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BEATO FRANCISCO SPOTO (1924-1964) MÁRTIR
Francisco Spoto nasceu a 8 de Julho de 1924, em Raffadali (Itália). Os pais
educaram-no para uma fé profunda e genuína e transmitiram-lhe um grande sentido do
dever. A família, a escola e a paróquia foram os ambientes freqüentados por Francisco: os
seus educadores e os pais em primeiro lugar intuíram que naquele menino bom,
consciencioso e sensível estavam amadurecendo os germes da vocação ao serviço de Deus
e dos irmãos.
Francisco entrou no Seminário da Congregação dos Missionários Servos dos Pobres
em Palermo, em 1936. Desde o início mostrou possuir um caráter determinado: humilde,
mas tenaz, com o sentido do dever e da responsabilidade muito acentuado. Exatamente
por causa da sua determinação e tenacidade ganhou dois apelidos, respectivamente dos
companheiros e dos superiores: "alemão" (Il Tedesco) e "rocha", nomes que dão uma clara
imagem do temperamento do jovem! Durante os anos de seminário nasceu nele a paixão
pelos estudos, que se traduziu na sua breve vida, numa sólida preparação, claramente
visível nos seus escritos, cartas e homilias. Cultura não finalizada a si mesma, mas colocada
ao serviço do amor de Deus e dos irmãos.
No dia 1.º de Novembro de 1940, Francisco emitiu a sua primeira profissão. Recebeu
a Ordenação sacerdotal a 22 de Julho de 1951. Imediatamente dedicou o seu ministério
sacerdotal ao desenvolvimento das obras típicas da Congregação dos Servos dos Pobres. O
Capítulo Geral de 1959 elegeu-o Superior-Geral com apenas 35 anos, com a necessária
dispensa da Santa Sé por causa da sua jovem idade. Consciente das novas
responsabilidades com tenacidade renovada, determinação e sentido do dever ainda mais
fortes empenha-se com todas as forças a dar impulso e vitalidade à Congregação,
colocando-se ao serviço de todos com ativa humildade e amorosa firmeza. A sua vida
perfuma e vibra de oração, por ele considerada o centro da atividade quotidiana.
O seu modo concreto permitiu-lhe concluir a aprovação das Constituições da parte
da Santa Sé, a nova Casa de estudos teológicos em Roma e, em 1961, a inauguração da
missão de Biringi, na atual República Democrática do Congo (ex-Zaire). E, precisamente lá,
na terra tão amada, Pe. Spoto transcorrerá os últimos meses da sua vida numa corrida
toda orientada para a santidade e para o martírio. Com efeito, no dia 4 de Agosto de 1964,
partiu para Biringi a fim de confortar os irmãos, que se encontravam em notável
dificuldade devido à situação política crítica e perigosa na ex-colônia belga que, após obter
a independência em 1960, atravessava um período muito instável, com lutas assinaladas
pela ideologia materialista e anti-religiosa, que se tornaram mais ferozes a partir de 1964
devido à perseguição de inúmeros religiosos e religiosas. Neste contexto, Pe. Francisco
partiu para o Congo, cheio de entusiasmo, embora consciente de que poderia perder a
própria vida. No mês de Setembro, quando a situação em Biringi se fez mais difícil, decidiu
deixar o cargo de Superior-Geral, comunicando a decisão numa carta dirigida ao Vigário-
Geral: "Se permaneço aqui confia ao Vigário-Geral não é por teimosia ou desinteresse, mas
somente por um elevado sentido do dever, só pelo interesse e amor da Congregação"
(Carta ao Vigário-Geral, 20 de Setembro de 1964). Um bom pai não abandona os próprios
filhos na necessidade extrema.
No início de Novembro, Pe. Spoto e três irmãos de hábito foram obrigados a deixar a
missão e a vagar sem rumo, escondendo-se e procurando fugir dos Simba que os seguiam
para os assassinar.
Nesta angustiante situação, Pe. Francisco afinou o sentido do sacrifício, aperfeiçoou
a vontade de oferecer a vida para que os companheiros fossem salvos. Não obstante
vivendo esta vida errante, repleta de sustos e medos, Pe. Francisco conseguiu escrever
uma espécie de "diário". No dia 3 de Dezembro os seus companheiros foram capturados.
Embora tenha conseguido fugir, passou a noite a vaguear pelo bosque com os pés
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descalços, sedento, faminto, ensangüentado... Na manhã seguinte, encontrou os três
companheiros livres, milagrosamente incólumes. Na noite de 11 de Dezembro Pe.
Francisco foi atacado por dois guerrilheiros e, devido às violentas pancadas, permaneceu
paralisado. A partir daquela trágica noite até ao dia da sua morte ele foi transportado
numa espécie de maca, ao prosseguirem a fuga para evitar nova captura. Pe. Francisco
morreu a 27 de Dezembro de 1964, após ter recebido o sacramento da unção. Foi
sepultado nas proximidades da cabana onde se refugiava. Os seus irmãos de hábito
salvaram-se e regressaram à Itália.
A sua morte não foi uma oferta inútil: o seu sangue inocente banhou os torrões
daquele pedaço de terra da África, fazendo crescer e produzir frutos abundantes.