O filme "Anticristo" de Lars Von Trier explora o drama de um casal após a morte de seu filho e como a esposa desenvolve crises de ansiedade e depressão. O marido, um terapeuta, leva a esposa para uma cabana isolada na floresta para tratamento, onde a história retrata de forma intensa a fragilidade humana em distinguir realidade e ficção. Embora polêmico por cenas explícitas, o filme é uma obra primorosa que tenta mostrar facetas humanas incômodas que muitos
1. Polêmico mas primoroso, "Anticristo"
expõe incômodas facetas humanas
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Há décadas, a encarnação do capeta num corpinho humano é tema que vem gerando
clássicos do cinema, como "A Profecia" e "O Exorcista", até as obras célebres do Zé do
Caixão. Todavia, é mero engano pensar que, pela similaridade do título, haja qualquer
semelhança entre esta safra de filmes e "Anticristo" (Antichrist, 2009) de Lars Von
Trier, em cartaz nos cinemas desde a sexta (28.08).
A narrativa não parte do nascimento de uma criança demoníaca. Pelo contrário, foca
no drama que se instala entre um casal após a morte acidental de seu filho. Willem
Dafoe interpreta o marido, um terapeuta que utiliza todo seu conhecimento e técnicas
para tentar ajudar a esposa, vivida pela inglesa Charlotte Gainsbourg, que começa a
passar por fortes crises depressivas e de ansiedade. Como parte do "tratamento", os
dois viajam até uma cabana isolada na floresta Éden.
Dividida em alguns capítulos entre o prólogo e epílogo (muito belos, diga-se de
passagem), a história escrita por Von Trier é uma representação despudorada e
intensa sobre a frágil capacidade do ser humano de discernir a realidade da ficção e a
emoção da racionalidade. Para aproximar o espectador deste conflito, mescla-se uma
ópera suave com zunidos perturbadores, ao passo que imagens distorcidas,
desfocadas e muita neblina proporcionam um clima sombrio, provocando sensação de
perda de referência.
Em Cannes, Charlotte Gainsbourg levou o prêmio de melhor atriz, enquanto o filme e
Lars Von Trier foram execrados pela maioria, que considerou desnecessárias algumas
cenas explícitas de sexo e violência _classificando-o como anti-religioso, misógino,
2. anti-psicologia, sensacionalista... O fato é que, além de não ser anti nada, "Anticristo"
é uma primorosa obra de vários gêneros, apenas tentando mostrar que quem nega a
necessidade de expor estas facetas do ser humano, nega sua própria humanidade.
04.09.2009
PAULA SONCELA, COLABORAÇÃO PARA O SITE EP