Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Marc couturier
1. Marc Couturier
Universidade Católica Portuguesa – Faculdade de Teologia
Braga, 2019
Teologia – 1º ano de Doutoramento | ano pastoral
Unidade: Pastoral da Cultura
Aluno: João Miguel Pereira
Artiste
3. Marc Couturier
Encontramos em Marc Couturier, nascido em 1946 na Bourgogne, esta
vontade de despojamento traduzindo-se através de formas depuradas
e atitudes de renúncia.
Esta arte da escassez está carregada contudo de uma forte dimensão
espiritual, que revisita em particular a tradição cristã: a encarnação, o
mistério, a providência, a presença… Para este artista contemplativo a
sua obra é religiosa, no sentido de «o que liga»: «A obra, este
acontecimento que vem, liga alguém a uma presença».
No seu percurso artístico, sabe deixar assim um lugar importante «ao
que advém», num estado ao mesmo tempo de abandono e de
disponibilidade.
4. Marc Couturier
Contrariamente ao que se poderia acreditar, esta passividade aparente
implica uma espécie de ascese interior muito difícil. Um tratado sobre
O Abandono à Providência Divina, datado do início do séc. XVIII,
declara: «O que nos acontece a cada momento pela ordem de Deus é o
que há de mais santo e de mais divino em nós. Toda a nossa ciência
consiste em conhecer esta ordem no momento presente». Uma nota
de Marc Couturier sobre o seu 3 próprio trabalho evoca esta
espiritualidade do abandono: «o que é divino é sem esforço».
Nesta linha, a dimensão espiritual em Marc Couturier materializa-se
sempre através do mundo real, naquilo que ele tem de mais concreto
e por vezes rugoso, até mesmo trivial: barcos, pedras, folhas de
árvore, objetos abandonados…
17. Sugere de maneira
significativa esta elevação dos
materiais onde coincidem
sagrado e profano.
O título começa pelo linho branco
opaco, depois pela transparência
imaterial do vidro e acaba
simbolicamente pelo ouro, o
material mais nobre. Com uma
grande simplicidade formal, esta
peça convida-nos a um processo de
purificação espiritual. Mas, ao
mesmo tempo, a quotidianidade
dos objetos apresentados jamais é
esquecida. Os sinos de vidro,
evocando as procuras das relíquias
sagradas, não são mais que serras
banais para jardinar. O tecido que
faz alusão a um altar litúrgico está
dobrado como um pano de uso
comum. A lâmina horizontal em
madeira, coberta de folhas de ouro
como os ícones, é inspirada apenas
pelas nuvens douradas ao pôr-do-
sol.
"Lin, verre, or“
“Linho, vidro, ouro”
1988
18. Wall drawing
“desenho na parede”
2006
realizada em tons de cinzento sobre o stucco
(estuque), mergulha do mesmo modo o
espetador num espaço de vacuidade,
propício ao silêncio e à contemplação.
Contudo, o seu processo de criação implica de
maneira intensa o gesto e o material: «Todo o meu
ser neste momento está comprometido num gesto
ao mesmo tempo conteúdo e contínuo». Uma
longa preparação é necessária para conseguir o
suporte que impede arrepiar caminho. Este
trabalho cansativo, realizado na solidão da noite,
«requer uma grande ascese mental e uma
poderosa energia física». Através deste confronto
obscuro com a matéria, Marc Couturier tenta
«buscar uma luz interior». Cita a este propósito S.
Bernardo: «Os monges deveriam extirpar o mel
das pedras». Da arte como experiência monástica.
21. Fontes das imagens:
• http://i-ac.eu/fr/collection/537_barque-de-saone-iii-MARC-
COUTURIER-1989-1990
• https://www.laurentgodin.com/marc-couturier
Outros sobre o diálogo entre a Igreja e a arte contemporânea:
• https://videotheque.cfrt.tv/video/quel-dialogue-entre-le-createur-contemporain-
et-leglise/