1. "À Deriva" mostra a vida como ela
é em poesia cinematográfica
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Aportar em Cannes é uma tarefa que exige trabalho, dedicação, dinheiro e
competência _já que dos milhares de filmes inscritos e assistidos pelo comitê de
seleção, menos de cem produções, entre curtas e longas, são de fato exibidos nas
diversas mostras competitivas ou não. No entanto, alcançar o devido reconhecimento
e prestígio do festival francês: não tem preço.
E pode-se muito bem dizer que foi o que aconteceu com "À Deriva", do diretor-
roteirista Heitor Dhalia (de "Nina" e "O Cheiro do Ralo), produzido pela O2 Filmes em
parceria com a Focus Features Internacional. O filme integrou a mostra Un Certain
Regard do último Festival de Cannes, sendo ovacionado pela platéia por vários minutos
em sua noite de exibição, e finalmente chega ao circuito nacional nesta sexta (31.07).
Na trama semi-autobiográfica de Dhalia, Filipa (Laura Neiva) tem 14 anos e passa férias
em Búzios com os pais e os dois irmãos mais novos. Tá tudo muito bom, tudo muito
bem, quando ela flagra o pai Mathias (Vincent Cassel) com outra (Camilla Belle),
enquanto sua mãe Clarice (Debora Bloch, ótima no papel) se relaciona com o whisky.
Filipa, que tem o pai como modelo, vê ruírem suas concepções sobre pessoas,
relacionamentos e sexualidade, e tenta reunir os fragmentos que restaram para
construir uma nova visão de mundo _a princípio, baseada mais no ceticismo que na
confiança.
É uma história trivial que se transforma em algo muito maior e peculiar não só pelo
fato da estreante Laura Neiva (recrutada via Orkut e MSN) viver Filipa com
naturalidade, mas também pelo tom nostálgico do filme emergido do figurino de
2. Herchcovitch e da bela fotografia de Ricardo Della Rosa (em especial a cena de Filipa
correndo em direção à praia à noite). Tudo acompanhado pela majestosa trilha de
Antonio Pinto (quem assistiu a "Central do Brasil" reconhece na hora) e alguns hits
70's. A vida como ela é em poesia cinematográfica. 28.07.2009
PAULA SONCELA, COLABORAÇÃO PARA O SITE EP