1. Onírico, confuso e muito bom, "Sinédoque,
Nova York" provoca várias reflexões
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Provavelmente, a maioria das pessoas já se identificou com alguma das histórias
maluquetes de Charlie Kaufman _roteirista de "Quero Ser John Malkovich" e "Brilho
Eterno de uma Mente Sem Lembranças". Exibido no Festival do Rio e na Mostra de SP,
"Sinédoque, Nova York" (Synecdoche, New York, EUA, 2008) é a mais nova película
escrita e, pela primeira vez, dirigida por Kaufman, que chega ao circuito comercial na
sexta (17.04).
Sem perder a originalidade e a essência surrealista, desta vez o autor/ diretor conta a
história de Caden Cotard (Philip Seymour Hoffman), um egocêntrico dramaturgo que
tem a vida dividida entre o sucesso profissional e uma crise familiar. Quando sua
mulher Adele (Catherine Keener) e a filha Olive (a fofinha Sadie Goldstein) o
abandonam, Caden mergulha num novo projeto megalomaníaco: criar um espetáculo
sobre sua vida e pessoas a sua volta, em que atores interpretam a própria criação da
peça, todos são protagonistas dentro de um imenso galpão num cenário que recria NY.
Quando é iniciada a montagem da peça, os personagens começam a confundir-se
entre si, a cronologia dos fatos vai pro espaço e temos uma massaroca de atores
atuando e sendo interpretados, simultaneamente. Por mais que pareça confuso _e
realmente é_, a abstração de Kaufman faz certo sentido quando entendemos que
aquela é uma leitura de Caden sobre o mundo que criou nos palcos transposto para a
realidade da sua vida.
Num dado momento, o protagonista (do filme) se dá conta do quão personagens/
atores de nós mesmos podemos ser, sempre interpretando papéis que se encaixem
2. num determinado padrão social, mesmo que estas máscaras suprimam sentimentos
genuínos intrínsecos ao nosso próprio ser. E, ao tentar expor seu lado evitado e
inexplorado, Caden passa a só conseguir tomar atitudes comandadas por um "diretor"
que o oriente com segurança.
Dos antigos parceiros, retornam o diretor Spike Jonze carimbando a produção, e Jon
Brion com sua trilha estilo mickeymousing. Contudo, apesar de "Sinédoque" estar
muito mais para o onírico do que para o lógico, muuuito mais do que nos filmes
anteriores do autor, mais uma vez Charlie Kaufman utilizou suas próprias inquietações
e suscetibilidade para ilustrar a missão do ser humano: complicar ao máximo as coisas
mais simples da vida. 09.04.2009
PAULA SONCELA, COLABORAÇÃO PARA O SITE EP