SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 10
Baixar para ler offline
1
Este artigo está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional
A fAlA em ferdinAnd
de SAuSSure: fAculdAde
e exercício dA linguAgem
1
Micaela Pafume Coelho*
https://orcid.org/0000-0001-7734-7633
Como citar este artigo: COELHO, M. P. A fala em Ferdinand de Saussure: faculdade
e exercício da linguagem. Todas as Letras – Revista de Língua e Literatura, São Paulo,
v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020. DOI: 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
Submissão: fevereiro de 2020. Aceite: maio de 2020.
Resumo: A fala é um conceito saussuriano sobre o qual há poucas definições
diretas, no seio das elaborações de Saussure, mas que permite ser caracterizado
de forma relacional, a partir da língua e da linguagem. Contudo, ainda assim
restam algumas questões referentes à delimitação desse conceito; é possível,
por exemplo, cogitar uma aproximação terminológico-conceitual entre o conceito
de fala e as noções de faculdade e de exercício da linguagem. Considerando isso,
neste trabalho, procuraremos investigar, em alguns documentos de Saussure,
quais as relações possíveis entre o conceito de fala e as noções de exercício da
linguagem e de faculdade da linguagem.
Palavras-chave: Fala. Faculdade da linguagem. Conceito. Saussure. Curso de
Linguística Geral.
* Instituto Federal Mato Grosso (IFMT), Alta Floresta, MT, Brasil. E-mail: micaelapafumecoelho@gmail.com
MICAELA PAFUME COELHO
2 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
INTRODUÇÃO
■
F
erdinand de Saussure ministrou três cursos de Linguística Geral na
Universidade de Genebra entre os anos de 1907 e 1911. A informação de
que o conteúdo desses três cursos resultou na edição do Curso de Lin-
guística Geral (CLG) é bastante conhecida entre aqueles que se dedicam aos
estudos linguísticos e tem trazido, ao longo do último século, diversos questio-
namentos e inquietudes. Os mais recorrentes são aqueles que circundam a
problemática da autoria e da legitimidade da edição, tendo em vista as circuns-
tâncias de sua elaboração. Apesar da grande discussão em torno dessas ques-
tões, neste trabalho não nos ateremos a elas.
Tomaremos, em contrapartida, o CLG como uma edição cuja autoria pode, de
fato, ser atribuída a Saussure, pautando-nos em considerações já estabelecidas
em trabalhos anteriores (cf. COELHO, 2019). Nesse sentido, o foco da discussão
que aqui propomos será uma questão terminológico-conceitual que paira sobre
um dos elementos que mais se destaca nas elaborações de Saussure: a fala.
No terceiro curso ministrado por Saussure, ocorrido entre 1910 e 1911, o
linguista fizera, em seu início, a apresentação e a divisão dos assuntos que bus-
caria tratar. Entre esses assuntos, estava a “faculdade e exercício da linguagem
pelos indivíduos”1
(SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], tradução
nossa). Porém, talvez pela limitação de tempo, não foi possível que Saussure o
abordasse durante seu terceiro curso. Entretanto, Bally e Sechehaye, os edito-
res do CLG, afirmam que o que havia sido prometido aos ouvintes do terceiro
curso era um estudo sobre a Linguística da fala:
A ausência de uma “Linguística da fala” é mais sensível. Prometida aos ouvin-
tes do terceiro curso, esse estudo teria tido, sem dúvida, lugar de honra nos
seguintes; sabe-se muito bem por que tal promessa não pôde ser cumprida
(BALLY; SECHEHAYE, 2006 [1916], p. 4, grifo nosso).
Uma breve análise de alguns documentos disponíveis a respeito do conteúdo
do terceiro curso nos mostra que o estudo que foi prometido e não cumprido,
durante o curso, foi justamente o que se refere à abordagem de Saussure sobre
a faculdade e o exercício da linguagem pelos indivíduos. Afirmamos isso, pois
esses mesmos documentos nos mostram que, embora o linguista tenha planeja-
do abordar esse assunto ao longo de seu curso, ele nunca chegou a fazê-lo. O
conteúdo de suas aulas se limita à abordagem das línguas e da língua. Todavia,
uma vez que a fala consiste no lado individual da linguagem, cremos que seja
possível estabelecer uma relação entre ela e a faculdade e o exercício da lingua-
gem pelos indivíduos.
Apesar da possibilidade dessa relação, nos questionamos se essas três no-
ções – isto é, de fala, faculdade da linguagem e exercício da linguagem – podem,
de fato, ser tomadas como equivalentes, sem ressalvas, no seio das elaborações
de Saussure, ou se seu uso irrestrito ocasiona implicações teóricas. Além disso,
considerando que os editores do CLG parecem utilizar, sem restrições, essas
noções como sinônimas, levantamos as seguintes questões: qual a orientação
terminológico-conceitual do CLG, no que diz respeito ao uso das expressões “fala”,
1 “Faculté et exercise du langage chez les individus”.
3
A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM
Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
“faculdade da linguagem” e “exercício da linguagem”? Elas são usadas como
equivalentes? Há a preferência de uma delas sobre as outras?
A fim de refletirmos sobre essas questões, realizaremos a análise de três ma-
teriais: 1. as anotações de É. Constantin acerca do terceiro curso de Saussure,
editadas e publicadas por E. Komatsu e R. Harris no livro Troisième Cours de
Lingistique Générale (1910-1911) – d’aprés les cahiers d’Émile Constantin; 2. o
conjunto de manuscritos Notes pour le cours III, referentes às anotações de
Saussure sobre seu terceiro curso; e 3. o próprio CLG. Contudo, antes de pas-
sarmos à análise desses documentos, no tópico a seguir discorremos um pouco
sobre a relação entre as noções-alvo de nossa reflexão no arcabouço teórico
saussuriano.
OS ENTORNOS DA FALA
Uma das inúmeras peculiaridades da teorização de Saussure é a diversidade
terminológica que circunda cada um de seus conceitos. Essa diversidade, resul-
tado de uma teorização em processo e de caráter não teleológico, aparece em
diversos momentos das elaborações do linguista, em diferentes documentos que
a atestam, e pode ser percebida mesmo se considerarmos unicamente o CLG.
Por exemplo, na edição, é possível observar o percurso de delimitação termino-
lógico-conceitual do signo linguístico e de seus elementos componentes.
Em um primeiro momento, Saussure (2006 [1916], p. 81) delimita o signo
como a união entre conceito e imagem acústica: “chamamos signo a combinação
do conceito e da imagem acústica: mas, no uso corrente, esse termo designa
geralmente a imagem acústica apenas, por exemplo, uma palavra (arbor etc.)”.
Entretanto, em um outro momento, o linguista opta por restabelecer a designa-
ção desses conceitos:
A ambiguidade desaparecia se designássemos as três noções aqui presentes
por nomes que se relacionam entre si, ao mesmo tempo que se opõem. Propo-
mo-nos a conservar o termo signo para designar o total, e a substituir conceito
e imagem acústica respectivamente por significado e significante; estes dois
termos têm a vantagem de assinalar a oposição que os separa, quer entre si,
quer do total do que fazem parte (SAUSSURE, 2006 [1916], p. 81).
Apesar dessa reconfiguração terminológico-conceitual, muitas vezes o signi-
ficante e o significado continuam sendo referenciados por meio das expressões
“imagem acústica” e “conceito”. Esse processo ocorre, também, com outros con-
ceitos e noções que compõem a teorização de Saussure. Como exemplo, desta-
camos que, em alguns documentos do linguista, nota-se o uso do termo “discur-
so” com uma significação bastante próxima da noção de fala. Contudo, o uso
desse termo de forma relacionada ao arcabouço teórico de Saussure é recorren-
temente evitado, tendo em vista a “importância que adquiriu recentemente em
alguns desenvolvimentos da linguística atual e por suas relações com outras
disciplinas, especialmente a psicanálise” (ARRIVÉ, 2010, p. 115).
Entretanto, sua ocorrência nos documentos de Saussure, muitas vezes, rei-
tera uma relação conceitual com a noção de fala, possível de ser depreendida
das reflexões saussurianas. Destaquemos o documento intitulado por Bouquet
e Engler como “Nota sobre o discurso” (cf. SAUSSURE, 2002). Embora, na edição
dos Escritos de Linguística Geral essa nota apareça de forma descontextualizada
MICAELA PAFUME COELHO
4 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
do todo do qual faz parte, segundo Testenoire (2016, p. 110), ela “[...] faz parte
do conjunto de cadernos de anagramas elaborados por Saussure [...]”. Além
disso, o autor afirma que ela foi escrita contemporaneamente ao segundo curso
do linguista – isto é, entre 1908 e 1909.
Nessa nota, podemos depreender – se não uma equivalência – uma relação
entre as noções de fala e de discurso, uma vez que o discurso é descrito como “a
língua em ação” e como o meio pelo qual a língua é criada. Ademais, de acordo
com Testenoire (2016, p. 119), “nos dois primeiros cursos, discurso é empregado
de duas maneiras: seja disposto ao lado de fala, de modo sinonímico, seja con-
correntemente à fala [...]”. Contudo, embora Saussure utilize o termo discurso
em seus dois primeiros cursos e em outros de seus escritos, o autor ressalta que
o termo está ausente do conteúdo do terceiro curso (TESTENOIRE, 2016, p. 118).
Como a análise que propomos é focada nos documentos que atestam a teori-
zação de Saussure no momento de seu terceiro curso, consideramos pertinente
ater-nos à relação entre fala, exercício e faculdade da linguagem – que é, de fato,
a interseção que nos interessa. É importante destacar, desde já, que os traba-
lhos que versam sobre essa temática têm como foco, sobretudo, a relação da
fala com a noção de faculdade da linguagem; o lugar do exercício da língua, em
contrapartida, não é comumente retomado.
No CLG, a noção de fala pode ser depreendida a partir de sua relação com a
conceituação de língua. Podemos considerar, inclusive, que essa noção possa
ser definida de forma relacional, opositiva e negativa (COELHO; HENRIQUES,
2014). Desse modo, temos a fala como “um ato individual de vontade e inteligên-
cia” (SAUSSURE, 2006 [1916], p. 22) e como “manifestações individuais e mo-
mentâneas” (p. 28).
Segundo Arrivé (2010, p. 119), “a fala é reconhecidamente o objeto parcial do
4º capítulo da ‘Introdução’, ao qual ela dá a segunda parte do título: ‘Linguística
da língua e linguística da fala’”. Embora não ocupe, tanto quanto a língua, um
lugar de prestígio no CLG, ainda assim a fala tem sua importância, principal-
mente no que concerne à delimitação da língua, por meio da exclusão, deste
objeto, dos elementos pertencentes à fala. Dito de outro modo, dada a íntima
relação que há entre língua e fala, como elementos pertencentes ao conjunto
maior da linguagem, foi necessário que Saussure buscasse delimitar a língua
tanto por meio da definição de seus princípios e de seus elementos como por
meio da exclusão dos aspectos pertencentes à fala da caracterização da língua.
Arrivé (2010, p. 121) destaca que a fala possui três acepções possíveis, no ar-
cabouço teórico saussuriano: 1. “o termo fala é frequentemente empregado no
sentido de fonação”; 2. “é utilizado com o sentido de ‘ato consciente e intencional
de encadeamento de unidades em uma sequência efetivamente realizada’”;
3. “acumula em alguns casos os dois valores que acabamos de distinguir”. De
todas as formas, diferentemente da língua, que se constitui como um sistema
geral e que apresenta caráter social, a fala está sempre relacionada a um ato, e
esse ato – seja ele considerado como fonação ou como uma acepção geral de
fala – é sempre individual.
A faculdade da linguagem, por outro lado, segundo Arrivé (2010, p. 120), é o
termo menos favorecido no CLG, tendo como base o uso dos termos “fala” e “dis-
curso”; mas, segundo o autor, “[...] mesmo assim, ele aparece em uma entrada
no índice, guarnecida por duas referências”. Nesse sentido, Arrivé (2010, p. 120,
grifo nosso) especifica que:
5
A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM
Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
Com efeito, o texto avança que “a língua é um produto social da faculdade da
linguagem”. No aparato conceitual saussuriano, isso não é de todo falso. Mas
corresponde apenas [...] a um dos dois aspectos da faculdade da linguagem. E
é justamente o outro aspecto o que Saussure tinha em mente em sua afirmativa,
como notou Constantin: “A língua será para nós o produto social cuja existên-
cia permite ao indivíduo exercer a faculdade da linguagem”.
No excerto anotado por Constantin e retomado por Arrivé, percebemos um
indício de diferenciação entre faculdade e exercício da linguagem. Ora, se a lín-
gua é o meio que permite que a faculdade da linguagem seja exercida, podemos
depreender que a faculdade da linguagem seja uma possibilidade de todos os
indivíduos, e o ato individual dessa faculdade – ato este que se aproxima da
noção de fala – é, na verdade, o exercício da linguagem.
Dessa forma, pode-se considerar o exercício da linguagem, e não a faculdade
da linguagem, como noção equivalente à noção de fala. Mas essa é apenas uma
das possibilidades. Arrivé destaca que, em alguns momentos da teorização de
Saussure, é possível compreender a última noção (a fala) como próxima à ideia
de faculdade da linguagem. Contudo, o autor levanta uma ressalva:
Quer dizer que a faculdade da linguagem é apenas outro nome para a fala? Isso
seria simples demais. A faculdade da linguagem é mais extensiva que a fala.
Ela claramente engloba os atos de fala para os quais a língua, estabelecida
como instituição social, abre caminho. Mas ela abarca ainda o processo de cons-
tituição da língua (ARRIVÉ, 2010, p. 125).
Nesse sentido, percebemos que, para o autor, a faculdade da linguagem é
uma noção que apresenta uma dimensão maior que a noção de fala, abrangendo
tanto os atos individuais como também o processo de constituição da língua.
Assim, uma vez apresentada a discussão acerca da noção de fala e dos ter-
mos que a circundam na teorização de Saussure, no tópico a seguir passaremos
à análise dos documentos saussurianos. Com essa análise, buscaremos desta-
car de que forma o conceito de fala e as noções de faculdade e de exercício da
linguagem são delimitados nos materiais referentes, principalmente, ao terceiro
curso do linguista. A partir disso, com o auxílio da edição crítica do CLG estabe-
lecida por Engler (cf. SAUSSURE, 1968), será possível compreender qual a
orientação terminológico-conceitual do CLG no que tange ao uso desses termos
e noções.
A FALA: FACULDADE OU EXERCÍCIO DA LINGUAGEM?
Iniciaremos nossa análise retomando a organização do terceiro curso, delimi-
tada por Saussure em uma das aulas iniciais. Essa organização pode ser vis-
lumbrada tanto por meio de suas notas manuscritas como também a partir das
anotações de Constantin. Comecemos pelas notas manuscritas.
Ao anunciar as partes que comporiam seu curso, Saussure afirma:
MICAELA PAFUME COELHO
6 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
Figura 1 – Primeiro excerto das Notes pour le cours III
Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-XX, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
Como foi indicado, nas duas primeiras
seções, dividimos nosso curso em 3 partes,
e os título das 2 primeiras partes diferem apenas
por um singular e um plural: 1ª parte: As
línguas, 2 ª parte: A língua. Essa diferença basta
em realidade vez
para marcar quase infalivelmente
rigorosamente sem equívoco
o que
deve ser a diferença de conteúdo entre as 2 partes;3
Fonte: Saussure (1910-1911, f. 3).
Embora o linguista destaque que o curso seria composto por três partes, ele apresenta
apenas duas: as línguas e a língua. Uma análise das folhas que seguem, nesse conjunto de
manuscritos, nos revela que a terceira parte do curso não foi anunciada por Saussure, em suas
Notes pour le cours III. No entanto, as anotações de Constantin podem nos auxiliar a
descobrir qual é a terceira e última parte prometida pelo linguista aos ouvintes do curso.
Em suas anotações, retomamos a seguinte organização proposta por Saussure: “Divisões
gerais do curso: 1º) As línguas; 2º) A língua; 3º) Faculdade e exercício da linguagem nos
indivíduos”4
(SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], tradução nossa), p. 6).
Nota-se que as duas primeiras partes apresentadas coincidem com aquelas expostas nas notas
manuscritas; além disso, as anotações de Constantin nos permitem recuperar a última parte do
curso: tratava-se da faculdade e exercício da linguagem nos indivíduos.
3
"Comme il a été indique, les deux prmières sections nous divisons notre cours em 3 parties, et les titre de 2
premièrs parties ne diffère que par um singulier ou um pluriel: 1e partie, Les langues, 2e partie La langue. Cette
différence suffit en fois
realité à marquer presque indéfectiblement
rigoureusement sans équivoque
ce que doite être la
différence du contenu entre les deux parties".
4
"Divisions générales du cours: 1°) Les langues 2°) La langue 3°) Faculté et exercice du langage chez les
individus".
Como foi indicado, nas duas primeiras
seções, dividimos nosso curso em 3 partes,
e os título das 2 primeiras partes diferem apenas
por um singular e um plural: 1ª parte: As
línguas, 2 ª parte: A língua. Essa diferença basta
em realidade vez
para marcar quase infalivelmente
rigorosamente sem equívoco
o que
deve ser a diferença de conteúdo entre as 2 partes;2
Fonte: Saussure (1910-1911, f. 3).
Embora o linguista destaque que o curso seria composto por três partes, ele
apresenta apenas duas: as línguas e a língua. Uma análise das folhas que se-
guem, nesse conjunto de manuscritos, nos revela que a terceira parte do curso
não foi anunciada por Saussure, em suas Notes pour le cours III. No entanto, as
anotações de Constantin podem nos auxiliar a descobrir qual é a terceira e últi-
ma parte prometida pelo linguista aos ouvintes do curso.
Em suas anotações, retomamos a seguinte organização proposta por Saussure:
“Divisões gerais do curso: 1º) As línguas; 2º) A língua; 3º) Faculdade e exercício
da linguagem nos indivíduos”3
(SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-
1911], p. 6, tradução nossa). Nota-se que as duas primeiras partes apresenta-
das coincidem com aquelas expostas nas notas manuscritas; além disso, as
anotações de Constantin nos permitem recuperar a última parte do curso: tra-
tava-se da faculdade e exercício da linguagem nos indivíduos.
É importante destacar que não há ocorrência das expressões “faculdade da
linguagem” e “exercício da linguagem”, nas Notes pour le cours III. Há, contudo,
algumas ocorrências do termo “fala”. Destacamos a seguinte:
2 “Comme il a été indique, les deux prmières sections nous divisons notre cours em 3 parties, et les titre de 2 premièrs parties ne
diffère que par um singulier ou um pluriel: 1e partie, Les langues, 2e partie La langue. Cette différence suffit en fois
realité à
marquer presque indéfectiblement
rigoureusement sans équivoque
ce que doite être la différence du contenu entre les deux parties”.
3 “Divisions générales du cours: 1°) Les langues 2°) La langue 3°) Faculté et exercice du langage chez les individus”.
7
A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM
Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
Figura 2 – Segundo excerto das Notes pour le cours III
Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-XX, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
É importante destacar que não há ocorrência das expressões “faculdade da linguagem” e
“exercício da linguagem”, nas Notes pour le cours III. Há, contudo, algumas ocorrências do
termo “fala”. Destacamos a seguinte:
Figura 2 – Segundo excerto das Notes pour le cours III
Na linguagem
A língua foi separada da Fala, e
ao mesmo tempo que nós xxx a parte
ela reside na [ ]
residente em um no âmago de uma massa falante
o que não é o caso para a fala.5
Fonte: Saussure (1910-1911, f. 37).
Embora o termo “fala” seja mencionado no trecho acima, parece-nos que a preocupação
maior de Saussure, nesse momento de suas elaborações, consiste em delimitar a língua. Nesse
sentido, o linguista utiliza a fala como elemento de contraponto à língua, ou seja, define a
última por meio da delimitação de suas diferenças com a primeira. Ousamos dizer que é,
sobretudo, com essa função – de definir a língua por relação – que Saussure recorre à fala
nesse conjunto de manuscritos. Isso pode ser notado, também, no seguinte momento do
documento:
Figura 3 – Terceiro excerto das Notes pour le cours III
5
"Dans le langage
La langue a été dégagée de la Parole; et en même temps que’on a xxx la partie elle réside dans [ ]
résidant dans une l’âme d’une masse palante ce qui n’est pas le cas pr la parole".
Na linguagem
A língua foi separada da Fala, e
ao mesmo tempo que nós xxx a parte
ela reside na [ ]
residente em um no âmago de uma massa falante
o que não é o caso para a fala.4
Fonte: Saussure (1910-1911, f. 37).
Embora o termo “fala” seja mencionado no trecho acima, parece-nos que a
preocupação maior de Saussure, nesse momento de suas elaborações, consiste
em delimitar a língua. Nesse sentido, o linguista utiliza a fala como elemento de
contraponto à língua, ou seja, define a última por meio da delimitação de suas
diferenças com a primeira. Ousamos dizer que é, sobretudo, com essa função – de
definir a língua por relação – que Saussure recorre à fala nesse conjunto de ma-
nuscritos. Isso pode ser notado, também, no seguinte momento do documento:
Figura 3 – Terceiro excerto das Notes pour le cours III
Definição
Quando excluímos separamos
da linguagem tudo o que não é
Fala, nós o resto pode se chamar xxx a língua.6
Fonte: Saussure, 1910-1911, f. 38.
Como é possível notar, em nossa análise do conjunto de manuscritos Notes pour le
cours III, encontramos poucas ocorrências do termo “fala”, e nenhuma que possa indicar uma
definição própria desse conceito saussuriano. Além disso, reiteramos a não utilização das
expressões “faculdade da linguagem” e “exercício da linguagem” no referido documento. Em
contrapartida, nas anotações de Constantin, essas duas expressões são recorrentes e, além
disso, é possível depreendermos a conceituação relacionada a elas:
Essa faculdade nos é dada de início pelos órgãos, e após pelo jogo que podemos obter a
partir deles. Mas é apenas uma faculdade e seria materialmente impossível de exercê-la sem
outra coisa que é dada de fora ao indivíduo: a língua (SAUSSURE apud CONSTANTIN,
1993 [1910-1911], p. 6-7).
Definição
Quando excluímos separamos
da linguagem tudo o que não é
Fala, nós o resto pode se chamar xxx a língua.5
Fonte: Saussure (1910-1911, f. 38).
Como é possível notar, em nossa análise do conjunto de manuscritos Notes
pour le cours III, encontramos poucas ocorrências do termo “fala”, e nenhuma
que possa indicar uma definição própria desse conceito saussuriano. Além dis-
so, reiteramos a não utilização das expressões “faculdade da linguagem” e “exer-
cício da linguagem” no referido documento. Em contrapartida, nas anotações
de Constantin, essas duas expressões são recorrentes e, além disso, é possível
depreendermos a conceituação relacionada a elas:
4 “Dans le langage
La langue a été dégagée de la Parole; et en même temps que’on a xxx la partie elle réside dans [ ] résidant dans une
l’âme d’une masse palante ce qui n’est pas le cas pr la parole”.
5 “Définition Qd on écarte sépare
du langage tt ce qui n’est que Parole, on le reste peut s’appeler xxx la langue”.
MICAELA PAFUME COELHO
8 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
Essa faculdade nos é dada de início pelos órgãos, e após pelo jogo que podemos
obter a partir deles. Mas é apenas uma faculdade e seria materialmente impos-
sível de exercê-la sem outra coisa que é dada de fora ao indivíduo: a língua
(SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], p. 6-7).
Considerando esse trecho das anotações de Constantin, podemos compreen-
der que a faculdade da linguagem corresponde à possibilidade dos indivíduos,
dada pelos órgãos e pelo seu jogo, de ter uma linguagem. Trata-se, a nosso ver,
de uma faculdade físico-fisiológica, que, em conjunto com a língua, permite que
ocorra, por parte dos indivíduos, o exercício da linguagem. Considerando essas
concepções de faculdade e exercício da linguagem apresentadas nessas anota-
ções, julgamos relevante retomar uma definição de fala, apresentada no CLG:
A fala é [...] um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distin-
guir: 1º as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no
propósito de exprimir seu pensamento pessoal; 2º o mecanismo psicofísico que
lhe permite exteriorizar essas combinações (SAUSSURE, 2006 [1916], p. 22).
A conceituação retirada do CLG destaca duas características componentes
da fala: 1. uma psicofísica, que remete aos órgãos humanos e à sua capacidade
de processamento, e que pode ser aproximada da definição de faculdade da
linguagem apresentada nas anotações de Constantim; 2. outra que é constituí-
da pelo uso da língua pelo falante, que pode ser aproximada da definição, ano-
tada por Constantin, de exercício da linguagem. Nesse sentido, tal como concei-
tuada no CLG, a fala parece englobar, ao mesmo tempo, a faculdade e o exercício
da linguagem. Temos, aqui, mais uma possibilidade de entendermos a relação
entre essas três noções.
A nosso ver, ao contrário da afirmação de Arrivé (2010, p. 125) de que a fa-
culdade da linguagem é mais extensiva do que a fala, para nós, é a fala que se
configura como tal. Assim, uma vez delimitado de que forma compreendemos as
noções de fala, faculdade e exercício da linguagem, a partir dos documentos
saussurianos, resta-nos retomar o uso, por parte de Bally e Sechehaye, em seu
prefácio à primeira edição, do termo fala como equivalente da expressão facul-
dade da linguagem.
Como já afirmamos, os editores alegam que Saussure havia prometido um
estudo sobre a fala; porém, analisando a organização do curso, percebemos que
o que Saussure prometera havia sido um estudo sobre faculdade da linguagem
e seu exercício pelos indivíduos. Ademais, a edição crítica de Engler nos mostra
que há diversos trechos do CLG em que é utilizado o termo fala, porém, nas
fontes correspondentes a esses trechos há a utilização da expressão “faculdade
da linguagem”. Isso pode ser percebido, entre outros momentos, no seguinte
fragmento da edição crítica:
CLG: Quando separamos a língua da fala, separamos ao mesmo tempo [...].
Dégalier: Quando separamos língua de faculdade da linguagem, separamos [...].
Joseph: Quando separamos a língua da linguagem, separamos [...].
Constantin: Quando separamos a língua da faculdade da linguagem, separamos
[...].
(cf. SAUSSURE, 1968, p. 41, tradução nossa, grifo nosso)6
.
6 “CLG : En séparant la langue de la parole, on sépare du même coup [...] ; Dégalier : En séparant langue de faculté du langage,
on a séparé [...] ; Joseph: En séparant la langue du langage on sépare [...] ; Constantin : Quand on a séparé la langue de la
faculté du langage, on a séparé [...]”.
9
A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM
Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
É possível notar que o fragmento do CLG que serve de base para as correspon-
dências das fontes – que são os cadernos dos alunos dos cursos de Saussure –
consiste em um momento bastante relevante da edição. Trata-se do momento
em que Saussure busca delimitar a língua, separando dela tudo que diz respei-
to à esfera da fala. Contudo, vemos que há uma discordância terminológico-
-conceitual entre a edição e suas fontes: não há, em nenhum dos excertos apon-
tados por Engler, o uso do termo “fala”; em todos eles aparece a expressão
“faculdade da linguagem”.
Tal como ocorre no trecho supracitado, é possível que destaquemos outros
momentos da edição em que há esse mesmo tipo de substituição. Como procura-
mos não nos delongar, não as exporemos nos limites deste trabalho; no entanto,
elas podem ser resgatadas por meio da indicação feita por Engler (cf. SAUSSURE,
1968). Assim, tendo em vista o levantamento bibliográfico feito no tópico anterior
a respeito das acepções de fala, faculdade e exercício da linguagem no arcabou-
ço teórico saussuriano, bem como as análises feitas no presente tópico, conside-
ramos pertinente questionar: a substituição da expressão “faculdade da lingua-
gem” pelo termo “fala”, na edição do CLG, pode ocasionar implicações teóricas?
Posicionamo-nos de forma a considerar que essas três noções (fala, faculdade
da linguagem e exercício da linguagem) apresentam, em alguns momentos da te-
orização de Saussure, especificidades que permitem pensá-las como noções dis-
tintas. Apesar disso, são noções que apresentam uma proximidade teórica bas-
tante grande, funcionando ora como elementos componentes ora como elementos
agrupadores umas das outras. Sendo assim, admitimos que há uma flutuação
terminológico-conceitual que envolve essas três noções, contudo, não acredita-
mos que seja possível estabelecer uma delimitação categórica de cada uma delas.
Essa impossibilidade é uma característica que provém da própria teorização
de Saussure, sempre em processo e, a priori, sem vistas à criação de uma ciên-
cia. Por isso, acreditamos que o uso do termo “fala” como substituto de “facul-
dade da linguagem” e “de exercício da linguagem” não ocasione grandes implica-
ções teóricas, e nem desautoriza a edição do CLG, uma vez que nenhum dos
termos parecia estar categoricamente definido e delimitado no seio das reflexões
de Saussure.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste trabalho consistiu em investigar o tipo de relação existente
entre a fala, a faculdade e o exercício da linguagem, procurando ressaltar qual
a orientação terminológico-conceitual do CLG no que tange ao uso desses ter-
mos e noções. Para tanto, perpassamos os pos+icionamentos de Arrivé (2010) e
Testenoire (2016) acerca dos usos e das acepções dessas expressões nas refle-
xões de Saussure. Depois disso, nos voltamos à análise de três materiais que
compõem o corpus saussuriano: o CLG, as Notes pour le cours III e as anotações
de Constantin, referentes ao terceiro curso.
Com essa análise, percebemos que a edição do CLG tende ao uso do termo
fala, em lugares em que, nas fontes, é utilizada principalmente a expressão “facul-
dade da linguagem”. Apesar disso, dada a não categorização conceitual dessas
noções na teorização de Saussure, não consideramos que esse tipo de substitui-
ção possa desencadear grandes implicações teóricas. Tendo isso em vista, ousa-
mos supor que não seja possível definir se a fala corresponde à faculdade da lin-
guagem ou ao seu exercício. A nosso ver, ambas as possibilidades são plausíveis.
MICAELA PAFUME COELHO
10 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020
DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123
DOSSIÊ
FERDINAND DE SAUSSURE’S CONCEPT OF PAROLE: FACULTY OR EXERCISE OF LANGUAGE?
Abstract: Parole is a Saussurean concept about which there is few direct defini-
tions within Ferdinand de Saussure’s elaborations. However, this concept can
be characterized in a relational way, from the definitions of langue and langage.
Nevertheless, there are still some questions regarding the delimitation of this
concept; it is possible, for example, to consider a terminological a terminologi-
cal-conceptual convergence between the concept of parole and the notions of
faculty and exercise of language. Considering this, in this work, we aim to in-
vestigate, in some of Saussure’s documents, what are the possible relations
between the concept parole, and the notions of exercise of language and faculty
of language.
Keywords: Parole. Faculty of language. Concept. Saussure. Course in General
Linguistics.
REFERÊNCIAS
ARRIVÉ, M. Em busca de Ferdinand de Saussure. Tradução M. Marcionilo. São
Paulo: Parábola Editorial, 2010.
BALLY, C.; SECHEHAYE, A. Prefácio à primeira edição. In: SAUSSURE, F. Curso
de Linguística Geral. Tradução A. Chelini, J. P. Paes e I. Blikstein. 27. ed. São
Paulo: Cultrix, 2006 [1916].
COELHO, M. P.; HENRIQUES, S. M. A fala em Ferdinand de Saussure: um con-
ceito relacional, opositivo e negativo. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 8,
n. 1, p. 646-663, 2014.
COELHO, M. P. A autoria do CLG: uma análise à luz do conceito foucaultiano
de função autor. Revista do GELNE, v. 21, n. 1, p. 166-177, jun. 2019.
SAUSSURE, F. de. Notes pour le cours III. In: Papiers Ferdinand de Saussure,
3951 – 22. Bibliotèque de Genève, 1910-1911. 56 f.
SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Tradução A. Chelini, J. P. Paes e
I. Blikstein. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006 [1916]. Cours de linguistique gene-
ral. Charles Bally e Albert Sechehaye (org.). Colaboração de Albert Riedlinger,
[1916].
SAUSSURE, F. de. Cours de Linguistique Générale. Édition critique par Rudolf
Engler. Wiesbaden: Harrassowitz, 1968. Tome 1.
SAUSSURE, F. de. Troisième Cours de Linguistique Générale: d’après les cahiers
d’Emile Constantin/Saussure’s third course of lectures on general linguistics
(1910-1911): from the notebooks of Emile Constantin. French text edited by Eisuke
Komatsu and English text edited by Roy Harris. Oxford: Pergamon Press, 1993.
SAUSSURE, F. de. Escritos de Linguística Geral. Organização e edição S. Bouquet
e R. Engler. São Paulo: Cultrix, 2002.
TESTENOIRE, P. Y. O que as teorias do discurso devem a Saussure. In: CRUZ,
M. A.; PIOVEZANI, C.; TESTENOIRE, P. Y. (org.). Saussure, o texto e o discurso: cem
anos de heranças e recepções. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. p. 105-124.

Mais conteúdo relacionado

Semelhante a A Fala Em Ferdinand De Saussure Faculdade E Exerc Cio Da Linguagem

AS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdf
AS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdfAS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdf
AS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdfCarlosAlbertoTadeuZa
 
Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”Anonymous1BDHkk8Wr7
 
Conceito de lingua
Conceito de linguaConceito de lingua
Conceito de linguaLeYa
 
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdfTEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdflucasicm
 
A gramática no livro didático do ensino médio
A gramática no livro didático do ensino médioA gramática no livro didático do ensino médio
A gramática no livro didático do ensino médioGiselle Palhares
 
Sossolote linguagem e literatura
Sossolote linguagem e literaturaSossolote linguagem e literatura
Sossolote linguagem e literaturaJocenilson Ribeiro
 
A educação de emílio e a aprendizagem significativa
A educação de emílio e a aprendizagem significativaA educação de emílio e a aprendizagem significativa
A educação de emílio e a aprendizagem significativaAndréa Kochhann
 
Faraco por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1
Faraco  por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1Faraco  por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1
Faraco por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1odilane santana SANTOS
 
5. gramatica x_sociolinguistic
5. gramatica x_sociolinguistic5. gramatica x_sociolinguistic
5. gramatica x_sociolinguisticAna Maria Machado
 
Diana luz pessoa de barros teoria semiotica do texto[1]
Diana luz pessoa de barros   teoria semiotica do texto[1]Diana luz pessoa de barros   teoria semiotica do texto[1]
Diana luz pessoa de barros teoria semiotica do texto[1]SimoneOrlando4
 
A cerca do letramento
A cerca do letramentoA cerca do letramento
A cerca do letramentoUFAC
 
As teorias do signo e as significações lingüísticas
As teorias do signo e as significações lingüísticasAs teorias do signo e as significações lingüísticas
As teorias do signo e as significações lingüísticasMariana Correia
 
Linguística saussure 2
Linguística   saussure 2Linguística   saussure 2
Linguística saussure 2jairobaiano
 
Análise de livro didático língua portuguesa
Análise de livro didático língua portuguesaAnálise de livro didático língua portuguesa
Análise de livro didático língua portuguesaNágila De Sousa Freitas
 

Semelhante a A Fala Em Ferdinand De Saussure Faculdade E Exerc Cio Da Linguagem (20)

AS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdf
AS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdfAS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdf
AS-DIFERENTES-FUNÇÕES-DA-LINGUAGEM-CONTRIBUIÇÕES-DE-JAKOBSON-E-VYGOTSKY-4.pdf
 
Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
Exercício de Estilística em “Memórias Póstumas de Brás Cubas”
 
Conceito de lingua
Conceito de linguaConceito de lingua
Conceito de lingua
 
Literatura
LiteraturaLiteratura
Literatura
 
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdfTEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
 
A gramática no livro didático do ensino médio
A gramática no livro didático do ensino médioA gramática no livro didático do ensino médio
A gramática no livro didático do ensino médio
 
Sossolote linguagem e literatura
Sossolote linguagem e literaturaSossolote linguagem e literatura
Sossolote linguagem e literatura
 
A educação de emílio e a aprendizagem significativa
A educação de emílio e a aprendizagem significativaA educação de emílio e a aprendizagem significativa
A educação de emílio e a aprendizagem significativa
 
Analise do discurso
Analise do discursoAnalise do discurso
Analise do discurso
 
morfologia
morfologiamorfologia
morfologia
 
Analise de dicionarios
Analise de dicionarios Analise de dicionarios
Analise de dicionarios
 
Faraco por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1
Faraco  por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1Faraco  por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1
Faraco por-uma_pedagogia_da_variacao_linguistica1
 
5. gramatica x_sociolinguistic
5. gramatica x_sociolinguistic5. gramatica x_sociolinguistic
5. gramatica x_sociolinguistic
 
Diana luz pessoa de barros teoria semiotica do texto[1]
Diana luz pessoa de barros   teoria semiotica do texto[1]Diana luz pessoa de barros   teoria semiotica do texto[1]
Diana luz pessoa de barros teoria semiotica do texto[1]
 
A cerca do letramento
A cerca do letramentoA cerca do letramento
A cerca do letramento
 
As teorias do signo e as significações lingüísticas
As teorias do signo e as significações lingüísticasAs teorias do signo e as significações lingüísticas
As teorias do signo e as significações lingüísticas
 
Linguística saussure 2
Linguística   saussure 2Linguística   saussure 2
Linguística saussure 2
 
Saussure vida e obra
Saussure   vida e obraSaussure   vida e obra
Saussure vida e obra
 
Saussure vida e obra
Saussure   vida e obraSaussure   vida e obra
Saussure vida e obra
 
Análise de livro didático língua portuguesa
Análise de livro didático língua portuguesaAnálise de livro didático língua portuguesa
Análise de livro didático língua portuguesa
 

Mais de Jeff Nelson

Pin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, Writing
Pin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, WritingPin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, Writing
Pin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, WritingJeff Nelson
 
Admission Essay Columbia Suppl
Admission Essay Columbia SupplAdmission Essay Columbia Suppl
Admission Essay Columbia SupplJeff Nelson
 
001 Contractions In College Essays
001 Contractions In College Essays001 Contractions In College Essays
001 Contractions In College EssaysJeff Nelson
 
016 Essay Example College Level Essays Argumentativ
016 Essay Example College Level Essays Argumentativ016 Essay Example College Level Essays Argumentativ
016 Essay Example College Level Essays ArgumentativJeff Nelson
 
Sample Dialogue Of An Interview
Sample Dialogue Of An InterviewSample Dialogue Of An Interview
Sample Dialogue Of An InterviewJeff Nelson
 
Part 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, W
Part 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, WPart 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, W
Part 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, WJeff Nelson
 
Where To Find Best Essay Writers
Where To Find Best Essay WritersWhere To Find Best Essay Writers
Where To Find Best Essay WritersJeff Nelson
 
Pay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price Penessay
Pay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price PenessayPay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price Penessay
Pay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price PenessayJeff Nelson
 
How To Write A Argumentative Essay Sample
How To Write A Argumentative Essay SampleHow To Write A Argumentative Essay Sample
How To Write A Argumentative Essay SampleJeff Nelson
 
Buy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy Essays
Buy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy EssaysBuy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy Essays
Buy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy EssaysJeff Nelson
 
Top Childhood Memory Essay
Top Childhood Memory EssayTop Childhood Memory Essay
Top Childhood Memory EssayJeff Nelson
 
Essay About Teacher Favorite Songs List
Essay About Teacher Favorite Songs ListEssay About Teacher Favorite Songs List
Essay About Teacher Favorite Songs ListJeff Nelson
 
Free College Essay Sample
Free College Essay SampleFree College Essay Sample
Free College Essay SampleJeff Nelson
 
Creative Writing Worksheets For Grade
Creative Writing Worksheets For GradeCreative Writing Worksheets For Grade
Creative Writing Worksheets For GradeJeff Nelson
 
Kindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank Hand
Kindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank HandKindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank Hand
Kindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank HandJeff Nelson
 
Essay Writing Rubric Paragraph Writing
Essay Writing Rubric Paragraph WritingEssay Writing Rubric Paragraph Writing
Essay Writing Rubric Paragraph WritingJeff Nelson
 
Improve Essay Writing Skills E
Improve Essay Writing Skills EImprove Essay Writing Skills E
Improve Essay Writing Skills EJeff Nelson
 
Help Write A Research Paper - How To Write That Perfect
Help Write A Research Paper - How To Write That PerfectHelp Write A Research Paper - How To Write That Perfect
Help Write A Research Paper - How To Write That PerfectJeff Nelson
 
Fundations Writing Paper G
Fundations Writing Paper GFundations Writing Paper G
Fundations Writing Paper GJeff Nelson
 
Dreage Report News
Dreage Report NewsDreage Report News
Dreage Report NewsJeff Nelson
 

Mais de Jeff Nelson (20)

Pin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, Writing
Pin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, WritingPin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, Writing
Pin By Rhonda Genusa On Writing Process Teaching Writing, Writing
 
Admission Essay Columbia Suppl
Admission Essay Columbia SupplAdmission Essay Columbia Suppl
Admission Essay Columbia Suppl
 
001 Contractions In College Essays
001 Contractions In College Essays001 Contractions In College Essays
001 Contractions In College Essays
 
016 Essay Example College Level Essays Argumentativ
016 Essay Example College Level Essays Argumentativ016 Essay Example College Level Essays Argumentativ
016 Essay Example College Level Essays Argumentativ
 
Sample Dialogue Of An Interview
Sample Dialogue Of An InterviewSample Dialogue Of An Interview
Sample Dialogue Of An Interview
 
Part 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, W
Part 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, WPart 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, W
Part 4 Writing Teaching Writing, Writing Process, W
 
Where To Find Best Essay Writers
Where To Find Best Essay WritersWhere To Find Best Essay Writers
Where To Find Best Essay Writers
 
Pay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price Penessay
Pay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price PenessayPay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price Penessay
Pay Someone To Write A Paper Hire Experts At A Cheap Price Penessay
 
How To Write A Argumentative Essay Sample
How To Write A Argumentative Essay SampleHow To Write A Argumentative Essay Sample
How To Write A Argumentative Essay Sample
 
Buy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy Essays
Buy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy EssaysBuy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy Essays
Buy Essay Buy Essay, Buy An Essay Or Buy Essays
 
Top Childhood Memory Essay
Top Childhood Memory EssayTop Childhood Memory Essay
Top Childhood Memory Essay
 
Essay About Teacher Favorite Songs List
Essay About Teacher Favorite Songs ListEssay About Teacher Favorite Songs List
Essay About Teacher Favorite Songs List
 
Free College Essay Sample
Free College Essay SampleFree College Essay Sample
Free College Essay Sample
 
Creative Writing Worksheets For Grade
Creative Writing Worksheets For GradeCreative Writing Worksheets For Grade
Creative Writing Worksheets For Grade
 
Kindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank Hand
Kindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank HandKindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank Hand
Kindergarden Writing Paper With Lines 120 Blank Hand
 
Essay Writing Rubric Paragraph Writing
Essay Writing Rubric Paragraph WritingEssay Writing Rubric Paragraph Writing
Essay Writing Rubric Paragraph Writing
 
Improve Essay Writing Skills E
Improve Essay Writing Skills EImprove Essay Writing Skills E
Improve Essay Writing Skills E
 
Help Write A Research Paper - How To Write That Perfect
Help Write A Research Paper - How To Write That PerfectHelp Write A Research Paper - How To Write That Perfect
Help Write A Research Paper - How To Write That Perfect
 
Fundations Writing Paper G
Fundations Writing Paper GFundations Writing Paper G
Fundations Writing Paper G
 
Dreage Report News
Dreage Report NewsDreage Report News
Dreage Report News
 

Último

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdflucassilva721057
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxTainTorres4
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãIlda Bicacro
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividadeMary Alvarenga
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfCamillaBrito19
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)ElliotFerreira
 
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfGEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfElianeElika
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelGilber Rubim Rangel
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números Mary Alvarenga
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxferreirapriscilla84
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptMaiteFerreira4
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOAulasgravadas3
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfprofesfrancleite
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxDianaSheila2
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.Mary Alvarenga
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfMárcio Azevedo
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreElianeElika
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...azulassessoria9
 

Último (20)

Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdfNoções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
Noções de Farmacologia - Flávia Soares.pdf
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptxJOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
JOGO FATO OU FAKE - ATIVIDADE LUDICA(1).pptx
 
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! SertãConstrução (C)erta - Nós Propomos! Sertã
Construção (C)erta - Nós Propomos! Sertã
 
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
Música   Meu   Abrigo  -   Texto e atividadeMúsica   Meu   Abrigo  -   Texto e atividade
Música Meu Abrigo - Texto e atividade
 
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdfo ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
o ciclo do contato Jorge Ponciano Ribeiro.pdf
 
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)Análise poema país de abril (Mauel alegre)
Análise poema país de abril (Mauel alegre)
 
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdfGEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
GEOGRAFIA - ENSINO FUNDAMENTAL ANOS FINAIS.pdf
 
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULACINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
CINEMATICA DE LOS MATERIALES Y PARTICULA
 
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim RangelDicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
Dicionário de Genealogia, autor Gilber Rubim Rangel
 
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números CRUZADINHA   -   Leitura e escrita dos números
CRUZADINHA - Leitura e escrita dos números
 
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptxDiscurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
Discurso Direto, Indireto e Indireto Livre.pptx
 
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.pptLiteratura Brasileira - escolas literárias.ppt
Literatura Brasileira - escolas literárias.ppt
 
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃOFASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
FASE 1 MÉTODO LUMA E PONTO. TUDO SOBRE REDAÇÃO
 
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdfPRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
PRÉDIOS HISTÓRICOS DE ASSARÉ Prof. Francisco Leite.pdf
 
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptxAtividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
Atividade sobre os Pronomes Pessoais.pptx
 
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.Atividade -  Letra da música Esperando na Janela.
Atividade - Letra da música Esperando na Janela.
 
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdfRevista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
Revista-Palavra-Viva-Profetas-Menores (1).pdf
 
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestreCIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
CIÊNCIAS HUMANAS - ENSINO MÉDIO. 2024 2 bimestre
 
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
PROVA - ESTUDO CONTEMPORÂNEO E TRANSVERSAL: LEITURA DE IMAGENS, GRÁFICOS E MA...
 

A Fala Em Ferdinand De Saussure Faculdade E Exerc Cio Da Linguagem

  • 1. 1 Este artigo está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial 4.0 Internacional A fAlA em ferdinAnd de SAuSSure: fAculdAde e exercício dA linguAgem 1 Micaela Pafume Coelho* https://orcid.org/0000-0001-7734-7633 Como citar este artigo: COELHO, M. P. A fala em Ferdinand de Saussure: faculdade e exercício da linguagem. Todas as Letras – Revista de Língua e Literatura, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020. DOI: 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 Submissão: fevereiro de 2020. Aceite: maio de 2020. Resumo: A fala é um conceito saussuriano sobre o qual há poucas definições diretas, no seio das elaborações de Saussure, mas que permite ser caracterizado de forma relacional, a partir da língua e da linguagem. Contudo, ainda assim restam algumas questões referentes à delimitação desse conceito; é possível, por exemplo, cogitar uma aproximação terminológico-conceitual entre o conceito de fala e as noções de faculdade e de exercício da linguagem. Considerando isso, neste trabalho, procuraremos investigar, em alguns documentos de Saussure, quais as relações possíveis entre o conceito de fala e as noções de exercício da linguagem e de faculdade da linguagem. Palavras-chave: Fala. Faculdade da linguagem. Conceito. Saussure. Curso de Linguística Geral. * Instituto Federal Mato Grosso (IFMT), Alta Floresta, MT, Brasil. E-mail: micaelapafumecoelho@gmail.com
  • 2. MICAELA PAFUME COELHO 2 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ INTRODUÇÃO ■ F erdinand de Saussure ministrou três cursos de Linguística Geral na Universidade de Genebra entre os anos de 1907 e 1911. A informação de que o conteúdo desses três cursos resultou na edição do Curso de Lin- guística Geral (CLG) é bastante conhecida entre aqueles que se dedicam aos estudos linguísticos e tem trazido, ao longo do último século, diversos questio- namentos e inquietudes. Os mais recorrentes são aqueles que circundam a problemática da autoria e da legitimidade da edição, tendo em vista as circuns- tâncias de sua elaboração. Apesar da grande discussão em torno dessas ques- tões, neste trabalho não nos ateremos a elas. Tomaremos, em contrapartida, o CLG como uma edição cuja autoria pode, de fato, ser atribuída a Saussure, pautando-nos em considerações já estabelecidas em trabalhos anteriores (cf. COELHO, 2019). Nesse sentido, o foco da discussão que aqui propomos será uma questão terminológico-conceitual que paira sobre um dos elementos que mais se destaca nas elaborações de Saussure: a fala. No terceiro curso ministrado por Saussure, ocorrido entre 1910 e 1911, o linguista fizera, em seu início, a apresentação e a divisão dos assuntos que bus- caria tratar. Entre esses assuntos, estava a “faculdade e exercício da linguagem pelos indivíduos”1 (SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], tradução nossa). Porém, talvez pela limitação de tempo, não foi possível que Saussure o abordasse durante seu terceiro curso. Entretanto, Bally e Sechehaye, os edito- res do CLG, afirmam que o que havia sido prometido aos ouvintes do terceiro curso era um estudo sobre a Linguística da fala: A ausência de uma “Linguística da fala” é mais sensível. Prometida aos ouvin- tes do terceiro curso, esse estudo teria tido, sem dúvida, lugar de honra nos seguintes; sabe-se muito bem por que tal promessa não pôde ser cumprida (BALLY; SECHEHAYE, 2006 [1916], p. 4, grifo nosso). Uma breve análise de alguns documentos disponíveis a respeito do conteúdo do terceiro curso nos mostra que o estudo que foi prometido e não cumprido, durante o curso, foi justamente o que se refere à abordagem de Saussure sobre a faculdade e o exercício da linguagem pelos indivíduos. Afirmamos isso, pois esses mesmos documentos nos mostram que, embora o linguista tenha planeja- do abordar esse assunto ao longo de seu curso, ele nunca chegou a fazê-lo. O conteúdo de suas aulas se limita à abordagem das línguas e da língua. Todavia, uma vez que a fala consiste no lado individual da linguagem, cremos que seja possível estabelecer uma relação entre ela e a faculdade e o exercício da lingua- gem pelos indivíduos. Apesar da possibilidade dessa relação, nos questionamos se essas três no- ções – isto é, de fala, faculdade da linguagem e exercício da linguagem – podem, de fato, ser tomadas como equivalentes, sem ressalvas, no seio das elaborações de Saussure, ou se seu uso irrestrito ocasiona implicações teóricas. Além disso, considerando que os editores do CLG parecem utilizar, sem restrições, essas noções como sinônimas, levantamos as seguintes questões: qual a orientação terminológico-conceitual do CLG, no que diz respeito ao uso das expressões “fala”, 1 “Faculté et exercise du langage chez les individus”.
  • 3. 3 A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ “faculdade da linguagem” e “exercício da linguagem”? Elas são usadas como equivalentes? Há a preferência de uma delas sobre as outras? A fim de refletirmos sobre essas questões, realizaremos a análise de três ma- teriais: 1. as anotações de É. Constantin acerca do terceiro curso de Saussure, editadas e publicadas por E. Komatsu e R. Harris no livro Troisième Cours de Lingistique Générale (1910-1911) – d’aprés les cahiers d’Émile Constantin; 2. o conjunto de manuscritos Notes pour le cours III, referentes às anotações de Saussure sobre seu terceiro curso; e 3. o próprio CLG. Contudo, antes de pas- sarmos à análise desses documentos, no tópico a seguir discorremos um pouco sobre a relação entre as noções-alvo de nossa reflexão no arcabouço teórico saussuriano. OS ENTORNOS DA FALA Uma das inúmeras peculiaridades da teorização de Saussure é a diversidade terminológica que circunda cada um de seus conceitos. Essa diversidade, resul- tado de uma teorização em processo e de caráter não teleológico, aparece em diversos momentos das elaborações do linguista, em diferentes documentos que a atestam, e pode ser percebida mesmo se considerarmos unicamente o CLG. Por exemplo, na edição, é possível observar o percurso de delimitação termino- lógico-conceitual do signo linguístico e de seus elementos componentes. Em um primeiro momento, Saussure (2006 [1916], p. 81) delimita o signo como a união entre conceito e imagem acústica: “chamamos signo a combinação do conceito e da imagem acústica: mas, no uso corrente, esse termo designa geralmente a imagem acústica apenas, por exemplo, uma palavra (arbor etc.)”. Entretanto, em um outro momento, o linguista opta por restabelecer a designa- ção desses conceitos: A ambiguidade desaparecia se designássemos as três noções aqui presentes por nomes que se relacionam entre si, ao mesmo tempo que se opõem. Propo- mo-nos a conservar o termo signo para designar o total, e a substituir conceito e imagem acústica respectivamente por significado e significante; estes dois termos têm a vantagem de assinalar a oposição que os separa, quer entre si, quer do total do que fazem parte (SAUSSURE, 2006 [1916], p. 81). Apesar dessa reconfiguração terminológico-conceitual, muitas vezes o signi- ficante e o significado continuam sendo referenciados por meio das expressões “imagem acústica” e “conceito”. Esse processo ocorre, também, com outros con- ceitos e noções que compõem a teorização de Saussure. Como exemplo, desta- camos que, em alguns documentos do linguista, nota-se o uso do termo “discur- so” com uma significação bastante próxima da noção de fala. Contudo, o uso desse termo de forma relacionada ao arcabouço teórico de Saussure é recorren- temente evitado, tendo em vista a “importância que adquiriu recentemente em alguns desenvolvimentos da linguística atual e por suas relações com outras disciplinas, especialmente a psicanálise” (ARRIVÉ, 2010, p. 115). Entretanto, sua ocorrência nos documentos de Saussure, muitas vezes, rei- tera uma relação conceitual com a noção de fala, possível de ser depreendida das reflexões saussurianas. Destaquemos o documento intitulado por Bouquet e Engler como “Nota sobre o discurso” (cf. SAUSSURE, 2002). Embora, na edição dos Escritos de Linguística Geral essa nota apareça de forma descontextualizada
  • 4. MICAELA PAFUME COELHO 4 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ do todo do qual faz parte, segundo Testenoire (2016, p. 110), ela “[...] faz parte do conjunto de cadernos de anagramas elaborados por Saussure [...]”. Além disso, o autor afirma que ela foi escrita contemporaneamente ao segundo curso do linguista – isto é, entre 1908 e 1909. Nessa nota, podemos depreender – se não uma equivalência – uma relação entre as noções de fala e de discurso, uma vez que o discurso é descrito como “a língua em ação” e como o meio pelo qual a língua é criada. Ademais, de acordo com Testenoire (2016, p. 119), “nos dois primeiros cursos, discurso é empregado de duas maneiras: seja disposto ao lado de fala, de modo sinonímico, seja con- correntemente à fala [...]”. Contudo, embora Saussure utilize o termo discurso em seus dois primeiros cursos e em outros de seus escritos, o autor ressalta que o termo está ausente do conteúdo do terceiro curso (TESTENOIRE, 2016, p. 118). Como a análise que propomos é focada nos documentos que atestam a teori- zação de Saussure no momento de seu terceiro curso, consideramos pertinente ater-nos à relação entre fala, exercício e faculdade da linguagem – que é, de fato, a interseção que nos interessa. É importante destacar, desde já, que os traba- lhos que versam sobre essa temática têm como foco, sobretudo, a relação da fala com a noção de faculdade da linguagem; o lugar do exercício da língua, em contrapartida, não é comumente retomado. No CLG, a noção de fala pode ser depreendida a partir de sua relação com a conceituação de língua. Podemos considerar, inclusive, que essa noção possa ser definida de forma relacional, opositiva e negativa (COELHO; HENRIQUES, 2014). Desse modo, temos a fala como “um ato individual de vontade e inteligên- cia” (SAUSSURE, 2006 [1916], p. 22) e como “manifestações individuais e mo- mentâneas” (p. 28). Segundo Arrivé (2010, p. 119), “a fala é reconhecidamente o objeto parcial do 4º capítulo da ‘Introdução’, ao qual ela dá a segunda parte do título: ‘Linguística da língua e linguística da fala’”. Embora não ocupe, tanto quanto a língua, um lugar de prestígio no CLG, ainda assim a fala tem sua importância, principal- mente no que concerne à delimitação da língua, por meio da exclusão, deste objeto, dos elementos pertencentes à fala. Dito de outro modo, dada a íntima relação que há entre língua e fala, como elementos pertencentes ao conjunto maior da linguagem, foi necessário que Saussure buscasse delimitar a língua tanto por meio da definição de seus princípios e de seus elementos como por meio da exclusão dos aspectos pertencentes à fala da caracterização da língua. Arrivé (2010, p. 121) destaca que a fala possui três acepções possíveis, no ar- cabouço teórico saussuriano: 1. “o termo fala é frequentemente empregado no sentido de fonação”; 2. “é utilizado com o sentido de ‘ato consciente e intencional de encadeamento de unidades em uma sequência efetivamente realizada’”; 3. “acumula em alguns casos os dois valores que acabamos de distinguir”. De todas as formas, diferentemente da língua, que se constitui como um sistema geral e que apresenta caráter social, a fala está sempre relacionada a um ato, e esse ato – seja ele considerado como fonação ou como uma acepção geral de fala – é sempre individual. A faculdade da linguagem, por outro lado, segundo Arrivé (2010, p. 120), é o termo menos favorecido no CLG, tendo como base o uso dos termos “fala” e “dis- curso”; mas, segundo o autor, “[...] mesmo assim, ele aparece em uma entrada no índice, guarnecida por duas referências”. Nesse sentido, Arrivé (2010, p. 120, grifo nosso) especifica que:
  • 5. 5 A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ Com efeito, o texto avança que “a língua é um produto social da faculdade da linguagem”. No aparato conceitual saussuriano, isso não é de todo falso. Mas corresponde apenas [...] a um dos dois aspectos da faculdade da linguagem. E é justamente o outro aspecto o que Saussure tinha em mente em sua afirmativa, como notou Constantin: “A língua será para nós o produto social cuja existên- cia permite ao indivíduo exercer a faculdade da linguagem”. No excerto anotado por Constantin e retomado por Arrivé, percebemos um indício de diferenciação entre faculdade e exercício da linguagem. Ora, se a lín- gua é o meio que permite que a faculdade da linguagem seja exercida, podemos depreender que a faculdade da linguagem seja uma possibilidade de todos os indivíduos, e o ato individual dessa faculdade – ato este que se aproxima da noção de fala – é, na verdade, o exercício da linguagem. Dessa forma, pode-se considerar o exercício da linguagem, e não a faculdade da linguagem, como noção equivalente à noção de fala. Mas essa é apenas uma das possibilidades. Arrivé destaca que, em alguns momentos da teorização de Saussure, é possível compreender a última noção (a fala) como próxima à ideia de faculdade da linguagem. Contudo, o autor levanta uma ressalva: Quer dizer que a faculdade da linguagem é apenas outro nome para a fala? Isso seria simples demais. A faculdade da linguagem é mais extensiva que a fala. Ela claramente engloba os atos de fala para os quais a língua, estabelecida como instituição social, abre caminho. Mas ela abarca ainda o processo de cons- tituição da língua (ARRIVÉ, 2010, p. 125). Nesse sentido, percebemos que, para o autor, a faculdade da linguagem é uma noção que apresenta uma dimensão maior que a noção de fala, abrangendo tanto os atos individuais como também o processo de constituição da língua. Assim, uma vez apresentada a discussão acerca da noção de fala e dos ter- mos que a circundam na teorização de Saussure, no tópico a seguir passaremos à análise dos documentos saussurianos. Com essa análise, buscaremos desta- car de que forma o conceito de fala e as noções de faculdade e de exercício da linguagem são delimitados nos materiais referentes, principalmente, ao terceiro curso do linguista. A partir disso, com o auxílio da edição crítica do CLG estabe- lecida por Engler (cf. SAUSSURE, 1968), será possível compreender qual a orientação terminológico-conceitual do CLG no que tange ao uso desses termos e noções. A FALA: FACULDADE OU EXERCÍCIO DA LINGUAGEM? Iniciaremos nossa análise retomando a organização do terceiro curso, delimi- tada por Saussure em uma das aulas iniciais. Essa organização pode ser vis- lumbrada tanto por meio de suas notas manuscritas como também a partir das anotações de Constantin. Comecemos pelas notas manuscritas. Ao anunciar as partes que comporiam seu curso, Saussure afirma:
  • 6. MICAELA PAFUME COELHO 6 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ Figura 1 – Primeiro excerto das Notes pour le cours III Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-XX, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 Como foi indicado, nas duas primeiras seções, dividimos nosso curso em 3 partes, e os título das 2 primeiras partes diferem apenas por um singular e um plural: 1ª parte: As línguas, 2 ª parte: A língua. Essa diferença basta em realidade vez para marcar quase infalivelmente rigorosamente sem equívoco o que deve ser a diferença de conteúdo entre as 2 partes;3 Fonte: Saussure (1910-1911, f. 3). Embora o linguista destaque que o curso seria composto por três partes, ele apresenta apenas duas: as línguas e a língua. Uma análise das folhas que seguem, nesse conjunto de manuscritos, nos revela que a terceira parte do curso não foi anunciada por Saussure, em suas Notes pour le cours III. No entanto, as anotações de Constantin podem nos auxiliar a descobrir qual é a terceira e última parte prometida pelo linguista aos ouvintes do curso. Em suas anotações, retomamos a seguinte organização proposta por Saussure: “Divisões gerais do curso: 1º) As línguas; 2º) A língua; 3º) Faculdade e exercício da linguagem nos indivíduos”4 (SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], tradução nossa), p. 6). Nota-se que as duas primeiras partes apresentadas coincidem com aquelas expostas nas notas manuscritas; além disso, as anotações de Constantin nos permitem recuperar a última parte do curso: tratava-se da faculdade e exercício da linguagem nos indivíduos. 3 "Comme il a été indique, les deux prmières sections nous divisons notre cours em 3 parties, et les titre de 2 premièrs parties ne diffère que par um singulier ou um pluriel: 1e partie, Les langues, 2e partie La langue. Cette différence suffit en fois realité à marquer presque indéfectiblement rigoureusement sans équivoque ce que doite être la différence du contenu entre les deux parties". 4 "Divisions générales du cours: 1°) Les langues 2°) La langue 3°) Faculté et exercice du langage chez les individus". Como foi indicado, nas duas primeiras seções, dividimos nosso curso em 3 partes, e os título das 2 primeiras partes diferem apenas por um singular e um plural: 1ª parte: As línguas, 2 ª parte: A língua. Essa diferença basta em realidade vez para marcar quase infalivelmente rigorosamente sem equívoco o que deve ser a diferença de conteúdo entre as 2 partes;2 Fonte: Saussure (1910-1911, f. 3). Embora o linguista destaque que o curso seria composto por três partes, ele apresenta apenas duas: as línguas e a língua. Uma análise das folhas que se- guem, nesse conjunto de manuscritos, nos revela que a terceira parte do curso não foi anunciada por Saussure, em suas Notes pour le cours III. No entanto, as anotações de Constantin podem nos auxiliar a descobrir qual é a terceira e últi- ma parte prometida pelo linguista aos ouvintes do curso. Em suas anotações, retomamos a seguinte organização proposta por Saussure: “Divisões gerais do curso: 1º) As línguas; 2º) A língua; 3º) Faculdade e exercício da linguagem nos indivíduos”3 (SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910- 1911], p. 6, tradução nossa). Nota-se que as duas primeiras partes apresenta- das coincidem com aquelas expostas nas notas manuscritas; além disso, as anotações de Constantin nos permitem recuperar a última parte do curso: tra- tava-se da faculdade e exercício da linguagem nos indivíduos. É importante destacar que não há ocorrência das expressões “faculdade da linguagem” e “exercício da linguagem”, nas Notes pour le cours III. Há, contudo, algumas ocorrências do termo “fala”. Destacamos a seguinte: 2 “Comme il a été indique, les deux prmières sections nous divisons notre cours em 3 parties, et les titre de 2 premièrs parties ne diffère que par um singulier ou um pluriel: 1e partie, Les langues, 2e partie La langue. Cette différence suffit en fois realité à marquer presque indéfectiblement rigoureusement sans équivoque ce que doite être la différence du contenu entre les deux parties”. 3 “Divisions générales du cours: 1°) Les langues 2°) La langue 3°) Faculté et exercice du langage chez les individus”.
  • 7. 7 A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ Figura 2 – Segundo excerto das Notes pour le cours III Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-XX, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 É importante destacar que não há ocorrência das expressões “faculdade da linguagem” e “exercício da linguagem”, nas Notes pour le cours III. Há, contudo, algumas ocorrências do termo “fala”. Destacamos a seguinte: Figura 2 – Segundo excerto das Notes pour le cours III Na linguagem A língua foi separada da Fala, e ao mesmo tempo que nós xxx a parte ela reside na [ ] residente em um no âmago de uma massa falante o que não é o caso para a fala.5 Fonte: Saussure (1910-1911, f. 37). Embora o termo “fala” seja mencionado no trecho acima, parece-nos que a preocupação maior de Saussure, nesse momento de suas elaborações, consiste em delimitar a língua. Nesse sentido, o linguista utiliza a fala como elemento de contraponto à língua, ou seja, define a última por meio da delimitação de suas diferenças com a primeira. Ousamos dizer que é, sobretudo, com essa função – de definir a língua por relação – que Saussure recorre à fala nesse conjunto de manuscritos. Isso pode ser notado, também, no seguinte momento do documento: Figura 3 – Terceiro excerto das Notes pour le cours III 5 "Dans le langage La langue a été dégagée de la Parole; et en même temps que’on a xxx la partie elle réside dans [ ] résidant dans une l’âme d’une masse palante ce qui n’est pas le cas pr la parole". Na linguagem A língua foi separada da Fala, e ao mesmo tempo que nós xxx a parte ela reside na [ ] residente em um no âmago de uma massa falante o que não é o caso para a fala.4 Fonte: Saussure (1910-1911, f. 37). Embora o termo “fala” seja mencionado no trecho acima, parece-nos que a preocupação maior de Saussure, nesse momento de suas elaborações, consiste em delimitar a língua. Nesse sentido, o linguista utiliza a fala como elemento de contraponto à língua, ou seja, define a última por meio da delimitação de suas diferenças com a primeira. Ousamos dizer que é, sobretudo, com essa função – de definir a língua por relação – que Saussure recorre à fala nesse conjunto de ma- nuscritos. Isso pode ser notado, também, no seguinte momento do documento: Figura 3 – Terceiro excerto das Notes pour le cours III Definição Quando excluímos separamos da linguagem tudo o que não é Fala, nós o resto pode se chamar xxx a língua.6 Fonte: Saussure, 1910-1911, f. 38. Como é possível notar, em nossa análise do conjunto de manuscritos Notes pour le cours III, encontramos poucas ocorrências do termo “fala”, e nenhuma que possa indicar uma definição própria desse conceito saussuriano. Além disso, reiteramos a não utilização das expressões “faculdade da linguagem” e “exercício da linguagem” no referido documento. Em contrapartida, nas anotações de Constantin, essas duas expressões são recorrentes e, além disso, é possível depreendermos a conceituação relacionada a elas: Essa faculdade nos é dada de início pelos órgãos, e após pelo jogo que podemos obter a partir deles. Mas é apenas uma faculdade e seria materialmente impossível de exercê-la sem outra coisa que é dada de fora ao indivíduo: a língua (SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], p. 6-7). Definição Quando excluímos separamos da linguagem tudo o que não é Fala, nós o resto pode se chamar xxx a língua.5 Fonte: Saussure (1910-1911, f. 38). Como é possível notar, em nossa análise do conjunto de manuscritos Notes pour le cours III, encontramos poucas ocorrências do termo “fala”, e nenhuma que possa indicar uma definição própria desse conceito saussuriano. Além dis- so, reiteramos a não utilização das expressões “faculdade da linguagem” e “exer- cício da linguagem” no referido documento. Em contrapartida, nas anotações de Constantin, essas duas expressões são recorrentes e, além disso, é possível depreendermos a conceituação relacionada a elas: 4 “Dans le langage La langue a été dégagée de la Parole; et en même temps que’on a xxx la partie elle réside dans [ ] résidant dans une l’âme d’une masse palante ce qui n’est pas le cas pr la parole”. 5 “Définition Qd on écarte sépare du langage tt ce qui n’est que Parole, on le reste peut s’appeler xxx la langue”.
  • 8. MICAELA PAFUME COELHO 8 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ Essa faculdade nos é dada de início pelos órgãos, e após pelo jogo que podemos obter a partir deles. Mas é apenas uma faculdade e seria materialmente impos- sível de exercê-la sem outra coisa que é dada de fora ao indivíduo: a língua (SAUSSURE apud CONSTANTIN, 1993 [1910-1911], p. 6-7). Considerando esse trecho das anotações de Constantin, podemos compreen- der que a faculdade da linguagem corresponde à possibilidade dos indivíduos, dada pelos órgãos e pelo seu jogo, de ter uma linguagem. Trata-se, a nosso ver, de uma faculdade físico-fisiológica, que, em conjunto com a língua, permite que ocorra, por parte dos indivíduos, o exercício da linguagem. Considerando essas concepções de faculdade e exercício da linguagem apresentadas nessas anota- ções, julgamos relevante retomar uma definição de fala, apresentada no CLG: A fala é [...] um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distin- guir: 1º as combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de exprimir seu pensamento pessoal; 2º o mecanismo psicofísico que lhe permite exteriorizar essas combinações (SAUSSURE, 2006 [1916], p. 22). A conceituação retirada do CLG destaca duas características componentes da fala: 1. uma psicofísica, que remete aos órgãos humanos e à sua capacidade de processamento, e que pode ser aproximada da definição de faculdade da linguagem apresentada nas anotações de Constantim; 2. outra que é constituí- da pelo uso da língua pelo falante, que pode ser aproximada da definição, ano- tada por Constantin, de exercício da linguagem. Nesse sentido, tal como concei- tuada no CLG, a fala parece englobar, ao mesmo tempo, a faculdade e o exercício da linguagem. Temos, aqui, mais uma possibilidade de entendermos a relação entre essas três noções. A nosso ver, ao contrário da afirmação de Arrivé (2010, p. 125) de que a fa- culdade da linguagem é mais extensiva do que a fala, para nós, é a fala que se configura como tal. Assim, uma vez delimitado de que forma compreendemos as noções de fala, faculdade e exercício da linguagem, a partir dos documentos saussurianos, resta-nos retomar o uso, por parte de Bally e Sechehaye, em seu prefácio à primeira edição, do termo fala como equivalente da expressão facul- dade da linguagem. Como já afirmamos, os editores alegam que Saussure havia prometido um estudo sobre a fala; porém, analisando a organização do curso, percebemos que o que Saussure prometera havia sido um estudo sobre faculdade da linguagem e seu exercício pelos indivíduos. Ademais, a edição crítica de Engler nos mostra que há diversos trechos do CLG em que é utilizado o termo fala, porém, nas fontes correspondentes a esses trechos há a utilização da expressão “faculdade da linguagem”. Isso pode ser percebido, entre outros momentos, no seguinte fragmento da edição crítica: CLG: Quando separamos a língua da fala, separamos ao mesmo tempo [...]. Dégalier: Quando separamos língua de faculdade da linguagem, separamos [...]. Joseph: Quando separamos a língua da linguagem, separamos [...]. Constantin: Quando separamos a língua da faculdade da linguagem, separamos [...]. (cf. SAUSSURE, 1968, p. 41, tradução nossa, grifo nosso)6 . 6 “CLG : En séparant la langue de la parole, on sépare du même coup [...] ; Dégalier : En séparant langue de faculté du langage, on a séparé [...] ; Joseph: En séparant la langue du langage on sépare [...] ; Constantin : Quand on a séparé la langue de la faculté du langage, on a séparé [...]”.
  • 9. 9 A FALA EM FERDINAND DE SAUSSURE: FACULDADE E EXERCÍCIO DA LINGUAGEM Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ É possível notar que o fragmento do CLG que serve de base para as correspon- dências das fontes – que são os cadernos dos alunos dos cursos de Saussure – consiste em um momento bastante relevante da edição. Trata-se do momento em que Saussure busca delimitar a língua, separando dela tudo que diz respei- to à esfera da fala. Contudo, vemos que há uma discordância terminológico- -conceitual entre a edição e suas fontes: não há, em nenhum dos excertos apon- tados por Engler, o uso do termo “fala”; em todos eles aparece a expressão “faculdade da linguagem”. Tal como ocorre no trecho supracitado, é possível que destaquemos outros momentos da edição em que há esse mesmo tipo de substituição. Como procura- mos não nos delongar, não as exporemos nos limites deste trabalho; no entanto, elas podem ser resgatadas por meio da indicação feita por Engler (cf. SAUSSURE, 1968). Assim, tendo em vista o levantamento bibliográfico feito no tópico anterior a respeito das acepções de fala, faculdade e exercício da linguagem no arcabou- ço teórico saussuriano, bem como as análises feitas no presente tópico, conside- ramos pertinente questionar: a substituição da expressão “faculdade da lingua- gem” pelo termo “fala”, na edição do CLG, pode ocasionar implicações teóricas? Posicionamo-nos de forma a considerar que essas três noções (fala, faculdade da linguagem e exercício da linguagem) apresentam, em alguns momentos da te- orização de Saussure, especificidades que permitem pensá-las como noções dis- tintas. Apesar disso, são noções que apresentam uma proximidade teórica bas- tante grande, funcionando ora como elementos componentes ora como elementos agrupadores umas das outras. Sendo assim, admitimos que há uma flutuação terminológico-conceitual que envolve essas três noções, contudo, não acredita- mos que seja possível estabelecer uma delimitação categórica de cada uma delas. Essa impossibilidade é uma característica que provém da própria teorização de Saussure, sempre em processo e, a priori, sem vistas à criação de uma ciên- cia. Por isso, acreditamos que o uso do termo “fala” como substituto de “facul- dade da linguagem” e “de exercício da linguagem” não ocasione grandes implica- ções teóricas, e nem desautoriza a edição do CLG, uma vez que nenhum dos termos parecia estar categoricamente definido e delimitado no seio das reflexões de Saussure. CONSIDERAÇÕES FINAIS O propósito deste trabalho consistiu em investigar o tipo de relação existente entre a fala, a faculdade e o exercício da linguagem, procurando ressaltar qual a orientação terminológico-conceitual do CLG no que tange ao uso desses ter- mos e noções. Para tanto, perpassamos os pos+icionamentos de Arrivé (2010) e Testenoire (2016) acerca dos usos e das acepções dessas expressões nas refle- xões de Saussure. Depois disso, nos voltamos à análise de três materiais que compõem o corpus saussuriano: o CLG, as Notes pour le cours III e as anotações de Constantin, referentes ao terceiro curso. Com essa análise, percebemos que a edição do CLG tende ao uso do termo fala, em lugares em que, nas fontes, é utilizada principalmente a expressão “facul- dade da linguagem”. Apesar disso, dada a não categorização conceitual dessas noções na teorização de Saussure, não consideramos que esse tipo de substitui- ção possa desencadear grandes implicações teóricas. Tendo isso em vista, ousa- mos supor que não seja possível definir se a fala corresponde à faculdade da lin- guagem ou ao seu exercício. A nosso ver, ambas as possibilidades são plausíveis.
  • 10. MICAELA PAFUME COELHO 10 Todas as Letras, São Paulo, v. 22, n. 2, p. 1-10, maio/ago. 2020 DOI 10.5935/1980-6914/eLETDO2013123 DOSSIÊ FERDINAND DE SAUSSURE’S CONCEPT OF PAROLE: FACULTY OR EXERCISE OF LANGUAGE? Abstract: Parole is a Saussurean concept about which there is few direct defini- tions within Ferdinand de Saussure’s elaborations. However, this concept can be characterized in a relational way, from the definitions of langue and langage. Nevertheless, there are still some questions regarding the delimitation of this concept; it is possible, for example, to consider a terminological a terminologi- cal-conceptual convergence between the concept of parole and the notions of faculty and exercise of language. Considering this, in this work, we aim to in- vestigate, in some of Saussure’s documents, what are the possible relations between the concept parole, and the notions of exercise of language and faculty of language. Keywords: Parole. Faculty of language. Concept. Saussure. Course in General Linguistics. REFERÊNCIAS ARRIVÉ, M. Em busca de Ferdinand de Saussure. Tradução M. Marcionilo. São Paulo: Parábola Editorial, 2010. BALLY, C.; SECHEHAYE, A. Prefácio à primeira edição. In: SAUSSURE, F. Curso de Linguística Geral. Tradução A. Chelini, J. P. Paes e I. Blikstein. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006 [1916]. COELHO, M. P.; HENRIQUES, S. M. A fala em Ferdinand de Saussure: um con- ceito relacional, opositivo e negativo. Domínios de Lingu@gem, Uberlândia, v. 8, n. 1, p. 646-663, 2014. COELHO, M. P. A autoria do CLG: uma análise à luz do conceito foucaultiano de função autor. Revista do GELNE, v. 21, n. 1, p. 166-177, jun. 2019. SAUSSURE, F. de. Notes pour le cours III. In: Papiers Ferdinand de Saussure, 3951 – 22. Bibliotèque de Genève, 1910-1911. 56 f. SAUSSURE, F. de. Curso de Linguística Geral. Tradução A. Chelini, J. P. Paes e I. Blikstein. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006 [1916]. Cours de linguistique gene- ral. Charles Bally e Albert Sechehaye (org.). Colaboração de Albert Riedlinger, [1916]. SAUSSURE, F. de. Cours de Linguistique Générale. Édition critique par Rudolf Engler. Wiesbaden: Harrassowitz, 1968. Tome 1. SAUSSURE, F. de. Troisième Cours de Linguistique Générale: d’après les cahiers d’Emile Constantin/Saussure’s third course of lectures on general linguistics (1910-1911): from the notebooks of Emile Constantin. French text edited by Eisuke Komatsu and English text edited by Roy Harris. Oxford: Pergamon Press, 1993. SAUSSURE, F. de. Escritos de Linguística Geral. Organização e edição S. Bouquet e R. Engler. São Paulo: Cultrix, 2002. TESTENOIRE, P. Y. O que as teorias do discurso devem a Saussure. In: CRUZ, M. A.; PIOVEZANI, C.; TESTENOIRE, P. Y. (org.). Saussure, o texto e o discurso: cem anos de heranças e recepções. São Paulo: Parábola Editorial, 2016. p. 105-124.