos, de orientação, dentre outros) até atendimentos em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares. Devem oferecer também, espaços de repouso para desintoxicação ambulatorial de pacientes que necessitem desses cuidados e que não seja necessário atendimento hospitalar. O trabalho de prevenção pelo CAPSad pode ser definido como um processo de planejamento, implantação e implementação de múltiplas estratégicas voltadas para a redução dos fatores de riscos específicos e fortalecimento dos fatores de proteção, o que implica a inserção comunitária das práticas propostas juntamente com a colaboração de todos os segmentos sociais.
  • 27. 24 A lógica sugerida pelo Ministério da Saúde é a Redução de Danos que visa minimizar as consequências causadas pelo uso de drogas como a transmissão de doenças, como hepatite e Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, através de utensílios perfuro cortantes compartilhados entre os usuários, como seringas e cachimbos. Segundo o Ministério da Saúde para funcionar o CAPSad deve oferecer a seguinte equipe multiprofissional: médico psiquiatra; enfermeiro com formação em saúde mental; médico clínico, responsável pela triagem, avaliação e acompanhamento das intercorrências clínicas; profissionais de nível superior entre as seguintes categorias profissionais: psicólogo, assistente social, enfermeiro, terapeuta ocupacional, pedagogo, ou outro profissional necessário para o processo terapêutico; profissionais de nível médio: técnico e / ou auxiliar de enfermagem, técnico administrativo, técnico educacional e artesão. Destacamos neste capítulo aspectos relevantes do desenvolvimento da política de saúde no Brasil, e nesse processo, a necessidade de priorizar de forma que se organize uma atuação diferenciada junto aos usuários de álcool e outras drogas na política de saúde local.
  • 28. CAPÍTULO II CRACK: UMA PROBLEMÁTICA A SER ENFRENTADA 2.1 O que é dependência química? 25 A dependência é, essencialmente, uma relação alterada entre o usuário e o seu modo de consumo. Todo o consumo de substâncias psicoativas, seja ele lícito ou ilícito, é influenciado por uma série de fatores que diminuem ou aumentam o risco de complicações agudas e crônicas. (COMUDA, 2006, p. 117). Durante a vida, cada indivíduo adquire um modo particular de consumo de substâncias, que sofre influência de diversos fatores de proteção e risco, podendo serem de natureza biológica, psicológica e social. Esses fatores se influenciam mutuamente, podendo comprometer vários campos da vida. Vale ressaltar que nunca um fator de risco isolado leva a dependência, é necessário que haja outros fatores sobre a história de cada um conduzindo-o ao abuso ou à dependência. Assim, fica claro que os fatores ligados ao indivíduo, a natureza das substâncias e seu ambiente social, desenvolvem padrões diferentes de consumo dessas substâncias. Tomando como exemplo o álcool, um consumo em baixas doses, com precauções necessárias é considerado de baixo risco, o eventual acompanhado de brigas, perda de compromissos é considerada nociva ou abuso e quando o consumo é frequente, compulsivo, é considerado dependência. 2.2 O que é o Crack? O Crack é uma substância psicoativa, resultado da mistura da cocaína (pasta da coca ou ela pura) e substâncias alcalinas, como bicarbonato de sódio e amônia. Atualmente, nota-se o crescimento da utilização de outras substâncias na composição do Crack para aumentar sua produção, o que causa efeitos ainda mais graves ao organismo do usuário. Essa mistura é consistente e cortada em pequenos pedaços que são as pedras, que os usuários fumam em um cachimbo que pode ser facilmente improvisado com latas. Durante o aquecimento, cristais da cocaína são queimados e fazem o barulho que deu nome a droga “Crack”.
  • 29. 26 O Crack inicialmente foi tido como uma droga de rua, de pessoas conhecidas popularmente como “nóias”, indivíduos de baixa renda ou em situação de rua. Atualmente ela atinge todos os segmentos da sociedade independente de gênero, idade, sexo e classe social. Quando a pessoa experimenta o Crack, o corpo cria uma espécie de memória biológica das sensações que obteve independente de serem prazerosas ou desagradáveis. A pessoa deseja sentir a sensação de êxtase, de bem estar e euforia da primeira vez novamente, acredita que a parte ruim não vai se repetir. O Crack age no cérebro de 05 a 10 segundos, e tem um efeito de aproximadamente 15 minutos. Causa fortes efeitos psíquicos como euforia, que dá a sensação de que ele pode tudo; redução da fadiga e da fome; irritabilidade e impulsividade; sintomas depressivos e junto a uma forte necessidade de consumir mais; ansiedade, sensação de pânico, mania de perseguição e perda do auto controle. Esses efeitos, como nas demais drogas, agem conforme cada indivíduo e seu organismo, seu estado psicológico e físico. Os efeitos físicos são o aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial; alta temperatura corpórea; aumento do ritmo intestinal; tremores; dilatação da pupila; sudorese. Os efeitos sociais surgem de acordo com o grau de dependência do usuário, quando está na “fissura”, não tem respeito por nada nem ninguém, seu único “amigo” é o Crack, nada tem sentido, sem a droga sente-se perdido e em seus poucos instantes de lucidez vem a depressão, o sentimento de culpa, a raiva por se sentir incapaz, a preocupação, o medo e a insegurança. Aos que possuem o apoio da família, mesmo com vergonha, conseguem pedir ajuda, mas logo a vontade volta e o “cega”, levando - o novamente a correr atrás da droga. É capaz de tudo para conseguir o Crack, engana, inicia pequenos furtos, rouba, faz qualquer coisa e passa por cima de tudo e todos para conseguir mais uma pedra. 2.2.1 Crack: Referência de consumo no Brasil Os dados mais recentes sobre o consumo do Crack no país estão disponíveis pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID). O seu II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil divulgado em 2005 demonstra que houve um aumento do uso de Crack no Brasil em comparação com o I Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas
  • 30. 27 no Brasil divulgado em 2001. Conforme podemos observar na tabela abaixo, que é a comparação entre os levantamentos de 2001 e 2005, sobre o uso do crack em sua vida, distribuído segundo sexo e a faixa etária dos entrevistados das 108 cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil. Tabela 1: Levantamento do uso de droga nos anos de 2001 e 2005. DROGA ANO 2001 ANO 2005 Crack Masc. 0,7 Fem. 0,2 TOTAL 0,4 Masc. 1,5 Fem. 0,2 TOTAL 0,7 Fonte: CEBRID, 2005. O II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil divulgado em 2005 revela a quantidade do consumo de crack na vida, sendo 0,7 % equivalente a 381 mil usuários de crack, no ano 0,1 % e no mês 01%. Entre os brasileiros a porcentagem é maior no sexo masculino (3,2%) e na faixa etária de 25 a 34 anos. Cerca de 600.000 pessoas fumam Crack hoje no Brasil, segundo estimativa do Ministério da Saúde. Em 2005, esse número era de 380.000. O aumento foi de 58%. (VEJA São Paulo, 2010. p. 37). Figura 1: Principais causas de óbito pelo uso do Crack Fonte: Veja São Paulo, data abr. 2010. Um em cada três usuários de Crack morre nos primeiros cinco anos de consumo da droga, segundo estudo da Unifesp, divulgado pela revista Veja. As
  • 31. 28 principais causas de óbito pelo uso de Crack são demonstradas através da figura acima e por meio dela podemos constatar que o maior índice de mortes é em decorrência da violência por traficantes ou pela polícia e em segundo por decorrência da Síndrome da Imunodeficiência Humana (AIDS). 2.2.2 O usuário de Crack Há poucas informações sobre a chegada do crack ao Brasil, em sua maioria provenientes da imprensa leiga ou de órgãos policiais. Segundo os primeiros estudos iniciados no final da década de 80, a cidade de São Paulo foi a mais atingida. A primeira apreensão da substância no município registrada nos arquivos da Divisão de Investigações sobre Entorpecentes (DISE), aconteceu em 1990 (Uchôa, 1996). Algumas evidências apontam para o surgimento da substância em bairros da Zona Leste da cidade (São Mateus, Cidade Tiradentes e Itaim Paulista) para em seguida alcançar a região da Estação da Luz (conhecida como "Cracolândia") e o centro da cidade (Uchôa, 1996). A partir daí espalhou-se para vários pontos da cidade, estimulado pelo ambiente de exclusão social (Uchôa, 1996). O Crack era usado pela população de baixa renda, em específico, pessoas em situação de rua. Geralmente homens, com menos de 30 anos, desempregados, com baixa escolaridade e baixo poder aquisitivo, e oriundos de ambiente familiar em situação de vulnerabilidade social. Foi analisado que o usuário de Crack tem um padrão mais alto de necessidade de consumo, maior envolvimento em atividades ilegais e prostituição. Possuem também, maior número de problemas de saúde e sociais que os usuários dos demais entorpecentes. Geralmente o usuário de Crack usou outras drogas pesadas e teve seu início em idade precoce, o que dificulta ainda mais seu tratamento, pois estão biologicamente mais prejudicados devido ao início danoso em sua fase de crescimento e desenvolvimento bio-psicossocial. Esse quadro inicial veio se modificando com o desenvolvimento de nossa sociedade e a falta de intervenção de Políticas Públicas específicas aos usuários de álcool e outras drogas e em especial para o usuário de Crack que, atualmente, não tem distinção de classe social, raça ou nível de escolaridade. São indivíduos que
  • 32. 29 buscam a droga por motivos que são diversos e complexos, pois são subjetivos para cada sujeito em seu contexto. Segundo o “Guia Prático sobre Uso, Abuso e Dependência de Substâncias Psicotrópicas para Educadores e Profissionais da Saúde”, elaborado pela Prefeitura Municipal de São Paulo, podemos tentar analisar o usuário de Crack avaliando fatores que possam influenciar e potencializar seu uso. Fatores Biológicos: nos usuários de Crack a depressão e os transtornos de ansiedade são os mais apresentados, mostrando uma correlação significativa entre esses sintomas e a gravidade da dependência. Fatores Individuais: depressão, ansiedade, alienação, comportamento compulsivo, isolamento, timidez, dificuldades de concentração e pessimismos. É válido acrescentar que, o uso precoce aumenta em até quatro vezes a chance de uso contínuo e de dependência. Fatores Sociais: fatores relacionais se referem ao grupo social a que pertence aquele indivíduo, de onde ele quer fazer parte, se destacar, ser reconhecido. Grupo esse em ambiente que ele cresceu e aprendeu, tendo como referência suas características. Fatores Familiares: que vão variar de acordo com o que ele vivencia e aprende cotidianamente, desde a infância, como a violência, situação socioeconômica, falta de comunicação entre os membros da família, dentre outros. Fatores Escolares: variam desde problemas de adaptação e de relação entre escola e estudante, onde não há o reforço do valor da escola, ao invés disso, exclui, estigmatiza, rejeita e reforça negativamente, não possui regras, nem informações, e apresentam professores não capacitados para lidar com essa questão, dentre outros. Os fatores apresentados se referem ao que pode potencializar o uso e a dependência, mas precisamos analisar como ficam comprometidas essas relações quando a dependência já está instalada. O dependente de Crack vive para a droga, só pensa nela e na próxima dose, assim tudo o mais fica irrelevante para o usuário. Em casa, com sua família, começam as pequenas mentiras, em pouco tempo é percebido seu uso, pois o usuário não consegue segurar a “fissura”1 e passa a 1 Fissura é um termo utilizado para se referir ao momento de abstinência que o usuário não consegue suportar, em que não esta usando droga, mas sente o desejo incontrolável.
  • 33. 30 usá-la em casa, improvisando cachimbos com latas de refrigerante e usam constantemente o incenso para tentar disfarçar o cheiro característico da droga. Dá-se início então a venda de seus pertences particulares, celular, tênis, até roupas, passando a fazer pequenos furtos na própria família, televisão, DVD, tudo o que acreditar ter valor de troca para o traficante. Quando já não tiver mais nada para vender em casa passa a fazer pequenos furtos na rua, sendo violento quando necessário, pois não pode perder tempo, “precisa do Crack” e é capaz de tudo para consegui-lo. Sua relação familiar passa a ficar comprometida, brigas constantes, pois o usuário não aceita sua dependência, se acha capaz de tudo e que tem controle sobre a droga, dizendo que pode parar de usar quando quiser. Sem entender a droga, a família não sabe como agir e tentam de tudo para ajudar, mas chega o momento em que perdem a esperança, pois o usuário de Crack passa a ficar extremamente violento, já que uma das características da droga é que quando está ativa dá uma forte sensação de poder. Geralmente apenas um membro da família insiste no usuário, os demais, perdem a esperança, chegando a acreditar que a morte é a solução mais esperada, tamanho o desespero e a desilusão, não acreditando no tratamento, pois o usuário de Crack costuma ter diversas recaídas. A abstinência do Crack é extremamente estressante para o usuário, suor, calafrios, tremores, dores abdominais, fazendo-o colocar a droga como um objetivo a ser conquistado naquele momento e quando seus meios materiais terminam passa a se prostituir, independente de sexo e idade, o usuário vende seu corpo por uma pedra de Crack. É físico, é biológico, ele precisa, ele tem que ter mais uma pedra e qualquer coisa que o faça conquistá-la é válida. Não pensa nas consequências e nas doenças que pode adquirir e transmitir, sob efeito da droga ele não consegue pensar, não consegue raciocinar, assim não vai usar preservativo, nem é capaz de lembrar. Na escola, a frequência diminui consideravelmente, chegando a deixá-la definitivamente quanto instalada a dependência, pois não consegue acompanhar os demais e nem há o interesse. Os profissionais da escola não estão capacitados para lidar com o usuário de drogas, sendo assim, sentem-se impotentes e pouco ou nada podem fazer para mudar o quadro. O Usuário de Crack não consegue exercer atividade remunerada, seu comprometimento não o deixa se concentrar no trabalho, tem tremores e passa a ficar dias somente usando a droga, o que o impossibilita de continuar em um
  • 34. 31 emprego. Destacamos também que o usuário de Crack não é confiável, quando precisa de uma pedra não pensa antes de enganar, mentir, sendo assim, o empregador não abre precedentes, prefere mandá-lo embora a ter prejuízos. Fisicamente os efeitos do Crack se instalam visivelmente, emagrecem até que fiquem com aspecto cadavérico, pois a droga inibe completamente o apetite, os deixando dias sem comer. Apresentam feridas nos lábios decorrentes das queimaduras no uso da droga, assim como em seus dedos, alem das rachaduras e da cor amarelada. 2.3 O desenvolvimento das ações de Redução de Danos - RD no Brasil no enfrentamento da dependência química. A Redução de Danos é uma estratégia da saúde pública que visa diminuir as consequências adversas decorrentes da prática de risco ao uso de drogas (lícitas e ilícitas) ocasionando danos à saúde, como por exemplo, compartilhar apetrechos de seringas e cachimbos, que podem transmitir doenças como hepatite, AIDS, Sífilis, Herpes entre outras. A primeira experiência de Redução de Danos no Brasil começou em dezembro de 1989 no município de Santos – SP. O então prefeito da cidade, preocupado com o rápido crescimento de contaminação pelo vírus HIV/AIDS nos usuário de drogas injetáveis, usou como estratégia para controle da epidemia a proposta de distribuir seringas e agulhas para uso do indivíduo. Essa medida gerou muita polêmica e controversas. Inclusive foi enquadrada, na época pelo Ministério Público, que entendeu que o objetivo era incentivar o uso de entorpecentes conforme a Lei 6.368 de 1976 “qualquer forma de auxílio /incentivo àqueles que se utilizam de substâncias entorpecentes” é considerado crime. Inviabilizando assim a proposta naquele momento. No ano de 1995 em Salvador – BA e em outros estados o trabalho de Redução Danos já estava sendo desenvolvido mesmo sem uma legislação que a liberasse ou se opusesse. Os avanços passam a surgir após a participação e mobilização da população e profissionais em conferências e debates. Em 1998 foi aprovada a lei que protegia os Redutores de Danos, que atuavam junto aos usuários de drogas. Atualmente o Ministério da Saúde incentiva à parceria e o fortalecimento entre os Programas de Saúde Mental, de Hepatite Virais e o de DST e AIDS
  • 35. 32 objetivando promover a integralidade da atenção e a visibilidade da Redução de Danos como uma política de saúde pública. A Portaria nº. 1.028 de 4 de julho de 2005 do Ministério da Saúde preconiza estabelecer diretrizes que orientam a implantação das ações e, desta forma, subsidia municípios e estados na manutenção ou implantação de ações de Redução de Danos voltadas aos dependentes usuários de drogas. O objetivo é reduzir os danos daqueles usuários que não querem ou não conseguem parar de usar drogas, pelo menos naquele momento, e, portanto, compartilham muitas vezes a seringa, o cachimbo ou praticam atividades sexuais sem o uso do preservativo e se expõem à infecção pela AIDS, Hepatite e outras doenças. A Redução de Danos surge como uma alternativa de prevenção ao usuário de drogas que não está preparado para aderir ao tratamento que tem por objetivo a abstinência. A redução de danos propõe a escuta e o acolhimento sem julgamento, reconhecendo cada usuário e sua singularidade e o uso que ele faz das drogas e, partindo disso, traça com ele estratégias para reduzir tanto quanto possível os eventuais prejuízos que vem sendo acarretados a esse indivíduo pelo uso indevido das drogas, bem como, orientá-lo no sentido de fazer um uso menos prejudicial a sua saúde. O objetivo a ser alcançado não é o da abstinência, tem como principal meta a ser alcançada a defesa da vida humana, o direito a saúde, gerar informações adequadas sobre riscos e danos, estimulando práticas de cuidado e valorizando suas escolhas, diminuindo os impactos social, físico e mental. Não podemos confundir as estratégias de Redução de Danos com o incentivo ao uso indevido de drogas, pois se trata de uma estratégia de prevenção de doenças decorrentes do uso contínuo de substâncias psicoativas. Pressupõe avaliar junto ao usuário os danos causados pelo uso sem controle da droga em sua vida, e junto com ele, estabelecer estratégias para maior controle para sua dependência, diminuindo riscos e danos, para si, para outros e sua família.
  • 36. CAPÍTULO III 33 SEÇÃO NÚCLEO DE ATENDIMENTO AO TÓXICO DEPENDENTE (SENAT): CONTRIBUINDO NA RECONSTRUÇÃO DE VIDAS. 3.1 A Seção Núcleo de Atendimento ao Tóxico Dependente (SENAT): o acesso ao tratamento. A SENAT é um serviço que atua no enfrentamento da dependência química em atendimento ambulatorial, ou seja, trata o usuário na instituição, mas oferece encaminhamentos para as comunidades terapêuticas quando diagnosticado pela equipe técnica sua necessidade. Faz parte da Secretaria Municipal de Saúde e funciona como um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPSad). Oferece atendimento diário a sujeitos que fazem uso prejudicial de álcool e outras drogas, desenvolvendo atividades desde atendimentos individuais até atendimentos em grupos ou oficinas terapêuticas e visitas domiciliares. Oferecem também, espaços de repouso para desintoxicação ambulatorial de pacientes que necessitem desses cuidados mas que não precisam de atendimento hospitalar. A Instituição conta com equipe multiprofissional: Assistente Social, Psicólogos, Psiquiatras, Acompanhantes Terapêuticos, Enfermeiro e Técnicos de Enfermagem. O usuário que chega a SENAT tem o entendimento de sua dependência, ou seja, quer se tratar e parar de usar a droga. Mas há também os casos que são encaminhados pelo judiciário, como os adolescentes ou pela Central de Penas e Medidas Alternativas de Santos, onde pessoas que não tem condições de prestar serviço comunitário por causa da dependência química, após autorização do juiz, fará seu tratamento que servirá como prestação de serviço a comunidade. Vale ressaltar que nesses dois últimos casos é muito difícil a adesão ao tratamento pois muitos não se consideram dependentes e assim desistem quando passado o prazo exigido ou simplesmente o abandona. O maior índice de desistência vem justamente dessa demanda onde o juiz determinou um tratamento em que eles não acreditam, segundo técnicos da equipe. Grande parte dos que acessam a SENAT vem encaminhados de outros serviços, como as unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da
  • 37. 34 Família (USF), Centros de Referência da Assistência Social (CRAS), dentre outros. O usuário que chega por conta própria já está em estado de “aceitação” devido as perdas, onde sua família, seu trabalho, sua vida social, está prejudicada de forma desastrosa pelo vício. Segundo pesquisa de campo existe pouca divulgação da instituição, e essa divulgação é realizada por outros equipamentos da prefeitura, dificultando o acesso da demanda que não passa por esses equipamentos. Porém percebemos que a demanda do município é grande para a quantidade de profissionais, sendo necessário que essa estrutura seja revista, pois mesmo que a equipe esteja de acordo com as exigências do Ministério da Saúde, ela também deve ser adequada com o fluxo de atendimento do município. Vale ressaltar que conforme informações na instituição, está previsto a implementação de um novo SENAT, para adolescentes, que mudará a estrutura de funcionamento do serviço, pois deixará de atender a essa demanda. 3.1.1 O funcionamento da instituição no tratamento da dependência química. Conforme levantamento disponibilizado pela SENAT referente ao mês de Agosto de 2010, foram atendidos 226 usuários de drogas, 199 são homens e 27 são mulheres, destes 68 utilizam o Crack, associado a outras drogas, representando 30% dos pacientes atendidos no mês. O tratamento dá inicio com o acolhimento. Definimos acolhimento como sendo todo contato com o usuário onde a intenção seja de receber de forma humanizada favorecendo a criação de vínculos, sendo realizado durante o atendimento na recepção, na sala de espera ou atendimento pelo plantonista, pois todas essas formas visam o contato com o usuário. O acolhimento e o espaço para a criação de vínculos nos atendimentos[...] acontecem, inicialmente, através de pequenas atitudes dos profissionais, tais como: chamar o usuário ou familiar pelo nome, fazê-los aguardar pouco pelo atendimento e mantê-los informados em casos de atraso, disponibilizar um espaço de privacidade para o atendimento, ouvir o que o usuário tem a dizer e direcionar a conversa sem causar desconforto. Outro aspecto fundamental é a forma e a linguagem utilizada para que as informações ou orientações possam ser compreendidas de maneira satisfatória. (FERNANDES, 2006, p.7) Nessa primeira fase o usuário chega ao serviço e passa pelo profissional de plantão, que é rotativo entre o Assistente Social, Psicólogo, Enfermeiro, Terapeuta
  • 38. 35 Ocupacional e Acompanhante Terapêutico, cada dia um desses profissionais fica de plantão. Esse profissional faz uma primeira avaliação e o orienta quanto ao tratamento em que irá seguir, sobre os atendimentos e grupos que frequentará, o que se chama Projeto Terapêutico, que é individual respeitando a subjetividade dos sujeitos. Neste momento é agendado com os demais profissionais da instituição e com os grupos que fazem parte do tratamento, grupos de acolhimento, de abstinência e de manutenção. Esses são os principais, mas ele também poderá fazer parte da Terapia Comunitária e do Grupo de Serviço Social e das Oficinas oferecidas. Assim o fluxo do atendimento segue a seguinte lógica: Acolhimento pela recepção – acolhimento pelo plantonista – agendamento com os profissionais de assistência social, psicólogo, enfermeiro e psiquiatra – agendamento nos grupos de acolhimento e depois de determinado tempo neste grupo ele passa ao grupo de abstinência e quando estiver preparado passa ao grupo de manutenção, sendo este o último, preparando-o para deixar a instituição. Reforçamos que os Projetos Terapêuticos são individuais e seguem a necessidade de cada um, assim após cada caso ser avaliado é ou não encaminhado aos demais grupos e oficinas oferecidas na SENAT. Vale ressaltar que quando o indivíduo chega a SENAT, ele está muitas vezes em situação de rua, fragilizado, precisando de atendimento imediato, assim esse primeiro acolhimento é de extrema importância e os agendamentos são realizados o mais rápido possível, cerca de três dias conforme informações da SENAT, para que esses pacientes não desistam do tratamento. A família do usuário também é acolhida e seu papel é importantíssimo para o desenvolvimento do mesmo. A família passa por atendimento com o plantonista e com os demais profissionais da instituição sempre que houver necessidade e participa do Grupo de Família, especialmente criado para essa demanda. Após a avaliação dos profissionais, é estudado o grau de dependência do usuário, para que assim possa ser feito seu Projeto Terapêutico dentro da instituição, não há uma escala de dependência, mas a equipe avalia a vontade de parar de usar a droga, o tipo de droga em específico, pois no caso do Crack é muito difícil esse primeiro momento de abstinência, onde o paciente pode ser risco para si, como em casos de tentativa anterior de suicídio ou para o outro, em casos de
  • 39. 36 violência aos familiares ou externos para conseguir a droga, assim, pode ser sugerida também a internação em Comunidades Terapêuticas. São três as Comunidades Terapêuticas conveniadas com a Secretaria Municipal de Saúde: Comunidade Terapêutica Recanto das Garças, em Bragança Paulista-SP, que atende adolescentes de 12 a 18 anos. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 6 meses. Comunidade Terapêutica Vitória, em Mariporã-SP, que atende adultos homens. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 6 meses. Comunidade Terapêutica Respeitar, em Pedro de Toledo-SP, que atende adultos, homens e mulheres. São 10 vagas e a duração do tratamento é de 7 meses. Grande parte dos usuários da SENAT, principalmente os usuários de Crack, chega solicitando internação, devido ao grau de fragilidade em que se encontram e o de suas famílias, já esgotadas com o vício. Mas como já dito anteriormente, a internação acontece após o diagnóstico da equipe técnica. Ao iniciar o tratamento o usuário passa pelos atendimentos com os profissionais e nos grupos. Inicia no grupo de acolhimento e com mais ou menos 3 meses passa ao grupo de abstinência, esse tempo não é determinado, ele será de acordo com a evolução do usuário, após mais ou menos 3 meses passa ao grupo de manutenção, onde será preparado para retornar as suas atividades. Esse último grupo é de extrema importância para o usuário, pois a dependência química não tem cura, a vontade de usar a droga vai permanecer por muito tempo e ele vai ter que aprender a lidar com essa vontade a partir das mudanças de comportamento que se fazem necessárias. É importante ressaltar que durante a pesquisa na instituição e participação nos grupos, percebemos que há uma quantidade significativa de usuários que são trabalhadores das mediações do Porto de Santos. Em um dos grupos um usuário relatou sobre seu medo de terminar o tratamento na SENAT, pois em seu ambiente de trabalho sente vontade de usar a droga e tem medo de não conseguir resistir sem as reuniões da SENAT, ele já está trabalhando e seu tratamento está no final. Por isso a importância de avaliar se esse paciente está preparado para concluir o tratamento, sentir-se seguro é primordial para que ele não recaia.
  • 40. 37 Muitos pacientes que chegam a SENAT não tem condições de trabalhar, assim são orientados sobre o direito de afastamento do trabalho durante o tratamento. Esta orientação é feita pelo serviço social ou pelo médico. Alguns pacientes já possuem o conhecimento desse direito. Ressaltamos que o laudo só é oferecido quando o paciente está fazendo o tratamento regularmente, participando dos grupos, das terapias, dos atendimentos e consultas médicas, caso contrário é negado. 3.2 Metodologia da pesquisa Realizamos uma pesquisa qualitativa na SENAT, que está subordinada a Coordenadoria de Saúde Mental e da Secretaria Municipal de Saúde, que possibilitou valorizar o conhecimento que os sujeitos possuem sobre a realidade vivida, contribuindo assim para o desenvolvimento deste trabalho. A pesquisa qualitativa é importante, pois dá voz ao sujeito, reconhecendo-o como protagonista da pesquisa e consequentemente do processo de conhecimento. A pesquisa qualitativa: [...] tem por objetivo trazer à tona o que os participantes pensam a respeito do que está sendo pesquisado, não é só a minha visão de pesquisador em relação ao problema, mas é também o que o sujeito tem a me dizer a respeito. (MARTINELLI, 1999, p.21). Foi realizada uma pesquisa bibliográfica, onde obtivemos o conhecimento teórico sobre a droga, suas características e as dos usuários, os efeitos do Crack no organismo e suas consequências psicossociais, bem como as Políticas e Diretrizes propostas para o enfrentamento da mesma. Na pesquisa de campo realizada foram utilizados os seguintes instrumentais: Entrevista semi - estruturada (Anexo I): foi realizada com os usuários do serviço no intuito de obter a opinião dos sujeitos a respeito do tratamento oferecido, sua história de vida, as dificuldades enfrentadas durante o tratamento, os conflitos familiares e suas sugestões para melhorar o atendimento; Os usuários entrevistados foram convidados durante processo de grupo em que participavam, são 5 usuários: sexo masculino e sexo feminino, de faixas etárias diversas e que aceitaram participar da pesquisa.
  • 41. 38 Entrevista semi – estruturada: foi realizada com a Assistente Social (Anexo II) e a equipe interdisciplinar (Anexo III) que compartilhou suas experiências, o seu conhecimento sobre os usuários de Crack, o que observa sobre as dificuldades para adesão ao tratamento, a opinião sobre o papel da família e as dificuldades enfrentadas no cotidiano, no trabalho interdisciplinar e no trabalho em rede; Observação participante: foi realizada durante todo o processo de desenvolvimento da pesquisa de campo, proporcionou conhecer a rotina de trabalho da instituição, dos profissionais, o fluxo da demanda, o acolhimento e a participação dos usuários nos grupos. A pesquisa foi realizada em dias agendados com a direção da Unidade, onde permanecemos durante os meses de setembro e outubro de 2010. Realizamos entrevistas com profissionais da assistência social, psicologia e funcionário acompanhante terapêutico. Os sujeitos da pesquisa foram selecionados em uma amostragem intencional sendo orientados sobre seu objetivo através do termo de consentimento livre e esclarecido – TCLE. As entrevistas realizadas foram gravadas com o consentimento dos entrevistados, através do TCLE, com o intuito de valorizar o seu conhecimento e experiências, dando maior visibilidade ao sujeito por meio da sua fala sobre essa problemática, expondo suas formas de pensar e avaliar o processo de tratamento. Foi garantido a não identificação no relatório final da pesquisa, resguardando-se sua privacidade. 3.3 Apresentação dos sujeitos da pesquisa. Entrevistamos os profissionais e funcionários da SENAT, que é referência no tratamento da dependência química no município de Santos. Para a seleção dos funcionários e profissionais foram escolhidos conforme sua área de atuação e interesse em participar da pesquisa, Assistentes Sociais, Psicólogos e Acompanhantes Terapêutico. A entrevista foi previamente agendada conforme disponibilidade dos mesmos, sendo realizadas na SENAT. Os usuários e familiares foram convidados durante sua participação nos grupos de acolhimento e de família. Os integrantes dos grupos que se sentiram a vontade em participar, após o término do mesmo nos acompanharam para aplicação da entrevista na própria instituição. Foi explicado o objetivo do trabalho e firmado o compromisso da devolutiva do
  • 42. 39 mesmo, bem como foram convidados a assistir a apresentação do trabalho de conclusão de curso – TCC. Para aplicação da pesquisa foram selecionados 4 sujeitos entre profissionais e funcionários, 3 usuários e 2 familiares. Vale ressaltar que dentre os entrevistados profissionais, havia 2 Assistentes Sociais, onde uma atualmente atua como gestora da unidade, mas por muito tempo atuou como Assistente social, e sua opinião como profissional do serviço social foi de extrema importância para a compreensão do quanto essa área é requisitada na SENAT. Para que os profissionais não sejam identificados, garantindo sua privacidade, principalmente por que a equipe da SENAT é pequena, optamos por não relacioná-los por profissão, vamos utilizar as letras A, B, C e D de maneira aleatória. Quando nos referirmos a atuação do Assistente Social – A.S. vamos utilizar os números 1 e 2, para que não seja identificado qual profissional citou determinada frase. Os usuários e familiares também serão apresentados pelas letras E, F, G, H e I, para manter o sigilo. Estaremos desta forma buscando garantir o sigilo e a privacidade dos sujeitos de pesquisa e destacando o que é mais importante, suas formas de pensar e avaliar a problemática do dependente químico do Crack. 3.4 O grupo no processo de tratamento da dependência química No contexto grupal, o indivíduo pode encontrar maior possibilidade de perceber a si mesmo e ao outro, através daquilo que podemos chamar “reação espelho” (enxergar-se a si a partir do outro), além disso, pode se familiarizar com novas maneiras de sofrimento e de soluções, representadas por pessoas reais colocadas na mesma sala. (MELO e FIGLIE, 2010, p.429). A abordagem grupal no processo de tratamento da dependência química possibilita oferecer ao indivíduo um espaço no qual ele não é discriminado / excluído, ao contrário, proporciona um ambiente onde todos são iguais frente a sua problemática, favorecendo para que ele sinta-se um integrante do grupo, identifique– se com o outro, troque experiências, compartilhe os seus sentimentos, sua história de vida, saindo do individual para o coletivo, um fortalecendo o outro, criando saídas e alternativas para problemática enfrentada. [...] aqui nas terapias a gente fala e desabafa, coloca tudo pra fora, mas tem gente que não fala uma palavra e vai pra casa, fica quieto, aqui você descarrega. (Usuário F).
  • 43. 40 Além desses aspectos a intervenção em grupo permite atender um número maior de pessoas, sendo uma técnica e estratégia viável, levando em consideração a demanda e a quantidade de profissionais para realizar o atendimento. A SENAT conforme foi dito anteriormente é um serviço ambulatorial, portanto possui uma grande rotatividade de pessoas no tratamento. Dessa forma para facilitar o atendimento existem grupos abertos que possibilita a entrada de um novo integrante no grupo que está iniciando o tratamento independente do momento. Os grupos abertos são: Serviço Social, Família e Terapia Comunitária.  Grupo de Serviço Social: é coordenado pela assistente social e acompanhante terapêutico. O grupo é realizado com os dependentes químicos que estão em tratamento. Seu objetivo é abordar assuntos pertinentes ao enfrentamento da dependência química, por exemplo, projeto de vida.  Grupo de Família: é coordenado pela assistente social e acompanhante terapêutico. O grupo é composto pelos familiares dos dependentes químicos que estão em tratamento. Seu intuito é discutir as questões trazidas pelos familiares e fazer a reflexão junto com seus integrantes.  Terapia Comunitária: é realizada pela enfermeira e acompanhante terapêutico. Os integrantes do grupo são os dependentes químicos em tratamento e os seus familiares. Existem os grupos fechados que tem o propósito de caminhar juntos durante o tratamento e tendo um tempo pré determinado para início e fim do mesmo. Entretanto é respeitado o tempo de cada pessoa em cada grupo, levando em consideração a singularidade do sujeito. [...] Não existe tempo certo para o fim do tratamento em média 1 ano mas algumas pessoas aparentam estar bem, quando chega no final precisa de um apoio maior, nada vai impedir que ele fique mais 2 ou 3 meses, não tem essa coisa muito certa não, esta avaliação é constante com os pacientes e com os técnicos. (Profissional B). Os grupos fechados são: Acolhimento, Abstinência e Manutenção.  Grupo de Acolhimento: é coordenado pela terapeuta ocupacional e
  • 44. 41 acompanhante terapêutico. Os participantes do grupo são dependentes químicos que estão iniciando o tratamento ou estão retornando, em casos de recaída. O grupo tem duração prevista de três meses.  Grupo de Abstinência: é coordenado pela psicóloga. O grupo é freqüentado por dependentes químicos que já estão um tempo sem usar drogas e que já passaram pelo grupo de acolhimento. O grupo tem duração prevista de dois meses.  Grupo de Manutenção: é coordenado pelo psicólogo. Os participantes desse grupo são dependentes químicos que já passaram pelos grupos de acolhimento e abstinência. Sua duração tem previsão de dois meses. Na SENAT também existe o Grupo de Adolescentes: que é coordenado pela psicóloga, no entanto a nossa pesquisa foi realizada somente com usuários adultos. Quadro 1: Grupos Desenvolvidos na SENAT Grupo: Funcionamento: Grupo de Serviço Social Quinta – feira ás 13h00 Grupo de Família Segunda – feira ás 15h00 Terapia Comunitária Segunda – feira ás 10h00 Grupo de Acolhimento Segunda – feira ás 09h00 Grupo de Abstinência Quarta – feira ás 16h00 Grupo de Manutenção Sexta – feira ás 08h00 Grupo de Adolescente Quinta – feira ás 15h00 Fonte: Pesquisa de Campo, set. e out., 2010 Conforme ilustração do Quadro I, os grupos da SENAT acontecem semanalmente, entre os grupos, o de Manutenção é o único que acontece no primeiro horário, o que não é por acaso. Segundo relato dos profissionais, no início do tratamento o usuário chega com a sua rotina comprometida dependendo do grau
  • 45. 42 de dependência em que se encontra, sendo difícil sua participação. No início do tratamento os usuários têm dificuldade em cumprir com os horários estabelecidos pela SENAT, seja dos grupos ou dos atendimentos individuais, entretanto a partir do grupo de Manutenção é importante que o usuário já comece se acostumar com sua rotina de trabalho, estudo, enfim suas responsabilidades e compromissos do cotidiano, pois estão no final do tratamento e precisam estar preparados para voltar a sua rotina de vida. Todos os grupos da SENAT são heterogêneos, isto é, não existe uma divisão por gênero, tipo de droga (lícita ou ilícita) e o tipo de dependência (álcool, maconha, crack e etc). O grupo heterogêneo proporciona aspectos positivos e negativos, enriquece a interação, troca de informações e ajuda mútua entre os integrantes do grupo. Entretanto ainda que o assunto tratado no grupo seja o mesmo, isto é, a dependência química, o coordenador do grupo precisa estar preparado e atento para trabalhar questões que possam surgir, como por exemplo: o preconceito entre os usuários de drogas lícitas para com os que usam drogas ilícitas, já que os tipos de perdas, o comportamento, a maneira de encarar a dependência são diferentes, por exemplo, um alcoolista em relação a um usuário de crack, ou seja, um dependente de álcool não se acha tão debilitado quanto um dependente de Crack. 3.5 Análise dos dados 3.5.1 O usuário de Crack Podemos confirmar através das falas dos sujeitos que não existe um único motivo ou modo de se iniciar o uso de drogas, cada indivíduo é único e tem sua subjetividade. Assim as decisões são tomadas por cada um de maneira que satisfaça suas próprias necessidades. Para cada um algo diferente os tocou, os afetou de maneira que o entorpecente e seus prazeres seja uma espécie de paliativo, fuga para seu dia a dia e dificuldades que enfrentam. Lá atrás, teve o acidente com meus pais, que morreram os dois juntos, eu tinha 19 anos, eles morreram e para mim foi um bum, eu não usava nada, eu era tranquilo, eu tinha irmãos que usavam, eu era contra, eu tinha ódio de ver eles usando, até quando aconteceu essas coisas, então fui usando, usando,
  • 46. 43 vi meus irmãos usando e naquela de provar, provei, gostei e pronto. Comecei com 20 anos com a cocaína, o Crack foi depois (Usuário E). A partir dos 13 anos passei a usar cigarro, meio que pra chamar a atenção dos pais, não sei, não tenho certeza disso, eu tinha liberdade total em casa, horário, não tinha esse problema. (Usuário E). [...] eu tive algumas dificuldades na família de ver pai bebendo, brigando e tal, não sei dizer se de alguma forma foi isso que ficou, mas que eu lembro é, minha mãe também mas só que eles pararam [...].A primeira droga que usei foi a maconha, aquela famosa história eu tava só conhecendo, [...], mas eu já saia, já bebia e se eu não me engano foi 6 meses depois ou um ano que eu conheci a cocaína, como sendo a cura da bebedeira, você bebia muito, e ficava bem legal, e isso progrediu bem rápido, eu não sabia que eu tinha esta pré disposição e fui cada vez aumentando as doses. (Usuário F). [...] alguma droga tinha que ter no dia, foi aumentando o uso em qualquer horário, antes era só a noite, até que chegou a qualquer dia, qualquer horário, de manhã eu não tinha horário e já era uma característica da minha dependência e aos dezesseis anos eu conheci o crack e nessa época ainda, nem existia, a gente fazia o crack, a gente pegava a cocaína, de boa qualidade, já tinha pronto mais era mais fácil você fazer, você misturava bicarbonato com água, fervia e quando secasse ficava aquela pasta, que era o crack,[...]. (Usuário - G). Podemos fazer uma relação com os informações citadas anteriormente no capítulo 2, que fala a respeito de fatores que possam influenciar e potencializar o uso, como as questões familiares do cotidiano, da vivência de presenciar brigas, alcoolismo dos pais, questões sociais de influências de amigos, experimentando para fazer parte do grupo, são alguns destaques que podemos relacionar. Seja pelo excesso de liberdade em casa, pela perda de pessoas queridas, somada as questões de propensão a dependência química, faz com que esses sujeitos percam sua identidade para o Crack. Perde sua dignidade, o controle de si e acabam ferindo sua família e as pessoas que estão a sua volta. Você desliga do mundo, da família, de tomar um banho, é onde a pessoa chega nesse ponto de ficar na rua, não tem nada, não corta o cabelo, não escova o dente. Você tem tudo ali, mais você não faz, fazendo da sua casa uma loucura, você tem toda a estrutura mas você não faz nada, o negócio é impressionante mesmo [...] a recaída é pior que no começo, a gente fica num estado que pior que um chão. (Usuário E) O Crack tem o efeito instantâneo, trago já deu a deixa, a primeira tragada é um prazer, depois você vai se transformando no seu problema, vou me transformando num bicho. (usuário G)