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Considerações do Autor

          o começar a escrever este livro, deparei-me com al-



A
           gumas barreiras preconceituosas aos meus escritos
           que considerava inadmissíveis, não me permitindo
            ir adiante. Porém, com minha persistência, conti-
            nuei. Mesmo com o pensamento inexato, sentia
grande necessidade de ir em frente, pois com a sensibilidade
que passei a adquirir notei que não era só ficção o que eu
estava passando para o papel. Alguma coisa ou alguém do
plano metafísico me conduzia por meio da inspiração.
    Após alguns depoimentos de amigos e com as devidas
provas, como relatórios médicos em formato de documen-
tos de onde ficou internado o jovem acidentado, cujo nome
do personagem, este sim é fictício assim como os demais
personagens desta narrativa, continuei a escrever.
    O jovem acidentado será citado como Juarez, que teve
uma cura verdadeira por meio de fenômenos de aparição e
materialização de espíritos luminosos, fenômenos esses na-
turais, simples e verdadeiros, no entanto, complicados para
os leigos, que confundem esses abnegados trabalhadores com
espíritos demoníacos ou almas perdidas.
    Procurei ser o mais coerente possível e gostaria de agra-
decer aos filhos da União Espírita Ogum da Lua e Cabocla
Iara, pois foi pelo amor e dedicação desses irmãos que de-
senvolvi meus escritos, por meio de psicografias enviadas
pelos irmãos espirituais. Mas deixo um adendo. Como disse
um pensador: “Muito tenho para aprender e pouco para
ensinar”.


                                                           7
Com Deus e por Deus

        Deus, em sua infinita sabedoria, bondade e total
amor pela Criação, nos permite ter contato com o mundo
transcendental, onde habitam os nossos entes queridos. Mas
para que isso seja possível, necessário se faz estar com o
nosso pensamento claro e livre do orgulho, do egoísmo,
da vaidade, da ganância etc., para que nossa aura não tenha
nenhuma nódoa, assim, os nossos contatos além de ser to-
talmente agradáveis, também serão terapêuticos.
        O que não podemos é dar margem a pensamentos
obsoletos, pois sua negatividade enganará até mesmo o nos-
so subconsciente, e aí então, em nossos sonhos, pode nos
fazer vítimas de nós mesmos.
        Nesse contato que fazemos com o mundo espiri-
tual, passamos não somente por sintonias em camadas su-
periores, como também por camadas inferiores, às vezes
com sortilégios tristes e sintomas ruins que se refletem em
nós, adquiridos pela captação de energias negativas – so-
fredoras, vingativas e outras.
        Por esse motivo, com Deus e o amor de Deus é que
temos como via de fato o nosso porto seguro, e a virtude de
transformar energias ruins em fontes de luz que, se bem
conduzidas, podem até ser transmitidas aos que necessitam.
        Se pensarmos no milagre da multiplicação dos pães,
poderemos vê-lo todos os dias: na agricultura, nos mares,
nos rios e na vegetação. Esse é o milagre que dificilmente
nós enxergamos, e que acontece nas 24 horas do dia.
Todos os dias.


8
Então, necessário se faz que não odiemos as cama-
das inferiores, popularmente ditas demoníacas, pois elas
também são parte da Criação do Pai. Por conseguinte, são
eles nossos irmãos. É de nossa missão resgatá-los para Deus,
pois a palavra expressa pelos lábios Divinos diz que não
quer jamais um filho para o caminho da desonra.
         É necessário que não tenhamos ódio no coração,
mas muito amor, fé, caridade, solidariedade e confiança
no Criador. É necessário que aprendamos a não só a pedir,
pedir, pedir, mas a agradecer o que Deus nos dá em abun-
dância: o oxigênio, as frutas, as águas, os grãos, as vegeta-
ções, as ervas medicinais e muito mais. Este é o verdadeiro
milagre da multiplicação que esperamos.
                   O milagre da multiplicação não se expres-
sa somente na abundância de frutas, das águas, do oxigê-
nio, dos grãos, da vegetação, dos peixes, dos pães, das er-
vas medicinais e outros, para a nossa satisfação e cura ma-
terial. O milagre da multiplicação se faz complementando
a tudo isso com o acréscimo do amor, para que sejam mul-
tiplicados os alimentos do corpo e da alma com orações e
atos da fé, com a grandeza e a arte da caridade e com a
sutileza da esperança, que se transformam em perdão e
AMOR – magnífico é o Amor que se resume puramente
em Deus. Seguramente, nesse caminho seremos felizes, pois
nos faz progredir no mundo físico e espiritual.
         Nós, deste planeta, vivemos em um plano de expia-
ção e precisamos nos conduzir, porque somos sim, parci-
almente limitados. E é justamente por esse motivo que
estamos sujeitos à arrogância e à ignorância. Temos o nos-
so livre-arbítrio para nos conduzir, mas temos as leis de

                                                           9
Causa e Efeito constituídas no Universo.
        Portanto, ao partirmos para o Plano Espiritual, lá
sim, estaremos em nosso verdadeiro lar. E voltamos para
lá com o que conseguimos conquistar. Certamente, leva-
mos o que é nosso de direito, deixando na Terra o que é da
Terra (exemplo: os bens materiais). Levamos o que apren-
demos ou o que de bom praticamos, com fé e solidarieda-
de, para ganharmos amor, o amor de Deus, mas também
levamos o que de ruim praticamos: a desonra, o egoísmo,
a calúnia, a ganância e a nossa ausência, quando se fazia tão
necessário a nossa presença.
        O Plano Espiritual é um de nossos lares. Certamen-
te que, ao regressarmos para ele, seremos glorificados com
as boas atitudes ou sofreremos o peso de nossas matulas.
Os resultados para nele viver dependerão exclusivamente
de nossas conquistas e dos nossos direitos. Então, no Pla-
no Espiritual, somos conduzidos para as moradas que her-
damos de fato e de acordo com o nosso psíquico. E para
que a nossa herança seja farta, é necessário que façamos um
bom investimento na Terra!

                                Um forte abraço e boa leitura.
                                             Nevas do Amaral




10
Início da Saga
         Dona Antônia e seu marido trabalhavam muito para
manter João Eduardo em uma boa escola particular, dando-
lhe tudo o que desejava: brinquedos, roupas caras e outras
variedades, sempre do bom e do melhor. De momento e
hora, faziam-lhe suas vontades, era só pedir.
         João, criado com muito mimo, era o caçula da famí-
lia, a “raspa do tacho”, como se diz popularmente. Após
alguns anos, o menino, já transformado em homem, cursa a
universidade “São Francisco”, para logo começar a traba-
lhar em um escritório de partido político, onde prontamen-
te se destaca como um excelente líder, conquistando uma
promoção e um elevado salário. Mas não é por aí que as
coisas ficam: João, por meio de elogios, se sente extrema-
mente seguro em suas ambições, tornando-as ilimitadas.
         Seus pais, abarcados pela ambição do filho, reme-
tem-no à segurança da recompensa pela criação de uma
criança traquina, inteligente e encantadora. Foram nesses
requisitos que João se formou em sua intelectualidade. E
por tudo isso, compensou seus pais, porque o conforto
financeiro que João Eduardo lhes proporcionou, fora fan-
tástico. “Valeu a pena”, diziam o senhor Arnaldo e sua es-
posa dona Antônia.
         E João Eduardo, que a cada instante desejava ainda
mais provar a todos a sua imensa capacidade, até se exce-
dia em seus desejos. A ganância o inquietava e isso não lhe
fazia bem, porque perdia a solidariedade de ceder a ou-
trem a oportunidade de conquistar a felicidade, assim como
ele , no tocante à parte financeira. João Eduardo só conse-
guia ver abastanças e volumosas fortunas.
         Soam os sinos das eras. Aquele jovem, já próximo
aos 28 anos, um dia se apaixona por uma mulher de pele

                                                         11
morena, olhos castanhos, muito sensual e de traços troianos.
20 anos apenas: Ternamente linda. O que de mais interes-
sante havia era justamente a ascendência dessa mulher e tam-
bém a sua forma física. Seu nome era Izabel e, por coinci-
dência ou destino, havia um parentesco entre ambos que
nem eles, nem os de suas famílias sabiam. A única coisa que
sabiam é que conviveram juntos durante a infância, moran-
do no mesmo bairro e na mesma rua e o destino lhes colo-
cou frente a frente novamente, em sua fase adulta.
        Izabel, uma mulher extremamente culta, apesar da
pouca idade, era fluente nos idiomas inglês, alemão e fran-
cês, que lhe caíam perfeitamente com os trejeitos do cor-
po, do coração e da alma. Uma mulher com quem João se
encantou e se casou, tendo com ela dois filhos: Junior e
Gabriela.
        Falemos um pouco neste parágrafo sobre as difi-
culdades encontradas para que fosse realizada essa união
conjugal. Na verdade, para que fosse executado esse ma-
trimônio, houve alguns transtornos quanto aos pais de
Izabel, cuja educação lhe remetiam aos princípios matri-
moniais de uma criação, muito rigorosa no contexto religi-
oso, e que rejeita a ganância financeira. Porém, por mais
uma vez o amor levou à deriva os preconceitos ou excesso
de cuidados. E isso não bastou. Izabel havia se prometido
a Lúcio, uma pessoa possessiva em seu modo de ser. Um
homem cuja paixão tresloucada, ínfima, mesquinha e im-
perativa, deixa excedido e encarcerado seu coração pela
obsessão sentida por Izabel. Lúcio era homem tão posses-
sivo quanto a sua própria loucura; um homem egoísta em
seus desejos pessoais, amargo e irresoluto em relação à pró-
pria vida. Para ele, Izabel serviria só e simplesmente para a
sua continuidade, fatal continuidade... Seria um objeto em
suas mãos.
12
Lúcio, não conformado pela perda de Izabel, nada
mais poderia fazer do que caluniá-la, difamá-la e
desmoralizá-la com todo o ódio que sentia. Pensando e
agindo dessa forma, faria dessa maneira o resgate de seu
brio e sua acrimoniosa desforra.
        Seus apelos chegaram ao mais baixo caminho. Além
dos requisitos negativos predeterminados por ele, havia
também práticas anônimas e demoníacas. Um homem sem
recato nem honradez, que se fazia valer de missas, cultos
evangélicos e até de feitiçarias, pois o que queria era lo-
grar-se de um objetivo único, que era ver João Eduardo e
Izabel arrastados num recife de lodo, pobres e loucos.
        Bem, como o amor sempre vence, as dificuldades
foram imensas para realizar-se o tão polêmico matrimô-
nio, porém aconteceu, pois era inevitável, pelo amor que
sempre vence.
       No entanto, Lúcio prometera a si que mesmo indo
para o inferno, haveria de ver João e Izabel separados. Suas
visitas a lugares onde ficava sabendo que poderia recon-
quistar Izabel eram frequentes, não importando qual a reli-
gião ou rituais que pudesse trazê-la de volta para satisfazer
seu ego. Com isso ele cada vez mais decaía no conceito
espiritual, dando vazão a espíritos de baixíssima frequência,
energias estas captadas em lugares onde se praticam magia
negra. Além do mais, suas orgias eram constantes: bebidas,
tabagismo, drogas e amigos que estavam sempre na mes-
ma sintonia. Com isso se formava um elo entre o mundo
físico e as baixas camadas do mundo espiritual, onde a
morada desses espíritos era em camadas obscuras, e lá que
eram planejadas as desordens em laboratórios plasmados,
tudo com a finalidade de prejudicar tanto espíritos perdi-
dos em busca de um caminho, como também seres encar-
nados. Em uma dessas orgias, Lúcio fora assaltado por

                                                          13
quatro bandidos; uma armação de seus falsos amigos. Mas
Lúcio reagiu ao assalto e a fatalidade foi inevitável. Ele veio
a falecer e em seguida foi resgatado pelos espíritos das
trevas. Por ser ele muito inteligente, rapidamente aprendeu
a se comunicar de forma telepática, e seu objetivo era a
destruição do casal: João e Izabel.

              João Eduardo é perseguido por Lúcio
         João tinha como objetivo dar conforto para sua espo-
sa e filhos, pois tinha em seu íntimo o mesmo intuito de seus
pais: dar tudo do bom e do melhor para sua família. Além do
mais, seu ego era alimentado por todos que o cercavam, fa-
miliares e seus superiores do trabalho: o partido político. João
queria mais e mais, não importando a que custo. Com isso
começou uma cadeia de egoísmo incalculável, aceitando subor-
no pela troca de favores, facilitando assim a vida de amigos e
parentes com bons empregos, excelentes salários e total esta-
bilidade. Por serem empregos públicos, em repartições as quais
ele tinha livre acesso, passou a ser um homem notável em seu
poder.
         E ainda tinha Osmar, o presidente do partido em suas
mãos. João sabia de tudo o que se passava no movimento
partidário, de todas as sujeiras. Passou então a tomar atitudes
irrelevantes, adversas à conduta de um bom cidadão e pai de
família.
         João era solicitado pelo partido para viagens e mais
viagens, e seu lar passou a ser os aviões e os carros, e em cada
uma das viagens suas finanças aumentavam ainda mais, ge-
rando mais entusiasmo, ou melhor, cada vez mais se dispu-
nha a servir ao seu partido.
         Em uma dessas viagens conheceu Lídia, mulher de
belo porte físico e muito sensual, mas problemática e de ca-

14
ráter dúbio. Ela vivia com crises neuróticas, portanto, estava
vulnerável a energias ruins. Então, Lúcio aproveita essa aber-
tura ou oportunidade para usá-la como trampolim em suas
ações sórdidas contra João. E João, induzido pelos espíritos
que acompanhavam Lúcio, enxergava em Lídia uma mulher
mais interessante. Por ser extremamente sensual e a mais lin-
da que já conhecera, estava deslumbrado por ela, que se mos-
trava ou se insinuava, mostrando estar sempre disposta a sa-
tisfazer as vontades eróticas de seu parceiro. As visitas de
João a Lídia eram constantes e ela o seduzia para as orgias.
Logo se tornaram amantes, e com as juras de amor ele mentia
prometendo a ela que logo estaria divorciado e livre de sua
esposa, dizendo que o divórcio estava para sair e aí sim, os
dois estariam totalmente livres. Aquela dama estava deslum-
brada; além de ele ser um homem viril, ainda lhe dava vários
presentes, como carro, apartamento, jóias, vestidos e festas,
na alta sociedade e nos meios políticos.
         Sua esposa começou a perceber que algo estava erra-
do e passou a indagar. Com isso, Lúcio sentia que sua vingan-
ça estava próxima. Mas João sabia se sair de situações piores
como, por exemplo, quando era sabatinado por seus adversá-
rios e convencer Izabel, uma simples dona de casa, seria fácil,
pensava João.
         Izabel já não era mais a mesma. Suas amigas invejo-
sas, querendo ver “o circo pegar fogo”, diziam: – Izabel, mi-
nha querida, abra os seus olhos. Você parece que está cega!
O João está sendo desonesto com você. Ele é um canalha,
está na cara que ele tem outra. Cuidado... Cuide do seu
homem, boba!
         João já não era mais o mesmo, não era o homem cari-
nhoso de outrora com sua esposa. Não participava da educa-
ção de seus filhos, Junior e a pequena Gabriela, e estava cada
vez mais afastado de sua ainda jovem esposa. Ela se sentia

                                                            15
sozinha e sucessivamente angustiada. Começou então a ter
sintomas de depressão. Perdera o interesse em se arrumar e
tudo ia mal com ela.
         Entre os colegas de João havia Alberto, um homem
de meia idade que era realmente um bom amigo, sempre de-
voto a Deus, bem conceituado em seu modo de vida, tanto
familiar quanto profissional. Era um funcionário que traba-
lhava no partido, mas era terceirizado, e tentava passar para
João Eduardo suas experiências no campo amoroso e famili-
ar, dando-lhe bons conselhos.
         Izabel, desmotivada com o comportamento munda-
no do marido, deixa os cuidados do lar e a educação dos fi-
lhos sob os auspícios de suas duas empregadas, para com al-
gumas de suas atuais amigas, satisfazer-se em festas, afogan-
do assim os seus sentimentos em taças de bebida.
         João, alertado por seu bom amigo, que lhe aconselha-
va e implorava a Deus por ele e sua família, começou a per-
ceber que estava perdendo algo muito precioso: sua esposa e
seus filhos.
       E Izabel, sem perceber, estava dando vazão a espíritos
de planos inferiores: era Lúcio sob o comando daquela le-
gião, que aproveitava sua vulnerabilidade para sugar suas
energias.
         João, pensando no que dissera seu amigo Alberto em
relação à sua família, tomou uma decisão. Deixou de compa-
recer a alguns encontros marcados com Lídia e aos poucos
foi se afastando daquela dama. Sua amante lhe cobrava por
essas faltas, dizendo a ele que deveria ser mais presente e que
ela não aceitava ficar sozinha nos finais de semana, pois era
jovem ainda e tinha de aproveitar o seu tempo. João estava
entre a cruz e a espada, e seu amigo tentava de alguma forma
fazer com que ele entendesse que sua família era tudo o que
importava em sua vida, enfatizando os clamores a Deus em

16
prol de João e sua família e argumentando que a melhor
mulher do mundo literalmente é a nossa esposa, pois ela está
sempre potente para qualquer situação, em momentos bons
ou ruins. Uma amante só é interessante nos bons momentos,
pois ela não está presente e é impotente nas horas amargas,
isto, logicamente, com raras exceções.
As amigas de Izabel lhe aconselhavam a ir em frente dizendo:
– Larga de ser boba, não dá moleza. Vai passear, a noite é
uma criança. Vamos sair e conhecer pessoas interessantes. Se
ele lhe trai, você deve pagar na mesma moeda.
         A quantidade de bebida que Izabel estava ingerindo
era cada vez maior, sendo quase que diariamente. Nas suas
saídas, as duas falsas amigas lhes diziam: – Você, Izabel, é
realmente muito bonita! Olha como você esta sendo notada,
veja como aquele rapaz não tira os olhos de você. Não perca
tempo sua boba, aquele rapaz é lindo, é um gato.
         Izabel respondia: – Não, literalmente não. Eu tenho
um marido. Não vou pagar na mesma moeda, pois isso não é
de minha índole.
         Quando João percebeu que sua esposa estava para se
transformar em uma alcoólatra, tomou uma atitude definiti-
va. Separou-se de Lídia, que totalmente segura, achava que
João estava por ela realmente apaixonado. Mas na realidade,
nem ela e nem João sabiam do amor verdadeiro que ele tinha
pela sua esposa e pelos filhos.
         Lídia, por meio de dívidas exageradamente feitas para
manter o seu alto padrão de vida, começa a vender os presen-
tes que ganhou de seu amante João. Inconformada com a si-
tuação, passa a persegui-lo, ligando diariamente para o seu
trabalho. E ele, por sua vez, não quis mais atender às suas
ligações. Desesperada, Lídia passa a ligar para a casa de João,
e não sabendo mais como agir, com arrogância conta tudo a
Izabel, expondo-lhe a sua vida íntima com João e até as

                                                            17
aberrações que cometia com ele na parte sexual e o drama de
sua atual situação, exigindo dele que assumisse suas dívidas
porque ela não era descartável. Disse-lhe também dos presen-
tes ganhos, de seu status na sociedade e que num instante
perdera tudo.
         Izabel, com seus apelos a Deus, pedia forças para
suportar todos aqueles dissabores. E João, sem saber, recebia
por via telepática as vibrações de Lúcio, então com muito
ódio, e pensou em várias formas para se ver livre de Lídia.
Mas Alberto intercedeu, dando-lhe conselhos e pedindo-lhe
que se acalmasse para não tomar decisões precipitadas.
         Izabel queria divorciar-se a qualquer custo, mas no
fundo sabia que mesmo com todos os problemas, João era o
seu porto seguro. Ela ainda o amava e, afinal de contas, ele
era o pai de seus filhos. Izabel dizia isso entre lágrimas, mas a
depressão, as amigas e as energias negativas de espíritos de
baixa freqüência e aproveitadores invadiram seu lar, come-
çando uma desordenada vibração e causando uma grande dis-
córdia. Esses espíritos, conhecidos como vampiros, se apro-
veitavam da desarmonia do lar para se satisfazer com as
vibrações de sadismo, ódio, traição e vícios em excesso.
         O casal de filhos de João era bem educado, apesar do
caminho errado que o pai deles seguira. Com o lar se desfa-
zendo, os filhos perdiam o entusiasmo pelos estudos. Não
eram mais aquelas crianças dóceis e tornaram-se rebeldes por
causa da ausência dos pais, que se transformaram com o uso
do álcool em excesso e das palavras grotescas que brotavam
dos lábios de ambos.
         A mãe daqueles meninos, Izabel, além de alcoólatra
estava tristemente para se transformar em uma pessoa gros-
seira e amarga. Ela já não era mais a mãe dedicada e carinho-
sa, e os maus espíritos se deliciavam com aquela situação,
pois as energias ruins deles emanavam, se proliferavam com

18
a presença de mais companheiros para preencher com
desordens o lar daquela família. Lídia, já sem propósito de
vida, fazia constante visitas a Izabel. Suas palavras pesadas
agrediam até a alma de Izabel, que também tomada por ener-
gias inferiores, fazia-se enlevar quase que totalmente. Mal
intencionada em suas palavras, Lídia tentava convencer Izabel
a se separar de João Eduardo, pois ele era um cafajeste, mas
mesmo assim, era o grande amor de sua vida. Izabel afirmava
que tudo o que tinha, havia conquistado pelo amor que João
Eduardo sentia por ela.
       Naquele instante, ela ofegava diante das más energias
que recebia de Lídia. O que Izabel fez foi apelar para o nosso
tão esquecido Pai, o nosso amado Deus, que naquele momen-
to de angústia e desespero fora lembrado. Com esse apelo, fo-
ram emanadas sintonias de paz, que certamente absorveram
os murmúrios de Lídia.
         No âmago daquele pedido a Deus, Izabel começa a
atrair para si minúsculas gotículas de energias supremas e fa-
voráveis a ela. Uma luz se acendera à sua volta. Ali se aproxi-
maram novamente grandes e magníficos Anjos da
espiritualidade, Espíritos Guardiões, que sem palavras e sem
que ambas percebessem a presença deles, fizeram com que
aquelas energias ruins começassem a se dissipar. Lídia, não
se sentindo bem, se afasta incomodada, dizendo a Izabel que
em outro dia se falariam.
         João, desolado com o que estava se passando, tinha
uma preocupação quase única - seus filhos. Alberto, seu ami-
go, insistia para que seus olhos se abrissem quanto a Lídia, o
grande obstáculo que atrapalhava a sua felicidade. Os filhos
se afastavam dele; sua esposa, terna mulher, fragilmente pos-
suída por más companhias quando ingeria bebidas alcoóli-
cas, e com o ódio que sentia pelo que estava se passando em
suas vidas, dava vazão aos espíritos aproveitadores. João

                                                            19
percebia também que sua vida profissional estava ameaçada
pelos acontecimentos atuais. Seus superiores já não o viam mais
como o supremo intelecto e excelente profissional de primeira
linha. Enfim, tudo na vida de João Eduardo transformara-se
em um jogo de difícil resolução. Um jogo injusto, no qual o
poder se encontrava totalmente nas mãos do inimigo.
        De tudo, o que ainda lhe segurava era o seu trabalho,
pois diante de seus superiores uma cumplicidade os mantinha
unidos: os “segredos profissionais”. Profissionalmente, João
conhecia por demais os pontos podres, as chantagens, os cri-
mes de colarinho branco etc. Se contasse aos adversários aqueles
segredos, seria o partido totalmente desmascarado pelos
oposicionistas.
        Osmar, o líder do partido, pensou, pensou e pediu a
opinião dos demais. Cada um lhe passava um conceito.
Haroldo, o vice-líder e conselheiro, braço direito de Osmar,
disse:
        – Haveremos de dar um jeito em João Eduardo e em
sua família, e isto será muito fácil.
        – Você é louco, Haroldo? – responde Osmar. Não há
necessidade de chegarmos a esse ponto, isso somente em úl-
tima hipótese. João não é nada bobo e deve ter um excelente
Seguro de Vida. Se algo lhe acontecer, vamos ser sabatinados
por autoridades e por nossos adversários. Haverá uma inves-
tigação minuciosa da seguradora, por isso, nem pensar nessa
hipótese. Devemos ter muita calma, Haroldo, pois existem
outros meios. Nós temos excelentes advogados e o nosso
departamento de marketing poderá montar boas estratégias.
Afinal, João Eduardo não é louco, e certamente não nos de-
nunciará. Não se esqueça de um detalhe, meu amigo: o di-
nheiro compra tudo, e se há algo de que João gosta, é de di-
nheiro, assim como nós. Fique tranquilo e deixe comigo, está
bem?

20
Após Osmar argumentar e colocar aos demais os seus
planos, todos se reuniram para chegar a um consenso, que foi
oferecer a João uma boa aposentadoria, mas ameaçando se
ele abrisse a boca, dizendo que ele poderia até sofrer um
enfarte fulminante.
        E João, em pensamento, ao perceber que entre eles
havia muita astúcia, agiu de um modo que lhe era peculiar.
Pediu-lhes, antes de qualquer proposta, uma reunião. Com
isso João estava se prevenindo para não correr riscos com a
sua segurança.
        Imediatamente após lhe ser permitida a reunião, to-
dos nela compareceram para, atentos, ouvirem as suas pro-
postas. Na mesa onde estava reunidos, João Eduardo inicia o
seu discurso usando o termo “ironia”, pois era disso que eles
gostavam, e isso os excitava. E João Eduardo começa a ex-
por seus argumentos.
        – Meus amigos e correligionários, vocês não imagi-
nam o quanto eu amo o meu trabalho, e esta casa é tudo o
que eu tenho, e o que sou, devo a vocês. Tanto aos meus
antecessores, como também aos que chegaram após mim. Esta
casa e todos vocês, muito me ensinaram. Por isso, sou grato a
cada um de vocês e jamais usarei de ingratidão, pois sei mui-
to bem reconhecer o que de bom fizeram por mim, todos
vocês. Hoje tenho uma família saudável e meus pais estão
bem amparados financeiramente. Enfatizo: Tudo o que te-
nho, devo a vocês. Porém, cometi uma falha, e somente eu
posso e devo corrigi-la. Enlevei-me, por algum tempo, pela
beleza de uma mulher, e dela fiz minha amante. Hoje, essa
mesma mulher tenta destruir o meu lar e age também em
meu trabalho e, após tantas sequelas, agora sei como evitá-la
para que não me ocorra mais catástrofes. Para preservar mi-
nha família e principalmente este movimento (partido políti-
co), ouvi Alberto, nosso companheiro que presta serviços para

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esta boa casa. Digo boa casa pelas pessoas competentes que
aqui estão à minha volta, e se estas pessoas são competentes,
imaginem nossos líderes, que são nossos dirigentes, princi-
palmente a pessoa de nosso presidente Osmar e nosso vice
Haroldo, pessoas estas que elevo em meus pensamentos pela
grandeza de seus conceitos, caráter elevado e serviços pres-
tados à nossa sociedade. Estes dois homens são os pais deste
partido, e também excelentes pais de família. Gostaria de ci-
tar também o quanto eles são grandes, tanto como pais deste
partido, quanto com a preocupação que ambos têm com sua
dignidade e a de seus companheiros de trabalho, e também a
lealdade com os adversários. Estes meus comentários são só
uma pequena gota do que são verdadeiramente estes nobres
senhores. Mas agora, quero voltar ao que me disse o nosso
amigo Alberto, que me abriu os olhos em relação àquela mu-
lher com quem me envolvi. Bem, diante deste impasse e com
muita tristeza no coração, tenho que tomar uma decisão coe-
rente, que é a seguinte: Para que eu não venha atrapalhar o
bom andamento desta conceituada casa, estou pedindo meu
desligamento, sem nenhum prejuízo para nosso querido mo-
vimento partidário. Mas pediria a compreensão dos senhores,
pois não quero me desligar totalmente.
         – E o que você pretende? – Retruca Haroldo. Você Já
tem emprego em outro partido?
         – Bem, se eu renunciar do meu cargo de diretor exe-
cutivo e tesoureiro, tudo aqui fica mais tranquilo. Mas se eu
ficar, posso, com os meus problemas, atrapalhar o bom anda-
mento desta casa. Fico torcendo para que tudo ande bem por
aqui, portanto, vou abrir um escritório e dar assessoria finan-
ceira ao partido. Prometo-lhes que jamais pertencerei a qual-
quer outro partido, e se vocês me permitirem, poderei no fu-
turo, quando lhes convier, assessorá-los com consultoria, pois
é neste campo que desempenho bem o meu trabalho, assim

22
como também a outras empresas privadas de outros segmen-
tos. Gostaria de repetir, em alto e bom som: Prometo não
prestar serviço a qualquer outro partido político, pois o meu
coração ficará nesta casa.
         – E o que você precisa para montar seu escritório?
– Pergunta Osmar, o presidente do movimento.
         – Bem, Tenho uma boa conta bancária e não pretendo
incomodá-los, – responde João, já sabendo o que Osmar tinha
a lhe dizer.
         Osmar contesta. – E se você tiver uma ajuda do nosso
caixa?
         Essa pergunta foi feita por Osmar com a intenção de
suborná-lo ou comprar sua consciência. João, percebendo a
manobra, sentiu-se aliviado, pois sabia que o seu silêncio es-
tava sendo comprado. Menos mal, pois dessa maneira o risco
de vida seria menor. Melhor assim do que tê-los como
inimigos declarados.
         João Eduardo pensa consigo mesmo: – A partir de
agora vou tentar consertar as coisas. Não quero mais traba-
lhar de maneira tão desonesta, pretendo me reconciliar com
minha família. Mas neste momento vou seguir aquele velho
conselho, ou melhor, aquele velho ditado: “Se não pode com
eles, junte-se a eles”. Essa é a única saída que vejo neste
exato momento. E João, fingindo estar pensado na proposta
de Osmar, faz uma pausa e depois diz:
         – Pois assim será. Aceito a vossa proposta, meu presi-
dente, e podem contar com minha fidelidade e total discrição.
       – Com total ironia, João continua. – Pois bem, sei que a
discrição é nossa maior segurança para a nossa dignidade física.
– Disse essas palavras para mostrar aos seus líderes que sabia
o risco que corria se abrisse a boca em relação aos podres de
seu partido.
         João Eduardo queria consertar os erros, porém, os atos

                                                             23
cometidos desde sua juventude, nos quais colocava o dinhei-
ro como prioridade em sua vida, fez com que sempre estives-
se vulnerável às vibrações negativas. Após montar seu escri-
tório, passa por grandes dificuldades para conquistar sua cli-
entela, mas, mesmo assim, sua vida profissional começa a
dar algum sinal de melhora e também a sua vida familiar. Izabel,
no entanto, continuava bebendo quase que diariamente, e
andava a cada dia mais deprimida.

           Lídia encontra João em um restaurante
        Lídia, após tomar conhecimento do afastamento de
João de seu partido, se desespera, pois sabia claramente por-
que isso aconteceu. O que Lídia também sabia era que João
Eduardo tinha uma conta bancária altíssima, e vendo que
todo o apelo feito para reconquistá-lo não dera certo, começa
a pensar em novas investidas. Tenta de todas as formas
chantageá-lo, até que, num belo dia, por acaso encontra João
entrando em um dos restaurantes que os dois costumeiramente
frequentavam quando estavam juntos.
        – Olá meu caro, como está? Tudo bem? – Pergunta
Lídia, com um sorriso sarcástico.
        – Tudo bem – Responde João Eduardo receoso, pois
nesse instante preocupou-se com os seus acompanhantes, que
eram futuros clientes. Quando João vira-lhe as costas, Lídia o
aborda.
        – Se você não me der atenção farei um grande escân-
dalo aqui mesmo meu caro, na presença de seus amigos. Você
não pode me descartar dessa forma.
        – Por favor, não me faça passar por esse vexame –
responde João, preocupado com o que ela poderia fazer. –
Dessa forma você só vai piorar a situação, pois essas pessoas
são homens de negócios. Estou fechando bons contratos com

24
eles e você pode acabar comigo. Tenha calma, vamos
conversar.
        – Está bem. – Responde Lídia.
        – Só que agora não é possível – lhe diz João Eduardo,
– marcaremos um encontro.
        – Nem pensar, meu caro. Você acha que sou boba de
perder esta oportunidade?
        – Bem, então façamos o seguinte: aqui está o número
do telefone do restaurante. Daqui a alguns minutos você me
liga. Pensarei numa desculpa para dar aos meus clientes.
        – Está bem, mas não tente me enganar, pois poderá
lhe custar muito caro.
        João conseguiu sair-se bem, como sempre. Afinal, ele
era muito astuto. Cinco minutos depois, o telefone do restau-
rante toca e o garçom chama João, dizendo-lhe que era sua
esposa afirmando urgência. Depois de atender ao telefone,
João Eduardo volta aos seus clientes desculpando-se, pois
sua esposa não se encontrava bem e precisaria transferir a
reunião para o dia seguinte. Logo depois, João Eduardo e
Lídia se encontram como ele havia prometido. Ironicamente,
Lídia diz:
        – João, que saudade! Você é o único homem de minha
vida, eu te amo!
        Mas ele, não acreditando e procurando um meio para
sair daquela situação, mostrando a Lídia um ar de decepção,
lhe pergunta:
        – Será?
        – O que você quer dizer com isso? Ou melhor, o que
você sabe? – Responde Lídia.
        – Não adianta você negar, você me traiu e sei muito
bem com quem, sei de tudo.
        – Foi por isso que você deixou o seu emprego no partido?
        – O que você acha?

                                                             25
– Mas foi só uma aventura, meu amor. Contigo é dife-
rente, porque você é um homem de verdade. Viril, inteligente,
bonito...
        – E com eles foi tudo um fracasso, um grande fracasso,
não é?
        João percebe que Lídia teve relações íntimas com al-
guém de seu antigo trabalho e, jogando a sua esperteza, ele
diz o nome do líder.
        – Osmar é muito oportunista, minha cara.
        – Osmar lhe contou algo?
        – Olha Lídia, vamos acabar com esta palhaçada. Está
tudo acabado, siga com a sua vida.
        – João, eu sai só uma vez com Osmar.
        – E com os demais?
        – Bem, com Haroldo foi quase à força, ele me
chantageou.
        – E como ele chantageou você? Vamos fazer o se-
guinte, Lídia. Siga a sua vida e não tente me perseguir. Eu
não tenho mais nada com você.
        – João, isso não vai ficar assim, você não perde por
esperar. Você usou e abusou de mim e agora quer me jogar
fora, como se eu fosse descartável?

        Alguns dias após o encontro com Lídia, Alberto en-
contra João e, com alegria pelo reencontro, os dois vão come-
morar em um almoço no restaurante que sempre frequenta-
ram. Durante o almoço, João argumenta que não quer mais
nada com Lídia, mas confessa sentir que algo o empurra para
ela, e que por algumas vezes fora procurá-la.
        Alberto lhe diz que ele deveria ser forte e não procurá-
la, pois diante das chantagens de Lídia, as coisas só iriam
piorar para João e sua família.
        Após os conselhos dado a João, Alberto, ao chegar à

26
sua casa, continua com suas suplicas a Deus em prol do ami-
go, enfraquecendo assim as energias ruins de Lúcio e seus
comparsas do mundo espiritual, vindas dos umbrais onde se
situam os maus espíritos.

                           Lídia encontra uma amiga
        – Lídia! Como você está, minha amiga? Há quanto
tempo não nos vemos! Como vai, tudo bem? – pergunta Anita.
        – O que você acha, Anita?
        – Pensando bem, me parece que você está com
problemas.
        – Problemas? Pode por problema nisso, minha cara.
        – Mas na última vez em que nos falamos você me
parecia tão bem. Estava alegre, até achei você um pouco
metida. Você estava com um caso, se não me engano ele se
chama João Eduardo, e agora você me parece tão impotente.
        – E você, como está? – pergunta Lídia.
        – Comigo está quase tudo bem. No amor estou mal,
mas vou superar essa dificuldade, você verá.
        – Por que tem tanta certeza assim Anita?
        – Bem, o Marcos me trocou por outra mulher, e eu fui
orientada a procurar um Pai de Santo que faz trabalhos para
o amor, trazendo o namorado de volta. Estou trabalhando
para isso, porque o meu objetivo é tê-lo de volta.
        – Anita, me dê o endereço desse feiticeiro, pois o meu
maior problema é esse. Você se lembra bem de João
Eduardo, não é?
        – Lógico que me lembro! Um gato. Como poderia
esquecê-lo? E ele, como está?
        – Pois é menina, ele também me largou, deu-me as
costas. Demitiu-me de sua vida e eu o quero de volta, custe o
que custar.

                                                           27
– Por falar em custe o que custar, vou logo lhe avisan-
do que não são baratos os trabalhos do tal feiticeiro, minha
cara.
       – Para que existem cheques?
       – Só que tem que ter fundo, minha cara Lídia.
       – Vamos logo. Dê-me esse endereço que estou ansiosa.
Lá eu darei um jeito, deixe comigo.

                                  Lídia e o Pai de Santo
         Lídia bate palmas para chamar alguém. Quando apa-
rece o tal Pai de Santo, ela diz:
         – Bom dia! Gostaria de falar com o Pai Gildo.
         – Aqui não se diz bom dia, e sim boa noite, minha
senhora. Mas vai falando o que deseja.
         – Eu quero falar com Pai Gildo.
         – Sobre o quê?
         – Quero fazer uma consulta. É o Senhor?
         – Sim, sou eu. Mas pode me chamar de Pai Quiumba.
Entre que eu vou lhe atender. Sente-se e espere, porque eu
tenho mais gente para consultar.
         O lugar onde Lídia estava era ameaçador e com
muitos trabalhos espalhados pelo chão. Ali, tudo parecia ter
mau cheiro. Era assombroso! O tal pai Gildo era esquisito e
misterioso, ou melhor, totalmente desconfiado, com um olhar
sinistro.
         Após Lídia esperar por duas horas, o tal Pai Gildo cha-
mou-a para uma pequena sala, cuja porta era uma cortina em pés-
simo estado, suja e mal cheirosa. Ali se inicia uma variedade de
perguntas. Queria o tal Pai Gildo saber quem a tinha mandado e o
que ela fazia em sua vida. Sua profissão etc. Após várias
perguntas, ele afirma:
         – Você veio aqui por causa de um homem, não é verdade?

28
– Sim, é verdade. O senhor acertou em cheio.
         No desespero em que Lídia se encontrava, ela não
percebera a artimanha que tinha sido usada pelo mal espírita
para mostrar-lhe que profetizava.
         – Eu estou sofrendo muito por causa desse homem.
         – Mas você é tão apaixonada por ele a ponto de vir
aqui, pedir que eu o traga de volta?
         – Entenda do jeito que o senhor quiser, eu o quero de
qualquer jeito. Farei o possível e o impossível para tê-lo de
volta. Lúcio estava próximo de Lídia para que ela não
desistisse de suas investidas.
         – Olhe, minha senhora, não é muito barato! Quanto a
senhora pode gastar para que eu o traga de volta, com um
trabalho feito em amarração?
         – Bem, eu vou deixar um cheque em branco com o
senhor, e aí o senhor vê em quanto fica, está bem?
         – Dona Lídia, não trabalhamos com cheques, tem que
ser dinheiro vivo.
         – Bem, em dinheiro eu só tenho no momento o da
consulta.
         – E como você quer um homem? Pensa que é assim?
Paga logo a minha consulta e volta quando tiver o dinheiro,
dona.
         Lídia não tinha escrúpulos. De caráter dúbio, porém
não tão esperta quanto pensava, achando que poderia tapear
o feiticeiro com cheque sem fundo. Nesse momento, Lúcio
entra em total sintonia telepática com Lídia e faz com que ela
responda ao tal “Pai Quiumba”.
         – O senhor fique tranqüilo, que volto ainda hoje com
o dinheiro. Darei um jeito. Até mais tarde.
         – Eu sei que você irá dar um jeito, pois quando vocês
querem um homem, não medem as consequências. Em pen-
samento, Pai Gildo diz: “Essas mulheres ficam até sem

                                                           29
comer para arrumar dinheiro e ter o seu homem de volta. E
quem se dá bem sou eu!”.

         Lídia dá o golpe para conseguir dinheiro
         Lídia apela para alguns amigos sem sucesso, pois seu
crédito estava cortado em todos os lugares. Pensando em
como fazer para conseguir o dinheiro, tenta vender alguma
coisa que lhe restava, porém, não consegue. Vai para casa
desesperada e sente uma dor horrível nos rins. Há dias passa-
dos já vinha tendo algumas crises, talvez pelo desenfrear de
sua agitação. Mas mesmo com dores, a sua prioridade era fa-
zer talvez até o impossível para reconquistar João. Lúcio vi-
brava para Lídia reatar com João Eduardo.
         Lídia Pensou, pensou e então se lembrou que tinha
uma folha de cheque em um velho talão da antiga conta de
João, que ele esquecera em sua casa. João Eduardo era bem
conceituado financeiramente e Lídia não teve dúvidas. Pre-
encheu uma folha de cheque, colocou uma assinatura seme-
lhante à dele, pois ela tinha algumas notas de compras com A
assinatura de João, e foi procurar Alberto, amigo de João, in-
ventando uma história, ou melhor, dando-lhe uma desculpa,
dizendo que João havia lhe dado aquele cheque.
         Alberto, encurralado, mesmo sabendo que Lídia esta-
va mentindo achou melhor trocar o tal cheque e ficar livre
das ameaças que ela estava fazendo. Lídia disse a Alberto
que mostraria o cheque à esposa de João, pois precisava da-
quele dinheiro para cuidar de sua saúde, quando na verdade,
ela o queria era para fazer o tal trabalho com o inescrupuloso
feiticeiro.




30
Lídia, de volta ao Pai Gildo
         Já era quase meia-noite quando Lídia chega ao seu
destino. Bate palmas e logo é recebida pelo auxiliar do Pai de
Santo, que logo foi dizendo que ele estava ocupado e não
poderia atendê-la naquele instante.
         Diga ao Pai que arrumei dois mil reais. Pergunte-lhe
se esse dinheiro é o suficiente.
         O homem, já de volta, através do velho portão de
madeira, quase caindo, convidou-a para entrar dizendo-lhe:
         – Dona Lídia, sente-se que vou lhe servir um café. O
Pai Gildo não tardará a lhe atender.
         Em seguida, entra na sala Pai Gildo, sorrindo-lhe e
beijando-lhe a testa, dizendo:
         – Vamos conseguir trazer o seu homem, você verá!
         – Mas por que o senhor fala com tanta firmeza?
         Pai Gildo era raposa velha, como diz o ditado, e se
saindo bem, ele responde:
         – Porque você provou-me que é uma mulher forte,
uma guerreira que não desiste nunca. Então, vamos iniciar os
trabalhos?
         O feiticeiro pediu a Lídia que escrevesse o nome dos
dois, dela e João Eduardo, pedindo-lhe também algum objeto
pertencente ao rapaz. Ela entregou-lhe algumas fotos e os
endereços de ambos. Logo em seguida, tomado por energias,
o inescrupuloso “Pai de Santo” pronunciava palavras de bai-
xo calão, de espíritos atrasados e revoltados, que de alguma
forma se tornam obedientes ao que o feiticeiro lhe mandava
fazer. Esses espíritos, equivocadamente são confundidos com
Exus, que na verdade são espíritos ou energias que traba-
lham em uma linha intermediária, que divide o bem do mal.
São espíritos voluntários e em elevação, que aceitam missões
difíceis, assim como algumas profissões no plano terrestre.

                                                           31
Eles se sujeitam até mesmo a ser escarnecidos, taxados como
diabo ou satanás, não somente por outros credos, como também
por espíritas mal informados.
         Os que aceitam presentes para fazer o mal são conhe-
cidos como quiumbas por grandes mestres e bons pesquisa-
dores da verdadeira teologia do conhecimento espiritual pós-
vida (quiumba é uma palavra de origem africana que significa
espírito das trevas).
         O tal Pai, logo após o iniciar dos trabalhos, passa a dar
um atendimento “vip” a Lídia para tirar-lhe mais dinheiro, fa-
zendo dela sua vítima. Assim que sai do transe, pergunta à
moça:
         – Lídia, você sentiu boas vibrações, minha amiga?
         – Pai Gildo, será que ele volta?
         – Eu lhe prometi que o prazo para ele voltar é de sete
a vinte e um dias. Agora, é só uma questão de tempo.
         As dores de Lídia aumentaram e ela pediu ajuda a
         “Pai Gildo”.
         – O senhor pode me dar um passe para aliviar as dores
que tenho nos rins?
         – Minha cara, aqui nós só trabalhamos com magia ne-
gra, e o seu caso pertence à Medicina. Vá procurar um médico,
nós não tratamos de pessoas materialmente enfermas.
         A casa do tal feiticeiro ficava num bairro da periferia.
Um lugar muito perigoso, pois ali havia uma comercialização
descontrolada de drogas. Naquele lugar, estava outra vítima
de “Pai Gildo”, um consulente que se sente honrado em
oferecer a Lídia uma carona, porque para sair daquele lugar a
pé, seria um tanto arriscado.
         Dali Lídia segue, levada por essa pessoa, a um hospi-
tal, pois realmente não se sentia bem de saúde. Agradece ao
homem, que ainda persistente oferece-lhe mais ajuda, dizen-
do que a esperaria após a consulta feita para levá-la até sua

32
casa, dizendo um até breve.
        Depois de um ansioso e longo tempo de espera, uma
atendente lhe chama para que o médico a examinasse. O
médico, no entanto, após diagnosticá-la, diz:
        – Senhorita, o seu caso é sério, muito sério, você pre-
cisa cuidar-se. Vá a um especialista o mais rápido possível.
Depois de dito isso, o médico lhe aplicou uma injeção, recei-
tou-lhe alguns comprimidos e mandou-a para casa.
        Lídia, ao sair dali, propõe-se a buscar um táxi. Porém,
percebe que tinha pouco dinheiro. Resolve então voltar para
casa de ônibus, porque o dinheiro que tinha era suficiente
apenas para uma passagem de coletivo. Ao chegar ao seu apar-
tamento, o único dos presentes que lhe restava, dado por João
Eduardo, estava sendo questionado na Justiça pela adminis-
tradora do prédio por falta de pagamento de condomínios e
outras taxas ativas. Lídia, como sempre, continua adiando
suas dívidas na esperança de que João Eduardo voltasse, con-
forme prometido por pai Gildo. Só assim resolveria todos os
seus problemas financeiros.

                       O tempo passa e nada de João
        Passaram-se vinte e um dias. Ansioso foi esse tempo
para Lídia, e nada. Assim como no início dos trabalhos do tal
“Pai Gildo”, Lídia estava no mesmo ponto inicial: na estaca
zero. Nada, simplesmente nada no que se referia ao retorno
de seu homem, seu provedor João Eduardo.
        Enquanto isso, João, envolvido pelo feitiço de Pai
Gildo, lutava e relutava contra sua vontade. A vontade de
rever Lídia fazia com que ele sentisse algo que lhe puxava
para aquela excitante mulher. Ao mesmo tempo, tinha como
objetivo reconquistar Izabel. Era a luta entre o bem e o mal,
do ódio contra o amor de sua amada esposa, que após aquele

                                                            33
episódio sórdido, percebera o quanto amava. Mas, diária e
continuamente, Izabel ingeria bebidas alcoólicas e sua casa
continuava uma desordem. Não havia entendimento entre
João, seus filhos e a esposa. Bastava-lhes algum gesto ou
qualquer diálogo para que entrassem em choque.
        Enquanto Lúcio e os espíritos trevosos vibravam para
que João voltasse para Lídia, assim a desordem seria total, os
espíritos de luz, protetores de Izabel e João, ou melhor, seus
anjos da guarda, vibravam a favor da reconciliação do casal e
dos filhos. Era uma luta constante.
        As atitudes do passado e do presente, de ambas as
partes, abriam um grande espaço aos espíritos negativos e
corruptos, que aceitavam as ofertas ou presentes em troca de
ver aquela família na lama, assim como eles são: perversos,
vingativos e sádicos. Essas energias espargiam naquele lar
um desconforto total, com atitudes e explanações errôneas e
agressivas, sempre sob as más inspirações.
        Entre essa classe espiritual, há, assim como no plano
material, uma divisão em diversas classes. Verifica-se no en-
tanto que ali, no lar de João Eduardo, há uma definida classe
espiritual trabalhando, composta de energias vãs emanadas
por espíritos corruptos, concentrados entre a orgia e os víci-
os gerais, trazendo aos poucos, àquele lar, uma atmosfera
degradante e pontuada por más vibrações.
        O que se percebia era uma tentativa de invasão dos
bons amigos do Plano Espiritual Superior. Porém, lhes eram
escassas a luz que os irradiariam para o auxílio aqueles ir-
mãos tão carentes. Não percebia João e toda a sua família, a
grande tentativa que faziam os bons espírito ou anjos, irmãos
espirituais abnegados, para ajudar a resolver tal situação. E
eles persistiam, e eternamente continuariam, mesmo com to-
das as dificuldades, a jorrar-lhes nem que fosse uma ínfima
partícula de raios de amor, enlevada por suas boas vibrações.

34
Por isso a degradação não era total, porque havia uma peque-
na luz no fim do túnel.
        O mau pensamento ou as más atitudes se transfor-
mam em más sintonias, que consequentemente atraem maus
espíritos. O bom pensamento ou boas atitudes, por conse-
guinte atraem bons espíritos e a paz. João não cultuava ne-
nhuma fé ou não se lembrava sequer da existência de Deus.
Ele continuava e persistia preocupado com o dinheiro em
abundancia, com o lucro em alta escala. O dinheiro era a sua
vida.

                 O ser humano que vive em contato
                          com nosso querido Deus
         O criador de todas as coisas, ou seja, o nosso Deus
Onipotente, não importando a fé, ou as denominações que lhe
derem, sempre será o nosso porto seguro. Quem não tem uma
fé, certamente se torna escravo de si mesmo ou escravo de seu
próprio egoísmo, além de estar totalmente vulnerável e sujeito
às vibrações negativas. E quando isso ocorre com pessoas de
má índole, que permanecem no erro e que não tem escrúpulos,
geram em torno de si maus pensamentos: inveja, ciúmes, ego-
ísmo, ganância desenfreada, corrupção, individualismo, calu-
nia etc. E quando um espírito do mal se aproxima, encontra o
maior de seus desejos, que é o de atormentar as pessoas, mate-
rializando doenças e tirando o máximo de proveito que puder,
sugando suas energias, incentivando aos vícios pelo psiquismo,
ao roubo e até a homicídios. Essa pessoa, estando total ou
parcialmente indefesa (sem nenhuma fé), logicamente será
atingida, tornando-se uma presa fácil dessas vibrações
maléficas.
         Sintomas físicos como mal estar, insônia, angústia,
choros desmotivados, previsão ou sensação de morte e

                                                           35
outros males. São assim que começam a se revelar as más
sintonias. Isto é só o fim, ou o começo de uma situação
degradante.
        Mas quando o ser humano tem sua fé, seja ela qual
for, que pregue o amor ao próximo, à família, solidariedade e
principalmente amor a Deus, tudo leva a crer que terá o seu
anjo ou espírito guardião fortalecido, bem sintonizado, desig-
nado por Deus 24 horas por dia, não importando se o nome
de sua proteção seja Anjo da Guarda, Protetor, Espírito
Santo, Energia ou Orixá.
        Nosso querido mestre Jesus afastava e conduzia os
espíritos que obsedavam as pessoas para outras dimensões.
Essas pessoas obsedadas estavam vulneráveis por causa de
seus atos improcedentes. Provavelmente, João Eduardo, sua
esposa e seus filhos, estavam vulneráveis e expostos a tal
obsessão.
        Observemos o que dizia o Mestre Jesus às pessoas que
eram vítimas de espíritos obsessores, também conhecidos como
“legião”: – “Vás e não peques mais”. Ou pode-se dizer: Vá e
tenha bons pensamentos e boas atitudes.

                                  Lídia volta ao Pai Gildo
        Lídia, voltando àquele lugar, bate palmas e logo é atendida.
O auxiliar pede para que ela entre. Em seguida, surge Pai Gildo.
        – Tudo bem? Veio trazer-me boas notícias, não é mesmo?
        – Não – responde Lídia, desolada. O senhor prome-
teu-me que João Eduardo voltaria entre sete a vinte e um dias.
Já faz quase dois meses e nada. Ele ainda não voltou. Estou
desesperada e com dívidas, muitas dívidas. Não tenho mais
nem o que comer, e eu quero o João se arrastando aos meus
pés, não só pelo que ele foi para mim ou porque ele me dava de
tudo, agora eu o quero por vingança – e põe-se a chorar.

36
Magoada pelos enganos e mentiras de João Eduardo e de
pai de Gildo, frente a frente com seu guru, cheia de tormentos, se
diz vencida por Izabel nessa batalha. E é bem verdade que Izabel,
com todos aqueles problemas, era realmente uma vencedora.
Afinal, ela usava uma poderosa arma: o amor que doava saído de
suas entranhas, aos filhos a ao marido. Amor que estava guardado
em seu íntimo, mas a bebida alcoólica estava lhe prejudicando,
numa busca inútil por consolo e resolução dos problemas.
         Izabel, vagamente se apegava à fé, mas o que pedia,
clamando, era com palavras verdadeiras. Nesses momentos, o seu
coração se abria, despojado e seguro às suas preces. Mas, é claro
que entre eles havia uma fenda já um tanto profunda, para que as
energias inconstantes dali se provessem, para que os maus espíri-
tos entrassem em sintonia com o ódio e a vaidade, cujo único
objetivo era explorar esses sentimentos ao máximo, para comple-
tar a maldosa destruição daquele lar.
         Enquanto isso, Pai Gildo diz a Lídia que é preciso
reforçar o trabalho.
         – Então reforce, – respondeu Lídia, com muito ódio.
         – Vamos reforçar minha filha, só que eu preciso de mais
dinheiro.
         – Dinheiro? Eu não o tenho mais dinheiro. Já lhe disse
que não tenho nem o que comer.
         – Mas você disse que tem um bom apartamento. Vai ter
de vendê-lo.
         – O Senhor acha que devo vender meu apartamento para
continuar esse trabalho?
         – Minha filha, o que mais vale? O apartamento ou esse
homem?
         – E se ele não voltar? – pergunta Lídia.
         – Você tem de confiar em mim, o trabalho já está quase
dando o resultado que você deseja. Agora, só precisa de um
pequeno reforço.

                                                               37
– E em quanto fica esse “pequeno reforço?”.
         – Para que ele fique bem feito, quero que você me
traga o quanto antes a quantia de sete mil reais. Garanto-lhe
que o seu homem voltará, com certeza, no prazo de três dias.
         Lídia, espantada e com ironia, responde a pai Gildo.
         – Mas meu amigo, eu não tenho mais dinheiro, nem
para comer. Ajude-me, por favor! Traga-me este homem que
depois eu saberei ser muito generosa com você. Poderei ate
lhe dar um carro novo.
         – Pois venda o seu apartamento. Sem dinheiro, não
tem trabalho. E vá embora, porque tenho muita gente para
atender.
         Lúcio, furioso, assim que Lídia vira as costas para Pai
Gildo, com sua vibração ruim faz com que o tal “Pai
Quiumba” leve um belo tombo, caindo de boca no chão.
         Lídia, por mais uma vez se sente derrotada e com os
rins cada vez mais problemáticos. No desespero que sentia
para alcançar aquele objetivo, a conquista do seu homem, ela
se esquecera do mais importante: sua saúde, que se agravara.
         Ao chegar em seu apartamento, Lídia procura um com-
panheiro para o seu consolo: o rádio. Sintoniza-o em qual-
quer emissora e ouve a voz do locutor, que diz:
         – Você está desesperada, não é mesmo? Nada está
dando certo em sua vida? Sua saúde está abalada? Seu espo-
so ou namorado se foi? Nós temos a solução. Ligue-nos agora
mesmo, porque teremos resposta de imediato para o seu caso.
Temos aqui vários depoimentos e uma equipe que ora por
você. Ouça alguns depoimentos.
         Lídia, muita atenta, começa a se envolver e a sentir-
se realizada com aqueles depoimentos. Não teve dúvidas. Foi
à casa de Anita, também enganada por Pai Gildo, e as duas
tomaram uma decisão. Ansiosa, Lídia liga para o líder religio-
so, o locutor, para um contato imediato. Logo ela é atendida

38
pela secretária da tal emissora pirata, que lhe pede que escre-
va uma carta para ser lida ao vivo pelo locutor. No dia se-
guinte, após a carta chegar às mãos do locutor, este a respon-
de, pedindo que as duas fossem à igreja para serem atendidas
pelo reverendo.
         Eis o que o locutor respondeu no ar:
         – Eu sou o Reverendo Luiz e aqui estou com a carta
de Lídia, que me conta sobre o seu estado de saúde, causado
pela má situação financeira que está atravessando, além da
triste ausência e o abandono de seu namorado. Eis o que esta
se passando com você, minha filha. Você está com um traba-
lho de feitiçaria muito pesado. Um Exu e uma Pomba-Gira
aceitaram uma tarefa para acabar com você, e essa pessoa
você conhece bem. É ela mesma, é exatamente quem você
esta pensando neste exato momento. A minha vidência ainda
me mostra todo o mal que fizeram a você. Esse trabalho par-
tiu também de uma vizinha sua. Procure-nos com urgência,
mas venha rápido, para que possamos fazer-lhe uma forte cor-
rente de orações. Eu tenho o poder para lhe salvar dessa
situação. Vou abençoar-lhe e seu namorado voltará urgente,
mais rápido do que você pensa, minha querida ouvinte.
Venha hoje mesmo.
         Lídia, já um tanto debilitada e com um péssimo as-
pecto, consegue, com a ajuda de Anita, chegar ao local onde
o reverendo reunia, pela força da comunicação, o rádio, mui-
tas pessoas que se encontravam desesperadas e sem saber o
que fazer.




                                                O encontro

                                                            39
Quando Lídia se apresenta à secretária do reverendo, esta
percebe que a pobre moça não se prezava mais ao futuro. Mas
mesmo assim, após varias e varias perguntas, Silvia, a secretária
do reverendo, diz à Lídia:
        Venda o seu apartamento e volte aqui. Nós não cobramos
nada, mas você precisa só colaborar com ofertas para que possa-
mos continuar pagando o aluguel desse enorme salão e o progra-
ma de rádio, por meio do qual prestamos auxilio às pessoas que
têm problemas iguais aos seus.
        Lídia alegou que seu apartamento estava à venda já há
algum tempo, porém, não conseguia vender, pois nunca havia
aparecido ninguém interessado.
        – Posso lhe dar uma idéia? – diz-lhe a secretária. Abaixe o
preço que você está pedindo para vendê-lo, assim, ficará mais fácil
a negociação do seu imóvel. Eu pedirei ao reverendo para que ore
muito por você, e verá como será rápida a venda do apartamento.
Façamos o seguinte: você me dá o seu endereço para que eu o
coloque na fogueira da prosperidade.
        No dia seguinte, logo após lídia se levantar, toca a campa-
inha. Era uma pessoa interessada na compra do apartamento:
        – Bom dia! Quero falar com dona Lídia.
        – Pois não, sou eu mesma. O que o senhor deseja?
        – A senhora está vendendo o apartamento?
        – É, estou.
        – Bem, estou interessado. Quanto a senhora quer por ele?
        – Veja bem meu senhor, o apartamento vale oitenta
mil, mas estou pedindo cinqüenta mil, pois tenho urgência
em vendê-lo.
        – Têm dividas? – pergunta-lhe o comprador.
        – Algumas taxas de condomínio atrasadas. Lídia lhe
mostra os boletos.
        – Aqui está o que devo: Três mil reais.
        – Bem, eu lhe dou vinte mil reais. É pegar ou largar.

40
– O senhor aceita um café? É a única coisa que posso
lhe oferecer no momento.
         Lídia lhe oferece um café para ter tempo de pensar,
pois estava sendo pressionada. Enquanto fazia o café, marti-
rizava-se em pensamentos: “Aquele pessoal da igreja do re-
verendo Luiz é realmente incrível. Fui ontem ter com eles e
hoje já estou vendo o resultado. Isto é um verdadeiro mila-
gre. Não é bem o que eu queria, mas até agora não havia
aparecido nenhum comprador, e se eu pegar os vinte mil
reais e tiver o João de volta, tudo estará resolvido em minha
vida, pois se aconteceu este milagre, com certeza outro mila-
gre acontecerá: João irá voltar”.
       Mas o que Lídia não sabia é que aquele sujeito, o com-
prador sem escrúpulos e mal intencionado, era comparsa do
revendo Luiz e de sua secretária Silvia, que o enviaram até
Lídia para extorqui-la, executando uma compra desonesta e
oportunista do imóvel, a preço irrisório, sabendo eles perfei-
tamente, que através da sensibilidade emocional em que a
moça se encontrava, certamente seria uma presa fácil, e eles
bem sucedidos com a compra do imóvel. Com isso, teriam
um bom lucro após vender o apartamento para outra pessoa
pelo preço de mercado.
         Lídia, voltando da cozinha com o café, diz ao homem:
         – O senhor não pode melhorar um pouco mais a sua
proposta?
         – Senhora, na verdade eu já estou quase arrependido,
pois percebo que nesse apartamento tem alguma coisa. Aqui
há uma tristeza muito grande, parece-me que tem macumba,
feitiçaria, enfim, uma energia totalmente negativa que toma
conta deste lugar. Quem morar aqui só terá problemas.      Pa-
rece-me que tem um feitiço muito bravo, coisas de vizinho.
         Após ouvir atentamente aquele homem, Lídia deduz
rapidamente que João fora embora porque alguma vizinha

                                                           41
invejosa lhe fez algum trabalho para tirar João de sua vida.
Ao ouvir as estranhas palavras daquele homem, inesperada-
mente, quase que suplicando, diz ao homem:
        – Pensando bem... Não, não vá embora! Vamos
conversar!
        – Não, dona Lídia, eu não vou comprar mais o
apartamento da senhora.
        – Então está bem, eu aceito os vinte mil. Fechamos o
negócio agora?
        O comprador convida Lídia a ir ao seu escritório para
concluir o negócio. Assim, consumado o negócio, ela entrega
as chaves do apartamento ao homem. E a convite de sua
amiga Anita, Lídia vai morar com ela, dividindo ambas as
despesas de aluguel, telefone, alimentação e outros.
        – Você viu Anita? Agora vai ser tudo do jeito que eu
quero. Aquele canalha logo em breve estará aqui, em minhas
mãos. O pessoal do reverendo Luiz é ótimo, fomos num dia e
no dia seguinte consegui vender o apartamento. Temos que ir
lá o quanto antes para eu dar a minha oferta, para que João
Eduardo esteja logo, bem aqui, aos meus pés. Vamos Anita,
arrume-se enquanto eu pego um táxi.
        – Que nada Lídia! Vamos de ônibus, você precisa
economizar.
        – Que economizar, que nada. Logo, logo o João vol-
tará e meus problemas financeiros estarão resolvidos, mesmo
porque, eu não estou bem de saúde. De vez em quando me
dá umas crises e eu tenho muitas dores nos rins. Estou
urinando sangue.
        – Cuidado Lídia, você precisa se cuidar, mulher ! – pre-
vine Anita.
        – Assim que João voltar para mim amiga, irei tomar
providências em relação à minha saúde. Irei me tratar nas
melhores clínicas e aproveitarei para fazer algumas correções,

42
com cirurgias plásticas e estéticas faciais. E você Anita? O seu
namorado não voltou?
       – É, mas eu prefiro não mexer mais com essas coisas,
vou deixar nas mãos de Deus. O que for meu virá em minhas
mãos. Bem, até que enfim chegamos à igreja do reverendo.

                                                   Na igreja
         Lídia aborda um atendente. – Boa tarde moço, quero
falar com a Sílvia.
         – Quem quer falar-lhe?
         – Diga que é a moça do apartamento que ela saberá .
         – Qual é o seu nome moça?
         – Diga-lhe que é a Lídia.
         Em seguida, aparece Sílvia. E Lídia, dirigindo-se a ela
com entusiasmo, diz:
         – Vocês são demais. Eu vim o mais rápido para agrade-
cer-lhes, e também para trazer a oferta prometida. Diga-me o
quanto devo dar como colaboração, além do meu testemunho.
         – Bem Lídia, você colaborando com ofertas, no máxi-
mo em três dias seu namorado estará de volta, com toda a
garantia.
         – Quero saber o quanto devo doar.
         – Quanto mais você puder colaborar, mais rápido seu
namorado voltará. Faça esse desafio e você verá como o mila-
gre acontece rápido. Faça isso.
         – Duzentos reais está bom?
         – Se você acha que estamos aqui pedindo esmolas, está
totalmente enganada, moça. Isso é uma ofensa. Bem, faça o
seguinte: Doe a metade do que conseguiu com a venda do seu
apartamento e você verá o milagre acontecer. Reafirmo-lhe que
em três dias você terá o seu homem de volta, eu lhe garanto.
         Anita quis interferir, dizendo que aquilo era um

                                                             43
absurdo. A secretária Sílvia, porém, percebendo a intromissão
de Anita, chamou Lídia para outra sala para torná-la sua presa.
        – Dez mil reais? – indaga Lídia, com admiração.
        – Sim, exatamente dez mil reais – afirma a secretaria
do tal reverendo. E foi o preço que Lídia pagou por seu ato
de simplicidade, desespero e fé naquela quadrilha. Silvia, a
secretária confiável do reverendo, participava de um esque-
ma sórdido, cuja finalidade era só usufruir do desespero das
pessoas com promessas e garantias em tudo o que se dizia
relativo à solução de problemas.

                                 Lídia em estado grave
        Lídia, ansiosa, aguardara os três dias. Porém, João
Eduardo não regressara. Os dias se passavam e o seu cora-
ção, totalmente em frangalhos, se desajustava em seu peito
sórdido, seco, frio, quase em morte. E João Eduardo, não mais.
Ou nunca mais.
        Sua doença estava cada vez mais grave e Anita tenta-
va ajudá-la do jeito que podia. Lídia dizia à amiga que os seus
caminhos se estreitavam a partir dali. Enferma de corpo e
alma, se calava pelos cantos. Porém, com muita revolta, não
ouvia ninguém, e também não obtinha mais respostas aos
seus clamores. Talvez a vida lhe obrigara, a partir daquele
momento, a se conformar.
        Anita, por sua vez, passou a frequentar um templo
budista, onde, bem orientada, se instruiu e passou às medita-
ções e à leitura de bons livros, tornando-se em pouco tempo
uma pessoa mais alegre, passando a compreender e a aceitar
o que a vida podia lhe dar. Entendia que na vida, faz-se
sintonia com as leis de causa e de efeito. O bom torna-se
bom, o ruim se multiplica e torna-se ainda pior.
        Metafisicamente falando, o sobrenatural aprofunda-se

44
nela através de leituras feitas em livros extraordinários, assim
como os bons livros espíritas, e, além do mais, de fundo cientí-
fico elevado, trazendo-lhe fontes tranquilas para a sua alma.
         Lídia, totalmente apegada aos seus encantamentos, es-
quece de sua saúde física, já um tanto afetada pelas esperas e pela
angústia. É aconselhada várias vezes por sua amiga a cuidar de
sua saúde. Após visitar um consultório médico, imediatamente
recebe das mãos do doutor uma guia de internação em caráter
de urgência, por sorte em um hospital que ficava bem próximo
à casa onde ela morava com sua amiga Anita.
         Após vários exames realizados por uma junta médica,
foi feita uma biopsia e concluiu-se que os rins de Lídia esta-
vam totalmente comprometidos, pois ela tardara a procurar
por tratamento. Após o diagnóstico feito, encontraram um
enorme tumor maligno bem próximo ao seu coração e outro
no rim. Quem sabe não teria sido o resultado de tantas lágri-
mas, tanto ódio e tanta angústia? Ou, quem sabe, não estaria
ali já há muito tempo, somente aguardando o momento de
mostrar-se em dores, para arrancar-lhe o máximo de sofrimento.
         O tempo, curto o tempo, deixa por alguns dias a jo-
vem mulher banhar-se com as próprias lamúrias, para depois de
derrubadas suas lágrimas, afagar suave o “benéfico mal” que guar-
dava em seu peito com as delicadas mãos, aceitando-o diante do
tempo que ainda lhe restava de vida. Termina aqui a passagem
de Lídia pelo plano Terrestre, mas perguntas pairam: Será que
Lídia teve oportunidades de resgatar dívidas? E para onde
teria ido? Lídia acreditava parcialmente que as pessoas, João
Eduardo, por exemplo, é que tinham por obrigação cumprir
com os compromissos dela e promover seus devaneios. Seria
Justo?
         Lúcio, junto àquela legião de espíritos trevosos,
resolve que deveria resgatar Lídia para se juntar a eles, mas
sabendo de antemão que não seria tão fácil, afinal, ela tinha

                                                                45
seu livre-arbítrio.
         – Será que Lídia perdera essa oportunidade de se
vingar de João? – questiona Lúcio.
Há um pequeno trecho bíblico que diz: “Nem filho paga por
pai, nem pai paga por filho”.
       Será que essa lei fará com que a alma de Lídia fique por
aí, vagando?
         Após a morte de Lídia, Anita resolve mudar-se, pois
sentia um grande vazio em sua casa: faltava-lhe a amiga. Anita
recordava-se muito de Lídia e passou a frequentar um bom
centro espírita. Lá, formavam-se grupos de voluntários para
visitas constantes às crianças excepcionais. E Anita sempre
se fazia presente nessas oportunidades, além de continuar fre-
quentando o templo budista, onde aprendera a meditação, o
jejum e a reflexão. Entre os frequentadores daquela casa de
caridade, Anita conheceu Oscar, um homem culto, de meia
idade e boa procedência, cuja humildade jorrava de seus lábi-
os em forma de sorriso. Um cavalheiro que lhe cercava de
atenção, fazendo-a dele se aproximar num encantamento de
amor. Houve entre ambos, as flores e o namoro.
         O desejo de estar sempre junto dela, de lhe dar flores,
era uma realidade fantástica que fazia Anita fruir em seu co-
ração, também muito sofrido, o desejo da vida, o desejo de
amar. Mas como em todo sonho ou conto de fadas, de
repente, sem motivo, uma emoção profundamente triste, va-
zia, faz surgir dos lábios de Oscar uma doçura ternamente
transformada em um gosto amargo, ao dizer a Anita que não
poderiam mais se envolver, que ele se afastaria dela por mo-
tivos alheios à sua vontade.
         Há dois anos, Oscar tivera um romance com uma moça
chamada Camila. Depois de perceber que não havia nada em
comum entre ele e Camila, que eram desajustados, ele foi amar-
gamente traído por aquela mulher, que preocupada somente com

46
o seu bem-estar, feriu-o intensamente com suas falsas juras de
amor, transformadas por Oscar em decepção e desconfiança
no sexo oposto.
        Certamente que Anita lhe parecia diferente, no en-
tanto, não confiava nela o suficiente para viver uma bela his-
tória de amor, assim como sonhara. Quis colocar à prova a
paixão, o amor e a honestidade de Anita.
        Esse afastamento de Oscar foi uma determinação um
tanto insegura e vulgar da parte dele, que por não ter nenhu-
ma experiência com as mulheres, acreditava que seria o úni-
co caminho para chegar ao que ambos buscavam: o amor.
O coração de Oscar ficou imensamente amargurado, e o de
Anita, duplamente amargurado, pois sabia o que havia acon-
tecido no passado entre Oscar e outra mulher.
        – Anita! O melhor que devemos fazer é nos separar,
paremos por aqui. Não mereço você, sou só um tolo, não sei
lidar com as mulheres, não podemos mais ficar juntos
        Ela rebate as suas palavras respondendo-lhe:
       – Oscar! Que brincadeira é essa? O que está
acontecendo? – e se põe a chorar.
        Momentaneamente, ao levantar o rosto, percebe que
o homem a quem estava aprendendo a amar se encontrava ali
chorando, e a passos lerdos ia aos poucos se afastando dela,
silencioso, pés rastejantes, para que talvez nem mesmo os
seus rastros ficassem. Ele sabia perfeitamente que seus ras-
tros seriam as suas saudades.
        Oscar não diz mais nada e vai-se embora, com a cer-
teza de que Anita sairia à sua procura. Pobre mulher... Ali,
surpreendida, os seus braços não se moviam e suas pernas só
lhe deram forças para que se ajoelhasse no chão, sozinha, lançan-
do um grito triste acompanhado de um choro sórdido, tão sór-
dido, que instantaneamente a fez se calar.
        Aquela noite, uma noite de inverno, estava muito fria.

                                                              47
Anita tinha preparado uma bebida muito saborosa, com uma
receita elaborada por sua mãe que ela jamais esquecera. Nessa
bebida estavam incluídos os seguintes ingredientes: chocola-
te, ovos, leite, açúcar e uma pequena dose de conhaque. Jun-
to àquela bebida viria também um pouco de sua história de
vida, de suas labutas e tudo pelo que já tinha passado em sua
vida.
         Anita nascera em uma família pobre, originária do sul
do Brasil. Ainda menina, que viera para a cidade grande para
conquistar uma vida mais digna.
       Mas e o seu amor? Por que não teria Anita sorte com o
amor? Que Deus tomasse conta de sua alma.
         Alguns dia se passam e Oscar, por intermédio de ou-
tras pessoas, fica sabendo notícias de Anita. Ela não andava
bem, estava abatida e muito deprimida. A verdade é que ele a
queria, e sofria muito com a separação.
         Oscar era um homem simples; não possuía bens e vi-
via com um salário razoável. Um homem de 40 anos cuja
vida sempre fora voltada para o trabalho. Após o episódio
com Camila, Oscar jurou para si mesmo que nunca mais pas-
saria por uma situação daquela natureza, que o envolvera em
traumas, tristezas profundas, traição, desilusões e inquieta-
ções. Mas Anita, não! Por que Anita? O seu amor por ela
tirava-lhe os domínios que impusera para o seu destino! Deve-
ria procurá-la? Sim é claro que deveria, porque nada soubera
de erros passados. Anita lhe dissera tudo num gesto transpa-
rente, para nada ficar-lhe oculto. E será que ela o perdoaria?
         O que Anita nem imaginava era que Oscar, na verda-
de, era um empresário bem sucedido, que ocultara dela os
seus grandes bens financeiros. Era dono de uma siderúrgica que
empregava 1.500 funcionários.
         A tristeza, irmã melancólica da depressão, comparti-
lhava as horas com Anita após a sua separação de Oscar. Do

48
silêncio oculto que se fazia em sua casa, nada se ouvia além dela
mesma e de suas lamentações. Para si, todas as manhãs lhe eram
vazias, as tardes pareciam não existir mais, e desejava o véu da
noite pra morrer com ele. As noites lhe eram frias e trevosas. Às
vezes chamava por sua amiga que já se fora, outras vezes temia a
presença de Lídia, chegando a sentir fortes arrepios e temores
em um dia que invocou a presença da amiga falecida. E poucas
lhe foram as noites tranquilas em que conseguia dormir.
         De repente, numa manhã, ao levantar-se da cama olha
para o espelho e assustada e põe-se a chorar. Teria perdido
uns bons quilos de peso corporal. Sua fisionomia era cadavé-
rica, flagelada. Imediatamente toma o seu banho e troca a
sua roupa para dirigir-se a um hospital, pois daquela forma
não poderia continuar.

               Que Ironia, mais uma vez, o destino
         Anita, em uma de suas idas ao hospital, ao passar por
alguns exames não sabia que ali, onde se tratava doentes, um
dos provedores do hospital teria o nome de Oscar. Ela real-
mente não se importava com o nome, porque não seria o
mesmo Oscar a quem ela tanto amava, jamais, pois ele não
teria o mínimo de condição para ser um provedor daquele
complexo hospitalar. Em uma das consultas, um médico sim-
pático chama-lhe pelo nome ao atendê-la.
         Dr. Osvaldo, ao examiná-la sorrindo, lhe dá o
diagnóstico: chama-o de “solidão”.
Essa situação despertou nela grandes atenções, e aquele doutor
passou-lhe um carinho especial através das palavras, pois sabia
que a situação daquela senhorita estava ligada somente ao fator
psicológico.
         O que resta dizer é que, após algumas visitas ao hos-
pital, Anita sente que ainda teria possibilidades de se reerguer,

                                                              49
por encontrar ali uma pessoa que se tornou um grande amigo,
que era o Dr. Osvaldo. Mas ela sentia que ele lhe omitia algu-
ma coisa, ainda assim, confiara a sua vida a ele, pois suas
palavras lhe confortavam, e muito.
         O tempo passava. Depois de suas visitas ao médico,
Anita conseguira se estabilizar, retornando à vida ativa. Não
se esquecera por todo de Oscar, mas já se sentia melhor, qua-
se pronta para o labor. Algumas sessões lhe foram feitas por
profissionais na área de psicologia, para ajudá-la em seu pro-
gresso íntimo. E sempre ali presente estava o seu “Dr. Ami-
go”. E nessa vigilância, com algumas visitações médicas,
Anita sente-se muito bem. Só que uma coisa começava a afli-
gir a sua mente. Por que tanta atenção do Dr. Osvaldo? Foi
quando caiu em si. – Meu Deus! Não pode ser! Eu não devo
mais passar por essa penosa situação.
         Um dia, ao examiná-la, Dr. Osvaldo, não contendo
mais sua paixão mas sem lhe faltar com o devido respeito,
fez-lhe um elogio, convidando-a para jantar.
         – Anita, você é e está hoje ainda mais bonita. Não
gostaria de jantar comigo?
         – Dr. Osvaldo, o senhor é realmente uma pessoa mui-
to interessante, bonito. Um excelente médico, de boa posição
social e tem uma missão maravilhosa, que é a de curar as
pessoas. O senhor é tudo que uma mulher equilibrada sonha.
Mas o meu coração doutor, meu coração está totalmente
ocupado, e para sempre.
         – Você me desculpe, Anita. Pensei que você fosse
solteira e que não tinha compromisso algum. A sua ficha diz
que você é solteira.
         – Sim, sou solteira e não tenho namorado, não tenho
ninguém. Quem eu realmente amo, profundamente, foi
embora sem dar-me explicações.
         – E como se chama esse felizardo, Anita?

50
– Isso agora não importa, doutor.
        – Desculpe a minha curiosidade, estou querendo
saber demais de sua vida.
        – Não, não há problema. Eu é quem lhe devo descul-
pas. Fui um tanto grosseira e o senhor me é tão gentil. A
pessoa a quem amo se chama Oscar. Ele trabalha em uma
siderúrgica. Não tem o seu status, é uma pessoa simples fi-
nanceiramente, porém, um perfeito cavalheiro tanto quanto
o senhor, doutor. Ele é tudo o que eu sonhei para completar
a minha felicidade: Um homem pobre financeiramente, mas
rico de alma, rico em suas convicções, em seus planos. Só
que eu não entendo porque ele se foi. Não pensou nas sequelas
que me deixaria ao afastar-se de mim, sem que existisse al-
gum motivo ou justificativa para isso.
        – Ele não lhe deu nenhuma explicação? – pergunta
Dr. Osvaldo.
        – Por que Oscar? Por quê? Se você soubesse como eu
te amo e o quanto te odeio por isso. Eu tinha planos para nós
dois, mas tudo não passou de uma mentira.
        Em seguida, Anita se despede de Dr. Osvaldo e ele
lhe pede desculpas.
        – O senhor não imagina o bem que me fez com esse
convite, auxiliando-me em meu interior, levantando minha
autoestima. Quando vim a este hospital, desolada, jamais
pensei em meu regresso como pessoa normal. Mas com as
bênçãos divinas, encontrei-me com o senhor e lhe fiquei de-
vedora. Foi aqui, através de seu braço amigo e de seu coração
maravilhoso que me fiz novamente filha de Deus, uma
pessoa normal. E foi exatamente isso que eu tanto precisei para
erguer-me novamente. Fico-lhe grata doutor, muito grata. Que
Deus o ilumine sempre.
        Oscar, além de provedor daquele hospital, também o
era em outras instituições filantrópicas, em especial numa casa

                                                            51
espírita, onde ele se sentia muitíssimo bem na companhia de
crianças “especiais”. Mas mantinha sigilo total, para que sua
solidariedade não perdesse a essência da caridade.

                                Lídia vaga sobre a Terra
         Após a morte de Lídia, com o seu espírito já desliga-
do do corpo físico, ela se encontra numa dimensão de baixa
frequência, com outros espíritos da mesma faixa vibratória.
         – Que lugar é este? – pergunta Lídia. – Que horrível!
Onde estou?
         Responde-lhe, telepaticamente, um dos espíritos ali
presentes:
         – Aqui, minha cara, é a sua nova casa.
       – Como assim? Eu tenho de encontrar Anita. Pelo que
sei, ela estava comigo no hospital, e aqui não me parece ser
um hospital.
         – Verdadeiramente, aqui não é um hospital, você esta
certa. Aqui é outro lugar, é a sua nova casa. O seu corpo
você deixou lá no hospital, e de lá ele foi levado para o cemi-
tério. Seu corpo agora está podre! Podre, você entendeu? Em
decomposição.
         – Não entendi e você está falando bobagem. Eu
estou aqui, viva e com muitas dores. Diga-me onde posso
encontrar um médico.
         Como ninguém a atendia em seus apelos, confusamente
ela perguntava:
         – Por favor, diga-me a verdade! Eu quero voltar pra casa!
         – Como você se chama? – alguém pergunta.
         – Eu me chamo Lídia.
       – Olhe aqui moça, você agora é um espírito, só espírito.
O seu corpo está debaixo da terra, podre, todo podre. Você
entende isso? Logo ali na frente tem um homem que se cha-

52
ma Lúcio. Ele esta à sua procura faz tempo. Tem outro ali
que você já conhece. Foi assassinado de tanto enrolar os ou-
tros enquanto viveu na Terra. Um belo dia ele achou um que
fez dele churrasco! Vá até lá que você descobrirá quem ele é.
        – E você, quem é? Pergunta Lídia.
        – Bem, eu era ladrão, assassino, estuprador etc. Só
que, após vários anos, comecei a entender que estou aqui na
condição de espírito, sofrendo um monte neste lugar horrí-
vel. Estou aqui de acordo com as minhas ações. É aqui o
nosso lugar, e pode ir se acostumando, minha cara.
       – Estou com frio, com fome e com muitas dores.
       – Para você se alimentar terá que esperar. Bem, eu não
estou aqui pra lhe ensinar nada, aqui é cada um por si.
        – E onde está a pessoa que eu conheço?
        – Vá andando por aí. Depois daquele lodo você o
encontrará. Será fácil você encontrá-lo, pois ele está todo
deformado, talvez se banhando no lodo que ele mesmo
construiu.
        – Então ele está vivo! – responde Lidia. – No meu
caso, se eu sinto dores em todo o meu corpo, certamente é
porque também estou viva. Sabe de uma coisa, você está me
enrolando, seu mentiroso.
        Naquele momento, surge na presença de Lídia um
espírito de aparência suave. Após cumprimentá-la, ele lhe diz:
        – Chamo-me Rafael, sou um espírito que trabalha na
linha que divide o bem do mal. Sou conhecido por vários
nomes no planeta Terra. Alguns me chamam de Guardião,
outros de Exu, Portal, Auxiliar... Assim, rotulando-me com
nomes diferentes e credos também diferentes. Por vezes somos
confundidos com espíritos que sentem prazer em fazer o mal.
O que fazemos, no entanto, é trabalharmos ardorosamente para
manter o equilíbrio no Universo, e vim aqui neste lugar de tre-
vas com a missão de lhe fazer um convite. Venha conosco para

                                                            53
uma colônia espiritual, onde você terá grandes oportunidades
de um bom aprendizado e conforto espiritual.
         – Bem, Sr. Gabriel ou Sr. Rafael, – responde Lídia –
isso pra mim não tem a menor importância. O que me inte-
ressa no momento é falar com o homem que aquele outro
espírito diz que eu conheço. Você pode me dizer onde ele
está?
         – Eu lhe recomendo que não o veja, pelo menos por
agora.
         – Veja bem, Sr. Rafael ou Sr Exu, seja lá o que for.
Sempre fui dona do meu nariz. Não lhe conheço e não aceito
suas ordens ou recomendações. Eu tenho um objetivo, que é
reconquistar o homem que perdi. Não estou bem de saúde,
sinto muitas dores. Sinto fome e muito frio. Quero resolver
minhas pendengas. Você pode me dizer onde está a tal
pessoa que aquele cara disse que eu conheço? Sim ou não?
         – Aqui você tem vontade própria, ou seja, tem o seu
“livre-arbítrio”. Portanto, você é livre para ir e vir. Siga o seu
caminho e encontrarás quem procura – responde Rafael.
         Após algum tempo, Lídia se depara com Lúcio e Gildo,
o tal feiticeiro. Com muito espanto, ela exclama:
         – Você por aqui? Nossa! Pai Gildo, como você está
péssimo, seu pilantra! Cadê o João, que você jurou que no
máximo em 21 dias estaria comendo em minhas mãos?
         – Agora ficou mais fácil, minha cara! Este aqui é Lucio.
Você não o conhece, mas ele esteve sempre ao seu lado, ten-
tando lhe ajudar. Ele era namorado da esposa do seu amante.
Vamos formar uma equipe e nos preparar para uma viagem, e
lá você terá o seu homem a hora em que você quiser. O terá até
24 horas por dia. O que você acha?
         – Você está tentando me enrolar outra vez, não é
mesmo? – diz Lídia.
         – Tente entender uma coisa moça, nós estamos mor-

54
tos! Mortos, entendeu? Estamos mortos fisicamente, como se
diz na Terra. Agora nós estamos em outro plano, que muitos
chamam de “Inferno”. Aqui, ou você se une a nós, ou você se
declara nossa inimiga. Como queira minha cara.
         Lídia, já um tanto amedrontada, procura disfarçar,
buscando resolver as suas preocupações e necessidades físicas.
         – Como é que a gente se alimenta por aqui? Estou
com muita fome... Sinto frio e tenho dores.
         – Para nos alimentarmos por aqui – diz o feiticeiro –
temos que vagar sobre a Terra para sugar as energias das
pessoas que nos dão abertura.
         – Como assim? O que é abertura? Não estou enten-
dendo nada, meu caro – responde Lídia.
         – Quanto mais as pessoas cometem erros, mais elas
ficam vulneráveis, ficando assim mais fácil para nós. Mas não
tenha pressa para aprender, pois você terá tempo disponível
em seu aprendizado. Aos poucos você aprenderá a fazer isso,
é muito fácil. O que basta é que você não tenha piedade de
ninguém, pois o ódio é a arma mais eficiente para nós.
         Lídia, muito confusa com aquela situação, não sabia
se era realidade ou sonho. Dizia para si mesma ser só um sonho,
apenas um sonho. Era o que estava lhe acontecendo, era no que
ela queria acreditar. Aquilo tudo não se passava de um sonho ba-
nal, afirmava Lídia para si mesma.
         Mesmo acreditando que estava sonhando e que ainda es-
tava viva e na Terra, ela pergunta ao feiticeiro:
         – Então, Pai Gildo, diga-me, o que foi que lhe aconteceu?
         – Bem, minha cara, das coisas que não resolvi em sua
vida, muitas outras pessoas eu também enganei com minhas
mentiras e traições. Até que um dia, de tanto enrolar os outros,
acabei me dando mal.
         – Mal como?
         – É, minha cara, fui procurado por um libertino ex-

                                                               55
plorador de mulheres, popularmente conhecido como cafetão,
você entende? Ele estava desesperado para conquistar uma
bacana e tomar o dinheiro dela. Eu o fiz vender o carro e a
casa para me pagar um trabalho, que jamais fiz direito. E foi
daí que, após a promessa vencida, ele notou que eu não tinha
feito trabalho algum, da forma como ele queria que aconte-
cesse e, mordido de raiva, me arrancou da Terra e me man-
dou pra cá, para o inferno. Jogou gasolina em meu corpo e
sem piedade ateou fogo. Por isso estou todo deformado. Mas
estou convicto de que aqui é realmente o meu lugar, pelo
fato de ter enrolado muitas pessoas. Mas não me arrependo
de nada de errado que fiz.
         Aos gritos, o feiticeiro retumba bem alto: – Quero
que se dane!
         E, voltando para Lídia, ele diz: – Agora, depois de
estar ciente que aqui é o meu lugar, faço uma imensa questão
de buscá-lo para que ele viva aqui também. Esta será a mi-
nha vingança, ele será meu escravo, pois este é o meu, maior
objetivo.
         – Mas aqui há muitos moradores? – pergunta Lídia.
         – Sim, aqui há muitos moradores, e vão bem mais
além do que você imagina. Aqui é a morada de corruptos que
enganam as pessoas, exploradores mentirosos etc. Mais pra
baixo, é a de assassinos, gananciosos, mesquinhos e fraudu-
lentos. Mais abaixo, de estupradores e outros, enfim, de ho-
mens que conhecem o poder Divino, mas que persistem no
erro ou na rejeição, assim como eu, que estou aqui por minha
opção, porque sou alimentado pelo ódio e seduzido a conti-
nuar aqui por aqueles espíritos que trabalharam comigo, os
quiumbas (espíritos trevosos). E aqui há muitos políticos e líde-
res de nações, que manipulavam o seu povo e ainda manipu-
lam, interferindo junto aos maus políticos que lá na Terra ainda
vivem, pessoas que eram consideradas importantíssimas na Ter-

56
ra, mas que aqui são consideradas lixo dos mais podres.
         Novamente Lídia pergunta ao feiticeiro: – Mas se você
morreu recentemente, como pode saber de tudo isso e eu não?
         – Você se esqueceu de quem eu fui? Fui e sou um
feiticeiro, fiz vários trabalhos para atrapalhar os outros e por
isso lhe afirmo: sou um mau espírita com muito prazer. Eu
praticava somente magia negra, trabalhava com espíritos pe-
rigosos e hei de me tornar um desses líderes ou gênios do
mal. Vivia constantemente invocando espíritos trevosos para
fazer o mal às pessoas.
         Lídia, confusa com as respostas dadas pelo feiticeiro,
confessou-lhe que realmente estava uma tanto atrapalhada,
porque não imaginava nada daquilo.
O tal Pai Gildo, no entanto, entre comparações lhe diz:
         – Minha cara, assim como existem maus espíritas, há
de existir também maus pastores, maus padres, e tantas ou-
tros, de tantas outras religiões existentes na face da Terra.
Eu, Pai Gildo, o feiticeiro, conheci a vida e a morte. Por op-
ção dediquei minha vida em lidar com essa qualidade de espí-
ritos, pois me identifiquei com eles. Só não sei lhe dizer se fui
fruto desse ambiente. Mas aqui estou por questão pessoal e me
dou bem, mesmo sofrendo muito. O sofrimento me traz mais
ódio, e o ódio me alimenta. Me considero um psicopata, apren-
diz de gênio do mal.
         – Mas por que você quer ser tão perverso assim?
         – Você, moça, não conhece o que é maldade, pensa que
sabe fazer o mal, mas na verdade é uma otária. Nós aqui nada
somos em relação aos nossos chefes, os chamados espíritos das tre-
vas.
         – E os Exus? – pergunta Lídia – Quem são eles?
         – Os Exus podem ser comparados a policiais. Alguns
mais evoluídos, outros menos, alguns mais severos outros mais
amenos. Eles trabalham como voluntários na linha que divide o

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bem do mal, para manter o equilíbrio universal, assim dizem eles.
         – E você pretende sair daqui e ir para um lugar melhor?
         – O que me segura e me alimenta aqui é o ódio, como já
lhe disse, pois foi pelo ódio fui criado por meus genitores. Meu
pai carnal era um matador pistoleiro feroz, um pistoleiro que
matava pra ver o tombo, e minha mãe uma pilantra de marca
maior. Gosto muito de ver os outros sofrerem, assim como eu
sofri na minha infância e juventude. Tornei-me um sádico, por
isso sempre gostei de invocar os maus espíritos para fazer amar-
rações e também para fazer o mal aos outros E você Lídia, quer
sair daqui?
         – Se é que não estou sonhando, e se tenho o poder de
fazer o mal aos outros também, então, só tenho um objetivo,
uma só coisa a fazer: Quero o João Eduardo em minhas mãos,
quero vê-lo se arrastando aos meus pés como um animal ferido.
         Nesse momento, Lúcio solta varias gargalhadas e afirma:
         – É isso aí! E pode contar comigo, Lídia, já que é isso
que você quer e agora sabe que não é um sonho!
         – É, eu sei que nada mais conseguirei, o que me resta
agora é me consolar com essa situação e trazer aquele maldi-
to para este lugar, para eu saciar minha vingança.
         O feiticeiro lhe diz:
         – Pois é, já que você não acredita totalmente em sua
morte física, vou lhe mostrar um quadro visionário de como
você morreu e como está hoje o seu corpo embaixo da terra,
decomposto após algumas semanas devido à ausência de sua
alma. Assim, você poderá tirar todas as suas dúvidas. Agora olhe
nesse espelho que está logo aí, na sua frente.
         Lídia, ao ver sua própria imagem fria e triste, numa
sepultura solitária, fica também muito triste e começa a solu-
çar, dizendo que aquilo não era possível, porque ela estava
ali, totalmente lúcida a conversar com Pai Gildo e Lucio, que
aquilo não passava de mais um truque baixo daquele patife.

58
O falso Pai de Santo, sarcasticamente se põe a sorrir com altas
gargalhadas, dizendo-lhe:
        – Minha cara, isso que você está sentindo é totalmen-
te normal. Porém, terá que aceitar por ser esta a sua realidade
agora, pois você se encontra em outro plano de vida.
        – Não me venha com mais uma de suas mentiras –
responde Lídia – Eu não acredito mais em você!
        – Eu queria poupá-la de mais sofrimentos, mas já que
você insiste, então olhe mais uma vez no espelho que verá no
seu quadro de existência: a sua própria morte, física, é claro.
        Lídia, ao voltar-se de frente para o espelho, fica es-
pantada ao ver-se morrendo naquele hospital. Lembra-se que,
agonizante, pedia às pessoas que estavam ao seu lado por
ajuda, mas ninguém lhe fazia caso. Certamente porque ela,
naquele momento, já se encontrava desligada, para fora de
seu corpo físico e se transferindo para o Plano Espiritual,
pelo fato de ninguém estar ouvindo os seus apelos, pois
espírito não tem cordas vocais.
        Aos poucos Lídia vai se afastando do espelho ao ver
exatamente a triste cena de sua própria morte. Ao perceber-
se de frente para o espelho, reconhece que naquela imagem o
seu corpo entra em estado profundo de inércia, para logo após
erguer-se, como uma cópia feita ou um clone de seu próprio
corpo físico, na condição de espírito ou alma miserável em
total degradação.
        Naquele instante, mistura-se nela medo e revolta, por
não poder rever seus bens materiais, o luxo ou a boa vida que
desfrutou na companhia de João Eduardo. Só lágrimas, além
das dores, fome e frio. Muitas lágrimas!
        O tal Pai Gildo, ao vê-la sentada no chão com as mãos
desesperadas sobre a cabeça, tenta lhe dizer algo.
        – É assim mesmo, minha cara, é assim mesmo. É a lei
de causa e efeito.

                                                            59
O feiticeiro, como já era prático na indução das pessoas, e prin-
cipalmente de espíritos, quando em seus momentos psicológi-
cos frágeis, aproveita para induzi-la aos seus planos sórdidos.
         – Veja, é como eu lhe falei. Vamos formar uma equipe e
você aprenderá muitas coisas. Ficaremos mais fortes nos unindo,
aí, você poderá fazer dele, digo, do tal de João Eduardo, o que
você quiser. Pense, pense bastante e não tenha pressa.
         Após algum tempo, Lídia, obstinada e um tanto re-
voltada por sua atual situação, aprende, por meio da indução
do feiticeiro, como se tornar um espírito obscuro. E com uma
equipe pronta, sob o comando de Pai Gildo, parte em busca
dos seus maldosos objetivos. Lúcio se oferece para participar
daquela equipe, sem saber que se tornaria mais um escravo
do tal feiticeiro.

                                           Na casa de João
        João, conversando com Izabel, diz:
        – Bem que você poderia amenizar mais com a bebida,
Izabel. Eu acho melhor procurarmos ajuda, existem clínicas
especializadas para esse caso.
        – Não se esqueça João, foi você quem provocou esta
situação – responde Izabel.
        – Izabel, você está dando um péssimo exemplo aos
nossos filhos. Eles não são mais crianças, já estão saindo da in-
fância para a adolescência, e esses maus exemplos lhes são muito
perigosos.
        – João, eu tenho consciência disso, quero parar, mas
não consigo. Mas e você, já pensou nos seus maus exemplos?
        – Izabel, você deve procurar fazer um tratamento, pois
está se tornando uma alcoólatra.
        – Não vai adiantar João, porque isso não é doença.


60
Eu vou parar, você verá, é só deixar que a minha mágoa passe.
Me dê um tempo.
         Parcialmente, Izabel estava certa. Só o que ela não
sabia é que a sua mágoa abria fendas para que espíritos vici-
ados lhe induzissem através de bebidas alcoólicas, que favo-
reciam a eles. As energias eram sugadas, fortalecendo as suas
forças negativas e, através de artimanhas, realizavam as suas
maldades. Por conseqüência do álcool em excesso, poderia
provocar sequelas em Izabel e traumatizar seus filhos.
         Passados alguns dias, Izabel, tocada pela bebida, co-
meça a contar aos seus amigos sobre a situação que está pas-
sando com sua família. Por que não poderiam eles ser felizes?
Será que ele, João Eduardo, estaria com algum plano macabro,
por isso nada fazia por ela, somente esperando por sua morte
para poder ficar totalmente livre para Lídia? Na verdade, o
que Izabel e João Eduardo não sabiam é que a pobre mulher
já havia falecido.
         João, a parte, escuta sem querer as lamúrias de Izabel
e, após suas amigas irem embora, tenta conversar com sua
mulher.
         – Izabel, eu tive uma aventura com aquela mulher,
mas me arrependi amargamente. Eu nunca mais a vi por op-
ção minha, porque optei por você, entenda de uma vez por
todas. Nós não estamos mais juntos, confie em minhas pala-
vras. Ela não está mais em minha vida, nunca mais a vi, mesmo
porque, ela desapareceu. O que posso dizer-lhe é que nem mes-
mo sei onde ela anda e nem quero saber.
         – Quem? A tal Lídia? – pergunta Izabel – João, acon-
tece que eu não sou tola como você. Se ela parou de vir aqui
para me atormentar, logicamente ela está com você, e vocês
dois, com certeza, têm um acordo.
         João Eduardo irrita-se naquele mesmo instante, como
se um ódio imenso o atravessasse e adentrasse em si, em for-

                                                            61
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Minhas Três Vidas

  • 1.
  • 2. 2
  • 3. 3
  • 4. 4
  • 5. 5
  • 6. 6
  • 7. Considerações do Autor o começar a escrever este livro, deparei-me com al- A gumas barreiras preconceituosas aos meus escritos que considerava inadmissíveis, não me permitindo ir adiante. Porém, com minha persistência, conti- nuei. Mesmo com o pensamento inexato, sentia grande necessidade de ir em frente, pois com a sensibilidade que passei a adquirir notei que não era só ficção o que eu estava passando para o papel. Alguma coisa ou alguém do plano metafísico me conduzia por meio da inspiração. Após alguns depoimentos de amigos e com as devidas provas, como relatórios médicos em formato de documen- tos de onde ficou internado o jovem acidentado, cujo nome do personagem, este sim é fictício assim como os demais personagens desta narrativa, continuei a escrever. O jovem acidentado será citado como Juarez, que teve uma cura verdadeira por meio de fenômenos de aparição e materialização de espíritos luminosos, fenômenos esses na- turais, simples e verdadeiros, no entanto, complicados para os leigos, que confundem esses abnegados trabalhadores com espíritos demoníacos ou almas perdidas. Procurei ser o mais coerente possível e gostaria de agra- decer aos filhos da União Espírita Ogum da Lua e Cabocla Iara, pois foi pelo amor e dedicação desses irmãos que de- senvolvi meus escritos, por meio de psicografias enviadas pelos irmãos espirituais. Mas deixo um adendo. Como disse um pensador: “Muito tenho para aprender e pouco para ensinar”. 7
  • 8. Com Deus e por Deus Deus, em sua infinita sabedoria, bondade e total amor pela Criação, nos permite ter contato com o mundo transcendental, onde habitam os nossos entes queridos. Mas para que isso seja possível, necessário se faz estar com o nosso pensamento claro e livre do orgulho, do egoísmo, da vaidade, da ganância etc., para que nossa aura não tenha nenhuma nódoa, assim, os nossos contatos além de ser to- talmente agradáveis, também serão terapêuticos. O que não podemos é dar margem a pensamentos obsoletos, pois sua negatividade enganará até mesmo o nos- so subconsciente, e aí então, em nossos sonhos, pode nos fazer vítimas de nós mesmos. Nesse contato que fazemos com o mundo espiri- tual, passamos não somente por sintonias em camadas su- periores, como também por camadas inferiores, às vezes com sortilégios tristes e sintomas ruins que se refletem em nós, adquiridos pela captação de energias negativas – so- fredoras, vingativas e outras. Por esse motivo, com Deus e o amor de Deus é que temos como via de fato o nosso porto seguro, e a virtude de transformar energias ruins em fontes de luz que, se bem conduzidas, podem até ser transmitidas aos que necessitam. Se pensarmos no milagre da multiplicação dos pães, poderemos vê-lo todos os dias: na agricultura, nos mares, nos rios e na vegetação. Esse é o milagre que dificilmente nós enxergamos, e que acontece nas 24 horas do dia. Todos os dias. 8
  • 9. Então, necessário se faz que não odiemos as cama- das inferiores, popularmente ditas demoníacas, pois elas também são parte da Criação do Pai. Por conseguinte, são eles nossos irmãos. É de nossa missão resgatá-los para Deus, pois a palavra expressa pelos lábios Divinos diz que não quer jamais um filho para o caminho da desonra. É necessário que não tenhamos ódio no coração, mas muito amor, fé, caridade, solidariedade e confiança no Criador. É necessário que aprendamos a não só a pedir, pedir, pedir, mas a agradecer o que Deus nos dá em abun- dância: o oxigênio, as frutas, as águas, os grãos, as vegeta- ções, as ervas medicinais e muito mais. Este é o verdadeiro milagre da multiplicação que esperamos. O milagre da multiplicação não se expres- sa somente na abundância de frutas, das águas, do oxigê- nio, dos grãos, da vegetação, dos peixes, dos pães, das er- vas medicinais e outros, para a nossa satisfação e cura ma- terial. O milagre da multiplicação se faz complementando a tudo isso com o acréscimo do amor, para que sejam mul- tiplicados os alimentos do corpo e da alma com orações e atos da fé, com a grandeza e a arte da caridade e com a sutileza da esperança, que se transformam em perdão e AMOR – magnífico é o Amor que se resume puramente em Deus. Seguramente, nesse caminho seremos felizes, pois nos faz progredir no mundo físico e espiritual. Nós, deste planeta, vivemos em um plano de expia- ção e precisamos nos conduzir, porque somos sim, parci- almente limitados. E é justamente por esse motivo que estamos sujeitos à arrogância e à ignorância. Temos o nos- so livre-arbítrio para nos conduzir, mas temos as leis de 9
  • 10. Causa e Efeito constituídas no Universo. Portanto, ao partirmos para o Plano Espiritual, lá sim, estaremos em nosso verdadeiro lar. E voltamos para lá com o que conseguimos conquistar. Certamente, leva- mos o que é nosso de direito, deixando na Terra o que é da Terra (exemplo: os bens materiais). Levamos o que apren- demos ou o que de bom praticamos, com fé e solidarieda- de, para ganharmos amor, o amor de Deus, mas também levamos o que de ruim praticamos: a desonra, o egoísmo, a calúnia, a ganância e a nossa ausência, quando se fazia tão necessário a nossa presença. O Plano Espiritual é um de nossos lares. Certamen- te que, ao regressarmos para ele, seremos glorificados com as boas atitudes ou sofreremos o peso de nossas matulas. Os resultados para nele viver dependerão exclusivamente de nossas conquistas e dos nossos direitos. Então, no Pla- no Espiritual, somos conduzidos para as moradas que her- damos de fato e de acordo com o nosso psíquico. E para que a nossa herança seja farta, é necessário que façamos um bom investimento na Terra! Um forte abraço e boa leitura. Nevas do Amaral 10
  • 11. Início da Saga Dona Antônia e seu marido trabalhavam muito para manter João Eduardo em uma boa escola particular, dando- lhe tudo o que desejava: brinquedos, roupas caras e outras variedades, sempre do bom e do melhor. De momento e hora, faziam-lhe suas vontades, era só pedir. João, criado com muito mimo, era o caçula da famí- lia, a “raspa do tacho”, como se diz popularmente. Após alguns anos, o menino, já transformado em homem, cursa a universidade “São Francisco”, para logo começar a traba- lhar em um escritório de partido político, onde prontamen- te se destaca como um excelente líder, conquistando uma promoção e um elevado salário. Mas não é por aí que as coisas ficam: João, por meio de elogios, se sente extrema- mente seguro em suas ambições, tornando-as ilimitadas. Seus pais, abarcados pela ambição do filho, reme- tem-no à segurança da recompensa pela criação de uma criança traquina, inteligente e encantadora. Foram nesses requisitos que João se formou em sua intelectualidade. E por tudo isso, compensou seus pais, porque o conforto financeiro que João Eduardo lhes proporcionou, fora fan- tástico. “Valeu a pena”, diziam o senhor Arnaldo e sua es- posa dona Antônia. E João Eduardo, que a cada instante desejava ainda mais provar a todos a sua imensa capacidade, até se exce- dia em seus desejos. A ganância o inquietava e isso não lhe fazia bem, porque perdia a solidariedade de ceder a ou- trem a oportunidade de conquistar a felicidade, assim como ele , no tocante à parte financeira. João Eduardo só conse- guia ver abastanças e volumosas fortunas. Soam os sinos das eras. Aquele jovem, já próximo aos 28 anos, um dia se apaixona por uma mulher de pele 11
  • 12. morena, olhos castanhos, muito sensual e de traços troianos. 20 anos apenas: Ternamente linda. O que de mais interes- sante havia era justamente a ascendência dessa mulher e tam- bém a sua forma física. Seu nome era Izabel e, por coinci- dência ou destino, havia um parentesco entre ambos que nem eles, nem os de suas famílias sabiam. A única coisa que sabiam é que conviveram juntos durante a infância, moran- do no mesmo bairro e na mesma rua e o destino lhes colo- cou frente a frente novamente, em sua fase adulta. Izabel, uma mulher extremamente culta, apesar da pouca idade, era fluente nos idiomas inglês, alemão e fran- cês, que lhe caíam perfeitamente com os trejeitos do cor- po, do coração e da alma. Uma mulher com quem João se encantou e se casou, tendo com ela dois filhos: Junior e Gabriela. Falemos um pouco neste parágrafo sobre as difi- culdades encontradas para que fosse realizada essa união conjugal. Na verdade, para que fosse executado esse ma- trimônio, houve alguns transtornos quanto aos pais de Izabel, cuja educação lhe remetiam aos princípios matri- moniais de uma criação, muito rigorosa no contexto religi- oso, e que rejeita a ganância financeira. Porém, por mais uma vez o amor levou à deriva os preconceitos ou excesso de cuidados. E isso não bastou. Izabel havia se prometido a Lúcio, uma pessoa possessiva em seu modo de ser. Um homem cuja paixão tresloucada, ínfima, mesquinha e im- perativa, deixa excedido e encarcerado seu coração pela obsessão sentida por Izabel. Lúcio era homem tão posses- sivo quanto a sua própria loucura; um homem egoísta em seus desejos pessoais, amargo e irresoluto em relação à pró- pria vida. Para ele, Izabel serviria só e simplesmente para a sua continuidade, fatal continuidade... Seria um objeto em suas mãos. 12
  • 13. Lúcio, não conformado pela perda de Izabel, nada mais poderia fazer do que caluniá-la, difamá-la e desmoralizá-la com todo o ódio que sentia. Pensando e agindo dessa forma, faria dessa maneira o resgate de seu brio e sua acrimoniosa desforra. Seus apelos chegaram ao mais baixo caminho. Além dos requisitos negativos predeterminados por ele, havia também práticas anônimas e demoníacas. Um homem sem recato nem honradez, que se fazia valer de missas, cultos evangélicos e até de feitiçarias, pois o que queria era lo- grar-se de um objetivo único, que era ver João Eduardo e Izabel arrastados num recife de lodo, pobres e loucos. Bem, como o amor sempre vence, as dificuldades foram imensas para realizar-se o tão polêmico matrimô- nio, porém aconteceu, pois era inevitável, pelo amor que sempre vence. No entanto, Lúcio prometera a si que mesmo indo para o inferno, haveria de ver João e Izabel separados. Suas visitas a lugares onde ficava sabendo que poderia recon- quistar Izabel eram frequentes, não importando qual a reli- gião ou rituais que pudesse trazê-la de volta para satisfazer seu ego. Com isso ele cada vez mais decaía no conceito espiritual, dando vazão a espíritos de baixíssima frequência, energias estas captadas em lugares onde se praticam magia negra. Além do mais, suas orgias eram constantes: bebidas, tabagismo, drogas e amigos que estavam sempre na mes- ma sintonia. Com isso se formava um elo entre o mundo físico e as baixas camadas do mundo espiritual, onde a morada desses espíritos era em camadas obscuras, e lá que eram planejadas as desordens em laboratórios plasmados, tudo com a finalidade de prejudicar tanto espíritos perdi- dos em busca de um caminho, como também seres encar- nados. Em uma dessas orgias, Lúcio fora assaltado por 13
  • 14. quatro bandidos; uma armação de seus falsos amigos. Mas Lúcio reagiu ao assalto e a fatalidade foi inevitável. Ele veio a falecer e em seguida foi resgatado pelos espíritos das trevas. Por ser ele muito inteligente, rapidamente aprendeu a se comunicar de forma telepática, e seu objetivo era a destruição do casal: João e Izabel. João Eduardo é perseguido por Lúcio João tinha como objetivo dar conforto para sua espo- sa e filhos, pois tinha em seu íntimo o mesmo intuito de seus pais: dar tudo do bom e do melhor para sua família. Além do mais, seu ego era alimentado por todos que o cercavam, fa- miliares e seus superiores do trabalho: o partido político. João queria mais e mais, não importando a que custo. Com isso começou uma cadeia de egoísmo incalculável, aceitando subor- no pela troca de favores, facilitando assim a vida de amigos e parentes com bons empregos, excelentes salários e total esta- bilidade. Por serem empregos públicos, em repartições as quais ele tinha livre acesso, passou a ser um homem notável em seu poder. E ainda tinha Osmar, o presidente do partido em suas mãos. João sabia de tudo o que se passava no movimento partidário, de todas as sujeiras. Passou então a tomar atitudes irrelevantes, adversas à conduta de um bom cidadão e pai de família. João era solicitado pelo partido para viagens e mais viagens, e seu lar passou a ser os aviões e os carros, e em cada uma das viagens suas finanças aumentavam ainda mais, ge- rando mais entusiasmo, ou melhor, cada vez mais se dispu- nha a servir ao seu partido. Em uma dessas viagens conheceu Lídia, mulher de belo porte físico e muito sensual, mas problemática e de ca- 14
  • 15. ráter dúbio. Ela vivia com crises neuróticas, portanto, estava vulnerável a energias ruins. Então, Lúcio aproveita essa aber- tura ou oportunidade para usá-la como trampolim em suas ações sórdidas contra João. E João, induzido pelos espíritos que acompanhavam Lúcio, enxergava em Lídia uma mulher mais interessante. Por ser extremamente sensual e a mais lin- da que já conhecera, estava deslumbrado por ela, que se mos- trava ou se insinuava, mostrando estar sempre disposta a sa- tisfazer as vontades eróticas de seu parceiro. As visitas de João a Lídia eram constantes e ela o seduzia para as orgias. Logo se tornaram amantes, e com as juras de amor ele mentia prometendo a ela que logo estaria divorciado e livre de sua esposa, dizendo que o divórcio estava para sair e aí sim, os dois estariam totalmente livres. Aquela dama estava deslum- brada; além de ele ser um homem viril, ainda lhe dava vários presentes, como carro, apartamento, jóias, vestidos e festas, na alta sociedade e nos meios políticos. Sua esposa começou a perceber que algo estava erra- do e passou a indagar. Com isso, Lúcio sentia que sua vingan- ça estava próxima. Mas João sabia se sair de situações piores como, por exemplo, quando era sabatinado por seus adversá- rios e convencer Izabel, uma simples dona de casa, seria fácil, pensava João. Izabel já não era mais a mesma. Suas amigas invejo- sas, querendo ver “o circo pegar fogo”, diziam: – Izabel, mi- nha querida, abra os seus olhos. Você parece que está cega! O João está sendo desonesto com você. Ele é um canalha, está na cara que ele tem outra. Cuidado... Cuide do seu homem, boba! João já não era mais o mesmo, não era o homem cari- nhoso de outrora com sua esposa. Não participava da educa- ção de seus filhos, Junior e a pequena Gabriela, e estava cada vez mais afastado de sua ainda jovem esposa. Ela se sentia 15
  • 16. sozinha e sucessivamente angustiada. Começou então a ter sintomas de depressão. Perdera o interesse em se arrumar e tudo ia mal com ela. Entre os colegas de João havia Alberto, um homem de meia idade que era realmente um bom amigo, sempre de- voto a Deus, bem conceituado em seu modo de vida, tanto familiar quanto profissional. Era um funcionário que traba- lhava no partido, mas era terceirizado, e tentava passar para João Eduardo suas experiências no campo amoroso e famili- ar, dando-lhe bons conselhos. Izabel, desmotivada com o comportamento munda- no do marido, deixa os cuidados do lar e a educação dos fi- lhos sob os auspícios de suas duas empregadas, para com al- gumas de suas atuais amigas, satisfazer-se em festas, afogan- do assim os seus sentimentos em taças de bebida. João, alertado por seu bom amigo, que lhe aconselha- va e implorava a Deus por ele e sua família, começou a per- ceber que estava perdendo algo muito precioso: sua esposa e seus filhos. E Izabel, sem perceber, estava dando vazão a espíritos de planos inferiores: era Lúcio sob o comando daquela le- gião, que aproveitava sua vulnerabilidade para sugar suas energias. João, pensando no que dissera seu amigo Alberto em relação à sua família, tomou uma decisão. Deixou de compa- recer a alguns encontros marcados com Lídia e aos poucos foi se afastando daquela dama. Sua amante lhe cobrava por essas faltas, dizendo a ele que deveria ser mais presente e que ela não aceitava ficar sozinha nos finais de semana, pois era jovem ainda e tinha de aproveitar o seu tempo. João estava entre a cruz e a espada, e seu amigo tentava de alguma forma fazer com que ele entendesse que sua família era tudo o que importava em sua vida, enfatizando os clamores a Deus em 16
  • 17. prol de João e sua família e argumentando que a melhor mulher do mundo literalmente é a nossa esposa, pois ela está sempre potente para qualquer situação, em momentos bons ou ruins. Uma amante só é interessante nos bons momentos, pois ela não está presente e é impotente nas horas amargas, isto, logicamente, com raras exceções. As amigas de Izabel lhe aconselhavam a ir em frente dizendo: – Larga de ser boba, não dá moleza. Vai passear, a noite é uma criança. Vamos sair e conhecer pessoas interessantes. Se ele lhe trai, você deve pagar na mesma moeda. A quantidade de bebida que Izabel estava ingerindo era cada vez maior, sendo quase que diariamente. Nas suas saídas, as duas falsas amigas lhes diziam: – Você, Izabel, é realmente muito bonita! Olha como você esta sendo notada, veja como aquele rapaz não tira os olhos de você. Não perca tempo sua boba, aquele rapaz é lindo, é um gato. Izabel respondia: – Não, literalmente não. Eu tenho um marido. Não vou pagar na mesma moeda, pois isso não é de minha índole. Quando João percebeu que sua esposa estava para se transformar em uma alcoólatra, tomou uma atitude definiti- va. Separou-se de Lídia, que totalmente segura, achava que João estava por ela realmente apaixonado. Mas na realidade, nem ela e nem João sabiam do amor verdadeiro que ele tinha pela sua esposa e pelos filhos. Lídia, por meio de dívidas exageradamente feitas para manter o seu alto padrão de vida, começa a vender os presen- tes que ganhou de seu amante João. Inconformada com a si- tuação, passa a persegui-lo, ligando diariamente para o seu trabalho. E ele, por sua vez, não quis mais atender às suas ligações. Desesperada, Lídia passa a ligar para a casa de João, e não sabendo mais como agir, com arrogância conta tudo a Izabel, expondo-lhe a sua vida íntima com João e até as 17
  • 18. aberrações que cometia com ele na parte sexual e o drama de sua atual situação, exigindo dele que assumisse suas dívidas porque ela não era descartável. Disse-lhe também dos presen- tes ganhos, de seu status na sociedade e que num instante perdera tudo. Izabel, com seus apelos a Deus, pedia forças para suportar todos aqueles dissabores. E João, sem saber, recebia por via telepática as vibrações de Lúcio, então com muito ódio, e pensou em várias formas para se ver livre de Lídia. Mas Alberto intercedeu, dando-lhe conselhos e pedindo-lhe que se acalmasse para não tomar decisões precipitadas. Izabel queria divorciar-se a qualquer custo, mas no fundo sabia que mesmo com todos os problemas, João era o seu porto seguro. Ela ainda o amava e, afinal de contas, ele era o pai de seus filhos. Izabel dizia isso entre lágrimas, mas a depressão, as amigas e as energias negativas de espíritos de baixa freqüência e aproveitadores invadiram seu lar, come- çando uma desordenada vibração e causando uma grande dis- córdia. Esses espíritos, conhecidos como vampiros, se apro- veitavam da desarmonia do lar para se satisfazer com as vibrações de sadismo, ódio, traição e vícios em excesso. O casal de filhos de João era bem educado, apesar do caminho errado que o pai deles seguira. Com o lar se desfa- zendo, os filhos perdiam o entusiasmo pelos estudos. Não eram mais aquelas crianças dóceis e tornaram-se rebeldes por causa da ausência dos pais, que se transformaram com o uso do álcool em excesso e das palavras grotescas que brotavam dos lábios de ambos. A mãe daqueles meninos, Izabel, além de alcoólatra estava tristemente para se transformar em uma pessoa gros- seira e amarga. Ela já não era mais a mãe dedicada e carinho- sa, e os maus espíritos se deliciavam com aquela situação, pois as energias ruins deles emanavam, se proliferavam com 18
  • 19. a presença de mais companheiros para preencher com desordens o lar daquela família. Lídia, já sem propósito de vida, fazia constante visitas a Izabel. Suas palavras pesadas agrediam até a alma de Izabel, que também tomada por ener- gias inferiores, fazia-se enlevar quase que totalmente. Mal intencionada em suas palavras, Lídia tentava convencer Izabel a se separar de João Eduardo, pois ele era um cafajeste, mas mesmo assim, era o grande amor de sua vida. Izabel afirmava que tudo o que tinha, havia conquistado pelo amor que João Eduardo sentia por ela. Naquele instante, ela ofegava diante das más energias que recebia de Lídia. O que Izabel fez foi apelar para o nosso tão esquecido Pai, o nosso amado Deus, que naquele momen- to de angústia e desespero fora lembrado. Com esse apelo, fo- ram emanadas sintonias de paz, que certamente absorveram os murmúrios de Lídia. No âmago daquele pedido a Deus, Izabel começa a atrair para si minúsculas gotículas de energias supremas e fa- voráveis a ela. Uma luz se acendera à sua volta. Ali se aproxi- maram novamente grandes e magníficos Anjos da espiritualidade, Espíritos Guardiões, que sem palavras e sem que ambas percebessem a presença deles, fizeram com que aquelas energias ruins começassem a se dissipar. Lídia, não se sentindo bem, se afasta incomodada, dizendo a Izabel que em outro dia se falariam. João, desolado com o que estava se passando, tinha uma preocupação quase única - seus filhos. Alberto, seu ami- go, insistia para que seus olhos se abrissem quanto a Lídia, o grande obstáculo que atrapalhava a sua felicidade. Os filhos se afastavam dele; sua esposa, terna mulher, fragilmente pos- suída por más companhias quando ingeria bebidas alcoóli- cas, e com o ódio que sentia pelo que estava se passando em suas vidas, dava vazão aos espíritos aproveitadores. João 19
  • 20. percebia também que sua vida profissional estava ameaçada pelos acontecimentos atuais. Seus superiores já não o viam mais como o supremo intelecto e excelente profissional de primeira linha. Enfim, tudo na vida de João Eduardo transformara-se em um jogo de difícil resolução. Um jogo injusto, no qual o poder se encontrava totalmente nas mãos do inimigo. De tudo, o que ainda lhe segurava era o seu trabalho, pois diante de seus superiores uma cumplicidade os mantinha unidos: os “segredos profissionais”. Profissionalmente, João conhecia por demais os pontos podres, as chantagens, os cri- mes de colarinho branco etc. Se contasse aos adversários aqueles segredos, seria o partido totalmente desmascarado pelos oposicionistas. Osmar, o líder do partido, pensou, pensou e pediu a opinião dos demais. Cada um lhe passava um conceito. Haroldo, o vice-líder e conselheiro, braço direito de Osmar, disse: – Haveremos de dar um jeito em João Eduardo e em sua família, e isto será muito fácil. – Você é louco, Haroldo? – responde Osmar. Não há necessidade de chegarmos a esse ponto, isso somente em úl- tima hipótese. João não é nada bobo e deve ter um excelente Seguro de Vida. Se algo lhe acontecer, vamos ser sabatinados por autoridades e por nossos adversários. Haverá uma inves- tigação minuciosa da seguradora, por isso, nem pensar nessa hipótese. Devemos ter muita calma, Haroldo, pois existem outros meios. Nós temos excelentes advogados e o nosso departamento de marketing poderá montar boas estratégias. Afinal, João Eduardo não é louco, e certamente não nos de- nunciará. Não se esqueça de um detalhe, meu amigo: o di- nheiro compra tudo, e se há algo de que João gosta, é de di- nheiro, assim como nós. Fique tranquilo e deixe comigo, está bem? 20
  • 21. Após Osmar argumentar e colocar aos demais os seus planos, todos se reuniram para chegar a um consenso, que foi oferecer a João uma boa aposentadoria, mas ameaçando se ele abrisse a boca, dizendo que ele poderia até sofrer um enfarte fulminante. E João, em pensamento, ao perceber que entre eles havia muita astúcia, agiu de um modo que lhe era peculiar. Pediu-lhes, antes de qualquer proposta, uma reunião. Com isso João estava se prevenindo para não correr riscos com a sua segurança. Imediatamente após lhe ser permitida a reunião, to- dos nela compareceram para, atentos, ouvirem as suas pro- postas. Na mesa onde estava reunidos, João Eduardo inicia o seu discurso usando o termo “ironia”, pois era disso que eles gostavam, e isso os excitava. E João Eduardo começa a ex- por seus argumentos. – Meus amigos e correligionários, vocês não imagi- nam o quanto eu amo o meu trabalho, e esta casa é tudo o que eu tenho, e o que sou, devo a vocês. Tanto aos meus antecessores, como também aos que chegaram após mim. Esta casa e todos vocês, muito me ensinaram. Por isso, sou grato a cada um de vocês e jamais usarei de ingratidão, pois sei mui- to bem reconhecer o que de bom fizeram por mim, todos vocês. Hoje tenho uma família saudável e meus pais estão bem amparados financeiramente. Enfatizo: Tudo o que te- nho, devo a vocês. Porém, cometi uma falha, e somente eu posso e devo corrigi-la. Enlevei-me, por algum tempo, pela beleza de uma mulher, e dela fiz minha amante. Hoje, essa mesma mulher tenta destruir o meu lar e age também em meu trabalho e, após tantas sequelas, agora sei como evitá-la para que não me ocorra mais catástrofes. Para preservar mi- nha família e principalmente este movimento (partido políti- co), ouvi Alberto, nosso companheiro que presta serviços para 21
  • 22. esta boa casa. Digo boa casa pelas pessoas competentes que aqui estão à minha volta, e se estas pessoas são competentes, imaginem nossos líderes, que são nossos dirigentes, princi- palmente a pessoa de nosso presidente Osmar e nosso vice Haroldo, pessoas estas que elevo em meus pensamentos pela grandeza de seus conceitos, caráter elevado e serviços pres- tados à nossa sociedade. Estes dois homens são os pais deste partido, e também excelentes pais de família. Gostaria de ci- tar também o quanto eles são grandes, tanto como pais deste partido, quanto com a preocupação que ambos têm com sua dignidade e a de seus companheiros de trabalho, e também a lealdade com os adversários. Estes meus comentários são só uma pequena gota do que são verdadeiramente estes nobres senhores. Mas agora, quero voltar ao que me disse o nosso amigo Alberto, que me abriu os olhos em relação àquela mu- lher com quem me envolvi. Bem, diante deste impasse e com muita tristeza no coração, tenho que tomar uma decisão coe- rente, que é a seguinte: Para que eu não venha atrapalhar o bom andamento desta conceituada casa, estou pedindo meu desligamento, sem nenhum prejuízo para nosso querido mo- vimento partidário. Mas pediria a compreensão dos senhores, pois não quero me desligar totalmente. – E o que você pretende? – Retruca Haroldo. Você Já tem emprego em outro partido? – Bem, se eu renunciar do meu cargo de diretor exe- cutivo e tesoureiro, tudo aqui fica mais tranquilo. Mas se eu ficar, posso, com os meus problemas, atrapalhar o bom anda- mento desta casa. Fico torcendo para que tudo ande bem por aqui, portanto, vou abrir um escritório e dar assessoria finan- ceira ao partido. Prometo-lhes que jamais pertencerei a qual- quer outro partido, e se vocês me permitirem, poderei no fu- turo, quando lhes convier, assessorá-los com consultoria, pois é neste campo que desempenho bem o meu trabalho, assim 22
  • 23. como também a outras empresas privadas de outros segmen- tos. Gostaria de repetir, em alto e bom som: Prometo não prestar serviço a qualquer outro partido político, pois o meu coração ficará nesta casa. – E o que você precisa para montar seu escritório? – Pergunta Osmar, o presidente do movimento. – Bem, Tenho uma boa conta bancária e não pretendo incomodá-los, – responde João, já sabendo o que Osmar tinha a lhe dizer. Osmar contesta. – E se você tiver uma ajuda do nosso caixa? Essa pergunta foi feita por Osmar com a intenção de suborná-lo ou comprar sua consciência. João, percebendo a manobra, sentiu-se aliviado, pois sabia que o seu silêncio es- tava sendo comprado. Menos mal, pois dessa maneira o risco de vida seria menor. Melhor assim do que tê-los como inimigos declarados. João Eduardo pensa consigo mesmo: – A partir de agora vou tentar consertar as coisas. Não quero mais traba- lhar de maneira tão desonesta, pretendo me reconciliar com minha família. Mas neste momento vou seguir aquele velho conselho, ou melhor, aquele velho ditado: “Se não pode com eles, junte-se a eles”. Essa é a única saída que vejo neste exato momento. E João, fingindo estar pensado na proposta de Osmar, faz uma pausa e depois diz: – Pois assim será. Aceito a vossa proposta, meu presi- dente, e podem contar com minha fidelidade e total discrição. – Com total ironia, João continua. – Pois bem, sei que a discrição é nossa maior segurança para a nossa dignidade física. – Disse essas palavras para mostrar aos seus líderes que sabia o risco que corria se abrisse a boca em relação aos podres de seu partido. João Eduardo queria consertar os erros, porém, os atos 23
  • 24. cometidos desde sua juventude, nos quais colocava o dinhei- ro como prioridade em sua vida, fez com que sempre estives- se vulnerável às vibrações negativas. Após montar seu escri- tório, passa por grandes dificuldades para conquistar sua cli- entela, mas, mesmo assim, sua vida profissional começa a dar algum sinal de melhora e também a sua vida familiar. Izabel, no entanto, continuava bebendo quase que diariamente, e andava a cada dia mais deprimida. Lídia encontra João em um restaurante Lídia, após tomar conhecimento do afastamento de João de seu partido, se desespera, pois sabia claramente por- que isso aconteceu. O que Lídia também sabia era que João Eduardo tinha uma conta bancária altíssima, e vendo que todo o apelo feito para reconquistá-lo não dera certo, começa a pensar em novas investidas. Tenta de todas as formas chantageá-lo, até que, num belo dia, por acaso encontra João entrando em um dos restaurantes que os dois costumeiramente frequentavam quando estavam juntos. – Olá meu caro, como está? Tudo bem? – Pergunta Lídia, com um sorriso sarcástico. – Tudo bem – Responde João Eduardo receoso, pois nesse instante preocupou-se com os seus acompanhantes, que eram futuros clientes. Quando João vira-lhe as costas, Lídia o aborda. – Se você não me der atenção farei um grande escân- dalo aqui mesmo meu caro, na presença de seus amigos. Você não pode me descartar dessa forma. – Por favor, não me faça passar por esse vexame – responde João, preocupado com o que ela poderia fazer. – Dessa forma você só vai piorar a situação, pois essas pessoas são homens de negócios. Estou fechando bons contratos com 24
  • 25. eles e você pode acabar comigo. Tenha calma, vamos conversar. – Está bem. – Responde Lídia. – Só que agora não é possível – lhe diz João Eduardo, – marcaremos um encontro. – Nem pensar, meu caro. Você acha que sou boba de perder esta oportunidade? – Bem, então façamos o seguinte: aqui está o número do telefone do restaurante. Daqui a alguns minutos você me liga. Pensarei numa desculpa para dar aos meus clientes. – Está bem, mas não tente me enganar, pois poderá lhe custar muito caro. João conseguiu sair-se bem, como sempre. Afinal, ele era muito astuto. Cinco minutos depois, o telefone do restau- rante toca e o garçom chama João, dizendo-lhe que era sua esposa afirmando urgência. Depois de atender ao telefone, João Eduardo volta aos seus clientes desculpando-se, pois sua esposa não se encontrava bem e precisaria transferir a reunião para o dia seguinte. Logo depois, João Eduardo e Lídia se encontram como ele havia prometido. Ironicamente, Lídia diz: – João, que saudade! Você é o único homem de minha vida, eu te amo! Mas ele, não acreditando e procurando um meio para sair daquela situação, mostrando a Lídia um ar de decepção, lhe pergunta: – Será? – O que você quer dizer com isso? Ou melhor, o que você sabe? – Responde Lídia. – Não adianta você negar, você me traiu e sei muito bem com quem, sei de tudo. – Foi por isso que você deixou o seu emprego no partido? – O que você acha? 25
  • 26. – Mas foi só uma aventura, meu amor. Contigo é dife- rente, porque você é um homem de verdade. Viril, inteligente, bonito... – E com eles foi tudo um fracasso, um grande fracasso, não é? João percebe que Lídia teve relações íntimas com al- guém de seu antigo trabalho e, jogando a sua esperteza, ele diz o nome do líder. – Osmar é muito oportunista, minha cara. – Osmar lhe contou algo? – Olha Lídia, vamos acabar com esta palhaçada. Está tudo acabado, siga com a sua vida. – João, eu sai só uma vez com Osmar. – E com os demais? – Bem, com Haroldo foi quase à força, ele me chantageou. – E como ele chantageou você? Vamos fazer o se- guinte, Lídia. Siga a sua vida e não tente me perseguir. Eu não tenho mais nada com você. – João, isso não vai ficar assim, você não perde por esperar. Você usou e abusou de mim e agora quer me jogar fora, como se eu fosse descartável? Alguns dias após o encontro com Lídia, Alberto en- contra João e, com alegria pelo reencontro, os dois vão come- morar em um almoço no restaurante que sempre frequenta- ram. Durante o almoço, João argumenta que não quer mais nada com Lídia, mas confessa sentir que algo o empurra para ela, e que por algumas vezes fora procurá-la. Alberto lhe diz que ele deveria ser forte e não procurá- la, pois diante das chantagens de Lídia, as coisas só iriam piorar para João e sua família. Após os conselhos dado a João, Alberto, ao chegar à 26
  • 27. sua casa, continua com suas suplicas a Deus em prol do ami- go, enfraquecendo assim as energias ruins de Lúcio e seus comparsas do mundo espiritual, vindas dos umbrais onde se situam os maus espíritos. Lídia encontra uma amiga – Lídia! Como você está, minha amiga? Há quanto tempo não nos vemos! Como vai, tudo bem? – pergunta Anita. – O que você acha, Anita? – Pensando bem, me parece que você está com problemas. – Problemas? Pode por problema nisso, minha cara. – Mas na última vez em que nos falamos você me parecia tão bem. Estava alegre, até achei você um pouco metida. Você estava com um caso, se não me engano ele se chama João Eduardo, e agora você me parece tão impotente. – E você, como está? – pergunta Lídia. – Comigo está quase tudo bem. No amor estou mal, mas vou superar essa dificuldade, você verá. – Por que tem tanta certeza assim Anita? – Bem, o Marcos me trocou por outra mulher, e eu fui orientada a procurar um Pai de Santo que faz trabalhos para o amor, trazendo o namorado de volta. Estou trabalhando para isso, porque o meu objetivo é tê-lo de volta. – Anita, me dê o endereço desse feiticeiro, pois o meu maior problema é esse. Você se lembra bem de João Eduardo, não é? – Lógico que me lembro! Um gato. Como poderia esquecê-lo? E ele, como está? – Pois é menina, ele também me largou, deu-me as costas. Demitiu-me de sua vida e eu o quero de volta, custe o que custar. 27
  • 28. – Por falar em custe o que custar, vou logo lhe avisan- do que não são baratos os trabalhos do tal feiticeiro, minha cara. – Para que existem cheques? – Só que tem que ter fundo, minha cara Lídia. – Vamos logo. Dê-me esse endereço que estou ansiosa. Lá eu darei um jeito, deixe comigo. Lídia e o Pai de Santo Lídia bate palmas para chamar alguém. Quando apa- rece o tal Pai de Santo, ela diz: – Bom dia! Gostaria de falar com o Pai Gildo. – Aqui não se diz bom dia, e sim boa noite, minha senhora. Mas vai falando o que deseja. – Eu quero falar com Pai Gildo. – Sobre o quê? – Quero fazer uma consulta. É o Senhor? – Sim, sou eu. Mas pode me chamar de Pai Quiumba. Entre que eu vou lhe atender. Sente-se e espere, porque eu tenho mais gente para consultar. O lugar onde Lídia estava era ameaçador e com muitos trabalhos espalhados pelo chão. Ali, tudo parecia ter mau cheiro. Era assombroso! O tal pai Gildo era esquisito e misterioso, ou melhor, totalmente desconfiado, com um olhar sinistro. Após Lídia esperar por duas horas, o tal Pai Gildo cha- mou-a para uma pequena sala, cuja porta era uma cortina em pés- simo estado, suja e mal cheirosa. Ali se inicia uma variedade de perguntas. Queria o tal Pai Gildo saber quem a tinha mandado e o que ela fazia em sua vida. Sua profissão etc. Após várias perguntas, ele afirma: – Você veio aqui por causa de um homem, não é verdade? 28
  • 29. – Sim, é verdade. O senhor acertou em cheio. No desespero em que Lídia se encontrava, ela não percebera a artimanha que tinha sido usada pelo mal espírita para mostrar-lhe que profetizava. – Eu estou sofrendo muito por causa desse homem. – Mas você é tão apaixonada por ele a ponto de vir aqui, pedir que eu o traga de volta? – Entenda do jeito que o senhor quiser, eu o quero de qualquer jeito. Farei o possível e o impossível para tê-lo de volta. Lúcio estava próximo de Lídia para que ela não desistisse de suas investidas. – Olhe, minha senhora, não é muito barato! Quanto a senhora pode gastar para que eu o traga de volta, com um trabalho feito em amarração? – Bem, eu vou deixar um cheque em branco com o senhor, e aí o senhor vê em quanto fica, está bem? – Dona Lídia, não trabalhamos com cheques, tem que ser dinheiro vivo. – Bem, em dinheiro eu só tenho no momento o da consulta. – E como você quer um homem? Pensa que é assim? Paga logo a minha consulta e volta quando tiver o dinheiro, dona. Lídia não tinha escrúpulos. De caráter dúbio, porém não tão esperta quanto pensava, achando que poderia tapear o feiticeiro com cheque sem fundo. Nesse momento, Lúcio entra em total sintonia telepática com Lídia e faz com que ela responda ao tal “Pai Quiumba”. – O senhor fique tranqüilo, que volto ainda hoje com o dinheiro. Darei um jeito. Até mais tarde. – Eu sei que você irá dar um jeito, pois quando vocês querem um homem, não medem as consequências. Em pen- samento, Pai Gildo diz: “Essas mulheres ficam até sem 29
  • 30. comer para arrumar dinheiro e ter o seu homem de volta. E quem se dá bem sou eu!”. Lídia dá o golpe para conseguir dinheiro Lídia apela para alguns amigos sem sucesso, pois seu crédito estava cortado em todos os lugares. Pensando em como fazer para conseguir o dinheiro, tenta vender alguma coisa que lhe restava, porém, não consegue. Vai para casa desesperada e sente uma dor horrível nos rins. Há dias passa- dos já vinha tendo algumas crises, talvez pelo desenfrear de sua agitação. Mas mesmo com dores, a sua prioridade era fa- zer talvez até o impossível para reconquistar João. Lúcio vi- brava para Lídia reatar com João Eduardo. Lídia Pensou, pensou e então se lembrou que tinha uma folha de cheque em um velho talão da antiga conta de João, que ele esquecera em sua casa. João Eduardo era bem conceituado financeiramente e Lídia não teve dúvidas. Pre- encheu uma folha de cheque, colocou uma assinatura seme- lhante à dele, pois ela tinha algumas notas de compras com A assinatura de João, e foi procurar Alberto, amigo de João, in- ventando uma história, ou melhor, dando-lhe uma desculpa, dizendo que João havia lhe dado aquele cheque. Alberto, encurralado, mesmo sabendo que Lídia esta- va mentindo achou melhor trocar o tal cheque e ficar livre das ameaças que ela estava fazendo. Lídia disse a Alberto que mostraria o cheque à esposa de João, pois precisava da- quele dinheiro para cuidar de sua saúde, quando na verdade, ela o queria era para fazer o tal trabalho com o inescrupuloso feiticeiro. 30
  • 31. Lídia, de volta ao Pai Gildo Já era quase meia-noite quando Lídia chega ao seu destino. Bate palmas e logo é recebida pelo auxiliar do Pai de Santo, que logo foi dizendo que ele estava ocupado e não poderia atendê-la naquele instante. Diga ao Pai que arrumei dois mil reais. Pergunte-lhe se esse dinheiro é o suficiente. O homem, já de volta, através do velho portão de madeira, quase caindo, convidou-a para entrar dizendo-lhe: – Dona Lídia, sente-se que vou lhe servir um café. O Pai Gildo não tardará a lhe atender. Em seguida, entra na sala Pai Gildo, sorrindo-lhe e beijando-lhe a testa, dizendo: – Vamos conseguir trazer o seu homem, você verá! – Mas por que o senhor fala com tanta firmeza? Pai Gildo era raposa velha, como diz o ditado, e se saindo bem, ele responde: – Porque você provou-me que é uma mulher forte, uma guerreira que não desiste nunca. Então, vamos iniciar os trabalhos? O feiticeiro pediu a Lídia que escrevesse o nome dos dois, dela e João Eduardo, pedindo-lhe também algum objeto pertencente ao rapaz. Ela entregou-lhe algumas fotos e os endereços de ambos. Logo em seguida, tomado por energias, o inescrupuloso “Pai de Santo” pronunciava palavras de bai- xo calão, de espíritos atrasados e revoltados, que de alguma forma se tornam obedientes ao que o feiticeiro lhe mandava fazer. Esses espíritos, equivocadamente são confundidos com Exus, que na verdade são espíritos ou energias que traba- lham em uma linha intermediária, que divide o bem do mal. São espíritos voluntários e em elevação, que aceitam missões difíceis, assim como algumas profissões no plano terrestre. 31
  • 32. Eles se sujeitam até mesmo a ser escarnecidos, taxados como diabo ou satanás, não somente por outros credos, como também por espíritas mal informados. Os que aceitam presentes para fazer o mal são conhe- cidos como quiumbas por grandes mestres e bons pesquisa- dores da verdadeira teologia do conhecimento espiritual pós- vida (quiumba é uma palavra de origem africana que significa espírito das trevas). O tal Pai, logo após o iniciar dos trabalhos, passa a dar um atendimento “vip” a Lídia para tirar-lhe mais dinheiro, fa- zendo dela sua vítima. Assim que sai do transe, pergunta à moça: – Lídia, você sentiu boas vibrações, minha amiga? – Pai Gildo, será que ele volta? – Eu lhe prometi que o prazo para ele voltar é de sete a vinte e um dias. Agora, é só uma questão de tempo. As dores de Lídia aumentaram e ela pediu ajuda a “Pai Gildo”. – O senhor pode me dar um passe para aliviar as dores que tenho nos rins? – Minha cara, aqui nós só trabalhamos com magia ne- gra, e o seu caso pertence à Medicina. Vá procurar um médico, nós não tratamos de pessoas materialmente enfermas. A casa do tal feiticeiro ficava num bairro da periferia. Um lugar muito perigoso, pois ali havia uma comercialização descontrolada de drogas. Naquele lugar, estava outra vítima de “Pai Gildo”, um consulente que se sente honrado em oferecer a Lídia uma carona, porque para sair daquele lugar a pé, seria um tanto arriscado. Dali Lídia segue, levada por essa pessoa, a um hospi- tal, pois realmente não se sentia bem de saúde. Agradece ao homem, que ainda persistente oferece-lhe mais ajuda, dizen- do que a esperaria após a consulta feita para levá-la até sua 32
  • 33. casa, dizendo um até breve. Depois de um ansioso e longo tempo de espera, uma atendente lhe chama para que o médico a examinasse. O médico, no entanto, após diagnosticá-la, diz: – Senhorita, o seu caso é sério, muito sério, você pre- cisa cuidar-se. Vá a um especialista o mais rápido possível. Depois de dito isso, o médico lhe aplicou uma injeção, recei- tou-lhe alguns comprimidos e mandou-a para casa. Lídia, ao sair dali, propõe-se a buscar um táxi. Porém, percebe que tinha pouco dinheiro. Resolve então voltar para casa de ônibus, porque o dinheiro que tinha era suficiente apenas para uma passagem de coletivo. Ao chegar ao seu apar- tamento, o único dos presentes que lhe restava, dado por João Eduardo, estava sendo questionado na Justiça pela adminis- tradora do prédio por falta de pagamento de condomínios e outras taxas ativas. Lídia, como sempre, continua adiando suas dívidas na esperança de que João Eduardo voltasse, con- forme prometido por pai Gildo. Só assim resolveria todos os seus problemas financeiros. O tempo passa e nada de João Passaram-se vinte e um dias. Ansioso foi esse tempo para Lídia, e nada. Assim como no início dos trabalhos do tal “Pai Gildo”, Lídia estava no mesmo ponto inicial: na estaca zero. Nada, simplesmente nada no que se referia ao retorno de seu homem, seu provedor João Eduardo. Enquanto isso, João, envolvido pelo feitiço de Pai Gildo, lutava e relutava contra sua vontade. A vontade de rever Lídia fazia com que ele sentisse algo que lhe puxava para aquela excitante mulher. Ao mesmo tempo, tinha como objetivo reconquistar Izabel. Era a luta entre o bem e o mal, do ódio contra o amor de sua amada esposa, que após aquele 33
  • 34. episódio sórdido, percebera o quanto amava. Mas, diária e continuamente, Izabel ingeria bebidas alcoólicas e sua casa continuava uma desordem. Não havia entendimento entre João, seus filhos e a esposa. Bastava-lhes algum gesto ou qualquer diálogo para que entrassem em choque. Enquanto Lúcio e os espíritos trevosos vibravam para que João voltasse para Lídia, assim a desordem seria total, os espíritos de luz, protetores de Izabel e João, ou melhor, seus anjos da guarda, vibravam a favor da reconciliação do casal e dos filhos. Era uma luta constante. As atitudes do passado e do presente, de ambas as partes, abriam um grande espaço aos espíritos negativos e corruptos, que aceitavam as ofertas ou presentes em troca de ver aquela família na lama, assim como eles são: perversos, vingativos e sádicos. Essas energias espargiam naquele lar um desconforto total, com atitudes e explanações errôneas e agressivas, sempre sob as más inspirações. Entre essa classe espiritual, há, assim como no plano material, uma divisão em diversas classes. Verifica-se no en- tanto que ali, no lar de João Eduardo, há uma definida classe espiritual trabalhando, composta de energias vãs emanadas por espíritos corruptos, concentrados entre a orgia e os víci- os gerais, trazendo aos poucos, àquele lar, uma atmosfera degradante e pontuada por más vibrações. O que se percebia era uma tentativa de invasão dos bons amigos do Plano Espiritual Superior. Porém, lhes eram escassas a luz que os irradiariam para o auxílio aqueles ir- mãos tão carentes. Não percebia João e toda a sua família, a grande tentativa que faziam os bons espírito ou anjos, irmãos espirituais abnegados, para ajudar a resolver tal situação. E eles persistiam, e eternamente continuariam, mesmo com to- das as dificuldades, a jorrar-lhes nem que fosse uma ínfima partícula de raios de amor, enlevada por suas boas vibrações. 34
  • 35. Por isso a degradação não era total, porque havia uma peque- na luz no fim do túnel. O mau pensamento ou as más atitudes se transfor- mam em más sintonias, que consequentemente atraem maus espíritos. O bom pensamento ou boas atitudes, por conse- guinte atraem bons espíritos e a paz. João não cultuava ne- nhuma fé ou não se lembrava sequer da existência de Deus. Ele continuava e persistia preocupado com o dinheiro em abundancia, com o lucro em alta escala. O dinheiro era a sua vida. O ser humano que vive em contato com nosso querido Deus O criador de todas as coisas, ou seja, o nosso Deus Onipotente, não importando a fé, ou as denominações que lhe derem, sempre será o nosso porto seguro. Quem não tem uma fé, certamente se torna escravo de si mesmo ou escravo de seu próprio egoísmo, além de estar totalmente vulnerável e sujeito às vibrações negativas. E quando isso ocorre com pessoas de má índole, que permanecem no erro e que não tem escrúpulos, geram em torno de si maus pensamentos: inveja, ciúmes, ego- ísmo, ganância desenfreada, corrupção, individualismo, calu- nia etc. E quando um espírito do mal se aproxima, encontra o maior de seus desejos, que é o de atormentar as pessoas, mate- rializando doenças e tirando o máximo de proveito que puder, sugando suas energias, incentivando aos vícios pelo psiquismo, ao roubo e até a homicídios. Essa pessoa, estando total ou parcialmente indefesa (sem nenhuma fé), logicamente será atingida, tornando-se uma presa fácil dessas vibrações maléficas. Sintomas físicos como mal estar, insônia, angústia, choros desmotivados, previsão ou sensação de morte e 35
  • 36. outros males. São assim que começam a se revelar as más sintonias. Isto é só o fim, ou o começo de uma situação degradante. Mas quando o ser humano tem sua fé, seja ela qual for, que pregue o amor ao próximo, à família, solidariedade e principalmente amor a Deus, tudo leva a crer que terá o seu anjo ou espírito guardião fortalecido, bem sintonizado, desig- nado por Deus 24 horas por dia, não importando se o nome de sua proteção seja Anjo da Guarda, Protetor, Espírito Santo, Energia ou Orixá. Nosso querido mestre Jesus afastava e conduzia os espíritos que obsedavam as pessoas para outras dimensões. Essas pessoas obsedadas estavam vulneráveis por causa de seus atos improcedentes. Provavelmente, João Eduardo, sua esposa e seus filhos, estavam vulneráveis e expostos a tal obsessão. Observemos o que dizia o Mestre Jesus às pessoas que eram vítimas de espíritos obsessores, também conhecidos como “legião”: – “Vás e não peques mais”. Ou pode-se dizer: Vá e tenha bons pensamentos e boas atitudes. Lídia volta ao Pai Gildo Lídia, voltando àquele lugar, bate palmas e logo é atendida. O auxiliar pede para que ela entre. Em seguida, surge Pai Gildo. – Tudo bem? Veio trazer-me boas notícias, não é mesmo? – Não – responde Lídia, desolada. O senhor prome- teu-me que João Eduardo voltaria entre sete a vinte e um dias. Já faz quase dois meses e nada. Ele ainda não voltou. Estou desesperada e com dívidas, muitas dívidas. Não tenho mais nem o que comer, e eu quero o João se arrastando aos meus pés, não só pelo que ele foi para mim ou porque ele me dava de tudo, agora eu o quero por vingança – e põe-se a chorar. 36
  • 37. Magoada pelos enganos e mentiras de João Eduardo e de pai de Gildo, frente a frente com seu guru, cheia de tormentos, se diz vencida por Izabel nessa batalha. E é bem verdade que Izabel, com todos aqueles problemas, era realmente uma vencedora. Afinal, ela usava uma poderosa arma: o amor que doava saído de suas entranhas, aos filhos a ao marido. Amor que estava guardado em seu íntimo, mas a bebida alcoólica estava lhe prejudicando, numa busca inútil por consolo e resolução dos problemas. Izabel, vagamente se apegava à fé, mas o que pedia, clamando, era com palavras verdadeiras. Nesses momentos, o seu coração se abria, despojado e seguro às suas preces. Mas, é claro que entre eles havia uma fenda já um tanto profunda, para que as energias inconstantes dali se provessem, para que os maus espíri- tos entrassem em sintonia com o ódio e a vaidade, cujo único objetivo era explorar esses sentimentos ao máximo, para comple- tar a maldosa destruição daquele lar. Enquanto isso, Pai Gildo diz a Lídia que é preciso reforçar o trabalho. – Então reforce, – respondeu Lídia, com muito ódio. – Vamos reforçar minha filha, só que eu preciso de mais dinheiro. – Dinheiro? Eu não o tenho mais dinheiro. Já lhe disse que não tenho nem o que comer. – Mas você disse que tem um bom apartamento. Vai ter de vendê-lo. – O Senhor acha que devo vender meu apartamento para continuar esse trabalho? – Minha filha, o que mais vale? O apartamento ou esse homem? – E se ele não voltar? – pergunta Lídia. – Você tem de confiar em mim, o trabalho já está quase dando o resultado que você deseja. Agora, só precisa de um pequeno reforço. 37
  • 38. – E em quanto fica esse “pequeno reforço?”. – Para que ele fique bem feito, quero que você me traga o quanto antes a quantia de sete mil reais. Garanto-lhe que o seu homem voltará, com certeza, no prazo de três dias. Lídia, espantada e com ironia, responde a pai Gildo. – Mas meu amigo, eu não tenho mais dinheiro, nem para comer. Ajude-me, por favor! Traga-me este homem que depois eu saberei ser muito generosa com você. Poderei ate lhe dar um carro novo. – Pois venda o seu apartamento. Sem dinheiro, não tem trabalho. E vá embora, porque tenho muita gente para atender. Lúcio, furioso, assim que Lídia vira as costas para Pai Gildo, com sua vibração ruim faz com que o tal “Pai Quiumba” leve um belo tombo, caindo de boca no chão. Lídia, por mais uma vez se sente derrotada e com os rins cada vez mais problemáticos. No desespero que sentia para alcançar aquele objetivo, a conquista do seu homem, ela se esquecera do mais importante: sua saúde, que se agravara. Ao chegar em seu apartamento, Lídia procura um com- panheiro para o seu consolo: o rádio. Sintoniza-o em qual- quer emissora e ouve a voz do locutor, que diz: – Você está desesperada, não é mesmo? Nada está dando certo em sua vida? Sua saúde está abalada? Seu espo- so ou namorado se foi? Nós temos a solução. Ligue-nos agora mesmo, porque teremos resposta de imediato para o seu caso. Temos aqui vários depoimentos e uma equipe que ora por você. Ouça alguns depoimentos. Lídia, muita atenta, começa a se envolver e a sentir- se realizada com aqueles depoimentos. Não teve dúvidas. Foi à casa de Anita, também enganada por Pai Gildo, e as duas tomaram uma decisão. Ansiosa, Lídia liga para o líder religio- so, o locutor, para um contato imediato. Logo ela é atendida 38
  • 39. pela secretária da tal emissora pirata, que lhe pede que escre- va uma carta para ser lida ao vivo pelo locutor. No dia se- guinte, após a carta chegar às mãos do locutor, este a respon- de, pedindo que as duas fossem à igreja para serem atendidas pelo reverendo. Eis o que o locutor respondeu no ar: – Eu sou o Reverendo Luiz e aqui estou com a carta de Lídia, que me conta sobre o seu estado de saúde, causado pela má situação financeira que está atravessando, além da triste ausência e o abandono de seu namorado. Eis o que esta se passando com você, minha filha. Você está com um traba- lho de feitiçaria muito pesado. Um Exu e uma Pomba-Gira aceitaram uma tarefa para acabar com você, e essa pessoa você conhece bem. É ela mesma, é exatamente quem você esta pensando neste exato momento. A minha vidência ainda me mostra todo o mal que fizeram a você. Esse trabalho par- tiu também de uma vizinha sua. Procure-nos com urgência, mas venha rápido, para que possamos fazer-lhe uma forte cor- rente de orações. Eu tenho o poder para lhe salvar dessa situação. Vou abençoar-lhe e seu namorado voltará urgente, mais rápido do que você pensa, minha querida ouvinte. Venha hoje mesmo. Lídia, já um tanto debilitada e com um péssimo as- pecto, consegue, com a ajuda de Anita, chegar ao local onde o reverendo reunia, pela força da comunicação, o rádio, mui- tas pessoas que se encontravam desesperadas e sem saber o que fazer. O encontro 39
  • 40. Quando Lídia se apresenta à secretária do reverendo, esta percebe que a pobre moça não se prezava mais ao futuro. Mas mesmo assim, após varias e varias perguntas, Silvia, a secretária do reverendo, diz à Lídia: Venda o seu apartamento e volte aqui. Nós não cobramos nada, mas você precisa só colaborar com ofertas para que possa- mos continuar pagando o aluguel desse enorme salão e o progra- ma de rádio, por meio do qual prestamos auxilio às pessoas que têm problemas iguais aos seus. Lídia alegou que seu apartamento estava à venda já há algum tempo, porém, não conseguia vender, pois nunca havia aparecido ninguém interessado. – Posso lhe dar uma idéia? – diz-lhe a secretária. Abaixe o preço que você está pedindo para vendê-lo, assim, ficará mais fácil a negociação do seu imóvel. Eu pedirei ao reverendo para que ore muito por você, e verá como será rápida a venda do apartamento. Façamos o seguinte: você me dá o seu endereço para que eu o coloque na fogueira da prosperidade. No dia seguinte, logo após lídia se levantar, toca a campa- inha. Era uma pessoa interessada na compra do apartamento: – Bom dia! Quero falar com dona Lídia. – Pois não, sou eu mesma. O que o senhor deseja? – A senhora está vendendo o apartamento? – É, estou. – Bem, estou interessado. Quanto a senhora quer por ele? – Veja bem meu senhor, o apartamento vale oitenta mil, mas estou pedindo cinqüenta mil, pois tenho urgência em vendê-lo. – Têm dividas? – pergunta-lhe o comprador. – Algumas taxas de condomínio atrasadas. Lídia lhe mostra os boletos. – Aqui está o que devo: Três mil reais. – Bem, eu lhe dou vinte mil reais. É pegar ou largar. 40
  • 41. – O senhor aceita um café? É a única coisa que posso lhe oferecer no momento. Lídia lhe oferece um café para ter tempo de pensar, pois estava sendo pressionada. Enquanto fazia o café, marti- rizava-se em pensamentos: “Aquele pessoal da igreja do re- verendo Luiz é realmente incrível. Fui ontem ter com eles e hoje já estou vendo o resultado. Isto é um verdadeiro mila- gre. Não é bem o que eu queria, mas até agora não havia aparecido nenhum comprador, e se eu pegar os vinte mil reais e tiver o João de volta, tudo estará resolvido em minha vida, pois se aconteceu este milagre, com certeza outro mila- gre acontecerá: João irá voltar”. Mas o que Lídia não sabia é que aquele sujeito, o com- prador sem escrúpulos e mal intencionado, era comparsa do revendo Luiz e de sua secretária Silvia, que o enviaram até Lídia para extorqui-la, executando uma compra desonesta e oportunista do imóvel, a preço irrisório, sabendo eles perfei- tamente, que através da sensibilidade emocional em que a moça se encontrava, certamente seria uma presa fácil, e eles bem sucedidos com a compra do imóvel. Com isso, teriam um bom lucro após vender o apartamento para outra pessoa pelo preço de mercado. Lídia, voltando da cozinha com o café, diz ao homem: – O senhor não pode melhorar um pouco mais a sua proposta? – Senhora, na verdade eu já estou quase arrependido, pois percebo que nesse apartamento tem alguma coisa. Aqui há uma tristeza muito grande, parece-me que tem macumba, feitiçaria, enfim, uma energia totalmente negativa que toma conta deste lugar. Quem morar aqui só terá problemas. Pa- rece-me que tem um feitiço muito bravo, coisas de vizinho. Após ouvir atentamente aquele homem, Lídia deduz rapidamente que João fora embora porque alguma vizinha 41
  • 42. invejosa lhe fez algum trabalho para tirar João de sua vida. Ao ouvir as estranhas palavras daquele homem, inesperada- mente, quase que suplicando, diz ao homem: – Pensando bem... Não, não vá embora! Vamos conversar! – Não, dona Lídia, eu não vou comprar mais o apartamento da senhora. – Então está bem, eu aceito os vinte mil. Fechamos o negócio agora? O comprador convida Lídia a ir ao seu escritório para concluir o negócio. Assim, consumado o negócio, ela entrega as chaves do apartamento ao homem. E a convite de sua amiga Anita, Lídia vai morar com ela, dividindo ambas as despesas de aluguel, telefone, alimentação e outros. – Você viu Anita? Agora vai ser tudo do jeito que eu quero. Aquele canalha logo em breve estará aqui, em minhas mãos. O pessoal do reverendo Luiz é ótimo, fomos num dia e no dia seguinte consegui vender o apartamento. Temos que ir lá o quanto antes para eu dar a minha oferta, para que João Eduardo esteja logo, bem aqui, aos meus pés. Vamos Anita, arrume-se enquanto eu pego um táxi. – Que nada Lídia! Vamos de ônibus, você precisa economizar. – Que economizar, que nada. Logo, logo o João vol- tará e meus problemas financeiros estarão resolvidos, mesmo porque, eu não estou bem de saúde. De vez em quando me dá umas crises e eu tenho muitas dores nos rins. Estou urinando sangue. – Cuidado Lídia, você precisa se cuidar, mulher ! – pre- vine Anita. – Assim que João voltar para mim amiga, irei tomar providências em relação à minha saúde. Irei me tratar nas melhores clínicas e aproveitarei para fazer algumas correções, 42
  • 43. com cirurgias plásticas e estéticas faciais. E você Anita? O seu namorado não voltou? – É, mas eu prefiro não mexer mais com essas coisas, vou deixar nas mãos de Deus. O que for meu virá em minhas mãos. Bem, até que enfim chegamos à igreja do reverendo. Na igreja Lídia aborda um atendente. – Boa tarde moço, quero falar com a Sílvia. – Quem quer falar-lhe? – Diga que é a moça do apartamento que ela saberá . – Qual é o seu nome moça? – Diga-lhe que é a Lídia. Em seguida, aparece Sílvia. E Lídia, dirigindo-se a ela com entusiasmo, diz: – Vocês são demais. Eu vim o mais rápido para agrade- cer-lhes, e também para trazer a oferta prometida. Diga-me o quanto devo dar como colaboração, além do meu testemunho. – Bem Lídia, você colaborando com ofertas, no máxi- mo em três dias seu namorado estará de volta, com toda a garantia. – Quero saber o quanto devo doar. – Quanto mais você puder colaborar, mais rápido seu namorado voltará. Faça esse desafio e você verá como o mila- gre acontece rápido. Faça isso. – Duzentos reais está bom? – Se você acha que estamos aqui pedindo esmolas, está totalmente enganada, moça. Isso é uma ofensa. Bem, faça o seguinte: Doe a metade do que conseguiu com a venda do seu apartamento e você verá o milagre acontecer. Reafirmo-lhe que em três dias você terá o seu homem de volta, eu lhe garanto. Anita quis interferir, dizendo que aquilo era um 43
  • 44. absurdo. A secretária Sílvia, porém, percebendo a intromissão de Anita, chamou Lídia para outra sala para torná-la sua presa. – Dez mil reais? – indaga Lídia, com admiração. – Sim, exatamente dez mil reais – afirma a secretaria do tal reverendo. E foi o preço que Lídia pagou por seu ato de simplicidade, desespero e fé naquela quadrilha. Silvia, a secretária confiável do reverendo, participava de um esque- ma sórdido, cuja finalidade era só usufruir do desespero das pessoas com promessas e garantias em tudo o que se dizia relativo à solução de problemas. Lídia em estado grave Lídia, ansiosa, aguardara os três dias. Porém, João Eduardo não regressara. Os dias se passavam e o seu cora- ção, totalmente em frangalhos, se desajustava em seu peito sórdido, seco, frio, quase em morte. E João Eduardo, não mais. Ou nunca mais. Sua doença estava cada vez mais grave e Anita tenta- va ajudá-la do jeito que podia. Lídia dizia à amiga que os seus caminhos se estreitavam a partir dali. Enferma de corpo e alma, se calava pelos cantos. Porém, com muita revolta, não ouvia ninguém, e também não obtinha mais respostas aos seus clamores. Talvez a vida lhe obrigara, a partir daquele momento, a se conformar. Anita, por sua vez, passou a frequentar um templo budista, onde, bem orientada, se instruiu e passou às medita- ções e à leitura de bons livros, tornando-se em pouco tempo uma pessoa mais alegre, passando a compreender e a aceitar o que a vida podia lhe dar. Entendia que na vida, faz-se sintonia com as leis de causa e de efeito. O bom torna-se bom, o ruim se multiplica e torna-se ainda pior. Metafisicamente falando, o sobrenatural aprofunda-se 44
  • 45. nela através de leituras feitas em livros extraordinários, assim como os bons livros espíritas, e, além do mais, de fundo cientí- fico elevado, trazendo-lhe fontes tranquilas para a sua alma. Lídia, totalmente apegada aos seus encantamentos, es- quece de sua saúde física, já um tanto afetada pelas esperas e pela angústia. É aconselhada várias vezes por sua amiga a cuidar de sua saúde. Após visitar um consultório médico, imediatamente recebe das mãos do doutor uma guia de internação em caráter de urgência, por sorte em um hospital que ficava bem próximo à casa onde ela morava com sua amiga Anita. Após vários exames realizados por uma junta médica, foi feita uma biopsia e concluiu-se que os rins de Lídia esta- vam totalmente comprometidos, pois ela tardara a procurar por tratamento. Após o diagnóstico feito, encontraram um enorme tumor maligno bem próximo ao seu coração e outro no rim. Quem sabe não teria sido o resultado de tantas lágri- mas, tanto ódio e tanta angústia? Ou, quem sabe, não estaria ali já há muito tempo, somente aguardando o momento de mostrar-se em dores, para arrancar-lhe o máximo de sofrimento. O tempo, curto o tempo, deixa por alguns dias a jo- vem mulher banhar-se com as próprias lamúrias, para depois de derrubadas suas lágrimas, afagar suave o “benéfico mal” que guar- dava em seu peito com as delicadas mãos, aceitando-o diante do tempo que ainda lhe restava de vida. Termina aqui a passagem de Lídia pelo plano Terrestre, mas perguntas pairam: Será que Lídia teve oportunidades de resgatar dívidas? E para onde teria ido? Lídia acreditava parcialmente que as pessoas, João Eduardo, por exemplo, é que tinham por obrigação cumprir com os compromissos dela e promover seus devaneios. Seria Justo? Lúcio, junto àquela legião de espíritos trevosos, resolve que deveria resgatar Lídia para se juntar a eles, mas sabendo de antemão que não seria tão fácil, afinal, ela tinha 45
  • 46. seu livre-arbítrio. – Será que Lídia perdera essa oportunidade de se vingar de João? – questiona Lúcio. Há um pequeno trecho bíblico que diz: “Nem filho paga por pai, nem pai paga por filho”. Será que essa lei fará com que a alma de Lídia fique por aí, vagando? Após a morte de Lídia, Anita resolve mudar-se, pois sentia um grande vazio em sua casa: faltava-lhe a amiga. Anita recordava-se muito de Lídia e passou a frequentar um bom centro espírita. Lá, formavam-se grupos de voluntários para visitas constantes às crianças excepcionais. E Anita sempre se fazia presente nessas oportunidades, além de continuar fre- quentando o templo budista, onde aprendera a meditação, o jejum e a reflexão. Entre os frequentadores daquela casa de caridade, Anita conheceu Oscar, um homem culto, de meia idade e boa procedência, cuja humildade jorrava de seus lábi- os em forma de sorriso. Um cavalheiro que lhe cercava de atenção, fazendo-a dele se aproximar num encantamento de amor. Houve entre ambos, as flores e o namoro. O desejo de estar sempre junto dela, de lhe dar flores, era uma realidade fantástica que fazia Anita fruir em seu co- ração, também muito sofrido, o desejo da vida, o desejo de amar. Mas como em todo sonho ou conto de fadas, de repente, sem motivo, uma emoção profundamente triste, va- zia, faz surgir dos lábios de Oscar uma doçura ternamente transformada em um gosto amargo, ao dizer a Anita que não poderiam mais se envolver, que ele se afastaria dela por mo- tivos alheios à sua vontade. Há dois anos, Oscar tivera um romance com uma moça chamada Camila. Depois de perceber que não havia nada em comum entre ele e Camila, que eram desajustados, ele foi amar- gamente traído por aquela mulher, que preocupada somente com 46
  • 47. o seu bem-estar, feriu-o intensamente com suas falsas juras de amor, transformadas por Oscar em decepção e desconfiança no sexo oposto. Certamente que Anita lhe parecia diferente, no en- tanto, não confiava nela o suficiente para viver uma bela his- tória de amor, assim como sonhara. Quis colocar à prova a paixão, o amor e a honestidade de Anita. Esse afastamento de Oscar foi uma determinação um tanto insegura e vulgar da parte dele, que por não ter nenhu- ma experiência com as mulheres, acreditava que seria o úni- co caminho para chegar ao que ambos buscavam: o amor. O coração de Oscar ficou imensamente amargurado, e o de Anita, duplamente amargurado, pois sabia o que havia acon- tecido no passado entre Oscar e outra mulher. – Anita! O melhor que devemos fazer é nos separar, paremos por aqui. Não mereço você, sou só um tolo, não sei lidar com as mulheres, não podemos mais ficar juntos Ela rebate as suas palavras respondendo-lhe: – Oscar! Que brincadeira é essa? O que está acontecendo? – e se põe a chorar. Momentaneamente, ao levantar o rosto, percebe que o homem a quem estava aprendendo a amar se encontrava ali chorando, e a passos lerdos ia aos poucos se afastando dela, silencioso, pés rastejantes, para que talvez nem mesmo os seus rastros ficassem. Ele sabia perfeitamente que seus ras- tros seriam as suas saudades. Oscar não diz mais nada e vai-se embora, com a cer- teza de que Anita sairia à sua procura. Pobre mulher... Ali, surpreendida, os seus braços não se moviam e suas pernas só lhe deram forças para que se ajoelhasse no chão, sozinha, lançan- do um grito triste acompanhado de um choro sórdido, tão sór- dido, que instantaneamente a fez se calar. Aquela noite, uma noite de inverno, estava muito fria. 47
  • 48. Anita tinha preparado uma bebida muito saborosa, com uma receita elaborada por sua mãe que ela jamais esquecera. Nessa bebida estavam incluídos os seguintes ingredientes: chocola- te, ovos, leite, açúcar e uma pequena dose de conhaque. Jun- to àquela bebida viria também um pouco de sua história de vida, de suas labutas e tudo pelo que já tinha passado em sua vida. Anita nascera em uma família pobre, originária do sul do Brasil. Ainda menina, que viera para a cidade grande para conquistar uma vida mais digna. Mas e o seu amor? Por que não teria Anita sorte com o amor? Que Deus tomasse conta de sua alma. Alguns dia se passam e Oscar, por intermédio de ou- tras pessoas, fica sabendo notícias de Anita. Ela não andava bem, estava abatida e muito deprimida. A verdade é que ele a queria, e sofria muito com a separação. Oscar era um homem simples; não possuía bens e vi- via com um salário razoável. Um homem de 40 anos cuja vida sempre fora voltada para o trabalho. Após o episódio com Camila, Oscar jurou para si mesmo que nunca mais pas- saria por uma situação daquela natureza, que o envolvera em traumas, tristezas profundas, traição, desilusões e inquieta- ções. Mas Anita, não! Por que Anita? O seu amor por ela tirava-lhe os domínios que impusera para o seu destino! Deve- ria procurá-la? Sim é claro que deveria, porque nada soubera de erros passados. Anita lhe dissera tudo num gesto transpa- rente, para nada ficar-lhe oculto. E será que ela o perdoaria? O que Anita nem imaginava era que Oscar, na verda- de, era um empresário bem sucedido, que ocultara dela os seus grandes bens financeiros. Era dono de uma siderúrgica que empregava 1.500 funcionários. A tristeza, irmã melancólica da depressão, comparti- lhava as horas com Anita após a sua separação de Oscar. Do 48
  • 49. silêncio oculto que se fazia em sua casa, nada se ouvia além dela mesma e de suas lamentações. Para si, todas as manhãs lhe eram vazias, as tardes pareciam não existir mais, e desejava o véu da noite pra morrer com ele. As noites lhe eram frias e trevosas. Às vezes chamava por sua amiga que já se fora, outras vezes temia a presença de Lídia, chegando a sentir fortes arrepios e temores em um dia que invocou a presença da amiga falecida. E poucas lhe foram as noites tranquilas em que conseguia dormir. De repente, numa manhã, ao levantar-se da cama olha para o espelho e assustada e põe-se a chorar. Teria perdido uns bons quilos de peso corporal. Sua fisionomia era cadavé- rica, flagelada. Imediatamente toma o seu banho e troca a sua roupa para dirigir-se a um hospital, pois daquela forma não poderia continuar. Que Ironia, mais uma vez, o destino Anita, em uma de suas idas ao hospital, ao passar por alguns exames não sabia que ali, onde se tratava doentes, um dos provedores do hospital teria o nome de Oscar. Ela real- mente não se importava com o nome, porque não seria o mesmo Oscar a quem ela tanto amava, jamais, pois ele não teria o mínimo de condição para ser um provedor daquele complexo hospitalar. Em uma das consultas, um médico sim- pático chama-lhe pelo nome ao atendê-la. Dr. Osvaldo, ao examiná-la sorrindo, lhe dá o diagnóstico: chama-o de “solidão”. Essa situação despertou nela grandes atenções, e aquele doutor passou-lhe um carinho especial através das palavras, pois sabia que a situação daquela senhorita estava ligada somente ao fator psicológico. O que resta dizer é que, após algumas visitas ao hos- pital, Anita sente que ainda teria possibilidades de se reerguer, 49
  • 50. por encontrar ali uma pessoa que se tornou um grande amigo, que era o Dr. Osvaldo. Mas ela sentia que ele lhe omitia algu- ma coisa, ainda assim, confiara a sua vida a ele, pois suas palavras lhe confortavam, e muito. O tempo passava. Depois de suas visitas ao médico, Anita conseguira se estabilizar, retornando à vida ativa. Não se esquecera por todo de Oscar, mas já se sentia melhor, qua- se pronta para o labor. Algumas sessões lhe foram feitas por profissionais na área de psicologia, para ajudá-la em seu pro- gresso íntimo. E sempre ali presente estava o seu “Dr. Ami- go”. E nessa vigilância, com algumas visitações médicas, Anita sente-se muito bem. Só que uma coisa começava a afli- gir a sua mente. Por que tanta atenção do Dr. Osvaldo? Foi quando caiu em si. – Meu Deus! Não pode ser! Eu não devo mais passar por essa penosa situação. Um dia, ao examiná-la, Dr. Osvaldo, não contendo mais sua paixão mas sem lhe faltar com o devido respeito, fez-lhe um elogio, convidando-a para jantar. – Anita, você é e está hoje ainda mais bonita. Não gostaria de jantar comigo? – Dr. Osvaldo, o senhor é realmente uma pessoa mui- to interessante, bonito. Um excelente médico, de boa posição social e tem uma missão maravilhosa, que é a de curar as pessoas. O senhor é tudo que uma mulher equilibrada sonha. Mas o meu coração doutor, meu coração está totalmente ocupado, e para sempre. – Você me desculpe, Anita. Pensei que você fosse solteira e que não tinha compromisso algum. A sua ficha diz que você é solteira. – Sim, sou solteira e não tenho namorado, não tenho ninguém. Quem eu realmente amo, profundamente, foi embora sem dar-me explicações. – E como se chama esse felizardo, Anita? 50
  • 51. – Isso agora não importa, doutor. – Desculpe a minha curiosidade, estou querendo saber demais de sua vida. – Não, não há problema. Eu é quem lhe devo descul- pas. Fui um tanto grosseira e o senhor me é tão gentil. A pessoa a quem amo se chama Oscar. Ele trabalha em uma siderúrgica. Não tem o seu status, é uma pessoa simples fi- nanceiramente, porém, um perfeito cavalheiro tanto quanto o senhor, doutor. Ele é tudo o que eu sonhei para completar a minha felicidade: Um homem pobre financeiramente, mas rico de alma, rico em suas convicções, em seus planos. Só que eu não entendo porque ele se foi. Não pensou nas sequelas que me deixaria ao afastar-se de mim, sem que existisse al- gum motivo ou justificativa para isso. – Ele não lhe deu nenhuma explicação? – pergunta Dr. Osvaldo. – Por que Oscar? Por quê? Se você soubesse como eu te amo e o quanto te odeio por isso. Eu tinha planos para nós dois, mas tudo não passou de uma mentira. Em seguida, Anita se despede de Dr. Osvaldo e ele lhe pede desculpas. – O senhor não imagina o bem que me fez com esse convite, auxiliando-me em meu interior, levantando minha autoestima. Quando vim a este hospital, desolada, jamais pensei em meu regresso como pessoa normal. Mas com as bênçãos divinas, encontrei-me com o senhor e lhe fiquei de- vedora. Foi aqui, através de seu braço amigo e de seu coração maravilhoso que me fiz novamente filha de Deus, uma pessoa normal. E foi exatamente isso que eu tanto precisei para erguer-me novamente. Fico-lhe grata doutor, muito grata. Que Deus o ilumine sempre. Oscar, além de provedor daquele hospital, também o era em outras instituições filantrópicas, em especial numa casa 51
  • 52. espírita, onde ele se sentia muitíssimo bem na companhia de crianças “especiais”. Mas mantinha sigilo total, para que sua solidariedade não perdesse a essência da caridade. Lídia vaga sobre a Terra Após a morte de Lídia, com o seu espírito já desliga- do do corpo físico, ela se encontra numa dimensão de baixa frequência, com outros espíritos da mesma faixa vibratória. – Que lugar é este? – pergunta Lídia. – Que horrível! Onde estou? Responde-lhe, telepaticamente, um dos espíritos ali presentes: – Aqui, minha cara, é a sua nova casa. – Como assim? Eu tenho de encontrar Anita. Pelo que sei, ela estava comigo no hospital, e aqui não me parece ser um hospital. – Verdadeiramente, aqui não é um hospital, você esta certa. Aqui é outro lugar, é a sua nova casa. O seu corpo você deixou lá no hospital, e de lá ele foi levado para o cemi- tério. Seu corpo agora está podre! Podre, você entendeu? Em decomposição. – Não entendi e você está falando bobagem. Eu estou aqui, viva e com muitas dores. Diga-me onde posso encontrar um médico. Como ninguém a atendia em seus apelos, confusamente ela perguntava: – Por favor, diga-me a verdade! Eu quero voltar pra casa! – Como você se chama? – alguém pergunta. – Eu me chamo Lídia. – Olhe aqui moça, você agora é um espírito, só espírito. O seu corpo está debaixo da terra, podre, todo podre. Você entende isso? Logo ali na frente tem um homem que se cha- 52
  • 53. ma Lúcio. Ele esta à sua procura faz tempo. Tem outro ali que você já conhece. Foi assassinado de tanto enrolar os ou- tros enquanto viveu na Terra. Um belo dia ele achou um que fez dele churrasco! Vá até lá que você descobrirá quem ele é. – E você, quem é? Pergunta Lídia. – Bem, eu era ladrão, assassino, estuprador etc. Só que, após vários anos, comecei a entender que estou aqui na condição de espírito, sofrendo um monte neste lugar horrí- vel. Estou aqui de acordo com as minhas ações. É aqui o nosso lugar, e pode ir se acostumando, minha cara. – Estou com frio, com fome e com muitas dores. – Para você se alimentar terá que esperar. Bem, eu não estou aqui pra lhe ensinar nada, aqui é cada um por si. – E onde está a pessoa que eu conheço? – Vá andando por aí. Depois daquele lodo você o encontrará. Será fácil você encontrá-lo, pois ele está todo deformado, talvez se banhando no lodo que ele mesmo construiu. – Então ele está vivo! – responde Lidia. – No meu caso, se eu sinto dores em todo o meu corpo, certamente é porque também estou viva. Sabe de uma coisa, você está me enrolando, seu mentiroso. Naquele momento, surge na presença de Lídia um espírito de aparência suave. Após cumprimentá-la, ele lhe diz: – Chamo-me Rafael, sou um espírito que trabalha na linha que divide o bem do mal. Sou conhecido por vários nomes no planeta Terra. Alguns me chamam de Guardião, outros de Exu, Portal, Auxiliar... Assim, rotulando-me com nomes diferentes e credos também diferentes. Por vezes somos confundidos com espíritos que sentem prazer em fazer o mal. O que fazemos, no entanto, é trabalharmos ardorosamente para manter o equilíbrio no Universo, e vim aqui neste lugar de tre- vas com a missão de lhe fazer um convite. Venha conosco para 53
  • 54. uma colônia espiritual, onde você terá grandes oportunidades de um bom aprendizado e conforto espiritual. – Bem, Sr. Gabriel ou Sr. Rafael, – responde Lídia – isso pra mim não tem a menor importância. O que me inte- ressa no momento é falar com o homem que aquele outro espírito diz que eu conheço. Você pode me dizer onde ele está? – Eu lhe recomendo que não o veja, pelo menos por agora. – Veja bem, Sr. Rafael ou Sr Exu, seja lá o que for. Sempre fui dona do meu nariz. Não lhe conheço e não aceito suas ordens ou recomendações. Eu tenho um objetivo, que é reconquistar o homem que perdi. Não estou bem de saúde, sinto muitas dores. Sinto fome e muito frio. Quero resolver minhas pendengas. Você pode me dizer onde está a tal pessoa que aquele cara disse que eu conheço? Sim ou não? – Aqui você tem vontade própria, ou seja, tem o seu “livre-arbítrio”. Portanto, você é livre para ir e vir. Siga o seu caminho e encontrarás quem procura – responde Rafael. Após algum tempo, Lídia se depara com Lúcio e Gildo, o tal feiticeiro. Com muito espanto, ela exclama: – Você por aqui? Nossa! Pai Gildo, como você está péssimo, seu pilantra! Cadê o João, que você jurou que no máximo em 21 dias estaria comendo em minhas mãos? – Agora ficou mais fácil, minha cara! Este aqui é Lucio. Você não o conhece, mas ele esteve sempre ao seu lado, ten- tando lhe ajudar. Ele era namorado da esposa do seu amante. Vamos formar uma equipe e nos preparar para uma viagem, e lá você terá o seu homem a hora em que você quiser. O terá até 24 horas por dia. O que você acha? – Você está tentando me enrolar outra vez, não é mesmo? – diz Lídia. – Tente entender uma coisa moça, nós estamos mor- 54
  • 55. tos! Mortos, entendeu? Estamos mortos fisicamente, como se diz na Terra. Agora nós estamos em outro plano, que muitos chamam de “Inferno”. Aqui, ou você se une a nós, ou você se declara nossa inimiga. Como queira minha cara. Lídia, já um tanto amedrontada, procura disfarçar, buscando resolver as suas preocupações e necessidades físicas. – Como é que a gente se alimenta por aqui? Estou com muita fome... Sinto frio e tenho dores. – Para nos alimentarmos por aqui – diz o feiticeiro – temos que vagar sobre a Terra para sugar as energias das pessoas que nos dão abertura. – Como assim? O que é abertura? Não estou enten- dendo nada, meu caro – responde Lídia. – Quanto mais as pessoas cometem erros, mais elas ficam vulneráveis, ficando assim mais fácil para nós. Mas não tenha pressa para aprender, pois você terá tempo disponível em seu aprendizado. Aos poucos você aprenderá a fazer isso, é muito fácil. O que basta é que você não tenha piedade de ninguém, pois o ódio é a arma mais eficiente para nós. Lídia, muito confusa com aquela situação, não sabia se era realidade ou sonho. Dizia para si mesma ser só um sonho, apenas um sonho. Era o que estava lhe acontecendo, era no que ela queria acreditar. Aquilo tudo não se passava de um sonho ba- nal, afirmava Lídia para si mesma. Mesmo acreditando que estava sonhando e que ainda es- tava viva e na Terra, ela pergunta ao feiticeiro: – Então, Pai Gildo, diga-me, o que foi que lhe aconteceu? – Bem, minha cara, das coisas que não resolvi em sua vida, muitas outras pessoas eu também enganei com minhas mentiras e traições. Até que um dia, de tanto enrolar os outros, acabei me dando mal. – Mal como? – É, minha cara, fui procurado por um libertino ex- 55
  • 56. plorador de mulheres, popularmente conhecido como cafetão, você entende? Ele estava desesperado para conquistar uma bacana e tomar o dinheiro dela. Eu o fiz vender o carro e a casa para me pagar um trabalho, que jamais fiz direito. E foi daí que, após a promessa vencida, ele notou que eu não tinha feito trabalho algum, da forma como ele queria que aconte- cesse e, mordido de raiva, me arrancou da Terra e me man- dou pra cá, para o inferno. Jogou gasolina em meu corpo e sem piedade ateou fogo. Por isso estou todo deformado. Mas estou convicto de que aqui é realmente o meu lugar, pelo fato de ter enrolado muitas pessoas. Mas não me arrependo de nada de errado que fiz. Aos gritos, o feiticeiro retumba bem alto: – Quero que se dane! E, voltando para Lídia, ele diz: – Agora, depois de estar ciente que aqui é o meu lugar, faço uma imensa questão de buscá-lo para que ele viva aqui também. Esta será a mi- nha vingança, ele será meu escravo, pois este é o meu, maior objetivo. – Mas aqui há muitos moradores? – pergunta Lídia. – Sim, aqui há muitos moradores, e vão bem mais além do que você imagina. Aqui é a morada de corruptos que enganam as pessoas, exploradores mentirosos etc. Mais pra baixo, é a de assassinos, gananciosos, mesquinhos e fraudu- lentos. Mais abaixo, de estupradores e outros, enfim, de ho- mens que conhecem o poder Divino, mas que persistem no erro ou na rejeição, assim como eu, que estou aqui por minha opção, porque sou alimentado pelo ódio e seduzido a conti- nuar aqui por aqueles espíritos que trabalharam comigo, os quiumbas (espíritos trevosos). E aqui há muitos políticos e líde- res de nações, que manipulavam o seu povo e ainda manipu- lam, interferindo junto aos maus políticos que lá na Terra ainda vivem, pessoas que eram consideradas importantíssimas na Ter- 56
  • 57. ra, mas que aqui são consideradas lixo dos mais podres. Novamente Lídia pergunta ao feiticeiro: – Mas se você morreu recentemente, como pode saber de tudo isso e eu não? – Você se esqueceu de quem eu fui? Fui e sou um feiticeiro, fiz vários trabalhos para atrapalhar os outros e por isso lhe afirmo: sou um mau espírita com muito prazer. Eu praticava somente magia negra, trabalhava com espíritos pe- rigosos e hei de me tornar um desses líderes ou gênios do mal. Vivia constantemente invocando espíritos trevosos para fazer o mal às pessoas. Lídia, confusa com as respostas dadas pelo feiticeiro, confessou-lhe que realmente estava uma tanto atrapalhada, porque não imaginava nada daquilo. O tal Pai Gildo, no entanto, entre comparações lhe diz: – Minha cara, assim como existem maus espíritas, há de existir também maus pastores, maus padres, e tantas ou- tros, de tantas outras religiões existentes na face da Terra. Eu, Pai Gildo, o feiticeiro, conheci a vida e a morte. Por op- ção dediquei minha vida em lidar com essa qualidade de espí- ritos, pois me identifiquei com eles. Só não sei lhe dizer se fui fruto desse ambiente. Mas aqui estou por questão pessoal e me dou bem, mesmo sofrendo muito. O sofrimento me traz mais ódio, e o ódio me alimenta. Me considero um psicopata, apren- diz de gênio do mal. – Mas por que você quer ser tão perverso assim? – Você, moça, não conhece o que é maldade, pensa que sabe fazer o mal, mas na verdade é uma otária. Nós aqui nada somos em relação aos nossos chefes, os chamados espíritos das tre- vas. – E os Exus? – pergunta Lídia – Quem são eles? – Os Exus podem ser comparados a policiais. Alguns mais evoluídos, outros menos, alguns mais severos outros mais amenos. Eles trabalham como voluntários na linha que divide o 57
  • 58. bem do mal, para manter o equilíbrio universal, assim dizem eles. – E você pretende sair daqui e ir para um lugar melhor? – O que me segura e me alimenta aqui é o ódio, como já lhe disse, pois foi pelo ódio fui criado por meus genitores. Meu pai carnal era um matador pistoleiro feroz, um pistoleiro que matava pra ver o tombo, e minha mãe uma pilantra de marca maior. Gosto muito de ver os outros sofrerem, assim como eu sofri na minha infância e juventude. Tornei-me um sádico, por isso sempre gostei de invocar os maus espíritos para fazer amar- rações e também para fazer o mal aos outros E você Lídia, quer sair daqui? – Se é que não estou sonhando, e se tenho o poder de fazer o mal aos outros também, então, só tenho um objetivo, uma só coisa a fazer: Quero o João Eduardo em minhas mãos, quero vê-lo se arrastando aos meus pés como um animal ferido. Nesse momento, Lúcio solta varias gargalhadas e afirma: – É isso aí! E pode contar comigo, Lídia, já que é isso que você quer e agora sabe que não é um sonho! – É, eu sei que nada mais conseguirei, o que me resta agora é me consolar com essa situação e trazer aquele maldi- to para este lugar, para eu saciar minha vingança. O feiticeiro lhe diz: – Pois é, já que você não acredita totalmente em sua morte física, vou lhe mostrar um quadro visionário de como você morreu e como está hoje o seu corpo embaixo da terra, decomposto após algumas semanas devido à ausência de sua alma. Assim, você poderá tirar todas as suas dúvidas. Agora olhe nesse espelho que está logo aí, na sua frente. Lídia, ao ver sua própria imagem fria e triste, numa sepultura solitária, fica também muito triste e começa a solu- çar, dizendo que aquilo não era possível, porque ela estava ali, totalmente lúcida a conversar com Pai Gildo e Lucio, que aquilo não passava de mais um truque baixo daquele patife. 58
  • 59. O falso Pai de Santo, sarcasticamente se põe a sorrir com altas gargalhadas, dizendo-lhe: – Minha cara, isso que você está sentindo é totalmen- te normal. Porém, terá que aceitar por ser esta a sua realidade agora, pois você se encontra em outro plano de vida. – Não me venha com mais uma de suas mentiras – responde Lídia – Eu não acredito mais em você! – Eu queria poupá-la de mais sofrimentos, mas já que você insiste, então olhe mais uma vez no espelho que verá no seu quadro de existência: a sua própria morte, física, é claro. Lídia, ao voltar-se de frente para o espelho, fica es- pantada ao ver-se morrendo naquele hospital. Lembra-se que, agonizante, pedia às pessoas que estavam ao seu lado por ajuda, mas ninguém lhe fazia caso. Certamente porque ela, naquele momento, já se encontrava desligada, para fora de seu corpo físico e se transferindo para o Plano Espiritual, pelo fato de ninguém estar ouvindo os seus apelos, pois espírito não tem cordas vocais. Aos poucos Lídia vai se afastando do espelho ao ver exatamente a triste cena de sua própria morte. Ao perceber- se de frente para o espelho, reconhece que naquela imagem o seu corpo entra em estado profundo de inércia, para logo após erguer-se, como uma cópia feita ou um clone de seu próprio corpo físico, na condição de espírito ou alma miserável em total degradação. Naquele instante, mistura-se nela medo e revolta, por não poder rever seus bens materiais, o luxo ou a boa vida que desfrutou na companhia de João Eduardo. Só lágrimas, além das dores, fome e frio. Muitas lágrimas! O tal Pai Gildo, ao vê-la sentada no chão com as mãos desesperadas sobre a cabeça, tenta lhe dizer algo. – É assim mesmo, minha cara, é assim mesmo. É a lei de causa e efeito. 59
  • 60. O feiticeiro, como já era prático na indução das pessoas, e prin- cipalmente de espíritos, quando em seus momentos psicológi- cos frágeis, aproveita para induzi-la aos seus planos sórdidos. – Veja, é como eu lhe falei. Vamos formar uma equipe e você aprenderá muitas coisas. Ficaremos mais fortes nos unindo, aí, você poderá fazer dele, digo, do tal de João Eduardo, o que você quiser. Pense, pense bastante e não tenha pressa. Após algum tempo, Lídia, obstinada e um tanto re- voltada por sua atual situação, aprende, por meio da indução do feiticeiro, como se tornar um espírito obscuro. E com uma equipe pronta, sob o comando de Pai Gildo, parte em busca dos seus maldosos objetivos. Lúcio se oferece para participar daquela equipe, sem saber que se tornaria mais um escravo do tal feiticeiro. Na casa de João João, conversando com Izabel, diz: – Bem que você poderia amenizar mais com a bebida, Izabel. Eu acho melhor procurarmos ajuda, existem clínicas especializadas para esse caso. – Não se esqueça João, foi você quem provocou esta situação – responde Izabel. – Izabel, você está dando um péssimo exemplo aos nossos filhos. Eles não são mais crianças, já estão saindo da in- fância para a adolescência, e esses maus exemplos lhes são muito perigosos. – João, eu tenho consciência disso, quero parar, mas não consigo. Mas e você, já pensou nos seus maus exemplos? – Izabel, você deve procurar fazer um tratamento, pois está se tornando uma alcoólatra. – Não vai adiantar João, porque isso não é doença. 60
  • 61. Eu vou parar, você verá, é só deixar que a minha mágoa passe. Me dê um tempo. Parcialmente, Izabel estava certa. Só o que ela não sabia é que a sua mágoa abria fendas para que espíritos vici- ados lhe induzissem através de bebidas alcoólicas, que favo- reciam a eles. As energias eram sugadas, fortalecendo as suas forças negativas e, através de artimanhas, realizavam as suas maldades. Por conseqüência do álcool em excesso, poderia provocar sequelas em Izabel e traumatizar seus filhos. Passados alguns dias, Izabel, tocada pela bebida, co- meça a contar aos seus amigos sobre a situação que está pas- sando com sua família. Por que não poderiam eles ser felizes? Será que ele, João Eduardo, estaria com algum plano macabro, por isso nada fazia por ela, somente esperando por sua morte para poder ficar totalmente livre para Lídia? Na verdade, o que Izabel e João Eduardo não sabiam é que a pobre mulher já havia falecido. João, a parte, escuta sem querer as lamúrias de Izabel e, após suas amigas irem embora, tenta conversar com sua mulher. – Izabel, eu tive uma aventura com aquela mulher, mas me arrependi amargamente. Eu nunca mais a vi por op- ção minha, porque optei por você, entenda de uma vez por todas. Nós não estamos mais juntos, confie em minhas pala- vras. Ela não está mais em minha vida, nunca mais a vi, mesmo porque, ela desapareceu. O que posso dizer-lhe é que nem mes- mo sei onde ela anda e nem quero saber. – Quem? A tal Lídia? – pergunta Izabel – João, acon- tece que eu não sou tola como você. Se ela parou de vir aqui para me atormentar, logicamente ela está com você, e vocês dois, com certeza, têm um acordo. João Eduardo irrita-se naquele mesmo instante, como se um ódio imenso o atravessasse e adentrasse em si, em for- 61