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ENTREVISTA COM NELSON PROENÇA
Polibio – Nós vamos ouvir hoje o empreendedor gaúcho Nelson Proença. Ele foi o criador e principal
diretor da Guapo Capital Group. Foi também secretário do desenvolvimento econômico, foi deputado
federal, mas não vamos falar sobre política. Vamos falar sobre o Cite, que é uma nova Ong, podemos
chamar de Ong?
Proença – Não é uma Ong, eu diria que é um movimento.
Polibio – Então, Cite é um movimento, a sigla quer dizer Comunidade de Inovação, Tecnologia e
Empreendedorismo. É um grupo de empreendedores aqui do RS, de intelectuais, de profissionais liberais,
também de políticos que se organizou para ver se molharam as condições de Porto Alegre, se moderniza
Porto Alegre. O que foi feito em São Francisco, nos EUA, por exemplo, mudou o perfil da cidade e ela se
tornou moderna como é hoje. Vamos até ver se isso não é inútil em Porto Alegre. Já saiu a primeira ação
desse grupo que foi uma missão que foi aos EUA, para o Vale do Silício, olhar o que tem de melhor no
mundo. Vamos colocar o espectador a par do que está acontecendo aqui em Porto Alegre. Tem alguma coisa
parecida com o Cite no Brasil?
Proença – Posso te garantir que não tem nada parecido com o que nós estamos fazendo. A ideia surgiu a
partir da constatação de que Porto Alegre e o RS vivem uma encruzilhada no seu projeto de
desenvolvimento econômico. O RS começa a ter muitas dificuldades. A indústrias metalúrgica, o polo
metal/mecânico no RS passa a ter uma perspectiva ruim, difícil por duas razões: primeiro porque sempre foi
muito complicado fabricar no RS, trazendo peças do centro do país, juntar aquilo e vender no centro do país;
em segundo lugar: com a chegada da BMW, da fábrica de motores da GM e da Mercedes Benz a SC, criouse um eixo que vai de Joinville a São José dos Pinhais, no Paraná, onde está a fábrica da Renault, Volvo,
Scania. A impressão que eu tenho é que isso vai funcionar como uma espécie de barreira.
Polibio – Barreira para o RS.
Proença – Exatamente, será muito difícil para nós atrairmos mais investimentos ao RS. É natural que as
empresas que não queiram ficar em São Paulo ou no Nordeste, terminem ficando ali naquele eixo que vai de
Joinville a São José dos Pinhais. Isso vai enfraquecer a possibilidade de crescimento do nosso polo
metal/mecânico.
Polibio – Você está falando em polo metal/mecânico porque é o principal ramo do RS.
Proença – É, a nossa base industrial está muito calcada em cima do polo metal/mecânico.
Leandro – Que é Porto Alegre e Caxias.
Proença – Tem um pouco ali em Passo Fundo também, no norte do estado.
Polibio – Em função das fábricas agrícolas daquela região, relacionadas com isso, em Erechim.
Proença – É, implementos agrícolas, etc. Ficou difícil para o RS. A outra dificuldade que o estado tem é
para fazer crescer seu agronegócio. Ficou muito difícil para nós competirmos com o centro-oeste brasileiro
que tem áreas muito maiores, planas, muito mais fáceis de serem mecanizáveis.
Polibio – Em alguns lugares podem fazer duas safras por ano.
Proença – Com soja, por exemplo, é uma safra só, mas eles têm um regime muito mais estável de chuvas do
que nós. Eu tenho um amigo gaúcho que está produzindo no Mato Grosso e ele diz que a impressão que tem
é que tem um interruptor lá: plantou e está na hora da chuva, liga a interruptor e começa a chover; agora tem
que colher, vai lá e desliga o interruptor. O regime é estável, ao contrário do nosso. O que faltava no centrooeste, durante esses anos todos, eram variedades adaptadas para a condição de serrado, isso a Embrapa fez, e
faltava empreendedores, isso o RS corrigiu. Nós mandamos nossos empreendedores para lá.
Polibio – Mas eles têm problemas graves de logística.
Proença – Sim e não. Eles estão terminando o asfaltamento da estrada Cuiabá-Santarém. Toda aquela região
vai escoar sua produção por Santarém.
Polibio – Pelo Pará. Não vai para Santos, porque atualmente vai para Santos.
Proença – Hoje uma parte vai por Santos, vai para Paranaguá, mas uma parte já começa a subir por
Santarém. Os Maggi lá nem tiram por Santarém, tiram pelo Porto Itacoatiara no Amazonas. Assim,
Santarém, embora esteja a 1000 km do mar, ali passam graneleiros. Passa uma hidrovia ali. Os graneleiros
abastecem os terminais da Cargil de Santarém e sai dali direto para a China ou direto para os EUA. A
solução logística que Santarém e aqueles portos da Amazônia permitem ao centro-oeste é uma solução
espetacular. Outra coisa é a seguinte: andando devagar, mas andando é a ferrovia norte-sul. Uma parte dessa
produção do centro-oeste será escoada por trem até o porto de Itaqui no Maranhão. De lá, muito mais perto
para a Europa do que Santos e Paranaguá.
Polibio – Ou seja, nossa indústria aqui está bloqueada. A agropecuária do RS já está perdendo para lá para
cima, e sobra o que então?
Proença – Esse que é o ponto. Esse grupo foi criado para ver a vocação econômica do RS. O que nós temos
aqui que nos pudesse dar uma vantagem competitiva? Nós temos boas universidades, temos uma mão de
obra bem formada, nós temos uma qualidade de vida que ainda é boa, como estado. Começamos a olhar que
lugares do mundo conseguem se beneficiar com condições parecidas com a nossa. O que chama,
imediatamente, a atenção é São Francisco e o Vale do Silício. Eu não exagero quando digo que a maior área
com centro de inovação tecnológica, talvez da história da humanidade, está ali no Vale do Silício. Eu diria
que São Francisco está hoje para o mundo como Florença esteve para o renascimento.
Polibio – E onde fica a China nisso?
Proença – A China é uma consumidora e produtora de coisas baratas. A inovação tecnológica está no Vale
do Silício.
Stormer – A China não inova, ela pega uma inovação, embala, industrializa e larga em escala.
Leandro – Às vezes, até piratiando.
Proença – A capacidade de inovação está no vale do Silício. Eles fizeram empresas com grande capacidade
de inovação tecnológica que viraram empresas bilionárias e que mudaram a vida da humanidade. Alguém
consegue imaginar sua vida sem o Google?
Polibio – Dê um exemplo...
Proença – O Google, a Aplle. Alguém consegue imaginar sua vida sem o Google?
Leandro – Tem o Facebook que apesar de não ter nascido lá, foi desenvolvido lá.
Proença – Foi para lá, tudo está lá. Twitter, tudo. Agora essas empresas de OpenData e de BigData que nós
visitamos lá, que são o futuro. Visitamos empresas que prometem ser o futuro daqui a 5 ou 10 anos.
Polibio – Ai vocês miraram em São Francisco e no Vale do Silício.
Proença – O que eles têm lá que permitiu isso?
Polibio – Como é essa história de se inspirar em São Francisco, no Vale do Silício e, a partir daí, desenhar
alguma coisa aqui para Porto Alegre?
Proença – A ideia é a seguinte: por que São Francisco transformou-se no maior centro de inovação e
desenvolvimento tecnológico da história da humanidade? Nenhum outro lugar no mundo conseguiu se
comparar ao que São Francisco fez a região do vale do Silício. Nós fomos lá olhar e tem algumas coisas que
chama a atenção. A primeira delas: não tem grandes investimentos públicos, não tem subsídios, não tem
grandes infraestruturas, não tem incentivos fiscais. Eles criaram uma condição que é muito interessante, ela
é baseada em alguns valores que são caros à humanidade e que lá funcionaram como um incentivo á
inovação. Por exemplo, completa democracia, abertura, diversidade cultural e étnica. Uma das coisas que
nós visitamos foi uma universidade chamada Singularity University, é mantida pelo Google e pela NASA,
eu tinha feito um treinamento com eles há 2 anos em São Paulo. Passei uma terça-feira e um sábado
mergulhado, com umas 40 pessoas, e eu era o mais velho dentro da classe. A Singularity fez um estudo
muito interessante. Pegaram não me lembro de quantas, mas umas 600 ou 700 empresas de tecnologia que
deram certo lá e foram olhar essas empresas e chagaram a conclusões impressionantes: 55% das empresas
que deram certo no Vale do Silício nos EUA eram de não americanos. Que nacionalidade? Todas! Indiano,
chinês, brasileiro, da Mongólia, da Polônia, de todo lugar. Segunda coisa interessante: 85% dos
empreendedores que tinham feito sucesso já tinham fracassado uma, duas ou três vezes. Um indiano estava
apresentando essa pesquisa e ainda fez uma piada “vocês que estão ai, empreendedores, executivos, vocês
têm o hábito de pegar um currículo e selecionar os que acertam, o sujeito que fracassou vocês dispensam;
mas é ao contrário, vocês precisam ir em busca dos caras que já fracassaram, porque esses adquiriram
experiência e eles provavelmente terão uma chance maior de corrigir o que erraram”. Você vai olhar, essa
diversidade cultural e étnica faz um caldo de cultura muito interessante. Nós estivemos na universidade de
Stanford, eles têm um centro que chama de Design que é, na verdade, um centro de planejamento para
grupos que vão fazer criação. Eles chamam o programa deles de RainForest, Floresta tropical, e dizem o
seguinte “um ambiente criativo tem que ser um ambiente anárquico como uma floresta tropical”. O contrário
da floresta tropical é a agricultura que é toda organizada. Ali não tem inovação e nem criatividade. A
criatividade se dá nesses ambientes onde há diversidade, onde há um tipo de situação de inovação
comportamental. Não é a toa que São Francisco foi o berço do movimento hippie nos EUA na década de 60.
Não é a toa que São Francisco é a capital do movimento gay no mundo.
Leandro – E da tecnologia verde também.
Proença – Exatamente, é a cidade mais Green, mais verde do mundo. Esse ambiente criado lá é um
facilitador da cultura. É claro, eles estão apoiados em duas grandes universidades, Stanford e Berkeley, mas
as empresas estão progredindo fora das universidades também ou na relação com as universidades.
Polibio – E no que isso pode servir de inspiração para Porto Alegre?
Leandro – Ou para o Brasil como um todo.
Proença – Eu conheci um sujeito que é o cara que coordena essa atividade de RainForest, é um nigeriano,
ele virá a Porto Alegre, talvez seja a pessoa mais brilhante que eu conheci na minha vida. Ele é um cientista
de estado. Ele diz o seguinte: “os russos vieram para cá, viram o modelo, gastaram três ou quatro bilhões de
dólares tentando replicar o Vale do Silício na Rússia, não vai funcionar” ele disse, “porque falta à Rússia
uma coisa essencial que é a diversidade étnica e cultural”.
Leandro – E a liberdade também.
Proença – Então, “onde esse sistema pode funcionar?”, ele disso “em países como o Brasil, onde há essa
diversidade, esse censo de liberdade; na Índia também há diversidade”. Tem algumas coisas que nós
poderemos fazer e que podem criar esse ambiente.
Polibio – Por exemplo?
Proença – Uma delas: parece simples, mas essencial, Porto Alegre precisa falar inglês. Porto Alegre não
fala inglês. Essa é uma vantagem que os indianos têm sobre nós.
Polibio – Temos dificuldade de falar português.
Proença – Uma das propostas do Cite é um programa chamado Porto Alegre Fale Inglês. Quando nós
mostramos esse programa lá, todo mundo achou ótima a ideia, até o prefeito de São Francisco, as
universidades, o mundo está disposto a achar um programa para isso. A outra coisa que nós temos que fazer
é abrir a cidade. Porto Alegre tem que ser um polo de atração para quem vem de fora, para quem tem ideias,
para quem quiser vir se instalar aqui da América Latina, da África, da Europa, dos EUA, de onde quiser.
Esse ambiente de multiplicidade étnica e cultural é que facilitam.
Leandro – É interessante você falar isso, porque eu estive na Suíça faz duas semanas, mas no ponto de vista
da diversidade é impressionante. Na capital, Berna, 48% das pessoas que moram lá não são suíços e são
muito bem aceitos. Apesar de ser mais conservadora, é uma cidade muito rica. A Suíça, como um todo, é um
país muito rico. Eles são muito abertos, historicamente, para influências externas. É impressionante como
parece que essa diversidade gera certa...
Proença – A Suíça tem um componente cultural que é complicado. Eu tenho um amigo que morou anos na
Suíça e ele diz o seguinte: “a Suíça é um país fácil de entender, metade das coisas são obrigatórias, a outra
metade é proibida”. Nesses ambientes não se cria a floresta tropical, o meio anárquico como é São
Francisco. São Francisco é uma cidade contestadora, contesta o tempo inteiro. Não é a toa que o Obama fez
quase 90% dos votos em São Francisco. Eles estão muito animados, o pessoal de lá, porque eles acham que
no Brasil e em Porto Alegre há o caldo de cultura para fazer isso. A coisa que mais me impressionou: você
entra nas empresas, nas empresas novas, essas que serão o Google ou o Facebook daqui a 5 anos, uma
empresa chamada Spank, por exemplo, que faz esse Bidata que é capaz de pegar todas as informações de
uma companhia de telefone celular, por exemplo, e aproveitar aquelas coisas. Você entra e eles têm um
hábito, os pesquisadores, desenvolvedores de software colocam a bandeira do seu país em cima da sua
estação de trabalho. Tem bandeira do mundo inteiro, o que menos tem é americano. Esse ambiente é que faz
o que eles conseguiram criar lá e que traz gente do mundo inteiro para ajudar a fazer um polo de inovação e
tecnologia.
Polibio – Acho que vale a pena tentar, mas não é inútil fazer isso aqui em Porto Alegre? O gaúcho é muito
conservador, tem problemas de mudança. Não é inútil?
Proença – Acho que não. Acho que Porto Alegre é um lugar apropriado para isso. Porto Alegre tem
algumas posições, aqui somos gremistas ou colorados, somos chimangos ou maragatos, isso é verdade. Mas
Porto Alegre é uma cidade mais aberta, é uma cidade mais cosmopolita, mais viajada.
Polibio – viajada e cosmopolita em relação a que?
Proença – A outras capitais do Brasil. Talvez por posição geográfica sejamos assim. Como ficou
igualmente difícil mandar nossos produtos a São Paulo ou para a Europa, a gente acabou virando um estado
exportador. O RS tem uma plataforma industrial que é exportadora.
Polibio – Mas perde para Minas Gerais e para o Paraná.
Proença – Sim, mas Minas Gerais está exportando minério, comodities.
Polibio – Nós só temos comodities.
Proença – Não, o polo metal/mecânico é exportador.
Leandro – Agrega mais valor.
Proença – Claro, a indústria agrega valor ao exportar algum produto agregado. Para nós o grau de
dificuldade é mais ou menos o mesmo, quase tanto faz do ponto de vista logístico, se for mandar para São
Paulo, para Minas, para vender para o Triângulo das Bermudas ou se for mandar para fora. Isso nos
transformou numa cidade um pouco mais aberta, mais cosmopolita. As universidades daqui ajudam a fazer a
diferença.
Polibio – Você está otimista hoje.
Proença – Não, eu sou realista Polibio. O que nos resta aqui hoje? Está difícil de desenvolver o polo
metal/mecânico; a nossa agroindústria passa por um ponto de saturação, não tem mais área para ocupar,
temos dificuldade com clima e etc. Nós temos algumas coisas que podem ser vantagens competitivas e é
nisso que temos que apostar. Por exemplo, esse Porto Alegre Fala Inglês nós estamos levando muito a sério.
Nós precisamos fazer os jovens falarem inglês. Inglês é a língua dos negócios, é a língua do mundo. Até
alguns anos atrás havia um ranço ideológico em falar inglês.
Polibio – Acho que aqui continua esse ranço.
Proença – Esse ranço está isolado, as pessoas achavam que era uma subordinação. Nada disso, inglês é a
língua dos negócios, tem que falar. Outra coisa que tem que fazer é mudar um pouco o comportamento das
nossas universidades. Elas estão atentas a isso, todas as três que estiveram conosco lá...
Polibio – UFRGS, Unisinos e PUC. Você está falando numa missão que foi feita há 3 meses.
Proença – Foi um grupo de empresários, as universidades, foram acadêmicos, foi o prefeito Fortunatti, dois
ou três secretários do prefeito. Cumpriu-se uma agenda de visitar as empresas, visitar as universidades,
visitar instituições que financiam as empresas nascentes, visitar a prefeitura de São Francisco. O prefeito de
São Francisco ficou entusiasmado com a ideia de ter alguma coisa assim em Porto Alegre. Ai, de novo, nós
brasileiros somos ciclotivos. Até um ano e meio atrás, dois anos, nós achávamos que o Brasil era a 8°
maravilha do mundo, era a bola da vez. Nós saltamos de achar que era bom para agora nada mais presta. A
imagem do Brasil fora ainda é boa, as pessoas querem vir para cá, querem investir aqui. As pessoas
enxergam um mercado enorme no Brasil.
Polibio – Mas eles sabem o que vão encontrar aqui?
Proença – O Polibio está muito pessimista!
Leandro – Mas o prefeito de São Francisco não quer exportar alguns políticos para cá também?
Proença – Leandro, eles têm os mesmos problemas com os políticos que nós temos aqui. Aqui nós temos
um ditado, uma coisa muito difícil é encontrar uma agulha no palheiro; sabe como é na Inglaterra? Encontrar
uma mão honesta no Parlamento. O prefeito de Washington foi pego, anos atrás, numa armadilha do FBI
fumando crack. Filmaram o cara fumando crack. Como ele tinha envolvimento com traficantes ele perdeu o
cargo, foi condenado, foi preso, foi para uma clínica de reabilitação. Saiu da clínica, começou um
movimento nacional para recuperar os direitos políticos. Anistiaram ele, ele foi prefeito de Washington de
novo e o que aconteceu? Ganhou a eleição. A Califórnia é o lugar, talvez hoje, mais civilizado do mundo.
Um centro de inovação, onde nasceu o movimento verde de preservação. Quem era o governador da
Califórnia há dois anos?
Polibio – Arnold Swatzneger.
Proença – Conan, o Bárbaro era o governador. Quem poderia imaginar que ele seria bom? Nem americano
é, ele é austríaco.
Polibio – Ele conseguiu provar que era um bom gestor nos negócios privados, dele.
Proença – Como ele conseguiu provar?
Polibio – Na campanha eleitoral.
Proença – Então, os mandatários que são reeleitos, passaram no teste, é isso? Cuidado! Provavelmente ano
que vem, seremos obrigados a voltar a essa discussão, porque vários mandatários serão reeleitos e vamos ter
que admitir que eles passaram no teste.
Polibio – Bom, eu sou a favor da reeleição.
Proença – Se a Dilma ganhar a eleição, você vai mudar de opinião sobre ela?
Polibio – Não, não vou não. A maioria da população quis isso, eu vou continuar contra ela, é evidente.
Leandro – Acho importante a questão do investimento. Nós sabemos que além das facetas colocadas pelo
Proença, é a capacidade de investimento. Há capital disponível para investimento, especialmente no Vale do
Silício, são centenas de fundos, com bilhões de dólares à disposição. Como nós podemos resolver este
problema aqui no Brasil?
Proença – Nós temos capital disponível. Eu sempre estive em empresas na área de tecnologia. Lembro-me
de uma empresa que fiz, vendi até há alguns anos, uma empresa que operava telefonia e protocolo de
internet. Eu registrei a empresa nos EUA para ser uma empresa americana, porque eu achava que era mais
fácil financiar a empresa lá. Depois até abriu capital na Nasdak. Hoje você não precisa fazer isso, tem
fundos disponíveis aqui.
Polibio – Então, o que está faltando aqui? Pessoas? Projetos?
Leandro – Acho que outro ponto importante é que estamos numa situação, no país, que levanta uma grande
dúvida, passamos da fase da euforia e, nos últimos meses, estamos numa fase negativa. Inclusive com muita
apreensão em relação aos rumos que o atual governo deu para a economia, deu até para a política. Nós
estamos passando, segundo o Ministro, uma minicrise cambial. Segundo um amigo meu é como dizer que
tem uma mulher meio grávida. Dentro desses cenários em que vemos a bolsa patinando, muito pessimismo,
uma percepção muito negativa. Nós temos sinais de que o governo não está cuidando muito bem das
finanças em termos de déficits crescentes, gastos constantes com o custeio da máquina, simplesmente.
Dentro desse cenário todo, a sua perspectiva é de uma mudança para melhor, de uma retomada ou não?
Como nós estamos?
Proença – É o seguinte, isso é um pouco do nosso caráter nacional, e os gaúchos não são diferentes do resto
do Brasil. A gente salta da euforia para a profunda depressão. Depois, da depressão para a euforia. Há dois
anos o Brasil era uma maravilha, agora é uma porcaria. Nem era verdade que era a 8ª maravilha do mundo,
nem é verdade que é uma porcaria. O Brasil ainda é uma terra de oportunidades espetaculares. Costumo
dizer aos meus filhos “vocês nasceram no lugar certo, na hora certa”, eu não conheço nenhum outro país no
mundo, talvez EUA, onde haja tantas oportunidades quanto no Brasil. Um estrangeiro que mora aqui há
anos lembrou de um programa de TV que tinha em que as crianças sorteadas entravam em um supermercado
de brinquedos, tocava uma sirene e eles tinham um minuto para pegar a maior quantidade de brinquedos que
pudessem. O nome do jogo era o seguinte, quando tocava a sirene, ela tinha que segurar aquilo, se caísse um
brinquedo perdia. Parava de tocar a sirene, tudo que ela tinha conseguido segurar na mão ela levava para
casa. O drama das crianças era “pego muito e corro o risco de cair ou me garanto pegando pouco, mas deixo
de pegar os outros?”. Acho que o Brasil está mais ou menos assim hoje. Tem tantas oportunidades que ele
nem sabe para onde vai. Eu tenho uma empresa de negócios que é a Guapo, onde fazemos fusões,
aquisições, compra e venda, têm um ramo de desenvolvimento imobiliário, a gente nem sabe para onde vai
com tantas oportunidades. Um amigo americano diz o seguinte: “vocês fizeram tudo errado, não fizeram a
tal da reforma tributária, não fizeram a reforma disso, a reforma daquilo, só que o motor do carro de vocês é
tão forte que isso tudo o que vocês não fizeram trava a roda do carro do Brasil, mas o motor é tão forte que
vai arrastar o carro com as rodas travadas”. Essa questão do câmbio, sempre que houve desvalorização do
câmbio no Brasil, houve um reaquecimento da plataforma industrial brasileira. A minha tese é de que o
câmbio depreciado é bom para o RS. Nós vamos voltar a exportar o que tínhamos dificuldade de exportar.
Para isso é que existe o tal do dólar flutuante. A ideia é essa: quando tem excesso de dólar, diminui o preço
do dólar, o real se valoriza, ai é hora de comprar, comprar tecnologia de empresas do exterior. Foi o que o
Brasil fez. Agora, quando nós começamos a ter dificuldade com a balança de pagamentos, o câmbio
flutuante se encarrega de corrigir isso. Na medida em que há uma apreciação do dólar e desvalorização do
real, imediatamente eu tenho um pouco mais de inflação, mas a consequência disso é o arranjo da balança
comercial e, consequentemente, da balança de pagamento do Brasil.
Stormer – Dentro dessa ideia, nós conversamos com o André Esteves e ele disse exatamente isso “quantas
empresas bilionárias foram criadas na Europa nos últimos 10 anos?”. Se formos parar para pensar, não
conseguimos encher uma mão. Quantas empresas bilionárias surgiram nos EUA? Nós enchemos várias
mãos. O mesmo processo acontece aqui no Brasil. Existe a possibilidade de criar 100 empresas bilionárias
neste país, muito mais fácil do que na Europa. O que nós precisamos fazer para conseguir aumentar a
quantidade de empresas bilionárias? E ai já vem ideia do Cite de colocar bons projetos, trazer ideias, trazer
pessoas. O que as pessoas que estão em casa, que gostariam de participar do Cite, eventualmente entrar em
contato com as ideias do Cite, como eles podem fazer isso?
Proença – Nós estamos abertos, e quem quiser vir é bem vindo, quem quiser trazer suas ideias. Nós não
temos nenhuma organização formal do Cite. Estamos pensando em dar um pouco de institucionalidade, ter
um caráter institucional. Não é uma instituição de governo, é uma instituição da sociedade. Depois eu dou os
endereços para colocarem no site de vocês. Todo mundo é bem-vindo. Quem teve a ideia de fazer isso foi
José Cesar Martins, que tem uma casa em São Francisco e passa parte do tempo lá.
Polibio – Ele foi secretário estadual do Trabalho, chefe de gabinete.
Proença – No governo Britto, quando eu era secretário do governo, ele foi o presidente da Polo, agência de
desenvolvimento. Depois, ele é um empresário bem sucedido da área de tecnologia, tem uma empresa bem
sucedida que é a GolDigital.
Polibio – Ele passa uma parte do tempo nos EUA?
Proença – isso, em São Francisco. Nós nos organizamos, nesses lugares onde fomos, nas universidades
americanas, nas empresas, nós tivemos oportunidade de nos apresentar e apresentar o RS. O José Cesar fez
uma coisa muito esperta, ele dividia as pessoas que iam falar entre os jovens. Nós tínhamos empreendedores
aqui do RS, caras com cara de empreendedor na área de tecnologia, barbas de cinco dias na cara, mochila
nas costas. Os velhos como eu para falar um pouco no estado, em como era. A diversidade do RS e do Brasil
é uma coisa que encanta os estrangeiros. Porto Alegre tem isso, gente de tudo que é nacionalidade. O que
falta para o Brasil e para o RS é abrir mais o país. Facilitar a vinda de estrangeiros, de trabalhadores
estrangeiros, nós estamos precisando. Nós não temos mão de obra, tem que deixar vir de fora. Abrir o país.
Foi isso que os americanos fizeram lá no Vale do Silício. Tu entras numa empresa bem sucedida lá e tu
encontras um americano aqui e outro lá. Tem gente de todas as nacionalidades.
Polibio – Vamos a uma pergunta do telespectador, sobre o que está fazendo o Nelson Proença. Acho que a
pergunta correta seria o que ele não está fazendo. Você, agora, é um empreendedor privado, abandonou a
política?
Proença – É, a gente nunca abandona completamente, mas eu não tenho mais militância partidária, nem
nada. Chegou um momento em que eu perdi a motivação. Alguns jornalistas perguntam “tu te decepcionou
com a política e por isso tu deixaste”. Eu não me decepcionei, durante 20 anos eu tive muita motivação, de
repente eu comecei a me dar conta que eu ia dormir domingo de noite e pensava “que saco, amanhã eu tenho
que pegar um avião e ir para Brasília”. Bom, espera ai, está na hora de eu largar esse negócio e mudar. Foi o
que eu decidi fazer.
Polibio – A motivação, na vida de uma pessoa, é fundamental.
Proença – É tudo. Agora estou muito feliz, a Guapo é uma coisa que eu faço com muito carinho, que é uma
empresa de negócios, temos um grupo de analistas. Nós estamos fazendo compra, venda, fusões, aquisições,
estamos portando recursos através de um fundo de ... Capital, estamos iniciando empresas de tecnologia,
temos um braço imobiliário. Há menos de um mês, nós iniciamos um bairro em Pelotas.
Polibio – Quem são os parceiros?
Proença – Joal Taitelbaum e Jaime Lerner, foi ele quem fez o projeto de ocupação. É um projeto muito
legal. É o primeiro bairro sustentável do Brasil. O Jaime tem uma frase interessante “quanto mais alto é o
muro do condomínio onde você vive, mais gente tem te esperando do lado de fora”. Há seis meses a Veja
fez uma matéria de capa sobre construção sustentável, essas técnicas de Green Business, e o exemplo do
Brasil foram as obras do Taitelbaum.
Polibio – Foram eles que conseguiram as primeiras certificações internacionais.
Leandro – Foi provado que a margem de lucro nesse tipo de negócio é muito maior do que nas condições
tradicionais. Associa-se algo sustentável com algo que é economicamente viável.
Proença – O Joal diz assim “daqui a alguns anos, não é que todo mundo vai fazer construção sustentável,
todo mundo vai se perguntar como era possível não fazer a construção sustentável”.
Polibio – Quando ele começou algumas pessoas aqui de Porto Alegre acharam que ele estava louco,
acharam que era só marketing. Antes de você ter perdido a motivação e parar com a atividade parlamentar,
no governo, e a partidária; política todos nós sempre vamos fazer. “Somos animais políticos” dizia o
Aristóteles.
Proença – Eu fui Secretário do Desenvolvimento, antes fui Chefe da Casa Civil, fui Secretário Geral no
governo Britto. Fui Secretário de Desenvolvimento no governo da Yeda e fui Deputado Federal durante 20
anos.
Polibio – Passou também pelo governo federal.
Proença – Tive uma passagem, eu trabalhava na IBM, era diretor de ações corporativas em Brasília, e fui
ajudar na campanha do Tancredo, de forma voluntária da época. Ai morre o Tancredo, eu fiz amizade com o
Sarney e uma vez ele pediu à IBM que eu fosse emprestado para o governo federal durante um ano. A IBM
pagava os meus salários, me mantinha, mas cedido por ela para a presidência da República.
Polibio – Para que área?
Proença – Para a área de programas sociais. Eles tinham a Seac, Secretaria de Educação e Ação
Comunitária.
Leandro – Uma pergunta, o Jones coloca o seguinte: “aqui no nosso sofrido norte, em Belém, ouvimos
sempre que no RS o que é bom é bom mesmo, excelente, mas o que não é bom é muito ruim; tem a história
da expulsão da Ford e outras notícias que chegaram por aqui foram as decisões do governo do estado sobre
as concessões de estradas. Parece, para nós, que Porto Alegre tem um bom prefeito. Dá para fazer as
transformações que vocês estão debatendo sem um governo empreendedor?”.
Proença – Muito boa pergunta. Eu acho que dá, é claro que tudo fica mais fácil se tiver um governo
empreendedor e se o governo ajudar. Esse movimento não foi criado para se basear no governo ou para
depender do governo, tanto municipal como estadual. Esse é um movimento da sociedade, a sociedade é que
tem que fazer esse movimento de transformação.
Polibio – Esse é o marco legal que existe, seja o governo empreendedor ou não, vocês vão tocar o barco.
Proença – Vamos. Nós encontramos muito boa receptividade por parte do prefeito Fortunatti. Ele se liberou
de sua agenda, foi conosco, com grande humildade assistiu as aulas que nós assistimos, fez as perguntas. Lá
em Stanford na usina, centro de desenho e criatividade tinha coisas interessantes que a gente tinha que fazer.
Brincadeiras de escola, brinquedos simulados, ele participou de tudo. Acho que ele vai ajudar com certeza.
Agora, o movimento não precisa depender do governo.
Leandro – O Anderson coloca: “moro em Caxias do Sul, sei que tem o polo metal/mecânico, e gostaria de
saber como se dá o encaixe no que vocês discutiram”.
Proença – Nós estamos trabalhando primeiro com a ideia de Porto Alegre, mas isso sendo bem sucedido, é
levado para o estado inteiro. Principalmente para cidades mais modernas como Caxias. Lá tem universidade,
tem mão de obra qualificada, tem boa qualidade de vida. As cidades que se beneficiarão imediatamente são
essas, Caxias, Pelotas, Porto Alegre, Canoas, Santa Maria.
Polibio – Me disse um caxiense, em uma ocasião, que Caxias é muito movida à inveja. Vou dar um
exemplo, eu trabalhava na revista Exame e fui fazer uma reportagem, na época, com o Raul Randon. Ele
trabalhava onde morava, o escritório era uma peça pequena. Perguntei para ele “Sr. Raul, como se explica
esse progresso de Caxias?” e ele “você é de onde?” e eu “sou de Porto Alegre”, ele disse “é que em Porto
Alegre vocês são movidos a ciúme”, eu perguntei “e vocês?”, “nós somos movidos à inveja”. Eu perguntei a
diferença de inveja e ciúme e ele “ciúme, que é o caso de vocês em Porto Alegre, o sujeito chega em casa e a
mulher diz pra ele assim – olha José, o vizinho comprou uma geladeira – como vocês são ciumentos vocês
pegam uma marreta e quebram a geladeira. Eu chego em casa e a Maria diz – Raul, o vizinho comprou uma
geladeira – eu olho para a Maria e digo então eu vou comprar um freezer”. Se ele comprar mais um motor
para a fábrica dele, eu compro dois para a minha.
Proença – Eu estudei em Caxias, e eles tinham um hábito, antigamente, entre as pessoas mais velhas, que
era de se encontrar e ver quem tinha mais dinheiro no bolso. No banco não, ali na hora, no bolso.
Leandro – Aproveitando, é bom receber pessoas otimistas no nosso programa, porque temos uma visão um
pouco mais pessimista sobre as coisas. Eu li um livro interessante na viagem sobre previsões. Ele coloca a
importância de que sempre que fizermos uma previsão, pensarmos na chance de ela estar certa ou errada. A
nossa grande preocupação é o ambiente do país, ambiente dos negócios, ambiente político, ambiente legal.
Na sua visão, qual é a chance de nós passarmos por problemas parecidos como o da Argentina?
Proença – Acho muito remotas as chances. A impressão que eu tenho, e agora faço uma avaliação política,
é que o governo federal, a presidente e o Ministro da economia se deram conta de que erraram muito e estão
procurando corrigir. Não sei qual é a opinião de vocês, mas esse movimento do Banco Central, de
estabelecer um programa de leilões de dólar até o final do ano trouxe certa estabilidade e diminuiu um pouco
a volatilidade do câmbio, da moeda, porque os agentes econômicos podem prever exatamente como podem
se comportar...
Leandro – As visões que nós temos percepções e até conversas com o Banco Central, é que o Banco Central
tem uma visão uma visão que é um pouco diferente do núcleo do governo.
Polibio – Mas a política está certa, eu acho que dá realmente uma estabilidade.
Proença – O que eu quero dizer é que, aparentemente, a presidente se deu conta de que ela tem que devolver
a autonomia do banco. Acho que eles se deram conta da burrada, desculpe a expressão, e estão procurando
corrigir.
Leandro – Uma crise institucional séria, nesse sentido...
Proença – Claro que sempre pode haver, mas acho que não há nenhuma razão para isso. Foram em junho as
manifestações, o Brasil foi para a rua, foi uma bagunça, o que aconteceu? Nada! O país continua
funcionando, no outro dia todo mundo limpava e abria o seu negócio. Há certa solidez institucional no
Brasil, isso eu acho que foi o grande crescimento do Brasil nos últimos anos. As coisas não funcionam muito
bem, mas funcionam. Na Argentina é diferente. Por exemplo, não ocorre a nenhum brasileiro contestar uma
decisão do Supremo Tribunal Federal. As pessoas até reclamam, mas não passa na cabeça de nenhum
brasileiro dizer “eu não vou cumprir”. Lá não, a Suprema Corte Argentina decide uma coisa e as pessoas
decidem não cumprir. Acho que essas diferenças são fundamentais.

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Entrevista com nelson proença

  • 1. ENTREVISTA COM NELSON PROENÇA Polibio – Nós vamos ouvir hoje o empreendedor gaúcho Nelson Proença. Ele foi o criador e principal diretor da Guapo Capital Group. Foi também secretário do desenvolvimento econômico, foi deputado federal, mas não vamos falar sobre política. Vamos falar sobre o Cite, que é uma nova Ong, podemos chamar de Ong? Proença – Não é uma Ong, eu diria que é um movimento. Polibio – Então, Cite é um movimento, a sigla quer dizer Comunidade de Inovação, Tecnologia e Empreendedorismo. É um grupo de empreendedores aqui do RS, de intelectuais, de profissionais liberais, também de políticos que se organizou para ver se molharam as condições de Porto Alegre, se moderniza Porto Alegre. O que foi feito em São Francisco, nos EUA, por exemplo, mudou o perfil da cidade e ela se tornou moderna como é hoje. Vamos até ver se isso não é inútil em Porto Alegre. Já saiu a primeira ação desse grupo que foi uma missão que foi aos EUA, para o Vale do Silício, olhar o que tem de melhor no mundo. Vamos colocar o espectador a par do que está acontecendo aqui em Porto Alegre. Tem alguma coisa parecida com o Cite no Brasil? Proença – Posso te garantir que não tem nada parecido com o que nós estamos fazendo. A ideia surgiu a partir da constatação de que Porto Alegre e o RS vivem uma encruzilhada no seu projeto de desenvolvimento econômico. O RS começa a ter muitas dificuldades. A indústrias metalúrgica, o polo metal/mecânico no RS passa a ter uma perspectiva ruim, difícil por duas razões: primeiro porque sempre foi muito complicado fabricar no RS, trazendo peças do centro do país, juntar aquilo e vender no centro do país; em segundo lugar: com a chegada da BMW, da fábrica de motores da GM e da Mercedes Benz a SC, criouse um eixo que vai de Joinville a São José dos Pinhais, no Paraná, onde está a fábrica da Renault, Volvo, Scania. A impressão que eu tenho é que isso vai funcionar como uma espécie de barreira. Polibio – Barreira para o RS. Proença – Exatamente, será muito difícil para nós atrairmos mais investimentos ao RS. É natural que as empresas que não queiram ficar em São Paulo ou no Nordeste, terminem ficando ali naquele eixo que vai de Joinville a São José dos Pinhais. Isso vai enfraquecer a possibilidade de crescimento do nosso polo metal/mecânico. Polibio – Você está falando em polo metal/mecânico porque é o principal ramo do RS. Proença – É, a nossa base industrial está muito calcada em cima do polo metal/mecânico. Leandro – Que é Porto Alegre e Caxias. Proença – Tem um pouco ali em Passo Fundo também, no norte do estado. Polibio – Em função das fábricas agrícolas daquela região, relacionadas com isso, em Erechim. Proença – É, implementos agrícolas, etc. Ficou difícil para o RS. A outra dificuldade que o estado tem é para fazer crescer seu agronegócio. Ficou muito difícil para nós competirmos com o centro-oeste brasileiro que tem áreas muito maiores, planas, muito mais fáceis de serem mecanizáveis. Polibio – Em alguns lugares podem fazer duas safras por ano. Proença – Com soja, por exemplo, é uma safra só, mas eles têm um regime muito mais estável de chuvas do que nós. Eu tenho um amigo gaúcho que está produzindo no Mato Grosso e ele diz que a impressão que tem é que tem um interruptor lá: plantou e está na hora da chuva, liga a interruptor e começa a chover; agora tem
  • 2. que colher, vai lá e desliga o interruptor. O regime é estável, ao contrário do nosso. O que faltava no centrooeste, durante esses anos todos, eram variedades adaptadas para a condição de serrado, isso a Embrapa fez, e faltava empreendedores, isso o RS corrigiu. Nós mandamos nossos empreendedores para lá. Polibio – Mas eles têm problemas graves de logística. Proença – Sim e não. Eles estão terminando o asfaltamento da estrada Cuiabá-Santarém. Toda aquela região vai escoar sua produção por Santarém. Polibio – Pelo Pará. Não vai para Santos, porque atualmente vai para Santos. Proença – Hoje uma parte vai por Santos, vai para Paranaguá, mas uma parte já começa a subir por Santarém. Os Maggi lá nem tiram por Santarém, tiram pelo Porto Itacoatiara no Amazonas. Assim, Santarém, embora esteja a 1000 km do mar, ali passam graneleiros. Passa uma hidrovia ali. Os graneleiros abastecem os terminais da Cargil de Santarém e sai dali direto para a China ou direto para os EUA. A solução logística que Santarém e aqueles portos da Amazônia permitem ao centro-oeste é uma solução espetacular. Outra coisa é a seguinte: andando devagar, mas andando é a ferrovia norte-sul. Uma parte dessa produção do centro-oeste será escoada por trem até o porto de Itaqui no Maranhão. De lá, muito mais perto para a Europa do que Santos e Paranaguá. Polibio – Ou seja, nossa indústria aqui está bloqueada. A agropecuária do RS já está perdendo para lá para cima, e sobra o que então? Proença – Esse que é o ponto. Esse grupo foi criado para ver a vocação econômica do RS. O que nós temos aqui que nos pudesse dar uma vantagem competitiva? Nós temos boas universidades, temos uma mão de obra bem formada, nós temos uma qualidade de vida que ainda é boa, como estado. Começamos a olhar que lugares do mundo conseguem se beneficiar com condições parecidas com a nossa. O que chama, imediatamente, a atenção é São Francisco e o Vale do Silício. Eu não exagero quando digo que a maior área com centro de inovação tecnológica, talvez da história da humanidade, está ali no Vale do Silício. Eu diria que São Francisco está hoje para o mundo como Florença esteve para o renascimento. Polibio – E onde fica a China nisso? Proença – A China é uma consumidora e produtora de coisas baratas. A inovação tecnológica está no Vale do Silício. Stormer – A China não inova, ela pega uma inovação, embala, industrializa e larga em escala. Leandro – Às vezes, até piratiando. Proença – A capacidade de inovação está no vale do Silício. Eles fizeram empresas com grande capacidade de inovação tecnológica que viraram empresas bilionárias e que mudaram a vida da humanidade. Alguém consegue imaginar sua vida sem o Google? Polibio – Dê um exemplo... Proença – O Google, a Aplle. Alguém consegue imaginar sua vida sem o Google? Leandro – Tem o Facebook que apesar de não ter nascido lá, foi desenvolvido lá. Proença – Foi para lá, tudo está lá. Twitter, tudo. Agora essas empresas de OpenData e de BigData que nós visitamos lá, que são o futuro. Visitamos empresas que prometem ser o futuro daqui a 5 ou 10 anos. Polibio – Ai vocês miraram em São Francisco e no Vale do Silício.
  • 3. Proença – O que eles têm lá que permitiu isso? Polibio – Como é essa história de se inspirar em São Francisco, no Vale do Silício e, a partir daí, desenhar alguma coisa aqui para Porto Alegre? Proença – A ideia é a seguinte: por que São Francisco transformou-se no maior centro de inovação e desenvolvimento tecnológico da história da humanidade? Nenhum outro lugar no mundo conseguiu se comparar ao que São Francisco fez a região do vale do Silício. Nós fomos lá olhar e tem algumas coisas que chama a atenção. A primeira delas: não tem grandes investimentos públicos, não tem subsídios, não tem grandes infraestruturas, não tem incentivos fiscais. Eles criaram uma condição que é muito interessante, ela é baseada em alguns valores que são caros à humanidade e que lá funcionaram como um incentivo á inovação. Por exemplo, completa democracia, abertura, diversidade cultural e étnica. Uma das coisas que nós visitamos foi uma universidade chamada Singularity University, é mantida pelo Google e pela NASA, eu tinha feito um treinamento com eles há 2 anos em São Paulo. Passei uma terça-feira e um sábado mergulhado, com umas 40 pessoas, e eu era o mais velho dentro da classe. A Singularity fez um estudo muito interessante. Pegaram não me lembro de quantas, mas umas 600 ou 700 empresas de tecnologia que deram certo lá e foram olhar essas empresas e chagaram a conclusões impressionantes: 55% das empresas que deram certo no Vale do Silício nos EUA eram de não americanos. Que nacionalidade? Todas! Indiano, chinês, brasileiro, da Mongólia, da Polônia, de todo lugar. Segunda coisa interessante: 85% dos empreendedores que tinham feito sucesso já tinham fracassado uma, duas ou três vezes. Um indiano estava apresentando essa pesquisa e ainda fez uma piada “vocês que estão ai, empreendedores, executivos, vocês têm o hábito de pegar um currículo e selecionar os que acertam, o sujeito que fracassou vocês dispensam; mas é ao contrário, vocês precisam ir em busca dos caras que já fracassaram, porque esses adquiriram experiência e eles provavelmente terão uma chance maior de corrigir o que erraram”. Você vai olhar, essa diversidade cultural e étnica faz um caldo de cultura muito interessante. Nós estivemos na universidade de Stanford, eles têm um centro que chama de Design que é, na verdade, um centro de planejamento para grupos que vão fazer criação. Eles chamam o programa deles de RainForest, Floresta tropical, e dizem o seguinte “um ambiente criativo tem que ser um ambiente anárquico como uma floresta tropical”. O contrário da floresta tropical é a agricultura que é toda organizada. Ali não tem inovação e nem criatividade. A criatividade se dá nesses ambientes onde há diversidade, onde há um tipo de situação de inovação comportamental. Não é a toa que São Francisco foi o berço do movimento hippie nos EUA na década de 60. Não é a toa que São Francisco é a capital do movimento gay no mundo. Leandro – E da tecnologia verde também. Proença – Exatamente, é a cidade mais Green, mais verde do mundo. Esse ambiente criado lá é um facilitador da cultura. É claro, eles estão apoiados em duas grandes universidades, Stanford e Berkeley, mas as empresas estão progredindo fora das universidades também ou na relação com as universidades. Polibio – E no que isso pode servir de inspiração para Porto Alegre? Leandro – Ou para o Brasil como um todo. Proença – Eu conheci um sujeito que é o cara que coordena essa atividade de RainForest, é um nigeriano, ele virá a Porto Alegre, talvez seja a pessoa mais brilhante que eu conheci na minha vida. Ele é um cientista de estado. Ele diz o seguinte: “os russos vieram para cá, viram o modelo, gastaram três ou quatro bilhões de dólares tentando replicar o Vale do Silício na Rússia, não vai funcionar” ele disse, “porque falta à Rússia uma coisa essencial que é a diversidade étnica e cultural”. Leandro – E a liberdade também.
  • 4. Proença – Então, “onde esse sistema pode funcionar?”, ele disso “em países como o Brasil, onde há essa diversidade, esse censo de liberdade; na Índia também há diversidade”. Tem algumas coisas que nós poderemos fazer e que podem criar esse ambiente. Polibio – Por exemplo? Proença – Uma delas: parece simples, mas essencial, Porto Alegre precisa falar inglês. Porto Alegre não fala inglês. Essa é uma vantagem que os indianos têm sobre nós. Polibio – Temos dificuldade de falar português. Proença – Uma das propostas do Cite é um programa chamado Porto Alegre Fale Inglês. Quando nós mostramos esse programa lá, todo mundo achou ótima a ideia, até o prefeito de São Francisco, as universidades, o mundo está disposto a achar um programa para isso. A outra coisa que nós temos que fazer é abrir a cidade. Porto Alegre tem que ser um polo de atração para quem vem de fora, para quem tem ideias, para quem quiser vir se instalar aqui da América Latina, da África, da Europa, dos EUA, de onde quiser. Esse ambiente de multiplicidade étnica e cultural é que facilitam. Leandro – É interessante você falar isso, porque eu estive na Suíça faz duas semanas, mas no ponto de vista da diversidade é impressionante. Na capital, Berna, 48% das pessoas que moram lá não são suíços e são muito bem aceitos. Apesar de ser mais conservadora, é uma cidade muito rica. A Suíça, como um todo, é um país muito rico. Eles são muito abertos, historicamente, para influências externas. É impressionante como parece que essa diversidade gera certa... Proença – A Suíça tem um componente cultural que é complicado. Eu tenho um amigo que morou anos na Suíça e ele diz o seguinte: “a Suíça é um país fácil de entender, metade das coisas são obrigatórias, a outra metade é proibida”. Nesses ambientes não se cria a floresta tropical, o meio anárquico como é São Francisco. São Francisco é uma cidade contestadora, contesta o tempo inteiro. Não é a toa que o Obama fez quase 90% dos votos em São Francisco. Eles estão muito animados, o pessoal de lá, porque eles acham que no Brasil e em Porto Alegre há o caldo de cultura para fazer isso. A coisa que mais me impressionou: você entra nas empresas, nas empresas novas, essas que serão o Google ou o Facebook daqui a 5 anos, uma empresa chamada Spank, por exemplo, que faz esse Bidata que é capaz de pegar todas as informações de uma companhia de telefone celular, por exemplo, e aproveitar aquelas coisas. Você entra e eles têm um hábito, os pesquisadores, desenvolvedores de software colocam a bandeira do seu país em cima da sua estação de trabalho. Tem bandeira do mundo inteiro, o que menos tem é americano. Esse ambiente é que faz o que eles conseguiram criar lá e que traz gente do mundo inteiro para ajudar a fazer um polo de inovação e tecnologia. Polibio – Acho que vale a pena tentar, mas não é inútil fazer isso aqui em Porto Alegre? O gaúcho é muito conservador, tem problemas de mudança. Não é inútil? Proença – Acho que não. Acho que Porto Alegre é um lugar apropriado para isso. Porto Alegre tem algumas posições, aqui somos gremistas ou colorados, somos chimangos ou maragatos, isso é verdade. Mas Porto Alegre é uma cidade mais aberta, é uma cidade mais cosmopolita, mais viajada. Polibio – viajada e cosmopolita em relação a que? Proença – A outras capitais do Brasil. Talvez por posição geográfica sejamos assim. Como ficou igualmente difícil mandar nossos produtos a São Paulo ou para a Europa, a gente acabou virando um estado exportador. O RS tem uma plataforma industrial que é exportadora. Polibio – Mas perde para Minas Gerais e para o Paraná.
  • 5. Proença – Sim, mas Minas Gerais está exportando minério, comodities. Polibio – Nós só temos comodities. Proença – Não, o polo metal/mecânico é exportador. Leandro – Agrega mais valor. Proença – Claro, a indústria agrega valor ao exportar algum produto agregado. Para nós o grau de dificuldade é mais ou menos o mesmo, quase tanto faz do ponto de vista logístico, se for mandar para São Paulo, para Minas, para vender para o Triângulo das Bermudas ou se for mandar para fora. Isso nos transformou numa cidade um pouco mais aberta, mais cosmopolita. As universidades daqui ajudam a fazer a diferença. Polibio – Você está otimista hoje. Proença – Não, eu sou realista Polibio. O que nos resta aqui hoje? Está difícil de desenvolver o polo metal/mecânico; a nossa agroindústria passa por um ponto de saturação, não tem mais área para ocupar, temos dificuldade com clima e etc. Nós temos algumas coisas que podem ser vantagens competitivas e é nisso que temos que apostar. Por exemplo, esse Porto Alegre Fala Inglês nós estamos levando muito a sério. Nós precisamos fazer os jovens falarem inglês. Inglês é a língua dos negócios, é a língua do mundo. Até alguns anos atrás havia um ranço ideológico em falar inglês. Polibio – Acho que aqui continua esse ranço. Proença – Esse ranço está isolado, as pessoas achavam que era uma subordinação. Nada disso, inglês é a língua dos negócios, tem que falar. Outra coisa que tem que fazer é mudar um pouco o comportamento das nossas universidades. Elas estão atentas a isso, todas as três que estiveram conosco lá... Polibio – UFRGS, Unisinos e PUC. Você está falando numa missão que foi feita há 3 meses. Proença – Foi um grupo de empresários, as universidades, foram acadêmicos, foi o prefeito Fortunatti, dois ou três secretários do prefeito. Cumpriu-se uma agenda de visitar as empresas, visitar as universidades, visitar instituições que financiam as empresas nascentes, visitar a prefeitura de São Francisco. O prefeito de São Francisco ficou entusiasmado com a ideia de ter alguma coisa assim em Porto Alegre. Ai, de novo, nós brasileiros somos ciclotivos. Até um ano e meio atrás, dois anos, nós achávamos que o Brasil era a 8° maravilha do mundo, era a bola da vez. Nós saltamos de achar que era bom para agora nada mais presta. A imagem do Brasil fora ainda é boa, as pessoas querem vir para cá, querem investir aqui. As pessoas enxergam um mercado enorme no Brasil. Polibio – Mas eles sabem o que vão encontrar aqui? Proença – O Polibio está muito pessimista! Leandro – Mas o prefeito de São Francisco não quer exportar alguns políticos para cá também? Proença – Leandro, eles têm os mesmos problemas com os políticos que nós temos aqui. Aqui nós temos um ditado, uma coisa muito difícil é encontrar uma agulha no palheiro; sabe como é na Inglaterra? Encontrar uma mão honesta no Parlamento. O prefeito de Washington foi pego, anos atrás, numa armadilha do FBI fumando crack. Filmaram o cara fumando crack. Como ele tinha envolvimento com traficantes ele perdeu o cargo, foi condenado, foi preso, foi para uma clínica de reabilitação. Saiu da clínica, começou um movimento nacional para recuperar os direitos políticos. Anistiaram ele, ele foi prefeito de Washington de novo e o que aconteceu? Ganhou a eleição. A Califórnia é o lugar, talvez hoje, mais civilizado do mundo.
  • 6. Um centro de inovação, onde nasceu o movimento verde de preservação. Quem era o governador da Califórnia há dois anos? Polibio – Arnold Swatzneger. Proença – Conan, o Bárbaro era o governador. Quem poderia imaginar que ele seria bom? Nem americano é, ele é austríaco. Polibio – Ele conseguiu provar que era um bom gestor nos negócios privados, dele. Proença – Como ele conseguiu provar? Polibio – Na campanha eleitoral. Proença – Então, os mandatários que são reeleitos, passaram no teste, é isso? Cuidado! Provavelmente ano que vem, seremos obrigados a voltar a essa discussão, porque vários mandatários serão reeleitos e vamos ter que admitir que eles passaram no teste. Polibio – Bom, eu sou a favor da reeleição. Proença – Se a Dilma ganhar a eleição, você vai mudar de opinião sobre ela? Polibio – Não, não vou não. A maioria da população quis isso, eu vou continuar contra ela, é evidente. Leandro – Acho importante a questão do investimento. Nós sabemos que além das facetas colocadas pelo Proença, é a capacidade de investimento. Há capital disponível para investimento, especialmente no Vale do Silício, são centenas de fundos, com bilhões de dólares à disposição. Como nós podemos resolver este problema aqui no Brasil? Proença – Nós temos capital disponível. Eu sempre estive em empresas na área de tecnologia. Lembro-me de uma empresa que fiz, vendi até há alguns anos, uma empresa que operava telefonia e protocolo de internet. Eu registrei a empresa nos EUA para ser uma empresa americana, porque eu achava que era mais fácil financiar a empresa lá. Depois até abriu capital na Nasdak. Hoje você não precisa fazer isso, tem fundos disponíveis aqui. Polibio – Então, o que está faltando aqui? Pessoas? Projetos? Leandro – Acho que outro ponto importante é que estamos numa situação, no país, que levanta uma grande dúvida, passamos da fase da euforia e, nos últimos meses, estamos numa fase negativa. Inclusive com muita apreensão em relação aos rumos que o atual governo deu para a economia, deu até para a política. Nós estamos passando, segundo o Ministro, uma minicrise cambial. Segundo um amigo meu é como dizer que tem uma mulher meio grávida. Dentro desses cenários em que vemos a bolsa patinando, muito pessimismo, uma percepção muito negativa. Nós temos sinais de que o governo não está cuidando muito bem das finanças em termos de déficits crescentes, gastos constantes com o custeio da máquina, simplesmente. Dentro desse cenário todo, a sua perspectiva é de uma mudança para melhor, de uma retomada ou não? Como nós estamos? Proença – É o seguinte, isso é um pouco do nosso caráter nacional, e os gaúchos não são diferentes do resto do Brasil. A gente salta da euforia para a profunda depressão. Depois, da depressão para a euforia. Há dois anos o Brasil era uma maravilha, agora é uma porcaria. Nem era verdade que era a 8ª maravilha do mundo, nem é verdade que é uma porcaria. O Brasil ainda é uma terra de oportunidades espetaculares. Costumo dizer aos meus filhos “vocês nasceram no lugar certo, na hora certa”, eu não conheço nenhum outro país no mundo, talvez EUA, onde haja tantas oportunidades quanto no Brasil. Um estrangeiro que mora aqui há
  • 7. anos lembrou de um programa de TV que tinha em que as crianças sorteadas entravam em um supermercado de brinquedos, tocava uma sirene e eles tinham um minuto para pegar a maior quantidade de brinquedos que pudessem. O nome do jogo era o seguinte, quando tocava a sirene, ela tinha que segurar aquilo, se caísse um brinquedo perdia. Parava de tocar a sirene, tudo que ela tinha conseguido segurar na mão ela levava para casa. O drama das crianças era “pego muito e corro o risco de cair ou me garanto pegando pouco, mas deixo de pegar os outros?”. Acho que o Brasil está mais ou menos assim hoje. Tem tantas oportunidades que ele nem sabe para onde vai. Eu tenho uma empresa de negócios que é a Guapo, onde fazemos fusões, aquisições, compra e venda, têm um ramo de desenvolvimento imobiliário, a gente nem sabe para onde vai com tantas oportunidades. Um amigo americano diz o seguinte: “vocês fizeram tudo errado, não fizeram a tal da reforma tributária, não fizeram a reforma disso, a reforma daquilo, só que o motor do carro de vocês é tão forte que isso tudo o que vocês não fizeram trava a roda do carro do Brasil, mas o motor é tão forte que vai arrastar o carro com as rodas travadas”. Essa questão do câmbio, sempre que houve desvalorização do câmbio no Brasil, houve um reaquecimento da plataforma industrial brasileira. A minha tese é de que o câmbio depreciado é bom para o RS. Nós vamos voltar a exportar o que tínhamos dificuldade de exportar. Para isso é que existe o tal do dólar flutuante. A ideia é essa: quando tem excesso de dólar, diminui o preço do dólar, o real se valoriza, ai é hora de comprar, comprar tecnologia de empresas do exterior. Foi o que o Brasil fez. Agora, quando nós começamos a ter dificuldade com a balança de pagamentos, o câmbio flutuante se encarrega de corrigir isso. Na medida em que há uma apreciação do dólar e desvalorização do real, imediatamente eu tenho um pouco mais de inflação, mas a consequência disso é o arranjo da balança comercial e, consequentemente, da balança de pagamento do Brasil. Stormer – Dentro dessa ideia, nós conversamos com o André Esteves e ele disse exatamente isso “quantas empresas bilionárias foram criadas na Europa nos últimos 10 anos?”. Se formos parar para pensar, não conseguimos encher uma mão. Quantas empresas bilionárias surgiram nos EUA? Nós enchemos várias mãos. O mesmo processo acontece aqui no Brasil. Existe a possibilidade de criar 100 empresas bilionárias neste país, muito mais fácil do que na Europa. O que nós precisamos fazer para conseguir aumentar a quantidade de empresas bilionárias? E ai já vem ideia do Cite de colocar bons projetos, trazer ideias, trazer pessoas. O que as pessoas que estão em casa, que gostariam de participar do Cite, eventualmente entrar em contato com as ideias do Cite, como eles podem fazer isso? Proença – Nós estamos abertos, e quem quiser vir é bem vindo, quem quiser trazer suas ideias. Nós não temos nenhuma organização formal do Cite. Estamos pensando em dar um pouco de institucionalidade, ter um caráter institucional. Não é uma instituição de governo, é uma instituição da sociedade. Depois eu dou os endereços para colocarem no site de vocês. Todo mundo é bem-vindo. Quem teve a ideia de fazer isso foi José Cesar Martins, que tem uma casa em São Francisco e passa parte do tempo lá. Polibio – Ele foi secretário estadual do Trabalho, chefe de gabinete. Proença – No governo Britto, quando eu era secretário do governo, ele foi o presidente da Polo, agência de desenvolvimento. Depois, ele é um empresário bem sucedido da área de tecnologia, tem uma empresa bem sucedida que é a GolDigital. Polibio – Ele passa uma parte do tempo nos EUA? Proença – isso, em São Francisco. Nós nos organizamos, nesses lugares onde fomos, nas universidades americanas, nas empresas, nós tivemos oportunidade de nos apresentar e apresentar o RS. O José Cesar fez uma coisa muito esperta, ele dividia as pessoas que iam falar entre os jovens. Nós tínhamos empreendedores aqui do RS, caras com cara de empreendedor na área de tecnologia, barbas de cinco dias na cara, mochila nas costas. Os velhos como eu para falar um pouco no estado, em como era. A diversidade do RS e do Brasil é uma coisa que encanta os estrangeiros. Porto Alegre tem isso, gente de tudo que é nacionalidade. O que
  • 8. falta para o Brasil e para o RS é abrir mais o país. Facilitar a vinda de estrangeiros, de trabalhadores estrangeiros, nós estamos precisando. Nós não temos mão de obra, tem que deixar vir de fora. Abrir o país. Foi isso que os americanos fizeram lá no Vale do Silício. Tu entras numa empresa bem sucedida lá e tu encontras um americano aqui e outro lá. Tem gente de todas as nacionalidades. Polibio – Vamos a uma pergunta do telespectador, sobre o que está fazendo o Nelson Proença. Acho que a pergunta correta seria o que ele não está fazendo. Você, agora, é um empreendedor privado, abandonou a política? Proença – É, a gente nunca abandona completamente, mas eu não tenho mais militância partidária, nem nada. Chegou um momento em que eu perdi a motivação. Alguns jornalistas perguntam “tu te decepcionou com a política e por isso tu deixaste”. Eu não me decepcionei, durante 20 anos eu tive muita motivação, de repente eu comecei a me dar conta que eu ia dormir domingo de noite e pensava “que saco, amanhã eu tenho que pegar um avião e ir para Brasília”. Bom, espera ai, está na hora de eu largar esse negócio e mudar. Foi o que eu decidi fazer. Polibio – A motivação, na vida de uma pessoa, é fundamental. Proença – É tudo. Agora estou muito feliz, a Guapo é uma coisa que eu faço com muito carinho, que é uma empresa de negócios, temos um grupo de analistas. Nós estamos fazendo compra, venda, fusões, aquisições, estamos portando recursos através de um fundo de ... Capital, estamos iniciando empresas de tecnologia, temos um braço imobiliário. Há menos de um mês, nós iniciamos um bairro em Pelotas. Polibio – Quem são os parceiros? Proença – Joal Taitelbaum e Jaime Lerner, foi ele quem fez o projeto de ocupação. É um projeto muito legal. É o primeiro bairro sustentável do Brasil. O Jaime tem uma frase interessante “quanto mais alto é o muro do condomínio onde você vive, mais gente tem te esperando do lado de fora”. Há seis meses a Veja fez uma matéria de capa sobre construção sustentável, essas técnicas de Green Business, e o exemplo do Brasil foram as obras do Taitelbaum. Polibio – Foram eles que conseguiram as primeiras certificações internacionais. Leandro – Foi provado que a margem de lucro nesse tipo de negócio é muito maior do que nas condições tradicionais. Associa-se algo sustentável com algo que é economicamente viável. Proença – O Joal diz assim “daqui a alguns anos, não é que todo mundo vai fazer construção sustentável, todo mundo vai se perguntar como era possível não fazer a construção sustentável”. Polibio – Quando ele começou algumas pessoas aqui de Porto Alegre acharam que ele estava louco, acharam que era só marketing. Antes de você ter perdido a motivação e parar com a atividade parlamentar, no governo, e a partidária; política todos nós sempre vamos fazer. “Somos animais políticos” dizia o Aristóteles. Proença – Eu fui Secretário do Desenvolvimento, antes fui Chefe da Casa Civil, fui Secretário Geral no governo Britto. Fui Secretário de Desenvolvimento no governo da Yeda e fui Deputado Federal durante 20 anos. Polibio – Passou também pelo governo federal. Proença – Tive uma passagem, eu trabalhava na IBM, era diretor de ações corporativas em Brasília, e fui ajudar na campanha do Tancredo, de forma voluntária da época. Ai morre o Tancredo, eu fiz amizade com o
  • 9. Sarney e uma vez ele pediu à IBM que eu fosse emprestado para o governo federal durante um ano. A IBM pagava os meus salários, me mantinha, mas cedido por ela para a presidência da República. Polibio – Para que área? Proença – Para a área de programas sociais. Eles tinham a Seac, Secretaria de Educação e Ação Comunitária. Leandro – Uma pergunta, o Jones coloca o seguinte: “aqui no nosso sofrido norte, em Belém, ouvimos sempre que no RS o que é bom é bom mesmo, excelente, mas o que não é bom é muito ruim; tem a história da expulsão da Ford e outras notícias que chegaram por aqui foram as decisões do governo do estado sobre as concessões de estradas. Parece, para nós, que Porto Alegre tem um bom prefeito. Dá para fazer as transformações que vocês estão debatendo sem um governo empreendedor?”. Proença – Muito boa pergunta. Eu acho que dá, é claro que tudo fica mais fácil se tiver um governo empreendedor e se o governo ajudar. Esse movimento não foi criado para se basear no governo ou para depender do governo, tanto municipal como estadual. Esse é um movimento da sociedade, a sociedade é que tem que fazer esse movimento de transformação. Polibio – Esse é o marco legal que existe, seja o governo empreendedor ou não, vocês vão tocar o barco. Proença – Vamos. Nós encontramos muito boa receptividade por parte do prefeito Fortunatti. Ele se liberou de sua agenda, foi conosco, com grande humildade assistiu as aulas que nós assistimos, fez as perguntas. Lá em Stanford na usina, centro de desenho e criatividade tinha coisas interessantes que a gente tinha que fazer. Brincadeiras de escola, brinquedos simulados, ele participou de tudo. Acho que ele vai ajudar com certeza. Agora, o movimento não precisa depender do governo. Leandro – O Anderson coloca: “moro em Caxias do Sul, sei que tem o polo metal/mecânico, e gostaria de saber como se dá o encaixe no que vocês discutiram”. Proença – Nós estamos trabalhando primeiro com a ideia de Porto Alegre, mas isso sendo bem sucedido, é levado para o estado inteiro. Principalmente para cidades mais modernas como Caxias. Lá tem universidade, tem mão de obra qualificada, tem boa qualidade de vida. As cidades que se beneficiarão imediatamente são essas, Caxias, Pelotas, Porto Alegre, Canoas, Santa Maria. Polibio – Me disse um caxiense, em uma ocasião, que Caxias é muito movida à inveja. Vou dar um exemplo, eu trabalhava na revista Exame e fui fazer uma reportagem, na época, com o Raul Randon. Ele trabalhava onde morava, o escritório era uma peça pequena. Perguntei para ele “Sr. Raul, como se explica esse progresso de Caxias?” e ele “você é de onde?” e eu “sou de Porto Alegre”, ele disse “é que em Porto Alegre vocês são movidos a ciúme”, eu perguntei “e vocês?”, “nós somos movidos à inveja”. Eu perguntei a diferença de inveja e ciúme e ele “ciúme, que é o caso de vocês em Porto Alegre, o sujeito chega em casa e a mulher diz pra ele assim – olha José, o vizinho comprou uma geladeira – como vocês são ciumentos vocês pegam uma marreta e quebram a geladeira. Eu chego em casa e a Maria diz – Raul, o vizinho comprou uma geladeira – eu olho para a Maria e digo então eu vou comprar um freezer”. Se ele comprar mais um motor para a fábrica dele, eu compro dois para a minha. Proença – Eu estudei em Caxias, e eles tinham um hábito, antigamente, entre as pessoas mais velhas, que era de se encontrar e ver quem tinha mais dinheiro no bolso. No banco não, ali na hora, no bolso. Leandro – Aproveitando, é bom receber pessoas otimistas no nosso programa, porque temos uma visão um pouco mais pessimista sobre as coisas. Eu li um livro interessante na viagem sobre previsões. Ele coloca a importância de que sempre que fizermos uma previsão, pensarmos na chance de ela estar certa ou errada. A
  • 10. nossa grande preocupação é o ambiente do país, ambiente dos negócios, ambiente político, ambiente legal. Na sua visão, qual é a chance de nós passarmos por problemas parecidos como o da Argentina? Proença – Acho muito remotas as chances. A impressão que eu tenho, e agora faço uma avaliação política, é que o governo federal, a presidente e o Ministro da economia se deram conta de que erraram muito e estão procurando corrigir. Não sei qual é a opinião de vocês, mas esse movimento do Banco Central, de estabelecer um programa de leilões de dólar até o final do ano trouxe certa estabilidade e diminuiu um pouco a volatilidade do câmbio, da moeda, porque os agentes econômicos podem prever exatamente como podem se comportar... Leandro – As visões que nós temos percepções e até conversas com o Banco Central, é que o Banco Central tem uma visão uma visão que é um pouco diferente do núcleo do governo. Polibio – Mas a política está certa, eu acho que dá realmente uma estabilidade. Proença – O que eu quero dizer é que, aparentemente, a presidente se deu conta de que ela tem que devolver a autonomia do banco. Acho que eles se deram conta da burrada, desculpe a expressão, e estão procurando corrigir. Leandro – Uma crise institucional séria, nesse sentido... Proença – Claro que sempre pode haver, mas acho que não há nenhuma razão para isso. Foram em junho as manifestações, o Brasil foi para a rua, foi uma bagunça, o que aconteceu? Nada! O país continua funcionando, no outro dia todo mundo limpava e abria o seu negócio. Há certa solidez institucional no Brasil, isso eu acho que foi o grande crescimento do Brasil nos últimos anos. As coisas não funcionam muito bem, mas funcionam. Na Argentina é diferente. Por exemplo, não ocorre a nenhum brasileiro contestar uma decisão do Supremo Tribunal Federal. As pessoas até reclamam, mas não passa na cabeça de nenhum brasileiro dizer “eu não vou cumprir”. Lá não, a Suprema Corte Argentina decide uma coisa e as pessoas decidem não cumprir. Acho que essas diferenças são fundamentais.