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Emergência ABRIL / 2020
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PSICOLOGIA NOS DESASTRES
Deslizamentos, enxurradas, inundações.De
novo, o mesmo enredo.Como sempre, como to-
do ano, no verão, o Brasil assistiu estarrecido a
estas tragédias.Desta vez, foi, principalmente,
em Minas Gerais, que deixou mais de 60 mor-
tes, Espírito Santo onde ainda há desabriga-
dos, a região metropolitana de São Paulo que
parou com grandes inundações, e na Baixada
Santista onde vidas foram perdidas, inclusive
de profissionais que estavam envolvidos nas
ações de salvamento.
Junta-se a este dramático enredo o debate
que se encontra em aberto sobre como desen-
volver procedimentos e estratégias específicas
para psicólogos, enquanto profissionais de
saúde mental, no pós-desastre. Encontra-se
aberto, por diversas razões, a saber:as sobre-
posições recorrentes entre o que é nomeado
como “desastre”, “emergência”, “acidente” ou
“crise”; a reflexão ainda incipiente sobre a es-
pecificidade da produção de cuidados nestas
situações; a tentadora sedução de adotar uma
postura assistencialista; e, ainda mais, as difi-
culdades de se enfrentar o desafio da atuação
em rede neste contexto, não apenas na área
da saúde, mas, também, nas articulações com
a assistência social, a educação, a Proteção e
Defesa Civil, entre outros.
Em qualquer um dos continentes, registra-
mos a presença de diferentes tipos de desas-
tres, desde inundações, deslizamentos, secas,
terremotos, conflitos armados e epidemias, em
diferentes intensidades e magnitudes. Os de-
sastres alteram, comprometem e interferem
nos processos de desenvolvimento humano,
podendo afetar de diferentes formas a saúde,
a infraestrutura, as crenças e as perspectivas
de vida. Desastres são, assim, interrupções
graves do funcionamento cotidiano de uma
comunidade, que acarretam perdas humanas/
materiais/econômicas/ambientais, excedendo
a capacidade da sociedade afetada
fazer frente à situação, por meio de
seus próprios recursos.
PÓS-DESASTRE
Os desastres explicitam uma pro-
blemática multifacetada, fazendo-nos
supor que os desastres naturais ape-
nas potencializam desastres huma-
nos, de proporções pouco dimensio-
nadas, em um contexto de rotina e
são,assim,potencialmentemuitomais
danososnasregiõesquejátêmdificul-
dades de verem suas demandas aten-
didas.Em meio à contextualização da
ação de saúde mental em desastres e
também da problematização dos diferentes cam-
pos que a atravessam, destaco brevemente, os
principais pontos estruturais na conformação de
uma intervenção em saúde mental, num contex-
to de desastre no Brasil, de acordo com a minha
compreensão e experiência.
Um primeiro ponto importante é estruturar a
estratégia de intervenção de forma contextuali-
zada e, especialmente no Brasil, articulada com
os mecanismos locais (públicos, essencialmente,
mas também de organizações civis) de manejo
da crise. Isto significa que a ação do psicólogo,
independentemente de onde ela parta, precisa
estar articulada e inserida em uma proposta – que
deve ser criada junto a autoridades locais com-
petentes – mais ampla de ação na emergência.
É de suma relevância que o/a profissional não
aja sozinho, tampouco desconheça a estratégia
a priori, determinada nos níveis social, de saúde
e de educação local, para mitigar a crise gerada
pelo desastre. Em outros termos, em situações
de emergência as necessidades básicas de qual-
quer pessoa – comida, água, abrigo e um mínimo
de conforto físico e emocional – devem estar su-
pridas em primeira instância. Estas são também
ações de saúde mental, ainda que não desem-
penhadas por psicólogos. Um segundo ponto é
que a intervenção deve ter como um de seus pi-
lares fundamentais as propostas de elaboração
dos sofrimentos (coletivos e individuais) gerados
pela situação (não necessariamente realizada só
pelo psicólogo) e também a construção da auto-
nomia (das comunidades, grupos de pessoas e
autoridades envolvidos) frente ao que aconte-
ceu, bem como a possibilidade de novas crises.
O papel do profissional da saúde mental é o
de escutar as demandas, conhecer o local pa-
ra mapear a oferta de serviços, articular e pen-
sar formas de sustentabilidade destas ações,
levando sempre em consideração os fatores já
mencionados da presença – lógica e esperada
– do desespero, da tristeza, da dor e do luto.
Não cabe ao psicólogo o papel de substituto do
serviço de saúde existente – especialmente le-
vando-se em conta os psicólogos voluntários e/
ou membros de organizações não governamen-
tais que se apresentam a agir nestas situações
– pois, esta ação termina apenas por ‘benefi-
ciar’ ao próprio psicólogo e não à comunidade
atingida, uma vez que ao término da interven-
ção deste voluntário, o atingido geralmente não
encontrará uma oferta de suporte sistemático.
O psicólogo pode e deve colaborar com as
ações de prevenção e avaliação da atuação
das entidades (governos, ONGs, grupos) em
situações de emergência. A emergência exige
rapidez de atuação na resposta, portanto, não
é o melhor momento para ser desencadeado
o início de aprendizado: é importante que este
tenha ocorrido em momento anterior ao desas-
tre, como forma de preparação, e deve incluir a
reflexão sobre a saúde mental e seus mecanis-
mos de intervenção.
Em situação de desastres, grande parte da
populaçãoatingidapassaráporsofrimentointen-
so,masencontraráconfortoeapoioemsuases-
tratégias comunitárias e cotidianas.Em seguida,
haverá os casos que poderão ser beneficiados
com projetos terapêuticos singulares, articula-
dos pelo psicólogo e, em muito menor volume,
aparecerão os casos que necessitarão de uma
escuta especializada e, até mesmo, de uma in-
tervenção farmacológica.Vale ressaltar que, em
geral, são aqueles já mais vulneráveis – como
os pacientes psiquiátricos, os morado-
res de rua, os desassistidos crônicos
– que mais sofrem e que são menos
percebidos pelas ações humanitárias
de contenção.Desta forma, levando em
conta o contexto, as redes já existentes,
asredescolocadasempráticaparaatu-
ar no desastre e uma compreensão do
trabalho do psicólogo como muito mais
próximodeumaaçãoinstitucionaleam-
pliada do que individualizada – acredito
ser possível ao profissional desta área
trabalhar para lidar com o sofrimento
dos dramas coletivos, das histórias in-
dividuais, e promover a saúde de pes-
soas afetadas por desastres.
Saúdemental
eresposta
Daniela Lopes - Psicóloga, Diretora da ABRRD
e Tenente-Coronel Reserva do CBMDF.
daniela.lopesdmd@gmail.com
MARINO
AZEVEDO
Desastres afetam a saúde, infraestrutura, crenças e perspectivas de vida

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  • 1. Emergência ABRIL / 2020 10 PSICOLOGIA NOS DESASTRES Deslizamentos, enxurradas, inundações.De novo, o mesmo enredo.Como sempre, como to- do ano, no verão, o Brasil assistiu estarrecido a estas tragédias.Desta vez, foi, principalmente, em Minas Gerais, que deixou mais de 60 mor- tes, Espírito Santo onde ainda há desabriga- dos, a região metropolitana de São Paulo que parou com grandes inundações, e na Baixada Santista onde vidas foram perdidas, inclusive de profissionais que estavam envolvidos nas ações de salvamento. Junta-se a este dramático enredo o debate que se encontra em aberto sobre como desen- volver procedimentos e estratégias específicas para psicólogos, enquanto profissionais de saúde mental, no pós-desastre. Encontra-se aberto, por diversas razões, a saber:as sobre- posições recorrentes entre o que é nomeado como “desastre”, “emergência”, “acidente” ou “crise”; a reflexão ainda incipiente sobre a es- pecificidade da produção de cuidados nestas situações; a tentadora sedução de adotar uma postura assistencialista; e, ainda mais, as difi- culdades de se enfrentar o desafio da atuação em rede neste contexto, não apenas na área da saúde, mas, também, nas articulações com a assistência social, a educação, a Proteção e Defesa Civil, entre outros. Em qualquer um dos continentes, registra- mos a presença de diferentes tipos de desas- tres, desde inundações, deslizamentos, secas, terremotos, conflitos armados e epidemias, em diferentes intensidades e magnitudes. Os de- sastres alteram, comprometem e interferem nos processos de desenvolvimento humano, podendo afetar de diferentes formas a saúde, a infraestrutura, as crenças e as perspectivas de vida. Desastres são, assim, interrupções graves do funcionamento cotidiano de uma comunidade, que acarretam perdas humanas/ materiais/econômicas/ambientais, excedendo a capacidade da sociedade afetada fazer frente à situação, por meio de seus próprios recursos. PÓS-DESASTRE Os desastres explicitam uma pro- blemática multifacetada, fazendo-nos supor que os desastres naturais ape- nas potencializam desastres huma- nos, de proporções pouco dimensio- nadas, em um contexto de rotina e são,assim,potencialmentemuitomais danososnasregiõesquejátêmdificul- dades de verem suas demandas aten- didas.Em meio à contextualização da ação de saúde mental em desastres e também da problematização dos diferentes cam- pos que a atravessam, destaco brevemente, os principais pontos estruturais na conformação de uma intervenção em saúde mental, num contex- to de desastre no Brasil, de acordo com a minha compreensão e experiência. Um primeiro ponto importante é estruturar a estratégia de intervenção de forma contextuali- zada e, especialmente no Brasil, articulada com os mecanismos locais (públicos, essencialmente, mas também de organizações civis) de manejo da crise. Isto significa que a ação do psicólogo, independentemente de onde ela parta, precisa estar articulada e inserida em uma proposta – que deve ser criada junto a autoridades locais com- petentes – mais ampla de ação na emergência. É de suma relevância que o/a profissional não aja sozinho, tampouco desconheça a estratégia a priori, determinada nos níveis social, de saúde e de educação local, para mitigar a crise gerada pelo desastre. Em outros termos, em situações de emergência as necessidades básicas de qual- quer pessoa – comida, água, abrigo e um mínimo de conforto físico e emocional – devem estar su- pridas em primeira instância. Estas são também ações de saúde mental, ainda que não desem- penhadas por psicólogos. Um segundo ponto é que a intervenção deve ter como um de seus pi- lares fundamentais as propostas de elaboração dos sofrimentos (coletivos e individuais) gerados pela situação (não necessariamente realizada só pelo psicólogo) e também a construção da auto- nomia (das comunidades, grupos de pessoas e autoridades envolvidos) frente ao que aconte- ceu, bem como a possibilidade de novas crises. O papel do profissional da saúde mental é o de escutar as demandas, conhecer o local pa- ra mapear a oferta de serviços, articular e pen- sar formas de sustentabilidade destas ações, levando sempre em consideração os fatores já mencionados da presença – lógica e esperada – do desespero, da tristeza, da dor e do luto. Não cabe ao psicólogo o papel de substituto do serviço de saúde existente – especialmente le- vando-se em conta os psicólogos voluntários e/ ou membros de organizações não governamen- tais que se apresentam a agir nestas situações – pois, esta ação termina apenas por ‘benefi- ciar’ ao próprio psicólogo e não à comunidade atingida, uma vez que ao término da interven- ção deste voluntário, o atingido geralmente não encontrará uma oferta de suporte sistemático. O psicólogo pode e deve colaborar com as ações de prevenção e avaliação da atuação das entidades (governos, ONGs, grupos) em situações de emergência. A emergência exige rapidez de atuação na resposta, portanto, não é o melhor momento para ser desencadeado o início de aprendizado: é importante que este tenha ocorrido em momento anterior ao desas- tre, como forma de preparação, e deve incluir a reflexão sobre a saúde mental e seus mecanis- mos de intervenção. Em situação de desastres, grande parte da populaçãoatingidapassaráporsofrimentointen- so,masencontraráconfortoeapoioemsuases- tratégias comunitárias e cotidianas.Em seguida, haverá os casos que poderão ser beneficiados com projetos terapêuticos singulares, articula- dos pelo psicólogo e, em muito menor volume, aparecerão os casos que necessitarão de uma escuta especializada e, até mesmo, de uma in- tervenção farmacológica.Vale ressaltar que, em geral, são aqueles já mais vulneráveis – como os pacientes psiquiátricos, os morado- res de rua, os desassistidos crônicos – que mais sofrem e que são menos percebidos pelas ações humanitárias de contenção.Desta forma, levando em conta o contexto, as redes já existentes, asredescolocadasempráticaparaatu- ar no desastre e uma compreensão do trabalho do psicólogo como muito mais próximodeumaaçãoinstitucionaleam- pliada do que individualizada – acredito ser possível ao profissional desta área trabalhar para lidar com o sofrimento dos dramas coletivos, das histórias in- dividuais, e promover a saúde de pes- soas afetadas por desastres. Saúdemental eresposta Daniela Lopes - Psicóloga, Diretora da ABRRD e Tenente-Coronel Reserva do CBMDF. daniela.lopesdmd@gmail.com MARINO AZEVEDO Desastres afetam a saúde, infraestrutura, crenças e perspectivas de vida