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Pedro Penafiel




        Projeto
Academia de História
ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING
    Programa de Pós-graduação em Design Estratégico




                  Pedro Penafiel




projeto academia de História




                                          Projeto de conclusão de curso,
                                          entregue como requisito final para
                                          obtenção do título de pós-graduado
                                          em Design Estratégico.

                                          Equipe docente de orientação:
                                          Profª Ellen Kiss
                                          Profª Martha Terenzzo




               São Paulo, julho de 2012
Contato do aluno:
pedropenafiel@uol.com.br
“O livro, bem sabemos, é o tijolo
 com que se constrói o espírito”.

                  Darcy Ribeiro
Agradeço sinceramente às pessoas que responderam às mi-
nhas três pesquisas. Em primeiro lugar, aos editores que me
ofereceram, além do seu tempo, muitas valiosas informações e
sugestões para o desenvolvimento deste trabalho. Em segundo
lugar, aos colegas de graduação da Faculdade de História da
USP, que conversaram comigo e me responderam às duas per-
guntas que lhes fiz. E por fim, mas não menos importante, a mais
de uma centena de pessoas que responderam de forma bastante
comprometida ao questionário que postei no Googledocs.
   Agradeço também às minhas duas orientadoras, Ellen Kiss
e Martha Terenzzo, que me apoiaram, me incentivaram e gene-
rosamente me ofereceram novos caminhos.
   Agradeço também aos meus colegas da pós-graduação da
ESPM, que nos momentos de desânimo me incentivaram a
continuar adiante. Em especial aos que dialogaram comigo a
respeito de possibilidades de trabalho, conhecimento e me su-
geriram novas fontes de pesquisa.
   Agradeço à Fundação Carlos Chagas, instituição que traba-
lho, por ter financiado integralmente esta pós-graduação.
   Agradeço ainda, por fim, à minha família pelo apoio e pa-
ciência ao longo deste um ano e meio de curso e dois intensos
meses de TCC.
Sumário

Introdução...........................................................................11
Análise do setor...................................................................13
  Mercado editorial brasileiro...........................................13
  Mercado internacional. ..................................................29
                                .
  Pesquisa com editores.....................................................38
Análise do assunto...............................................................47
  Principais autores para leigos..........................................47
  Graduados de História. ..................................................52
                              .
O consumidor......................................................................57
   Pesquisa com o público leitor..........................................57
   Pesquisa do Instituto Pró-livro. ......................................68
                                           .
Dados coletados...................................................................77
  Forças.............................................................................78
  Oportunidades ..............................................................78
  Fraquezas . .....................................................................79
  Ameaças.........................................................................79
            .
O negócio............................................................................81
   Missão............................................................................83
   Objetivos........................................................................83
   Público alvo....................................................................84
   Pesquisa..........................................................................85
   Ilustrações......................................................................86
                   .
   Redação..........................................................................86
   Referências.....................................................................87
   Livro impresso................................................................88
   Aplicativos para tablets...................................................89
   E-readers. .......................................................................90
                 .
   Site. ................................................................................90
       .
   Redes sociais. .................................................................92
                       .
   Equipe............................................................................92
   Remuneração..................................................................93
   Receitas..........................................................................94
Considerações finais............................................................95
                    .
Bibliografia..........................................................................99
Introdução

   Inicialmente pretendia fazer um Trabalho de Conclusão
de Curso com um conteúdo mais acadêmico, mais alinhado
à minha formação, em História. Mas prevaleceu o perfil da
instituição em que faço o curso, a ESPM, que se avalia como
uma escola de negócios. Minha idéia inicial era investigar a
relação entre arte e design, como discurso, ou melhor, como
História do discurso sobre o que seria um e outro e depois
sua interelação.
   Depois da recusa de minha primeira opção, precisava
achar algo que se encaixasse no perfil de TCC da escola, algo
que fosse um plano de negócio. Então me lembrei de que des-
de o início da graduação em História desejava e pretendia
aproximar o curso que fazia, e que adorava, com a profissão
que tinha abraçado desde o início da vida adulta, o design,
principalmente na área gráfica e editorial. Tive muitas idéias
ao longo da graduação, mas nenhuma vingou. Principalmente
por questões práticas de sobrevivência, pois sempre tive de
focar mais esforços e meu tempo em atividades remuneradas.
E todos sabemos que a vida de autor no Brasil é para poucos,
pouquíssimos na verdade.
   Desta forma acabei percebendo que seria uma excelente
oportunidade aproveitar este TCC na ESPM para investigar a
relação entre o mercado editorial e a disciplina História. Como
estou próximo a estes dois “mercados” há bastante tempo, e
tinha várias idéias a respeito da interligação destes temas, pre-
cisei me segurar e elaborar as pesquisas de “cabeça aberta”.
Não poderia contaminar meu projeto presumindo que sabia o
resultado do que viria.
    O resultado foi o que consegui alcançar nestes dois meses de
trabalho. Usei aproximadamente 40 dias para a primeira parte,
de pesquisa do mercado, do assunto, das pessoas envolvidas, o
consumidor, e os demais 20 para desenvolver a idéia do produ-
to, fruto do resultado do trabalho.

                                                                    11
Como ex-aluno de História, na parte da pesquisa me sen-
     ti em casa, confortável, mesmo neste exíguo tempo consegui
     fazer algo que pudesse me satisfazer. E mesmo na parte de
     criação do produto, embora estivesse mais distante de minha
     formação, não me foi difícil, pois trabalho há mais de 20 anos
     como designer gráfico, parte dele na área editorial, muitas ve-
     zes auxiliando na criação de novos produtos. A primeira parte,
     talvez por resquício dos tempos de graduação, tem muito texto.
     Já a segunda, mais alinhada à pós, tem mais bullets.
         Apenas uma breve observação àqueles que eventualmente
     forem ler este trabalho, além, é claro, de seus examinadores
     acadêmicos. Ele foi desenvolvido com um propósito já expli-
     citado, de conclusão de curso, portanto é muito mais extenso
     do que seria um plano de negócio convencional. E tem cer-
     tas características que também não estão presentes em planos
     de negócio, como bibliografia e uma busca de reflexão sobre o
     processo de trabalho. De qualquer forma, acho que a leitura
     do material pode contribuir para uma maior compreensão do
     mercado editorial, o assunto História e a relação entre ambos.
        Boa leitura!




12
Análise do setor

Mercado editorial brasileiro
   A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em
conjunto com a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e o SNEL
(Sindicato Nacional dos Editores de Livros), realiza pesquisa
anual sobre o mercado editorial brasileiro. Na edição de 2010,
descobriu-se que existem 750 editoras no país, sendo que ape-
nas 498 alcançam a meta definida pela Unesco para uma em-
presa editorial, de cinco títulos e cinco mil exemplares por ano.
Destas, 231 faturam até R$ 1 milhão; 189 entre R$ 1 milhão e
R$ 10 milhões; 62 entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões; e 16
editoras faturam acima de R$ 50 milhões por ano.
   O tamanho do mercado editorial brasileiro cresceu de R$
3,3 bilhões em 2008 para R$ 4,1 bilhões em 2009 (8,12% ou
2,63% se descontarmos a inflação), sendo que aproximadamen-
te R$ 1 bilhão é a participação do Governo. E se desconside-
rarmos as compras governamentais, o mercado cresceu 2,99%
(ou caiu 2,24%, se descontarmos a inflação). O faturamento do
setor pode ser visto de forma mais detalhada na tabela 1.
   Quanto ao número de exemplares vendidos, houve um cres-
cimento de 13,12% (contando o Governo), o que significa que
o preço médio do livro manteve a tendência de queda, o que          Existem 750
ocorre desde 2004 (33,42% em preços médios reais, conside-          editoras no
rando-se a inflação do período). Nas tabelas 2 e 3 vemos que        país, sendo que
os dados não batem, embora tenham sido gerados pelo mes-            apenas 498
mo instituto. Parece-me que os valores da tabela 3 estão mais       alcançam a meta
próximos da realidade, pois livros didáticos não devem ter um       definida pela
valor médio próximo de R$ 10,00, mesmo levando-se em conta          Unesco para
que o Governo é o maior comprador, conseguindo desconto de          uma empresa
até 90%. O fato é que o valor do livro no Brasil é caro, tanto      editorial, de
em valores absolutos, quando o comparamos com o restante do         cinco títulos
mundo, e mais ainda em valores proporcionais ao nosso padrão        e cinco mil
de renda. Mas esta realidade vale para todo o varejo, não sendo     exemplares por
exclusividade do setor. Tudo no Brasil é caro.                      ano.

                                                                                    13
Tabela 1 • Produção e vendas do setor editorial brasileiro
                           Produção
                                                                 Vendas
                     (1º edição e reedição)
     Ano           Títulos        Exemplares       Exemplares         Faturamento
     1990          22.479         239.392.000      212.206.449            901.503.687
     1991          28.450         303.492.000      289.957.634            871.640.216
     1992          27.561         189.892.128      159.678.277            803.271.282
     1993          33.509         222.522.318      277.619.986         930.959.670
     1994          38.253         245.986.312      267.004.691        1.261.373.858
     1995          40.503         330.834.320      374.626.262        1.857.377.029
     1996          43.315          376.747.137     389.151.085        1.896.211.487
     1997          51.460         381.870.374      348.152.034        1.845.467.967
     1998          49.746         369.186.474      410.334.641        2.083.338.907
     1999          43.697         295.442.356      289.679.546        1.817.826.339
     2000          45.111         329.519.650      334.235.160        2.060.386.759
     2001          40.900         331.100.000      299.400.000        2.267.000.000
     2002          39.800         338.700.000      320.600.000        2.181.000.000
     2003          35.590         299.400.000      255.830.000        2.363.580.000
     2004          34.858         320.094.027      288.675.136        2.477.031.850
     2005          41.528         306.463.687      270.386.729        2.572.534.074
     2006          46.026         320.636.824      310.374.033        2.880.450.427
     2007          45.092         351.396.288      329.197.305       3.013.413.692,53
     2008          51.129         340.274.195      333.264.519       3.305.957.488,25
     2009          43.814         401.390.391      387.149.234       4.167.594.601,40
     2010          54.754         492.579.094      437.945.286       4.505.918.296,76
Fonte: SNEL e CBL (2011)




                        De 2009 para 2010, o preço médio caiu 4,37% (contando
                     o Governo). Em algumas tabelas os valores são absolutos e em
                     outras se precisa considerar a inflação do período. Não me deti
                     exaustivamente nesta questão porque ela não é central ao meu
                     trabalho. De qualquer forma, existem algumas novidades para
                     acontecer brevemente no setor, com a chegada de grupos inter-
                     nacionais de monitoramento de vendas de livros, como a alemã
                     GfK e a americana Nielsen.
                        Mais recentemente tem havido um movimento de concen-
                     tração das grandes editoras e livrarias, além de maior presença

14
Tabela 2 • Preços médios constantes por unidade vendida
                                         2004        2005         2006    2007     2008       2009
 Didáticos (mercado)                     14,54       12,63        11,48   10,88    10,98          9,29
 Obras gerais (mercado)                  10,50        9,17        9,03     8,90    8,15           8,28
 Religiosos (mercado)                     8,31        6,07        5,76     5,30    5,15           4,58
 CTP (mercado)                           20,53       17,98        17,10   15,79    15,73      13,50
 Total (mercado)                         12,68       10,85        10,20    9,63    9,29           8,44
 Governo                                  3,92        4,77        5,13     4,75    5,76           4,46
 Total (mercado + Governo)                8,58        8,88        8,15     7,72    8,00           6,92
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2009)




Tabela 3 • Preços Médios (mercado)
 Tipos de Venda                             2009             2010         Var. %
 Didáticos                                  21,14            18,92        -10,50
 Obras Gerais                               10,57            10,07        -4,73
 Religiosos                                 6,36             6,70          5,35
 CTP                                        28,85            28,64        -0,73
 Total                                      13,61            12,94        -4,92
 Mercado                                    3,92             4,77          5,13
 Total (mercado + Governo)                  8,58             8,88          8,15
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)




de grupos estrangeiros, fenômeno semelhante ao que ocorre no
restante da economia. O grupo espanhol Santillana investiu R$
150 milhões para comprar a Moderna, que detém 30% do mer-
cado didático; e a Abril comprou em 2004 a Ática e a Scipione.                       Mais

E aqui cabe uma pequena observação, a Moderna foi a editora                          recentemente
                                                                                     tem havido um
que mais vendeu livros no último PNLEM (Programa Nacional
                                                                                     movimento de
do Livro Didático para o Ensimo Médio), com 7,6 milhões de
                                                                                     concentração
exemplares, que o representa R$ 50,4 milhões (um custo por
                                                                                     das grandes
unidade de R$ 6,63).
                                                                                     editoras e
    As editoras portuguesas Leya, Babel e Tinta da China já                          livrarias,
entraram no país. A Leya é particularmente importante para                           além de maior
nosso tema porque edita o “Guia politicamente incorreto da                           presença
História do Brasil” e o novo livro do Eduardo Bueno, “Bra-                           de grupos
sil: uma História”. Segundo Pascoal Soto, diretor da editora no                      estrangeiros.

                                                                                                         15
Tabela 4 • Faturamento e exemplares vendidos para o Governo
 Tipos de             Faturamento em milhões de R$                 Exemplares vendidos (milhões)
 Venda                  2009            2010          Var. %          2009              2010   Var. %
 PNLD                    534             742           39,02           110              120     9,43
 PNLD EM/
                         126             151           19,34             12              17     40,34
 PNLEM
 PNBE                     60             70            17,53             10              13     30,90
 PNLD EJA/
                          18             15           -15,23             2,8            2,1    -24,90
 PNLA
 Outros
 Órgãos de                176            164           -6,65             12              10    -22,27
 Governo
 Total
                          916           1.145          24,97           148              163     10,01
 Governo
Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)




                      Tabela 5 • Preços Médios (Governo)
                       Tipos de Venda                             2009            2010         Var. %
                       PNLD                                       4,85             6,16        27,01
                       PNLD EM/PNLEM                              10,44            8,87        -15,04
                       PNBE                                       5,90             5,30        -10,17
                       PNLD EJA/PNLA                              6,60             7,45        12,88
                       Outros Órgãos de Governo                   13,66           16,41        20,13
                       Total Governo                              6,18             7,02        13,59
                      Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010)




                      Brasil, primeiro tentaram comprar a Nova Fronteira e a Ediou-
                      ro, sem sucesso. Mais recentemente a Penguim Books, uma das
                      seis maiores editoras do mercado americano, comprou 45% da
       O Governo      Companhia das Letras.
      Federal atua
                         O Governo Federal atua no mercado editorial de forma
       no mercado
                      determinante, sendo o principal comprador, entre os didáti-
          editorial
                      cos é praticamente um oligopsônio, pois inclsuive normatiza
         de forma
     determinante,
                      os currículos nacionais. O principal programa é o Programa
          sendo o     Nacional do Livro Didático, que tem modalidades para o en-
         principal    sino Fundamental, Médio e para Jovens e Adultos. Outro é o
       comprador.     Programa Nacional da Biblioteca Escolar, que contou com o

16
Tabela 6 • Produção de livros por área temática
Primeira edição e reedição
 Educação Básica (Didáticos)                                            45,72%
 Religião                                                               10,30%
 Literatura Juvenil                                                     8,89%
 Literatura Adulta                                                      8,05%
 Literatura Infantil                                                    5,38%
 Auto-ajuda                                                             2,87%
 Direito                                                                1,59%
 Dicionários e Atlas Escolares                                          1,25%
 Línguas e Linguística                                                  1,25%
 Economia, Administração e Negócios                                     0,83%
Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010)




investimento de R$ 70,9 milhões apenas em 2010 (tabela 4).
Na tabela 5 podemos ver que o valor médio por exemplar subiu
de R$ 6,18 para R$ 7,02 (13,59%).
    Os livros para o Ensino Fundamental custam para o Governo,
em média, R$ 6,00; e para o Ensino Médio, R$ 10,00. Estima-se
que, por causa da escala, este valor seja por volta de 10% do que é
vendido no mercado. Além disso, a produção é feita por encomen-
da e é o Governo o responsável pela distribuição dos livros pelo
país, com um alto custo. Para o mercado, a produção é sempre um
risco, é necessário distribuí-lo (aos atacadistas ou às lojas) e há o
custo do estoque (espaço e manutenção custam caro).
                                                                        Essa forte
   Essa forte participação é em decorrência ao que determina
                                                                        participação é
a Constituição, que impõe ao Estado a obrigação de garantir
                                                                        em decorrência
o direito ao educando de material didático escolar, transporte,
                                                                        ao que
alimentação e assistência à saúde em todas as etapas da educa-
                                                                        determina a
ção básica, por meio de programas suplementares.
                                                                        Constituição,
   Os programas do livro didático funcionam com as seguintes            que impõe
etapas: 1. publicação do edital com os critérios para inscrição         ao Estado a
das obras pelas editoras; 2. triagem das obras inscritas pelo           obrigação de
Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, para verifi-          garantir o direito
car a conformidade técnica e física dos livros com o edital; 3.         ao educando
avaliação pedagógica das obras, coordenada pela Secretaria de           de material
Educação Básica do MEC, e inclusão das aprovadas no Guia do             didático escolar.

                                                                                         17
Livro Didático, que é distribuído para todas as escolas do país;
                        4. os professores escolhem qualquer título que conste no guia;
                        5. a escola encaminha pedido ao FNDE (Fundo Nacional de
                        Desenvolvimento da Educação) com primeira e segunda opção;
                        6. o FNDE negocia a compra com as editoras por inexigibili-
                        dade de licitação, considerando que as escolhas dos livros são
                        feitas pelos próprios professores; 7. o FNDE firma um contrato
                        com cada editora; 8. se não houver acordo, contrata a obra da
                        segunda opção; 9. se persistir o impasse, adquire a obra mais
                        escolhida na região da escola; 10. a distribuição é feita a partir
                        das editoras, pelos Correios.
                            Os critérios pelos quais as obras são avaliadas podem ser en-
                        contrados em detalhes nos editais dos programas, todos desen-
                        volvidos a partir dos Parâmetros Currriculares Nacionais. Even-
                        tualmente aparecem críticas na imprensa aos livros que constam
                        no guia, mas geralmente com um simples exame às obras em
                        questão pode-se avaliar que são motivadas por questões polí-
                        ticas, ideológicas ou preconceitos. E, afinal, são os professores
                        quem afinal escolhem as obras que preferem trabalhar em sala de
                        aula. E também não podemos deixar de mencionar que o grupo
                        Abril, um dos principais adversários políticos dos dois últimos
                        Governos, detém o controle do maior grupo editorial didático
                        do país, com a Ática, Scipione, Anglo, entre outros. Entre 1998
                        e 2006, 90% das compras do FNDE foram feitas em dezessete
                        editoras: FTD, Ática, Saraiva/Atual, Scipione, Moderna, IBEP,
                        Brasil, Nova Geração, Dimensão, Victor Civita, Base, Nova
                        Fronteira, Quinteto, Nacional, Ediouro, Schwarcz e Formato.
                            Esta participação tem, é claro, uma dimensão comercial e fi-
                        nanceira importante. Mas também é importante ter em mente
                        que em muitas regiões do país, e em algumas classes sociais, às
                        vezes este é o único tipo de livro que o aluno tem acesso. Neste
        Em muitas       ano foi anunciado o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL),
 regiões do país,       que sob a coordenação da Fundação Biblioteca Nacional, pro-
      e em algumas      move 42 projetos, com verba total de R$ 373 milhões para 2012.
     classes sociais,   Um deles é o Projeto Livraria Popular, que pretende criar 700
     às vezes este é    pontos de venda de livros de baixo preço e formar 1.300 micros
  o único tipo de       e pequenos varejistas do livro em cursos de educação à distância.
livro que o aluno       Inicialmente a idéia era criar um catálogo de pelo menos mil
        tem acesso.     livros em mil pontos de venda espalhados pelo país e visava prin-

18
cipalmente atuar para o barateamento do valor dos livros (até R$
10,00) e, conseqüentemente, facilitar o seu acesso à população.
   Em 2010, o Ministério da Cultura lançou o “Cultura em
Números”, com um balanço dos dados brasileiros do setor. Lá
podemos ver alguns números interessantes para o mercado edi-
torial: 89,05% dos municípios têm biblioteca pública; 16,4%
realizam feiras de livros; 16,9% realizam concursos literários;
e 34% têm livraria.
    Outra forma do Estado participar do mercado é por meio
de financiamento a partir de seus diversos órgãos. O BNDES,
por exemplo, criou um cartão para oferecer R$ 74,1 milhões
para micro, pequenas e médias editoras e livrarias. Segundo
informações do próprio banco, imprimiu-se 3,7 milhões de
exemplares com estes recursos. Atualmente empresta-se a par-
tir de R$ 1 milhão, o que desagrada aos pequenos empresários,
que pleiteiam, por meio da Associação Nacional de Livrarias
(ANL), que o piso seja reduzido para R$ 300 mil.
    Além disso, tanto o Governo Federal, como muitos estados e
municípios têm programas de incentivo à cultura, onde o livro
também é contemplado. Por fim, mas não menos importante,
várias das estatais, centros de cultura, órgãos ligados à indústria   Várias das
e ao comércio, e até algumas empresas privadas (às vezes em for-      estatais, centros
ma de doação, às vezes em forma de patrocínio, incentivado por        de cultura,
lei ou não), têm editais voltados a projetos culturais, inclusive     órgãos ligados
livros. São todas ferramentas importantes para o auxílio à publi-     à indústria e
cação e de facilitação de acesso do livro à população.                ao comércio,

   Como se não bastasse, desde 2005 o Governo Federal isen-           e até algumas

ta as editoras de contribuírem para o PIS, Confins e Pasep. O         empresas

setor já era imune de impostos diretos, graças à Constituição.        privadas (às

Na época, a estimativa é que deixaria de arrecadar cerca de R$        vezes em forma
                                                                      de doação, às
160 milhões por ano.
                                                                      vezes em forma
                                                                      de patrocínio,
   E-books                                                            incentivado por
    A vida do e-book no Brasil começou com a Gato Sabido, em          lei ou não), têm
2010, com apenas 150 títulos. Em 2012 já temos quase uma              editais voltados
dezena de sites de grande porte no mercado brasileiro (entre          a projetos
elas a Saraiva, Cultura, Ponto Frio e Grioti). E mais de dez mil      culturais,
títulos disponíveis formalmente.                                      inclusive livros.

                                                                                       19
Contamos ainda com três distribuidoras digitais: a DLD
                      (consórcio da Rocco, Record, Sextante, L&PM, Planeta e Ob-
                      jetiva); a Xeriph (da Gato Sabido); e a Singular (da Ediouro).
                      Há ainda a Minha Biblioteca, que promove acordos entre as
                      editoras Atlas, Saraiva, Gen e Grupo A Educação com univer-
                      sidades. Paga-se uma tarifa mensal e os estudantes têm acesso
                      aos livros. Funciona como a antiga pasta de textos dos profes-
                      sores, só que totalmente legalizado. Entretanto, a participação
                      do e-book ainda é uma promessa para o mercado, pois repre-
                      senta entre 1% e 3% de seu faturamento.
                          Esses números ainda não são significativos porque o bra-
                      sileiro associa a leitura de livros digitais ao computador, que
                      não é muito amigável a textos longos e não é portátil. Mas,
                      ao mesmo tempo, o setor está se preparando para este cenário
                      mudar, pois cada vez mais o consumidor estará familiarizado
                      com os e-readers e os tablets, que permitem uma leitura mais
                      agradável e é portátil.
                          Três dos principais empecilhos para o crescimento dos e-
                      books no Brasil são o valor do exemplar, que ainda é considera-
                      do salgado pelo consumidor. A baixa quantidade de títulos dis-
                      poníveis (Carlos Eduardo Ernanny, da Gato Sabido, sintetiza o
                      problema da seguinte forma: “No modelo físico, temos muito
                      livro para pouca prateleira. No digital, temos muita pratelei-
                      ra para pouco livro”). E, por último, a anorme diversidade de
                      plataformas e formatos do e-book, contra a padronização do
                      modelo antigo, baseado no papel impresso.
                          Os valores dos e-books são em torno de 25% dos impressos
                      e há incidência de impostos de venda, embora exista uma forte
                      tendência para que se torne isento, como no impresso. O mer-
                      cado procura ampliar esta vantagem competitiva ao meio digi-
                      tal também, por analogia. O preço dos e-books ainda não pode
     A participação   ser mais baixo no país porque há pouca demanda e o custo de
do e-book ainda       sua adaptação é diluido em poucos exemplares. Outro proble-
é uma promessa        ma é que sua adaptação envolve uma série de negociações, de
 para o mercado       contratos com autores, revisores, editoras estrangeiras etc. Essa
 brasileiro, pois     demora acaba estimulando a pirataria, pois o tempo da editora
representa entre      é diferente do da cópia, que é instantânea.
 1% e 3% de seu          O site Revolução E-Book fez uma pesquisa sobre os valores
      faturamento.    para o livro “Steve Jobs – A Biografia”, em diferentes plata-

20
formas e distribuidores, e chegou a resultados interessantes. O
preço oscilava entre R$ 26,80 e R$ 49,90. O valor mais baixo
foi encontrado na Fnac, na versão impressa! Embora, na média,
o valor do impresso no mercado como um todo foi de R$ 37,73,
contra R$ 32,10 da versão digital (14% mais barata).
   Jorge Viveiros, editor da 7 Letras, por exemplo, afirma que
todos seus livros digitais estão à venda por R$ 17,00, valor que
considera acessível. Enquanto que suas versões físicas estão
entre R$ 25,00 e R$ 35,00. Ao mesmo tempo, Pedro Hertz,
proprietário da Livraria Cultura, diz que a receita com e-books
ainda é insignificante.
    Existe também um grande debate entre Governo, educadores,
escritores e o mercado a respeito de como a plataforma digital
entrará na sala de aula. Parte da turma pensa que será mais uma
distração do que uma ferramenta de aprendizado e outras, mais
tecnofílica, que aposta em novas tecnologias. O Governo Fede-
ral anunciou a compra da tablets para distribuir em um plano
piloto, com grande repercussão tanto positiva como negativa. É
um assunto muito polêmico, pois os valores dos aparelhos ainda
são salgados e ainda não se tem clareza de como esses disposi-
tivos serão realmente aproveitados. Entretanto, fatalmente em
algum momento os e-books estarão disponíveis, pois os custos
de impressão e distribuição dos livros didáticos por todo o país
são imensos, pois é um universo entre 40 e 50 milhões de alunos
assistidos pelos programas. Existe inclusive a promessa do Mi-
nistério da Educação de lançar o PNLD digital em 2014.
    Quanto ao uso do livro didático em e-readers e tablets, é pre-
ciso algum tempo para avaliar como será a sua utilização de fato.
Uma das opções que se abre é uma interação maior do aluno            Existe também
com o material. No livro físico há um espaço reservado para a        um grande
intervenção do aluno, o de exercícios, no material digital essa      debate entre
participação pode ser muito mais vasta e criativa. Seria muito       Governo,
mais ágil para um professor reportar um erro de informação           educadores,
para a editora e ela fazer a correção em todos os exemplares,        escritores e
sem custos adicionais. Além disso, o conhecimento que o pró-         o mercado a
prio livro traz poderia oferecer oportunidades de interação com      respeito de como
os demais alunos, professores, escolas, como por exemplo ativi-      a plataforma
dades e links com resultados de todo o país. A relação entre autor   digital entrará na
(ativo) e leitor (passivo) poderia ser mais próxima, em benefício    sala de aula.

                                                                                     21
Talvez os    dos alunos. Talvez os meios digitais como um todo facilitem o
      meios digitais   que todo educador deseja, que seus alunos se tornem agentes de
     como um todo      sua própria vida. E há também a questão do peso dos livros em
     facilitem o que   papel que os alunos carregam nas costas, que os fisioterapeutas
     todo educador     tanto recriminam. Em um pequeno dispositivo cabem milhares
 deseja, que seus      de obras, o suficiente para toda uma vida de estudos.
alunos se tornem
                           Em relação à chegada da Amazon, o mercado brasileiro ain-
     agentes de sua
                       da está aguardando os acontecimentos. Ainda é cedo para saber
      própria vida.
                       como será exatamente sua vinda ao país. Entretanto, seu movi-
                       mento por aqui não tem sido fácil, pois, segundo reportagem da
                       IstoÉ Dinheiro de março de 2012, apenas dez selos têm acordos
                       assinados com eles, sendo que apenas um de editora grande. O
                       jornalista da matéria apurou que seria a rede de livrarias Saraiva
                       quem está pressionando as editoras a não fecharem acordos com
                       a Amazon. Acusação que a rede nega. A estratégia da varejista
                       americana seria, segundo rumores do mercado, apostar forte-
                       mente no formato digital, ofertando seu dispositivo de leitura,
                       o Kindle, por até R$ 200,00, quebrando um paradigma em re-
                       lação ao e-book, que ainda não deslanchou por aqui. Os demais
                       leitores disponíveis no mercado custam a partir de R$ 600,00.
                           Ela tem encontrado dificuldades principalmente por causa de
                       seu modelo de negócio, que muitas editoras vêem como desvanta-
                       joso. Aqui no Brasil são as editoras que definem o preço de capa,
                       e a plataforma de auto-publicação da empresa com certeza não as
                       agrada. Essa relação direta entre a Amazon e o autor é um tiro no
                       pé a longo prazo para as editoras. E elas sabem muito bem disso,
                       pois assistiram ao exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos.
                          Como bem observa Stella Dauer, do Revolução E-book, os edi-
                       tores brasileiros perceberam os perigos desta relação e, se “somos
 A Amazon tem          conhecidos pela nossa simpatia, mas também por não gostarmos
        encontrado     quando não levamos vantagem em alguma coisa”. Os editores a
       dificuldades    acusam de requer ganhar o mercado às custas deles. Como nos
 principalmente        Estados Unidos, a relação com a Apple é muito mais amigável,
      por causa de     pois continuam a definir o preço de capa e a pagar uma margem à
     seu modelo de     distruidora (30%), o que já é tradicional no mercado daqui.
       negócio, que       Um conceito interessante que pode ser aplicado ao mercado
 muitas editoras       de livros, principalmente em sua versão digital, é o de cauda
        vêem como      longa. Mesmo na versão física o fenômeno ocorre, por meio
     desvantajoso.     dos sebos. E o que seria isso? Alguns produtos têm uma vida

22
útil, não apenas como unidade, mas também como tipo, de              A venda por

curta duração. Alguns produtos são rapidamente perecíveis.           Internet estaria

Outros são modismos. O livro pode ser vendido por um longo           transformando

período, ganhando ou não novas roupagens. É claro que exis-          o marketing de

tem livros que são esquecidos pelo público quase instantânea-        massa para o de

mente, enquanto outros encontram mercado por séculos. Mas            nichos.

conceitualmente é um produto que pode ter uma vida infinita.
   No livro “A Cauda Longa”, de Chris Anderson, é citado o caso
da Amazon. Em uma grande livraria americana há aproximada-
mente 100 mil títulos, enquanto a Amazon tem três milhões. Mui-
tos títulos não estão à venda nas livrarias porque vendem pouco,
mas em seu conjunto geram uma enorme receita para o site. A ven-
da por Internet estaria transformando o marketing de massa para
o de nichos. Isso se explica porque o custo do estoque é ínfimo
para os sites de venda, além de suas prateleiras serem infinitas.
    E mesmo as livrarias, que teoricamente poderiam estar mais
assustadas com o surgimento do e-book, dizem que não estão.
Roberto Guedes, da Travessa, em entrevista ao jornal Valor,
afirma que “o livro digital pode ser positivo por popularizar
o hábito de ler. (...) Tudo o que se referir a livro, nós vamos
trabalhar. Um dos diferenciais da Travessa é a escolha, a cura-
doria”, diz Guedes. A livraria tem sete lojas no Rio de Janeiro,
comércio virtual, e cresceu 20% em 2011.
    Sérgio Milano, diretor da Nobel, aborda em outros termos
o efeito da cauda longa. “É um mercado complementar, muito
útil para solucionar a questão dos livros esgotados e de bai-
xo giro. Do ponto de vista de vendas não interferiu em nada”,
afirma. O caso da Cultura, de São Paulo, é curioso. Segundo a
matéria do Valor, a venda de DVDs e CDs cresceu 14% e 15%
entre 2010 e 2011, apesar da pirataria e dos downloads legais.
Lá, os livros representam 61% da receita, contra 28% de DVDs
e CDs e 11% de jogos, revistas e outros.                             “O livro digital
                                                                     pode ser positivo
                                                                     por popularizar
   Pirataria                                                         o hábito de
   Com a ida dos livros para o formato digital, houve também         ler. (...) Tudo o
uma migração de sua pirataria. Antigamente havia as pastas dos       que se referir a
professores nas fotocopiadoras, hoje existem sites que ilegalmente   livro, nós vamos
disponibilizam livros na Internet sem custo para o consumidor. A     trabalhar”.

                                                                                     23
Tabela 7 • Livros mais pirateados no Brasil em 2011 (por mês)
 Mês                  Obra                                         Links     Downloads
 Janeiro              Fundamentos de física (LTC)                   105          698
 Fevereiro            Oracle database (Artmed)                      96          40.346
 Março                Valores de A a Z (Iemar)                      785          311
 Abril                De marré de si (lemar)                        275          630
                      Uma introdução ao estudo da psicologia
 Maio                                                               95          30.124
                      (Saraiva)
                      Cartas entre amigos – Sobre medos
 Junho                                                              88          12.947
                      contemporâneos (Ediouro)
                      Treinando a emoção para ser feliz
 Julho                                                              120         34.173
                      (Ediouro)
 Agosto               A hora das bruxas (Rocco)                     146         8.359
                      Fundamentos da matemática elementar
 Setembro                                                           135         11.624
                      (Saraiva)
                      English Vocabulary In Use Advanced
 Outubro                                                            90          34.484
                      (Cambridge)
 Novembro             Vontade de potência (Vozes)                   59          5.406
                      Fundamentos da matemática elementar
 Dezembro                                                            41         18.895
                      (Saraiva)
Fonte: SNEL (2011)




                        Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR) atua há
                        algum tempo para coibir tal prática, com muita dificuldade, em
                        função de sua capilaridade. Recentemente conseguiu que a Jus-
                        tiça fechasse o blog Livros de Humanas, que congregava livros
     Antigamente        piratas de cursos de ciências sociais. Esta é uma questão bastante
           havia as     polêmica e ambos os lados têm muitas boas razões. Inclusive in-
         pastas dos     telectuais publicaram uma carta contra a ação da ABDR, muitos
  professores nas       deles professores universitários que têm seus textos pirateados. A
 fotocopiadoras,        tabela 7, desenvolvida pelo SNEL, traz alguns números de 2011.
     hoje existem
                        A disparidade do volume por mês (em fevereiro tem mais de 40
          sites que
                        mil e em março apenas 311 unidades) indica que sua elaboração
      ilegalmente
                        é precária. Uma informação adicional: o título mais baixado do
  disponibilizam
                        ano, da Artmed, custa R$ 130,00 e não tem versão para e-book.
          livros na
     Internet sem
                             Vejamos os argumentos a favor do blog:
     custo para o            •	 muitos destes alunos têm dificuldade de consumir regu-
     consumidor.                larmente os livros, que são muitos, e na média caros;

24
•	 as bibliotecas universitárias não têm exemplares sufi-
   cientes para oferecer a todos os alunos;
•	 muitas das edições são antigas e não mais disponíeis no
   mercado;
•	 a educação é um direito garantido pela Constituição;
•	 a repressão à pirataria é usualmente feita à margem da
   Justiça;
•	 o conteúdo dos livros de humanas são, em sua origem,
   na maioria das vezes, projetos financiados com dinheiro
   público, e/ou de autores que trabalham em dedicação
   exclusiva ao setor público;
•	 o valor que os autores efetivamente recebem de direitos
   autorais é irrelevante, sendo que o mais comum é rece-
   berem apenas cópias dos livros;
•	 muitas vezes os leitores, principalmente os acadêmicos,
   estão interessados em trechos, no máximo em capítulos,
   e não no livro inteiro;
•	 por fim, o principal interesse do autor é ser lido.

Mas há também argumentos contrários:
•	 é função do Estado prover acesso aos livros à população
   por meio de bibliotecas públicas;
•	 sem venda não há editoras, sem editoras não há merca-
   do, sem mercado não há livros;
•	 sem o trabalho das editoras, a qualidade dos livros ten-
   deriam a diminuir, pois ela agrega trabalho ao texto e,
   principalmente, em sua formatação;
•	 muitos livros exigem dedicação de anos por parte do
   autor, eventualmente patrocinados pelas editoras, e pre-
   cisam ser remunerados;
•	 já existem muitos livros disponíveis gratuitamente para
   download;
•	 muitos dos títulos baixados ilegalmente podem ser en-
   contrados no mercado;                                      O título mais
•	 se comparado com outros itens de consumo, o livro não      baixado do ano,
   é caro;                                                    da Artmed, custa
•	 os grandes beneficiados com o conteúdo grátis na In-       R$ 130,00 e não
   ternet seriam grandes empresas provedoras de acesso à      tem versão para
   rede e companhias de telecomunicações.                     e-book.

                                                                              25
Logo após o fechamento do blog, duas editoras, que justa-
                      mente eram “alvo” preferencial do site clandestino, pois têm em
                      seu catálogo basicamente livros das “humanas”, a Boitempo e a
                      Contexto, pediram a sua desfiliação da ABDR por não concor-
                      darem com sua ação. Ela teve seu início inclusive em função de
                      um livro de lingüística do professor José Luiz Fiorin, publicado
                      pela Contexto, que imediatamente desautorizou que qualquer
                      atitude jurídica de repressão fosse feita em seu nome.
                         Jaime Pinsky, professor universitário de História, com mais de
                      20 livros publicados e proprietário da Contexto, divulgou nota
                      ao mercado reiterando o compromisso da editora em “promover
                      a circulação do saber” e que não concordava em participar da
                      repressão ao site. É um problema difícil de ser resolvido porque
                      as editoras vivem justamente de seu bom relacionamento com
                      o público, e a universidade é um grande formador de leitores.
                      Então, apesar de depender financeiramente da receita de vendas
                      dos livros, e deixar de ganhar quando o mesmo é ilegalmente
                      distribuído, entrar em rota de colisão com seu público consumi-
                      dor, seja ele atual ou futuro, é também dar um tiro no pé.
                         A Boitempo toca na questão central em sua nota ao merca-
                      do: “(...) desde a sua criação, sempre lutou pela democratização
                      do conhecimento, inclusive daquele viabilizado por ela mes-
                      ma (...). Dessa forma, seria no mínimo contraditório reprimir
                      nossos leitores por buscarem exatamente o que defendemos.
                      Responsabilizar o leitor, a parte mais frágil e também a mais
                      importante da cadeia editorial, é uma covardia”.
                          Um exemplo interessante é o do Paulo Coelho, que disponibi-
 É um problema        lizou e estimulou que baixassem seus textos via torrent, de graça,
     difícil de ser   na Internet. Para ele, quanto mais pessoas pudessem ler seus tex-
resolvido porque      tos, melhor. Mais recentemente convenceu sua editora nos EUA a
as editoras vivem     vender seus títulos a US$ 0,99, no formato e-book. Seu argumento
      justamente      é que “se os livros forem muito baratos, as pessoas serão encoraja-
      de seu bom      das a pagar por isso, ao invés de baixá-lo gratuitamente”.
 relacionamento          O mercado precisa logo descobrir uma solução para esta
  com o público,      equação de prover o acesso ao livro, em condições de consumo
 e a universidade     pelo público, pois este é um bem de valor central na formação
     é um grande      do país que todos desejamos, e remunerar de forma justa os
     formador de      editores, aqueles que investem e constroem dia-a-dia o merca-
         leitores.    do editorial do país. Os exemplos das indústrias fono e cinema-

26
tográfica estão muito próximos para que sejam esquecidos. E
até os defensores da ação da ABDR reconhecem que esta é uma
luta fadada ao fracasso.
    Apesar de ainda não se ter claro qual será a solução para o
problema, há um consenso que haverá alguma revisão da Con-
venção de Berna, da qual o Brasil é signatário, que garante os
direitos do autor por 70 anos a partir de 1º de janeiro do ano
posterior à sua morte. É muito tempo. Além disso, precisaria
haver uma regulação para obras não mais editadas, ou quando
o autor não é encontrado. A garantia de autoria, conceito cria-
do no Ilumismo e que propiciou a criação de um forte mercado
de livros, é com certeza um avanço que toda a humanidade
usufrui. Mas certamente precisará passar por uma revisão para
se adequar aos novos tempos, às novas plataformas de leitura.
A França inovou ao reformular o Código de Propriedade In-
telectual, permitindo a exploração por meio digital de obras
anteriores a 2001 e que estejam comercialmente indisponíveis.
   Robert Darnton, historiador americano especialista na His-
tória do livro e do Iluminismo e diretor da biblioteca de Har-
vard, esteve no Brasil recentemente e, em entrevista à Folha de
S.Paulo, deixou claro que “o futuro do livro é o acesso aberto”.
Para ele, a lei de direito autoral deve mudar, voltando ao que
era quando foi criada, em 1790 nos EUA, que garantia exclusi-
vidade por 14 anos renováveis por mais 14.
    Uma iniciativa interessante é a da SciELO Livros, que disponi-
bilizada gratuitamente livros produzidos pelas editoras da Unesp,
UFBA e Fiocruz. José Castilho Marques Neto, presidente da edi-        Para Robert
tora da Unesp, afirma que atualmente existe um acerto de 148 e-       Darnton, a lei de
books gratuitos (pouco menos de 10% do catálogo), mas acredita        direito autoral
que chegará a 25% ao fim desta década. A questão central, para        deve mudar,
ele, é que “pesquisa feita com dinheiro público, de instituição pu-   voltando ao
blica, deve ter acesso gratuito”. Conta ainda que na Associação       que era quando
das Editoras Universitárias existe essa discussão de abrir o quanto   foi criada, em
possível o acesso aos livros, sem perder de vista que elas precisam   1790 nos EUA,
ao menos serem sustentáveis economicamente.                           que garantia
   Por fim, é importante observar os dados de pesquisa de-            exclusividade
senvolvida pelo Revolução E-Book. Segundo foi apurado por             por 14 anos
eles, a partir do acervo do blog Livros de Humanas, 90% das           renováveis por
obras não tinham versão e-book, ou seja, foram escaneadas e           mais 14.

                                                                                        27
Se as editoras   transformadas em pdf. Talvez ainda seja cedo para afirmar, ou
      não correrem     se precisaria fazer mais pesquisas, mas a hipótese de que os
       para colocar    livros digitais incentivam a pirataria parece não ter comprova-
         seus livros   ção, quando se leva em conta os dados empíricos. De qualquer
  disponíveis em       forma, se as editoras não correrem para colocar seus livros dis-
     meio digital, a   poníveis em meio digital, a preços acessíveis, alguém o fará.
preços acessíveis,     Carlos Carrenho, do blog Tipos Digitais, resume a situação da
     alguém o fará.
                       seguinte forma: “Qualquer leitor honesto que busque a versão
                       digital de um livro em uma e-bookstore se sentirá legitimado a
                       procurar uma cópia pirata caso não encontre a edição oficial
                       disponível. (...) É claro que não basta que o livro esteja disponí-
                       vel. Ele terá de ter um preço justo”.


                          Venda porta-a-porta
                          Com a ascensão da nova classe média, e de seu poder de com-
                       pra, há um proporcional aumento da vendagem de livros. Como
                       o número de livrarias no país ainda é limitado (2.300 para 5.500
                       municípios), a venda porta a porta tem ganhado cada vez mais
                       importância. Nos últimos cinco anos, a participação desta mo-
                       dalidade de venda pulou de 5,4% para 21,66% do total. Os livros
                       que mais vendem são os ligados à educação, religiosos e de auto-
                       ajuda, mesmos gêneros das demais modalidades de distribuição.
                           Nos últimos dez anos 31 milhões de pessoas foram inseri-
                       das no mercado de consumo. Embora sua escolaridade formal
                       ainda seja baixa, há a percepção por parte deles de que seus
                       filhos precisam ter melhores condições de estudo. Assim a mer-
                       cadoria livro tem ganhado um incentivo de compra. Os pais
                       têm dificuldade de leitura e lêem muito pouco. Muitos deles
                       compram livros para que seus filhos possam adquirir o hábito e
                       tenham mais condições de sucesso na vida.
       Nos últimos        Além do mais, os filhos dessa nova classe média têm tido
      cinco anos, a    oportunidade de ingressar no ensino superior, graças a progra-
       participação    mas de inclusão do Governo Federal, e conseqüentemente sua
              desta    demanda por leitura e livros aumentou. Inicialmente textos li-
  modalidade de        gados diretamente à sua formação, mas depois seguramente de
       venda pulou     toda espécie. Segundo Diego Drumond e Lima, presidente da
      de 5,4% para     ABDL e diretor-geral da Editora Escala, “o segundo mercado
21,66% do total.       que mais cresce no país é o juvenil. Portanto, hoje, a criança

28
Tabela 8 • Crescimento das vendas de livros no Brasil
                                            Valores em milhões de reais
                                   2006      2007      2008      2009        2010
 Total de livros vendidos          185,0     200,2     211,5     228,7      258,6
 Venda porta a porta               10,0      19,2      28,8      38,0        56,0
 Participação do porta a porta     5,4%      9,6%     13,6%     16,6%       21,6%
Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010)




que está sendo educada no computador está lendo muito mais           Os pais têm
livro no papel do que a criança de anos atrás”. Ou seja, há toda     dificuldade de
uma geração que está crescendo lendo mais.                           leitura e lêem

   Apenas como exemplo, a líder neste mercado, a Barsa, ven-         muito pouco.
                                                                     Muitos deles
deu 70 mil coleções apenas em 2010, e 55 mil em 2009, com
                                                                     compram livros
aproximadamente dois mil revendedores. Este número é bas-
                                                                     para que seus
tante considerável, ainda mais se levarmos em conta que o va-
                                                                     filhos possam
lor de cada coleção não é nada amigável, sendo que o preço
                                                                     adquirir o hábito
varia em torno de R$ 2.500,00.
                                                                     e tenham mais
    Além da Barsa, outras grandes empresas atuam no segmento         condições de
de venda porta a porta. Entre eles, estacam-se a Jequiti, a Hermes   sucesso na vida.
e a Avon, que vendem vários produtos e descobriram que o livro
também traz uma boa receita. Adriana Picazio, gerente da Avon,
afirma que “com o livro Ágape, do padre Marcelo Rossi, vende-
mos em quatro meses o que as livrarias venderam em 14 meses”.



Mercado internacional
    Uma boa forma de avaliarmos as tendências de qualquer mer-
cado, inclusive o editorial, é olharmos para fora do nosso país e
procurarmos enxergar como as mudanças tecnológicas, culturais
e econômicas tem impactado as empresas e os consumidores.
Não necessariamente todas as sociedades lidam da mesma for-
ma diante do mesmo desafio, mas podemos ampliar o espectro
e vermos como elas se adaptam. Existe uma possibilidade muito
grande de seguirmos algumas das tendências já encaminhadas
lá fora ou mesmo uma mistura delas. Muitas vezes também, ao
fazermos essa análise comparativa, podemos descobrir que es-
tamos na vanguarda, ou não tão atrás, pelo menos em alguns

                                                                                      29
Os Estados     aspectos. Também é necessário ter em mente que não podemos
      Unidos são o     fazer comparações mecânicas, artificiais, pois o que na realidade
        país onde o    acontece, em sua própria dinâmica diversa e cheia de possibili-
       e-book teve     dades, é que seguimos o nosso caminho, influenciados de forma
 uma penetração        incisiva ou tênua por todos os atores, internos e externos.
     mais rápida e
                           Assim, segundo o The Global eBook Market: Current Condi-
       abrangente.
                       tions & Future Projections, pesquisa realizada em 2011 sobre o
                       mercado editorial, os Estados Unidos são o país onde o e-book
                       teve uma penetração mais rápida e abrangente. Lá muitos títu-
                       los alcançam a vendagem de mais de dez milhões cópias, sendo
                       que muitos deles têm vendido mais de um milhão na versão
                       digital. Veja uma lista da participação dos e-books nas vendas
                       de grandes varejistas do mercado editorial mundial na tabela 9.
                       Já na tabela 10, podemos ver que a Amazon é o principal canal
                       de distribuição de e-books para mais de um terço das editoras.
                          É importante avaliar o que acontece e aconteceu no merca-
                       do americano porque é uma referência para todo o mundo, sen-
                       do o país que mais consome livros, com faturamento de US$ 27
                       bilhões em 2010. Evidentemente que o mercado europeu, asiá-
                       tico, como o nosso aqui no Brasil, tem suas especificidades.
                           Os mercados da França, Alemanha e China são bastante re-
                       presentativos no que se refere a títulos e volumes impressos,
                       porém relativamente defensivos em relação aos atores globais,
      Os mercados      como Google, Amazon e Apple. Tanto as autoridades como os
        da França,     editores locais são relutantes em ver este mercado, tão estraté-
         Alemanha      gico, na mão de estrangeiros. As razões são variadas: temem
       e China são     perder autonomia cultural, que as pequenas livrarias e edito-
           bastante    ras não sobrevivam e que o acervo digitalizado de sua Histó-
  representativos      ria esteja fora de seu alcance, de suas terras, sob domínio de
no que se refere a     multinacionais americanas. E também talvez esta seja a única
títulos e volumes      industria cultural em que a Europa tem a liderança. Segundo o
         impressos,    site Publishnews, das 10 maiores editoras do mundo em 2010,
             porém     seis eram européias: Pearson (Reino Unido); Reed Elsevier
     relativamente     (Reino Unido / Holanda / EUA); Wolters Kluwer (Holanda);
     defensivos em     Bertelsmann (Alemanha); Hachette Livre (França); e Grupo
        relação aos    Planeta (Espanha). Além disso, as mais importantes feiras do
     atores globais,   setor ocorrem no velho continente. Outra dificuldade para os
     como Google,      e-books em geral e para as grandes e virtuais é que o território
Amazon e Apple.        europeu apresenta uma boa cobertura por livrarias de rua.

30
Tabela 9 • Faturamento com e-books
 Hachette US                                           22%
 Hachette UK                                            5%
 Simon & Schuster Global                               17%
 Simon & Schuster UK                                    3%
 Harper Collins Global                                 11%
 Harper Collins US                                     19%
 Harlequim Canadá                                      13,6%
 Random House UK                                        8%
Fonte: Publishers Lunch (1º trimestre de 2011)




Tabela 10 • Vendas por principal canal de distribuição
 Amazon                                                38%
 E-comerce próprio                                     25%
 Outros                                                16%
 iBookstore                                             2%
 Kobo                                                   1%
 iTunes                                                 1%
 B&N                                                    1%
 Não sabe                                              16%
Fonte: Uncovering eBooks’ Real Impact, Aptara (2011)


                                                                  Temem perder
    O mercado editorial da Europa Continental teme o mesmo        autonomia

resultado da indústria fonográfica com sua ida para a platafor-   cultural, que

ma digital. E há uma inequívoca associação entre o digital e      as pequenas
                                                                  livrarias e
o pirata. Eles sabem que se não entrarem no filão digital, ele
                                                                  editoras não
crescerá da mesma forma, mas à margem da lei, como ocor-
                                                                  sobrevivam e
reu com a música e ocorre parcialmente com o cinema. E há
                                                                  que o acervo
ainda o rescaldo do sentimento iluminista, onde a imagem do
                                                                  digitalizado de
livro tem um peso simbólico muito grande. Atualmente o li-
                                                                  sua História
vro em seu formato impresso, físico, é visto como um símbolo      esteja fora de
de resistência à modernidade, enquanto que o digital seria um     seu alcance,
fenômeno americano. Uma outra forma de avaliar o crescimen-       de suas terras,
to do e-book no mercado americano e inglês seria como uma         sob domínio de
conseqüência da crise econômica, que vem deprimindo a renda       multinacionais
das classes médias destes países. O meio digital pode ser uma     americanas.

                                                                                    31
Atualmente      forma de conseguir usufruir do mesmo bem de uma forma mais
         o livro em    econômica. Já na Europa continental haveria uma resistência
       seu formato     maior, devido a questões culturais já apontadas.
impresso, físico,
                           Outra pesquisa, do Rüdiger Wischenbart Content and Con-
      é visto como
                       sulting, detectou que a Google, Apple e Amazon estão cada vez
 um símbolo de
                       mais presentes e destruindo os elos tradicionais entre as edi-
      resistência à
                       toras e livrarias nos Estados Unidos e Inglaterra. No mercado
     modernidade,
                       americano, principalmente, muitas grandes e antigas redes de
     enquanto que
                       livrarias quebraram ou estão em vias de quebrar.
     o digital seria
                           O mesmo estudo aponta que os segmentos mais represen-
     um fenômeno
                       tativos para as 58 maiores editoras do mundo são o de livros
       americano.
                       científicos, técnicos e profissionais (CTP), com 43%, livros tra-
                       de (obras gerais, literatura e ensaios), com 31%, e educacionais,
                       com 27%. Os títulos educacionais têm aumentado ao longo dos
                       últimos anos e os trade caindo. A pesquisa mostra que três edi-
                       toras brasileiras estão entre as maiores do mundo. São a Abril
                       Educação, na 46º posição; a Saraiva, na 52º; e a FTD, na 56º,
                       as três focadas no segmento didático.
                          Uma hipótese ainda não totalmente verificada no mercado é
                       o aumento da leitura do livro em inglês. Como o meio digital é
                       instantâneo, os leitores do resto do mundo não precisariam es-
                       perar meses para o lançamento da edição em sua língua nativa.
                       Haveria assim uma compra direta do produto em sua origem,
                       sem intermediários locais. Este fenômeno já foi visto na Holan-
                       da, Suécia e Eslovênia.
                           Outra discussão interessante é a respeito de a leitura por meio
                       de dispositivos eletrônicos seria mais saudável para o planeta ou
                       não. O argumento dos aficcionados por tecnologia é que há uma
                       enorme economia de papel, que consome bastante água em sua
A Google, Apple        fabricação e combustível fóssil na distribuição, além da energia
 e Amazon estão        na distribuição física dos livros impressos. Já o grupo contrário
     cada vez mais     diz que os aparelhos eletrônicos são muito mais poluentes do que
        presentes e    a indústria do papel, por exemplo, que refloresta o que consome.
     destruindo os     Para conferir um pouco de credibilidade ao debate, a National
elos tradicionais      Geographic divulgou estudos que comprovam que a partir de 14
entre as editoras      livros lidos eletronicamente já compensam o seu uso. Segundo
     e livrarias nos   ela, a produção de cada livro em papel consumiria 8,85 quilos
 Estados Unidos        de CO2, ou seja, 14 vezes o equivalente para a produção de um
      e Inglaterra.    e-reader ou tablet. Além disso, poderia se usar o aparelho para

32
ler jornais e revistas, ver televisão, pois consome 33 vezes menos   Outra discussão
do que um aparelho de TV, em média.                                  interessante é
                                                                     a respeito de a
    Com o aumento da utilização de livros digitais, os e-books,
                                                                     leitura por meio
torna-se mais fácil a publicação para os autores independentes.
                                                                     de dispositivos
Antes este processo passava obrigatoriamente por uma editora,
                                                                     eletrônicos seria
e não raras vezes ele precisava pagar pela edição. Com isso, os
                                                                     mais saudável
autores ganham mais liberdade e mesmo poder junto às editoras,
                                                                     para o planeta
pois têm mais opções. Os autores de primeira viagem conseguem
                                                                     ou não.
realizar seu sonho de publicar o livro e os autores já consagrados
ficam menos presos às editoras. A auto-publicação, via e-book,
também pode baratear o livro, pois o texto pode passar do au-
tor diretamente para o leitor, sem que uma série de pessoas o
manuseie e conseqüentemente torne o livro mais caro. O livro
costuma passar por revisão, preparação, diagramação, capista,
edição, agentes literários, marketing, distribuição, venda, ufa!
    É claro que todas estas pessoas contribuem para a qualidade
do livro. Liberdade geralmente vem com mais responsabilidades.
Portanto os autores terão muito mais tarefas, e podem ter enormes
dificuldades para superarem algumas. Toda essa engrenagem aca-
ba por conferir uma maior qualidade ao produto (o livro).
    O livro não é apenas o seu texto. Como qualquer outra mer-
cadoria, obedece a certa lógica de seu segmento. Para que um
livro chegue a ser publicado, muitos profissionais contribuem o
seu resultado e, além disso, para selecionar os melhores produ-
tos. A maioria dos livros escritos sequer é publicada, por falta
de interesse de alguma editora. Esse processo sem dúvida sele-
ciona os títulos que os editores acham mais rentáveis para seus
próprios bolsos, como são as regras do capitalismo.
   É difícil imaginar um futuro cenário do mercado editorial
sem os editores. Talvez os livros façam sucesso nas redes so-
ciais e as pessoas entrem no site dos autores diretamente e o
comprem. A Internet pode criar sua própria massa crítica. En-        Com o aumento
tranto, a auto-publicação vai agravar um dos problemas que           da utilização de
novos autores têm, que é alcançar alguma visibilidade para a         livros digitais, os
sua obra. Com muitos mais títulos disponíveis, conseguir cha-        e-books, torna-
mar a atenção para o seu texto será uma tarefa cada vez mais         se mais fácil
árdua. Márcio Souza, romancista iniciante. resumiu a situação        a publicação
com muita graça: “É mais fácil livrar-se de um cadáver que de        para os autores
mil exemplares de um livro”.                                         independentes.

                                                                                       33
A relação entre          A relação entre editores e autores pode ir do harmônico
         editores e    para o belicoso em função do retorno e da atenção que cada
 autores pode ir       um pode proporcionar ao outro. Segundo pesquisa feita para
     do harmônico      o Writer’s Workshop, entre 320 escritores britânicos ouvidos,
 para o belicoso       74,2% estão dispostos a eliminar sua editora se os e-books con-
     em função do      tinuarem a ganhar mercado, apesar de 74,6% considerarem
      retorno e da     boa ou excelente sua relação com a editora.
       atenção que
                          Uma mostra disso é que a Amazon, líder no mercado ameri-
     cada um pode
                       cano de livros, físicos e digitais, começa a permitir que autores
proporcionar ao
                       independentes comercializem seus textos por seu canal de venda
             outro.
                       sem o intermédio da editora, tornando o retorno financeiro para o
                       autor incomparavelmente maior. Atualmente, segundo a Amazon,
                       15% dos seus livros mais vendidos para Kindle, sua plataforma
                       de leitura, são de auto-publicação. Atualmente esses best-sellers
                       acabam sendo incorporados ao mercado editorial tradicional, mas
                       no futuro isso pode não mais acontecer. Mas é importante que se
                       avalie que desta forma o livro não tem o tratamento profissional
                       de editores, tanto em sua confecção como em sua venda.
                          Alias, em relação à Amazon, é importante desenvolvermos
                       um pouco mais o assunto. Ela atua no mercado determinando
                       o preço, com descontos que variam entre 30% e 60% do valor
                       de capa (este é o modelo chamado de distribuição). Procura
                       vender mais barato porque usa o livro para atrair o consumi-
                       dor para sua plataforma de compras, onde pode levar outros
                       produtos, mais caros, e com maior margem para a companhia.
                       Esta é uma reclamação recorrente do mercado em relação à
                       empresa, pois canibaliza o mercado editorial, e muitas grandes
                       e tradicionais redes varejistas nos EUA quebraram em função
                       de sua concorrência, para vender outros produtos.
                          Conhecer a Amazon é importante porque ela está prestes
      Com a auto-      a entrar no mercado brasileiro. Segundo seu presidente, Jeff
      publicação, o    Bezos, seus objetivos são chegar à lua e ao Brasil. Inicialmente
      livro não tem    mira o mercado de livros, mas seu alvo principal é o merca-
      o tratamento     do de varejo pela Internet, que movimentou R$ 20 bilhões em
     profissional de   2011 e deve chegar a R$ 80 bilhões em 2015. É importante
     editores, tanto   observar um pouco as proporções, pois ela faturou US$ 48 bi-
em sua confecção       lhões em 2011, com atuação em 132 segmentos. Ou seja, fatura
      como em sua      hoje sozinha o que o todo o mercado brasileiro daqui a qua-
             venda.    tro anos somando todos os setores de comércio eletrônico. Seu

34
portal de compras tem 100 milhões de clientes e mais de 43 mil     A Amazon fatura

funcionários ao redor do mundo.                                    hoje sozinha
                                                                   o que o todo
    Apenas para se ter uma idéia, estima-se que a Amazon so-
                                                                   o mercado
zinha representa 75% do mercado de livros físicos e 65% dos
                                                                   brasileiro
e-books no mercado americano. Em 2010, considerando-se ape-
                                                                   daqui a quatro
nas o faturamento dos cinco maiores distribuidores, a Amazon
                                                                   anos somando
alcançava a cifra de US$ 34,2 bilhões (78,8%), a B&N US$ 5,8
                                                                   todos os setores
bilhões (13,4%); a Borders US$ 2,8 bilhões (6,5%), a Books-A-
                                                                   de comércio
Million US$ 508 milhões (1,2%) e a Powell’s Books 61 milhões
                                                                   eletrônico.
(0,1%). A Borders fechou as portas em setembro daquele ano,
com mais de 19 mil empregados. É uma participação enorme
que será muito difícil para manter, até porque as seis maiores
editoras não estão gostando da forma como a empresa age. No
mercado de e-books, por exemplo, ela força o preço máximo de
US$ 9,99, baixando consideravelmente as margens das editoras.
O preço médio oscila entre US$ 0,99 e US$ 4,99. Elas reclamam
que a empresa está criando consumidores às custas delas, e num
futuro qualquer não haverá mais editoras que consigam suportar
esses preços. Outro risco é que a própria Amazon está se tornan-
do uma casa publicadora, por meio de sua plataforma de auto-
publicação. Mesmo para aqueles que consomem livros em iPads,
pasmem, apenas 29% o fazem via iBookstore, contra 40% pela
Amazon (segundo pesquisa da Codex Group Survey, 2010). E o
Kindle, seu e-reader, está disponível em mais de 100 países.
   Outros varejistas, aliados das editoras e da Apple, defendem
o modelo de agência, onde o produtor define o preço e o distri-
buidor/vendedor fica com uma margem pré-fixada (30% no caso
da Apple). Ocorre que o Governo norte-americano processou
a Apple e cinco das seis maiores editoras que atuam no país, as
Big Six (Penguim, Macmillan, Simon&Schuster, Hachette, Har-
perCollins, a Random House faz parte do grupo, mas não está
sendo processada). O Departamento de Justiça alega que há uma
conspiração para aumentar os preços dos livros digitais (carte-
rização) e a parte contrária argumenta que procura aumentar a      A Borders fechou
concorrência na indústria, dominada pela Amazon. O mercado         as portas em
americano é bastante concentrado, pois as 50 maiores editoras      setembro de
detém 80% de todo o faturamento do setor.                          2010, com
    No mercado americano a norma era uma editora vender seus       mais de 19 mil
livros a uma livraria por aproximadamente metade do preço de       empregados.

                                                                                    35
O Departamento      capa, sendo que a loja poderia dar os descontos que quisesse.
de Justiça          Mas a Amazon, para ganhar mercado, colocou os preços ainda
americano alega     mais baixos do que o padrão, às vezes até com prejuízo, no que
que há uma          muitos a acusam de dumping. O que a Apple e as editoras ale-
conspiração para    gam é que o modelo de agência foi uma resposta a esta prática
aumentar os         desleal. Já a plataforma da Google é nas nuvens. É interessante
preços dos livros   observar o tamanho dos atores neste novo mercado editorial,
digitais            a Apple tem um valor de mercado de US$ 41,7 bilhões, contra
                    US$ 26,5 bilhões da Google e US$ 5,6 bilhões da Amazon.
                        Na Europa existe uma lei que determina que seja a editora
                    quem fixa o preço de capa, a fim de preservar as pequenas livra-
                    rias. As grandes normalmente poderiam fazer grandes descon-
                    tos por causa da escala, e por venderem outros produtos, como
                    a francesa FNAC, mas, por causa da lei, são proibidas por um
                    determinado período.
                       Concorrente da Amazon no ramo da auto-publicação, o
                    Smashwords já tem 127 mil títulos, de 44 mil autores (números
                    de junho de 2012). Desde 2008 permite a publicação e distri-
                    buição por parte de autores e editores de forma rápida, fácil e
                    gratuita (cobra apenas 15% de participação na vendagem). O
                    autor fica com cerca de 60%, pois ainda há uma parte para o
                    canal de venda e as despesas com o cartão de crédito. Pelo mo-
                    delo tradicional, o autor recebe por volta de 12% no mercado
                    americano (no brasileiro, entre 5% e 10%). O autor/editor faz
                    o upload de um texto em Word e o site o converte para mais de
                    nove formatos diferentes de e-books, onde o livro automatica-
                    mente fica disponível para a venda.
                       A média de preço dos livros no site é abaixo de US$ 3 e apro-
                    ximadamente 15 mil títulos são de graça. Há um concenso que
Na Europa           os autores de livros independentes estão forçando os preços para
existe uma lei      baixo (juntamente com a política da Amazon). E o presidente da
que determina       empresa, Mark Coker, garante que há uma vigília para averiguar
que seja a          se o conteúdo dos livros está formatado corretamente e é origi-
editora quem        nal. O mais interessante é que o consumidor pode adquirir os li-
fixa o preço        vros por qualquer canal convencional (Apple, B&N, Sony, Kobo
de capa, a fim      etc., mas ainda não com a Amazon, que tem sua própria pla-
de preservar        taforma). Mais recentemente novos e poderosos atores de peso
as pequenas         entram neste mercado de auto-publicação, como a B&N, Apple
livrarias.          e Kobo, que têm fortes canais de varejo. Na Internet, com uma

36
História dos livros digitais
        Michael S. Hart lança o Projeto Gutenberg com a Declaração de
1971
        Independência, primeiro texto digital.
        Criação da Voyager Company, primeira empresa a adaptar livros para
1985
        computadores.
1997    Projeto Gutenberg atinge 1.000 títulos.
1998    Lançamento do primeiro dispositivo e-reader, da Rocket.
        Stephen King lança o livro Riding the Bullet, 1º e-book comercial. Nas primeiras
2000
        24 horas, 400 mil copias são baixadas.
        Randon House e HarperCollins começam a lançar versões digitais de seus
2002    títulos.
        As vendas de e-books atingem US$ 2,1 milhões no primeiro ano.
2003    Projeto Gutenberg atinge 10.000 títulos.
        As vendas de e-books atingem US$ 25,2 milhões.
2006
        Sony lança o Sony Reader.
2007    Amazon lança o Kindle, com mais de 90 mil títulos disponíveis.
        As vendas de e-books atingem US$ 441,3 milhões.
2009
        Barnes&Noble lança o Nook.
        Apple lança o iPad e o iBookstore.
2010
        Google abre sua loja virtual com 3 milhões de títulos.
        Projeto Gutenberg atinge 33.000 títulos.
2011
        Amazon vende mais e-books do que livros físicos.
2012    Projeto Gutenberg tem hoje 39.000 títulos.



simples busca se pode encontrar várias experiências de auto-pu-
blicação nos mais diferentes sites. Relatam tanto as facilidades         Em relação
e dificuldades técnicas, como as vantagens e os perigos legais e         aos e-books,
financeiros. Segundo a Kobo, que tem cinco milhões de clientes,          será necessário

a auto-publicação representa 7% das vendas nos EUA, 8% na                chegar a um

Ásia, 9% na América do Sul, 10% na Austrália e Europa e 14%              consenso a
                                                                         respeito de como
na África. O preço médio da auto-publicação é US$ 4,22, contra
                                                                         preservar os
US$ 7,29 das editoras. O preço médio nos EUA para autores ini-
                                                                         direitos autorais
ciantes é entre US$ 0,01 e US$ 3,99; catálogo entre US$ 4,99 e
                                                                         sem dificultar
US$ 9,99; e best-sellers entre US$ 9,99 e US$ 14,99.
                                                                         o acesso e
   Em relação aos e-books, será necessário chegar a um con-              o manuseio
senso a respeito de como preservar os direitos autorais sem difi-        por parte do
cultar o acesso e o manuseio por parte do consumidor. O setor            consumidor.

                                                                                          37
Consegui          de música, por exemplo, não quis de adaptar aos novos meios e
entrevistar       acabou sendo engolido pela pirataria.
nove pessoas
                      É interessante também pensarmos no impacto que os e-
em editoras que
                  books têm tido na educação. Em pesquisa desenvolvida pelo
trabalham de
                  site americano ecampus.com, quando perguntados a respeito
alguma forma
                  de qual recurso mais valorizavam nos textos digitais, 52% dos
com livros onde
                  pesquisados escolheram a opção de busca, 20% a de marcar,
História é o
                  14% copiar e colar, e 12% a interatividade. A plataforma em
assunto central
                  que mais acessavam os textos era o laptop, com 64%, seguido
ou marginal.
                  do tablet, com 18%. E, segundo pesquisa da Publishers Weekly,
                  de 2010, 76% das editoras americanas já produzem versões e-
                  books, sendo 10% delas o fazem em detrimento de suas versões
                  impressas. Outra coisa interessante que a pesquisa revela é que
                  21% delas produzem seus e-books com recursos adicionais em
                  relação às versões impressas.


                  Pesquisa com editores
                     Desde o início de minha jornada para a produção deste tra-
                  balho sabia que precisaria conversar com as pessoas que real-
                  mente põem a mão na massa, que são os editores. O autor, é
                  claro, também dá um duro danado, mas o editor trabalha no
                  processo todo e também no próprio texto, enquanto que o au-
                  tor, geralmente, pára na entrega do original.
                     Inicialmente imaginei que poderia entrevistá-los todos pes-
                  soalmente, depois percebi que não conseguiria. Muitos não te-
                  riam tempo para mim, que realizava um trabalho de escola, mes-
                  mo que fosse uma pós-graduação, e eu mesmo vi que não teria
                  como, pois tenho um trabalho onde preciso cumprir o horário
                  comercial. Até pedi para me ausentar por duas horas para uma
                  determinada entrevista, mas sabia que não poderia abusar.
Este nicho tem        Consegui entrevistar nove pessoas em editoras que trabalham
um espaço         de alguma forma com livros onde História é o assunto central ou
consolidado no    marginal. Fiz duas entrevistas pessoalmente, uma por telefone
mercado e vem     e seis por email. Comprometi-me com elas a não divulgar seus
crescendo há      nomes e nem de suas empresas, a fim de não comprometê-las e
mais de duas      para que pudessem me falar mais francamente como viam e se
décadas.          relacionavam com o mercado. Assim, as falas individuais não

38
serão distinguíveis ao longo do texto. Procurei mais identificar    A maioria dos

assuntos e opiniões (divergentes às vezes) do que personagens.      leitores de livros
                                                                    de História não
                                                                    é especializada,
   Livros de História
                                                                    e sim de pessoas
   Segundo um experiente editor especializado em livros de          que têm interesse
História, e aqui contando-se apenas os de não ficção, este nicho    mais genérico
tem um espaço consolidado no mercado e vem crescendo há             por questões
mais de duas décadas. “Mesmo quando todo mundo está recla-          históricas.
mando eu vendo bem e vejo minha editora crescendo”, afirma.
   Outro editor também disse a mesma coisa, que os bons li-
vros de História têm público. Os mais fáceis tem um público
mais amplo e os mais difíceis um menor. Um deles afirmou
que cerca de 10% de seu catálogo é diretamente voltado ao
tema, se incluirmos as biografias. E que acredita fortemente no
tema, pois conta com alguns best-sellers. Outro disse que tem
algumas biografias que vendem muito e há bastante tempo. “Os
que fazem sucesso são os para público leigo”, afirma. Já os mais
acadêmicos têm em geral uma demanda mais modesta.


   Público
    Em uma das entrevistas, afirmou-se que a maioria dos leito-
res de livros de História não é especializada, e sim de pessoas
que têm interesse mais genérico por questões históricas. “Há
um grande público interessado por biografias, mas me parece
que os romances históricos já não fazem tanto sucesso”, ponde-
ra. Outras entrevistas tinham mais ou menos o mesmo conteú-
do, de que cada livro tem o seu público.                            “Mudamos
                                                                    a ordem dos
                                                                    capítulos,
   Processo de trabalho
                                                                    tornamos trechos
    Um editor relatou que sua equipe mexe no texto dos autores      mais legíveis,
de forma integral. “Mudamos a ordem dos capítulos, tornamos         cortamos pedaços
trechos mais legíveis, cortamos pedaços excessivos, incluímos de-   excessivos,
talhes que são importantes para o público não especializado”. Ele   incluímos
também fez questão de deixar claro que submete todas as altera-     detalhes que são
ções ao autor, quem é realmente o “dono” do texto. Mesmo esta       importantes para
questão às vezes pode ficar menos nítida quando o próprio livro é   o público não
resultado de uma pauta, ou encomenda, vinda da editora com mi-      especializado”.

                                                                                      39
O grande          nuciosas especificações quanto à abrangência do conteúdo e sobre
obstáculo         a forma, mais precisamente a linguagem e organização do texto.
para que um
                     A dinâmica me pareceu próxima a de um veículo de notí-
pesquisador
                  cias, como um jornal, revista ou mesmo TV, onde os editores
especialista
                  fazem pautas precisas e detalhadas sobre como querem que os
escreva livros
                  repórteres abordem determinado assunto. Os jornalistas vão a
para o público
                  campo, colhem as informações e produzem seu trabalho, que
mais amplo é a
                  é posteriormente editado, segundo critérios dos editores. Aqui
linguagem.
                  novamente existe uma relação entre livros de História, mesmo
                  os escritos por historiadores profissionais e jornalistas, em seu
                  trabalho em veículos de comunicação. Tanto em um caso como
                  em outro, a autoria não é algo exclusivamente individual, fruto
                  de uma cabeça que sozinha alcança todas as dimensões de um
                  tema. É resultado do trabalho de uma equipe, onde o autor, ou
                  repórter, assina um trabalho feito por inúmeras mãos.


                     Linguagem
                      Quando relatei a um editor a percepção geral que tive a
                  partir do resultado da pesquisa com o público leitor (ver pági-
                  nas 58 a 60), ele concordou 100% comigo. O grande obstácu-
                  lo para que um pesquisador especialista escreva livros para o
                  público mais amplo é a linguagem. “Os historiadores em geral
                  escrevem em sua língua própria, cheia de seus jargões pro-
                  fissionais, e não conseguem alcançar o grande público. E há
                  também alguns que não conseguem porque são incompeten-
“O autor ideal
                  tes mesmo, pois há incapazes em todos os setores”, pondera.
é o que sabe
                  Disse ainda que já viu inúmeras teses muito bem feitas, muito
conciliar a sua
                  bem escritas, mas que são impublicáveis como livros por sua
erudição com
                  editora, pois são textos muito restritos, no sentido da especi-
a facilidade
                  ficidade do objeto tratado.
de expressar
claramente           Outro editor me disse a mesma coisa. “Estimo que 85% do
os principais     que a academia escreve é impublicável”. Outros editores con-
conceitos         cordaram que a questão da linguagem é fundamental para o
envolvidos        afastamento do historiador profissional do público. Por isso os
e expor com       jornalistas têm obtido tanto sucesso na área, pois eles escrevem
relativa          fácil, sabem construir enredos interessantes, conseguem criar
brevidade as      empatia entre o leitor e os personagens. Normalmente os his-
questões”.        toriadores estão preocupados com outras questões, como, por

40
exemplo, de método, do conhecimento, da verdade e do senti-          Alguns

do. Os jornalistas escrevem tendo em vista o maior obstáculo         consideram

que o setor enfrenta, que é o baixo grau de leitura do brasileiro.   uma temeridade

Além disso, conseguem usar seu faro, seu senso de oportunida-        livros de

de, para extrair grandes narrativas de eventos históricos.           História serem
                                                                     escritos por
    Mas todos são unânimes em dizer que sempre haverá espaço
                                                                     pessoas não
para os textos bem escritos, consistentes e conectados à socie-
                                                                     especializadas.
dade. O difícil seria avaliar exatamente o que cada uma dessas
palavras quer dizer para cada um, em cada tempo. Segundo um
editor, “o autor ideal é o que sabe conciliar a sua erudição com
a facilidade de expressar claramente os principais conceitos en-
volvidos e expor com relativa brevidade as questões. Sabe o que
quer dizer e para quem quer falar. É um equívoco tentar atingir
todos os públicos ao mesmo tempo”.


   Historiadores versus jornalistas
   Apesar da questão da linguagem, alguns consideram uma
temeridade livros de História serem escritos por pessoas não
especializadas. “Uma obra de síntese é a conclusão de toda
uma vida dedicada à pesquisa”, afirma um editor. Seguindo
este raciocínio, mesmo o graduado em História que não seguiu
carreira acadêmica convencional teria dificuldade em publicar
seu texto. Jornalistas então nem pensar. Esta é uma questão
bastante polêmica, pois dois dos autores mais bem vendidos
de livros de História em nosso país são jornalistas. E não raro
jornalistas se aventuram neste tema. Élio Gáspari, colunista da
Folha de S. Paulo, escreveu a quadrilogia “A Ditadura Enver-
gonhada”, “Escancarada”, “Encurralada” e “Derrotada”. Estes
três autores receberam críticas elogiosas na imprensa inversa-
mente proporcionais às da academia.
   Os historiadores profissionais não reconhecem estes livros        A maioria dos
como sendo de História, ao mesmo tempo em que o público,             professores
mesmo o que eventualmente gosta do tema, geralmente nunca            universitários
ouviu falar dos doutores da academia. Esta é uma questão ainda       de História não
mais complicada porque a maioria dos professores universitários      está interessada
de História não está interessada em escrever para o público mais     em escrever para
amplo. Uma editora, por email, levantou também uma questão           o público mais
interessante: “Há um enxame de livros de História ruins, porque      amplo.

                                                                                      41
É mais fácil e   os acadêmicos são obrigados a publicar para alimentar o currí-
seguro trabalhar       culo e com isso conseguir melhores ganhos”. Ou seja, o próprio
         o texto do    “mercado acadêmico” tem uma dinâmica perversa que leva a
        acadêmico,     textos, e eventualmente livros, mal cuidados.
         no sentido
                           A grande maioria dos editores, com exceção de um, disse
        de extrair o
                       que não vê problema em publicar textos de não profissionais,
     tecnicismo, do
                       desde que tenham qualidade. “O que interessa é que o autor
 que acrescentar
                       seja honesto e eticamente sério, comprometido com a verdade.
         reflexão e
                       Tem que se dedicar ao trabalho, ser talentoso e para mim tanto
     análise em um
                       faz qual diploma tem”, pensa um deles. Um apenas foi bastante
texto de um não
                       enfático ao dizer que só publica textos produzidos por profis-
       especialista.
                       sionais do ramo, os historiadores pesquisadores. Ou seja, para
                       ele, é mais fácil e seguro trabalhar o texto do acadêmico, no
                       sentido de extrair o tecnicismo, do que acrescentar reflexão e
                       análise em um texto de um não especialista.


                          Auto-publicação
                           Nesta linha de raciocínio, sobre quem seria mais competen-
                       te para escrever, a auto-publicação se torna um grande risco. O
                       editor profissional tem basicamente duas funções principais: a
                       primeira é de curadoria, ou seja, selecionar material de quali-
                       dade para oferecer para o público, como qualquer comerciante;
            Um dos
                       a segunda é o seu labor especializado de edição, que transfor-
      entrevistados
                       ma um texto em um livro, que envolve uma série de profissio-
       fez um duro
                       nais diferentes, cada um com sua especialidade. Este modelo
 discurso contra
                       de publicação, mais autoral, só seria viável se os escritores ga-
  as plataformas
                       nhassem estas expertises, ou as contratassem diretamente. Am-
           de auto-
                       bas as coisas não são muito viáveis em larga escala, até porque
       publicação,
                       produzir e vender livros não são coisas fáceis nem mesmo para
        que seriam
                       experientes profissionais do ramo.
     “marginais” e
“irresponsáveis”.         Para alguns editores, a questão da auto-publicação por meios
       Ele afirmou     digitais não muda nada, pois cada vez mais os meios para isso
     que “milhares     estão facilitados. E desde sempre autores que não tinham espaço
      de títulos são   no mercado editorial, ou os que tinham muito sucesso, optam
lançados por dia       por abrir suas próprias editoras, ou bancar do próprio bolso as
      sem qualquer     edições de seus textos. Os títulos de qualidade, ou mesmo de
seleção, controle      sucesso econômico, entrarão no mercado editorial e ocuparão o
       ou trabalho.    seu espaço. “Entrarão para o sistema”. O único senão talvez seja

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Projeto academia de historia

  • 1. Pedro Penafiel Projeto Academia de História
  • 2.
  • 3. ESCOLA SUPERIOR DE PROPAGANDA E MARKETING Programa de Pós-graduação em Design Estratégico Pedro Penafiel projeto academia de História Projeto de conclusão de curso, entregue como requisito final para obtenção do título de pós-graduado em Design Estratégico. Equipe docente de orientação: Profª Ellen Kiss Profª Martha Terenzzo São Paulo, julho de 2012
  • 5. “O livro, bem sabemos, é o tijolo com que se constrói o espírito”. Darcy Ribeiro
  • 6.
  • 7. Agradeço sinceramente às pessoas que responderam às mi- nhas três pesquisas. Em primeiro lugar, aos editores que me ofereceram, além do seu tempo, muitas valiosas informações e sugestões para o desenvolvimento deste trabalho. Em segundo lugar, aos colegas de graduação da Faculdade de História da USP, que conversaram comigo e me responderam às duas per- guntas que lhes fiz. E por fim, mas não menos importante, a mais de uma centena de pessoas que responderam de forma bastante comprometida ao questionário que postei no Googledocs. Agradeço também às minhas duas orientadoras, Ellen Kiss e Martha Terenzzo, que me apoiaram, me incentivaram e gene- rosamente me ofereceram novos caminhos. Agradeço também aos meus colegas da pós-graduação da ESPM, que nos momentos de desânimo me incentivaram a continuar adiante. Em especial aos que dialogaram comigo a respeito de possibilidades de trabalho, conhecimento e me su- geriram novas fontes de pesquisa. Agradeço à Fundação Carlos Chagas, instituição que traba- lho, por ter financiado integralmente esta pós-graduação. Agradeço ainda, por fim, à minha família pelo apoio e pa- ciência ao longo deste um ano e meio de curso e dois intensos meses de TCC.
  • 8.
  • 9. Sumário Introdução...........................................................................11 Análise do setor...................................................................13 Mercado editorial brasileiro...........................................13 Mercado internacional. ..................................................29 . Pesquisa com editores.....................................................38 Análise do assunto...............................................................47 Principais autores para leigos..........................................47 Graduados de História. ..................................................52 . O consumidor......................................................................57 Pesquisa com o público leitor..........................................57 Pesquisa do Instituto Pró-livro. ......................................68 . Dados coletados...................................................................77 Forças.............................................................................78 Oportunidades ..............................................................78 Fraquezas . .....................................................................79 Ameaças.........................................................................79 . O negócio............................................................................81 Missão............................................................................83 Objetivos........................................................................83 Público alvo....................................................................84 Pesquisa..........................................................................85 Ilustrações......................................................................86 . Redação..........................................................................86 Referências.....................................................................87 Livro impresso................................................................88 Aplicativos para tablets...................................................89 E-readers. .......................................................................90 . Site. ................................................................................90 . Redes sociais. .................................................................92 . Equipe............................................................................92 Remuneração..................................................................93 Receitas..........................................................................94 Considerações finais............................................................95 . Bibliografia..........................................................................99
  • 10.
  • 11. Introdução Inicialmente pretendia fazer um Trabalho de Conclusão de Curso com um conteúdo mais acadêmico, mais alinhado à minha formação, em História. Mas prevaleceu o perfil da instituição em que faço o curso, a ESPM, que se avalia como uma escola de negócios. Minha idéia inicial era investigar a relação entre arte e design, como discurso, ou melhor, como História do discurso sobre o que seria um e outro e depois sua interelação. Depois da recusa de minha primeira opção, precisava achar algo que se encaixasse no perfil de TCC da escola, algo que fosse um plano de negócio. Então me lembrei de que des- de o início da graduação em História desejava e pretendia aproximar o curso que fazia, e que adorava, com a profissão que tinha abraçado desde o início da vida adulta, o design, principalmente na área gráfica e editorial. Tive muitas idéias ao longo da graduação, mas nenhuma vingou. Principalmente por questões práticas de sobrevivência, pois sempre tive de focar mais esforços e meu tempo em atividades remuneradas. E todos sabemos que a vida de autor no Brasil é para poucos, pouquíssimos na verdade. Desta forma acabei percebendo que seria uma excelente oportunidade aproveitar este TCC na ESPM para investigar a relação entre o mercado editorial e a disciplina História. Como estou próximo a estes dois “mercados” há bastante tempo, e tinha várias idéias a respeito da interligação destes temas, pre- cisei me segurar e elaborar as pesquisas de “cabeça aberta”. Não poderia contaminar meu projeto presumindo que sabia o resultado do que viria. O resultado foi o que consegui alcançar nestes dois meses de trabalho. Usei aproximadamente 40 dias para a primeira parte, de pesquisa do mercado, do assunto, das pessoas envolvidas, o consumidor, e os demais 20 para desenvolver a idéia do produ- to, fruto do resultado do trabalho. 11
  • 12. Como ex-aluno de História, na parte da pesquisa me sen- ti em casa, confortável, mesmo neste exíguo tempo consegui fazer algo que pudesse me satisfazer. E mesmo na parte de criação do produto, embora estivesse mais distante de minha formação, não me foi difícil, pois trabalho há mais de 20 anos como designer gráfico, parte dele na área editorial, muitas ve- zes auxiliando na criação de novos produtos. A primeira parte, talvez por resquício dos tempos de graduação, tem muito texto. Já a segunda, mais alinhada à pós, tem mais bullets. Apenas uma breve observação àqueles que eventualmente forem ler este trabalho, além, é claro, de seus examinadores acadêmicos. Ele foi desenvolvido com um propósito já expli- citado, de conclusão de curso, portanto é muito mais extenso do que seria um plano de negócio convencional. E tem cer- tas características que também não estão presentes em planos de negócio, como bibliografia e uma busca de reflexão sobre o processo de trabalho. De qualquer forma, acho que a leitura do material pode contribuir para uma maior compreensão do mercado editorial, o assunto História e a relação entre ambos. Boa leitura! 12
  • 13. Análise do setor Mercado editorial brasileiro A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), em conjunto com a CBL (Câmara Brasileira do Livro) e o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), realiza pesquisa anual sobre o mercado editorial brasileiro. Na edição de 2010, descobriu-se que existem 750 editoras no país, sendo que ape- nas 498 alcançam a meta definida pela Unesco para uma em- presa editorial, de cinco títulos e cinco mil exemplares por ano. Destas, 231 faturam até R$ 1 milhão; 189 entre R$ 1 milhão e R$ 10 milhões; 62 entre R$ 10 milhões e R$ 50 milhões; e 16 editoras faturam acima de R$ 50 milhões por ano. O tamanho do mercado editorial brasileiro cresceu de R$ 3,3 bilhões em 2008 para R$ 4,1 bilhões em 2009 (8,12% ou 2,63% se descontarmos a inflação), sendo que aproximadamen- te R$ 1 bilhão é a participação do Governo. E se desconside- rarmos as compras governamentais, o mercado cresceu 2,99% (ou caiu 2,24%, se descontarmos a inflação). O faturamento do setor pode ser visto de forma mais detalhada na tabela 1. Quanto ao número de exemplares vendidos, houve um cres- cimento de 13,12% (contando o Governo), o que significa que o preço médio do livro manteve a tendência de queda, o que Existem 750 ocorre desde 2004 (33,42% em preços médios reais, conside- editoras no rando-se a inflação do período). Nas tabelas 2 e 3 vemos que país, sendo que os dados não batem, embora tenham sido gerados pelo mes- apenas 498 mo instituto. Parece-me que os valores da tabela 3 estão mais alcançam a meta próximos da realidade, pois livros didáticos não devem ter um definida pela valor médio próximo de R$ 10,00, mesmo levando-se em conta Unesco para que o Governo é o maior comprador, conseguindo desconto de uma empresa até 90%. O fato é que o valor do livro no Brasil é caro, tanto editorial, de em valores absolutos, quando o comparamos com o restante do cinco títulos mundo, e mais ainda em valores proporcionais ao nosso padrão e cinco mil de renda. Mas esta realidade vale para todo o varejo, não sendo exemplares por exclusividade do setor. Tudo no Brasil é caro. ano. 13
  • 14. Tabela 1 • Produção e vendas do setor editorial brasileiro Produção Vendas (1º edição e reedição) Ano Títulos Exemplares Exemplares Faturamento 1990 22.479 239.392.000 212.206.449 901.503.687 1991 28.450 303.492.000 289.957.634 871.640.216 1992 27.561 189.892.128 159.678.277 803.271.282 1993 33.509 222.522.318 277.619.986 930.959.670 1994 38.253 245.986.312 267.004.691 1.261.373.858 1995 40.503 330.834.320 374.626.262 1.857.377.029 1996 43.315 376.747.137 389.151.085 1.896.211.487 1997 51.460 381.870.374 348.152.034 1.845.467.967 1998 49.746 369.186.474 410.334.641 2.083.338.907 1999 43.697 295.442.356 289.679.546 1.817.826.339 2000 45.111 329.519.650 334.235.160 2.060.386.759 2001 40.900 331.100.000 299.400.000 2.267.000.000 2002 39.800 338.700.000 320.600.000 2.181.000.000 2003 35.590 299.400.000 255.830.000 2.363.580.000 2004 34.858 320.094.027 288.675.136 2.477.031.850 2005 41.528 306.463.687 270.386.729 2.572.534.074 2006 46.026 320.636.824 310.374.033 2.880.450.427 2007 45.092 351.396.288 329.197.305 3.013.413.692,53 2008 51.129 340.274.195 333.264.519 3.305.957.488,25 2009 43.814 401.390.391 387.149.234 4.167.594.601,40 2010 54.754 492.579.094 437.945.286 4.505.918.296,76 Fonte: SNEL e CBL (2011) De 2009 para 2010, o preço médio caiu 4,37% (contando o Governo). Em algumas tabelas os valores são absolutos e em outras se precisa considerar a inflação do período. Não me deti exaustivamente nesta questão porque ela não é central ao meu trabalho. De qualquer forma, existem algumas novidades para acontecer brevemente no setor, com a chegada de grupos inter- nacionais de monitoramento de vendas de livros, como a alemã GfK e a americana Nielsen. Mais recentemente tem havido um movimento de concen- tração das grandes editoras e livrarias, além de maior presença 14
  • 15. Tabela 2 • Preços médios constantes por unidade vendida 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Didáticos (mercado) 14,54 12,63 11,48 10,88 10,98 9,29 Obras gerais (mercado) 10,50 9,17 9,03 8,90 8,15 8,28 Religiosos (mercado) 8,31 6,07 5,76 5,30 5,15 4,58 CTP (mercado) 20,53 17,98 17,10 15,79 15,73 13,50 Total (mercado) 12,68 10,85 10,20 9,63 9,29 8,44 Governo 3,92 4,77 5,13 4,75 5,76 4,46 Total (mercado + Governo) 8,58 8,88 8,15 7,72 8,00 6,92 Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2009) Tabela 3 • Preços Médios (mercado) Tipos de Venda 2009 2010 Var. % Didáticos 21,14 18,92 -10,50 Obras Gerais 10,57 10,07 -4,73 Religiosos 6,36 6,70 5,35 CTP 28,85 28,64 -0,73 Total 13,61 12,94 -4,92 Mercado 3,92 4,77 5,13 Total (mercado + Governo) 8,58 8,88 8,15 Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010) de grupos estrangeiros, fenômeno semelhante ao que ocorre no restante da economia. O grupo espanhol Santillana investiu R$ 150 milhões para comprar a Moderna, que detém 30% do mer- cado didático; e a Abril comprou em 2004 a Ática e a Scipione. Mais E aqui cabe uma pequena observação, a Moderna foi a editora recentemente tem havido um que mais vendeu livros no último PNLEM (Programa Nacional movimento de do Livro Didático para o Ensimo Médio), com 7,6 milhões de concentração exemplares, que o representa R$ 50,4 milhões (um custo por das grandes unidade de R$ 6,63). editoras e As editoras portuguesas Leya, Babel e Tinta da China já livrarias, entraram no país. A Leya é particularmente importante para além de maior nosso tema porque edita o “Guia politicamente incorreto da presença História do Brasil” e o novo livro do Eduardo Bueno, “Bra- de grupos sil: uma História”. Segundo Pascoal Soto, diretor da editora no estrangeiros. 15
  • 16. Tabela 4 • Faturamento e exemplares vendidos para o Governo Tipos de Faturamento em milhões de R$ Exemplares vendidos (milhões) Venda 2009 2010 Var. % 2009 2010 Var. % PNLD 534 742 39,02 110 120 9,43 PNLD EM/ 126 151 19,34 12 17 40,34 PNLEM PNBE 60 70 17,53 10 13 30,90 PNLD EJA/ 18 15 -15,23 2,8 2,1 -24,90 PNLA Outros Órgãos de 176 164 -6,65 12 10 -22,27 Governo Total 916 1.145 24,97 148 163 10,01 Governo Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010) Tabela 5 • Preços Médios (Governo) Tipos de Venda 2009 2010 Var. % PNLD 4,85 6,16 27,01 PNLD EM/PNLEM 10,44 8,87 -15,04 PNBE 5,90 5,30 -10,17 PNLD EJA/PNLA 6,60 7,45 12,88 Outros Órgãos de Governo 13,66 16,41 20,13 Total Governo 6,18 7,02 13,59 Fonte: Produção e Vendas do Mercado editorial Brasileiro (2010) Brasil, primeiro tentaram comprar a Nova Fronteira e a Ediou- ro, sem sucesso. Mais recentemente a Penguim Books, uma das seis maiores editoras do mercado americano, comprou 45% da O Governo Companhia das Letras. Federal atua O Governo Federal atua no mercado editorial de forma no mercado determinante, sendo o principal comprador, entre os didáti- editorial cos é praticamente um oligopsônio, pois inclsuive normatiza de forma determinante, os currículos nacionais. O principal programa é o Programa sendo o Nacional do Livro Didático, que tem modalidades para o en- principal sino Fundamental, Médio e para Jovens e Adultos. Outro é o comprador. Programa Nacional da Biblioteca Escolar, que contou com o 16
  • 17. Tabela 6 • Produção de livros por área temática Primeira edição e reedição Educação Básica (Didáticos) 45,72% Religião 10,30% Literatura Juvenil 8,89% Literatura Adulta 8,05% Literatura Infantil 5,38% Auto-ajuda 2,87% Direito 1,59% Dicionários e Atlas Escolares 1,25% Línguas e Linguística 1,25% Economia, Administração e Negócios 0,83% Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010) investimento de R$ 70,9 milhões apenas em 2010 (tabela 4). Na tabela 5 podemos ver que o valor médio por exemplar subiu de R$ 6,18 para R$ 7,02 (13,59%). Os livros para o Ensino Fundamental custam para o Governo, em média, R$ 6,00; e para o Ensino Médio, R$ 10,00. Estima-se que, por causa da escala, este valor seja por volta de 10% do que é vendido no mercado. Além disso, a produção é feita por encomen- da e é o Governo o responsável pela distribuição dos livros pelo país, com um alto custo. Para o mercado, a produção é sempre um risco, é necessário distribuí-lo (aos atacadistas ou às lojas) e há o custo do estoque (espaço e manutenção custam caro). Essa forte Essa forte participação é em decorrência ao que determina participação é a Constituição, que impõe ao Estado a obrigação de garantir em decorrência o direito ao educando de material didático escolar, transporte, ao que alimentação e assistência à saúde em todas as etapas da educa- determina a ção básica, por meio de programas suplementares. Constituição, Os programas do livro didático funcionam com as seguintes que impõe etapas: 1. publicação do edital com os critérios para inscrição ao Estado a das obras pelas editoras; 2. triagem das obras inscritas pelo obrigação de Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, para verifi- garantir o direito car a conformidade técnica e física dos livros com o edital; 3. ao educando avaliação pedagógica das obras, coordenada pela Secretaria de de material Educação Básica do MEC, e inclusão das aprovadas no Guia do didático escolar. 17
  • 18. Livro Didático, que é distribuído para todas as escolas do país; 4. os professores escolhem qualquer título que conste no guia; 5. a escola encaminha pedido ao FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) com primeira e segunda opção; 6. o FNDE negocia a compra com as editoras por inexigibili- dade de licitação, considerando que as escolhas dos livros são feitas pelos próprios professores; 7. o FNDE firma um contrato com cada editora; 8. se não houver acordo, contrata a obra da segunda opção; 9. se persistir o impasse, adquire a obra mais escolhida na região da escola; 10. a distribuição é feita a partir das editoras, pelos Correios. Os critérios pelos quais as obras são avaliadas podem ser en- contrados em detalhes nos editais dos programas, todos desen- volvidos a partir dos Parâmetros Currriculares Nacionais. Even- tualmente aparecem críticas na imprensa aos livros que constam no guia, mas geralmente com um simples exame às obras em questão pode-se avaliar que são motivadas por questões polí- ticas, ideológicas ou preconceitos. E, afinal, são os professores quem afinal escolhem as obras que preferem trabalhar em sala de aula. E também não podemos deixar de mencionar que o grupo Abril, um dos principais adversários políticos dos dois últimos Governos, detém o controle do maior grupo editorial didático do país, com a Ática, Scipione, Anglo, entre outros. Entre 1998 e 2006, 90% das compras do FNDE foram feitas em dezessete editoras: FTD, Ática, Saraiva/Atual, Scipione, Moderna, IBEP, Brasil, Nova Geração, Dimensão, Victor Civita, Base, Nova Fronteira, Quinteto, Nacional, Ediouro, Schwarcz e Formato. Esta participação tem, é claro, uma dimensão comercial e fi- nanceira importante. Mas também é importante ter em mente que em muitas regiões do país, e em algumas classes sociais, às vezes este é o único tipo de livro que o aluno tem acesso. Neste Em muitas ano foi anunciado o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), regiões do país, que sob a coordenação da Fundação Biblioteca Nacional, pro- e em algumas move 42 projetos, com verba total de R$ 373 milhões para 2012. classes sociais, Um deles é o Projeto Livraria Popular, que pretende criar 700 às vezes este é pontos de venda de livros de baixo preço e formar 1.300 micros o único tipo de e pequenos varejistas do livro em cursos de educação à distância. livro que o aluno Inicialmente a idéia era criar um catálogo de pelo menos mil tem acesso. livros em mil pontos de venda espalhados pelo país e visava prin- 18
  • 19. cipalmente atuar para o barateamento do valor dos livros (até R$ 10,00) e, conseqüentemente, facilitar o seu acesso à população. Em 2010, o Ministério da Cultura lançou o “Cultura em Números”, com um balanço dos dados brasileiros do setor. Lá podemos ver alguns números interessantes para o mercado edi- torial: 89,05% dos municípios têm biblioteca pública; 16,4% realizam feiras de livros; 16,9% realizam concursos literários; e 34% têm livraria. Outra forma do Estado participar do mercado é por meio de financiamento a partir de seus diversos órgãos. O BNDES, por exemplo, criou um cartão para oferecer R$ 74,1 milhões para micro, pequenas e médias editoras e livrarias. Segundo informações do próprio banco, imprimiu-se 3,7 milhões de exemplares com estes recursos. Atualmente empresta-se a par- tir de R$ 1 milhão, o que desagrada aos pequenos empresários, que pleiteiam, por meio da Associação Nacional de Livrarias (ANL), que o piso seja reduzido para R$ 300 mil. Além disso, tanto o Governo Federal, como muitos estados e municípios têm programas de incentivo à cultura, onde o livro também é contemplado. Por fim, mas não menos importante, várias das estatais, centros de cultura, órgãos ligados à indústria Várias das e ao comércio, e até algumas empresas privadas (às vezes em for- estatais, centros ma de doação, às vezes em forma de patrocínio, incentivado por de cultura, lei ou não), têm editais voltados a projetos culturais, inclusive órgãos ligados livros. São todas ferramentas importantes para o auxílio à publi- à indústria e cação e de facilitação de acesso do livro à população. ao comércio, Como se não bastasse, desde 2005 o Governo Federal isen- e até algumas ta as editoras de contribuírem para o PIS, Confins e Pasep. O empresas setor já era imune de impostos diretos, graças à Constituição. privadas (às Na época, a estimativa é que deixaria de arrecadar cerca de R$ vezes em forma de doação, às 160 milhões por ano. vezes em forma de patrocínio, E-books incentivado por A vida do e-book no Brasil começou com a Gato Sabido, em lei ou não), têm 2010, com apenas 150 títulos. Em 2012 já temos quase uma editais voltados dezena de sites de grande porte no mercado brasileiro (entre a projetos elas a Saraiva, Cultura, Ponto Frio e Grioti). E mais de dez mil culturais, títulos disponíveis formalmente. inclusive livros. 19
  • 20. Contamos ainda com três distribuidoras digitais: a DLD (consórcio da Rocco, Record, Sextante, L&PM, Planeta e Ob- jetiva); a Xeriph (da Gato Sabido); e a Singular (da Ediouro). Há ainda a Minha Biblioteca, que promove acordos entre as editoras Atlas, Saraiva, Gen e Grupo A Educação com univer- sidades. Paga-se uma tarifa mensal e os estudantes têm acesso aos livros. Funciona como a antiga pasta de textos dos profes- sores, só que totalmente legalizado. Entretanto, a participação do e-book ainda é uma promessa para o mercado, pois repre- senta entre 1% e 3% de seu faturamento. Esses números ainda não são significativos porque o bra- sileiro associa a leitura de livros digitais ao computador, que não é muito amigável a textos longos e não é portátil. Mas, ao mesmo tempo, o setor está se preparando para este cenário mudar, pois cada vez mais o consumidor estará familiarizado com os e-readers e os tablets, que permitem uma leitura mais agradável e é portátil. Três dos principais empecilhos para o crescimento dos e- books no Brasil são o valor do exemplar, que ainda é considera- do salgado pelo consumidor. A baixa quantidade de títulos dis- poníveis (Carlos Eduardo Ernanny, da Gato Sabido, sintetiza o problema da seguinte forma: “No modelo físico, temos muito livro para pouca prateleira. No digital, temos muita pratelei- ra para pouco livro”). E, por último, a anorme diversidade de plataformas e formatos do e-book, contra a padronização do modelo antigo, baseado no papel impresso. Os valores dos e-books são em torno de 25% dos impressos e há incidência de impostos de venda, embora exista uma forte tendência para que se torne isento, como no impresso. O mer- cado procura ampliar esta vantagem competitiva ao meio digi- tal também, por analogia. O preço dos e-books ainda não pode A participação ser mais baixo no país porque há pouca demanda e o custo de do e-book ainda sua adaptação é diluido em poucos exemplares. Outro proble- é uma promessa ma é que sua adaptação envolve uma série de negociações, de para o mercado contratos com autores, revisores, editoras estrangeiras etc. Essa brasileiro, pois demora acaba estimulando a pirataria, pois o tempo da editora representa entre é diferente do da cópia, que é instantânea. 1% e 3% de seu O site Revolução E-Book fez uma pesquisa sobre os valores faturamento. para o livro “Steve Jobs – A Biografia”, em diferentes plata- 20
  • 21. formas e distribuidores, e chegou a resultados interessantes. O preço oscilava entre R$ 26,80 e R$ 49,90. O valor mais baixo foi encontrado na Fnac, na versão impressa! Embora, na média, o valor do impresso no mercado como um todo foi de R$ 37,73, contra R$ 32,10 da versão digital (14% mais barata). Jorge Viveiros, editor da 7 Letras, por exemplo, afirma que todos seus livros digitais estão à venda por R$ 17,00, valor que considera acessível. Enquanto que suas versões físicas estão entre R$ 25,00 e R$ 35,00. Ao mesmo tempo, Pedro Hertz, proprietário da Livraria Cultura, diz que a receita com e-books ainda é insignificante. Existe também um grande debate entre Governo, educadores, escritores e o mercado a respeito de como a plataforma digital entrará na sala de aula. Parte da turma pensa que será mais uma distração do que uma ferramenta de aprendizado e outras, mais tecnofílica, que aposta em novas tecnologias. O Governo Fede- ral anunciou a compra da tablets para distribuir em um plano piloto, com grande repercussão tanto positiva como negativa. É um assunto muito polêmico, pois os valores dos aparelhos ainda são salgados e ainda não se tem clareza de como esses disposi- tivos serão realmente aproveitados. Entretanto, fatalmente em algum momento os e-books estarão disponíveis, pois os custos de impressão e distribuição dos livros didáticos por todo o país são imensos, pois é um universo entre 40 e 50 milhões de alunos assistidos pelos programas. Existe inclusive a promessa do Mi- nistério da Educação de lançar o PNLD digital em 2014. Quanto ao uso do livro didático em e-readers e tablets, é pre- ciso algum tempo para avaliar como será a sua utilização de fato. Uma das opções que se abre é uma interação maior do aluno Existe também com o material. No livro físico há um espaço reservado para a um grande intervenção do aluno, o de exercícios, no material digital essa debate entre participação pode ser muito mais vasta e criativa. Seria muito Governo, mais ágil para um professor reportar um erro de informação educadores, para a editora e ela fazer a correção em todos os exemplares, escritores e sem custos adicionais. Além disso, o conhecimento que o pró- o mercado a prio livro traz poderia oferecer oportunidades de interação com respeito de como os demais alunos, professores, escolas, como por exemplo ativi- a plataforma dades e links com resultados de todo o país. A relação entre autor digital entrará na (ativo) e leitor (passivo) poderia ser mais próxima, em benefício sala de aula. 21
  • 22. Talvez os dos alunos. Talvez os meios digitais como um todo facilitem o meios digitais que todo educador deseja, que seus alunos se tornem agentes de como um todo sua própria vida. E há também a questão do peso dos livros em facilitem o que papel que os alunos carregam nas costas, que os fisioterapeutas todo educador tanto recriminam. Em um pequeno dispositivo cabem milhares deseja, que seus de obras, o suficiente para toda uma vida de estudos. alunos se tornem Em relação à chegada da Amazon, o mercado brasileiro ain- agentes de sua da está aguardando os acontecimentos. Ainda é cedo para saber própria vida. como será exatamente sua vinda ao país. Entretanto, seu movi- mento por aqui não tem sido fácil, pois, segundo reportagem da IstoÉ Dinheiro de março de 2012, apenas dez selos têm acordos assinados com eles, sendo que apenas um de editora grande. O jornalista da matéria apurou que seria a rede de livrarias Saraiva quem está pressionando as editoras a não fecharem acordos com a Amazon. Acusação que a rede nega. A estratégia da varejista americana seria, segundo rumores do mercado, apostar forte- mente no formato digital, ofertando seu dispositivo de leitura, o Kindle, por até R$ 200,00, quebrando um paradigma em re- lação ao e-book, que ainda não deslanchou por aqui. Os demais leitores disponíveis no mercado custam a partir de R$ 600,00. Ela tem encontrado dificuldades principalmente por causa de seu modelo de negócio, que muitas editoras vêem como desvanta- joso. Aqui no Brasil são as editoras que definem o preço de capa, e a plataforma de auto-publicação da empresa com certeza não as agrada. Essa relação direta entre a Amazon e o autor é um tiro no pé a longo prazo para as editoras. E elas sabem muito bem disso, pois assistiram ao exemplo do que ocorreu nos Estados Unidos. Como bem observa Stella Dauer, do Revolução E-book, os edi- tores brasileiros perceberam os perigos desta relação e, se “somos A Amazon tem conhecidos pela nossa simpatia, mas também por não gostarmos encontrado quando não levamos vantagem em alguma coisa”. Os editores a dificuldades acusam de requer ganhar o mercado às custas deles. Como nos principalmente Estados Unidos, a relação com a Apple é muito mais amigável, por causa de pois continuam a definir o preço de capa e a pagar uma margem à seu modelo de distruidora (30%), o que já é tradicional no mercado daqui. negócio, que Um conceito interessante que pode ser aplicado ao mercado muitas editoras de livros, principalmente em sua versão digital, é o de cauda vêem como longa. Mesmo na versão física o fenômeno ocorre, por meio desvantajoso. dos sebos. E o que seria isso? Alguns produtos têm uma vida 22
  • 23. útil, não apenas como unidade, mas também como tipo, de A venda por curta duração. Alguns produtos são rapidamente perecíveis. Internet estaria Outros são modismos. O livro pode ser vendido por um longo transformando período, ganhando ou não novas roupagens. É claro que exis- o marketing de tem livros que são esquecidos pelo público quase instantânea- massa para o de mente, enquanto outros encontram mercado por séculos. Mas nichos. conceitualmente é um produto que pode ter uma vida infinita. No livro “A Cauda Longa”, de Chris Anderson, é citado o caso da Amazon. Em uma grande livraria americana há aproximada- mente 100 mil títulos, enquanto a Amazon tem três milhões. Mui- tos títulos não estão à venda nas livrarias porque vendem pouco, mas em seu conjunto geram uma enorme receita para o site. A ven- da por Internet estaria transformando o marketing de massa para o de nichos. Isso se explica porque o custo do estoque é ínfimo para os sites de venda, além de suas prateleiras serem infinitas. E mesmo as livrarias, que teoricamente poderiam estar mais assustadas com o surgimento do e-book, dizem que não estão. Roberto Guedes, da Travessa, em entrevista ao jornal Valor, afirma que “o livro digital pode ser positivo por popularizar o hábito de ler. (...) Tudo o que se referir a livro, nós vamos trabalhar. Um dos diferenciais da Travessa é a escolha, a cura- doria”, diz Guedes. A livraria tem sete lojas no Rio de Janeiro, comércio virtual, e cresceu 20% em 2011. Sérgio Milano, diretor da Nobel, aborda em outros termos o efeito da cauda longa. “É um mercado complementar, muito útil para solucionar a questão dos livros esgotados e de bai- xo giro. Do ponto de vista de vendas não interferiu em nada”, afirma. O caso da Cultura, de São Paulo, é curioso. Segundo a matéria do Valor, a venda de DVDs e CDs cresceu 14% e 15% entre 2010 e 2011, apesar da pirataria e dos downloads legais. Lá, os livros representam 61% da receita, contra 28% de DVDs e CDs e 11% de jogos, revistas e outros. “O livro digital pode ser positivo por popularizar Pirataria o hábito de Com a ida dos livros para o formato digital, houve também ler. (...) Tudo o uma migração de sua pirataria. Antigamente havia as pastas dos que se referir a professores nas fotocopiadoras, hoje existem sites que ilegalmente livro, nós vamos disponibilizam livros na Internet sem custo para o consumidor. A trabalhar”. 23
  • 24. Tabela 7 • Livros mais pirateados no Brasil em 2011 (por mês) Mês Obra Links Downloads Janeiro Fundamentos de física (LTC) 105 698 Fevereiro Oracle database (Artmed) 96 40.346 Março Valores de A a Z (Iemar) 785 311 Abril De marré de si (lemar) 275 630 Uma introdução ao estudo da psicologia Maio 95 30.124 (Saraiva) Cartas entre amigos – Sobre medos Junho 88 12.947 contemporâneos (Ediouro) Treinando a emoção para ser feliz Julho 120 34.173 (Ediouro) Agosto A hora das bruxas (Rocco) 146 8.359 Fundamentos da matemática elementar Setembro 135 11.624 (Saraiva) English Vocabulary In Use Advanced Outubro 90 34.484 (Cambridge) Novembro Vontade de potência (Vozes) 59 5.406 Fundamentos da matemática elementar Dezembro 41 18.895 (Saraiva) Fonte: SNEL (2011) Associação Brasileira de Direitos Reprográficos (ABDR) atua há algum tempo para coibir tal prática, com muita dificuldade, em função de sua capilaridade. Recentemente conseguiu que a Jus- tiça fechasse o blog Livros de Humanas, que congregava livros Antigamente piratas de cursos de ciências sociais. Esta é uma questão bastante havia as polêmica e ambos os lados têm muitas boas razões. Inclusive in- pastas dos telectuais publicaram uma carta contra a ação da ABDR, muitos professores nas deles professores universitários que têm seus textos pirateados. A fotocopiadoras, tabela 7, desenvolvida pelo SNEL, traz alguns números de 2011. hoje existem A disparidade do volume por mês (em fevereiro tem mais de 40 sites que mil e em março apenas 311 unidades) indica que sua elaboração ilegalmente é precária. Uma informação adicional: o título mais baixado do disponibilizam ano, da Artmed, custa R$ 130,00 e não tem versão para e-book. livros na Internet sem Vejamos os argumentos a favor do blog: custo para o • muitos destes alunos têm dificuldade de consumir regu- consumidor. larmente os livros, que são muitos, e na média caros; 24
  • 25. • as bibliotecas universitárias não têm exemplares sufi- cientes para oferecer a todos os alunos; • muitas das edições são antigas e não mais disponíeis no mercado; • a educação é um direito garantido pela Constituição; • a repressão à pirataria é usualmente feita à margem da Justiça; • o conteúdo dos livros de humanas são, em sua origem, na maioria das vezes, projetos financiados com dinheiro público, e/ou de autores que trabalham em dedicação exclusiva ao setor público; • o valor que os autores efetivamente recebem de direitos autorais é irrelevante, sendo que o mais comum é rece- berem apenas cópias dos livros; • muitas vezes os leitores, principalmente os acadêmicos, estão interessados em trechos, no máximo em capítulos, e não no livro inteiro; • por fim, o principal interesse do autor é ser lido. Mas há também argumentos contrários: • é função do Estado prover acesso aos livros à população por meio de bibliotecas públicas; • sem venda não há editoras, sem editoras não há merca- do, sem mercado não há livros; • sem o trabalho das editoras, a qualidade dos livros ten- deriam a diminuir, pois ela agrega trabalho ao texto e, principalmente, em sua formatação; • muitos livros exigem dedicação de anos por parte do autor, eventualmente patrocinados pelas editoras, e pre- cisam ser remunerados; • já existem muitos livros disponíveis gratuitamente para download; • muitos dos títulos baixados ilegalmente podem ser en- contrados no mercado; O título mais • se comparado com outros itens de consumo, o livro não baixado do ano, é caro; da Artmed, custa • os grandes beneficiados com o conteúdo grátis na In- R$ 130,00 e não ternet seriam grandes empresas provedoras de acesso à tem versão para rede e companhias de telecomunicações. e-book. 25
  • 26. Logo após o fechamento do blog, duas editoras, que justa- mente eram “alvo” preferencial do site clandestino, pois têm em seu catálogo basicamente livros das “humanas”, a Boitempo e a Contexto, pediram a sua desfiliação da ABDR por não concor- darem com sua ação. Ela teve seu início inclusive em função de um livro de lingüística do professor José Luiz Fiorin, publicado pela Contexto, que imediatamente desautorizou que qualquer atitude jurídica de repressão fosse feita em seu nome. Jaime Pinsky, professor universitário de História, com mais de 20 livros publicados e proprietário da Contexto, divulgou nota ao mercado reiterando o compromisso da editora em “promover a circulação do saber” e que não concordava em participar da repressão ao site. É um problema difícil de ser resolvido porque as editoras vivem justamente de seu bom relacionamento com o público, e a universidade é um grande formador de leitores. Então, apesar de depender financeiramente da receita de vendas dos livros, e deixar de ganhar quando o mesmo é ilegalmente distribuído, entrar em rota de colisão com seu público consumi- dor, seja ele atual ou futuro, é também dar um tiro no pé. A Boitempo toca na questão central em sua nota ao merca- do: “(...) desde a sua criação, sempre lutou pela democratização do conhecimento, inclusive daquele viabilizado por ela mes- ma (...). Dessa forma, seria no mínimo contraditório reprimir nossos leitores por buscarem exatamente o que defendemos. Responsabilizar o leitor, a parte mais frágil e também a mais importante da cadeia editorial, é uma covardia”. Um exemplo interessante é o do Paulo Coelho, que disponibi- É um problema lizou e estimulou que baixassem seus textos via torrent, de graça, difícil de ser na Internet. Para ele, quanto mais pessoas pudessem ler seus tex- resolvido porque tos, melhor. Mais recentemente convenceu sua editora nos EUA a as editoras vivem vender seus títulos a US$ 0,99, no formato e-book. Seu argumento justamente é que “se os livros forem muito baratos, as pessoas serão encoraja- de seu bom das a pagar por isso, ao invés de baixá-lo gratuitamente”. relacionamento O mercado precisa logo descobrir uma solução para esta com o público, equação de prover o acesso ao livro, em condições de consumo e a universidade pelo público, pois este é um bem de valor central na formação é um grande do país que todos desejamos, e remunerar de forma justa os formador de editores, aqueles que investem e constroem dia-a-dia o merca- leitores. do editorial do país. Os exemplos das indústrias fono e cinema- 26
  • 27. tográfica estão muito próximos para que sejam esquecidos. E até os defensores da ação da ABDR reconhecem que esta é uma luta fadada ao fracasso. Apesar de ainda não se ter claro qual será a solução para o problema, há um consenso que haverá alguma revisão da Con- venção de Berna, da qual o Brasil é signatário, que garante os direitos do autor por 70 anos a partir de 1º de janeiro do ano posterior à sua morte. É muito tempo. Além disso, precisaria haver uma regulação para obras não mais editadas, ou quando o autor não é encontrado. A garantia de autoria, conceito cria- do no Ilumismo e que propiciou a criação de um forte mercado de livros, é com certeza um avanço que toda a humanidade usufrui. Mas certamente precisará passar por uma revisão para se adequar aos novos tempos, às novas plataformas de leitura. A França inovou ao reformular o Código de Propriedade In- telectual, permitindo a exploração por meio digital de obras anteriores a 2001 e que estejam comercialmente indisponíveis. Robert Darnton, historiador americano especialista na His- tória do livro e do Iluminismo e diretor da biblioteca de Har- vard, esteve no Brasil recentemente e, em entrevista à Folha de S.Paulo, deixou claro que “o futuro do livro é o acesso aberto”. Para ele, a lei de direito autoral deve mudar, voltando ao que era quando foi criada, em 1790 nos EUA, que garantia exclusi- vidade por 14 anos renováveis por mais 14. Uma iniciativa interessante é a da SciELO Livros, que disponi- bilizada gratuitamente livros produzidos pelas editoras da Unesp, UFBA e Fiocruz. José Castilho Marques Neto, presidente da edi- Para Robert tora da Unesp, afirma que atualmente existe um acerto de 148 e- Darnton, a lei de books gratuitos (pouco menos de 10% do catálogo), mas acredita direito autoral que chegará a 25% ao fim desta década. A questão central, para deve mudar, ele, é que “pesquisa feita com dinheiro público, de instituição pu- voltando ao blica, deve ter acesso gratuito”. Conta ainda que na Associação que era quando das Editoras Universitárias existe essa discussão de abrir o quanto foi criada, em possível o acesso aos livros, sem perder de vista que elas precisam 1790 nos EUA, ao menos serem sustentáveis economicamente. que garantia Por fim, é importante observar os dados de pesquisa de- exclusividade senvolvida pelo Revolução E-Book. Segundo foi apurado por por 14 anos eles, a partir do acervo do blog Livros de Humanas, 90% das renováveis por obras não tinham versão e-book, ou seja, foram escaneadas e mais 14. 27
  • 28. Se as editoras transformadas em pdf. Talvez ainda seja cedo para afirmar, ou não correrem se precisaria fazer mais pesquisas, mas a hipótese de que os para colocar livros digitais incentivam a pirataria parece não ter comprova- seus livros ção, quando se leva em conta os dados empíricos. De qualquer disponíveis em forma, se as editoras não correrem para colocar seus livros dis- meio digital, a poníveis em meio digital, a preços acessíveis, alguém o fará. preços acessíveis, Carlos Carrenho, do blog Tipos Digitais, resume a situação da alguém o fará. seguinte forma: “Qualquer leitor honesto que busque a versão digital de um livro em uma e-bookstore se sentirá legitimado a procurar uma cópia pirata caso não encontre a edição oficial disponível. (...) É claro que não basta que o livro esteja disponí- vel. Ele terá de ter um preço justo”. Venda porta-a-porta Com a ascensão da nova classe média, e de seu poder de com- pra, há um proporcional aumento da vendagem de livros. Como o número de livrarias no país ainda é limitado (2.300 para 5.500 municípios), a venda porta a porta tem ganhado cada vez mais importância. Nos últimos cinco anos, a participação desta mo- dalidade de venda pulou de 5,4% para 21,66% do total. Os livros que mais vendem são os ligados à educação, religiosos e de auto- ajuda, mesmos gêneros das demais modalidades de distribuição. Nos últimos dez anos 31 milhões de pessoas foram inseri- das no mercado de consumo. Embora sua escolaridade formal ainda seja baixa, há a percepção por parte deles de que seus filhos precisam ter melhores condições de estudo. Assim a mer- cadoria livro tem ganhado um incentivo de compra. Os pais têm dificuldade de leitura e lêem muito pouco. Muitos deles compram livros para que seus filhos possam adquirir o hábito e tenham mais condições de sucesso na vida. Nos últimos Além do mais, os filhos dessa nova classe média têm tido cinco anos, a oportunidade de ingressar no ensino superior, graças a progra- participação mas de inclusão do Governo Federal, e conseqüentemente sua desta demanda por leitura e livros aumentou. Inicialmente textos li- modalidade de gados diretamente à sua formação, mas depois seguramente de venda pulou toda espécie. Segundo Diego Drumond e Lima, presidente da de 5,4% para ABDL e diretor-geral da Editora Escala, “o segundo mercado 21,66% do total. que mais cresce no país é o juvenil. Portanto, hoje, a criança 28
  • 29. Tabela 8 • Crescimento das vendas de livros no Brasil Valores em milhões de reais 2006 2007 2008 2009 2010 Total de livros vendidos 185,0 200,2 211,5 228,7 258,6 Venda porta a porta 10,0 19,2 28,8 38,0 56,0 Participação do porta a porta 5,4% 9,6% 13,6% 16,6% 21,6% Fonte: CBL, SNEL e Fipe (2010) que está sendo educada no computador está lendo muito mais Os pais têm livro no papel do que a criança de anos atrás”. Ou seja, há toda dificuldade de uma geração que está crescendo lendo mais. leitura e lêem Apenas como exemplo, a líder neste mercado, a Barsa, ven- muito pouco. Muitos deles deu 70 mil coleções apenas em 2010, e 55 mil em 2009, com compram livros aproximadamente dois mil revendedores. Este número é bas- para que seus tante considerável, ainda mais se levarmos em conta que o va- filhos possam lor de cada coleção não é nada amigável, sendo que o preço adquirir o hábito varia em torno de R$ 2.500,00. e tenham mais Além da Barsa, outras grandes empresas atuam no segmento condições de de venda porta a porta. Entre eles, estacam-se a Jequiti, a Hermes sucesso na vida. e a Avon, que vendem vários produtos e descobriram que o livro também traz uma boa receita. Adriana Picazio, gerente da Avon, afirma que “com o livro Ágape, do padre Marcelo Rossi, vende- mos em quatro meses o que as livrarias venderam em 14 meses”. Mercado internacional Uma boa forma de avaliarmos as tendências de qualquer mer- cado, inclusive o editorial, é olharmos para fora do nosso país e procurarmos enxergar como as mudanças tecnológicas, culturais e econômicas tem impactado as empresas e os consumidores. Não necessariamente todas as sociedades lidam da mesma for- ma diante do mesmo desafio, mas podemos ampliar o espectro e vermos como elas se adaptam. Existe uma possibilidade muito grande de seguirmos algumas das tendências já encaminhadas lá fora ou mesmo uma mistura delas. Muitas vezes também, ao fazermos essa análise comparativa, podemos descobrir que es- tamos na vanguarda, ou não tão atrás, pelo menos em alguns 29
  • 30. Os Estados aspectos. Também é necessário ter em mente que não podemos Unidos são o fazer comparações mecânicas, artificiais, pois o que na realidade país onde o acontece, em sua própria dinâmica diversa e cheia de possibili- e-book teve dades, é que seguimos o nosso caminho, influenciados de forma uma penetração incisiva ou tênua por todos os atores, internos e externos. mais rápida e Assim, segundo o The Global eBook Market: Current Condi- abrangente. tions & Future Projections, pesquisa realizada em 2011 sobre o mercado editorial, os Estados Unidos são o país onde o e-book teve uma penetração mais rápida e abrangente. Lá muitos títu- los alcançam a vendagem de mais de dez milhões cópias, sendo que muitos deles têm vendido mais de um milhão na versão digital. Veja uma lista da participação dos e-books nas vendas de grandes varejistas do mercado editorial mundial na tabela 9. Já na tabela 10, podemos ver que a Amazon é o principal canal de distribuição de e-books para mais de um terço das editoras. É importante avaliar o que acontece e aconteceu no merca- do americano porque é uma referência para todo o mundo, sen- do o país que mais consome livros, com faturamento de US$ 27 bilhões em 2010. Evidentemente que o mercado europeu, asiá- tico, como o nosso aqui no Brasil, tem suas especificidades. Os mercados da França, Alemanha e China são bastante re- presentativos no que se refere a títulos e volumes impressos, porém relativamente defensivos em relação aos atores globais, Os mercados como Google, Amazon e Apple. Tanto as autoridades como os da França, editores locais são relutantes em ver este mercado, tão estraté- Alemanha gico, na mão de estrangeiros. As razões são variadas: temem e China são perder autonomia cultural, que as pequenas livrarias e edito- bastante ras não sobrevivam e que o acervo digitalizado de sua Histó- representativos ria esteja fora de seu alcance, de suas terras, sob domínio de no que se refere a multinacionais americanas. E também talvez esta seja a única títulos e volumes industria cultural em que a Europa tem a liderança. Segundo o impressos, site Publishnews, das 10 maiores editoras do mundo em 2010, porém seis eram européias: Pearson (Reino Unido); Reed Elsevier relativamente (Reino Unido / Holanda / EUA); Wolters Kluwer (Holanda); defensivos em Bertelsmann (Alemanha); Hachette Livre (França); e Grupo relação aos Planeta (Espanha). Além disso, as mais importantes feiras do atores globais, setor ocorrem no velho continente. Outra dificuldade para os como Google, e-books em geral e para as grandes e virtuais é que o território Amazon e Apple. europeu apresenta uma boa cobertura por livrarias de rua. 30
  • 31. Tabela 9 • Faturamento com e-books Hachette US 22% Hachette UK 5% Simon & Schuster Global 17% Simon & Schuster UK 3% Harper Collins Global 11% Harper Collins US 19% Harlequim Canadá 13,6% Random House UK 8% Fonte: Publishers Lunch (1º trimestre de 2011) Tabela 10 • Vendas por principal canal de distribuição Amazon 38% E-comerce próprio 25% Outros 16% iBookstore 2% Kobo 1% iTunes 1% B&N 1% Não sabe 16% Fonte: Uncovering eBooks’ Real Impact, Aptara (2011) Temem perder O mercado editorial da Europa Continental teme o mesmo autonomia resultado da indústria fonográfica com sua ida para a platafor- cultural, que ma digital. E há uma inequívoca associação entre o digital e as pequenas livrarias e o pirata. Eles sabem que se não entrarem no filão digital, ele editoras não crescerá da mesma forma, mas à margem da lei, como ocor- sobrevivam e reu com a música e ocorre parcialmente com o cinema. E há que o acervo ainda o rescaldo do sentimento iluminista, onde a imagem do digitalizado de livro tem um peso simbólico muito grande. Atualmente o li- sua História vro em seu formato impresso, físico, é visto como um símbolo esteja fora de de resistência à modernidade, enquanto que o digital seria um seu alcance, fenômeno americano. Uma outra forma de avaliar o crescimen- de suas terras, to do e-book no mercado americano e inglês seria como uma sob domínio de conseqüência da crise econômica, que vem deprimindo a renda multinacionais das classes médias destes países. O meio digital pode ser uma americanas. 31
  • 32. Atualmente forma de conseguir usufruir do mesmo bem de uma forma mais o livro em econômica. Já na Europa continental haveria uma resistência seu formato maior, devido a questões culturais já apontadas. impresso, físico, Outra pesquisa, do Rüdiger Wischenbart Content and Con- é visto como sulting, detectou que a Google, Apple e Amazon estão cada vez um símbolo de mais presentes e destruindo os elos tradicionais entre as edi- resistência à toras e livrarias nos Estados Unidos e Inglaterra. No mercado modernidade, americano, principalmente, muitas grandes e antigas redes de enquanto que livrarias quebraram ou estão em vias de quebrar. o digital seria O mesmo estudo aponta que os segmentos mais represen- um fenômeno tativos para as 58 maiores editoras do mundo são o de livros americano. científicos, técnicos e profissionais (CTP), com 43%, livros tra- de (obras gerais, literatura e ensaios), com 31%, e educacionais, com 27%. Os títulos educacionais têm aumentado ao longo dos últimos anos e os trade caindo. A pesquisa mostra que três edi- toras brasileiras estão entre as maiores do mundo. São a Abril Educação, na 46º posição; a Saraiva, na 52º; e a FTD, na 56º, as três focadas no segmento didático. Uma hipótese ainda não totalmente verificada no mercado é o aumento da leitura do livro em inglês. Como o meio digital é instantâneo, os leitores do resto do mundo não precisariam es- perar meses para o lançamento da edição em sua língua nativa. Haveria assim uma compra direta do produto em sua origem, sem intermediários locais. Este fenômeno já foi visto na Holan- da, Suécia e Eslovênia. Outra discussão interessante é a respeito de a leitura por meio de dispositivos eletrônicos seria mais saudável para o planeta ou não. O argumento dos aficcionados por tecnologia é que há uma enorme economia de papel, que consome bastante água em sua A Google, Apple fabricação e combustível fóssil na distribuição, além da energia e Amazon estão na distribuição física dos livros impressos. Já o grupo contrário cada vez mais diz que os aparelhos eletrônicos são muito mais poluentes do que presentes e a indústria do papel, por exemplo, que refloresta o que consome. destruindo os Para conferir um pouco de credibilidade ao debate, a National elos tradicionais Geographic divulgou estudos que comprovam que a partir de 14 entre as editoras livros lidos eletronicamente já compensam o seu uso. Segundo e livrarias nos ela, a produção de cada livro em papel consumiria 8,85 quilos Estados Unidos de CO2, ou seja, 14 vezes o equivalente para a produção de um e Inglaterra. e-reader ou tablet. Além disso, poderia se usar o aparelho para 32
  • 33. ler jornais e revistas, ver televisão, pois consome 33 vezes menos Outra discussão do que um aparelho de TV, em média. interessante é a respeito de a Com o aumento da utilização de livros digitais, os e-books, leitura por meio torna-se mais fácil a publicação para os autores independentes. de dispositivos Antes este processo passava obrigatoriamente por uma editora, eletrônicos seria e não raras vezes ele precisava pagar pela edição. Com isso, os mais saudável autores ganham mais liberdade e mesmo poder junto às editoras, para o planeta pois têm mais opções. Os autores de primeira viagem conseguem ou não. realizar seu sonho de publicar o livro e os autores já consagrados ficam menos presos às editoras. A auto-publicação, via e-book, também pode baratear o livro, pois o texto pode passar do au- tor diretamente para o leitor, sem que uma série de pessoas o manuseie e conseqüentemente torne o livro mais caro. O livro costuma passar por revisão, preparação, diagramação, capista, edição, agentes literários, marketing, distribuição, venda, ufa! É claro que todas estas pessoas contribuem para a qualidade do livro. Liberdade geralmente vem com mais responsabilidades. Portanto os autores terão muito mais tarefas, e podem ter enormes dificuldades para superarem algumas. Toda essa engrenagem aca- ba por conferir uma maior qualidade ao produto (o livro). O livro não é apenas o seu texto. Como qualquer outra mer- cadoria, obedece a certa lógica de seu segmento. Para que um livro chegue a ser publicado, muitos profissionais contribuem o seu resultado e, além disso, para selecionar os melhores produ- tos. A maioria dos livros escritos sequer é publicada, por falta de interesse de alguma editora. Esse processo sem dúvida sele- ciona os títulos que os editores acham mais rentáveis para seus próprios bolsos, como são as regras do capitalismo. É difícil imaginar um futuro cenário do mercado editorial sem os editores. Talvez os livros façam sucesso nas redes so- ciais e as pessoas entrem no site dos autores diretamente e o comprem. A Internet pode criar sua própria massa crítica. En- Com o aumento tranto, a auto-publicação vai agravar um dos problemas que da utilização de novos autores têm, que é alcançar alguma visibilidade para a livros digitais, os sua obra. Com muitos mais títulos disponíveis, conseguir cha- e-books, torna- mar a atenção para o seu texto será uma tarefa cada vez mais se mais fácil árdua. Márcio Souza, romancista iniciante. resumiu a situação a publicação com muita graça: “É mais fácil livrar-se de um cadáver que de para os autores mil exemplares de um livro”. independentes. 33
  • 34. A relação entre A relação entre editores e autores pode ir do harmônico editores e para o belicoso em função do retorno e da atenção que cada autores pode ir um pode proporcionar ao outro. Segundo pesquisa feita para do harmônico o Writer’s Workshop, entre 320 escritores britânicos ouvidos, para o belicoso 74,2% estão dispostos a eliminar sua editora se os e-books con- em função do tinuarem a ganhar mercado, apesar de 74,6% considerarem retorno e da boa ou excelente sua relação com a editora. atenção que Uma mostra disso é que a Amazon, líder no mercado ameri- cada um pode cano de livros, físicos e digitais, começa a permitir que autores proporcionar ao independentes comercializem seus textos por seu canal de venda outro. sem o intermédio da editora, tornando o retorno financeiro para o autor incomparavelmente maior. Atualmente, segundo a Amazon, 15% dos seus livros mais vendidos para Kindle, sua plataforma de leitura, são de auto-publicação. Atualmente esses best-sellers acabam sendo incorporados ao mercado editorial tradicional, mas no futuro isso pode não mais acontecer. Mas é importante que se avalie que desta forma o livro não tem o tratamento profissional de editores, tanto em sua confecção como em sua venda. Alias, em relação à Amazon, é importante desenvolvermos um pouco mais o assunto. Ela atua no mercado determinando o preço, com descontos que variam entre 30% e 60% do valor de capa (este é o modelo chamado de distribuição). Procura vender mais barato porque usa o livro para atrair o consumi- dor para sua plataforma de compras, onde pode levar outros produtos, mais caros, e com maior margem para a companhia. Esta é uma reclamação recorrente do mercado em relação à empresa, pois canibaliza o mercado editorial, e muitas grandes e tradicionais redes varejistas nos EUA quebraram em função de sua concorrência, para vender outros produtos. Conhecer a Amazon é importante porque ela está prestes Com a auto- a entrar no mercado brasileiro. Segundo seu presidente, Jeff publicação, o Bezos, seus objetivos são chegar à lua e ao Brasil. Inicialmente livro não tem mira o mercado de livros, mas seu alvo principal é o merca- o tratamento do de varejo pela Internet, que movimentou R$ 20 bilhões em profissional de 2011 e deve chegar a R$ 80 bilhões em 2015. É importante editores, tanto observar um pouco as proporções, pois ela faturou US$ 48 bi- em sua confecção lhões em 2011, com atuação em 132 segmentos. Ou seja, fatura como em sua hoje sozinha o que o todo o mercado brasileiro daqui a qua- venda. tro anos somando todos os setores de comércio eletrônico. Seu 34
  • 35. portal de compras tem 100 milhões de clientes e mais de 43 mil A Amazon fatura funcionários ao redor do mundo. hoje sozinha o que o todo Apenas para se ter uma idéia, estima-se que a Amazon so- o mercado zinha representa 75% do mercado de livros físicos e 65% dos brasileiro e-books no mercado americano. Em 2010, considerando-se ape- daqui a quatro nas o faturamento dos cinco maiores distribuidores, a Amazon anos somando alcançava a cifra de US$ 34,2 bilhões (78,8%), a B&N US$ 5,8 todos os setores bilhões (13,4%); a Borders US$ 2,8 bilhões (6,5%), a Books-A- de comércio Million US$ 508 milhões (1,2%) e a Powell’s Books 61 milhões eletrônico. (0,1%). A Borders fechou as portas em setembro daquele ano, com mais de 19 mil empregados. É uma participação enorme que será muito difícil para manter, até porque as seis maiores editoras não estão gostando da forma como a empresa age. No mercado de e-books, por exemplo, ela força o preço máximo de US$ 9,99, baixando consideravelmente as margens das editoras. O preço médio oscila entre US$ 0,99 e US$ 4,99. Elas reclamam que a empresa está criando consumidores às custas delas, e num futuro qualquer não haverá mais editoras que consigam suportar esses preços. Outro risco é que a própria Amazon está se tornan- do uma casa publicadora, por meio de sua plataforma de auto- publicação. Mesmo para aqueles que consomem livros em iPads, pasmem, apenas 29% o fazem via iBookstore, contra 40% pela Amazon (segundo pesquisa da Codex Group Survey, 2010). E o Kindle, seu e-reader, está disponível em mais de 100 países. Outros varejistas, aliados das editoras e da Apple, defendem o modelo de agência, onde o produtor define o preço e o distri- buidor/vendedor fica com uma margem pré-fixada (30% no caso da Apple). Ocorre que o Governo norte-americano processou a Apple e cinco das seis maiores editoras que atuam no país, as Big Six (Penguim, Macmillan, Simon&Schuster, Hachette, Har- perCollins, a Random House faz parte do grupo, mas não está sendo processada). O Departamento de Justiça alega que há uma conspiração para aumentar os preços dos livros digitais (carte- rização) e a parte contrária argumenta que procura aumentar a A Borders fechou concorrência na indústria, dominada pela Amazon. O mercado as portas em americano é bastante concentrado, pois as 50 maiores editoras setembro de detém 80% de todo o faturamento do setor. 2010, com No mercado americano a norma era uma editora vender seus mais de 19 mil livros a uma livraria por aproximadamente metade do preço de empregados. 35
  • 36. O Departamento capa, sendo que a loja poderia dar os descontos que quisesse. de Justiça Mas a Amazon, para ganhar mercado, colocou os preços ainda americano alega mais baixos do que o padrão, às vezes até com prejuízo, no que que há uma muitos a acusam de dumping. O que a Apple e as editoras ale- conspiração para gam é que o modelo de agência foi uma resposta a esta prática aumentar os desleal. Já a plataforma da Google é nas nuvens. É interessante preços dos livros observar o tamanho dos atores neste novo mercado editorial, digitais a Apple tem um valor de mercado de US$ 41,7 bilhões, contra US$ 26,5 bilhões da Google e US$ 5,6 bilhões da Amazon. Na Europa existe uma lei que determina que seja a editora quem fixa o preço de capa, a fim de preservar as pequenas livra- rias. As grandes normalmente poderiam fazer grandes descon- tos por causa da escala, e por venderem outros produtos, como a francesa FNAC, mas, por causa da lei, são proibidas por um determinado período. Concorrente da Amazon no ramo da auto-publicação, o Smashwords já tem 127 mil títulos, de 44 mil autores (números de junho de 2012). Desde 2008 permite a publicação e distri- buição por parte de autores e editores de forma rápida, fácil e gratuita (cobra apenas 15% de participação na vendagem). O autor fica com cerca de 60%, pois ainda há uma parte para o canal de venda e as despesas com o cartão de crédito. Pelo mo- delo tradicional, o autor recebe por volta de 12% no mercado americano (no brasileiro, entre 5% e 10%). O autor/editor faz o upload de um texto em Word e o site o converte para mais de nove formatos diferentes de e-books, onde o livro automatica- mente fica disponível para a venda. A média de preço dos livros no site é abaixo de US$ 3 e apro- ximadamente 15 mil títulos são de graça. Há um concenso que Na Europa os autores de livros independentes estão forçando os preços para existe uma lei baixo (juntamente com a política da Amazon). E o presidente da que determina empresa, Mark Coker, garante que há uma vigília para averiguar que seja a se o conteúdo dos livros está formatado corretamente e é origi- editora quem nal. O mais interessante é que o consumidor pode adquirir os li- fixa o preço vros por qualquer canal convencional (Apple, B&N, Sony, Kobo de capa, a fim etc., mas ainda não com a Amazon, que tem sua própria pla- de preservar taforma). Mais recentemente novos e poderosos atores de peso as pequenas entram neste mercado de auto-publicação, como a B&N, Apple livrarias. e Kobo, que têm fortes canais de varejo. Na Internet, com uma 36
  • 37. História dos livros digitais Michael S. Hart lança o Projeto Gutenberg com a Declaração de 1971 Independência, primeiro texto digital. Criação da Voyager Company, primeira empresa a adaptar livros para 1985 computadores. 1997 Projeto Gutenberg atinge 1.000 títulos. 1998 Lançamento do primeiro dispositivo e-reader, da Rocket. Stephen King lança o livro Riding the Bullet, 1º e-book comercial. Nas primeiras 2000 24 horas, 400 mil copias são baixadas. Randon House e HarperCollins começam a lançar versões digitais de seus 2002 títulos. As vendas de e-books atingem US$ 2,1 milhões no primeiro ano. 2003 Projeto Gutenberg atinge 10.000 títulos. As vendas de e-books atingem US$ 25,2 milhões. 2006 Sony lança o Sony Reader. 2007 Amazon lança o Kindle, com mais de 90 mil títulos disponíveis. As vendas de e-books atingem US$ 441,3 milhões. 2009 Barnes&Noble lança o Nook. Apple lança o iPad e o iBookstore. 2010 Google abre sua loja virtual com 3 milhões de títulos. Projeto Gutenberg atinge 33.000 títulos. 2011 Amazon vende mais e-books do que livros físicos. 2012 Projeto Gutenberg tem hoje 39.000 títulos. simples busca se pode encontrar várias experiências de auto-pu- blicação nos mais diferentes sites. Relatam tanto as facilidades Em relação e dificuldades técnicas, como as vantagens e os perigos legais e aos e-books, financeiros. Segundo a Kobo, que tem cinco milhões de clientes, será necessário a auto-publicação representa 7% das vendas nos EUA, 8% na chegar a um Ásia, 9% na América do Sul, 10% na Austrália e Europa e 14% consenso a respeito de como na África. O preço médio da auto-publicação é US$ 4,22, contra preservar os US$ 7,29 das editoras. O preço médio nos EUA para autores ini- direitos autorais ciantes é entre US$ 0,01 e US$ 3,99; catálogo entre US$ 4,99 e sem dificultar US$ 9,99; e best-sellers entre US$ 9,99 e US$ 14,99. o acesso e Em relação aos e-books, será necessário chegar a um con- o manuseio senso a respeito de como preservar os direitos autorais sem difi- por parte do cultar o acesso e o manuseio por parte do consumidor. O setor consumidor. 37
  • 38. Consegui de música, por exemplo, não quis de adaptar aos novos meios e entrevistar acabou sendo engolido pela pirataria. nove pessoas É interessante também pensarmos no impacto que os e- em editoras que books têm tido na educação. Em pesquisa desenvolvida pelo trabalham de site americano ecampus.com, quando perguntados a respeito alguma forma de qual recurso mais valorizavam nos textos digitais, 52% dos com livros onde pesquisados escolheram a opção de busca, 20% a de marcar, História é o 14% copiar e colar, e 12% a interatividade. A plataforma em assunto central que mais acessavam os textos era o laptop, com 64%, seguido ou marginal. do tablet, com 18%. E, segundo pesquisa da Publishers Weekly, de 2010, 76% das editoras americanas já produzem versões e- books, sendo 10% delas o fazem em detrimento de suas versões impressas. Outra coisa interessante que a pesquisa revela é que 21% delas produzem seus e-books com recursos adicionais em relação às versões impressas. Pesquisa com editores Desde o início de minha jornada para a produção deste tra- balho sabia que precisaria conversar com as pessoas que real- mente põem a mão na massa, que são os editores. O autor, é claro, também dá um duro danado, mas o editor trabalha no processo todo e também no próprio texto, enquanto que o au- tor, geralmente, pára na entrega do original. Inicialmente imaginei que poderia entrevistá-los todos pes- soalmente, depois percebi que não conseguiria. Muitos não te- riam tempo para mim, que realizava um trabalho de escola, mes- mo que fosse uma pós-graduação, e eu mesmo vi que não teria como, pois tenho um trabalho onde preciso cumprir o horário comercial. Até pedi para me ausentar por duas horas para uma determinada entrevista, mas sabia que não poderia abusar. Este nicho tem Consegui entrevistar nove pessoas em editoras que trabalham um espaço de alguma forma com livros onde História é o assunto central ou consolidado no marginal. Fiz duas entrevistas pessoalmente, uma por telefone mercado e vem e seis por email. Comprometi-me com elas a não divulgar seus crescendo há nomes e nem de suas empresas, a fim de não comprometê-las e mais de duas para que pudessem me falar mais francamente como viam e se décadas. relacionavam com o mercado. Assim, as falas individuais não 38
  • 39. serão distinguíveis ao longo do texto. Procurei mais identificar A maioria dos assuntos e opiniões (divergentes às vezes) do que personagens. leitores de livros de História não é especializada, Livros de História e sim de pessoas Segundo um experiente editor especializado em livros de que têm interesse História, e aqui contando-se apenas os de não ficção, este nicho mais genérico tem um espaço consolidado no mercado e vem crescendo há por questões mais de duas décadas. “Mesmo quando todo mundo está recla- históricas. mando eu vendo bem e vejo minha editora crescendo”, afirma. Outro editor também disse a mesma coisa, que os bons li- vros de História têm público. Os mais fáceis tem um público mais amplo e os mais difíceis um menor. Um deles afirmou que cerca de 10% de seu catálogo é diretamente voltado ao tema, se incluirmos as biografias. E que acredita fortemente no tema, pois conta com alguns best-sellers. Outro disse que tem algumas biografias que vendem muito e há bastante tempo. “Os que fazem sucesso são os para público leigo”, afirma. Já os mais acadêmicos têm em geral uma demanda mais modesta. Público Em uma das entrevistas, afirmou-se que a maioria dos leito- res de livros de História não é especializada, e sim de pessoas que têm interesse mais genérico por questões históricas. “Há um grande público interessado por biografias, mas me parece que os romances históricos já não fazem tanto sucesso”, ponde- ra. Outras entrevistas tinham mais ou menos o mesmo conteú- do, de que cada livro tem o seu público. “Mudamos a ordem dos capítulos, Processo de trabalho tornamos trechos Um editor relatou que sua equipe mexe no texto dos autores mais legíveis, de forma integral. “Mudamos a ordem dos capítulos, tornamos cortamos pedaços trechos mais legíveis, cortamos pedaços excessivos, incluímos de- excessivos, talhes que são importantes para o público não especializado”. Ele incluímos também fez questão de deixar claro que submete todas as altera- detalhes que são ções ao autor, quem é realmente o “dono” do texto. Mesmo esta importantes para questão às vezes pode ficar menos nítida quando o próprio livro é o público não resultado de uma pauta, ou encomenda, vinda da editora com mi- especializado”. 39
  • 40. O grande nuciosas especificações quanto à abrangência do conteúdo e sobre obstáculo a forma, mais precisamente a linguagem e organização do texto. para que um A dinâmica me pareceu próxima a de um veículo de notí- pesquisador cias, como um jornal, revista ou mesmo TV, onde os editores especialista fazem pautas precisas e detalhadas sobre como querem que os escreva livros repórteres abordem determinado assunto. Os jornalistas vão a para o público campo, colhem as informações e produzem seu trabalho, que mais amplo é a é posteriormente editado, segundo critérios dos editores. Aqui linguagem. novamente existe uma relação entre livros de História, mesmo os escritos por historiadores profissionais e jornalistas, em seu trabalho em veículos de comunicação. Tanto em um caso como em outro, a autoria não é algo exclusivamente individual, fruto de uma cabeça que sozinha alcança todas as dimensões de um tema. É resultado do trabalho de uma equipe, onde o autor, ou repórter, assina um trabalho feito por inúmeras mãos. Linguagem Quando relatei a um editor a percepção geral que tive a partir do resultado da pesquisa com o público leitor (ver pági- nas 58 a 60), ele concordou 100% comigo. O grande obstácu- lo para que um pesquisador especialista escreva livros para o público mais amplo é a linguagem. “Os historiadores em geral escrevem em sua língua própria, cheia de seus jargões pro- fissionais, e não conseguem alcançar o grande público. E há também alguns que não conseguem porque são incompeten- “O autor ideal tes mesmo, pois há incapazes em todos os setores”, pondera. é o que sabe Disse ainda que já viu inúmeras teses muito bem feitas, muito conciliar a sua bem escritas, mas que são impublicáveis como livros por sua erudição com editora, pois são textos muito restritos, no sentido da especi- a facilidade ficidade do objeto tratado. de expressar claramente Outro editor me disse a mesma coisa. “Estimo que 85% do os principais que a academia escreve é impublicável”. Outros editores con- conceitos cordaram que a questão da linguagem é fundamental para o envolvidos afastamento do historiador profissional do público. Por isso os e expor com jornalistas têm obtido tanto sucesso na área, pois eles escrevem relativa fácil, sabem construir enredos interessantes, conseguem criar brevidade as empatia entre o leitor e os personagens. Normalmente os his- questões”. toriadores estão preocupados com outras questões, como, por 40
  • 41. exemplo, de método, do conhecimento, da verdade e do senti- Alguns do. Os jornalistas escrevem tendo em vista o maior obstáculo consideram que o setor enfrenta, que é o baixo grau de leitura do brasileiro. uma temeridade Além disso, conseguem usar seu faro, seu senso de oportunida- livros de de, para extrair grandes narrativas de eventos históricos. História serem escritos por Mas todos são unânimes em dizer que sempre haverá espaço pessoas não para os textos bem escritos, consistentes e conectados à socie- especializadas. dade. O difícil seria avaliar exatamente o que cada uma dessas palavras quer dizer para cada um, em cada tempo. Segundo um editor, “o autor ideal é o que sabe conciliar a sua erudição com a facilidade de expressar claramente os principais conceitos en- volvidos e expor com relativa brevidade as questões. Sabe o que quer dizer e para quem quer falar. É um equívoco tentar atingir todos os públicos ao mesmo tempo”. Historiadores versus jornalistas Apesar da questão da linguagem, alguns consideram uma temeridade livros de História serem escritos por pessoas não especializadas. “Uma obra de síntese é a conclusão de toda uma vida dedicada à pesquisa”, afirma um editor. Seguindo este raciocínio, mesmo o graduado em História que não seguiu carreira acadêmica convencional teria dificuldade em publicar seu texto. Jornalistas então nem pensar. Esta é uma questão bastante polêmica, pois dois dos autores mais bem vendidos de livros de História em nosso país são jornalistas. E não raro jornalistas se aventuram neste tema. Élio Gáspari, colunista da Folha de S. Paulo, escreveu a quadrilogia “A Ditadura Enver- gonhada”, “Escancarada”, “Encurralada” e “Derrotada”. Estes três autores receberam críticas elogiosas na imprensa inversa- mente proporcionais às da academia. Os historiadores profissionais não reconhecem estes livros A maioria dos como sendo de História, ao mesmo tempo em que o público, professores mesmo o que eventualmente gosta do tema, geralmente nunca universitários ouviu falar dos doutores da academia. Esta é uma questão ainda de História não mais complicada porque a maioria dos professores universitários está interessada de História não está interessada em escrever para o público mais em escrever para amplo. Uma editora, por email, levantou também uma questão o público mais interessante: “Há um enxame de livros de História ruins, porque amplo. 41
  • 42. É mais fácil e os acadêmicos são obrigados a publicar para alimentar o currí- seguro trabalhar culo e com isso conseguir melhores ganhos”. Ou seja, o próprio o texto do “mercado acadêmico” tem uma dinâmica perversa que leva a acadêmico, textos, e eventualmente livros, mal cuidados. no sentido A grande maioria dos editores, com exceção de um, disse de extrair o que não vê problema em publicar textos de não profissionais, tecnicismo, do desde que tenham qualidade. “O que interessa é que o autor que acrescentar seja honesto e eticamente sério, comprometido com a verdade. reflexão e Tem que se dedicar ao trabalho, ser talentoso e para mim tanto análise em um faz qual diploma tem”, pensa um deles. Um apenas foi bastante texto de um não enfático ao dizer que só publica textos produzidos por profis- especialista. sionais do ramo, os historiadores pesquisadores. Ou seja, para ele, é mais fácil e seguro trabalhar o texto do acadêmico, no sentido de extrair o tecnicismo, do que acrescentar reflexão e análise em um texto de um não especialista. Auto-publicação Nesta linha de raciocínio, sobre quem seria mais competen- te para escrever, a auto-publicação se torna um grande risco. O editor profissional tem basicamente duas funções principais: a primeira é de curadoria, ou seja, selecionar material de quali- dade para oferecer para o público, como qualquer comerciante; Um dos a segunda é o seu labor especializado de edição, que transfor- entrevistados ma um texto em um livro, que envolve uma série de profissio- fez um duro nais diferentes, cada um com sua especialidade. Este modelo discurso contra de publicação, mais autoral, só seria viável se os escritores ga- as plataformas nhassem estas expertises, ou as contratassem diretamente. Am- de auto- bas as coisas não são muito viáveis em larga escala, até porque publicação, produzir e vender livros não são coisas fáceis nem mesmo para que seriam experientes profissionais do ramo. “marginais” e “irresponsáveis”. Para alguns editores, a questão da auto-publicação por meios Ele afirmou digitais não muda nada, pois cada vez mais os meios para isso que “milhares estão facilitados. E desde sempre autores que não tinham espaço de títulos são no mercado editorial, ou os que tinham muito sucesso, optam lançados por dia por abrir suas próprias editoras, ou bancar do próprio bolso as sem qualquer edições de seus textos. Os títulos de qualidade, ou mesmo de seleção, controle sucesso econômico, entrarão no mercado editorial e ocuparão o ou trabalho. seu espaço. “Entrarão para o sistema”. O único senão talvez seja 42