Demonstra como a omissão de uso do respirador pode impactar, de maneira ímpar, na diminuição da eficácia de proteção do respirador. E assim, expor o trabalhador a situações não desejadas durante a jornada.
Fato este, que não pode ser esquecido durante a gestão do risco químico.
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Impacto do Tempo de Uso sobre Proteção Respiratória
1. Volume 1 - Edição 18 - Agosto de 2004
Este Informativo Técnico foi produzido pela área de Saúde Ocupacional e Segurança
Ambiental da 3M e é destinado aos Profissionais de Segurança. Se desejar obter mais
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Impacto do Tempo de Omissão do Uso sobre a Proteção Respiratória
O desempenho de um respirador depende de quatro características básicas. Três destas são
geralmente reconhecidas:
1. Eficiência do Filtro e resistência à respiração oferecida pelo filtro.
2. Vedação adequada do respirador à face do usuário.
3. Manutenção apropriada do respirador que garanta sua integridade física e ajude a
promover a proteção efetiva do trabalhador.
Uma quarta característica, entretanto, o Tempo Efetivo de Uso do respirador, é
freqüentemente negligenciada, embora possa ser considerada a mais importante. O tempo
de uso efetivo influencia de maneira significativa a eficácia ou não da proteção oferecida
por um respirador, mesmo que este tenha sido cuidadosamente projetado para atender às
três primeiras características.
Importância do Tempo de Uso
A necessidade de maximizar o tempo de uso se torna clara na medida em que se avaliam as
quatro formas pelas quais um contaminante pode penetrar nas vias respiratórias de um
trabalhador exposto:
1. Filtração Inadequada (Fig. 1): ocorre quando o contaminante passa através do meio
filtrante.
Se o respirador for selecionado corretamente e os filtros ou cartuc hos forem trocados
regularmente, esta possível rota de exposição do trabalhador não deve ser motivo de
preocupação.
2. Vedação Ineficiente (Fig. 2): ocorre quando o contaminante penetra através de falhas na
vedação facial (por exemplo: se o tamanho do respirador não for compatível com as
dimensões faciais do usuário, ou ao utilizar somente o elástico superior de respiradores com
dois tirantes, ou pelo ajuste incorreto do grampo nasal).
A selagem de um respirador à face do usuário pode ser avaliada através de métodos
qualitativos ou quantitativos de ensaios de vedação. Se um destes testes indicar que uma
2. vedação satisfatória foi obtida, preocupações quanto à exposição do trabalhador por esta
rota podem ser reduzidas.
3. Manutenção Inapropriada (Fig. 3): ocorre quando o contaminante penetra
indevidamente através de componentes danificados ou extraviados do respirador (por
exemplo: ocorrência de vazamentos em válvulas de inalação/exalação desgastadas, ou
esquecimento na reposição das válvulas após a higienização do respirador).
Um respirador sem a manutenção adequada pode não oferecer o nível de proteção esperado
em decorrência de potenciais vazamentos através de áreas danificadas do equipamento. Por
exemplo, mesmo um respirador que tenha sido aprovado em um ensaio de vedação facial
não fornecerá proteção adequada se sua válvula de exalação estiver bloqueada na posição
aberta por motivo de limpeza ou montagem inadequadas, ou se os filtros estiverem
danificados. Porém, com um programa de manutenção de respiradores implementado, é
possível minimizar a possibilidade de exposição por esta rota.
4. Tempo de Omissão do Uso (Fig. 4): se o respirador é removido em uma área onde há
necessidade de proteção respiratória - mesmo por um curto intervalo de tempo -
contaminantes podem penetrar diretamente as vias respiratórias do trabalhador (por
exemplo, quando um soldador remove o respirador nos momentos de ausência do arco em
operações de solda).
Reduzir o tempo de omissão de uso de respiradores durante a exposição é um fator crítico e
está relacionado a outros aspectos como aceitação e cooperação no uso por parte do
trabalhador. Este costuma ser o ponto onde a maioria dos Programas de Proteção
Respiratória falham.
Efeito do Tempo de Omissão do Uso sobre a Exposição
Dois exemplos ajudarão a ilustrar o efeito do tempo de omissão do uso sobre a exposição
do trabalhador.
Exemplo 1: Considerando a seguinte situação:
a) a concentração do contaminante no ar está 10 vezes acima do Limite de Exposição
Ocupacional (LEO);
b) o Fator de Vedação (FV) do respirador é 100 (mínimo requerido para respiradores
purificadores de ar tipo peça semifacial com pressão negativa1);
c) o respirador não é utilizado durante 10% do tempo de exposição.
3. Nesta situação, durante o tempo de não uso do respirador, o trabalhador é exposto a uma
concentração de contaminante de 10 vezes o LEO durante 10% do tempo da jornada, ao
passo que durante os 90% do tempo remanescente o respirador protegerá o trabalhador. Se
estas duas exposições forem somadas, o nível total de exposição irá ultrapassar o LEO, de
tal forma que o trabalhador estará super-exposto.
Exemplo 2: Considerando a seguinte situação: a) a concentração do contaminante no ar é a
mesma (10 x LEO);
b) o Fator de Vedação (FV) do respirador é o mesmo (100); porém
c) o Tempo de Uso do respirador subiu para 95% (ou seja, não é utilizado durante 5% do
tempo de exposição).
Ao aumentar em 5% o Tempo de Uso do respirador em relação ao exemplo anterior, a
exposiçãodo trabalhador é reduzida aproximadamente pela metade, encontrando-se, agora,
dentro de um nível aceitável.
Uma comparação entre as duas situações demonstra que simplesmente ao aumentar o
Tempo de Uso de 90% para 95% do tempo total de exposição, o trabalhador estará mais
bem protegido. Este aumento de 5% equivale a um adicional de 24 minutos de não uso em
uma jornada de 8 horas de trabalho, ou um adicional de 6 minutos de omissão por hora de
exposição na área contaminada.
Quando utilizado corretamente durante o turno de trabalho, um respirador adequadamente
selecionado fornece um excelente nível de proteção e ajuda a reduzir a exposição do
trabalhador a níveis abaixo do LEO. Entretanto, este nível de proteção será
substancialmente reduzido se o respirador não for utilizado - mesmo que por breves
intervalos de tempo - quando o trabalhador estiver exposto a uma atmosfera contaminada.
Fator de Proteção Efetivo
Uma outra maneira de analisar o impacto do tempo de omissão do uso de respiradores
consiste em avaliar seus possíveis efeitos sobre o fator de proteção atribuído ao respirador.
O Fator de Proteção Atribuído (FPA) é o nível mínimo de proteção respiratória que se
4. espera alcançar no local de trabalho por usuários devidamente treinados e submetidos a um
ensaio de vedação facial, ao utilizarem um respirador com funcionamento adequado2.
Aos respiradores purificadores de ar do tipo peça semifacial, quando utilizados com pressão
negativa, é atribuído um FPA igual a 10. Espera-se que a maioria dos usuários obtenha no
mínimo este nível de proteção quando os critérios acima forem obedecidos.
Contudo, os Fatores de Proteção Atribuídos aos respiradores previstos nas normas de
proteção respiratória somente podem ser considerados válidos quando o respirador tiver
sido adequadamente selecionado, submetido a um ensaio de vedação facial, recebido a
manutenção necessária e, principalmente, se o respirador for utilizado durante todo o
tempo da exposição. O efeito do tempo de omissão do uso de respiradores sobre o Fator de
Proteção Atribuído (FPA) pode ser determinado através do cálculo do Fator de Proteção
Efetivo.
O Fator de Proteção Efetivo (FPE) pode ser estimado, nos casos em que a concentração do
contaminante no ambiente permanece razoavelmente constante, a partir da seguinte
expressão:
Onde: T = tempo total de exposição = Tu + To
Tu = tempo que o respirador foi usado
To = tempo de omissão de uso, isto é, em que o respirador não foi usado
FV = Fator de Vedação do respirador
O Exemplo 3 mostra o caso de um trabalhador, cujo tempo total de exposição é de 6 horas,
que utiliza um respirador com FPA de 10, mas omite o uso durante 10% do tempo em que
permanece na área contaminada.
5. Os cálculos mostram que um tempo de uso de 90% resulta em um FPE menor que 10. Um
FPE < 10 em um ambiente com um nível de exposição de 10 x LEO indica que este
trabalhador está em uma situação em que uma super-exposição pode ocorrer.
No Exemplo 4, os mesmos valores são utilizados, porém o tempo de uso foi aumentado
para 95% do tempo total de exposição.
Um tempo de uso de 95% resulta em um FPE de 16,8 para o mesmo respirador utilizado no
exemplo 3. Neste caso, o FPA mínimo de 10 foi atingido de tal forma que o trabalhador
estará mais bem protegido do que no exemplo anterior.
Nestes dois exemplos seria requerido um respirador com um FPE de no mínimo 10. Ambos
os trabalhadores estavam utilizando respiradores que poderiam fornecer este nível de
proteção, embora somente o segundo tenha alcançado um FPE maior ou igual a 10. A
discrepância entre as duas situações foi resultado de uma diferença de 5% nos tempos de
uso efetivo do respirador. O trabalhador com um tempo de uso de 95% estará melhor
protegido.
6. A Figura 5 ilustra graficamente o efeito do aumento do tempo de uso sobre o desempenho
de um respirador com FPA de 10 (Fator de Vedação = 100). Pode-se observar que
selecionar respiradores com Fatores de Proteção Atribuídos elevados não terá um efeito
significativo sobre o FPE a menos que um tempo de uso efetivo extremamente alto seja
garantido. Utilizar um respirador com alto FPA durante 90% ou menos do tempo total de
exposição resultará em FPE's menores do que 10. À medida que se aumenta a porcentagem
de tempo de uso do respirador, verifica-se um aumento substancial do Fator de Proteção
Efetivo oferecido ao usuário.
Dados respiradores com o mesmo nível de eficiência do filtro e fatores de vedação
comparáveis, somente aqueles trabalhadores que aumentarem seu tempo de uso para 95%
ou mais da jornada alcançarão Fatores de Proteção Efetivos maiores do que 10. A
porcentagem do tempo de uso de um respirador é um aspecto tão importante que pode
facilmente anular diferenças entre respiradores com FPA's distintos. Em outras palavras, se
o tempo de uso efetivo é inferior a 95% do tempo total de exposição, selecionar
respiradores com Fatores de Proteção Atribuídos mais altos poderá ser de pouca utilidade
prática.
Conclusões
• Características de um equipamento de proteção respiratória, tais como filtração
eficiente, boa vedação e manutenção adequada são importantes, mas podem ser
rapidamente anuladas em função da quantidade de tempo em que o trabalhador
omite o uso de um respirador.
• Treinamento aos usuários - incluindo orientações específicas sobre o tema "Tempo
de Omissão do Uso" - é um dos elementos mais críticos na implementação de um
Programa de Proteção Respiratória bem-sucedido.
• Dados de estudos sobre o Fator de Proteção Efetivo mostram que aumentar a
porcentagem de tempo que um respirador é utilizado para 95% ou mais do tempo
total de exposição a um contaminante pode ajudar a manter os níveis de exposição
abaixo do LEO e proporcionar maior proteção ao trabalhador.
• Além de implementar um programa educacional e disciplinar dos trabalhadores, os
empregadores podem favorecer o tempo de uso de respiradores especificando
equipamentos testados e aprovados, que tenham maior aceitação por parte do
usuário em virtude de seu conforto, menor peso, facilidade de respiração e
comunicação. Quanto maior o nível de conforto oferecido pelo respirador, maior
será sua aceitação por parte do usuário e, conseqüentemente, maior deverá ser o
tempo de uso do respirador durante a jornada bem como o grau de proteção obtido
pelo trabalhador.
Referências
1. "Respiratory Protection", Federal Register 63:5 (8 January 1998) pp. 1225.
2. American National Standards Institute (ANSI): American National Standard for
Respiratory Protection (ANSI Z88.2-1992). New York: American National Standards
7. Institute, Inc., 1992.
3. Torloni, M.; Vieira, A.V. Manual de Proteção Respiratória São Paulo: ABHO, 2003,
pp. 314-315.