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Apoio Institucional
ENERGIA
e desenvolvimento
no Brasil
José Goldemberg
2
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
Citar como
José Goldemberg, Instituto Energia
e Ambiente/USP. Instituto E+
Transição Energética (2020): Energia e
desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro/
RJ – Brasil
ESTUDO POR
Instituto E+ Transição Energética
Rua General Dionísio, 14 - Humaitá
Rio de Janeiro/RJ | Brasil | 22271 050
Tel: +55 21 3197 6580
contato@emaisenergia.org
www.emaisenergia.org
AUTOR
José Goldemberg
PUBLICAÇÃO: maio 2020
Apoio Institucional
ENERGIA
e desenvolvimento
no Brasil
3
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
O Professor José Goldemberg é referência internacional no tema energia e
em suas diferentes relações com a mudança global do clima. Sua carreira tem
sido pautada pelo exercício de funções públicas em primeiro escalão de gover-
nos federal e estadual, paralelamente a produção acadêmica em planejamen-
to energético e desenvolvimento. Em 1998, publicou um artigo pelo Instituto
de Estudos Avançados, sob o título Energia e Desenvolvimento, que definiu
indicadores da melhora em condições de vida e da construção de um futuro
melhor para as populações de menor renda.
O Instituto Clima e Sociedade (iCS) sente-se honrado com a aceitação, pelo
Professor José Goldemberg, em atualizar o artigo para o contexto atual da
energia e do planejamento energético no país. Com a publicação desse artigo
pelo Instituto E+ queremos contribuir para que o debate sobre desenvolvimen-
to – em todas as suas implicações sobre desigualdades e direitos – seja parte do
escopo da transição energética.
Pessoalmente, acompanho a carreira do Professor Goldemberg desde que eu
era aluno de graduação no Instituto de Física da USP, onde ele foi Diretor e
uma figura central no questionamento que a comunidade de físicos, em ple-
na ditadura Geisel de 1974, fez sobre o Acordo Nuclear Brasil – Alemanha. Ao
longo dessas décadas, suas opiniões e posições ficaram mais radicais, indo di-
retamente à raiz dos problemas. Esse movimento rejuvenescedor é sua marca
pessoal e intrínseco ao Instituto E+.
Roberto Kishinami
Coordenador Sênior do Portfólio de Energia do Instituto Clima e Sociedade (iCS)
PREFÁCIO
4
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
José Goldemberg
Instituto de Energia e Ambiente
Universidade de São Paulo
RESUMO
É apresentada uma estimativa da energia necessária para dar à população brasileira
até 2040 um nível de vida comparável ao dos países da União Europeia. São anali-
sados os recursos e reservas energéticas do país e as possibilidades que atendam às
necessidades previstas. É dada uma ênfase especial ao papel da eficiência com que
estes recursos são utilizados adotando tecnologias avançadas, evitando assim repetir
a trajetória poluente, adotada no passado, pelos países industrializados de hoje. São
discutidas também as políticas públicas na área de energia que poderiam levar o país
a um desenvolvimento sustentável.
ENERGIA
e desenvolvimento
no Brasil
5
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
6
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
	 INTRODUÇÃO
O que caracteriza os países desenvolvidos é
que a sua população – em pelo menos uma
grande parte dela – tem acesso adequado a
alimentos, educação, habitação, água cor-
rente, esgoto e serviços médicos. Os países
da União Europeia claramente atingiram este
estágio e uma das aspirações fundamentais
da população dos demais países na América
Latina, África e Sudeste da Ásia é atingi-lo.
Um grande esforço tem disso feito para criar
critérios – e indicadores quantitativos base-
ados neles – para “medir” o grau de desen-
volvimento dos países. Até recentemente o
indicador mais usado era o produto nacional
bruto1
(GNI), definido como a quantidade to-
tal de valores monetários auferidos por pesso-
as e empresas que sejam naturais ou tenham
sede no país. Ele é a soma do produto interno
bruto (PIB) com a renda líquida recebida pelos
residentes e empresas com sede no país e fi-
liais no exterior, de fontes externas, per capita.
1 Neste artigo é usado o acrônimo GNI/capita (Gross National In-
come/capita) para representá-lo.
A Tabela 1 mostra a classificação dos países
usada pelo Banco Mundial na sua política de
concessão de empréstimo.
O uso do GNI/capita, como critério para me-
dir o desenvolvimento se mostrou limitado e
muitos outros foram propostos tais como ex-
pectativa de vida, taxa de mortalidade infantil,
índice de analfabetismo e taxa de fertilidade.
Entre eles, porém, o que se tornou mais utili-
zado é o Índice de Desenvolvimento Huma-
no (IDH), que é considerado um dos melho-
res para avaliar o bem estar da população de
uma dada região e que combina três compo-
nentes com pesos iguais de 1/3 cada: renda,
educação e expectativa de vida.
1
Classes GNI per Capita
Países de
alta renda*
≥ US$ 12.375
Países de
renda média alta
US$ 3.996 – US$ 12.375
Países de
renda média baixa
US$ 1.026 – US$ 3.995
Países de
renda média
US$ 1.026 – US$ 12.375
Países de
renda baixa
≤ US$ 1.026
TABELA 1 | Classificação dos países
pelo Banco Mundial
* os países da OECD integram este grupo e são considerados países
desenvolvidos.
Fonte: Banco Mundial, 2020.
7
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
Fonte: referência [11]
FIGURA 1 | IDH para todos os países em função do GNI per capita - 2018
A Figura 1, abaixo, mostra o IDH para todos os países em função do GNI/capita.
A figura mostra que os países de alta renda, na classificação do Banco Mundial,
isto é, os países desenvolvidos, têm um IDH próximo de 1 (um). O IDH do Brasil
é 0,761.
China
Niger Chad
Burundi
Mozambique
Ethiopia
Zimbabwe
Kenya
Myanmar
Honduras
India
Iraq
South Africa
Indonesia
Ukraine
Colombia
Brazil
Thailand
Mexico
Uruguay
Russian Federation
Argentina
Croatia
Chile
Qatar
Portugal
Slovak Republic
Saudi Arabia
United Arab Emirates
Poland
Italy
France
Spain
Korea, Rep.
Japan
United Kingdom
United States
Canada
Finland
Denmark
Netherlands
Sweden
Australia Iceland
Germany
Hong Kong
SwitzerlandNorway
World
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
0,7
0,8
0,9
1,0
0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000
Índicededesenvolvimentohumano(IDH)
GNI per capita (US$ corrente)
8
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
	 INDICADORES DE
	 DESENVOLVIMENTO E ENERGIA
O uso do GNI per capita como principal indi-
cador da qualidade de vida tem sérios proble-
mas uma vez que depende criticamente não
só dos recursos naturais, geográficos e clima
dos países como também da estrutura de
produção e, sobretudo, da política monetária
dos países que determina o valor do dólar.
Por essa razão, a partir do final do século 20,
muitos analistas preferiram usar o consumo
de energia2
/capita (medido em toneladas
equivalentes de petróleo/população, ou tep/
capita) como medida do desenvolvimento[1]
.
Na figura 2, a seguir, temos o consumo de
energia/capita “versus” o GNI/capita de todos
os países.
2 A energia primária total (combustíveis fósseis, energia nuclear e ener-
gias renováveis) usada.
Como se pode ver na Figura 2 o GNI/capita
e o consumo de energia/capita do Brasil são
muito inferiores aos dos países desenvolvidos.
Energia é um ingrediente essencial para a
produção de bens e serviços que em última
análise, determinam o valor do GNI. Intuitiva-
mente se poderia esperar que o crescimento
do GNI resultasse num aumento do consumo
de energia ou que, inversamente, o aumen-
to do consumo de energia levasse ao cresci-
mento do GNI3
, ou seja, que houvesse uma
relação linear entre estes indicadores.
A dispersão dos números na Figura 2 mostra,
contudo, que a existência dessa relação linear
entre energia/capita e GNI/capita é problemá-
tica. A Figura 3 resume essa dificuldade.
3 Uma relação de causalidade entre estes dois indicadores não é clara,
mas inúmeros estudos[2]
realizados para esclarecer esta questão indi-
cam que em geral:
• Em países desenvolvidos o aumento do GNI leva a um aumento
de consumo de energia.
• Em países em desenvolvimento o aumento do consumo de ener-
gia leva a um aumento do GNI.
• Em países, cujos preços da energia são controlados pelo governo
o aumento do consumo de energia causa o aumento do GNI. Este
é o caso do Brasil.
2
FIGURA 2 | Consumo de energia per capita em função do GNI per capita de vários países - 2018
Fonte: referência [11]
9
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
A África do Sul, China, Sérvia, Peru, Colômbia e Mongólia tem um GNI/capita
de aproximadamente US$ 13.000/capita e um consumo de energia que varia
de 0,72 a 2,69 tep/capita. O Irã, Belarus, Malásia, Israel, Inglaterra e Dinamarca
tem aproximadamente o mesmo consumo de energia per capita, mas um GNI/
capita que varia de US$ 18.000/capita a US$ 48.000/capita.
Apesar de não se verificar correlação entre esses indicadores, veremos adiante
que o planejamento da expansão da produção de energia no Brasil baseia-se na
existência dessa linearidade. Em outras palavras, para atingirmos o GNI/capita de
países desenvolvidos, é preciso aumentar muito o consumo de energia/capita.
FIGURA 3 | PIB per capita em função do consumo de energia per capita - 2014
Fonte: referência [11]
10
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
As Figuras 4 e 5 mostram outros indicadores usados como medida do desenvol-
vimento em função do consumo da energia per capita.
FIGURAS 4 | Taxa de alfabetização em função do consumo de energia per capita – 	
	 2018 (figura de cima) e taxa de fertibilidade em função do consumo
de energia per capita – 2017 (figura debaixo)
Fonte: referência [11]
11
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
FIGURAS 5 | Expectativa de vida no nascimento em função do consumo de energia
per capita – 2017 (figura de cima) e taxa de mortalidade infantil em função do
consumo de energia per capita – 2018 (figura de baixo)
Fonte: referência [11]
12
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
13
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
	 CARACTERÍSTICAS DA MATRIZ
	 ENERGÉTICA BRASILEIRA
A Tabela 2 lista os recursos e as reservas ener-
géticas brasileiras que constam do Balanço
Energético Nacional 2019, do MME/EPE, bem
como uma estimativa da sua duração no rit-
mo de consumo atual.
3
Tipo de reserva 103
tep
Consumo anual
(103
tep, 2018)
Duração da reserva
(anos)
Petróleo 1.873.236 157.859 11,9
Gás natural 365.871 35.905 10,2
Carvão 7.021.334 16.632 42,2
Hidroelétrica* 83.956 36.460 Renovável
103
tep %
Energia não renovável 157.859 54,7
Petróleo e derivados 99.320 34,5
Gás natural 35.905 12,4
Carvão mineral 16.632 5,8
Urânio 4.174 1,4
Outras 1.828 0,6
Energia renovável 130.533 45,3
Hidráulica 36.460 12,6
Lenha e carvão vegetal 24.146 8,4
Produtos de cana de açúcar 50.090 17,4
Outras renováveis 19.837 6,9
TOTAL 288.392 100,0
TABELA 2 | Recursos Energéticos do Brasil
TABELA 3 | Matriz Energética Brasileira - 2018
* Corresponde a 135,4 Gigawatts (111,4 medidos e inventariados e 24,0 estimados).
Fonte: Balanço Energético Nacional 2019, EPE/MME.
Fonte: Balanço Energético Nacional 2019, EPE/MME.
A Tabela 3 mostra a composição da oferta de energia primária do Brasil.
14
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
A Figura 6 reproduz graficamente essa matriz energética do Brasil em 2018. Para
realçar a singularidade da matriz energética brasileira, nesta figura temos, à direita,
a matriz energética da União Europeia representativa dos países desenvolvidos.
O que é notável nesta comparação é a grande participação de energias reno-
váveis na matriz brasileira, de 45,3%, enquanto na União Europeia elas repre-
sentam apenas 14,1%.
O consumo final de energia, no Brasil em 2018, se distribui pelos diferentes
setores como mostrado na Tabela 4.
TABELA 4 | Consumo final energético por Setor - 2018
Fonte: referências [3] e [4]
Fonte: Balanço Energético Nacional 2019, EPE/MME.
2018 103
tep %
Setor energético 26.010 11,2%
Setor residencial 25.012 10,6%
Setor comercial/público 12.480 5,2%
Setor agropecuário 10.426 4,4%
Setor transportes 84.348 34,8%
Setor industrial 80.948 33,8%
TOTAL 239.224 100,0%
FIGURA 6 | A Matriz energética do Brasil e da União Europeia - 2018
Renováveis: 14,1%
Não Renováveis: 85,9%
Renováveis: 45,3%
Não Renováveis: 54,7%
15
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
16
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
Uma característica marcante do sistema ener-
gético do Brasil é que a intensidade energética
da oferta de energia (Ic)[5]
, definida como:
A EPE/MME (Empresa de Pesquisa Energé-
tica) construiu cenários para a evolução da
matriz energética, de 2014 a 2030, que le-
vassem o Brasil a cumprir os compromissos
na sua comunicação nacional ao Secreta-
riado da Convenção do Clima, como parte
do Acordo de Paris de 2015[6]
. Além disso, a
EPE elabora planos decenais de expansão da
energia (PDE), e aqui são usadas as indica-
ções do PDE 2027[7]
.
As projeções da EPE e outras preparadas pelo
MME para 2050 se baseiam em hipóteses ma-
croeconômicas que dependem criticamente
da taxa de crescimento do produto interno
bruto, que no Brasil varia notoriamente sen-
do muito difícil fazer previsões baseadas nele.
Além disso, o aumento do consumo acompa-
nha linearmente o aumento do produto inter-
no bruto, em contraste com o que acontece
em países desenvolvidos.
As premissas macroeconômicas do PDE 2027
para o período 2018 – 2027 são as seguintes:
	 O PIB deve apresentar um crescimento 	
	 médio de 2,8%/ano.
	 O PIB per capita crescerá em média 2,2%/ano.
	 O PIB/capita passará de US$ 9.800 em 2017 	
	 para US$ 12.740 em 2027 em moeda de 2017.
As premissas no que se refere à demanda de
energia são as seguintes:
	 O consumo cresce a uma taxa média de
	2,3%/ano.
	 O consumo per capita cresce a 1,7%/ano
	 aumentando 1,45 tep/capita em 2017 para 	
	 1,66 tep/capita.
	 A taxa de crescimento do consumo
	 per capita é 1,7%/ano.
FIGURA 7 | Evolução da intensidade energética no Brasil (tep/103US$ppp2010)
e a intensidade energética da demanda[5]
oferta interna de energia
densidade energética
Ic =
Ic =
GNI
GNI
tem se mantido aproximadamente constante
desde o ano 2000. A Figura 7 mostra isso.
Intensidade Energética
Intensidade Consumo FinalFonte: referência [5]
0,097
0,096
0,093
0,101
0,099
0,088
0,087
0,085
0,089
0,088
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
2016
2017
2018
17
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
A Tabela 5 compara as projeções da EPE com os dados correspondentes da
União Europeia.
A tabela evidencia que, usando as premissas do PDE 2027, para que o con-
sumo per capita do Brasil em 2027 atingisse o consumo per capita da EU de
2017, seriam necessários cerca de 20 anos, mesmo deduzindo do consumo/
capita da União Europeia a energia para aquecimento residencial, que não é
necessário no Brasil.[8]
As intensidades energéticas no uso da energia primária, no Brasil e na EU, são
comparadas na Figura 8, adotando-se o mesmo valor unitário para o ano de 1990.
Enquanto a intensidade energética do Brasil é praticamente constante, a da
União Europeia tem diminuído substancialmente, isto é, menos energia é ne-
cessária para gerar o GNI.
TABELA 5 | Indicadores de consumo de energia no Brasil e da União Europeia
FIGURA 8 | Intensidade energética no Brasil e na União Europeia
Fonte: referências [3] e [4]
Fonte: referências [4] e [5]
BRASIL UNIÃO EUROPEIA
2017 2027 2017
Consumo final de energia (106
tep) 260,0 325,3
Consumo de energia (106
tep) 293,5 367,4
Consumo de energia/capita (tep/ano) 1,41 1,66 3,08
GNI/capita em dólares de 2017 9.140 12.740 35.420
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,2
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
2011
2012
2013
2014
2015
MJ/GNI=1em1990
01,
UNIÃO EUROPEIA
BRASIL
18
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
Este comportamento da intensidade enérgica se reflete claramente na evolu-
ção da intensidade de carbono, definida como a quantidade de CO2
(em tones)
emitida pelo uso da energia4
, dividida pelo GNI, como mostrado na Figura 9.
O que parece essencial, portanto, é desvincular/quebrar a re-
lação linear que existe no Brasil entre consumo de energia e
GNI, o que significa fazer com que a intensidade energética
se reduza (como aconteceu na União Europeia), ou seja, que
a eficiência no uso de energia aumente.
O comportamento da intensidade energética se reflete nas emissões totais de
carbono (Figura 10) pelo uso da energia5
.
4 Sem considerar, portanto, as emissões por mudança de uso do solo e da agropecuária.
5 Sem considerar, portanto, as emissões por mudança de uso do solo e da agropecuária.
FIGURA 9 | Intensidade de carbono do Brasil e da União Europeia (tCO2/GNI)
FIGURA 10 | Emissões de CO2 per capita do Brasil e da União Européia (tCO2/capita)
Fonte: referências [4] e [5]
Fonte: referências [4] e [5]
BRASIL
UNIÃO EUROPEIA
BRASIL
UNIÃO EUROPEIA
19
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
Na União Europeia as emissões de CO² estão declinando, apesar do crescimen-
to econômico. No Brasil, o aumento das emissões de carbono/capita a partir
de 2005 se deve ao declínio da produção de hidroeletricidade e a redução do
uso de madeira para usos domésticos[9]
no país, e o uso de combustíveis fósseis
para compensar este declínio. A expectativa é a de que o aumento significativo
da contribuição de outras fontes renováveis (energia eólica, solar e hidroeletri-
cidade) resolva este problema como mostra a figura 11[7]
.
FIGURA 11 | Evolução da participação das fontes na matriz energética brasileira
(2017/2027)
Fonte: PDE 2027, EPE/MME, 2018.
Alternativa para Ponta
Hidráulica
PCH+EOL+BIO+SOL
Térmica
20
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
	 A EFICIÊNCIA NO USO
	 DA ENERGIA
Até o presente, a área de eficiência energéti-
ca no Brasil registra poucos avanços, apesar
da existência de programas governamentais
específicos, como o PEE (Programa de Efici-
ência Energética) na ANEEL, PBE (Programa
Brasileiro de Etiquetagem) no INMETRO, o
PROCEL (Programa de Conservação de Eletri-
cidade) no MME/Eletrobras, o CONPET (Pro-
grama Nacional de Racionalização do Uso
dos Derivados do Petróleo e do Gás Natu-
ral), executado pela Petrobras e o PROESCO
(Programa de Apoio a Projetos de Eficiência
Energética) no BNDES. Uma análise destes
programas foi realizada pela EPE no Atlas da
Eficiência Energética de 2019[5]
.
Segundo este Atlas, as ações do PROCEL eti-
quetando os produtos que utilizam eletrici-
dade, resultaram numa economia de 23 TWh
equivalente a 4,87% de consumo de energia
elétrica em 2018. Não há menção ao montan-
te de eletricidade economizada nos progra-
mas PEE da ANEEL.
No setor de transporte, que representa cerca
de 35% do consumo final de energia (Tabela
4), os progressos foram muito modestos. A in-
tensidade energética (tep/passageiro.km) no
transporte de passageiros se manteve cons-
tante desde 1996, exceto no transporte aéreo
(figura 12).	
4
FIGURA 12 | Intensidade energética em modos de transporte de passageiros, Brasil - 2018
Fonte: referência [5]
0
10
20
30
40
50
60
70
1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018
Rodoviário Leves
Média Brasil
Aéreo
Coletivo Rodoviário
Ferroviário
Aquaviário
21
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
No transporte de cargas houve pequenos ganhos nos últimos anos devido à
modernização dos caminhões importados.
No que se refere à indústria, que representa cerca de 34% do consumo final
de energia em 2018, os progressos em intensidade energética, no Brasil, foram
muito pequenos em comparação com os de outros países como mostra a Fi-
gura 13. Isso, naturalmente, reflete-se em baixa competitividade internacional.
No setor residencial, que representa apenas 10% do consumo final, não ocorreram
progressos significativos, exceto nos aparelhos de ar condicionado com o advento
dos equipamentos tipo split e, mais recentemente, providos de inversores.
A enorme distância entre o consumo atual dos países desenvolvidos e dos países
em desenvolvimento é devido às tecnologias de baixa eficiência que utilizam.
FIGURA 13 | Variação da intensidade energética da indústria, de 2000 a 2017,
países selecionados
Fonte: referência [5]
-50%
-40%
-30%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
2000 2005 2010 2015
ÍndicedeIntensidadeEnergéticana
Indústria(2000)
Brasil
Argentina
África do Sul
México
Índia
Rússia
Austrália
2017
22
ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
	 CONCLUSÕES
Para solucionar estes problemas a estratégia
proposta por inúmeros analistas é “saltar na
frente” (“leapfrog”) etapas de desenvolvimen-
to[10]
pelas quais os países industrializados
passaram no passado, e adotá-las como parte
do próprio processo de crescimento e desen-
volvimento. Por exemplo, em regiões rurais (e
na periferia de cidades) usa-se lenha para co-
zinhar em fogões primitivos que tem uma efi-
ciência menor do que 10%. A adoção de gás
natural (ou biogás) para cozinhar em fogões
modernos elevaria esta eficiência para valores
superiores a 50%[9]
. Iluminação com lâmpadas
fluorescentes ou LED é muito mais eficiente do
que as lâmpadas usadas no passado. Portan-
to é neste sentido que deveriam se orientar
as políticas públicas e não no aumento da
oferta mantendo o uso de tecnologias ob-
soletas.
O Governo Federal dispõe de instrumentos
legais para fazê-lo. A Política Nacional de
Conservação e Uso Racional de Energia foi
estabelecida pela Lei 10.295 de 17 de outu-
bro de 2001. Esse diploma atribui ao Poder
Executivo6
o dever de fixar e atualizar níveis
mínimos de consumo específico de energia7
,
para máquinas e aparelhos consumidores
de energia fabricados ou comercializados no
país, com base em indicadores técnicos per-
tinentes. Mais ainda, estabelece também que
“as máquinas e aparelhos consumidores de
energia encontrados no país e no mundo sem
as especificações legais deverão ser retirados
pelos respectivos fabricantes e importadores”.
O PROCEL (Programa Nacional de Conserva-
ção de Energia Elétrica) se restringiu à ado-
ção de um programa de etiquetagem de
6 Atualmente essa função é exercida pelo Comitê de Gestão dos
Índices de Eficiência Energética (CGIEE), sediada no MME.
7 Internacionalmente conhecido como MEPS (Minimum Energy
Performance Standards).
alguns equipamentos elétricos, além de di-
versos projetos que são, em geral, de apoio
a entidades subnacionais com divulgação de
informações e normas. Desde 1997 foram
etiquetados refrigeradores, televisores, condi-
cionadores de ar, maquinas de lavar roupas e
lâmpadas o que resultou numa redução do
consumo de eletricidade de 4,87% da eletri-
cidade em 2018. Pouco foi feito na etiqueta-
gem das construções no setor residencial e
no setor industrial além de motores trifásicos.
O Estado de São Paulo por sua vez adotou
em 2009 uma Política Estadual de Mudanças
Climáticas (PEMC) (Lei 13.798 de 9/11/2009)
em que é estabelecida a meta de redução de
20% das emissões de dióxido de carbono re-
lativas a 2005 em 2020.
Para atingir este objetivo a Lei autoriza o Go-
verno estadual a “estabelecer preços e tarifas
públicas, tributos e outras formas de cobran-
ça por atividades emissoras dos gases de
efeito estufa”. Além disso, o Estado “definirá
medidas reais mensuráveis e verificáveis para
reduzir emissões antrópicas de efeito estufa
devendo para tanto, adotar metas de efici-
ência e mecanismos de troca de direitos ob-
tidos”. Contudo a implementação do PEMC
no Estado de São Paulo se restringiu até ago-
ra à preparação de inventários de emissões
antrópicas.
A estratégia usada no passado para enfren-
tar os problemas de energia do Brasil, como
uma questão de oferta de energia, precisa ser
complementada por uma visão mais abran-
gente que inclua ações importantes pelo lado
da demanda. Tratar eficiência como uma ati-
vidade que tem baixa prioridade é uma visão
obsoleta que precisa ser revista.
5
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ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil
JoséGoldemberg
REFERÊNCIAS
1.	 J. Goldemberg “Energy in Brazil: Past and future”
The Oxford Handbook of the Brazilian Economy 201-220
DOI: 10.1093/oxfordhb/9780190499983-013-38
2.	 Chontanawatt, J. Hunt, L. C. and Pierse R.
Does energy consumption cause economic growth?
Journal of Policy Modeling 30 (2008)209-220
3.	 Balanço Energético Nacional 2019
EPE, Ministério de Minas e Energia
4.	 EU Energy in figures Statistical pocketbook 2019
5.	 Atlas de Eficiência Energética Brasil 2019, Relatório de Indicadores, EPE.
6.	 O Compromisso do Brasil no Combate às Mudanças Climáticas: Produção e Uso
de Energia, Junho 2016, EPE.
7.	 Plano Decenal de Expansão de Energia 2027
EPE, Ministério de Minas e Energia.
8.	 Mapping and analyses of the current future (2020-2030)
Heating/Cooling full deployment, European Commission, march 2016
9.	 The energy transition history of fuelwood replacement for liquid petroleum gas in
Brazilian households from 1970 to 2016, Coelho, S. t. et al – Energy Policy 188-41-
52 2018
10.	 J. Goldemberg; T. B. Johansson; A. K. N, Reddy and R. H. Williams Ambio vol 14
190-200 1980
11.	 World Development Indicators, The World DataBank. Retrieved from:
https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators
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JoséGoldemberg
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energética como vetor para o crescimen-
to econômico de baixo carbono.
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cias científicas, o Instituto E+ trabalha
com uma equipe multidisciplinar e par-
ceiros, produzindo conhecimento e estu-
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Energia, desenvolvimento e indicadores no Brasil

  • 2. 2 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg Citar como José Goldemberg, Instituto Energia e Ambiente/USP. Instituto E+ Transição Energética (2020): Energia e desenvolvimento no Brasil. Rio de Janeiro/ RJ – Brasil ESTUDO POR Instituto E+ Transição Energética Rua General Dionísio, 14 - Humaitá Rio de Janeiro/RJ | Brasil | 22271 050 Tel: +55 21 3197 6580 contato@emaisenergia.org www.emaisenergia.org AUTOR José Goldemberg PUBLICAÇÃO: maio 2020 Apoio Institucional ENERGIA e desenvolvimento no Brasil
  • 3. 3 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg O Professor José Goldemberg é referência internacional no tema energia e em suas diferentes relações com a mudança global do clima. Sua carreira tem sido pautada pelo exercício de funções públicas em primeiro escalão de gover- nos federal e estadual, paralelamente a produção acadêmica em planejamen- to energético e desenvolvimento. Em 1998, publicou um artigo pelo Instituto de Estudos Avançados, sob o título Energia e Desenvolvimento, que definiu indicadores da melhora em condições de vida e da construção de um futuro melhor para as populações de menor renda. O Instituto Clima e Sociedade (iCS) sente-se honrado com a aceitação, pelo Professor José Goldemberg, em atualizar o artigo para o contexto atual da energia e do planejamento energético no país. Com a publicação desse artigo pelo Instituto E+ queremos contribuir para que o debate sobre desenvolvimen- to – em todas as suas implicações sobre desigualdades e direitos – seja parte do escopo da transição energética. Pessoalmente, acompanho a carreira do Professor Goldemberg desde que eu era aluno de graduação no Instituto de Física da USP, onde ele foi Diretor e uma figura central no questionamento que a comunidade de físicos, em ple- na ditadura Geisel de 1974, fez sobre o Acordo Nuclear Brasil – Alemanha. Ao longo dessas décadas, suas opiniões e posições ficaram mais radicais, indo di- retamente à raiz dos problemas. Esse movimento rejuvenescedor é sua marca pessoal e intrínseco ao Instituto E+. Roberto Kishinami Coordenador Sênior do Portfólio de Energia do Instituto Clima e Sociedade (iCS) PREFÁCIO
  • 4. 4 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg José Goldemberg Instituto de Energia e Ambiente Universidade de São Paulo RESUMO É apresentada uma estimativa da energia necessária para dar à população brasileira até 2040 um nível de vida comparável ao dos países da União Europeia. São anali- sados os recursos e reservas energéticas do país e as possibilidades que atendam às necessidades previstas. É dada uma ênfase especial ao papel da eficiência com que estes recursos são utilizados adotando tecnologias avançadas, evitando assim repetir a trajetória poluente, adotada no passado, pelos países industrializados de hoje. São discutidas também as políticas públicas na área de energia que poderiam levar o país a um desenvolvimento sustentável. ENERGIA e desenvolvimento no Brasil
  • 6. 6 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg INTRODUÇÃO O que caracteriza os países desenvolvidos é que a sua população – em pelo menos uma grande parte dela – tem acesso adequado a alimentos, educação, habitação, água cor- rente, esgoto e serviços médicos. Os países da União Europeia claramente atingiram este estágio e uma das aspirações fundamentais da população dos demais países na América Latina, África e Sudeste da Ásia é atingi-lo. Um grande esforço tem disso feito para criar critérios – e indicadores quantitativos base- ados neles – para “medir” o grau de desen- volvimento dos países. Até recentemente o indicador mais usado era o produto nacional bruto1 (GNI), definido como a quantidade to- tal de valores monetários auferidos por pesso- as e empresas que sejam naturais ou tenham sede no país. Ele é a soma do produto interno bruto (PIB) com a renda líquida recebida pelos residentes e empresas com sede no país e fi- liais no exterior, de fontes externas, per capita. 1 Neste artigo é usado o acrônimo GNI/capita (Gross National In- come/capita) para representá-lo. A Tabela 1 mostra a classificação dos países usada pelo Banco Mundial na sua política de concessão de empréstimo. O uso do GNI/capita, como critério para me- dir o desenvolvimento se mostrou limitado e muitos outros foram propostos tais como ex- pectativa de vida, taxa de mortalidade infantil, índice de analfabetismo e taxa de fertilidade. Entre eles, porém, o que se tornou mais utili- zado é o Índice de Desenvolvimento Huma- no (IDH), que é considerado um dos melho- res para avaliar o bem estar da população de uma dada região e que combina três compo- nentes com pesos iguais de 1/3 cada: renda, educação e expectativa de vida. 1 Classes GNI per Capita Países de alta renda* ≥ US$ 12.375 Países de renda média alta US$ 3.996 – US$ 12.375 Países de renda média baixa US$ 1.026 – US$ 3.995 Países de renda média US$ 1.026 – US$ 12.375 Países de renda baixa ≤ US$ 1.026 TABELA 1 | Classificação dos países pelo Banco Mundial * os países da OECD integram este grupo e são considerados países desenvolvidos. Fonte: Banco Mundial, 2020.
  • 7. 7 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg Fonte: referência [11] FIGURA 1 | IDH para todos os países em função do GNI per capita - 2018 A Figura 1, abaixo, mostra o IDH para todos os países em função do GNI/capita. A figura mostra que os países de alta renda, na classificação do Banco Mundial, isto é, os países desenvolvidos, têm um IDH próximo de 1 (um). O IDH do Brasil é 0,761. China Niger Chad Burundi Mozambique Ethiopia Zimbabwe Kenya Myanmar Honduras India Iraq South Africa Indonesia Ukraine Colombia Brazil Thailand Mexico Uruguay Russian Federation Argentina Croatia Chile Qatar Portugal Slovak Republic Saudi Arabia United Arab Emirates Poland Italy France Spain Korea, Rep. Japan United Kingdom United States Canada Finland Denmark Netherlands Sweden Australia Iceland Germany Hong Kong SwitzerlandNorway World 0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 0 10.000 20.000 30.000 40.000 50.000 60.000 70.000 80.000 90.000 Índicededesenvolvimentohumano(IDH) GNI per capita (US$ corrente)
  • 8. 8 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO E ENERGIA O uso do GNI per capita como principal indi- cador da qualidade de vida tem sérios proble- mas uma vez que depende criticamente não só dos recursos naturais, geográficos e clima dos países como também da estrutura de produção e, sobretudo, da política monetária dos países que determina o valor do dólar. Por essa razão, a partir do final do século 20, muitos analistas preferiram usar o consumo de energia2 /capita (medido em toneladas equivalentes de petróleo/população, ou tep/ capita) como medida do desenvolvimento[1] . Na figura 2, a seguir, temos o consumo de energia/capita “versus” o GNI/capita de todos os países. 2 A energia primária total (combustíveis fósseis, energia nuclear e ener- gias renováveis) usada. Como se pode ver na Figura 2 o GNI/capita e o consumo de energia/capita do Brasil são muito inferiores aos dos países desenvolvidos. Energia é um ingrediente essencial para a produção de bens e serviços que em última análise, determinam o valor do GNI. Intuitiva- mente se poderia esperar que o crescimento do GNI resultasse num aumento do consumo de energia ou que, inversamente, o aumen- to do consumo de energia levasse ao cresci- mento do GNI3 , ou seja, que houvesse uma relação linear entre estes indicadores. A dispersão dos números na Figura 2 mostra, contudo, que a existência dessa relação linear entre energia/capita e GNI/capita é problemá- tica. A Figura 3 resume essa dificuldade. 3 Uma relação de causalidade entre estes dois indicadores não é clara, mas inúmeros estudos[2] realizados para esclarecer esta questão indi- cam que em geral: • Em países desenvolvidos o aumento do GNI leva a um aumento de consumo de energia. • Em países em desenvolvimento o aumento do consumo de ener- gia leva a um aumento do GNI. • Em países, cujos preços da energia são controlados pelo governo o aumento do consumo de energia causa o aumento do GNI. Este é o caso do Brasil. 2 FIGURA 2 | Consumo de energia per capita em função do GNI per capita de vários países - 2018 Fonte: referência [11]
  • 9. 9 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg A África do Sul, China, Sérvia, Peru, Colômbia e Mongólia tem um GNI/capita de aproximadamente US$ 13.000/capita e um consumo de energia que varia de 0,72 a 2,69 tep/capita. O Irã, Belarus, Malásia, Israel, Inglaterra e Dinamarca tem aproximadamente o mesmo consumo de energia per capita, mas um GNI/ capita que varia de US$ 18.000/capita a US$ 48.000/capita. Apesar de não se verificar correlação entre esses indicadores, veremos adiante que o planejamento da expansão da produção de energia no Brasil baseia-se na existência dessa linearidade. Em outras palavras, para atingirmos o GNI/capita de países desenvolvidos, é preciso aumentar muito o consumo de energia/capita. FIGURA 3 | PIB per capita em função do consumo de energia per capita - 2014 Fonte: referência [11]
  • 10. 10 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg As Figuras 4 e 5 mostram outros indicadores usados como medida do desenvol- vimento em função do consumo da energia per capita. FIGURAS 4 | Taxa de alfabetização em função do consumo de energia per capita – 2018 (figura de cima) e taxa de fertibilidade em função do consumo de energia per capita – 2017 (figura debaixo) Fonte: referência [11]
  • 11. 11 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg FIGURAS 5 | Expectativa de vida no nascimento em função do consumo de energia per capita – 2017 (figura de cima) e taxa de mortalidade infantil em função do consumo de energia per capita – 2018 (figura de baixo) Fonte: referência [11]
  • 13. 13 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg CARACTERÍSTICAS DA MATRIZ ENERGÉTICA BRASILEIRA A Tabela 2 lista os recursos e as reservas ener- géticas brasileiras que constam do Balanço Energético Nacional 2019, do MME/EPE, bem como uma estimativa da sua duração no rit- mo de consumo atual. 3 Tipo de reserva 103 tep Consumo anual (103 tep, 2018) Duração da reserva (anos) Petróleo 1.873.236 157.859 11,9 Gás natural 365.871 35.905 10,2 Carvão 7.021.334 16.632 42,2 Hidroelétrica* 83.956 36.460 Renovável 103 tep % Energia não renovável 157.859 54,7 Petróleo e derivados 99.320 34,5 Gás natural 35.905 12,4 Carvão mineral 16.632 5,8 Urânio 4.174 1,4 Outras 1.828 0,6 Energia renovável 130.533 45,3 Hidráulica 36.460 12,6 Lenha e carvão vegetal 24.146 8,4 Produtos de cana de açúcar 50.090 17,4 Outras renováveis 19.837 6,9 TOTAL 288.392 100,0 TABELA 2 | Recursos Energéticos do Brasil TABELA 3 | Matriz Energética Brasileira - 2018 * Corresponde a 135,4 Gigawatts (111,4 medidos e inventariados e 24,0 estimados). Fonte: Balanço Energético Nacional 2019, EPE/MME. Fonte: Balanço Energético Nacional 2019, EPE/MME. A Tabela 3 mostra a composição da oferta de energia primária do Brasil.
  • 14. 14 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg A Figura 6 reproduz graficamente essa matriz energética do Brasil em 2018. Para realçar a singularidade da matriz energética brasileira, nesta figura temos, à direita, a matriz energética da União Europeia representativa dos países desenvolvidos. O que é notável nesta comparação é a grande participação de energias reno- váveis na matriz brasileira, de 45,3%, enquanto na União Europeia elas repre- sentam apenas 14,1%. O consumo final de energia, no Brasil em 2018, se distribui pelos diferentes setores como mostrado na Tabela 4. TABELA 4 | Consumo final energético por Setor - 2018 Fonte: referências [3] e [4] Fonte: Balanço Energético Nacional 2019, EPE/MME. 2018 103 tep % Setor energético 26.010 11,2% Setor residencial 25.012 10,6% Setor comercial/público 12.480 5,2% Setor agropecuário 10.426 4,4% Setor transportes 84.348 34,8% Setor industrial 80.948 33,8% TOTAL 239.224 100,0% FIGURA 6 | A Matriz energética do Brasil e da União Europeia - 2018 Renováveis: 14,1% Não Renováveis: 85,9% Renováveis: 45,3% Não Renováveis: 54,7%
  • 16. 16 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg Uma característica marcante do sistema ener- gético do Brasil é que a intensidade energética da oferta de energia (Ic)[5] , definida como: A EPE/MME (Empresa de Pesquisa Energé- tica) construiu cenários para a evolução da matriz energética, de 2014 a 2030, que le- vassem o Brasil a cumprir os compromissos na sua comunicação nacional ao Secreta- riado da Convenção do Clima, como parte do Acordo de Paris de 2015[6] . Além disso, a EPE elabora planos decenais de expansão da energia (PDE), e aqui são usadas as indica- ções do PDE 2027[7] . As projeções da EPE e outras preparadas pelo MME para 2050 se baseiam em hipóteses ma- croeconômicas que dependem criticamente da taxa de crescimento do produto interno bruto, que no Brasil varia notoriamente sen- do muito difícil fazer previsões baseadas nele. Além disso, o aumento do consumo acompa- nha linearmente o aumento do produto inter- no bruto, em contraste com o que acontece em países desenvolvidos. As premissas macroeconômicas do PDE 2027 para o período 2018 – 2027 são as seguintes: O PIB deve apresentar um crescimento médio de 2,8%/ano. O PIB per capita crescerá em média 2,2%/ano. O PIB/capita passará de US$ 9.800 em 2017 para US$ 12.740 em 2027 em moeda de 2017. As premissas no que se refere à demanda de energia são as seguintes: O consumo cresce a uma taxa média de 2,3%/ano. O consumo per capita cresce a 1,7%/ano aumentando 1,45 tep/capita em 2017 para 1,66 tep/capita. A taxa de crescimento do consumo per capita é 1,7%/ano. FIGURA 7 | Evolução da intensidade energética no Brasil (tep/103US$ppp2010) e a intensidade energética da demanda[5] oferta interna de energia densidade energética Ic = Ic = GNI GNI tem se mantido aproximadamente constante desde o ano 2000. A Figura 7 mostra isso. Intensidade Energética Intensidade Consumo FinalFonte: referência [5] 0,097 0,096 0,093 0,101 0,099 0,088 0,087 0,085 0,089 0,088 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018
  • 17. 17 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg A Tabela 5 compara as projeções da EPE com os dados correspondentes da União Europeia. A tabela evidencia que, usando as premissas do PDE 2027, para que o con- sumo per capita do Brasil em 2027 atingisse o consumo per capita da EU de 2017, seriam necessários cerca de 20 anos, mesmo deduzindo do consumo/ capita da União Europeia a energia para aquecimento residencial, que não é necessário no Brasil.[8] As intensidades energéticas no uso da energia primária, no Brasil e na EU, são comparadas na Figura 8, adotando-se o mesmo valor unitário para o ano de 1990. Enquanto a intensidade energética do Brasil é praticamente constante, a da União Europeia tem diminuído substancialmente, isto é, menos energia é ne- cessária para gerar o GNI. TABELA 5 | Indicadores de consumo de energia no Brasil e da União Europeia FIGURA 8 | Intensidade energética no Brasil e na União Europeia Fonte: referências [3] e [4] Fonte: referências [4] e [5] BRASIL UNIÃO EUROPEIA 2017 2027 2017 Consumo final de energia (106 tep) 260,0 325,3 Consumo de energia (106 tep) 293,5 367,4 Consumo de energia/capita (tep/ano) 1,41 1,66 3,08 GNI/capita em dólares de 2017 9.140 12.740 35.420 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,2 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 MJ/GNI=1em1990 01, UNIÃO EUROPEIA BRASIL
  • 18. 18 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg Este comportamento da intensidade enérgica se reflete claramente na evolu- ção da intensidade de carbono, definida como a quantidade de CO2 (em tones) emitida pelo uso da energia4 , dividida pelo GNI, como mostrado na Figura 9. O que parece essencial, portanto, é desvincular/quebrar a re- lação linear que existe no Brasil entre consumo de energia e GNI, o que significa fazer com que a intensidade energética se reduza (como aconteceu na União Europeia), ou seja, que a eficiência no uso de energia aumente. O comportamento da intensidade energética se reflete nas emissões totais de carbono (Figura 10) pelo uso da energia5 . 4 Sem considerar, portanto, as emissões por mudança de uso do solo e da agropecuária. 5 Sem considerar, portanto, as emissões por mudança de uso do solo e da agropecuária. FIGURA 9 | Intensidade de carbono do Brasil e da União Europeia (tCO2/GNI) FIGURA 10 | Emissões de CO2 per capita do Brasil e da União Européia (tCO2/capita) Fonte: referências [4] e [5] Fonte: referências [4] e [5] BRASIL UNIÃO EUROPEIA BRASIL UNIÃO EUROPEIA
  • 19. 19 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg Na União Europeia as emissões de CO² estão declinando, apesar do crescimen- to econômico. No Brasil, o aumento das emissões de carbono/capita a partir de 2005 se deve ao declínio da produção de hidroeletricidade e a redução do uso de madeira para usos domésticos[9] no país, e o uso de combustíveis fósseis para compensar este declínio. A expectativa é a de que o aumento significativo da contribuição de outras fontes renováveis (energia eólica, solar e hidroeletri- cidade) resolva este problema como mostra a figura 11[7] . FIGURA 11 | Evolução da participação das fontes na matriz energética brasileira (2017/2027) Fonte: PDE 2027, EPE/MME, 2018. Alternativa para Ponta Hidráulica PCH+EOL+BIO+SOL Térmica
  • 20. 20 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg A EFICIÊNCIA NO USO DA ENERGIA Até o presente, a área de eficiência energéti- ca no Brasil registra poucos avanços, apesar da existência de programas governamentais específicos, como o PEE (Programa de Efici- ência Energética) na ANEEL, PBE (Programa Brasileiro de Etiquetagem) no INMETRO, o PROCEL (Programa de Conservação de Eletri- cidade) no MME/Eletrobras, o CONPET (Pro- grama Nacional de Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natu- ral), executado pela Petrobras e o PROESCO (Programa de Apoio a Projetos de Eficiência Energética) no BNDES. Uma análise destes programas foi realizada pela EPE no Atlas da Eficiência Energética de 2019[5] . Segundo este Atlas, as ações do PROCEL eti- quetando os produtos que utilizam eletrici- dade, resultaram numa economia de 23 TWh equivalente a 4,87% de consumo de energia elétrica em 2018. Não há menção ao montan- te de eletricidade economizada nos progra- mas PEE da ANEEL. No setor de transporte, que representa cerca de 35% do consumo final de energia (Tabela 4), os progressos foram muito modestos. A in- tensidade energética (tep/passageiro.km) no transporte de passageiros se manteve cons- tante desde 1996, exceto no transporte aéreo (figura 12). 4 FIGURA 12 | Intensidade energética em modos de transporte de passageiros, Brasil - 2018 Fonte: referência [5] 0 10 20 30 40 50 60 70 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014 2016 2018 Rodoviário Leves Média Brasil Aéreo Coletivo Rodoviário Ferroviário Aquaviário
  • 21. 21 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg No transporte de cargas houve pequenos ganhos nos últimos anos devido à modernização dos caminhões importados. No que se refere à indústria, que representa cerca de 34% do consumo final de energia em 2018, os progressos em intensidade energética, no Brasil, foram muito pequenos em comparação com os de outros países como mostra a Fi- gura 13. Isso, naturalmente, reflete-se em baixa competitividade internacional. No setor residencial, que representa apenas 10% do consumo final, não ocorreram progressos significativos, exceto nos aparelhos de ar condicionado com o advento dos equipamentos tipo split e, mais recentemente, providos de inversores. A enorme distância entre o consumo atual dos países desenvolvidos e dos países em desenvolvimento é devido às tecnologias de baixa eficiência que utilizam. FIGURA 13 | Variação da intensidade energética da indústria, de 2000 a 2017, países selecionados Fonte: referência [5] -50% -40% -30% -20% -10% 0% 10% 20% 30% 2000 2005 2010 2015 ÍndicedeIntensidadeEnergéticana Indústria(2000) Brasil Argentina África do Sul México Índia Rússia Austrália 2017
  • 22. 22 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg CONCLUSÕES Para solucionar estes problemas a estratégia proposta por inúmeros analistas é “saltar na frente” (“leapfrog”) etapas de desenvolvimen- to[10] pelas quais os países industrializados passaram no passado, e adotá-las como parte do próprio processo de crescimento e desen- volvimento. Por exemplo, em regiões rurais (e na periferia de cidades) usa-se lenha para co- zinhar em fogões primitivos que tem uma efi- ciência menor do que 10%. A adoção de gás natural (ou biogás) para cozinhar em fogões modernos elevaria esta eficiência para valores superiores a 50%[9] . Iluminação com lâmpadas fluorescentes ou LED é muito mais eficiente do que as lâmpadas usadas no passado. Portan- to é neste sentido que deveriam se orientar as políticas públicas e não no aumento da oferta mantendo o uso de tecnologias ob- soletas. O Governo Federal dispõe de instrumentos legais para fazê-lo. A Política Nacional de Conservação e Uso Racional de Energia foi estabelecida pela Lei 10.295 de 17 de outu- bro de 2001. Esse diploma atribui ao Poder Executivo6 o dever de fixar e atualizar níveis mínimos de consumo específico de energia7 , para máquinas e aparelhos consumidores de energia fabricados ou comercializados no país, com base em indicadores técnicos per- tinentes. Mais ainda, estabelece também que “as máquinas e aparelhos consumidores de energia encontrados no país e no mundo sem as especificações legais deverão ser retirados pelos respectivos fabricantes e importadores”. O PROCEL (Programa Nacional de Conserva- ção de Energia Elétrica) se restringiu à ado- ção de um programa de etiquetagem de 6 Atualmente essa função é exercida pelo Comitê de Gestão dos Índices de Eficiência Energética (CGIEE), sediada no MME. 7 Internacionalmente conhecido como MEPS (Minimum Energy Performance Standards). alguns equipamentos elétricos, além de di- versos projetos que são, em geral, de apoio a entidades subnacionais com divulgação de informações e normas. Desde 1997 foram etiquetados refrigeradores, televisores, condi- cionadores de ar, maquinas de lavar roupas e lâmpadas o que resultou numa redução do consumo de eletricidade de 4,87% da eletri- cidade em 2018. Pouco foi feito na etiqueta- gem das construções no setor residencial e no setor industrial além de motores trifásicos. O Estado de São Paulo por sua vez adotou em 2009 uma Política Estadual de Mudanças Climáticas (PEMC) (Lei 13.798 de 9/11/2009) em que é estabelecida a meta de redução de 20% das emissões de dióxido de carbono re- lativas a 2005 em 2020. Para atingir este objetivo a Lei autoriza o Go- verno estadual a “estabelecer preços e tarifas públicas, tributos e outras formas de cobran- ça por atividades emissoras dos gases de efeito estufa”. Além disso, o Estado “definirá medidas reais mensuráveis e verificáveis para reduzir emissões antrópicas de efeito estufa devendo para tanto, adotar metas de efici- ência e mecanismos de troca de direitos ob- tidos”. Contudo a implementação do PEMC no Estado de São Paulo se restringiu até ago- ra à preparação de inventários de emissões antrópicas. A estratégia usada no passado para enfren- tar os problemas de energia do Brasil, como uma questão de oferta de energia, precisa ser complementada por uma visão mais abran- gente que inclua ações importantes pelo lado da demanda. Tratar eficiência como uma ati- vidade que tem baixa prioridade é uma visão obsoleta que precisa ser revista. 5
  • 23. 23 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg REFERÊNCIAS 1. J. Goldemberg “Energy in Brazil: Past and future” The Oxford Handbook of the Brazilian Economy 201-220 DOI: 10.1093/oxfordhb/9780190499983-013-38 2. Chontanawatt, J. Hunt, L. C. and Pierse R. Does energy consumption cause economic growth? Journal of Policy Modeling 30 (2008)209-220 3. Balanço Energético Nacional 2019 EPE, Ministério de Minas e Energia 4. EU Energy in figures Statistical pocketbook 2019 5. Atlas de Eficiência Energética Brasil 2019, Relatório de Indicadores, EPE. 6. O Compromisso do Brasil no Combate às Mudanças Climáticas: Produção e Uso de Energia, Junho 2016, EPE. 7. Plano Decenal de Expansão de Energia 2027 EPE, Ministério de Minas e Energia. 8. Mapping and analyses of the current future (2020-2030) Heating/Cooling full deployment, European Commission, march 2016 9. The energy transition history of fuelwood replacement for liquid petroleum gas in Brazilian households from 1970 to 2016, Coelho, S. t. et al – Energy Policy 188-41- 52 2018 10. J. Goldemberg; T. B. Johansson; A. K. N, Reddy and R. H. Williams Ambio vol 14 190-200 1980 11. World Development Indicators, The World DataBank. Retrieved from: https://databank.worldbank.org/source/world-development-indicators
  • 24. 24 ENERGIAedesenvolvimentonoBrasil JoséGoldemberg Sobre o Insituto E+ Transição Energética: O Instituto E+ Transição Energética é um think tank independente que promove o amplo diálogo para pautar a transição energética como vetor para o crescimen- to econômico de baixo carbono. Com foco no debate baseado em eviden- cias científicas, o Instituto E+ trabalha com uma equipe multidisciplinar e par- ceiros, produzindo conhecimento e estu- dos sobre soluções tecnológicas, sociais e econômicas para uma transição energé- tica eficaz e eficiente. www.emaisenergia.org Siga Instituto E+ Transição Energética emaistransicaoenergetica emaistransicao emaistransicao emais transicao energetica