Minha apresentação do TCC da pós na ESPM.
Quem puder dar uma olhada, é sobre mercado editorial e história.
A apresentação está no seguinte endereço:
http://prezi.com/rauqpxgnbl3r/projeto-academia-de-historia/
Abraços, Pedro.
12/1/15
Comecei a fazer o site, caso queira dar uma olhada:
http://www.academiadehistoria.com.br/
Abraços, Pedro.
3. ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING
Programa de Pós-graduação em Design Estratégico
Pedro Penafiel
projeto academia de História
Projeto de conclusão de curso,
entregue como requisito final para
obtenção do título de pós-graduado
em Design Estratégico.
Equipe docente de orientação:
Profª Ellen Kiss
Profª Martha Terenzzo
São Paulo, julho de 2012
5. “O livro, bem sabemos, é o tijolo
com que se constrói o espírito”.
Darcy Ribeiro
6.
7. Agradeço sinceramente às pessoas que responderam às mi-
nhas três pesquisas. Em primeiro lugar, aos editores que me
ofereceram, além do seu tempo, muitas valiosas informações e
sugestões para o desenvolvimento deste trabalho. Em segundo
lugar, aos colegas de graduação da Faculdade de História da
USP, que conversaram comigo e me responderam às duas per-
guntas que lhes fiz. E por fim, mas não menos importante, a mais
de uma centena de pessoas que responderam de forma bastante
comprometida ao questionário que postei no Googledocs.
Agradeço também às minhas duas orientadoras, Ellen Kiss
e Martha Terenzzo, que me apoiaram, me incentivaram e gene-
rosamente me ofereceram novos caminhos.
Agradeço também aos meus colegas da pós-graduação da
ESPM, que nos momentos de desânimo me incentivaram a
continuar adiante. Em especial aos que dialogaram comigo a
respeito de possibilidades de trabalho, conhecimento e me su-
geriram novas fontes de pesquisa.
Agradeço à Fundação Carlos Chagas, instituição que traba-
lho, por ter financiado integralmente esta pós-graduação.
Agradeço ainda, por fim, à minha família pelo apoio e pa-
ciência ao longo deste um ano e meio de curso e dois intensos
meses de TCC.
8.
9. Sumário
Introdução...........................................................................11
Análise do setor...................................................................13
Mercado editorial brasileiro...........................................13
Mercado internacional. ..................................................29
.
Pesquisa com editores.....................................................38
Análise do assunto...............................................................47
Principais autores para leigos..........................................47
Graduados de História. ..................................................52
.
O consumidor......................................................................57
Pesquisa com o público leitor..........................................57
Pesquisa do Instituto Pró-livro. ......................................68
.
Dados coletados...................................................................77
Forças.............................................................................78
Oportunidades ..............................................................78
Fraquezas . .....................................................................79
Ameaças.........................................................................79
.
O negócio............................................................................81
Missão............................................................................83
Objetivos........................................................................83
Público alvo....................................................................84
Pesquisa..........................................................................85
Ilustrações......................................................................86
.
Redação..........................................................................86
Referências.....................................................................87
Livro impresso................................................................88
Aplicativos para tablets...................................................89
E-readers. .......................................................................90
.
Site. ................................................................................90
.
Redes sociais. .................................................................92
.
Equipe............................................................................92
Remuneração..................................................................93
Receitas..........................................................................94
Considerações finais............................................................95
.
Bibliografia..........................................................................99
10.
11. Introdução
Inicialmente pretendia fazer um Trabalho de Conclusão
de Curso com um conteúdo mais acadêmico, mais alinhado
à minha formação, em História. Mas prevaleceu o perfil da
instituição em que faço o curso, a ESPM, que se avalia como
uma escola de negócios. Minha idéia inicial era investigar a
relação entre arte e design, como discurso, ou melhor, como
História do discurso sobre o que seria um e outro e depois
sua interelação.
Depois da recusa de minha primeira opção, precisava
achar algo que se encaixasse no perfil de TCC da escola, algo
que fosse um plano de negócio. Então me lembrei de que des-
de o início da graduação em História desejava e pretendia
aproximar o curso que fazia, e que adorava, com a profissão
que tinha abraçado desde o início da vida adulta, o design,
principalmente na área gráfica e editorial. Tive muitas idéias
ao longo da graduação, mas nenhuma vingou. Principalmente
por questões práticas de sobrevivência, pois sempre tive de
focar mais esforços e meu tempo em atividades remuneradas.
E todos sabemos que a vida de autor no Brasil é para poucos,
pouquíssimos na verdade.
Desta forma acabei percebendo que seria uma excelente
oportunidade aproveitar este TCC na ESPM para investigar a
relação entre o mercado editorial e a disciplina História. Como
estou próximo a estes dois “mercados” há bastante tempo, e
tinha várias idéias a respeito da interligação destes temas, pre-
cisei me segurar e elaborar as pesquisas de “cabeça aberta”.
Não poderia contaminar meu projeto presumindo que sabia o
resultado do que viria.
O resultado foi o que consegui alcançar nestes dois meses de
trabalho. Usei aproximadamente 40 dias para a primeira parte,
de pesquisa do mercado, do assunto, das pessoas envolvidas, o
consumidor, e os demais 20 para desenvolver a idéia do produ-
to, fruto do resultado do trabalho.
11
12. Como ex-aluno de História, na parte da pesquisa me sen-
ti em casa, confortável, mesmo neste exíguo tempo consegui
fazer algo que pudesse me satisfazer. E mesmo na parte de
criação do produto, embora estivesse mais distante de minha
formação, não me foi difícil, pois trabalho há mais de 20 anos
como designer gráfico, parte dele na área editorial, muitas ve-
zes auxiliando na criação de novos produtos. A primeira parte,
talvez por resquício dos tempos de graduação, tem muito texto.
Já a segunda, mais alinhada à pós, tem mais bullets.
Apenas uma breve observação àqueles que eventualmente
forem ler este trabalho, além, é claro, de seus examinadores
acadêmicos. Ele foi desenvolvido com um propósito já expli-
citado, de conclusão de curso, portanto é muito mais extenso
do que seria um plano de negócio convencional. E tem cer-
tas características que também não estão presentes em planos
de negócio, como bibliografia e uma busca de reflexão sobre o
processo de trabalho. De qualquer forma, acho que a leitura
do material pode contribuir para uma maior compreensão do
mercado editorial, o assunto História e a relação entre ambos.
Boa leitura!
12
13. Análise do setor
Mercado editorial brasileiro
A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em
conjunto com a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e o SNEL
(Sindicato Nacional dos Editores de Livros), realiza pesquisa
anual sobre o mercado editorial brasileiro. Na edição de 2010,
descobriu-se que existem 750 editoras no país, sendo que ape-
nas 498 alcançam a meta definida pela Unesco para uma em-
presa editorial, de cinco títulos e cinco mil exemplares por ano.
Destas, 231 faturam até R$ 1 milhão; 189 entre R$ 1 milhão e
R$ 10 milhões; 62 entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões; e 16
editoras faturam acima de R$ 50 milhões por ano.
O tamanho do mercado editorial brasileiro cresceu de R$
3,3 bilhões em 2008 para R$ 4,1 bilhões em 2009 (8,12% ou
2,63% se descontarmos a inflação), sendo que aproximadamen-
te R$ 1 bilhão é a participação do Governo. E se desconside-
rarmos as compras governamentais, o mercado cresceu 2,99%
(ou caiu 2,24%, se descontarmos a inflação). O faturamento do
setor pode ser visto de forma mais detalhada na tabela 1.
Quanto ao número de exemplares vendidos, houve um cres-
cimento de 13,12% (contando o Governo), o que significa que
o preço médio do livro manteve a tendência de queda, o que Existem 750
ocorre desde 2004 (33,42% em preços médios reais, conside- editoras no
rando-se a inflação do período). Nas tabelas 2 e 3 vemos que país, sendo que
os dados não batem, embora tenham sido gerados pelo mes- apenas 498
mo instituto. Parece-me que os valores da tabela 3 estão mais alcançam a meta
próximos da realidade, pois livros didáticos não devem ter um definida pela
valor médio próximo de R$ 10,00, mesmo levando-se em conta Unesco para
que o Governo é o maior comprador, conseguindo desconto de uma empresa
até 90%. O fato é que o valor do livro no Brasil é caro, tanto editorial, de
em valores absolutos, quando o comparamos com o restante do cinco títulos
mundo, e mais ainda em valores proporcionais ao nosso padrão e cinco mil
de renda. Mas esta realidade vale para todo o varejo, não sendo exemplares por
exclusividade do setor. Tudo no Brasil é caro. ano.
13
14. Tabela 1 • Produção e vendas do setor editorial brasileiro
Produção
Vendas
(1º edição e reedição)
Ano Títulos Exemplares Exemplares Faturamento
1990 22.479 239.392.000 212.206.449 901.503.687
1991 28.450 303.492.000 289.957.634 871.640.216
1992 27.561 189.892.128 159.678.277 803.271.282
1993 33.509 222.522.318 277.619.986 930.959.670
1994 38.253 245.986.312 267.004.691 1.261.373.858
1995 40.503 330.834.320 374.626.262 1.857.377.029
1996 43.315 376.747.137 389.151.085 1.896.211.487
1997 51.460 381.870.374 348.152.034 1.845.467.967
1998 49.746 369.186.474 410.334.641 2.083.338.907
1999 43.697 295.442.356 289.679.546 1.817.826.339
2000 45.111 329.519.650 334.235.160 2.060.386.759
2001 40.900 331.100.000 299.400.000 2.267.000.000
2002 39.800 338.700.000 320.600.000 2.181.000.000
2003 35.590 299.400.000 255.830.000 2.363.580.000
2004 34.858 320.094.027 288.675.136 2.477.031.850
2005 41.528 306.463.687 270.386.729 2.572.534.074
2006 46.026 320.636.824 310.374.033 2.880.450.427
2007 45.092 351.396.288 329.197.305 3.013.413.692,53
2008 51.129 340.274.195 333.264.519 3.305.957.488,25
2009 43.814 401.390.391 387.149.234 4.167.594.601,40
2010 54.754 492.579.094 437.945.286 4.505.918.296,76
Fonte: SNEL e CBL (2011)
De 2009 para 2010, o preço médio caiu 4,37% (contando
o Governo). Em algumas tabelas os valores são absolutos e em
outras se precisa considerar a inflação do período. Não me deti
exaustivamente nesta questão porque ela não é central ao meu
trabalho. De qualquer forma, existem algumas novidades para
acontecer brevemente no setor, com a chegada de grupos inter-
nacionais de monitoramento de vendas de livros, como a alemã
GfK e a americana Nielsen.
Mais recentemente tem havido um movimento de concen-
tração das grandes editoras e livrarias, além de maior presença
14
15. Tabela 2 • Preços médios constantes por unidade vendida
2004 2005 2006 2007 2008 2009
Didáticos (mercado) 14,54 12,63 11,48 10,88 10,98 9,29
Obras gerais (mercado) 10,50 9,17 9,03 8,90 8,15 8,28
Religiosos (mercado) 8,31 6,07 5,76 5,30 5,15 4,58
CTP (mercado) 20,53 17,98 17,10 15,79 15,73 13,50
Total (mercado) 12,68 10,85 10,20 9,63 9,29 8,44
Governo 3,92 4,77 5,13 4,75 5,76 4,46
Total (mercado + Governo) 8,58 8,88 8,15 7,72 8,00 6,92
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2009)
Tabela 3 • Preços Médios (mercado)
Tipos de Venda 2009 2010 Var. %
Didáticos 21,14 18,92 -10,50
Obras Gerais 10,57 10,07 -4,73
Religiosos 6,36 6,70 5,35
CTP 28,85 28,64 -0,73
Total 13,61 12,94 -4,92
Mercado 3,92 4,77 5,13
Total (mercado + Governo) 8,58 8,88 8,15
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)
de grupos estrangeiros, fenômeno semelhante ao que ocorre no
restante da economia. O grupo espanhol Santillana investiu R$
150 milhões para comprar a Moderna, que detém 30% do mer-
cado didático; e a Abril comprou em 2004 a Ática e a Scipione. Mais
E aqui cabe uma pequena observação, a Moderna foi a editora recentemente
tem havido um
que mais vendeu livros no último PNLEM (Programa Nacional
movimento de
do Livro Didático para o Ensimo Médio), com 7,6 milhões de
concentração
exemplares, que o representa R$ 50,4 milhões (um custo por
das grandes
unidade de R$ 6,63).
editoras e
As editoras portuguesas Leya, Babel e Tinta da China já livrarias,
entraram no país. A Leya é particularmente importante para além de maior
nosso tema porque edita o “Guia politicamente incorreto da presença
História do Brasil” e o novo livro do Eduardo Bueno, “Bra- de grupos
sil: uma História”. Segundo Pascoal Soto, diretor da editora no estrangeiros.
15
16. Tabela 4 • Faturamento e exemplares vendidos para o Governo
Tipos de Faturamento em milhões de R$ Exemplares vendidos (milhões)
Venda 2009 2010 Var. % 2009 2010 Var. %
PNLD 534 742 39,02 110 120 9,43
PNLD EM/
126 151 19,34 12 17 40,34
PNLEM
PNBE 60 70 17,53 10 13 30,90
PNLD EJA/
18 15 -15,23 2,8 2,1 -24,90
PNLA
Outros
Órgãos de 176 164 -6,65 12 10 -22,27
Governo
Total
916 1.145 24,97 148 163 10,01
Governo
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)
Tabela 5 • Preços Médios (Governo)
Tipos de Venda 2009 2010 Var. %
PNLD 4,85 6,16 27,01
PNLD EM/PNLEM 10,44 8,87 -15,04
PNBE 5,90 5,30 -10,17
PNLD EJA/PNLA 6,60 7,45 12,88
Outros Órgãos de Governo 13,66 16,41 20,13
Total Governo 6,18 7,02 13,59
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)
Brasil, primeiro tentaram comprar a Nova Fronteira e a Ediou-
ro, sem sucesso. Mais recentemente a Penguim Books, uma das
seis maiores editoras do mercado americano, comprou 45% da
O Governo Companhia das Letras.
Federal atua
O Governo Federal atua no mercado editorial de forma
no mercado
determinante, sendo o principal comprador, entre os didáti-
editorial
cos é praticamente um oligopsônio, pois inclsuive normatiza
de forma
determinante,
os currículos nacionais. O principal programa é o Programa
sendo o Nacional do Livro Didático, que tem modalidades para o en-
principal sino Fundamental, Médio e para Jovens e Adultos. Outro é o
comprador. Programa Nacional da Biblioteca Escolar, que contou com o
16
17. Tabela 6 • Produção de livros por área temática
Primeira edição e reedição
Educação Básica (Didáticos) 45,72%
Religião 10,30%
Literatura Juvenil 8,89%
Literatura Adulta 8,05%
Literatura Infantil 5,38%
Auto-ajuda 2,87%
Direito 1,59%
Dicionários e Atlas Escolares 1,25%
Línguas e Linguística 1,25%
Economia, Administração e Negócios 0,83%
Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010)
investimento de R$ 70,9 milhões apenas em 2010 (tabela 4).
Na tabela 5 podemos ver que o valor médio por exemplar subiu
de R$ 6,18 para R$ 7,02 (13,59%).
Os livros para o Ensino Fundamental custam para o Governo,
em média, R$ 6,00; e para o Ensino Médio, R$ 10,00. Estima-se
que, por causa da escala, este valor seja por volta de 10% do que é
vendido no mercado. Além disso, a produção é feita por encomen-
da e é o Governo o responsável pela distribuição dos livros pelo
país, com um alto custo. Para o mercado, a produção é sempre um
risco, é necessário distribuí-lo (aos atacadistas ou às lojas) e há o
custo do estoque (espaço e manutenção custam caro).
Essa forte
Essa forte participação é em decorrência ao que determina
participação é
a Constituição, que impõe ao Estado a obrigação de garantir
em decorrência
o direito ao educando de material didático escolar, transporte,
ao que
alimentação e assistência à saúde em todas as etapas da educa-
determina a
ção básica, por meio de programas suplementares.
Constituição,
Os programas do livro didático funcionam com as seguintes que impõe
etapas: 1. publicação do edital com os critérios para inscrição ao Estado a
das obras pelas editoras; 2. triagem das obras inscritas pelo obrigação de
Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, para verifi- garantir o direito
car a conformidade técnica e física dos livros com o edital; 3. ao educando
avaliação pedagógica das obras, coordenada pela Secretaria de de material
Educação Básica do MEC, e inclusão das aprovadas no Guia do didático escolar.
17
18. Livro Didático, que é distribuído para todas as escolas do país;
4. os professores escolhem qualquer título que conste no guia;
5. a escola encaminha pedido ao FNDE (Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação) com primeira e segunda opção;
6. o FNDE negocia a compra com as editoras por inexigibili-
dade de licitação, considerando que as escolhas dos livros são
feitas pelos próprios professores; 7. o FNDE firma um contrato
com cada editora; 8. se não houver acordo, contrata a obra da
segunda opção; 9. se persistir o impasse, adquire a obra mais
escolhida na região da escola; 10. a distribuição é feita a partir
das editoras, pelos Correios.
Os critérios pelos quais as obras são avaliadas podem ser en-
contrados em detalhes nos editais dos programas, todos desen-
volvidos a partir dos Parâmetros Currriculares Nacionais. Even-
tualmente aparecem críticas na imprensa aos livros que constam
no guia, mas geralmente com um simples exame às obras em
questão pode-se avaliar que são motivadas por questões polí-
ticas, ideológicas ou preconceitos. E, afinal, são os professores
quem afinal escolhem as obras que preferem trabalhar em sala de
aula. E também não podemos deixar de mencionar que o grupo
Abril, um dos principais adversários políticos dos dois últimos
Governos, detém o controle do maior grupo editorial didático
do país, com a Ática, Scipione, Anglo, entre outros. Entre 1998
e 2006, 90% das compras do FNDE foram feitas em dezessete
editoras: FTD, Ática, Saraiva/Atual, Scipione, Moderna, IBEP,
Brasil, Nova Geração, Dimensão, Victor Civita, Base, Nova
Fronteira, Quinteto, Nacional, Ediouro, Schwarcz e Formato.
Esta participação tem, é claro, uma dimensão comercial e fi-
nanceira importante. Mas também é importante ter em mente
que em muitas regiões do país, e em algumas classes sociais, às
vezes este é o único tipo de livro que o aluno tem acesso. Neste
Em muitas ano foi anunciado o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL),
regiões do país, que sob a coordenação da Fundação Biblioteca Nacional, pro-
e em algumas move 42 projetos, com verba total de R$ 373 milhões para 2012.
classes sociais, Um deles é o Projeto Livraria Popular, que pretende criar 700
às vezes este é pontos de venda de livros de baixo preço e formar 1.300 micros
o único tipo de e pequenos varejistas do livro em cursos de educação à distância.
livro que o aluno Inicialmente a idéia era criar um catálogo de pelo menos mil
tem acesso. livros em mil pontos de venda espalhados pelo país e visava prin-
18
19. cipalmente atuar para o barateamento do valor dos livros (até R$
10,00) e, conseqüentemente, facilitar o seu acesso à população.
Em 2010, o Ministério da Cultura lançou o “Cultura em
Números”, com um balanço dos dados brasileiros do setor. Lá
podemos ver alguns números interessantes para o mercado edi-
torial: 89,05% dos municípios têm biblioteca pública; 16,4%
realizam feiras de livros; 16,9% realizam concursos literários;
e 34% têm livraria.
Outra forma do Estado participar do mercado é por meio
de financiamento a partir de seus diversos órgãos. O BNDES,
por exemplo, criou um cartão para oferecer R$ 74,1 milhões
para micro, pequenas e médias editoras e livrarias. Segundo
informações do próprio banco, imprimiu-se 3,7 milhões de
exemplares com estes recursos. Atualmente empresta-se a par-
tir de R$ 1 milhão, o que desagrada aos pequenos empresários,
que pleiteiam, por meio da Associação Nacional de Livrarias
(ANL), que o piso seja reduzido para R$ 300 mil.
Além disso, tanto o Governo Federal, como muitos estados e
municípios têm programas de incentivo à cultura, onde o livro
também é contemplado. Por fim, mas não menos importante,
várias das estatais, centros de cultura, órgãos ligados à indústria Várias das
e ao comércio, e até algumas empresas privadas (às vezes em for- estatais, centros
ma de doação, às vezes em forma de patrocínio, incentivado por de cultura,
lei ou não), têm editais voltados a projetos culturais, inclusive órgãos ligados
livros. São todas ferramentas importantes para o auxílio à publi- à indústria e
cação e de facilitação de acesso do livro à população. ao comércio,
Como se não bastasse, desde 2005 o Governo Federal isen- e até algumas
ta as editoras de contribuírem para o PIS, Confins e Pasep. O empresas
setor já era imune de impostos diretos, graças à Constituição. privadas (às
Na época, a estimativa é que deixaria de arrecadar cerca de R$ vezes em forma
de doação, às
160 milhões por ano.
vezes em forma
de patrocínio,
E-books incentivado por
A vida do e-book no Brasil começou com a Gato Sabido, em lei ou não), têm
2010, com apenas 150 títulos. Em 2012 já temos quase uma editais voltados
dezena de sites de grande porte no mercado brasileiro (entre a projetos
elas a Saraiva, Cultura, Ponto Frio e Grioti). E mais de dez mil culturais,
títulos disponíveis formalmente. inclusive livros.
19
20. Contamos ainda com três distribuidoras digitais: a DLD
(consórcio da Rocco, Record, Sextante, L&PM, Planeta e Ob-
jetiva); a Xeriph (da Gato Sabido); e a Singular (da Ediouro).
Há ainda a Minha Biblioteca, que promove acordos entre as
editoras Atlas, Saraiva, Gen e Grupo A Educação com univer-
sidades. Paga-se uma tarifa mensal e os estudantes têm acesso
aos livros. Funciona como a antiga pasta de textos dos profes-
sores, só que totalmente legalizado. Entretanto, a participação
do e-book ainda é uma promessa para o mercado, pois repre-
senta entre 1% e 3% de seu faturamento.
Esses números ainda não são significativos porque o bra-
sileiro associa a leitura de livros digitais ao computador, que
não é muito amigável a textos longos e não é portátil. Mas,
ao mesmo tempo, o setor está se preparando para este cenário
mudar, pois cada vez mais o consumidor estará familiarizado
com os e-readers e os tablets, que permitem uma leitura mais
agradável e é portátil.
Três dos principais empecilhos para o crescimento dos e-
books no Brasil são o valor do exemplar, que ainda é considera-
do salgado pelo consumidor. A baixa quantidade de títulos dis-
poníveis (Carlos Eduardo Ernanny, da Gato Sabido, sintetiza o
problema da seguinte forma: “No modelo físico, temos muito
livro para pouca prateleira. No digital, temos muita pratelei-
ra para pouco livro”). E, por último, a anorme diversidade de
plataformas e formatos do e-book, contra a padronização do
modelo antigo, baseado no papel impresso.
Os valores dos e-books são em torno de 25% dos impressos
e há incidência de impostos de venda, embora exista uma forte
tendência para que se torne isento, como no impresso. O mer-
cado procura ampliar esta vantagem competitiva ao meio digi-
tal também, por analogia. O preço dos e-books ainda não pode
A participação ser mais baixo no país porque há pouca demanda e o custo de
do e-book ainda sua adaptação é diluido em poucos exemplares. Outro proble-
é uma promessa ma é que sua adaptação envolve uma série de negociações, de
para o mercado contratos com autores, revisores, editoras estrangeiras etc. Essa
brasileiro, pois demora acaba estimulando a pirataria, pois o tempo da editora
representa entre é diferente do da cópia, que é instantânea.
1% e 3% de seu O site Revolução E-Book fez uma pesquisa sobre os valores
faturamento. para o livro “Steve Jobs – A Biografia”, em diferentes plata-
20
21. formas e distribuidores, e chegou a resultados interessantes. O
preço oscilava entre R$ 26,80 e R$ 49,90. O valor mais baixo
foi encontrado na Fnac, na versão impressa! Embora, na média,
o valor do impresso no mercado como um todo foi de R$ 37,73,
contra R$ 32,10 da versão digital (14% mais barata).
Jorge Viveiros, editor da 7 Letras, por exemplo, afirma que
todos seus livros digitais estão à venda por R$ 17,00, valor que
considera acessível. Enquanto que suas versões físicas estão
entre R$ 25,00 e R$ 35,00. Ao mesmo tempo, Pedro Hertz,
proprietário da Livraria Cultura, diz que a receita com e-books
ainda é insignificante.
Existe também um grande debate entre Governo, educadores,
escritores e o mercado a respeito de como a plataforma digital
entrará na sala de aula. Parte da turma pensa que será mais uma
distração do que uma ferramenta de aprendizado e outras, mais
tecnofílica, que aposta em novas tecnologias. O Governo Fede-
ral anunciou a compra da tablets para distribuir em um plano
piloto, com grande repercussão tanto positiva como negativa. É
um assunto muito polêmico, pois os valores dos aparelhos ainda
são salgados e ainda não se tem clareza de como esses disposi-
tivos serão realmente aproveitados. Entretanto, fatalmente em
algum momento os e-books estarão disponíveis, pois os custos
de impressão e distribuição dos livros didáticos por todo o país
são imensos, pois é um universo entre 40 e 50 milhões de alunos
assistidos pelos programas. Existe inclusive a promessa do Mi-
nistério da Educação de lançar o PNLD digital em 2014.
Quanto ao uso do livro didático em e-readers e tablets, é pre-
ciso algum tempo para avaliar como será a sua utilização de fato.
Uma das opções que se abre é uma interação maior do aluno Existe também
com o material. No livro físico há um espaço reservado para a um grande
intervenção do aluno, o de exercícios, no material digital essa debate entre
participação pode ser muito mais vasta e criativa. Seria muito Governo,
mais ágil para um professor reportar um erro de informação educadores,
para a editora e ela fazer a correção em todos os exemplares, escritores e
sem custos adicionais. Além disso, o conhecimento que o pró- o mercado a
prio livro traz poderia oferecer oportunidades de interação com respeito de como
os demais alunos, professores, escolas, como por exemplo ativi- a plataforma
dades e links com resultados de todo o país. A relação entre autor digital entrará na
(ativo) e leitor (passivo) poderia ser mais próxima, em benefício sala de aula.
21
22. Talvez os dos alunos. Talvez os meios digitais como um todo facilitem o
meios digitais que todo educador deseja, que seus alunos se tornem agentes de
como um todo sua própria vida. E há também a questão do peso dos livros em
facilitem o que papel que os alunos carregam nas costas, que os fisioterapeutas
todo educador tanto recriminam. Em um pequeno dispositivo cabem milhares
deseja, que seus de obras, o suficiente para toda uma vida de estudos.
alunos se tornem
Em relação à chegada da Amazon, o mercado brasileiro ain-
agentes de sua
da está aguardando os acontecimentos. Ainda é cedo para saber
própria vida.
como será exatamente sua vinda ao país. Entretanto, seu movi-
mento por aqui não tem sido fácil, pois, segundo reportagem da
IstoÉ Dinheiro de março de 2012, apenas dez selos têm acordos
assinados com eles, sendo que apenas um de editora grande. O
jornalista da matéria apurou que seria a rede de livrarias Saraiva
quem está pressionando as editoras a não fecharem acordos com
a Amazon. Acusação que a rede nega. A estratégia da varejista
americana seria, segundo rumores do mercado, apostar forte-
mente no formato digital, ofertando seu dispositivo de leitura,
o Kindle, por até R$ 200,00, quebrando um paradigma em re-
lação ao e-book, que ainda não deslanchou por aqui. Os demais
leitores disponíveis no mercado custam a partir de R$ 600,00.
Ela tem encontrado dificuldades principalmente por causa de
seu modelo de negócio, que muitas editoras vêem como desvanta-
joso. Aqui no Brasil são as editoras que definem o preço de capa,
e a plataforma de auto-publicação da empresa com certeza não as
agrada. Essa relação direta entre a Amazon e o autor é um tiro no
pé a longo prazo para as editoras. E elas sabem muito bem disso,
pois assistiram ao exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos.
Como bem observa Stella Dauer, do Revolução E-book, os edi-
tores brasileiros perceberam os perigos desta relação e, se “somos
A Amazon tem conhecidos pela nossa simpatia, mas também por não gostarmos
encontrado quando não levamos vantagem em alguma coisa”. Os editores a
dificuldades acusam de requer ganhar o mercado às custas deles. Como nos
principalmente Estados Unidos, a relação com a Apple é muito mais amigável,
por causa de pois continuam a definir o preço de capa e a pagar uma margem à
seu modelo de distruidora (30%), o que já é tradicional no mercado daqui.
negócio, que Um conceito interessante que pode ser aplicado ao mercado
muitas editoras de livros, principalmente em sua versão digital, é o de cauda
vêem como longa. Mesmo na versão física o fenômeno ocorre, por meio
desvantajoso. dos sebos. E o que seria isso? Alguns produtos têm uma vida
22
23. útil, não apenas como unidade, mas também como tipo, de A venda por
curta duração. Alguns produtos são rapidamente perecíveis. Internet estaria
Outros são modismos. O livro pode ser vendido por um longo transformando
período, ganhando ou não novas roupagens. É claro que exis- o marketing de
tem livros que são esquecidos pelo público quase instantânea- massa para o de
mente, enquanto outros encontram mercado por séculos. Mas nichos.
conceitualmente é um produto que pode ter uma vida infinita.
No livro “A Cauda Longa”, de Chris Anderson, é citado o caso
da Amazon. Em uma grande livraria americana há aproximada-
mente 100 mil títulos, enquanto a Amazon tem três milhões. Mui-
tos títulos não estão à venda nas livrarias porque vendem pouco,
mas em seu conjunto geram uma enorme receita para o site. A ven-
da por Internet estaria transformando o marketing de massa para
o de nichos. Isso se explica porque o custo do estoque é ínfimo
para os sites de venda, além de suas prateleiras serem infinitas.
E mesmo as livrarias, que teoricamente poderiam estar mais
assustadas com o surgimento do e-book, dizem que não estão.
Roberto Guedes, da Travessa, em entrevista ao jornal Valor,
afirma que “o livro digital pode ser positivo por popularizar
o hábito de ler. (...) Tudo o que se referir a livro, nós vamos
trabalhar. Um dos diferenciais da Travessa é a escolha, a cura-
doria”, diz Guedes. A livraria tem sete lojas no Rio de Janeiro,
comércio virtual, e cresceu 20% em 2011.
Sérgio Milano, diretor da Nobel, aborda em outros termos
o efeito da cauda longa. “É um mercado complementar, muito
útil para solucionar a questão dos livros esgotados e de bai-
xo giro. Do ponto de vista de vendas não interferiu em nada”,
afirma. O caso da Cultura, de São Paulo, é curioso. Segundo a
matéria do Valor, a venda de DVDs e CDs cresceu 14% e 15%
entre 2010 e 2011, apesar da pirataria e dos downloads legais.
Lá, os livros representam 61% da receita, contra 28% de DVDs
e CDs e 11% de jogos, revistas e outros. “O livro digital
pode ser positivo
por popularizar
Pirataria o hábito de
Com a ida dos livros para o formato digital, houve também ler. (...) Tudo o
uma migração de sua pirataria. Antigamente havia as pastas dos que se referir a
professores nas fotocopiadoras, hoje existem sites que ilegalmente livro, nós vamos
disponibilizam livros na Internet sem custo para o consumidor. A trabalhar”.
23
24. Tabela 7 • Livros mais pirateados no Brasil em 2011 (por mês)
Mês Obra Links Downloads
Janeiro Fundamentos de física (LTC) 105 698
Fevereiro Oracle database (Artmed) 96 40.346
Março Valores de A a Z (Iemar) 785 311
Abril De marré de si (lemar) 275 630
Uma introdução ao estudo da psicologia
Maio 95 30.124
(Saraiva)
Cartas entre amigos – Sobre medos
Junho 88 12.947
contemporâneos (Ediouro)
Treinando a emoção para ser feliz
Julho 120 34.173
(Ediouro)
Agosto A hora das bruxas (Rocco) 146 8.359
Fundamentos da matemática elementar
Setembro 135 11.624
(Saraiva)
English Vocabulary In Use Advanced
Outubro 90 34.484
(Cambridge)
Novembro Vontade de potência (Vozes) 59 5.406
Fundamentos da matemática elementar
Dezembro 41 18.895
(Saraiva)
Fonte: SNEL (2011)
Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR) atua há
algum tempo para coibir tal prática, com muita dificuldade, em
função de sua capilaridade. Recentemente conseguiu que a Jus-
tiça fechasse o blog Livros de Humanas, que congregava livros
Antigamente piratas de cursos de ciências sociais. Esta é uma questão bastante
havia as polêmica e ambos os lados têm muitas boas razões. Inclusive in-
pastas dos telectuais publicaram uma carta contra a ação da ABDR, muitos
professores nas deles professores universitários que têm seus textos pirateados. A
fotocopiadoras, tabela 7, desenvolvida pelo SNEL, traz alguns números de 2011.
hoje existem
A disparidade do volume por mês (em fevereiro tem mais de 40
sites que
mil e em março apenas 311 unidades) indica que sua elaboração
ilegalmente
é precária. Uma informação adicional: o título mais baixado do
disponibilizam
ano, da Artmed, custa R$ 130,00 e não tem versão para e-book.
livros na
Internet sem
Vejamos os argumentos a favor do blog:
custo para o • muitos destes alunos têm dificuldade de consumir regu-
consumidor. larmente os livros, que são muitos, e na média caros;
24
25. • as bibliotecas universitárias não têm exemplares sufi-
cientes para oferecer a todos os alunos;
• muitas das edições são antigas e não mais disponíeis no
mercado;
• a educação é um direito garantido pela Constituição;
• a repressão à pirataria é usualmente feita à margem da
Justiça;
• o conteúdo dos livros de humanas são, em sua origem,
na maioria das vezes, projetos financiados com dinheiro
público, e/ou de autores que trabalham em dedicação
exclusiva ao setor público;
• o valor que os autores efetivamente recebem de direitos
autorais é irrelevante, sendo que o mais comum é rece-
berem apenas cópias dos livros;
• muitas vezes os leitores, principalmente os acadêmicos,
estão interessados em trechos, no máximo em capítulos,
e não no livro inteiro;
• por fim, o principal interesse do autor é ser lido.
Mas há também argumentos contrários:
• é função do Estado prover acesso aos livros à população
por meio de bibliotecas públicas;
• sem venda não há editoras, sem editoras não há merca-
do, sem mercado não há livros;
• sem o trabalho das editoras, a qualidade dos livros ten-
deriam a diminuir, pois ela agrega trabalho ao texto e,
principalmente, em sua formatação;
• muitos livros exigem dedicação de anos por parte do
autor, eventualmente patrocinados pelas editoras, e pre-
cisam ser remunerados;
• já existem muitos livros disponíveis gratuitamente para
download;
• muitos dos títulos baixados ilegalmente podem ser en-
contrados no mercado; O título mais
• se comparado com outros itens de consumo, o livro não baixado do ano,
é caro; da Artmed, custa
• os grandes beneficiados com o conteúdo grátis na In- R$ 130,00 e não
ternet seriam grandes empresas provedoras de acesso à tem versão para
rede e companhias de telecomunicações. e-book.
25
26. Logo após o fechamento do blog, duas editoras, que justa-
mente eram “alvo” preferencial do site clandestino, pois têm em
seu catálogo basicamente livros das “humanas”, a Boitempo e a
Contexto, pediram a sua desfiliação da ABDR por não concor-
darem com sua ação. Ela teve seu início inclusive em função de
um livro de lingüística do professor José Luiz Fiorin, publicado
pela Contexto, que imediatamente desautorizou que qualquer
atitude jurídica de repressão fosse feita em seu nome.
Jaime Pinsky, professor universitário de História, com mais de
20 livros publicados e proprietário da Contexto, divulgou nota
ao mercado reiterando o compromisso da editora em “promover
a circulação do saber” e que não concordava em participar da
repressão ao site. É um problema difícil de ser resolvido porque
as editoras vivem justamente de seu bom relacionamento com
o público, e a universidade é um grande formador de leitores.
Então, apesar de depender financeiramente da receita de vendas
dos livros, e deixar de ganhar quando o mesmo é ilegalmente
distribuído, entrar em rota de colisão com seu público consumi-
dor, seja ele atual ou futuro, é também dar um tiro no pé.
A Boitempo toca na questão central em sua nota ao merca-
do: “(...) desde a sua criação, sempre lutou pela democratização
do conhecimento, inclusive daquele viabilizado por ela mes-
ma (...). Dessa forma, seria no mínimo contraditório reprimir
nossos leitores por buscarem exatamente o que defendemos.
Responsabilizar o leitor, a parte mais frágil e também a mais
importante da cadeia editorial, é uma covardia”.
Um exemplo interessante é o do Paulo Coelho, que disponibi-
É um problema lizou e estimulou que baixassem seus textos via torrent, de graça,
difícil de ser na Internet. Para ele, quanto mais pessoas pudessem ler seus tex-
resolvido porque tos, melhor. Mais recentemente convenceu sua editora nos EUA a
as editoras vivem vender seus títulos a US$ 0,99, no formato e-book. Seu argumento
justamente é que “se os livros forem muito baratos, as pessoas serão encoraja-
de seu bom das a pagar por isso, ao invés de baixá-lo gratuitamente”.
relacionamento O mercado precisa logo descobrir uma solução para esta
com o público, equação de prover o acesso ao livro, em condições de consumo
e a universidade pelo público, pois este é um bem de valor central na formação
é um grande do país que todos desejamos, e remunerar de forma justa os
formador de editores, aqueles que investem e constroem dia-a-dia o merca-
leitores. do editorial do país. Os exemplos das indústrias fono e cinema-
26
27. tográfica estão muito próximos para que sejam esquecidos. E
até os defensores da ação da ABDR reconhecem que esta é uma
luta fadada ao fracasso.
Apesar de ainda não se ter claro qual será a solução para o
problema, há um consenso que haverá alguma revisão da Con-
venção de Berna, da qual o Brasil é signatário, que garante os
direitos do autor por 70 anos a partir de 1º de janeiro do ano
posterior à sua morte. É muito tempo. Além disso, precisaria
haver uma regulação para obras não mais editadas, ou quando
o autor não é encontrado. A garantia de autoria, conceito cria-
do no Ilumismo e que propiciou a criação de um forte mercado
de livros, é com certeza um avanço que toda a humanidade
usufrui. Mas certamente precisará passar por uma revisão para
se adequar aos novos tempos, às novas plataformas de leitura.
A França inovou ao reformular o Código de Propriedade In-
telectual, permitindo a exploração por meio digital de obras
anteriores a 2001 e que estejam comercialmente indisponíveis.
Robert Darnton, historiador americano especialista na His-
tória do livro e do Iluminismo e diretor da biblioteca de Har-
vard, esteve no Brasil recentemente e, em entrevista à Folha de
S.Paulo, deixou claro que “o futuro do livro é o acesso aberto”.
Para ele, a lei de direito autoral deve mudar, voltando ao que
era quando foi criada, em 1790 nos EUA, que garantia exclusi-
vidade por 14 anos renováveis por mais 14.
Uma iniciativa interessante é a da SciELO Livros, que disponi-
bilizada gratuitamente livros produzidos pelas editoras da Unesp,
UFBA e Fiocruz. José Castilho Marques Neto, presidente da edi- Para Robert
tora da Unesp, afirma que atualmente existe um acerto de 148 e- Darnton, a lei de
books gratuitos (pouco menos de 10% do catálogo), mas acredita direito autoral
que chegará a 25% ao fim desta década. A questão central, para deve mudar,
ele, é que “pesquisa feita com dinheiro público, de instituição pu- voltando ao
blica, deve ter acesso gratuito”. Conta ainda que na Associação que era quando
das Editoras Universitárias existe essa discussão de abrir o quanto foi criada, em
possível o acesso aos livros, sem perder de vista que elas precisam 1790 nos EUA,
ao menos serem sustentáveis economicamente. que garantia
Por fim, é importante observar os dados de pesquisa de- exclusividade
senvolvida pelo Revolução E-Book. Segundo foi apurado por por 14 anos
eles, a partir do acervo do blog Livros de Humanas, 90% das renováveis por
obras não tinham versão e-book, ou seja, foram escaneadas e mais 14.
27
28. Se as editoras transformadas em pdf. Talvez ainda seja cedo para afirmar, ou
não correrem se precisaria fazer mais pesquisas, mas a hipótese de que os
para colocar livros digitais incentivam a pirataria parece não ter comprova-
seus livros ção, quando se leva em conta os dados empíricos. De qualquer
disponíveis em forma, se as editoras não correrem para colocar seus livros dis-
meio digital, a poníveis em meio digital, a preços acessíveis, alguém o fará.
preços acessíveis, Carlos Carrenho, do blog Tipos Digitais, resume a situação da
alguém o fará.
seguinte forma: “Qualquer leitor honesto que busque a versão
digital de um livro em uma e-bookstore se sentirá legitimado a
procurar uma cópia pirata caso não encontre a edição oficial
disponível. (...) É claro que não basta que o livro esteja disponí-
vel. Ele terá de ter um preço justo”.
Venda porta-a-porta
Com a ascensão da nova classe média, e de seu poder de com-
pra, há um proporcional aumento da vendagem de livros. Como
o número de livrarias no país ainda é limitado (2.300 para 5.500
municípios), a venda porta a porta tem ganhado cada vez mais
importância. Nos últimos cinco anos, a participação desta mo-
dalidade de venda pulou de 5,4% para 21,66% do total. Os livros
que mais vendem são os ligados à educação, religiosos e de auto-
ajuda, mesmos gêneros das demais modalidades de distribuição.
Nos últimos dez anos 31 milhões de pessoas foram inseri-
das no mercado de consumo. Embora sua escolaridade formal
ainda seja baixa, há a percepção por parte deles de que seus
filhos precisam ter melhores condições de estudo. Assim a mer-
cadoria livro tem ganhado um incentivo de compra. Os pais
têm dificuldade de leitura e lêem muito pouco. Muitos deles
compram livros para que seus filhos possam adquirir o hábito e
tenham mais condições de sucesso na vida.
Nos últimos Além do mais, os filhos dessa nova classe média têm tido
cinco anos, a oportunidade de ingressar no ensino superior, graças a progra-
participação mas de inclusão do Governo Federal, e conseqüentemente sua
desta demanda por leitura e livros aumentou. Inicialmente textos li-
modalidade de gados diretamente à sua formação, mas depois seguramente de
venda pulou toda espécie. Segundo Diego Drumond e Lima, presidente da
de 5,4% para ABDL e diretor-geral da Editora Escala, “o segundo mercado
21,66% do total. que mais cresce no país é o juvenil. Portanto, hoje, a criança
28
29. Tabela 8 • Crescimento das vendas de livros no Brasil
Valores em milhões de reais
2006 2007 2008 2009 2010
Total de livros vendidos 185,0 200,2 211,5 228,7 258,6
Venda porta a porta 10,0 19,2 28,8 38,0 56,0
Participação do porta a porta 5,4% 9,6% 13,6% 16,6% 21,6%
Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010)
que está sendo educada no computador está lendo muito mais Os pais têm
livro no papel do que a criança de anos atrás”. Ou seja, há toda dificuldade de
uma geração que está crescendo lendo mais. leitura e lêem
Apenas como exemplo, a líder neste mercado, a Barsa, ven- muito pouco.
Muitos deles
deu 70 mil coleções apenas em 2010, e 55 mil em 2009, com
compram livros
aproximadamente dois mil revendedores. Este número é bas-
para que seus
tante considerável, ainda mais se levarmos em conta que o va-
filhos possam
lor de cada coleção não é nada amigável, sendo que o preço
adquirir o hábito
varia em torno de R$ 2.500,00.
e tenham mais
Além da Barsa, outras grandes empresas atuam no segmento condições de
de venda porta a porta. Entre eles, estacam-se a Jequiti, a Hermes sucesso na vida.
e a Avon, que vendem vários produtos e descobriram que o livro
também traz uma boa receita. Adriana Picazio, gerente da Avon,
afirma que “com o livro Ágape, do padre Marcelo Rossi, vende-
mos em quatro meses o que as livrarias venderam em 14 meses”.
Mercado internacional
Uma boa forma de avaliarmos as tendências de qualquer mer-
cado, inclusive o editorial, é olharmos para fora do nosso país e
procurarmos enxergar como as mudanças tecnológicas, culturais
e econômicas tem impactado as empresas e os consumidores.
Não necessariamente todas as sociedades lidam da mesma for-
ma diante do mesmo desafio, mas podemos ampliar o espectro
e vermos como elas se adaptam. Existe uma possibilidade muito
grande de seguirmos algumas das tendências já encaminhadas
lá fora ou mesmo uma mistura delas. Muitas vezes também, ao
fazermos essa análise comparativa, podemos descobrir que es-
tamos na vanguarda, ou não tão atrás, pelo menos em alguns
29
30. Os Estados aspectos. Também é necessário ter em mente que não podemos
Unidos são o fazer comparações mecânicas, artificiais, pois o que na realidade
país onde o acontece, em sua própria dinâmica diversa e cheia de possibili-
e-book teve dades, é que seguimos o nosso caminho, influenciados de forma
uma penetração incisiva ou tênua por todos os atores, internos e externos.
mais rápida e
Assim, segundo o The Global eBook Market: Current Condi-
abrangente.
tions & Future Projections, pesquisa realizada em 2011 sobre o
mercado editorial, os Estados Unidos são o país onde o e-book
teve uma penetração mais rápida e abrangente. Lá muitos títu-
los alcançam a vendagem de mais de dez milhões cópias, sendo
que muitos deles têm vendido mais de um milhão na versão
digital. Veja uma lista da participação dos e-books nas vendas
de grandes varejistas do mercado editorial mundial na tabela 9.
Já na tabela 10, podemos ver que a Amazon é o principal canal
de distribuição de e-books para mais de um terço das editoras.
É importante avaliar o que acontece e aconteceu no merca-
do americano porque é uma referência para todo o mundo, sen-
do o país que mais consome livros, com faturamento de US$ 27
bilhões em 2010. Evidentemente que o mercado europeu, asiá-
tico, como o nosso aqui no Brasil, tem suas especificidades.
Os mercados da França, Alemanha e China são bastante re-
presentativos no que se refere a títulos e volumes impressos,
porém relativamente defensivos em relação aos atores globais,
Os mercados como Google, Amazon e Apple. Tanto as autoridades como os
da França, editores locais são relutantes em ver este mercado, tão estraté-
Alemanha gico, na mão de estrangeiros. As razões são variadas: temem
e China são perder autonomia cultural, que as pequenas livrarias e edito-
bastante ras não sobrevivam e que o acervo digitalizado de sua Histó-
representativos ria esteja fora de seu alcance, de suas terras, sob domínio de
no que se refere a multinacionais americanas. E também talvez esta seja a única
títulos e volumes industria cultural em que a Europa tem a liderança. Segundo o
impressos, site Publishnews, das 10 maiores editoras do mundo em 2010,
porém seis eram européias: Pearson (Reino Unido); Reed Elsevier
relativamente (Reino Unido / Holanda / EUA); Wolters Kluwer (Holanda);
defensivos em Bertelsmann (Alemanha); Hachette Livre (França); e Grupo
relação aos Planeta (Espanha). Além disso, as mais importantes feiras do
atores globais, setor ocorrem no velho continente. Outra dificuldade para os
como Google, e-books em geral e para as grandes e virtuais é que o território
Amazon e Apple. europeu apresenta uma boa cobertura por livrarias de rua.
30
31. Tabela 9 • Faturamento com e-books
Hachette US 22%
Hachette UK 5%
Simon & Schuster Global 17%
Simon & Schuster UK 3%
Harper Collins Global 11%
Harper Collins US 19%
Harlequim Canadá 13,6%
Random House UK 8%
Fonte: Publishers Lunch (1º trimestre de 2011)
Tabela 10 • Vendas por principal canal de distribuição
Amazon 38%
E-comerce próprio 25%
Outros 16%
iBookstore 2%
Kobo 1%
iTunes 1%
B&N 1%
Não sabe 16%
Fonte: Uncovering eBooks’ Real Impact, Aptara (2011)
Temem perder
O mercado editorial da Europa Continental teme o mesmo autonomia
resultado da indústria fonográfica com sua ida para a platafor- cultural, que
ma digital. E há uma inequívoca associação entre o digital e as pequenas
livrarias e
o pirata. Eles sabem que se não entrarem no filão digital, ele
editoras não
crescerá da mesma forma, mas à margem da lei, como ocor-
sobrevivam e
reu com a música e ocorre parcialmente com o cinema. E há
que o acervo
ainda o rescaldo do sentimento iluminista, onde a imagem do
digitalizado de
livro tem um peso simbólico muito grande. Atualmente o li-
sua História
vro em seu formato impresso, físico, é visto como um símbolo esteja fora de
de resistência à modernidade, enquanto que o digital seria um seu alcance,
fenômeno americano. Uma outra forma de avaliar o crescimen- de suas terras,
to do e-book no mercado americano e inglês seria como uma sob domínio de
conseqüência da crise econômica, que vem deprimindo a renda multinacionais
das classes médias destes países. O meio digital pode ser uma americanas.
31
32. Atualmente forma de conseguir usufruir do mesmo bem de uma forma mais
o livro em econômica. Já na Europa continental haveria uma resistência
seu formato maior, devido a questões culturais já apontadas.
impresso, físico,
Outra pesquisa, do Rüdiger Wischenbart Content and Con-
é visto como
sulting, detectou que a Google, Apple e Amazon estão cada vez
um símbolo de
mais presentes e destruindo os elos tradicionais entre as edi-
resistência à
toras e livrarias nos Estados Unidos e Inglaterra. No mercado
modernidade,
americano, principalmente, muitas grandes e antigas redes de
enquanto que
livrarias quebraram ou estão em vias de quebrar.
o digital seria
O mesmo estudo aponta que os segmentos mais represen-
um fenômeno
tativos para as 58 maiores editoras do mundo são o de livros
americano.
científicos, técnicos e profissionais (CTP), com 43%, livros tra-
de (obras gerais, literatura e ensaios), com 31%, e educacionais,
com 27%. Os títulos educacionais têm aumentado ao longo dos
últimos anos e os trade caindo. A pesquisa mostra que três edi-
toras brasileiras estão entre as maiores do mundo. São a Abril
Educação, na 46º posição; a Saraiva, na 52º; e a FTD, na 56º,
as três focadas no segmento didático.
Uma hipótese ainda não totalmente verificada no mercado é
o aumento da leitura do livro em inglês. Como o meio digital é
instantâneo, os leitores do resto do mundo não precisariam es-
perar meses para o lançamento da edição em sua língua nativa.
Haveria assim uma compra direta do produto em sua origem,
sem intermediários locais. Este fenômeno já foi visto na Holan-
da, Suécia e Eslovênia.
Outra discussão interessante é a respeito de a leitura por meio
de dispositivos eletrônicos seria mais saudável para o planeta ou
não. O argumento dos aficcionados por tecnologia é que há uma
enorme economia de papel, que consome bastante água em sua
A Google, Apple fabricação e combustível fóssil na distribuição, além da energia
e Amazon estão na distribuição física dos livros impressos. Já o grupo contrário
cada vez mais diz que os aparelhos eletrônicos são muito mais poluentes do que
presentes e a indústria do papel, por exemplo, que refloresta o que consome.
destruindo os Para conferir um pouco de credibilidade ao debate, a National
elos tradicionais Geographic divulgou estudos que comprovam que a partir de 14
entre as editoras livros lidos eletronicamente já compensam o seu uso. Segundo
e livrarias nos ela, a produção de cada livro em papel consumiria 8,85 quilos
Estados Unidos de CO2, ou seja, 14 vezes o equivalente para a produção de um
e Inglaterra. e-reader ou tablet. Além disso, poderia se usar o aparelho para
32
33. ler jornais e revistas, ver televisão, pois consome 33 vezes menos Outra discussão
do que um aparelho de TV, em média. interessante é
a respeito de a
Com o aumento da utilização de livros digitais, os e-books,
leitura por meio
torna-se mais fácil a publicação para os autores independentes.
de dispositivos
Antes este processo passava obrigatoriamente por uma editora,
eletrônicos seria
e não raras vezes ele precisava pagar pela edição. Com isso, os
mais saudável
autores ganham mais liberdade e mesmo poder junto às editoras,
para o planeta
pois têm mais opções. Os autores de primeira viagem conseguem
ou não.
realizar seu sonho de publicar o livro e os autores já consagrados
ficam menos presos às editoras. A auto-publicação, via e-book,
também pode baratear o livro, pois o texto pode passar do au-
tor diretamente para o leitor, sem que uma série de pessoas o
manuseie e conseqüentemente torne o livro mais caro. O livro
costuma passar por revisão, preparação, diagramação, capista,
edição, agentes literários, marketing, distribuição, venda, ufa!
É claro que todas estas pessoas contribuem para a qualidade
do livro. Liberdade geralmente vem com mais responsabilidades.
Portanto os autores terão muito mais tarefas, e podem ter enormes
dificuldades para superarem algumas. Toda essa engrenagem aca-
ba por conferir uma maior qualidade ao produto (o livro).
O livro não é apenas o seu texto. Como qualquer outra mer-
cadoria, obedece a certa lógica de seu segmento. Para que um
livro chegue a ser publicado, muitos profissionais contribuem o
seu resultado e, além disso, para selecionar os melhores produ-
tos. A maioria dos livros escritos sequer é publicada, por falta
de interesse de alguma editora. Esse processo sem dúvida sele-
ciona os títulos que os editores acham mais rentáveis para seus
próprios bolsos, como são as regras do capitalismo.
É difícil imaginar um futuro cenário do mercado editorial
sem os editores. Talvez os livros façam sucesso nas redes so-
ciais e as pessoas entrem no site dos autores diretamente e o
comprem. A Internet pode criar sua própria massa crítica. En- Com o aumento
tranto, a auto-publicação vai agravar um dos problemas que da utilização de
novos autores têm, que é alcançar alguma visibilidade para a livros digitais, os
sua obra. Com muitos mais títulos disponíveis, conseguir cha- e-books, torna-
mar a atenção para o seu texto será uma tarefa cada vez mais se mais fácil
árdua. Márcio Souza, romancista iniciante. resumiu a situação a publicação
com muita graça: “É mais fácil livrar-se de um cadáver que de para os autores
mil exemplares de um livro”. independentes.
33
34. A relação entre A relação entre editores e autores pode ir do harmônico
editores e para o belicoso em função do retorno e da atenção que cada
autores pode ir um pode proporcionar ao outro. Segundo pesquisa feita para
do harmônico o Writer’s Workshop, entre 320 escritores britânicos ouvidos,
para o belicoso 74,2% estão dispostos a eliminar sua editora se os e-books con-
em função do tinuarem a ganhar mercado, apesar de 74,6% considerarem
retorno e da boa ou excelente sua relação com a editora.
atenção que
Uma mostra disso é que a Amazon, líder no mercado ameri-
cada um pode
cano de livros, físicos e digitais, começa a permitir que autores
proporcionar ao
independentes comercializem seus textos por seu canal de venda
outro.
sem o intermédio da editora, tornando o retorno financeiro para o
autor incomparavelmente maior. Atualmente, segundo a Amazon,
15% dos seus livros mais vendidos para Kindle, sua plataforma
de leitura, são de auto-publicação. Atualmente esses best-sellers
acabam sendo incorporados ao mercado editorial tradicional, mas
no futuro isso pode não mais acontecer. Mas é importante que se
avalie que desta forma o livro não tem o tratamento profissional
de editores, tanto em sua confecção como em sua venda.
Alias, em relação à Amazon, é importante desenvolvermos
um pouco mais o assunto. Ela atua no mercado determinando
o preço, com descontos que variam entre 30% e 60% do valor
de capa (este é o modelo chamado de distribuição). Procura
vender mais barato porque usa o livro para atrair o consumi-
dor para sua plataforma de compras, onde pode levar outros
produtos, mais caros, e com maior margem para a companhia.
Esta é uma reclamação recorrente do mercado em relação à
empresa, pois canibaliza o mercado editorial, e muitas grandes
e tradicionais redes varejistas nos EUA quebraram em função
de sua concorrência, para vender outros produtos.
Conhecer a Amazon é importante porque ela está prestes
Com a auto- a entrar no mercado brasileiro. Segundo seu presidente, Jeff
publicação, o Bezos, seus objetivos são chegar à lua e ao Brasil. Inicialmente
livro não tem mira o mercado de livros, mas seu alvo principal é o merca-
o tratamento do de varejo pela Internet, que movimentou R$ 20 bilhões em
profissional de 2011 e deve chegar a R$ 80 bilhões em 2015. É importante
editores, tanto observar um pouco as proporções, pois ela faturou US$ 48 bi-
em sua confecção lhões em 2011, com atuação em 132 segmentos. Ou seja, fatura
como em sua hoje sozinha o que o todo o mercado brasileiro daqui a qua-
venda. tro anos somando todos os setores de comércio eletrônico. Seu
34
35. portal de compras tem 100 milhões de clientes e mais de 43 mil A Amazon fatura
funcionários ao redor do mundo. hoje sozinha
o que o todo
Apenas para se ter uma idéia, estima-se que a Amazon so-
o mercado
zinha representa 75% do mercado de livros físicos e 65% dos
brasileiro
e-books no mercado americano. Em 2010, considerando-se ape-
daqui a quatro
nas o faturamento dos cinco maiores distribuidores, a Amazon
anos somando
alcançava a cifra de US$ 34,2 bilhões (78,8%), a B&N US$ 5,8
todos os setores
bilhões (13,4%); a Borders US$ 2,8 bilhões (6,5%), a Books-A-
de comércio
Million US$ 508 milhões (1,2%) e a Powell’s Books 61 milhões
eletrônico.
(0,1%). A Borders fechou as portas em setembro daquele ano,
com mais de 19 mil empregados. É uma participação enorme
que será muito difícil para manter, até porque as seis maiores
editoras não estão gostando da forma como a empresa age. No
mercado de e-books, por exemplo, ela força o preço máximo de
US$ 9,99, baixando consideravelmente as margens das editoras.
O preço médio oscila entre US$ 0,99 e US$ 4,99. Elas reclamam
que a empresa está criando consumidores às custas delas, e num
futuro qualquer não haverá mais editoras que consigam suportar
esses preços. Outro risco é que a própria Amazon está se tornan-
do uma casa publicadora, por meio de sua plataforma de auto-
publicação. Mesmo para aqueles que consomem livros em iPads,
pasmem, apenas 29% o fazem via iBookstore, contra 40% pela
Amazon (segundo pesquisa da Codex Group Survey, 2010). E o
Kindle, seu e-reader, está disponível em mais de 100 países.
Outros varejistas, aliados das editoras e da Apple, defendem
o modelo de agência, onde o produtor define o preço e o distri-
buidor/vendedor fica com uma margem pré-fixada (30% no caso
da Apple). Ocorre que o Governo norte-americano processou
a Apple e cinco das seis maiores editoras que atuam no país, as
Big Six (Penguim, Macmillan, Simon&Schuster, Hachette, Har-
perCollins, a Random House faz parte do grupo, mas não está
sendo processada). O Departamento de Justiça alega que há uma
conspiração para aumentar os preços dos livros digitais (carte-
rização) e a parte contrária argumenta que procura aumentar a A Borders fechou
concorrência na indústria, dominada pela Amazon. O mercado as portas em
americano é bastante concentrado, pois as 50 maiores editoras setembro de
detém 80% de todo o faturamento do setor. 2010, com
No mercado americano a norma era uma editora vender seus mais de 19 mil
livros a uma livraria por aproximadamente metade do preço de empregados.
35
36. O Departamento capa, sendo que a loja poderia dar os descontos que quisesse.
de Justiça Mas a Amazon, para ganhar mercado, colocou os preços ainda
americano alega mais baixos do que o padrão, às vezes até com prejuízo, no que
que há uma muitos a acusam de dumping. O que a Apple e as editoras ale-
conspiração para gam é que o modelo de agência foi uma resposta a esta prática
aumentar os desleal. Já a plataforma da Google é nas nuvens. É interessante
preços dos livros observar o tamanho dos atores neste novo mercado editorial,
digitais a Apple tem um valor de mercado de US$ 41,7 bilhões, contra
US$ 26,5 bilhões da Google e US$ 5,6 bilhões da Amazon.
Na Europa existe uma lei que determina que seja a editora
quem fixa o preço de capa, a fim de preservar as pequenas livra-
rias. As grandes normalmente poderiam fazer grandes descon-
tos por causa da escala, e por venderem outros produtos, como
a francesa FNAC, mas, por causa da lei, são proibidas por um
determinado período.
Concorrente da Amazon no ramo da auto-publicação, o
Smashwords já tem 127 mil títulos, de 44 mil autores (números
de junho de 2012). Desde 2008 permite a publicação e distri-
buição por parte de autores e editores de forma rápida, fácil e
gratuita (cobra apenas 15% de participação na vendagem). O
autor fica com cerca de 60%, pois ainda há uma parte para o
canal de venda e as despesas com o cartão de crédito. Pelo mo-
delo tradicional, o autor recebe por volta de 12% no mercado
americano (no brasileiro, entre 5% e 10%). O autor/editor faz
o upload de um texto em Word e o site o converte para mais de
nove formatos diferentes de e-books, onde o livro automatica-
mente fica disponível para a venda.
A média de preço dos livros no site é abaixo de US$ 3 e apro-
ximadamente 15 mil títulos são de graça. Há um concenso que
Na Europa os autores de livros independentes estão forçando os preços para
existe uma lei baixo (juntamente com a política da Amazon). E o presidente da
que determina empresa, Mark Coker, garante que há uma vigília para averiguar
que seja a se o conteúdo dos livros está formatado corretamente e é origi-
editora quem nal. O mais interessante é que o consumidor pode adquirir os li-
fixa o preço vros por qualquer canal convencional (Apple, B&N, Sony, Kobo
de capa, a fim etc., mas ainda não com a Amazon, que tem sua própria pla-
de preservar taforma). Mais recentemente novos e poderosos atores de peso
as pequenas entram neste mercado de auto-publicação, como a B&N, Apple
livrarias. e Kobo, que têm fortes canais de varejo. Na Internet, com uma
36
37. História dos livros digitais
Michael S. Hart lança o Projeto Gutenberg com a Declaração de
1971
Independência, primeiro texto digital.
Criação da Voyager Company, primeira empresa a adaptar livros para
1985
computadores.
1997 Projeto Gutenberg atinge 1.000 títulos.
1998 Lançamento do primeiro dispositivo e-reader, da Rocket.
Stephen King lança o livro Riding the Bullet, 1º e-book comercial. Nas primeiras
2000
24 horas, 400 mil copias são baixadas.
Randon House e HarperCollins começam a lançar versões digitais de seus
2002 títulos.
As vendas de e-books atingem US$ 2,1 milhões no primeiro ano.
2003 Projeto Gutenberg atinge 10.000 títulos.
As vendas de e-books atingem US$ 25,2 milhões.
2006
Sony lança o Sony Reader.
2007 Amazon lança o Kindle, com mais de 90 mil títulos disponíveis.
As vendas de e-books atingem US$ 441,3 milhões.
2009
Barnes&Noble lança o Nook.
Apple lança o iPad e o iBookstore.
2010
Google abre sua loja virtual com 3 milhões de títulos.
Projeto Gutenberg atinge 33.000 títulos.
2011
Amazon vende mais e-books do que livros físicos.
2012 Projeto Gutenberg tem hoje 39.000 títulos.
simples busca se pode encontrar várias experiências de auto-pu-
blicação nos mais diferentes sites. Relatam tanto as facilidades Em relação
e dificuldades técnicas, como as vantagens e os perigos legais e aos e-books,
financeiros. Segundo a Kobo, que tem cinco milhões de clientes, será necessário
a auto-publicação representa 7% das vendas nos EUA, 8% na chegar a um
Ásia, 9% na América do Sul, 10% na Austrália e Europa e 14% consenso a
respeito de como
na África. O preço médio da auto-publicação é US$ 4,22, contra
preservar os
US$ 7,29 das editoras. O preço médio nos EUA para autores ini-
direitos autorais
ciantes é entre US$ 0,01 e US$ 3,99; catálogo entre US$ 4,99 e
sem dificultar
US$ 9,99; e best-sellers entre US$ 9,99 e US$ 14,99.
o acesso e
Em relação aos e-books, será necessário chegar a um con- o manuseio
senso a respeito de como preservar os direitos autorais sem difi- por parte do
cultar o acesso e o manuseio por parte do consumidor. O setor consumidor.
37
38. Consegui de música, por exemplo, não quis de adaptar aos novos meios e
entrevistar acabou sendo engolido pela pirataria.
nove pessoas
É interessante também pensarmos no impacto que os e-
em editoras que
books têm tido na educação. Em pesquisa desenvolvida pelo
trabalham de
site americano ecampus.com, quando perguntados a respeito
alguma forma
de qual recurso mais valorizavam nos textos digitais, 52% dos
com livros onde
pesquisados escolheram a opção de busca, 20% a de marcar,
História é o
14% copiar e colar, e 12% a interatividade. A plataforma em
assunto central
que mais acessavam os textos era o laptop, com 64%, seguido
ou marginal.
do tablet, com 18%. E, segundo pesquisa da Publishers Weekly,
de 2010, 76% das editoras americanas já produzem versões e-
books, sendo 10% delas o fazem em detrimento de suas versões
impressas. Outra coisa interessante que a pesquisa revela é que
21% delas produzem seus e-books com recursos adicionais em
relação às versões impressas.
Pesquisa com editores
Desde o início de minha jornada para a produção deste tra-
balho sabia que precisaria conversar com as pessoas que real-
mente põem a mão na massa, que são os editores. O autor, é
claro, também dá um duro danado, mas o editor trabalha no
processo todo e também no próprio texto, enquanto que o au-
tor, geralmente, pára na entrega do original.
Inicialmente imaginei que poderia entrevistá-los todos pes-
soalmente, depois percebi que não conseguiria. Muitos não te-
riam tempo para mim, que realizava um trabalho de escola, mes-
mo que fosse uma pós-graduação, e eu mesmo vi que não teria
como, pois tenho um trabalho onde preciso cumprir o horário
comercial. Até pedi para me ausentar por duas horas para uma
determinada entrevista, mas sabia que não poderia abusar.
Este nicho tem Consegui entrevistar nove pessoas em editoras que trabalham
um espaço de alguma forma com livros onde História é o assunto central ou
consolidado no marginal. Fiz duas entrevistas pessoalmente, uma por telefone
mercado e vem e seis por email. Comprometi-me com elas a não divulgar seus
crescendo há nomes e nem de suas empresas, a fim de não comprometê-las e
mais de duas para que pudessem me falar mais francamente como viam e se
décadas. relacionavam com o mercado. Assim, as falas individuais não
38
39. serão distinguíveis ao longo do texto. Procurei mais identificar A maioria dos
assuntos e opiniões (divergentes às vezes) do que personagens. leitores de livros
de História não
é especializada,
Livros de História
e sim de pessoas
Segundo um experiente editor especializado em livros de que têm interesse
História, e aqui contando-se apenas os de não ficção, este nicho mais genérico
tem um espaço consolidado no mercado e vem crescendo há por questões
mais de duas décadas. “Mesmo quando todo mundo está recla- históricas.
mando eu vendo bem e vejo minha editora crescendo”, afirma.
Outro editor também disse a mesma coisa, que os bons li-
vros de História têm público. Os mais fáceis tem um público
mais amplo e os mais difíceis um menor. Um deles afirmou
que cerca de 10% de seu catálogo é diretamente voltado ao
tema, se incluirmos as biografias. E que acredita fortemente no
tema, pois conta com alguns best-sellers. Outro disse que tem
algumas biografias que vendem muito e há bastante tempo. “Os
que fazem sucesso são os para público leigo”, afirma. Já os mais
acadêmicos têm em geral uma demanda mais modesta.
Público
Em uma das entrevistas, afirmou-se que a maioria dos leito-
res de livros de História não é especializada, e sim de pessoas
que têm interesse mais genérico por questões históricas. “Há
um grande público interessado por biografias, mas me parece
que os romances históricos já não fazem tanto sucesso”, ponde-
ra. Outras entrevistas tinham mais ou menos o mesmo conteú-
do, de que cada livro tem o seu público. “Mudamos
a ordem dos
capítulos,
Processo de trabalho
tornamos trechos
Um editor relatou que sua equipe mexe no texto dos autores mais legíveis,
de forma integral. “Mudamos a ordem dos capítulos, tornamos cortamos pedaços
trechos mais legíveis, cortamos pedaços excessivos, incluímos de- excessivos,
talhes que são importantes para o público não especializado”. Ele incluímos
também fez questão de deixar claro que submete todas as altera- detalhes que são
ções ao autor, quem é realmente o “dono” do texto. Mesmo esta importantes para
questão às vezes pode ficar menos nítida quando o próprio livro é o público não
resultado de uma pauta, ou encomenda, vinda da editora com mi- especializado”.
39
40. O grande nuciosas especificações quanto à abrangência do conteúdo e sobre
obstáculo a forma, mais precisamente a linguagem e organização do texto.
para que um
A dinâmica me pareceu próxima a de um veículo de notí-
pesquisador
cias, como um jornal, revista ou mesmo TV, onde os editores
especialista
fazem pautas precisas e detalhadas sobre como querem que os
escreva livros
repórteres abordem determinado assunto. Os jornalistas vão a
para o público
campo, colhem as informações e produzem seu trabalho, que
mais amplo é a
é posteriormente editado, segundo critérios dos editores. Aqui
linguagem.
novamente existe uma relação entre livros de História, mesmo
os escritos por historiadores profissionais e jornalistas, em seu
trabalho em veículos de comunicação. Tanto em um caso como
em outro, a autoria não é algo exclusivamente individual, fruto
de uma cabeça que sozinha alcança todas as dimensões de um
tema. É resultado do trabalho de uma equipe, onde o autor, ou
repórter, assina um trabalho feito por inúmeras mãos.
Linguagem
Quando relatei a um editor a percepção geral que tive a
partir do resultado da pesquisa com o público leitor (ver pági-
nas 58 a 60), ele concordou 100% comigo. O grande obstácu-
lo para que um pesquisador especialista escreva livros para o
público mais amplo é a linguagem. “Os historiadores em geral
escrevem em sua língua própria, cheia de seus jargões pro-
fissionais, e não conseguem alcançar o grande público. E há
também alguns que não conseguem porque são incompeten-
“O autor ideal
tes mesmo, pois há incapazes em todos os setores”, pondera.
é o que sabe
Disse ainda que já viu inúmeras teses muito bem feitas, muito
conciliar a sua
bem escritas, mas que são impublicáveis como livros por sua
erudição com
editora, pois são textos muito restritos, no sentido da especi-
a facilidade
ficidade do objeto tratado.
de expressar
claramente Outro editor me disse a mesma coisa. “Estimo que 85% do
os principais que a academia escreve é impublicável”. Outros editores con-
conceitos cordaram que a questão da linguagem é fundamental para o
envolvidos afastamento do historiador profissional do público. Por isso os
e expor com jornalistas têm obtido tanto sucesso na área, pois eles escrevem
relativa fácil, sabem construir enredos interessantes, conseguem criar
brevidade as empatia entre o leitor e os personagens. Normalmente os his-
questões”. toriadores estão preocupados com outras questões, como, por
40
41. exemplo, de método, do conhecimento, da verdade e do senti- Alguns
do. Os jornalistas escrevem tendo em vista o maior obstáculo consideram
que o setor enfrenta, que é o baixo grau de leitura do brasileiro. uma temeridade
Além disso, conseguem usar seu faro, seu senso de oportunida- livros de
de, para extrair grandes narrativas de eventos históricos. História serem
escritos por
Mas todos são unânimes em dizer que sempre haverá espaço
pessoas não
para os textos bem escritos, consistentes e conectados à socie-
especializadas.
dade. O difícil seria avaliar exatamente o que cada uma dessas
palavras quer dizer para cada um, em cada tempo. Segundo um
editor, “o autor ideal é o que sabe conciliar a sua erudição com
a facilidade de expressar claramente os principais conceitos en-
volvidos e expor com relativa brevidade as questões. Sabe o que
quer dizer e para quem quer falar. É um equívoco tentar atingir
todos os públicos ao mesmo tempo”.
Historiadores versus jornalistas
Apesar da questão da linguagem, alguns consideram uma
temeridade livros de História serem escritos por pessoas não
especializadas. “Uma obra de síntese é a conclusão de toda
uma vida dedicada à pesquisa”, afirma um editor. Seguindo
este raciocínio, mesmo o graduado em História que não seguiu
carreira acadêmica convencional teria dificuldade em publicar
seu texto. Jornalistas então nem pensar. Esta é uma questão
bastante polêmica, pois dois dos autores mais bem vendidos
de livros de História em nosso país são jornalistas. E não raro
jornalistas se aventuram neste tema. Élio Gáspari, colunista da
Folha de S. Paulo, escreveu a quadrilogia “A Ditadura Enver-
gonhada”, “Escancarada”, “Encurralada” e “Derrotada”. Estes
três autores receberam críticas elogiosas na imprensa inversa-
mente proporcionais às da academia.
Os historiadores profissionais não reconhecem estes livros A maioria dos
como sendo de História, ao mesmo tempo em que o público, professores
mesmo o que eventualmente gosta do tema, geralmente nunca universitários
ouviu falar dos doutores da academia. Esta é uma questão ainda de História não
mais complicada porque a maioria dos professores universitários está interessada
de História não está interessada em escrever para o público mais em escrever para
amplo. Uma editora, por email, levantou também uma questão o público mais
interessante: “Há um enxame de livros de História ruins, porque amplo.
41
42. É mais fácil e os acadêmicos são obrigados a publicar para alimentar o currí-
seguro trabalhar culo e com isso conseguir melhores ganhos”. Ou seja, o próprio
o texto do “mercado acadêmico” tem uma dinâmica perversa que leva a
acadêmico, textos, e eventualmente livros, mal cuidados.
no sentido
A grande maioria dos editores, com exceção de um, disse
de extrair o
que não vê problema em publicar textos de não profissionais,
tecnicismo, do
desde que tenham qualidade. “O que interessa é que o autor
que acrescentar
seja honesto e eticamente sério, comprometido com a verdade.
reflexão e
Tem que se dedicar ao trabalho, ser talentoso e para mim tanto
análise em um
faz qual diploma tem”, pensa um deles. Um apenas foi bastante
texto de um não
enfático ao dizer que só publica textos produzidos por profis-
especialista.
sionais do ramo, os historiadores pesquisadores. Ou seja, para
ele, é mais fácil e seguro trabalhar o texto do acadêmico, no
sentido de extrair o tecnicismo, do que acrescentar reflexão e
análise em um texto de um não especialista.
Auto-publicação
Nesta linha de raciocínio, sobre quem seria mais competen-
te para escrever, a auto-publicação se torna um grande risco. O
editor profissional tem basicamente duas funções principais: a
primeira é de curadoria, ou seja, selecionar material de quali-
dade para oferecer para o público, como qualquer comerciante;
Um dos
a segunda é o seu labor especializado de edição, que transfor-
entrevistados
ma um texto em um livro, que envolve uma série de profissio-
fez um duro
nais diferentes, cada um com sua especialidade. Este modelo
discurso contra
de publicação, mais autoral, só seria viável se os escritores ga-
as plataformas
nhassem estas expertises, ou as contratassem diretamente. Am-
de auto-
bas as coisas não são muito viáveis em larga escala, até porque
publicação,
produzir e vender livros não são coisas fáceis nem mesmo para
que seriam
experientes profissionais do ramo.
“marginais” e
“irresponsáveis”. Para alguns editores, a questão da auto-publicação por meios
Ele afirmou digitais não muda nada, pois cada vez mais os meios para isso
que “milhares estão facilitados. E desde sempre autores que não tinham espaço
de títulos são no mercado editorial, ou os que tinham muito sucesso, optam
lançados por dia por abrir suas próprias editoras, ou bancar do próprio bolso as
sem qualquer edições de seus textos. Os títulos de qualidade, ou mesmo de
seleção, controle sucesso econômico, entrarão no mercado editorial e ocuparão o
ou trabalho. seu espaço. “Entrarão para o sistema”. O único senão talvez seja
42