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Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Caderno de Resumos
I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
3, 4 e 5/11/2021
Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFU
Grupo de Estudos Cartesianos
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Resumos da I Jornada de Estudo Cartesianos da Pós-
Graduação UFU
Volume I – Número I
Novembro de 2021
IFILO – UFU
Organizadores:
Henia Laura de Freitas Duarte
Lucas Guerrezi Derze Marques
Suellen Caroline Teixeira
Monique Vivian Mendes Guedes
Revisores:
Henia Laura de Freitas Duarte
Lucas Guerrezi Derze Marques
Suellen Caroline Teixeira
Monique Vivian Mendes Guedes
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Apresentação
A jornada foi pensada com o propósito de promover um encontro entre os
pesquisadores cartesianos a fim de que possam se familiarizar com o que
vem sendo investigado sobre o filósofo nos programas de pós-graduação em
diversas universidades do país e de fora dele. Infelizmente, a pandemia
inviabilizou o encontro presencial promovido pela ANPOF - ocasião na qual
os pesquisadores com temas afins poderiam desenvolver um bom
intercâmbio intelectual sobre seus trabalhos. Esperamos que nossa I Jornada
Cartesiana possa remediar, ao menos em parte, o impacto do isolamento em
nossas pesquisas. O Caderno é constituído pelos resumos dos trabalhos
compostos para os debates ocorridos por ocasião do evento.
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Comissão Organizadora
Henia Laura de Freitas Duarte
Lucas Guerrezi Derze Marques
Suellen Caroline Teixeira
Monique Vivian Mendes Guedes
I Jornada de Estudo Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Programa de Pós-Graduação em Filosofia-UFU
E-mail: ppgfilufu@ifilo.ufu.br e ppgfilufu@gmail.com
Maiores informações no site
https://jornadacartesiana.blogspot.com/
INSTITUTO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL
DE UBERLÂNDIA (IFILO – UFU)
Campus Santa Mônica - Bloco 1U - Sala 125
Av. João Naves de Ávila, 2.121 - Bairro Santa Mônica
Uberlândia - MG - CEP 38408-100
Telefone: (55) 34 3239-4185
http://www.ifilo.ufu.br/
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Programação
Primeiro encontro: dia 03 de novembro, quarta-feira
Mesa 01 – 14:00 hs
- Descartes sobre princípios ou substâncias
Francisco Valentin – UFRJ (Exposição 20 minutos)
- A tese da criação das Verdades Eternas – “Publicada”
Suellen Caroline Teixeira – UFU (Exposição 20 minutos)
- Sobre a “astúcia perniciosa” do modo de proceder da análise no interior das
Meditações Metafísicas
Andréa Alves de Abreu - UFRJ (Exposição 20 minutos)
- La philosophie gassendienne dans la critique à Descartes. Vers une différente
reconstruction de la pensée de Gassendi
Mattia Galati – UNISALENTO/SORBONNE (Exposição 20 minutos)
Abertura Oficial do Evento – 18:00 hs
Palestra:
- Considerações sobre o óbvio em Descartes
Alexandre Guimarães Tadeu de Soares - UFU
Segundo encontro: dia 04 de novembro, quinta-feira
Mesa 02 – 09:00 hs
- A relação entre o Compêndio de música e As paixões da alma em Descartes
Henia Laura de Freitas Duarte - UFU (Exposição 20 minutos)
- Os afetos e a música no Compendium musicæ em Descartes
Tiago de Lima Castro – UNESP (Exposição 20 minutos)
- Uma filosofia esgotada. Beckett leitor de Descartes
Carmel da Silva Ramos – UFRJ (Exposição 20 minutos)
- Descartes, Elisabeth e a melancolia
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Rafael Teruel Coelho - USP (Exposição 20 minutos)
Mesa 03 – 14:00 hs
- A abstração matemática como o paradigma para a universalização da ciência
Lucas Guerrezi Derze Marques – UFU (Exposição 20 minutos)
- Correspondências entre o método das Regras e a metafísica da maturidade de
Descartes
Ana Cláudia Teodoro - UFMG (Exposição 20 minutos)
- Dedução Silogística e Dedução Matemática nas Regras de Descartes
Monique Vivian Mendes Guedes - UFRJ (Exposição 20 minutos)
- La « méditation » de Heidegger sur les Regulae de Descartes
Francesco Paolo Gallotta – UNISALENTO/SORBONNE (Exposição 20 minutos)
Convidado externo – 18:00 hs
Palestra:
- Une pensée spéculaire: Nietzsche avec Descartes
Andrea Bocchetti - Università degli studi di Napoli “Federico II
Terceiro encontro: dia 05 de novembro, sexta feira
Mesa 04 – 14:00 hs
- O entrelaçamento entre os erros epistêmicos e morais na Filosofia de Descartes
Daniele Pacheco do Nascimento – UFRJ (Exposição 20 minutos)
- A relação entre a concepção ontológica de Descartes e seu critério de evidência
Rafael Monteiro – UFRJ (Exposição 20 minutos)
- Seria o Cogito uma Intuição Instantânea?
Louis Blanchet - UNICAMP (Exposição 20 minutos)
- Círculo hermenêutico entre a Primeira e a Segunda Meditações
Geder Paulo Friedrich Cominetti - UNIOESTE (Exposição 20 minutos)
Encerramento oficial do Evento – 18:00 hs
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Palestra:
- A Percepção Sensível Segundo a Dióptrica de Descartes
Lia Levy (UFRGS)
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Sumário
Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Correspondências entre o método das Regras e a metafísica da maturidade de
Descartes ........................................................................................................................10
Ana Cláudia Teodoro .....................................................................................................10
Sobre a “astúcia perniciosa” do modo de proceder da análise no interior das
Meditações Metafísicas ..................................................................................................11
Andréa Alves de Abreu ...................................................................................................11
Uma filosofia esgotada. Beckett leitor de Descartes ..................................................12
Carmel da Silva Ramos ..................................................................................................12
O entrelaçamento entre os erros epistêmicos e morais na Filosofia de Descartes .....13
Daniele Pacheco do Nascimento ....................................................................................13
La « méditation » de Heidegger sur le Regulae de Descartes ......................................14
Francesco Paolo .............................................................................................................14
Descartes sobre princípios ou substâncias ...................................................................15
Francisco Valentin .........................................................................................................15
Círculo hermenêutico entre a Primeira e a Segunda Meditações ..............................16
Geder Paulo Friedrich Cominetti ..................................................................................16
A relação entre o Compêndio de música e As paixões da alma em Descartes .......17
Henia Laura de Freitas Duarte...............................................................................17
A abstração matemática como o paradigma para a universalização da ciência .......18
Lucas Guerrezi Derze Marques ......................................................................................18
Seria o Cogito uma Intuição Instantânea? ...................................................................19
Louis Blanchet ................................................................................................................19
La philosophie gassendienne dans la critique à Descartes. Vers une différente
reconstruction de la pensée de Gassendi ......................................................................20
Mattia Galati .....................................................................................................................20
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Dedução Silogística e Dedução Matemática nas Regras de Descartes .......................21
Monique Guedes ............................................................................................................21
A relação entre a concepção ontológica de Descartes e seu critério de evidência ......22
Rafael Monteiro .............................................................................................................22
Descartes, Elisabeth e a melancolia ..............................................................................23
Rafael Teruel Coelho .....................................................................................................23
A tese da criação das Verdades Eternas – “Publicada” ..............................................24
Suellen Caroline Teixeira ..............................................................................................24
Os afetos e a música no Compendium musicæ em Descartes .......................................25
Tiago de Lima Castro .....................................................................................................25
10
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Correspondências entre o método das Regras e a metafísica da maturidade de
Descartes
Ana Cláudia Teodoro – Doutoranda UFMG
Orientador: Jose Raimundo Maia Neto
Dado o abandono das Regras para a Direção do Espírito por Descartes,
provavelmente em 1628, é comum que se avalie uma ruptura no projeto do filósofo e,
consequentemente, este escrito da juventude é preterido frente àquelas obras finalizadas
e publicadas pelo autor. Não obstante, as Regras fornecem o que Descartes chamaria de
“primeiras sementes do pensamento” e, não sendo uma obra isolada do resto de sua
doutrina, o texto contido ali aparece como um recurso valioso para a interpretação da
filosofia cartesiana, mesmo considerando as noções e ideias que foram, de fato, pospostas
ulteriormente. Assim, intencionamos lançar luz a um dos temas mais importantes da
filosofia da maturidade cartesiana, sua metafísica, a partir de sua íntima relação com o
método apresentado nas Regras. Argumentaremos que, mesmo que Descartes não
apresente uma metafísica nessa obra abandonada, o método que ele descreve ali possui
as mesmas características e funções que a metafísica estabelecida depois de 1637. Para
tanto, mostraremos que à medida que a metafísica é esmiuçada por Descartes, o volume
e a relevância das regras do método são paulatinamente atenuados, como se o método
estivesse sendo substituído pela fundamentação conquistada pela metafísica. Em seguida,
é necessário mostrar que esta substituição é plausível tendo em vista a função semelhante
que é concedida ao método e a metafísica: ambos são primeiros porque se mostram
universais e, além disso, carecem da afirmação do eu pensante que é fundamento para
todo o conhecimento possível. Portanto, pretende-se constatar que a primazia do sujeito
das Regras antecipa, pelo menos de modo estritamente epistemológico, o que é
estabelecido posteriormente, de forma sistematizada e metafísica, com o cogito.
11
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Sobre a “astúcia perniciosa” do modo de proceder da análise no interior das
Meditações Metafísicas
Andréa Alves de Abreu - Doutoranda UFRJ/CAPES
Orientadora: Ethel Menezes
Assumo que Descartes utiliza o modo de proceder da análise matemática para
escrever as Meditações Metafísicas (MM). Protagonizando, necessariamente, tal modo
de procedimento, defendo que as MM apresentam um meditador exercendo e exibindo a
atividade de pensar. Cabe avaliar o quanto compreender o que seja a ruse funeste/astúcia
perniciosa que Descartes atribui aos matemáticos helenísticos Pappus e Diofanto, ao
utilizarem a análise, pode contribuir para a defesa de que as MM exibem a atividade de
pensar por meio de seu meditador.
Nas Regras para a Direção do Espírito (Regra IV), Pappus e Diofanto são
apresentados como os conhecedores dos vestígios da verdadeira matemática. Por sua vez,
esta “verdadeira matemática” é identificada às “primeiras sementes de verdades
depositadas pela natureza nos espíritos humanos”, aquelas que fizeram os homens
conhecerem ideias verdadeiras da filosofia - “ainda que isso não tenha sido suficiente para
que alcançassem perfeitamente ambas as ciências”. A estes helenísticos é atribuída a
prática de uma “espécie de astúcia perniciosa” (ruse funeste) que faz desaparecer os
vestígios da “verdadeira matemática”. Eles a praticam reconhecendo que também os
artesãos procedem de forma relativa às suas próprias invenções. Aqui é possível supor
que tanto os artesãos fazem uso de algo comum à matemática quanto que, astuta e
perniciosamente, fizeram desaparecer os vestígios das técnicas que utilizavam na
composição de seus artesanatos. Além disso, Pappus, Diofanto e os artesãos parecem ter
ainda mais em comum: são capazes de demonstrar os efeitos de suas artes, mas não
ensinam a própria arte dotada de grande facilidade e simplicidade.
Suponho que a compreensão de ruse tal qual empregada pelos gregos possa ajudar
a esclarecer o estabelecimento da relação aqui enunciada – qual seja, entre a atividade do
meditador metafísico e a ruse da análise dos helenísticos assumida nas MM.
12
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Uma filosofia esgotada. Beckett leitor de Descartes
Carmel da Silva Ramos – Doutoranda UFRJ
Docente UFRJ
Orientador: Ulysses Pinheiro
O objetivo desta apresentação é refletir sobre os usos que o escritor irlandês
Samuel Beckett (1906–1989) fez do cartesianismo em sua obra literária. Beckett se
apropria de Descartes em ao menos três frentes: considerando, de maneira cômica, os
dados de sua biografia — como no poema Whoroscope (1930) —, a partir de suas
escolhas estilísticas — ao empregar, em seus assim chamados romances do pós-guerra,
ou seja, Molloy (1951), Malone Morre (1951) e O Inominável (1953), o monólogo em
primeira pessoa — e, por fim, através de uma releitura do conteúdo de sua filosofia —
recuperando a distinção real entre a alma e o corpo, bem como algumas das regras lógicas
cartesianas, em Murphy (1938). Tais estratégias literárias serão remetidas ao conceito de
esgotamento, tal como formulado por Gilles Deleuze no ensaio intitulado O esgotado
(1992), cujo centro de análise é a obra literária e televisiva beckettiana. Discutiremos, de
modo geral, a relação entre filosofia e literatura, sugerindo que há, no Beckett leitor de
Descartes, um uso perverso da filosofia, o qual surge acompanhado de uma reflexão sobre
os limites referencialistas da linguagem. Tal proposta poderá inspirar uma abordagem
metodológica que siga um caminho inverso, quer dizer, que faça um uso perverso dos
signos literários — e filosóficos — também na filosofia.
13
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
O entrelaçamento entre os erros epistêmicos e morais na Filosofia de Descartes
Daniele Pacheco do Nascimento - Doutoranda UFRJ/FAPERJ
Orientadora: Ethel Menezes
Pretendo defender que há dois tipos distintos de erro humano na Filosofia de
Descartes, a saber, o erro epistêmico e o erro moral, e há dois modos distintos como são
tratados pelo filósofo. Sustentarei que essas duas perspectivas de erro ainda que distintas,
em certo sentido, estão absolutamente entrelaçadas na explicação do erro que diz respeito
à moral.
Abordarei primeiramente a perspectiva que diz respeito ao erro que se explica
apenas em função da atuação conjunta entre as faculdades da razão humana. Por esse
prisma, pretendo mostrar que Descartes defende que há um desalinho entre a faculdade
da vontade e a faculdade do entendimento, em razão do que se originam os erros
epistêmicos. Esses erros envolvem a busca pelo conhecimento em que a certeza
(subjetiva) acerca da deliberação envolve também a garantia da verdade (objetiva).
Nesses casos há a possibilidade (e também a necessidade) de uma deliberação onde, em
casos de incerteza, seja aplicada a suspensão do juízo, como mostrarei.
Sobre a segunda perspectiva de erro, busco mostrar que no que diz respeito aos
erros morais, Descartes os explica não apenas – mas também – pelo funcionamento das
faculdades da razão. Nesse contexto, embora o desalinho entre as faculdades da vontade
e do entendimento também seja causa do erro, é preciso levar em conta o envolvimento
da íntima relação entre a alma e o corpo.
Descartes já indica, de acordo com a minha leitura, esse entrelaçamento na Quarta
Meditação, embora não tenha aprofundado ali essa segunda perspectiva de erro, optando
por desenvolver naquele momento apenas a problematização acerca da perspectiva
epistêmica.
14
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
La « méditation » de Heidegger sur les Regulae de Descartes
Francesco Paolo Gallotta - Doutor Università del Salento / Sorbonne Université,
Orientadores: Igor Agostini e Dominique Pradelle.
Cette intervention porte sur l’interprétation heideggérienne du traité inachevé de
Descartes intitulé Regulae ad directionem ingenii. Heidegger se réfère explicitement à
cette œuvre de Descartes afin de montrer l’émergence et la refondation du savoir dans la
modernité. Je me bornerai à analyser certaines annotations écrites dans les années ‘30 et
’40, qui figurent dans le volume 76 de la Gesamtausgabe, (l’édition complète de l'œuvre
de Martin Heidegger). Parmi les aspects qui caractérisent la modernité, Heidegger
souligne celui joué par la méthode. Selon sa perspective, la méthode n’est pas simplement
une procédure, à voir un instrument qu’on ajoute de l’extérieure à la chose déjà
disponible. En revanche, dans la lecture heideggérienne la méthode est une manière de
procéder anticipative (Vor-gehen) fondée sur un projet préalable (Entwurf). Un tel projet
délimite un certain domaine d’objets et ainsi détermine par avance ce que les choses sont
et peuvent être. Ce caractère anticipatif du projet est le noyau de ce que Heidegger appelle
mathesis. Le projet moderne du savoir est « mathématique » puisqu’il est fondé sur la
mathesis. J’essaierai de montrer que Heidegger oppose au projet cartésien du savoir une
autre manière de concevoir le savoir, c’est-à-dire le « projet de la vérité de l’être ».
15
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Descartes sobre princípios ou substâncias
Francisco Valentin - Mestrando UFRJ
Orientadora: Ethel Menezes
Na carta de 28 de janeiro de 1641, Descartes confessa a seu interlocutor Mersenne
que “essas seis meditações contém toda a fundamentação da minha física. Mas não o
espalhe, pois isso pode tornar mais difícil aos defensores de Aristóteles de aprová-las. Eu
espero que esses leitores gradualmente se acostumem com meus princípios, e reconheçam
a verdade deles, antes que eles notem que esses princípios destroem os princípios de
Aristóteles.” (AT III, 298; CSMK, 173). Grosso modo, o esforço da apresentação será o
de oferecer uma possível interpretação a essa passagem. Tal esforço passará pelas
seguintes indagações: (a) o que Descartes parece entender pela noção de princípio e (b)
como a afirmação dos princípios cartesianos promete minar os princípios de Aristóteles
ou escolásticos. Nisso que concerne à primeira das indagações, utilizando a carta de junho
ou julho de 1646 a Clerselier, na qual Descartes se dedica a esclarecer o que entende pela
noção de princípio, será argumentado que há certa equivocidade nesse conceito. Princípio
tanto significa as noções comuns ou verdades lógicas quanto um ser – ou substância,
como será avaliado – que se sabe existir. Uma vez que Descartes não parece pretender
verdades lógicas diferentes dessas já aceitas pela filosofia tradicional, fica sugerido que
a pretensão cartesiana de refundar a física desde novos princípios passa pela
reconsideração da noção de substância. Essa discussão encaminha a avaliação da segunda
das indagações acima, a saber, como a teoria cartesiana dos princípios interdita os
princípios escolásticos. Nesse ponto, utilizando a carta-prefácio dos Principia, será
argumentado que tal interdição passa pelas duas condições que Descartes impõe à teoria
dos princípios ou substâncias: (I) os princípios devem ser claros e evidentes; (II) que eles
sejam conhecidos per se enquanto as demais coisas sejam conhecidas a partir deles.
16
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Círculo hermenêutico entre a Primeira e a Segunda Meditações
Geder Paulo Friedrich Cominetti - Doutorando UNIOESTE
Docente IFPR
Orientador: César Battisti
Apresentaremos a descoberta do cogito como um modo de a razão operar ao
mesmo tempo em que a razão opera com o pressuposto do cogito. Para tanto,
reinterpretaremos a sentença que estabelece o cogito como representação da razão na
medida em que dá a ela o papel de referência a um subjectum. Justificaremos que o
movimento em círculo das primeiras duas meditações é profícuo em reordenar os
elementos do conhecimento do simples ao composto, e que esse modo de proceder é
fundamental nas ciências porque ela lida com sentenças. A sentença tem uma organização
categorial que, espelhada no objeto, abre campo à verdade por correspondência.
Perguntamos: como essa nossa hipótese de um círculo hermenêutico nas meditações é
coerente com o movimento que vai do simples ao composto, movimento que nos dá
impressão de linearidade? Com isso, objetivamos expor a estrutura da construção
metafísica de Descartes como um movimento de apreensão das verdades por uma espécie
de calibragem da percepção, em que a metafísica resulta dos fundamentos da ciência
como uma espécie de direcionamento do olhar científico que projeta os objetos de modo
a torná-los apreensíveis por meio de sentenças. Metodologicamente, seguiremos as
seguintes etapas: (a) levantaremos a hipótese do círculo hermenêutico como movimento
das meditações, (2) caracterizaremos seu modo de fazer emergir as verdades na filosofia
de Descartes e, por fim, (c) indicaremos a coerência entre avançar nas descobertas da
verdade por meio do movimento circular.
17
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
A relação entre o Compêndio de música e As paixões da alma em Descartes
Henia Laura de Freitas Duarte - Doutoranda UFU/CAPES
Orientador: Alexandre Guimarães
O trabalho tem como principal objetivo conduzir uma explicação sobre a relação
existente entre a primeira obra de Descartes, a saber, o Compendium musicae (1618) e a
sua última obra As paixões da alma (1649). Na primeira parte, apresentaremos
resumidamente o percurso feito por Descartes no Compendium musicae (1618). Na
segunda parte, mostraremos que nos anos de 1640, Descartes estuda melhor a temática
das paixões. Se no Compêndio, o filósofo fala da possibilidade de relacioná-las com a
Música, em seu último texto começa o esboço do que poderia ter sido o desenvolvimento
de sua primeira obra. Nesse aspecto, o Compêndio relaciona-se com o último texto
cartesiano. Nele encontramos a tematização da ligação que os afetos e as paixões da alma
podem estabelecer com a Música. Na terceira parte, mostraremos como a finalidade da
Música ou da obra de arte já não é a realização da mímesis, ou seja, imitação da natureza,
mas a animação dos nossos afetos. Simplesmente o prazer pela audição de uma
determinada composição musical ou de contemplação ante a obra de arte que nos
satisfaça. A finalidade é provocar prazer estético, a especificidade desse tipo de prazer é
extremamente importante para que compreendamos toda a estética cartesiana.
Para
concluir, propomos uma explicação baseada no seu Tratado das paixões, segundo o qual,
o prazer musical poderia ser interpretado a partir da união de alma e de corpo.
18
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
A abstração matemática como o paradigma para a universalização da ciência
Lucas Guerrezi Derze Marques - Mestrando UFU/CAPES
Orientador: Sertório de Amorim e Silva Neto
Nesta comunicação, pretendemos demonstrar como a abstração matemática
exerce uma função paradigmática para a universalização da ciência proposta por René
Descartes em suas Regulae. Acreditamos, assim como Jean-Luc Marion, que desde a
primeira regra Descartes já determina o fim último proposto para sua obra: inverter o
centro de gravidade da relação epistêmica. Será essa complexa tarefa que determinará
quase todas as transformações realizadas por Descartes em relação aos seus antecessores
e será sobre uma destas transformações que nossa fala se voltará com maior ênfase, a
saber, a utilidade primordial da abstração matemática para a ciência. Ao contrário de
Aristóteles, Descartes posiciona o centro de gravidade da relação epistêmica na mente,
não no objeto. É somente com essa realocação que será possível alcançar a almejada
unidade geral das ciências. A luz natural da razão se tornará a operadora da certeza, a
única modalidade epistemológica aceitável na ciência, assegurando-se como o elemento
unificador. A certeza como critério de cientificidade excluirá tudo aquilo que não possa
satisfazê-la. Será somente com essa inversão, exigindo com que a ciência deixe de ser
fundamentada pela própria coisa e de se sujeitar a probabilidade advinda da contingência
material que Descartes conseguirá satisfazer o critério de certeza estabelecido. Entretanto,
o preço da certeza será o da marginalização da “matéria”. Nas Regulae, o discurso
matemático perde a estranheza que tinha com Aristóteles em relação à física. Deste modo,
o objetivo das Regulae será dar a mesma certeza dos objetos matemáticos aos objetos
físicos, e para que isso seja feito, desaparecerá a instância da própria coisa. A experiência
matemática só é indubitável porque seu objeto é “puro” e “simples”, porque ele é produto
de uma abstração. Deste modo, o trabalho das Regulae será o de abrir caminho para a
transformação de objetos extensos em objetos puros e abstratos, suscetíveis de certeza.
19
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Seria o Cogito uma Intuição Instantânea?
Louis Blanchet - Doutor UFRJ – Pesquisador colaborador UNICAMP
Orientadora: Ethel Menezes
O objetivo dessa apresentação é abordar um conjunto de temas a respeito do tempo
com relação à substância pensante. Esse assunto insere-se em um tema mais amplo: o da
descontinuidade do tempo no sistema cartesiano. Segundo a hipótese de que o tempo deve
ser discreto para que a obra de Descartes seja coerente, a duração das substâncias criadas
deve ser compreendida como dívida em instantes ontologicamente independentes.
Pretende-se discutir, nessa apresentação, a aplicação dessa hipótese de interpretação no
que se refere à substância pensante. Serão abordados alguns pontos principais que servem
de base para a noção de descontinuidade do tempo com o objetivo de avaliar sua validade.
Em primeiro lugar, a prioridade da intuição sobre a dedução nas Regras Para a Direção
do Espírito, a qual, por ser muito simples, pode ser percebida pelo intelecto em um
instante, sem recurso à memória. Em seguida, serão abordadas as menções ao longo da
obra de Descartes acerca da faculdade mental da memória para avaliar se a veracidade de
seus conteúdos é ligada ao tempo de percepção desses conteúdos. Não menos importante,
é a discussão sobre a superação da dúvida nas Meditações de Filosofia Primeira,
principalmente antes da prova da existência do Deus veraz, em que o sujeito só tem
certeza de seus pensamentos enquanto os pensa. O último ponto, são as noções de duração
e tempo, como apresentadas nos Princípios de Filosofia, a quais são usadas como uma
maneira de formular a idealidade da percepção de tempo, que contribuiria para a defesa
de que a natureza real do tempo é diferente da maneira como é percebido. Propõe-se uma
leitura segundo a qual a descontinuidade do tempo não se aplica ao pensamento
cartesiano.
20
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
La philosophie gassendienne dans la critique à Descartes. Vers une différente
reconstruction de la pensée de Gassendi
Mattia Galati – Doutorando Università del Salento / Sorbonne Université
Orientador: Igor Agostini e Gilles Olivo
La Disquisitio Metaphysica, publiée en 1644, contient les textes du célèbre débat
qui eut lieu entre Gassendi et Descartes sur les Meditationes cartésiennes (1641).
Les chercheurs ont considéré les écrits de Gassendi contenus dans l’œuvre, c’est-à-dire
les Quintae Objectiones, déjà publiées en annexe à la première édition des Meditationes,
et les Instantiae, rédigées un peu plus tard, dans la même année, en réponse aux Quintae
Responsiones de Descartes, comme des écrits de nature exclusivement polémique.
En conséquence, pour reconstituer un cadre de la pensée gassendienne, on a fait référence
principalement aux œuvres systématiques. Il a semblé qu’il fallait privilégier ces
dernières, à cette fin, par rapport aux apologies ou aux commentaires des philosophes
antiques et par rapport aux écrits polémiques contre les contemporains.
Il faut cependant constater qu’en de nombreuses occasions Gassendi, à l’intérieur de la
Disquisitio, réussit à échapper aux limites imposées par la fin explicite et déclarée, à
savoir la présentation de criticités et d’objections à la philosophie cartésienne, en y
insérant de nombreuses expositions de ses propres thèses.
L’approche à l’étude de la pensée de Gassendi dont, dans ma communication, j’entends
décrire les particularités, consiste à considérer la Disquisitio non pas comme un écrit de
nature exclusivement polémique, mais aussi comme un instrument qui enregistre les
positions philosophiques propres de l’auteur au cours des années de la critique à
Descartes.
De cette approche, dans la deuxième partie de la communication, je donnerai un essai, à
travers le cas d’étude constitué par la conception gassendienne de l’existence comme
non-perfection, exposée à l’occasion de la réflexion sur la preuve a priori de l’existence
de Dieu contenue dans la Cinquième Méditation.
21
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Dedução Silogística e Dedução Matemática nas Regras de Descartes
Monique Guedes - Doutoranda UFRJ/CAPES
Orientadora: Ethel Menezes
Descartes estabelece nas Regras dois lineamentos que, reunidos, ensejam a
expectativa de que o filósofo tenha apresentado um conceito inovador de dedução: de um
lado, (1) só há uma via capaz de conduzir à ciência, a dedução; de outro, (2) as deduções
silogísticas são inúteis para quem deseja descobrir a verdade das coisas. No entanto,
quando recorremos à definição de dedução apresentada pelo filósofo ou à caracterização
feita por ele dessa operação do entendimento na Regra III, a originalidade esperada
quanto a essa noção não se mostra claramente – o que acarreta, naturalmente, uma
divergência entre os intérpretes tanto a respeito do teor da crítica de Descartes à silogística
quanto a respeito da noção de dedução que opera na obra. Nosso propósito consiste em
descrever brevemente como o debate sobre o conceito cartesiano de dedução se estabelece
na primeira metade do século XX, entre duas vertentes representadas por O. Hamelin, de
um lado, e Hannequin e Blanché, de outro; representando respectivamente a tese de que
Descartes não foi capaz de superar a dedução silogística (Hamelin) e de que Descartes
introduziu uma noção heurístico-matemática de dedução (Hannequin/Blanché). Em
seguida, exploraremos de forma mais detida alguns dos encaminhamentos dados mais
recentemente a este debate por dois autores, S. Gaukroger e Ian Hacking – o primeiro
insistindo sobre uma rejeição sumária de Descartes à dedução e o segundo enfatizando o
papel da intuição na crítica do filósofo à Dialética.
22
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
A relação entre a concepção ontológica de Descartes e seu critério de evidência
Rafael Monteiro - Doutorado UFRJ
Docente IFRJ
Orientadora: Ethel Menezes
É sabido que a prova da distinção real estabelecida por Descartes na Sexta
Meditação é fundamental para o seu sistema filosófico. Pois, por um lado, ela é importante
para garantir a física mecanicista de Descartes e, por outro lado, justifica a liberdade da
substância pensante, uma vez que tal distinção garante a possibilidade de que o
pensamento não esteja submetido às relações mecânicas que ocorrem entre os objetos
materiais (extensos) e, portanto, a mente não se encontra inexoravelmente determinada
por algo externo a ela e, por isso, pode agir livremente. Agora, segundo Ethel Rocha no
seu artigo Dualismo, Substância e Atributo Essencial no Sistema Cartesiano, a prova da
distinção real cartesiana depende de uma concepção ontológica segundo a qual a
substância se identifica com seu atributo principal. Ou seja, essa concepção peculiar de
substância se mostra importante para o sistema cartesiano. Mas Descartes assume essa
concepção ontológica peculiar apenas para garantir a prova da distinção real? O objetivo
desse trabalho consiste em mostrar que tal concepção peculiar de substância não é adotada
por Descartes simplesmente para garantir o seu dualismo, mas também estabelece uma
relação com o seu critério de evidência. Para atingir esse objetivo apresenta-se,
sinteticamente, o argumento da distinção real defendido por Rocha, discute-se o critério
de evidência cartesiano e, por fim, examina em que consiste a natureza da substância
concebida clara e distintamente pelo pensamento.
23
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Descartes, Elisabeth e a melancolia
Rafael Teruel Coelho- Mestre USP
Orientadora: Tessa Lacerda
Na vasta correspondência de Descartes com Elisabeth, nos deparamos, sobretudo
a partir de 1645, com uma espécie de “terapêutica epistolar”. O filósofo, eleito pela
princesa da Boêmia o seu “melhor médico”, ao receber de Alphonse Pollot as notícias
sobre o estado de saúde da princesa, escreveu-lhe dizendo que “a causa mais corriqueira
da febre lenta é a tristeza” (AT IV 201). Ao fazer tal diagnóstico, Descartes revela
conhecer profundamente as desditas que até então eram quase onipresentes no quotidiano
de Elisabeth, uma princesa exilada, apátrida, cuja Casa Real conheceu as amarguras da
bancarrota. E, para sanar esse mal, ele propôs à palatina alguns “remédios da alma”, de
modo que ela pudesse, valendo-se deles (especialmente da “força de sua virtude”),
restituir a felicidade ao seu espírito, não obstante as desgraças da fortuna (AT IV 201).
Nas próprias palavras do autor: “encontro para isso somente um único remédio, que é
distrair sua imaginação e seus sentidos tanto quanto for possível, e considerá-los [os
desprazeres] pelo entendimento somente quando formos obrigados pela prudência” (AT
IV 218). Elisabeth, por sua vez, confirma o diagnóstico de Descartes, muito embora
argumente que os remédios propostos por ele em nada poderiam auxiliá-la, pois ela se
consideraria “[...] absolutamente infeliz enquanto não ver a minha casa restituída ou as
pessoas que me são próximas fora da miséria” (AT IV 209). Ao analisarmos os demais
argumentos de ambos os interlocutores, pretendemos mostrar que, subjacentes a eles,
existem pressupostos ontológicos peculiares, sobretudo no que diz respeito ao modo
como eles concebiam a natureza da alma e, até mesmo, a sua união com o corpo.
Argumentaremos que, ao invés de ser uma cartesiana convicta, Elisabeth é uma crítica
audaz e bastante sutil das principais teses da doutrina cartesiana.
24
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
A tese da criação das Verdades Eternas – “Publicada”
Suellen Caroline Teixeira - Doutoranda UFU/FAPEMIG
Orientador: Alexandre Guimarães
Pretendo apresentar aqui o debate sobre a importância da teoria da livre criação
das verdades eternas que tem como argumento contrário sua ausência nas obras
publicadas. Gueroult acredita que se fosse uma tese importante não estaria oculta no
principal texto de metafísica de Descartes, a saber, as Meditações (1641), já que a tese
surge nas cartas de 1630, portanto, anterior ao texto das Meditações.
Inicialmente a tese é apresentada em resposta a Mersenne nas cartas de 1630 e
aparece brevemente em outras cartas, nas respostas às quintas e sextas objeções e na
conversação com Burman. Essas aparições diretas são reconhecidas por todos os
comentadores, no entanto, como são em cartas e textos secundários, alguns duvidam da
sua legitimidade. Entretanto, outras aparições são defendidas por aqueles que acreditam
na importância capital dessa teoria. Rodes-Lewis defende que a tese aprece
expressamente nos Princípios da Filosofia, obra que funda o enraizamento da física na
metafísica, mais especificamente nos artigos 22 a 24 e ainda é mencionada de forma
indireta nas Meditações, no Discurso e no Mundo.
Podemos ver nos Princípios as expressões “fonte de verdade” e “criador de todas
as coisas”, no art. 22, referindo-se a Deus como criador soberano; assim como no art. 23:
“que simultaneamente entende, quer e opera tudo. ‘Tudo’, isto é, eu diria, todas as coisas”,
enfatizando que o poder criador divino abrange “todas as coisas”; e, também no artigo 24
“Deus é a verdadeira causa de todas as coisas”.
O tema da criação das verdades eternas funda o princípio de que tudo o que existe
depende, necessariamente, de Deus, isto é, a potência criadora de Deus se impõe. A
causalidade eficiente e total é a principal consequência dessa tese. Assim como nas cartas
de 1630, Deus cria tudo o que existe, até mesmo a própria racionalidade do mundo – as
verdades eternas.
Portanto, pretendo mostrar que o argumento contra a importância da tese da
criação das verdades eternas que se baseia não sua não publicação em obras importantes
é inverossímil.
25
Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU
Os afetos e a música no Compendium musicæ em Descartes
Tiago de Lima Castro - Doutorando UNESP/ FAPESP
Orientadora: Lia Tomás
René Descartes escreve sua primeira obra em 1618 com o título Compendium
musicæ, no qual realiza uma primeira experimentação com o método ao sintetizar a
tradição musical de Gioseffo Zarlino com propostas nascentes em sua época. Sua obra se
estrutura de forma semelhante a geometria euclidiana, caminhando de ideias mais simples
a ideias complexas. Contudo, o texto também expõe a primeira preocupação do autor com
o problema dos afetos (no latim affectus) ou paixões, na terminologia madura do autor.
Ao propor que a música tem a finalidade de nos deleitar [do latim delectatio] e mover em
nós paixões diversas. Dessa forma, todas as colocações sobre aspectos da música na obra
têm como centro estético a necessidade de deleitar e mover paixões, portanto, sendo uma
primeira investigação em torno da temática das paixões, no caso, movidas na apreensão
do som, ou seja, de objetos sensíveis.
O delectatio propõe simultaneamente uma experiência dos sentidos como uma
experiência da alma perante o objeto sensível. Isso implica em descrever os efeitos
musicais tanto pensando na forma como os sentidos apreendem os sons e como podem
atrair a atenção da alma perante tais objetos. Não nos propomos a elaborar relações entre
estas colocações com os futuros desenvolvimentos da obra de Descartes, mas tratar da
própria estrutura interna de suas argumentações perante tal problemática. Como uma obra
de juventude, o que o próprio autor assume ao final, existem lacunas e problemas em
aberto, porém, compreender esse primeiro mergulho nas paixões é acompanhar a primeira
investigação de Descartes em torno do tema, mas com a particularidade de utilizar a
música como mediação nessa reflexão.

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Caderno de Resumos

  • 1. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Caderno de Resumos I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU 3, 4 e 5/11/2021 Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFU Grupo de Estudos Cartesianos
  • 2. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Resumos da I Jornada de Estudo Cartesianos da Pós- Graduação UFU Volume I – Número I Novembro de 2021 IFILO – UFU Organizadores: Henia Laura de Freitas Duarte Lucas Guerrezi Derze Marques Suellen Caroline Teixeira Monique Vivian Mendes Guedes Revisores: Henia Laura de Freitas Duarte Lucas Guerrezi Derze Marques Suellen Caroline Teixeira Monique Vivian Mendes Guedes
  • 3. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Apresentação A jornada foi pensada com o propósito de promover um encontro entre os pesquisadores cartesianos a fim de que possam se familiarizar com o que vem sendo investigado sobre o filósofo nos programas de pós-graduação em diversas universidades do país e de fora dele. Infelizmente, a pandemia inviabilizou o encontro presencial promovido pela ANPOF - ocasião na qual os pesquisadores com temas afins poderiam desenvolver um bom intercâmbio intelectual sobre seus trabalhos. Esperamos que nossa I Jornada Cartesiana possa remediar, ao menos em parte, o impacto do isolamento em nossas pesquisas. O Caderno é constituído pelos resumos dos trabalhos compostos para os debates ocorridos por ocasião do evento.
  • 4. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Comissão Organizadora Henia Laura de Freitas Duarte Lucas Guerrezi Derze Marques Suellen Caroline Teixeira Monique Vivian Mendes Guedes I Jornada de Estudo Cartesianos da Pós-Graduação UFU Programa de Pós-Graduação em Filosofia-UFU E-mail: ppgfilufu@ifilo.ufu.br e ppgfilufu@gmail.com Maiores informações no site https://jornadacartesiana.blogspot.com/ INSTITUTO DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA (IFILO – UFU) Campus Santa Mônica - Bloco 1U - Sala 125 Av. João Naves de Ávila, 2.121 - Bairro Santa Mônica Uberlândia - MG - CEP 38408-100 Telefone: (55) 34 3239-4185 http://www.ifilo.ufu.br/
  • 5. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Programação Primeiro encontro: dia 03 de novembro, quarta-feira Mesa 01 – 14:00 hs - Descartes sobre princípios ou substâncias Francisco Valentin – UFRJ (Exposição 20 minutos) - A tese da criação das Verdades Eternas – “Publicada” Suellen Caroline Teixeira – UFU (Exposição 20 minutos) - Sobre a “astúcia perniciosa” do modo de proceder da análise no interior das Meditações Metafísicas Andréa Alves de Abreu - UFRJ (Exposição 20 minutos) - La philosophie gassendienne dans la critique à Descartes. Vers une différente reconstruction de la pensée de Gassendi Mattia Galati – UNISALENTO/SORBONNE (Exposição 20 minutos) Abertura Oficial do Evento – 18:00 hs Palestra: - Considerações sobre o óbvio em Descartes Alexandre Guimarães Tadeu de Soares - UFU Segundo encontro: dia 04 de novembro, quinta-feira Mesa 02 – 09:00 hs - A relação entre o Compêndio de música e As paixões da alma em Descartes Henia Laura de Freitas Duarte - UFU (Exposição 20 minutos) - Os afetos e a música no Compendium musicæ em Descartes Tiago de Lima Castro – UNESP (Exposição 20 minutos) - Uma filosofia esgotada. Beckett leitor de Descartes Carmel da Silva Ramos – UFRJ (Exposição 20 minutos) - Descartes, Elisabeth e a melancolia
  • 6. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Rafael Teruel Coelho - USP (Exposição 20 minutos) Mesa 03 – 14:00 hs - A abstração matemática como o paradigma para a universalização da ciência Lucas Guerrezi Derze Marques – UFU (Exposição 20 minutos) - Correspondências entre o método das Regras e a metafísica da maturidade de Descartes Ana Cláudia Teodoro - UFMG (Exposição 20 minutos) - Dedução Silogística e Dedução Matemática nas Regras de Descartes Monique Vivian Mendes Guedes - UFRJ (Exposição 20 minutos) - La « méditation » de Heidegger sur les Regulae de Descartes Francesco Paolo Gallotta – UNISALENTO/SORBONNE (Exposição 20 minutos) Convidado externo – 18:00 hs Palestra: - Une pensée spéculaire: Nietzsche avec Descartes Andrea Bocchetti - Università degli studi di Napoli “Federico II Terceiro encontro: dia 05 de novembro, sexta feira Mesa 04 – 14:00 hs - O entrelaçamento entre os erros epistêmicos e morais na Filosofia de Descartes Daniele Pacheco do Nascimento – UFRJ (Exposição 20 minutos) - A relação entre a concepção ontológica de Descartes e seu critério de evidência Rafael Monteiro – UFRJ (Exposição 20 minutos) - Seria o Cogito uma Intuição Instantânea? Louis Blanchet - UNICAMP (Exposição 20 minutos) - Círculo hermenêutico entre a Primeira e a Segunda Meditações Geder Paulo Friedrich Cominetti - UNIOESTE (Exposição 20 minutos) Encerramento oficial do Evento – 18:00 hs
  • 7. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Palestra: - A Percepção Sensível Segundo a Dióptrica de Descartes Lia Levy (UFRGS)
  • 8. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Sumário Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Correspondências entre o método das Regras e a metafísica da maturidade de Descartes ........................................................................................................................10 Ana Cláudia Teodoro .....................................................................................................10 Sobre a “astúcia perniciosa” do modo de proceder da análise no interior das Meditações Metafísicas ..................................................................................................11 Andréa Alves de Abreu ...................................................................................................11 Uma filosofia esgotada. Beckett leitor de Descartes ..................................................12 Carmel da Silva Ramos ..................................................................................................12 O entrelaçamento entre os erros epistêmicos e morais na Filosofia de Descartes .....13 Daniele Pacheco do Nascimento ....................................................................................13 La « méditation » de Heidegger sur le Regulae de Descartes ......................................14 Francesco Paolo .............................................................................................................14 Descartes sobre princípios ou substâncias ...................................................................15 Francisco Valentin .........................................................................................................15 Círculo hermenêutico entre a Primeira e a Segunda Meditações ..............................16 Geder Paulo Friedrich Cominetti ..................................................................................16 A relação entre o Compêndio de música e As paixões da alma em Descartes .......17 Henia Laura de Freitas Duarte...............................................................................17 A abstração matemática como o paradigma para a universalização da ciência .......18 Lucas Guerrezi Derze Marques ......................................................................................18 Seria o Cogito uma Intuição Instantânea? ...................................................................19 Louis Blanchet ................................................................................................................19 La philosophie gassendienne dans la critique à Descartes. Vers une différente reconstruction de la pensée de Gassendi ......................................................................20 Mattia Galati .....................................................................................................................20
  • 9. Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Dedução Silogística e Dedução Matemática nas Regras de Descartes .......................21 Monique Guedes ............................................................................................................21 A relação entre a concepção ontológica de Descartes e seu critério de evidência ......22 Rafael Monteiro .............................................................................................................22 Descartes, Elisabeth e a melancolia ..............................................................................23 Rafael Teruel Coelho .....................................................................................................23 A tese da criação das Verdades Eternas – “Publicada” ..............................................24 Suellen Caroline Teixeira ..............................................................................................24 Os afetos e a música no Compendium musicæ em Descartes .......................................25 Tiago de Lima Castro .....................................................................................................25
  • 10. 10 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Correspondências entre o método das Regras e a metafísica da maturidade de Descartes Ana Cláudia Teodoro – Doutoranda UFMG Orientador: Jose Raimundo Maia Neto Dado o abandono das Regras para a Direção do Espírito por Descartes, provavelmente em 1628, é comum que se avalie uma ruptura no projeto do filósofo e, consequentemente, este escrito da juventude é preterido frente àquelas obras finalizadas e publicadas pelo autor. Não obstante, as Regras fornecem o que Descartes chamaria de “primeiras sementes do pensamento” e, não sendo uma obra isolada do resto de sua doutrina, o texto contido ali aparece como um recurso valioso para a interpretação da filosofia cartesiana, mesmo considerando as noções e ideias que foram, de fato, pospostas ulteriormente. Assim, intencionamos lançar luz a um dos temas mais importantes da filosofia da maturidade cartesiana, sua metafísica, a partir de sua íntima relação com o método apresentado nas Regras. Argumentaremos que, mesmo que Descartes não apresente uma metafísica nessa obra abandonada, o método que ele descreve ali possui as mesmas características e funções que a metafísica estabelecida depois de 1637. Para tanto, mostraremos que à medida que a metafísica é esmiuçada por Descartes, o volume e a relevância das regras do método são paulatinamente atenuados, como se o método estivesse sendo substituído pela fundamentação conquistada pela metafísica. Em seguida, é necessário mostrar que esta substituição é plausível tendo em vista a função semelhante que é concedida ao método e a metafísica: ambos são primeiros porque se mostram universais e, além disso, carecem da afirmação do eu pensante que é fundamento para todo o conhecimento possível. Portanto, pretende-se constatar que a primazia do sujeito das Regras antecipa, pelo menos de modo estritamente epistemológico, o que é estabelecido posteriormente, de forma sistematizada e metafísica, com o cogito.
  • 11. 11 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Sobre a “astúcia perniciosa” do modo de proceder da análise no interior das Meditações Metafísicas Andréa Alves de Abreu - Doutoranda UFRJ/CAPES Orientadora: Ethel Menezes Assumo que Descartes utiliza o modo de proceder da análise matemática para escrever as Meditações Metafísicas (MM). Protagonizando, necessariamente, tal modo de procedimento, defendo que as MM apresentam um meditador exercendo e exibindo a atividade de pensar. Cabe avaliar o quanto compreender o que seja a ruse funeste/astúcia perniciosa que Descartes atribui aos matemáticos helenísticos Pappus e Diofanto, ao utilizarem a análise, pode contribuir para a defesa de que as MM exibem a atividade de pensar por meio de seu meditador. Nas Regras para a Direção do Espírito (Regra IV), Pappus e Diofanto são apresentados como os conhecedores dos vestígios da verdadeira matemática. Por sua vez, esta “verdadeira matemática” é identificada às “primeiras sementes de verdades depositadas pela natureza nos espíritos humanos”, aquelas que fizeram os homens conhecerem ideias verdadeiras da filosofia - “ainda que isso não tenha sido suficiente para que alcançassem perfeitamente ambas as ciências”. A estes helenísticos é atribuída a prática de uma “espécie de astúcia perniciosa” (ruse funeste) que faz desaparecer os vestígios da “verdadeira matemática”. Eles a praticam reconhecendo que também os artesãos procedem de forma relativa às suas próprias invenções. Aqui é possível supor que tanto os artesãos fazem uso de algo comum à matemática quanto que, astuta e perniciosamente, fizeram desaparecer os vestígios das técnicas que utilizavam na composição de seus artesanatos. Além disso, Pappus, Diofanto e os artesãos parecem ter ainda mais em comum: são capazes de demonstrar os efeitos de suas artes, mas não ensinam a própria arte dotada de grande facilidade e simplicidade. Suponho que a compreensão de ruse tal qual empregada pelos gregos possa ajudar a esclarecer o estabelecimento da relação aqui enunciada – qual seja, entre a atividade do meditador metafísico e a ruse da análise dos helenísticos assumida nas MM.
  • 12. 12 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Uma filosofia esgotada. Beckett leitor de Descartes Carmel da Silva Ramos – Doutoranda UFRJ Docente UFRJ Orientador: Ulysses Pinheiro O objetivo desta apresentação é refletir sobre os usos que o escritor irlandês Samuel Beckett (1906–1989) fez do cartesianismo em sua obra literária. Beckett se apropria de Descartes em ao menos três frentes: considerando, de maneira cômica, os dados de sua biografia — como no poema Whoroscope (1930) —, a partir de suas escolhas estilísticas — ao empregar, em seus assim chamados romances do pós-guerra, ou seja, Molloy (1951), Malone Morre (1951) e O Inominável (1953), o monólogo em primeira pessoa — e, por fim, através de uma releitura do conteúdo de sua filosofia — recuperando a distinção real entre a alma e o corpo, bem como algumas das regras lógicas cartesianas, em Murphy (1938). Tais estratégias literárias serão remetidas ao conceito de esgotamento, tal como formulado por Gilles Deleuze no ensaio intitulado O esgotado (1992), cujo centro de análise é a obra literária e televisiva beckettiana. Discutiremos, de modo geral, a relação entre filosofia e literatura, sugerindo que há, no Beckett leitor de Descartes, um uso perverso da filosofia, o qual surge acompanhado de uma reflexão sobre os limites referencialistas da linguagem. Tal proposta poderá inspirar uma abordagem metodológica que siga um caminho inverso, quer dizer, que faça um uso perverso dos signos literários — e filosóficos — também na filosofia.
  • 13. 13 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU O entrelaçamento entre os erros epistêmicos e morais na Filosofia de Descartes Daniele Pacheco do Nascimento - Doutoranda UFRJ/FAPERJ Orientadora: Ethel Menezes Pretendo defender que há dois tipos distintos de erro humano na Filosofia de Descartes, a saber, o erro epistêmico e o erro moral, e há dois modos distintos como são tratados pelo filósofo. Sustentarei que essas duas perspectivas de erro ainda que distintas, em certo sentido, estão absolutamente entrelaçadas na explicação do erro que diz respeito à moral. Abordarei primeiramente a perspectiva que diz respeito ao erro que se explica apenas em função da atuação conjunta entre as faculdades da razão humana. Por esse prisma, pretendo mostrar que Descartes defende que há um desalinho entre a faculdade da vontade e a faculdade do entendimento, em razão do que se originam os erros epistêmicos. Esses erros envolvem a busca pelo conhecimento em que a certeza (subjetiva) acerca da deliberação envolve também a garantia da verdade (objetiva). Nesses casos há a possibilidade (e também a necessidade) de uma deliberação onde, em casos de incerteza, seja aplicada a suspensão do juízo, como mostrarei. Sobre a segunda perspectiva de erro, busco mostrar que no que diz respeito aos erros morais, Descartes os explica não apenas – mas também – pelo funcionamento das faculdades da razão. Nesse contexto, embora o desalinho entre as faculdades da vontade e do entendimento também seja causa do erro, é preciso levar em conta o envolvimento da íntima relação entre a alma e o corpo. Descartes já indica, de acordo com a minha leitura, esse entrelaçamento na Quarta Meditação, embora não tenha aprofundado ali essa segunda perspectiva de erro, optando por desenvolver naquele momento apenas a problematização acerca da perspectiva epistêmica.
  • 14. 14 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU La « méditation » de Heidegger sur les Regulae de Descartes Francesco Paolo Gallotta - Doutor Università del Salento / Sorbonne Université, Orientadores: Igor Agostini e Dominique Pradelle. Cette intervention porte sur l’interprétation heideggérienne du traité inachevé de Descartes intitulé Regulae ad directionem ingenii. Heidegger se réfère explicitement à cette œuvre de Descartes afin de montrer l’émergence et la refondation du savoir dans la modernité. Je me bornerai à analyser certaines annotations écrites dans les années ‘30 et ’40, qui figurent dans le volume 76 de la Gesamtausgabe, (l’édition complète de l'œuvre de Martin Heidegger). Parmi les aspects qui caractérisent la modernité, Heidegger souligne celui joué par la méthode. Selon sa perspective, la méthode n’est pas simplement une procédure, à voir un instrument qu’on ajoute de l’extérieure à la chose déjà disponible. En revanche, dans la lecture heideggérienne la méthode est une manière de procéder anticipative (Vor-gehen) fondée sur un projet préalable (Entwurf). Un tel projet délimite un certain domaine d’objets et ainsi détermine par avance ce que les choses sont et peuvent être. Ce caractère anticipatif du projet est le noyau de ce que Heidegger appelle mathesis. Le projet moderne du savoir est « mathématique » puisqu’il est fondé sur la mathesis. J’essaierai de montrer que Heidegger oppose au projet cartésien du savoir une autre manière de concevoir le savoir, c’est-à-dire le « projet de la vérité de l’être ».
  • 15. 15 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Descartes sobre princípios ou substâncias Francisco Valentin - Mestrando UFRJ Orientadora: Ethel Menezes Na carta de 28 de janeiro de 1641, Descartes confessa a seu interlocutor Mersenne que “essas seis meditações contém toda a fundamentação da minha física. Mas não o espalhe, pois isso pode tornar mais difícil aos defensores de Aristóteles de aprová-las. Eu espero que esses leitores gradualmente se acostumem com meus princípios, e reconheçam a verdade deles, antes que eles notem que esses princípios destroem os princípios de Aristóteles.” (AT III, 298; CSMK, 173). Grosso modo, o esforço da apresentação será o de oferecer uma possível interpretação a essa passagem. Tal esforço passará pelas seguintes indagações: (a) o que Descartes parece entender pela noção de princípio e (b) como a afirmação dos princípios cartesianos promete minar os princípios de Aristóteles ou escolásticos. Nisso que concerne à primeira das indagações, utilizando a carta de junho ou julho de 1646 a Clerselier, na qual Descartes se dedica a esclarecer o que entende pela noção de princípio, será argumentado que há certa equivocidade nesse conceito. Princípio tanto significa as noções comuns ou verdades lógicas quanto um ser – ou substância, como será avaliado – que se sabe existir. Uma vez que Descartes não parece pretender verdades lógicas diferentes dessas já aceitas pela filosofia tradicional, fica sugerido que a pretensão cartesiana de refundar a física desde novos princípios passa pela reconsideração da noção de substância. Essa discussão encaminha a avaliação da segunda das indagações acima, a saber, como a teoria cartesiana dos princípios interdita os princípios escolásticos. Nesse ponto, utilizando a carta-prefácio dos Principia, será argumentado que tal interdição passa pelas duas condições que Descartes impõe à teoria dos princípios ou substâncias: (I) os princípios devem ser claros e evidentes; (II) que eles sejam conhecidos per se enquanto as demais coisas sejam conhecidas a partir deles.
  • 16. 16 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Círculo hermenêutico entre a Primeira e a Segunda Meditações Geder Paulo Friedrich Cominetti - Doutorando UNIOESTE Docente IFPR Orientador: César Battisti Apresentaremos a descoberta do cogito como um modo de a razão operar ao mesmo tempo em que a razão opera com o pressuposto do cogito. Para tanto, reinterpretaremos a sentença que estabelece o cogito como representação da razão na medida em que dá a ela o papel de referência a um subjectum. Justificaremos que o movimento em círculo das primeiras duas meditações é profícuo em reordenar os elementos do conhecimento do simples ao composto, e que esse modo de proceder é fundamental nas ciências porque ela lida com sentenças. A sentença tem uma organização categorial que, espelhada no objeto, abre campo à verdade por correspondência. Perguntamos: como essa nossa hipótese de um círculo hermenêutico nas meditações é coerente com o movimento que vai do simples ao composto, movimento que nos dá impressão de linearidade? Com isso, objetivamos expor a estrutura da construção metafísica de Descartes como um movimento de apreensão das verdades por uma espécie de calibragem da percepção, em que a metafísica resulta dos fundamentos da ciência como uma espécie de direcionamento do olhar científico que projeta os objetos de modo a torná-los apreensíveis por meio de sentenças. Metodologicamente, seguiremos as seguintes etapas: (a) levantaremos a hipótese do círculo hermenêutico como movimento das meditações, (2) caracterizaremos seu modo de fazer emergir as verdades na filosofia de Descartes e, por fim, (c) indicaremos a coerência entre avançar nas descobertas da verdade por meio do movimento circular.
  • 17. 17 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU A relação entre o Compêndio de música e As paixões da alma em Descartes Henia Laura de Freitas Duarte - Doutoranda UFU/CAPES Orientador: Alexandre Guimarães O trabalho tem como principal objetivo conduzir uma explicação sobre a relação existente entre a primeira obra de Descartes, a saber, o Compendium musicae (1618) e a sua última obra As paixões da alma (1649). Na primeira parte, apresentaremos resumidamente o percurso feito por Descartes no Compendium musicae (1618). Na segunda parte, mostraremos que nos anos de 1640, Descartes estuda melhor a temática das paixões. Se no Compêndio, o filósofo fala da possibilidade de relacioná-las com a Música, em seu último texto começa o esboço do que poderia ter sido o desenvolvimento de sua primeira obra. Nesse aspecto, o Compêndio relaciona-se com o último texto cartesiano. Nele encontramos a tematização da ligação que os afetos e as paixões da alma podem estabelecer com a Música. Na terceira parte, mostraremos como a finalidade da Música ou da obra de arte já não é a realização da mímesis, ou seja, imitação da natureza, mas a animação dos nossos afetos. Simplesmente o prazer pela audição de uma determinada composição musical ou de contemplação ante a obra de arte que nos satisfaça. A finalidade é provocar prazer estético, a especificidade desse tipo de prazer é extremamente importante para que compreendamos toda a estética cartesiana. Para concluir, propomos uma explicação baseada no seu Tratado das paixões, segundo o qual, o prazer musical poderia ser interpretado a partir da união de alma e de corpo.
  • 18. 18 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU A abstração matemática como o paradigma para a universalização da ciência Lucas Guerrezi Derze Marques - Mestrando UFU/CAPES Orientador: Sertório de Amorim e Silva Neto Nesta comunicação, pretendemos demonstrar como a abstração matemática exerce uma função paradigmática para a universalização da ciência proposta por René Descartes em suas Regulae. Acreditamos, assim como Jean-Luc Marion, que desde a primeira regra Descartes já determina o fim último proposto para sua obra: inverter o centro de gravidade da relação epistêmica. Será essa complexa tarefa que determinará quase todas as transformações realizadas por Descartes em relação aos seus antecessores e será sobre uma destas transformações que nossa fala se voltará com maior ênfase, a saber, a utilidade primordial da abstração matemática para a ciência. Ao contrário de Aristóteles, Descartes posiciona o centro de gravidade da relação epistêmica na mente, não no objeto. É somente com essa realocação que será possível alcançar a almejada unidade geral das ciências. A luz natural da razão se tornará a operadora da certeza, a única modalidade epistemológica aceitável na ciência, assegurando-se como o elemento unificador. A certeza como critério de cientificidade excluirá tudo aquilo que não possa satisfazê-la. Será somente com essa inversão, exigindo com que a ciência deixe de ser fundamentada pela própria coisa e de se sujeitar a probabilidade advinda da contingência material que Descartes conseguirá satisfazer o critério de certeza estabelecido. Entretanto, o preço da certeza será o da marginalização da “matéria”. Nas Regulae, o discurso matemático perde a estranheza que tinha com Aristóteles em relação à física. Deste modo, o objetivo das Regulae será dar a mesma certeza dos objetos matemáticos aos objetos físicos, e para que isso seja feito, desaparecerá a instância da própria coisa. A experiência matemática só é indubitável porque seu objeto é “puro” e “simples”, porque ele é produto de uma abstração. Deste modo, o trabalho das Regulae será o de abrir caminho para a transformação de objetos extensos em objetos puros e abstratos, suscetíveis de certeza.
  • 19. 19 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Seria o Cogito uma Intuição Instantânea? Louis Blanchet - Doutor UFRJ – Pesquisador colaborador UNICAMP Orientadora: Ethel Menezes O objetivo dessa apresentação é abordar um conjunto de temas a respeito do tempo com relação à substância pensante. Esse assunto insere-se em um tema mais amplo: o da descontinuidade do tempo no sistema cartesiano. Segundo a hipótese de que o tempo deve ser discreto para que a obra de Descartes seja coerente, a duração das substâncias criadas deve ser compreendida como dívida em instantes ontologicamente independentes. Pretende-se discutir, nessa apresentação, a aplicação dessa hipótese de interpretação no que se refere à substância pensante. Serão abordados alguns pontos principais que servem de base para a noção de descontinuidade do tempo com o objetivo de avaliar sua validade. Em primeiro lugar, a prioridade da intuição sobre a dedução nas Regras Para a Direção do Espírito, a qual, por ser muito simples, pode ser percebida pelo intelecto em um instante, sem recurso à memória. Em seguida, serão abordadas as menções ao longo da obra de Descartes acerca da faculdade mental da memória para avaliar se a veracidade de seus conteúdos é ligada ao tempo de percepção desses conteúdos. Não menos importante, é a discussão sobre a superação da dúvida nas Meditações de Filosofia Primeira, principalmente antes da prova da existência do Deus veraz, em que o sujeito só tem certeza de seus pensamentos enquanto os pensa. O último ponto, são as noções de duração e tempo, como apresentadas nos Princípios de Filosofia, a quais são usadas como uma maneira de formular a idealidade da percepção de tempo, que contribuiria para a defesa de que a natureza real do tempo é diferente da maneira como é percebido. Propõe-se uma leitura segundo a qual a descontinuidade do tempo não se aplica ao pensamento cartesiano.
  • 20. 20 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU La philosophie gassendienne dans la critique à Descartes. Vers une différente reconstruction de la pensée de Gassendi Mattia Galati – Doutorando Università del Salento / Sorbonne Université Orientador: Igor Agostini e Gilles Olivo La Disquisitio Metaphysica, publiée en 1644, contient les textes du célèbre débat qui eut lieu entre Gassendi et Descartes sur les Meditationes cartésiennes (1641). Les chercheurs ont considéré les écrits de Gassendi contenus dans l’œuvre, c’est-à-dire les Quintae Objectiones, déjà publiées en annexe à la première édition des Meditationes, et les Instantiae, rédigées un peu plus tard, dans la même année, en réponse aux Quintae Responsiones de Descartes, comme des écrits de nature exclusivement polémique. En conséquence, pour reconstituer un cadre de la pensée gassendienne, on a fait référence principalement aux œuvres systématiques. Il a semblé qu’il fallait privilégier ces dernières, à cette fin, par rapport aux apologies ou aux commentaires des philosophes antiques et par rapport aux écrits polémiques contre les contemporains. Il faut cependant constater qu’en de nombreuses occasions Gassendi, à l’intérieur de la Disquisitio, réussit à échapper aux limites imposées par la fin explicite et déclarée, à savoir la présentation de criticités et d’objections à la philosophie cartésienne, en y insérant de nombreuses expositions de ses propres thèses. L’approche à l’étude de la pensée de Gassendi dont, dans ma communication, j’entends décrire les particularités, consiste à considérer la Disquisitio non pas comme un écrit de nature exclusivement polémique, mais aussi comme un instrument qui enregistre les positions philosophiques propres de l’auteur au cours des années de la critique à Descartes. De cette approche, dans la deuxième partie de la communication, je donnerai un essai, à travers le cas d’étude constitué par la conception gassendienne de l’existence comme non-perfection, exposée à l’occasion de la réflexion sur la preuve a priori de l’existence de Dieu contenue dans la Cinquième Méditation.
  • 21. 21 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Dedução Silogística e Dedução Matemática nas Regras de Descartes Monique Guedes - Doutoranda UFRJ/CAPES Orientadora: Ethel Menezes Descartes estabelece nas Regras dois lineamentos que, reunidos, ensejam a expectativa de que o filósofo tenha apresentado um conceito inovador de dedução: de um lado, (1) só há uma via capaz de conduzir à ciência, a dedução; de outro, (2) as deduções silogísticas são inúteis para quem deseja descobrir a verdade das coisas. No entanto, quando recorremos à definição de dedução apresentada pelo filósofo ou à caracterização feita por ele dessa operação do entendimento na Regra III, a originalidade esperada quanto a essa noção não se mostra claramente – o que acarreta, naturalmente, uma divergência entre os intérpretes tanto a respeito do teor da crítica de Descartes à silogística quanto a respeito da noção de dedução que opera na obra. Nosso propósito consiste em descrever brevemente como o debate sobre o conceito cartesiano de dedução se estabelece na primeira metade do século XX, entre duas vertentes representadas por O. Hamelin, de um lado, e Hannequin e Blanché, de outro; representando respectivamente a tese de que Descartes não foi capaz de superar a dedução silogística (Hamelin) e de que Descartes introduziu uma noção heurístico-matemática de dedução (Hannequin/Blanché). Em seguida, exploraremos de forma mais detida alguns dos encaminhamentos dados mais recentemente a este debate por dois autores, S. Gaukroger e Ian Hacking – o primeiro insistindo sobre uma rejeição sumária de Descartes à dedução e o segundo enfatizando o papel da intuição na crítica do filósofo à Dialética.
  • 22. 22 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU A relação entre a concepção ontológica de Descartes e seu critério de evidência Rafael Monteiro - Doutorado UFRJ Docente IFRJ Orientadora: Ethel Menezes É sabido que a prova da distinção real estabelecida por Descartes na Sexta Meditação é fundamental para o seu sistema filosófico. Pois, por um lado, ela é importante para garantir a física mecanicista de Descartes e, por outro lado, justifica a liberdade da substância pensante, uma vez que tal distinção garante a possibilidade de que o pensamento não esteja submetido às relações mecânicas que ocorrem entre os objetos materiais (extensos) e, portanto, a mente não se encontra inexoravelmente determinada por algo externo a ela e, por isso, pode agir livremente. Agora, segundo Ethel Rocha no seu artigo Dualismo, Substância e Atributo Essencial no Sistema Cartesiano, a prova da distinção real cartesiana depende de uma concepção ontológica segundo a qual a substância se identifica com seu atributo principal. Ou seja, essa concepção peculiar de substância se mostra importante para o sistema cartesiano. Mas Descartes assume essa concepção ontológica peculiar apenas para garantir a prova da distinção real? O objetivo desse trabalho consiste em mostrar que tal concepção peculiar de substância não é adotada por Descartes simplesmente para garantir o seu dualismo, mas também estabelece uma relação com o seu critério de evidência. Para atingir esse objetivo apresenta-se, sinteticamente, o argumento da distinção real defendido por Rocha, discute-se o critério de evidência cartesiano e, por fim, examina em que consiste a natureza da substância concebida clara e distintamente pelo pensamento.
  • 23. 23 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Descartes, Elisabeth e a melancolia Rafael Teruel Coelho- Mestre USP Orientadora: Tessa Lacerda Na vasta correspondência de Descartes com Elisabeth, nos deparamos, sobretudo a partir de 1645, com uma espécie de “terapêutica epistolar”. O filósofo, eleito pela princesa da Boêmia o seu “melhor médico”, ao receber de Alphonse Pollot as notícias sobre o estado de saúde da princesa, escreveu-lhe dizendo que “a causa mais corriqueira da febre lenta é a tristeza” (AT IV 201). Ao fazer tal diagnóstico, Descartes revela conhecer profundamente as desditas que até então eram quase onipresentes no quotidiano de Elisabeth, uma princesa exilada, apátrida, cuja Casa Real conheceu as amarguras da bancarrota. E, para sanar esse mal, ele propôs à palatina alguns “remédios da alma”, de modo que ela pudesse, valendo-se deles (especialmente da “força de sua virtude”), restituir a felicidade ao seu espírito, não obstante as desgraças da fortuna (AT IV 201). Nas próprias palavras do autor: “encontro para isso somente um único remédio, que é distrair sua imaginação e seus sentidos tanto quanto for possível, e considerá-los [os desprazeres] pelo entendimento somente quando formos obrigados pela prudência” (AT IV 218). Elisabeth, por sua vez, confirma o diagnóstico de Descartes, muito embora argumente que os remédios propostos por ele em nada poderiam auxiliá-la, pois ela se consideraria “[...] absolutamente infeliz enquanto não ver a minha casa restituída ou as pessoas que me são próximas fora da miséria” (AT IV 209). Ao analisarmos os demais argumentos de ambos os interlocutores, pretendemos mostrar que, subjacentes a eles, existem pressupostos ontológicos peculiares, sobretudo no que diz respeito ao modo como eles concebiam a natureza da alma e, até mesmo, a sua união com o corpo. Argumentaremos que, ao invés de ser uma cartesiana convicta, Elisabeth é uma crítica audaz e bastante sutil das principais teses da doutrina cartesiana.
  • 24. 24 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU A tese da criação das Verdades Eternas – “Publicada” Suellen Caroline Teixeira - Doutoranda UFU/FAPEMIG Orientador: Alexandre Guimarães Pretendo apresentar aqui o debate sobre a importância da teoria da livre criação das verdades eternas que tem como argumento contrário sua ausência nas obras publicadas. Gueroult acredita que se fosse uma tese importante não estaria oculta no principal texto de metafísica de Descartes, a saber, as Meditações (1641), já que a tese surge nas cartas de 1630, portanto, anterior ao texto das Meditações. Inicialmente a tese é apresentada em resposta a Mersenne nas cartas de 1630 e aparece brevemente em outras cartas, nas respostas às quintas e sextas objeções e na conversação com Burman. Essas aparições diretas são reconhecidas por todos os comentadores, no entanto, como são em cartas e textos secundários, alguns duvidam da sua legitimidade. Entretanto, outras aparições são defendidas por aqueles que acreditam na importância capital dessa teoria. Rodes-Lewis defende que a tese aprece expressamente nos Princípios da Filosofia, obra que funda o enraizamento da física na metafísica, mais especificamente nos artigos 22 a 24 e ainda é mencionada de forma indireta nas Meditações, no Discurso e no Mundo. Podemos ver nos Princípios as expressões “fonte de verdade” e “criador de todas as coisas”, no art. 22, referindo-se a Deus como criador soberano; assim como no art. 23: “que simultaneamente entende, quer e opera tudo. ‘Tudo’, isto é, eu diria, todas as coisas”, enfatizando que o poder criador divino abrange “todas as coisas”; e, também no artigo 24 “Deus é a verdadeira causa de todas as coisas”. O tema da criação das verdades eternas funda o princípio de que tudo o que existe depende, necessariamente, de Deus, isto é, a potência criadora de Deus se impõe. A causalidade eficiente e total é a principal consequência dessa tese. Assim como nas cartas de 1630, Deus cria tudo o que existe, até mesmo a própria racionalidade do mundo – as verdades eternas. Portanto, pretendo mostrar que o argumento contra a importância da tese da criação das verdades eternas que se baseia não sua não publicação em obras importantes é inverossímil.
  • 25. 25 Resumos da I Jornada de Estudos Cartesianos da Pós-Graduação UFU Os afetos e a música no Compendium musicæ em Descartes Tiago de Lima Castro - Doutorando UNESP/ FAPESP Orientadora: Lia Tomás René Descartes escreve sua primeira obra em 1618 com o título Compendium musicæ, no qual realiza uma primeira experimentação com o método ao sintetizar a tradição musical de Gioseffo Zarlino com propostas nascentes em sua época. Sua obra se estrutura de forma semelhante a geometria euclidiana, caminhando de ideias mais simples a ideias complexas. Contudo, o texto também expõe a primeira preocupação do autor com o problema dos afetos (no latim affectus) ou paixões, na terminologia madura do autor. Ao propor que a música tem a finalidade de nos deleitar [do latim delectatio] e mover em nós paixões diversas. Dessa forma, todas as colocações sobre aspectos da música na obra têm como centro estético a necessidade de deleitar e mover paixões, portanto, sendo uma primeira investigação em torno da temática das paixões, no caso, movidas na apreensão do som, ou seja, de objetos sensíveis. O delectatio propõe simultaneamente uma experiência dos sentidos como uma experiência da alma perante o objeto sensível. Isso implica em descrever os efeitos musicais tanto pensando na forma como os sentidos apreendem os sons e como podem atrair a atenção da alma perante tais objetos. Não nos propomos a elaborar relações entre estas colocações com os futuros desenvolvimentos da obra de Descartes, mas tratar da própria estrutura interna de suas argumentações perante tal problemática. Como uma obra de juventude, o que o próprio autor assume ao final, existem lacunas e problemas em aberto, porém, compreender esse primeiro mergulho nas paixões é acompanhar a primeira investigação de Descartes em torno do tema, mas com a particularidade de utilizar a música como mediação nessa reflexão.