[1] O documento discute o papel das práticas desportivas comunitárias na formação de valores sociais entre os jovens. [2] Ele analisa como o esporte pode promover valores como cooperação, respeito e responsabilidade e como agentes como treinadores e companheiros de equipe influenciam a socialização das crianças. [3] O documento conclui que as práticas desportivas têm um grande potencial para influenciar positivamente o desenvolvimento pessoal dos jovens quando concebidas com um objetivo educativo.
Práticas desportivas comunitárias como local de formação de valores sociais
1. As práticas desportivas comunitárias como local de formação de
valores sociais
DISCENTES:
Amelia Pechisso; Ambrósio Samora
Hortência Borge; Telvina cossa
Jossefa Fernando; Samuel Zualo
Universidade Pedagógica de Maputo
Faculdade de educação e desporto
orientador/a Prof. Doutor
Gustavo Paipe
2. Introdução
As atividades físicas em geral e o desporto em particular, encerram um
elevado potencial para influenciar significativamente o desenvolvimento
pessoal dos jovens, contribuindo para a sua formação como pessoas. O treino
desportivo e a competição, em concreto no desporto para jovens, devem
assumir uma dimensão educativa, devendo ser concebidos como projetos de
desenvolvimento pessoal e social (ROSADO., 1998).
3. Neste quadro de referência, as atividades físicas e o desporto podem constituir-se
como um importante contexto facilitador de abordagens orientadas para a
promoção do bem-estar psicossocial, do desenvolvimento sócio afetivo e moral
dos jovens e das suas competências interpessoais (ROSADO & MESQUITA.,
2011).
A componente de formação pessoal e social, moral e cívica, englobando a
internalização de valores ético-desportivos e morais, mais gerais, num contexto de
desenvolvimento e a aquisição de competências de vida, são conceitos
fundamentais a que a Educação Física e o Desporto não podem ficar alheios
(ROSADO., 1998).
4. Neste contexto, entende-se por competências de vida, as estratégias que
possibilitam ao indivíduo a inserção responsável e satisfatória na
comunidade (CUNHA., 1993). Resulta deste entendimento que a formação
pessoal e social é um imperativo formativo que importa sublinhar também
no desporto (ROSADO., 1998).
O presente trabalho tem como tema, As práticas desportivas comunitárias
como local de formação de valores sociais, onde procuramos trazer os
valores no desporto de forma geral de modo a manter paralelismo com as
práticas desportivas comunitárias
5. Objetivo geral
Compreender o papel das práticas desportivas na formação de valores socias
Objetivos específicos
Conhecer os valores sociais encontrados nas práticas desportivas;
Listar Estudos sobre valores no desporto.
6. Conceito do desporto
O Desporto é uma atividade específica, com regras, espaços e materiais,
equipamentos, roupas, funções, personagens, valores, formas e processos originais
(BRITO., 1994).
A prática desportiva tem sido um meio para as pessoas procurarem o seu bem-estar
psicológico, face às novas exigências e pressões colocadas pela sociedade
moderna.
7. Um estudo intercultural desvendou que o desporto facilita a aquisição de valores
específicos durante a infância, como a obediência e a responsabilidade
(BRUSTAD & PARKER., 2005).
A prática desportiva aumenta ainda o autoconceito nas crianças e nos
adolescentes (HORN., 1992), pois permite que estes experienciem sentimentos
de competência, orgulho, admiração, aprovação dos pares, pais e treinadores
(SMITH., ZANE., SMOLL & COOPEL., 1983).
8. Promove inúmeras oportunidades para a interação social (BRUSTAD &
PARKER, 2005), levando à aquisição de padrões comportamentais (liderança,
carácter, cooperação) e valores (competição, partilha, trabalho de equipa,
contacto com regras, muitas delas transferidas para a convivência em
sociedade) (Smith et al, 1983).
9. Praticas desportivas comunitárias/lazer
Pierre Bourdieu (1987), insere as práticas desportivas nas práticas de consumo
cultural, encontrando princípios explicativos para os envolvimentos sociais na
capacidade distintiva que estas encarram.
O desporto para Bourdieu apresenta-se como um produto cultural, social e
económico, inserido num mercado de oferta e procura, socialmente produzidas,
ou seja, a oferta constitui-se pela capacidade organizativa num dado momento,
e a procura, pelas disposições de práticas expressas na sociedade.
10. Assim as classes socias com nível mais elevado de capital económico, cultural
e social, procuram modalidades de mais difícil acesso, pois são essas que lhes
fornece maior capacidade distintiva, verificando-se das restantes classes,
estratégias de compensação a sua baixa estrutura de capital, através do acesso
a consumos desportivos que lhes fornece capacidade de identificação social
MARIVOET., 1997).
11. A Dimensão Social do Desporto
Araújo (1998), refere que a dimensão social do desporto se expressa através
dos seus aspetos reconhecidamente culturais, científicos, pedagógicos,
estéticos, e também pelos seus diferentes níveis de prática, de base, de
pequena, média e alta competição, de lazer e recreação, de preparação e
manutenção profissional.
Assim, sempre que corretamente orientado no plano social e pedagógico, o
desporto representa um dos principais meios educativos e formativos dos
cidadãos, com imprescindíveis contributos no âmbito da promoção da saúde e do
rendimento profissional das populações, da formação multilateral da juventude,
da melhoria da qualidade de vida
12. Araújo (1998) refere ainda que, a componente sociocultural do Desporto assenta
nos valores morais, sociais e estéticos que regem a sua prática e no património de
conhecimentos com ele relacionados que têm vindo a ser transmitidos ao longo
dos tempos, de geração para geração.
O autor enfatiza a importância que Educação Física e o Desporto representam
hoje, nas sociedades modernas, considerando-as “imprescindíveis meios de
cultura e de desenvolvimento social, tendo como um dos seus objetivos
fundamentais aperfeiçoar as formas básicas do movimento humano”.
13. Valores no Desporto
Tendo em conta o envolvimento desportivo que cada vez mais é notório nas
camadas jovens, já foram identificadas algumas consequências positivas dessa
participação social.
No entanto, vários investigadores na área da sociologia desportiva, e em especial no
processo de socialização dos jovens através da prática desportiva, assinalam que
esses resultados se apresentam contraditórios (ORLICK., 1981; STEVENSON.,
1975; cit. por GONÇALVES., 1991).
14. Alguns comportamentos que têm vindo a ser mais frequentes são:
fazer batota; praticar agressões,
Adotar comportamentos violentos e faltar ao respeito a adversários e
árbitros
Embora as ocorrências mais frequentes e visíveis sejam observáveis no
Desporto profissional, já se começa a encontrar cada vez mais esses
maus comportamentos no Desporto jovem (BREDEMEIER., 1984; cit.
GONÇALVES., CARREIRO DA COSTA & PIÉRON., 1998).
15. Os valores que a sociedade transmite ao Desporto, tais como a honestidade, a
lealdade, a sinceridade, a limpidez de processos, a correção de atitudes, o respeito
mútuo entre quem participa na competição desportiva e o respeito inequívoco por
regras de condutas cívicas e desportivas por parte de quem é responsável pela
orientação desportiva, tende cada vez mais a serem irrelevantes e a estarem em
vias de extinção (GONÇALVES., 1988; GONÇALVES, & PIÉRON., 1998;
RIJO., 2001).
16. Numa relação abrangente e do ponto de vista filosófico, a atividade desportiva
permite o desenvolvimento de um conjunto de valores éticos, que segundo
Blake 1996 (cit. Por RODRIGUEZ., DIAZ & NÁJERA., 2001) se traduzem
nas seguintes dimensões:
Espiritual: porque permite que os praticantes experimentem
situações de exposição de sentimentos, emoções, reflexão,
autoconhecimento e pensamentos positivos, num determinado
contexto;
17. Moral: porque ao longo das convivências desportivas, os praticantes
aplicam valores (ou anti-valores) pessoais, onde se engloba o conceito
de “jogo limpo”, respeito pelos colegas e regulamento, entre outros;
Social: porque o contexto desportivo é um microcosmo da sociedade,
onde acontecem múltiplas interações, formas de comunicação,
cooperação e trabalho de equipa, pelo que os praticantes se reconhecem
como membros de um determinado grupo;
Cultural: porque as tradições e padrões culturais de uma sociedade se
refletem na atividade desportiva, desenvolvendo processos de
enculturação e aculturação.
18. Estudos sobre valores no desporto
Com este subtítulo pretendemos abranger um conjunto de estudos
(GONÇALVES., 1988, 1990, 1991; ORLICK., 1981; MCELROY &
KIRKENDALL.,1980), realizados no âmbito dos valores no Desporto e
Espírito Desportivo,
De acordo com Gonçalves (1988, 1990), os estudos neste domínio podem
dividir-se em 3 áreas:
Diferenças entre sexos; Efeitos da participação na prática desportiva;
Efeitos dos agentes de socialização
19. Diferenças entre sexos
A literatura neste âmbito, refere que os comportamentos agressivos são
mais frequentes no sexo masculino do que no sexo feminino
(MCELROY & KIRKENDALL., 1980; cit. por GONÇALVES.,
CARREIRO DA COSTA & PIÉRON., 1998;).
Assim, as raparigas em situação de competição, tendem a manifestar
condutas menos violentas, menos agressivas e mais cooperativas do que os
rapazes, enquanto estes assumem com mais frequência atitudes que traduzem
um empenho na obtenção da vitória a qualquer preço (NIXON, 1980; cit. por
GONÇALVES, 1988, 1990).
20. Os efeitos da participação na prática desportiva
Assim, vários investigadores têm-se debruçado sobre a influência que a prática
desportiva, tem ou não na formação de valores positivos e negativos.
Um estudo realizado por Orlick (1981; cit. por GONÇALVES, 1988) salienta
e critica o facto de o Desporto para jovens estar envolvido numa organização
demasiada “competitiva”, o que provoca no praticante a aceitação de valores
individualistas e negativos.
21. Em suma, apresentamos de uma forma muito genérica algumas dessas
constatações.
os praticantes desportivos em relação aos não praticantes, consideram
como objetivo a ser perseguido, o sucesso e a vitória, valendo para tal,
todos os meios, mesmo que sejam ilegais (SILVA, 1983; cit. por
GONÇALVES, 1988);
o resultado da competição, parece influenciar de forma significativa o
comportamento dos praticantes, traduzido no facto dos “vencidos”
criticarem consistentemente e por diversas formas, o árbitro, adversários,
companheiros e o treinador (NIXON, 1980; cit. por GONÇALVES, 1990);
22. A influência dos agentes de socialização
Martens (1978; cit. por GONÇALVES, 1990) afirma que não é o confronto,
a competição ou o tipo de Desporto praticado que determina
automaticamente o valor das atividades desportivas para as crianças e
jovens; é antes do mais a natureza das experiências vividas nessas
atividades. São principalmente as interações com os pais, os treinadores, os
professores, os dirigentes, os árbitros, os companheiros de equipa e a
assistência, que vão determinar se a prática desportiva ajuda ou não as
crianças e o jovem a adquirirem uma sã convivência social e desportiva.
23. Os pais
De acordo com Jarque (1990), a tradição familiar é muito importante para a
iniciação desportiva dos jovens. A aceitação/apoio dos pais e a integração
anterior de irmãos, são fatores que favorecem a adesão desportiva por parte
dos jovens, em idades mais novas. Contudo, em idades mais avançadas, a
influência familiar não é tão importante, pelo que estes inserem-se em
atividades de âmbito escolar ou naquelas, em que estão envolvidos os seus
amigos.
Para Gonçalves (1990), os pais não só desempenham um papel importante na
iniciação das crianças, bem como na continuidade dessa prática ao longo dos
anos
24. Os treinadores/professores de Educação Física
Treinar crianças e jovens é uma atividade extremamente interessante e
atrativa, mas que atribui a todos os que a acompanham, organizam e dirigem,
em particular ao treinador, uma elevada responsabilidade face à sociedade, ao
sistema desportivo e sobretudo, ao próprio praticante (ADELINO., VIEIRA &
COELHO., 1999).
Por outro lado, Bengoechea (1997) refere que os treinadores têm uma enorme
importância na motivação intrínseca, como reguladora da participação no
contexto do Desporto infanto-juvenil, dado que as considerações educativas e
morais têm de ter em conta, aquilo que são as necessidades dos jovens.
25. A influência que estes exercem mutuamente na aquisição de atitudes favoráveis
ao desenvolvimento do Espírito Desportivo não pode ser subestimada. Se os
estudos efetuados no âmbito da psicologia demonstram que sempre que uma
criança ou um jovem deseja fazer parte de um grupo, adota com naturalidade as
atitudes do grupo, conformando-se com as suas regras, parece lícito supor que
no contexto desportivo, crianças e jovens desejando ser aceites pelos
companheiros de equipa, assumam comportamentos ditados pelas normas
vigentes no seio da equipa (GONÇALVES., 1988, 1990).
Os companheiros de equipa
26. Considerações finais
Apos a realização deste trabalho, concluímos que as práticas desportivas, assumem um
elevado potencial para influenciar significativamente o desenvolvimento pessoal dos
jovens, contribuindo para a sua formação como pessoas. O treino desportivo e a
competição, em concreto no desporto para jovens, devem assumir uma dimensão
educativa, devendo ser concebidos como projetos de desenvolvimento pessoal e social.
A dimensão social do desporto se expressa através dos seus aspetos reconhecidamente
culturais, científicos, pedagógicos, estéticos, e também pelos seus diferentes níveis de
prática, de base, de pequena, média e alta competição, de lazer e recreação, de
preparação e manutenção profissional.