Guia do movimento ESTA VAGA NÃO É SUA NEM POR UM MINUTO, campanha de defesa aos direitos da pessoas com deficiência.
Nesse guia, você vai compreender o fato por trás da criação da campanha, a estratégia e a tática para todo seu desenvolvimento e as possibilidade de colaborar com a ampliação da campanha.
2. INTRODUÇÃO
No Brasil, em 2010, aproximadamente 46 milhões de brasileiros tinham algum tipo de deficiência mental e/ou
física, o que correspondia a 23,9% da população1. Com o passar dos anos várias conquistas foram se
concretizando por meio de leis que estabelecem direitos para esse grupo de pessoas, como a lei2 que reserva 2%
de vagas de estacionamentos públicos e privados para veículos que transportem pessoas com deficiência,
mediante apresentação de uma credencial emitida pelo município em que se vive.
As vagas reservadas possuem características que facilitam a mobilidade da pessoa com deficiência, como um
espaço nas laterais do carro de 1,5 metros e proximidade às entradas e rampas de acesso. Embora seja uma lei,
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Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2010.
Conforme a Lei Federal de 10.098, de 19 de dezembro de 2000, Art. 7°, em todas as áreas de estacionamento de veículos, localizadas em vias ou em
espaços públicos, deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para veículos que transportem
pessoas portadoras de deficiência com dificuldade de locomoção. Parágrafo único: as vagas a que se refere o caput deste artigo deverão ser em número
equivalente a dois por cento do total, garantida, no mínimo, uma vaga, devidamente sinalizada e com as especificações técnicas de desenho e traçado de
acordo com as normas técnicas vigentes.
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3. há muito desrespeito por parte das pessoas que não possuem deficiência e ocupam essas vagas, com desculpa de
urgência ou que não as ocuparão por muito tempo.
A agência TheGetz, após um fato marcante de desrespeito aos direitos das pessoas com deficiência,
vivenciado pela empresária tetraplégica Mirella Prosdócimo, atual secretária da pessoa com deficiência do governo
de Curitiba, sensibilizou-se com o acontecido e criou uma campanha com o objetivo de mobilizar as pessoas quanto
ao respeito às vagas de estacionamento reservadas para pessoas com deficiência.
A campanha, amplamente divulgada nas redes sociais, ganhou muitos adeptos e defensores, conquistando
prêmios nacionais de publicidade pela sua característica criativa e inovadora de tratar de um problema social e se
transformou em plano de governo, chamado Viver sem Limites.
4. O FATO
Em meados de março de 2011, Mirella Prosdócimo estava no estacionamento de um supermercado com
duas ajudantes, quando uma mulher estacionou seu carro em uma vaga para pessoas com deficiência. A
empresária observou a situação e quis alertar a motorista para o equívoco cometido, mas foi ignorada pela
motorista que entrou no supermercado. Ao voltar, Mirella ainda estava no estacionamento com suas auxiliares. Ela
chegou a fazer uma nova observação para a motorista que, dessa vez, ofendeu-se, agredindo-a verbalmente e, por
pouco, fisicamente. Foi preciso que suas assistentes apartassem a motorista, evitando uma situação ainda pior.
Mirella acionou a administração do supermercado, mas o estabelecimento não se posicionou, nem quanto à
cliente que estacionou indevidamente, nem sobre o incidente de quase violência no seu estacionamento, justificando
que não poderiam perder nenhuma das duas clientes. A empresária também acionou a ex Diretoria de Trânsito de
Curitiba (ex DIRETRAN, atual SETRAN), mas representantes do órgão só apareceram uma hora depois de todo o
5. incidente, não podendo tomar nenhuma providência naquele momento.
A situação foi o tipping point3 para a criação da campanha pelo respeito às vagas para pessoas com
deficiência, chamada Esta Vaga Não é Sua Nem Por um Minuto, cujo nome é uma expressão já antes utilizada nas
redes sociais.
A causa acolhida pela agência TheGetz (o respeito à sinalização para pessoas com deficiência) não foi
escolhida a partir de um estudo, como teoricamente se espera, mas sim pela identificação de um problema social
por meio de um acontecimento pontual. Surge, então, o início do desenvolvimento do que seria uma campanha de
marketing social para a mobilização.
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Tipping point pode ser traduzido como o ponto a partir da qual um sistema se torna irreversível e no qual as mudanças ocorrem num ritmo sempre mais
acelerado. O termo tipping point é difundido por Malcon Gladwel, colunista do jornal New Yorker e autor de Fora de série (Outliers), Blink: a decisão num
piscar de olhos e O ponto da virada (The tipping point): como pequenas coisas podem fazer uma grande diferença.
6. OBJETIVO DA CAMPANHA
O objetivo da campanha era de conscientizar o maior número de pessoas quanto às especificidades de uma
vaga especial e a necessidade de respeitá-la, além de informar que existe uma lei que defende as PcD quanto à
utilização exclusiva dessas vagas. Esperava-se com isso, sensibilizar as pessoas, fazendo com que não só a lei,
mas as PcD fossem respeitadas.
A campanha tomou novos rumos, pois o público vê o movimento como um defensor dos direitos das pessoas
mais vulneráveis, com isso, a campanha irá ser ampliada não só pela defesa aos direitos das pessoas com
deficiência, mas pelo respeito em geral, tanto aos idosos quantos por qualquer um que possa ser diferente do
produto imagético criado pela sociedade como “pessoa normal”.
7. ESTRATÉGIA E TÁTICA
Para que a campanha tivesse realmente o alcance esperado, era necessário desenvolver nas pessoas o
sentimento não só de apoio, mas principalmente de defensores da causa, oferecer conhecimento e desenvolver
ferramentas que possibilitassem transformá-las em fiscalizadoras e denunciadoras.
A campanha não dispunha de verba para ser realizada, por isso, a utilização das ferramentas digitais como
mídias e redes sociais foram determinantes para a sua viabilização. Por meio delas, os materiais da campanha e as
informações quanto à causa eram disponibilizados.
O primeiro material a ser desenvolvido foi a Fanpage no Facebook e um avatar com o mote: “Esta vaga não é
sua nem por um minuto”. Por meio desse ambiente, as pessoas podiam realizar denúncias e comentários, gerando
grupos de discussões em que o principal objetivo era definir ações para que essa realidade fosse alterada,
conquistando adeptos e novos mobilizadores. Por meio do Twibbon, as pessoas podiam personalizar seus avatares
8. e mostrar aderências à causa, em todas as mídias sociais.
Cumprindo a necessidade de trazer a mobilização para o âmbito real, uma característica que, conforme vimos,
é obrigatória para a concretização da mobilização social, ainda muito difícil de acontecer em campanhas que
surgem do meio digital, foram criados dois adesivos para carro como forma de manifestação de apoio, com as
frases: “Esta vaga não é sua nem por minuto” e “Eu respeito”, ao lado do símbolo internacional de PcD.
9. A partir dessas, outras peças foram desenvolvidas e disponibilizadas
na Fanpage. Como a campanha não obtinha verba para produção dos
materiais, a intenção era que pessoas e empresas tivessem acesso e
os reproduzissem de forma independente, sem necessidade de
autorização da agência. Foram criados: estampa para camiseta,
e-mail marketing, flyer, banner, cartazes de apoio e, com
destaque especial, uma peça chamada: “Multa moral”. Essa “multa”,
fictícia e simbólica, tinha como principal diferencial proporcionar
às pessoas o papel de “fiscalizadoras” do bom comportamento,
cobrando e denunciando comportamentos inadequados.
10. A campanha tinha a necessidade de ser amplamente divulgada, para que, assim, a parcela do público
sensibilizado tivesse uma representação significativa na sociedade, a ponto de participar da causa e defendê-la. Por
isso, foi realizada uma intervenção urbana que resultou na produção de um filme na tentativa de “viralizar”4 a causa
na internet. O impacto do vídeo foi tão grande que chegou a ser exibido em canais de TV aberta e fechada.
O filme traz para a população uma noção clara do transtorno e do desconforto sofrido pelos cadeirantes com
o desrespeito. Cadeiras de rodas foram colocadas em vagas comuns, num estacionamento privado, com a
mensagem: “Volto em 1 minuto!”. As pessoas que procuravam por uma vaga ficaram revoltadas em não conseguir
estacionar por terem a vaga ocupada pela cadeira de rodas. A linguagem irônica utilizada no vídeo amenizou a
seriedade do tema, porém não deixou de ser relevante, trazendo o assunto polêmico de uma forma agradável,
contribuindo assim para sua disseminação.
Entre todos os apoios recebidos, o destaque especial é para o pronunciamento da então senadora Gleisi
Hoffman, da Casa Civil, relatando o fato acontecido com Mirella Prosdócimo e defendendo os direitos das PcD,
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Viralizar vem do termo viral, que significa epidemia. É uma expressão utilizada quando conteúdos postados na internet são intensamente compartilhados na
web.
11. dando para a campanha mais credibilidade e visibilidade.
A fim de disponibilizar canais de contato diferenciados, criou-se um perfil no Twitter, um blog e um e-mail de
contato. Todas essas ferramentas são utilizadas para divulgação constante de materiais e notícias sobre o assunto.
12. VIVER SEM LIMITES
Por mais que existam leis que defendam o direito de acessibilidade das PcD, o descumprimento a elas é um
fato, portanto havia a necessidade de cobrar das políticas públicas um posicionamento quanto à efetivação da
punição imposta por lei. Sendo assim, um grupo de PcD que eram referência no assunto criou um diagnóstico de
acessibilidade da cidade de Curitiba, que foi entregue em mãos à atual ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann.
O diagnóstico serviu como base para a implementação de um plano de governo chamado Viver sem Limites,
lançado pela presidente Dilma Roussef no dia 17 de novembro de 2011, no qual representantes da agência foram
chamados para estar presente na solenidade, momento auge das conquistas realizadas pela campanha.
Não houve uma parceria com qualquer ONG, instituição privada ou pública para o desenvolvimento da
campanha. Embora tivesse apoio da Secretaria da Pessoa com Deficiência de Curitiba, a TheGetz não contou com
13. qualquer investimento externo para o desenvolvimento da campanha e produção das peças de divulgação.
A campanha cresceu rapidamente, pois havia diversos agentes de mudança. Eram pessoas com deficiência,
pessoas familiarizadas com as dificuldades enfrentadas por PcD e também empresas privadas que cultivavam o
respeito à lei em seus estabelecimentos, fiscalizando a utilização das vagas de estacionamento pelos seus clientes,
ou seja, existiam pessoas unidas que representavam os interesses de uma parcela da sociedade, o que entende-se
como comunidade.
Os adotantes, a quem se esperava convencer, são as pessoas que não possuem ou não tenham conhecidos
com deficiência. Eram dessas pessoas que se esperava a mudança de comportamento. Além de uma lei, não
estacionar na vaga para deficientes é uma demonstração de respeito ao próximo.
14. RESULTADOS
A peça ganhou o país e o mundo a partir da publicação em importantes veículos de comunicação e redes
sociais, o que rendeu contatos e até replicação da intervenção no Brasil em países como Estados Unidos, México e
Polônia. O vídeo da campanha foi visto mais de 2 milhões de vezes, em perfis oficiais e não oficiais e compartilhado
em mais de 100 mil perfis no Facebook. Com um investimento de R$1.219,00, utilizados para produzir alguns
adesivos, flyers e no filme, a campanha gerou mais de R$10.000.000 em mídia espontânea.
A campanha foi lançada de forma independente em alguns estados do Brasil, cita-se Paraná, Santa Catarina e
Acre, com apoio de órgãos do governo e da sociedade civil, gerando uma repercussão ainda maior.
Matérias sobre a iniciativa, até hoje, são pauta de programas e reportagens em TVs, rádios, revistas, jornais e
blogs diversos.
A campanha também teve muita visibilidade no mundo da propaganda:
15. • Recebeu bronze no Festival Mundial de Publicidade de Gramado 2011, na categoria Cinema e Vídeo.
• Venceu o Yahoo Big Idea Chair Solidariedade 2011, um dos mais esperados e respeitados prêmios do
mercado nacional de comunicação.
• Conquistou duas medalhas de ouro no Prêmio Colunistas Paraná 2011.
• Foi campanha do ano no Prêmio Colunistas Paraná 2011.
16. FAÇA A SUA PARTE
FACEBOOK.COM/ESTAVAGANAOESUA: Curta. Frequentemente a rede é alimentada com informações da campanha,
blogs que falaram sobre a campanha, como a campanha está na mídia, flagras de pessoas que estacionam em
vagas especiais, notícias sobre acessiblidade, etc.
TWITTER.COM/ESTAVAGANAOESUA: Siga. É só seguir a página no twitter e retwittar as mensagem.
TWIBBOM - http://twb.ly/dXAcPc: Mostra seu apoio publicamente. Twibbom é um selo da campanha que você coloca
na sua foto de perfil, no Facebook ou Twitter.
17. ESTAVAGANAOESUA.WORDPRESS.COM: Quer aprofundar o que viu no Facebook ou no Twitter? Quer deixar
comentários? Quer ver tudo que está acontecendo de uma só vez? Entre no blog da campanha!
RESPEITO: Você curtiu tudo, seguiu e retwittou, mas quando precisou ir no banco e viu aquela vaga vazia,
azulzinha..pensou..."é só um minutinho". Mas aí você lembrou que aquela vaga não é sua. Nem por um minuto. É aí
que começamos ver que a campanha está funcionando. Você até teve vontade, mas hesitou!
ATITUDE: Você viu alguém estacionando na vaga para pessoas com deficiência ou idosos? Primeiro se certifique
que a pessoa não está usando qualquer espécie de apoio, não tenha dificuldade de locomoção ou que não esteja
acompanhando uma pessoa que se encaixe no perfil. Também observe se ela está com a credencial que permite
que o carro estacione ali (se a pessoa não tiver a credencial mas tiver o perfil, diga a ela que ela deve obter a
credencial o quanto antes, se não, ela leva multa também). Não se encaixa no perfil? Então dá-lhe um puxão de
orelha, chama a atenção, com educação. Chama o órgão de trânsito, ou mesmo quem estiver fiscalizando o
18. estacionamento no momento. Aplica uma multa moral e dá de presente um adesivo do movimento, caso você tenha
em mãos! Claro, sempre com educação e coerência.
INICIATIVA: Ter iniciativa para falar com sua empresa, com algum contato com influência, com veículos da sua
cidade para pedir apoio a campanha. Ver o absurdo que é essa situação e chamar a atenção de outros para o
problema. Chamar a atenção dos órgãos públicos que estão assistindo e aplaudindo, mas que nem pagaram
ingresso para ver o espetáculo.
Conhece alguma gráfica que pode patrocinar a produção dos materiais? Chama ela para apoiar o movimento.
PARA EMPRESAS: FISCALIZAÇÃO; E-MAIL MARKETING PARA CONTATOS; PRODUÇÃO DO MATERIAL GRÁFICO;
CONSCIENTIZAÇÃO DOS FUNCIONÁRIOS; APOIO PÚBLICO À CAMPANHA.
19. MOMENTO ATUAL
Durante todos esse anos em que a campanha esteve no ar, nunca houve qualquer tipo de investimento
financeiro alem do inicial realizado pela agência TheGetz para o lançamento da campanha. Todo o trabalho
realizado, tanto no desenvolvimento de conteúdo para as redes sociais e blog, é feito voluntariamente. Porém,
mesmo contando com voluntários, o movimento, que não é uma pessoas jurídica, viu-se com uma demanda difícil
de ser cumprida de solicitações de materiais para diversos locais do pais.
Para desenvolvermos um trabalho mais freqüente e com mais impacto, é preciso um pouco de investimento
financeiro, pequeno, mas que será manejado com eficiência.
Portanto, está sendo desenvolvida uma loja virtual para a venda do download dos arquivos de toda a
campanha. Assim, todo o material pode ser baixado por qualquer pessoa, por um valor simbólico que irá colaborar
para manutenção e desenvolvimento do movimento.