Livro O QUE É LUGAR DE FALA - Autora Djamila Ribeiro
Aspectos palinológicos de plantas medicinais apícolas (Asteraceae Martinov) do horto medicinal do Campus Joinville da Univille
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CBS
Ciências Biológicas e da Saúde
Aspectos palinológicos de plantas
medicinais apícolas (Asteraceae
Martinov) do horto medicinal do
Campus Joinville da Univille
Enderlei Dec1
Denise Monique Dubet da Silva Mouga2
Resumo: Este trabalho traz a descrição estrutural e morfológica de grãos de pólen de
táxons medicinais da família Asteraceae. Os tipos polínicos foram caracterizados quanto
a tamanho, formato, aberturas e ornamentação externa por meio de microscopia óptica.
As espécies estudadas foram Achillea millefolium L., Achyrocline satureioides (Lam.) DC,DC,
Ageratum conyzoides L., Austroeupatorium inulaefolium (Khunth) R.M. King. & H. Rob.,& H. Rob.,
Baccharistrimera(Less.)DC,Sphagneticolatrilobata(L.)Pruski,Tanacetumvulgare L,Vernonia
condensata Baker, por se apresentarem como de interesse às abelhas. O estudo visa
fornecer informações que contribuam para uma melhor identificação desses palinomorfos.
A morfologia analisada seguiu o padrão característico da família botânica.
Palavras-chave: palinotaxonomia; interação abelha-planta; melissopalinologia.
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Acadêmico do curso de Ciências Biológicas, bolsista de iniciação científica da Univille.
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Professora do departamento de Ciências Humanas e Biológicas da Univille, orientadora.
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Introdução
A palinologia é uma ferramenta que permite identificar e reconstruir registros históricos,
climáticos, de paisagem, entre outros. Seu estudo está baseado na análise dos grãos de pólen
de plantas superiores, assim como nos esporos de plantas criptógamas e de fungos, pelo fato
de tais palinomorfos possuírem características morfológicas exclusivas, as quais permitem
sua identificação em diversos níveis taxonômicos (SALGADO-LABOURIAU, 2007). Este
estudo visou analisar os polens de diferentes plantas medicinais da família Asteraceae
que se apresentaram como apícolas, o que envolve aspectos da melissopalinologia e da
fitoterapia, entre outros.
Materiais e métodos
A compilação de espécies da família Asteraceae apresentadas é resultado de
observações realizadas entre os meses de março/2009 até fevereiro/2011, no horto
de plantas medicinais do Campus Joinville da Univille, que visavam identificar as
relações abelha-planta existentes no local. A área inclui 3 jardins com superfície
total de 825 m², abrigando 116 espécies vegetais medicinais distribuídas em 22
famílias.
Para cada espécie de planta visitada pelas abelhas, buscou-se retirar os botões
florais em pré-antese floral evitando a contaminação por outras espécies e, ao
mesmo tempo, garantindo o melhor amadurecimento dos grãos de pólen. Esses
botões florais foram armazenados em frascos de vidro, identificados com data de
coleta e nomenclatura botânica, contendo ácido acético glacial P. A. para a sua
conservação, vedados com tampas de borracha e acondicionados até o momento
de preparação das lâminas.
Para a análise do material polínico, os botões florais tiveram suas anteras retiradas
e rompidas para a liberação dos grãos e, logo após, aplicou-se o método da acetólise
descrito por Erdtmann (1960) para a montagem das lâminas. Foram seguidas as
recomendações de Salgado-Labouriau (1973) utilizando gelatina de Kisser, lutando
as lâminas com parafina, fotografando e mensurando os grãos dentro do prazo de
7 dias após a acetólise para evitar alterações no seu tamanho.
Foram realizadas 20 fotos de cada espécie, em cada uma das vistas, polar e
equatorial, além de terem sido registrados e descritos também os detalhes de
ornamentação da camada externa, a exina, seguindo as terminologias de Barth
e Melhem (1988; MELHEM, 1978) e Salgado-Labouriau (1973, 2007). As medidas
apresentam-se em micrômetros e a relação P/E exprime a razão entre os diâmetros
polar e equatorial. As fotomicrografias foram realizadas em microscopia óptica
(Bioval) auxiliadas pelo equipamento Dino-Eye Microscope Eye-Piece Camera
associado ao software DinoCapture 2.0.
Resultados e discussão
Das 116 espécies vegetais disponíveis às abelhas, notou-se a presença desses
insetos apenas em 46,5% delas, totalizando 54 táxons; destes, 17 pertencem ao
grupo das asteráceas, das quais apenas oito foram visitadas pelas abelhas. As imagens
dos grãos de pólen estudados e as descrições correspondentes são apresentadas a
seguir.
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Achillea millefolium L.
Nome popular: mil-folhas, milefólio
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho médio, simetria radial, isopolares,
âmbito circular. Forma oblata-esferoidal (P/E = 0,92), exina bem espessa, espinhos
na sexina, 3 cólporos. Medidas: P = 31,32 μm ± 2,29 μm (mínimo 27,90 μm/máximo
34,93 μm); E = 33,91 μm ± 3,69 μm (mínimo 27,64 μm/máximo 40,44 μm); exina
= 5,13 μm ± 1,09 μm
Figura 1 – Grãos de pólen em vista polar e equatorial, respectivamente: I – II Achillea millefolium L.;
III – IV Achyrocline satureioides (Lam.) DC; V – VIDC; V – VI Ageratum conyzoides L.; VII – VIII Austroeupatorium
inulaefolium (Khunth) R.M. King. & H. Rob.; IX – X Baccharis trimera (Less.) DC; XI – XII Sphagneticola
trilobata (L.) Pruski; XIII – XIV Tanacetum vulgare L.; XV – XVI Vernonia condensata Baker
Fonte: Primária (fotomicrografias realizadas no Laboratório de Abelhas da Univille – Label)
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Achyrocline satureioides (Lam.) DC
Nome popular: macela, marcela
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho médio, simetria radial, isopolares, âmbito
circular, levemente subtriangular, formato oblato-esferoidal (P/E = 0,97), 3 cólporos,
endoaberturas lalongadas, ornamentação espinhosa. Medidas: P = 26,88 μm ± 1,78 μm
(mínimo 26,12 μm/máximo 29,30 μm); E = 27,54 μm ± 1,34 μm (mínimo 26,68 μm/
máximo 28,32 μm); exina = 2,98 μm ± 0,64 μm
Ageratum conyzoides L.
Nome popular: erva-de-são-joão, catinga-de-bode
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho médio, simetria radial, isopolares, âmbito
circular. Formato oblato-esferoidal (P/E = 0,88), 3 cólporos, endoaberturas lalongadas.
Exina espessa, com espinhos. Medidas: P = 33,05 μm ± 1,59 μm (mínimo 30,29 μm/
máximo 34,97 μm); E = 37,41 μm ± 2,86 μm (mínimo 34,24 μm/máximo 44,28 μm);
exina = 6,17 μm ± 1,05 μm
Austroeupatorium inulaefolium (Khunth) R. M. King. & H. Rob.& H. Rob.
Nome popular: erva-de-embira
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho pequeno, simetria radial, isopolares,
âmbito circular. Forma oblata-esferoidal (P/E = 0,98), 3 cólporos, ornamentação espinhosa.
Medidas: P = 19,63 μm ± 1,23 μm (mínimo 17,07 μm/máximo 21,06 μm); E = 20,02 μm
± 0,86 μm (mínimo 17,87 μm/máximo 21,59 μm); exina = 2,26 μm ± 0,29 μm
Baccharis trimera (Less.) DC
Nome popular: carqueja, carqueja-grande
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho médio, simetria radial, isopolares, âmbito
circular a subtriangular. Forma prolata-esferoidal (P/E = 1,07), 3 cólporos, ornamentação
espinhosa. Medidas: P = 26,88 μm ± 1,78 μm (mínimo 26,12 μm/máximo 29,30 μm); E =
27,54 μm ± 1,34 μm (mínimo 26,68 μm/máximo 28,32 μm); exina = 1,33 μm ± 0,54 μm
Sphagneticola trilobata (L.) Pruski
Nome popular: falsa-arnica, malmequer
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho médio, simetria radial, isopolares, âmbito
circular. Forma prolata-esferoidal (P/E = 1,03), pólen tricolporado, ornamentação espinhosa.
Medidas: P = 36,94 μm ± 0,83 μm (mínimo 35,17 μm/máximo 37,98 μm); E = 35,70 μm
± 1,74 μm (mínimo 32,79 μm/máximo 37,87 μm); exina = 4,16 μm ± 0,31 μm
Tanacetum vulgare L.
Nome popular: catinga-de-mulata, anil-bravo, tanásia, erva-lombrigueira
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho variando entre pequeno e médio, simetria
radial,isopolares,âmbitocircular.Formaoblata-esferoidal(P/E=1,05),3cólporos,ornamentação
espinhosa. Medidas: P = 24,40 μm ± 2,69 μm (mínimo 19,18 μm/máximo 28,96 μm); E =
23,04 μm ± 2,22 μm (mínimo 17,88 μm/máximo 26,99 μm); exina = 3,32 μm ± 0,55 μm
Vernonia condensata Baker
Nome popular: fel-de-índio, figatil
Descrição polínica: grãos em mônades, tamanho médio, simetria radial, isopolares,
âmbito circular. Forma oblata-esferoidal (P/E = 0,92), 3 cólporos, pólen lofado, espinhos
na ornamentação. Medidas: P = 39,97 µm ± 1,10 µm (mínimo 38,67 µm/máximo
37,15 µm); E = 43,44 µm ± 3,56 µm (mínimo 37,92 µm/máximo 48,93 µm); exina =
6,65 μm ± 0,50 μm
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Os grãos de pólen das espécies estudadas apresentaram em todos os casos forma
sempre próxima da esferoidal, podendo variar entre oblato-esferoidal e prolato-esferoidal.
As polaridades proximal e distal estiveram muito semelhantes, sendo, portanto, os grãos
isopolares. Exibiram o mesmo número e tipo de aberturas e também se caracterizaram
por apresentarem espinhos na sexina. De acordo com Cancelli (2008), embora numerosa,
a família possui baixa diversidade morfológica (estenopolínica), o que confirma os
dados mencionados. Entretanto, por ter características palinológicas peculiares, embora
homogêneas em primeira abordagem, a caracterização das espécies medicinais dessa família
é importante em termos de segurança terapêutica (GALVÃO et al., 2009). O trabalho aqui
apresentado acrescenta elementos a esse conhecimento.
Referências
BARTH, O. M.; MELHEM, T. S. A. Glossário ilustrado de palinologia. Campinas: Unicamp,
1988.
CANCELLI, R. R. Palinologia de Asteraceae: morfologia polínica e suas implicações nos
registros do Quaternário do Rio Grande do Sul. Dissertação (Mestrado)−Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, Instituto de Geociências, Programa de Pós-Graduação em
Geociências, Porto Alegre, 2008.
ERDTMANN, G. The acetolysis method: a revised description. Sv. Bot. Tidskr., v. 54,
n. 4, p. 561-564, 1960.
GALVÃO, M. N.; PEREIRA, A. C. M.; GONÇALVES-ESTEVES, V.; ESTEVES, R. L. Palinologia
de espécies de Asteraceae de utilidade medicinal para a comunidade da Vila Dois Rios, Ilha
Grande, Angra dos Reis, RJ, Brasil. Acta Bot. Bras., v. 23, n. 1, p. 247-258, 2009.
MELHEM, T. S. Palinologia: suas aplicações e perspectivas no Brasil. São Paulo, 1978.
p. 325-368. Coleção do Museu Paulista − Série Ensaios 2.
SALGADO-LABOURIAU, M. L. Contribuição à palinologia dos cerrados. Rio de Janeiro:
Academia Brasileira de Ciências, 1973.
______. Critérios e técnicas para o Quaternário. São Paulo: Edgard Blücher, 2007.