Este documento analisa o filme "Amigos Improváveis" sob uma perspectiva sociológica, destacando como a amizade entre dois homens de categorias sociais diferentes contraria estereótipos e preconceitos da sociedade. A relação de Philippe, um homem rico tetraplégico, e Driss, um jovem pobre com um histórico complicado, transforma as identidades de ambos através de aculturação mútua e redefinição de valores.
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Amigos
Improváveis
Análise Sociológica
Fábio Melo – 10160259
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Análise Sociológica do Filme “Amigos Improváveis”
O filme Amigos Improváveis, aquando da sua saída para as salas de cinema foi
rapidamente considerado um sucesso de bilheteira, tendo vindo a tornar-se num
popular filme francês. Uma obra cinematográfica escrita e realizada por Olivier
Nakache e Éric Toledano, com uma banda sonora fantástica de Ludovico Einaudi,
que mais uma vez fez jus a todo o mérito que lhe é reconhecido.
Esta história retrata precisamente aquilo que o seu título em português indica:
uma relação de amizade improvável entre Philippe (François Cluzet), um homem
tetraplégico e rico, e Driss (Omar Sy) um jovem adulto pobre, com um historial
complicado e um comportamento desviante (são consideradas desviantes todas
as ações e maneiras de ser que são mal vistas e sancionadas pela maioria dos
membros de um grupo social. Por vezes os indivíduos oferecem resistência às
imposições sociais e às formas de controlo social, assumindo condutas que não
estão em conformidade com as normas e valores dominantes. Surgem, então,
situações de desvio social ou comportamentos desviantes) .
Através de uma análise mais complexa e atenta deste filme é possível inferir
algumas elações que transpõem o simples entretenimento proveniente de um
drama/comédia em que dois desconhecidos constroem uma relação de amizade. É
clara a riqueza de conteúdos abordados pela área da Sociologia (estudo científico
das relações sociais, das formas de associação, destacando-se os caracteres gerais
comuns a todas as classes de fenómenos sociais, fenómenos que se produzem nas
relações de grupos entre seres humanos) neste filme. Este documento visa, então,
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levar a cabo uma análise do mesmo, tendo em conta alguns conceitos das Ciências
Sociais e Humanas.
O filme tem início com uma analepse, em que podemos ver Philippe e Driss
dentro do carro de Phillipe, a alta velocidade, acabando por ser abordados pela
polícia. Após se conseguirem esquivar do problema com a polícia, fazendo uso da
condição fisica de Phillipe para esse fim, o filme mostra-nos o início da história: a
forma como estes dois indivíduos se conhecem. Numa sala estão vários indivíduos
à espera para serem entrevistados, para que um deles possa ocupar o cargo de
cuidador/terapeuta/acompanhante de Philippe, entre esses indivíduos encontra-se
Driss, que impacientemente irrompe por uma sala dentro, sala essa onde se
encontra Phillipe e a sua secretária. Phillipe insere-se numa categoria social
(Categoria Social consiste num agrupamento de indivíduos que possuem uma ou
mais caraterísticas em comum, não sendo necessário que se conheçam ou
estabeleçam algum tipo de relação entre si) alta, a nível monetário. É possível inferir
isto, através da casa em que vive, pelo número de pessoas que nela trabalham e
porque o prórpio refere que é “um tetraplégico rico”. Phillipe procura contratar
alguém que possa ser seu cuidador, suprindo as suas necessidades basilares
(cuidados pessoais, por exemplo) bem como as suas necessidades enquanto ser
gregário. Driss, de um modo displicente, afirma que o seu interesse não é ocupar o
cargo, mas sim obter uma assinatura para que lhe possa ser atribuído mais uma vez
um rendimento fornecido pelo Estado. No entanto, Phillipe faz com que Driss ocupe
o cargo e a partir desse momento surge a mensagem subversiva deste filme: o
modo como duas pessoas de Categorias e Classes Sociais (Classe Social é um
conjunto de indivíduos que se relacionam e agem de maneira similar quando
sujeitos a condições semelhantes) diferentes se relacionam sem atender a qualquer
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tipo de estereótipo (Estereótipos são generalizações ou pressupostos, que as
pessoas fazem sobre as características ou comportamentos de grupos sociais
específicos ou de indivíduos) de forma pejorativa, contrariando comportamentos
preconceituosos (noção que se faz previamente para com um ou mais indivíduos,
em função de determinadas caraterísticas que os identificam em relação aos
demais. O preconceito resulta da criação de um conjunto de estereótipos de
natureza étnica ou racial que fomentam atitudes de desprezo ou xenofobia) e
discriminatórios (discriminação originalmente significava a capacidade de fazer
distinção entre coisas, no entanto e inerente a isso, agora é tida como a base de
todas as formas de exclusão. É identificada como uma forma utilizada por indivíduos
ou grupos pertencentes a uma raça, cor, sexo, língua, religião, origem (nacional ou
social) ou defensores de opiniões políticas diferentes, para excluir indivíduos em
que estas são diferentes) tão intrínsecos na nossa sociedade, criando uma relação
marcada por entreajuda e por um claro mutualismo. Relação essa entre duas
pessoas de culturas (conjunto complexo que compreende os conhecimentos, as
crenças, a arte, o direito, a moral, os costumes e todas as outras aptidões e hábitos
que o Homem, enquanto membro de uma sociedade, adquire. A cultura tem, assim,
um domínio muito vasto, por abranger praticamente todas as atividades realizadas
pelo Homem) diferentes, com crenças (forma comum e aprendida da vida,
partilhada pelos membros da mesma sociedade, constando na totalidade de
instrumentos, técnicas, instituições, atitudes, crenças, motivações e sistemas de
valores que o grupo conhece e preconiza) e hábitos (forma de conduta individual,
mecanizada ou automatizada pelo indivíduo) diferentes e sem que surja uma atitude
segregatória (segregação é uma política destinada a separar e isolar certos
indivíduos ou grupos sociais ou étnicos do convívio com a parcela dominate
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dominante da sociedade. A segregação racial é uma forma extrema de preconceito
racial. Consiste em separar do contacto com a etnia dominante os indivíduos da
etnia considerada inferior) entre os dois. Há uma grande diferença na atitude
(atitude é relativamente estável e duradoura, predispondo o indivíduo a reagir
preferencialmente em relação a um objeto ou situação, tendo sempre uma
dimensão avaliativa, onde intervêm componentes cognitivos, comportamentais e
afetivos) de ambos no início e no final da sua relação, sendo até possível afirmar-se
que a identidade (o que se é, a essência do ser, aquilo que permanece. O que
assegura a continuidade do indivíduo, do grupo ou da própria sociedade, através de
um percurso existencial de permanente mudança, de rutura, de crise, de adaptação,
de reinvenção e até de sobreposição de identidades) de ambos foi alterada não só
por meio de uma suave aculturação (adoção total ou parcial de uma cultura
estrangeira. Resulta do contacto direto e contínuo de duas culturas diferentes.
Significa o convívio de um indivíduo ou de um grupo com um sistema cultural
diverso do seu sistema de orige, o que vai implicar a modificação do seu modelo
cultural de base. As pessoas assimilam a outra cultura, regra geral
sobrevalorizando-a em relação à sua cultura primeira. Manifesta-se a nível pessoal,
operando-se em mudanças em que o indivíduo adota estratégias diversificadas para
se adaptar) mas também através da redefinição de alguns valores (os valores
podem surgir com um estatuto fundamental na explicação da estabilidade e
coerência das sociedades ou das mudanças sociais, ou podem surgir como
“fenómenos-reflexo das (infra-)estruturas da sociedade. Qualquer que seja o
estatuto sociológico atribuído aos valores, eles estão presentes em qualquer
análise, seja como variáveis intermédios, de ligação, de outras variáveis. De um
modo genérico, pode-se imputar aos valores o contributo fundamental para o
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consenso, a solidariedade e a integração social, dando coerência ao conjunto de
regras ou modelos culturais, bem como para a unidade psíquica das pessoas. O
valor tem um sentido social, ele subentende as relações que se instauram entre as
pessoas e é construtivo da identidade).
Em jeito de conclusão, este filme dá-nos uma visão intensa sobre algo raro: duas
pessoas de categorias e classes sociais completamente diferentes, com cores de
pele diferentes, de culturas diferentes e com interesses diferentes estabelecem uma
forte relação que ultrapassa a relação terapêutica: uma relação de amizade,
caraterizada por um enorme mutualismo, de forma desinteressada e pura, levando a
que reflitamos seriamente sobre o quão improvável isto é, devido a tantos dogmas
intrinsecamente instituídos na nossa sociedade. A criação de filmes como este vem,
de certo modo, permitir que as “correntes” às quais estamos, muitas vezes
inconscientemente, agrilhoados e que nos prendem a cânones arcaicos, que não
fazem jus à nossa capacidade racional, se vão quebrando! É, então, importante
salientar a utilidade desta análise, na medida em que dá um enfâse a temas e
questões que são basilares nas relações entre seres humanos e que tantas vezes
são negligenciadas.
Referências Bibliográficas
- Maia, R. L. (2002). Dicionário de Sociologia. Porto: Porto Editora
- Amigos Improváveis. Realização: Olivier Nakache & Éric Toledano. Produção:
Nicolas Duval-Adassovsky, Laurent Zeitoun & Yann Zenou. França, 2011, 1 DVD