APRESENTAÇÃO - Coloquio Coimbra Portugal 26.11.15.pdf
1. O meu corpo no corpo do outro:
arte performativa e vídeo,
dispositivos híbridos
Profa. Dra. Regilene A. Sarzi Ribeiro
UNESP/Brasil
2. Conexões transdisciplinares
Hibridismo entre linguagens – corpo e vídeo
Experiência estética (filosofia)
Presença do corpo (performance)
Vídeo (comunicação) como dispositivo-máquina
Produtor de linguagem e discurso
O texto é uma síntese da análise do vídeo Entre de
Nina Galanternick.
Investigamos dois aspectos inter-relacionados:
O corpo como um operador de sentido do dispositivo
audiovisual e o sincretismo corpo-máquina como
protagonista da construção de identidade do sujeito
performer e do espectador,
3. Brasil, anos 1970, o embate entre o dispositivo (câmera
de vídeo) e o corpo do artista, deu origem à arte do
vídeo no país,
Os artistas se apropriam dos recursos da máquina
(registros, enquadramentos e sons) para expor seu
corpo a discussões estéticas, sociais, culturais e
políticas.
“Diferentemente de outros países que produzem nos
anos 1970 performances e body art (arte corporal)
muitas vezes em espaços abertos, no Brasil tais
manifestações públicas são recriminadas, censuradas,
pelo Estado ditatorial. Os trabalhos performáticos são
realizados [...] em caráter privado, isolados do espaço
público, e documentados pela câmera de vídeo”.
(MELLO, 2008, p.144).
4. Anos de 1990, performances registradas por vídeos,
Imagem do corpo sofre intervenções dos recursos
gráficos e audiovisuais, edição e montagem,
Corpos múltiplos e multifacetados, fragmentados,
sobrepostos, mixados, articulados e recompostos.
Pensar o dispositivo como um aparelho para fazer ver e
falar conforme Michael Foucault, citado por Gilles
Deleuze (O que é um dispositivo?, 1989), representa
acionar a discussão sobre as relações entre obra,
artista e público.
Quem vê, o como vê e o que é visto fazem parte de um
mesmo sistema autopoiético (CAPRA, 2011), tal como
em uma ecologia da criação na qual cada elemento se
define necessariamente na relação com o outro (SARZI-
RIBEIRO, 2015).
5. A máquina, um dispositivo para fazer ver e falar se torna
muito mais do que um meio de registro e resistência, ela
é meio de expressão que visa questionar autoridades e
tabus.
Na criação contemporânea, o vídeo torna-se linguagem
plástica audiovisual a partir da qual som e imagem
compõem novos discursos do corpo.
Para Arlindo Machado (1997), a imagem eletrônica traz
um vasto campo de experimentações estéticas e
inúmeros recursos pós-produção, de edição e montagem
como cortes, sobreposições, distorções, anamorfoses,
mosaicos, colagens, colorizações, compressão ou
expansão da imagem (squeezoom).
6. Para analisar o vídeo Entre
(1999), da artista carioca
Nina Galanternick, tomamos
como eixos norteadores
algumas questões:
Qual a relação entre o corpo
performático e a linguagem
do vídeo?
Como os aspectos formais
(composição, espaço, luz, cor
e textura) operam arranjos
sonoro-visuais, que tornam
visíveis os corpos no vídeo
analisado?
Que sentido do outro e do si
mesmo são processados?
Frame do vídeo Entre de Nina
Galanternick (1999). 6 min, colorido e
som. Fonte: SARZI-RIBEIRO, 2012.
Frame do vídeo Entre de Nina
Galanternick (1999). 6 min colorido e
som. Fonte: SARZI-RIBEIRO, 2012.
7. No vídeo Entre, nos deparamos com cenas de
um corpo feminino mostrado em detalhes cuja
tonalidade de pele varia de um intenso
rosáceo ao vermelho e ao final, tons claros de
pele branca quase sem cor .
O corpo feminino é percorrido pela câmera de
cima a baixo e enquadrado na intimidade que
mostra particularidades dos membros do seu
rosto, cabelos, narinas, orelhas e boca.
Outras cenas focalizam pormenores como
pintas e machas do corpo e membros como
pés, nádegas e pelos da vagina.
8. A programação para sentir as coisas do mundo
por suas partes é uma função programada pelo
dispositivo da máquina da ordem do midiático
(comunicação), uma vez que está na essência da
linguagem do vídeo, a estrutura fragmentar
(SARZI-RIBEIRO, 2012).
O cinetismo da câmera é um traço da linguagem
audiovisual que gera movimentos compostos de
ritmo (rápido e lento) e velocidade (acelerado e
desacelerado) marcados pela continuidade e
descontinuidade nas cenas, e a totalidade e
parcialidade com que este corpo se faz visível.
9. Os percursos (orifícios e
passagens) sugeridos por
triangulações e
circunvoluções, resultantes
do contorno das formas e
partes do corpo, são
enquadrados por planos
fechados e zooms que
dirigem quem está
assistindo ao vídeo de fora
para dentro, do exterior
social e coletivo e para o
interior privado e íntimo,
configurando um ajuste à
programação do dispositivo
videográfico. Frames do vídeo Entre (1999). Gráficos de
relações entre o corpo e os percursos de
adentramento. Fonte: SARZI-RIBEIRO, 2012.
10. A arte performática se estende de dentro para fora
e de fora para dentro do vídeo.
O encantamento ou estranhamento que sentimos
diante dos portais de acesso ao corpo são
materializados pela linguagem videográfica, que
opera na ligação entre cenas rápidas e lentas e
superfícies planas em detrimento às aberturas do
corpo, composta pelo caminhar da câmera.
Por todas estas relações, o corpo do vídeo Entre é
um corpo conhecido na sua intimidade por um
dispositivo maquínico que se aproxima sempre com
o intuito de tornar visíveis os portais de acesso ao
corpo.
11. O corpo performático masculino nos remete a
valores e questões de gênero presentes nas relações
entre duas pessoas.
Interpretamos por oposições, o poder do corpo
masculino versus a fragilidade do corpo feminino e a
imposição de valores e usos do corpo.
O vídeo promove um contínuo para dentro do corpo
e um contínuo entre os corpos. O meu corpo no
corpo do outro.
Um corpo vivido que se torna presença a partir de
caminhos que querem burlar o mecânico e o
automático para ser sentido como algo vital e
fundamental à própria condição existencial do corpo.
12. Referências
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável.
7ª. ed. São Paulo: Cultrix, 2011.
DELEUZE, Gilles. Qu’est-ce qu’un dispositif? In: Michel Foucault
philosophe. Rencontre Internationale Paris, janvier 1998. Tradução
Ruy de Souza Dias. Paris: Seuil, 1989.
MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo: Brasiliense, 1997.
MELLO, Christine. Extremidades do vídeo. São Paulo: SENAC São Paulo,
2008.
SARZI-RIBEIRO, Regilene Aparecida. Análise Estética da Videoarte. O
meu corpo no corpo do outro. In: Pós: Revista do Programa de Pós-
Graduação em Artes, v. 04, p. 162-173, 2014.
_____. Regimes de visibilidade do corpo fragmentado e construção de
sentido e interação na videoarte brasileira. São Paulo, 2012. Tese
(Doutorado). Pontifícia Universidade Católica – PUC, São Paulo – SP.
384p.