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COESÃO TEXTUAL
Professora Denize Terezinha Teis
• Como acontece a coesão no texto? Que estratégias podemos usar
para estabelecer a conexão entre porções textuais?
Texto 1 – Os urubus e os sabiás
• A partir desse texto, constata-se que:
• um texto não é apenas uma soma ou sequência de frases isoladas.
• - Veja-se o início: “Tudo aconteceu...”Que “tudo” é esse? Que foi
aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam?
• - Em (3), temos o termo isto: “E para isto fundaram escovam...” Isto o
quê? De que se está falando? Ainda em (3), qual é o sujeito dos verbos
fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, fizeram? É o mesmo
de teriam? (em “teriam a permissão de mandar nos outros) Fala-se em
quais deles: deles quem? E quem são outros?
• - Qual é o referente de eles em (4)?
• - Em (5), tem-se novamente a palavra tudo: “Tudo ia muito bem...”.
Será que esta segunda ocorrência do termo tem o mesmo sentido da
primeira?
• - Em (7), a quem se refere o pronome eles?
• - E seus, em (8)?
• - Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas?
• - Elas, em (10), refere-se a pobres aves ou tais coisas? De que
passarinhos - os passarinhos - se fala em (13)?
• Os termos em questão são elementos da língua que têm por função
estabelecer relações textuais: são recursos de coesão textual.
• - tudo, em (1), remete a toda a sequência do texto, sendo, pois, um
elemento catafórico, ou seja, que faz uma referência a um termo
posterior, que será enunciado mais à frente na oração;
• - isto, em (3) - “e para isto fundaram escolas” - remete para o
enunciado anterior; é, portanto, anafórico (conversão em grandes
cantores), do mesmo modo que tudo, em (5). Ao que a palavra “tudo”
em (5) faz referência?;
• - deles, em (3), remete a urubus, de (2);
• - são também os urubus o sujeito (elíptico) da sequência de verbos em
(3), mas não de teriam, cujo sujeito será um subconjunto do conjunto
dos urubus (“quais deles seriam os mais importantes”), que exclui o
subconjunto complementar formado por outros;
• O que é elipse? A elipse é uma figura de linguagem que ocorre
quando um termo é omitido em um enunciado, mas fica
subentendido pelo contexto.
• (https://www.portugues.com.br/gramatica/elipse.html)
• - e, em (4), eles pode remeter a urubus, de (2), ou ao primeiro
subconjunto citado acima;
• - em (7), eles retoma os velhos urubus que, por sua vez, retoma os
urubus citados anteriormente;
• - seus, em (8), remete a pintassilgos, sabiás e canários;
• - tais coisas, em (9), referem-se aos documentos de que se fala em (8);
• - os passarinhos, em (13), remete a elas de (10), que, por seu turno,
remete a pobres aves, de (9) e esta expressão a pintassilgos, sabiás e
canários de (7) que retoma (6).
•As palavras sublinhadas correspondem a
elementos que fazem referência a outro elemento
do texto. Na maior parte do texto, desenvolve-se
um processo de retomada do item os urubus, que
ocorre desde o título do texto. Há também
referências a outros itens lexicais textualizados no
texto, como é o caso de pintassilgos, sabiás e
canários: as pobres aves, elas, os passarinhos.
•Já as palavras destacadas em negrito correspondem a
elementos que atuam na sequenciação no texto, ou seja,
fazem o texto progredir assinalam determinadas relações
de sentido entre enunciados ou partes de enunciados,
como, por exemplo: oposição ou contraste (mas, em (2)
e (11); mesmo, em (2); finalidade ou meta (para, em (3)
e (11); consequência (foi assim que, em (4); e, em (7);
localização temporal (até que, em (5) ); explicação ou
justificativa (porque, em (9) e (10) ); adição de
argumentos ou ideias ( e, em (11) ).
•Como podemos observar na análise de alguns dos
mecanismos de coesão no texto “Os urubus e sabiás”,
existem dois grandes movimentos de coesão textual: a
retomada de um item lexical (palavras destacadas com o
sublinhado) ou a sequenciação do texto (palavras
destacadas em negrito). Esses dois grandes movimentos
de coesão textual (coesão referencial e coesão
sequencial) têm a função de estabelecer relações
semântico-discursivas entre os segmentos do texto, de
modo que o processo de construção do texto, por meio
de retomadas e sequenciações, constitua-se como uma
unidade de sentido.
•De acordo com Koch (1991[1989]), a coesão
referencial é aquela em que um componente da
superfície textual faz remissão a outro(s) elemento(s) do
universo textual, ou seja, é aquela que marca as
retomadas dos referentes textuais ao longo do texto.
Koch (1991[1989]) chama de forma referencial ou
forma remissiva o componente que faz referência a
outro elemento do texto e de elemento de referência ou
referente textual a forma que é referenciada. (KOCH,
1991[1989]).
Circuito Fechado – Ricardo Ramos
• Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental,
água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina,
sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente.
Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó.
Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço
de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires,
prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro,
fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda,
copo com lápis,
• Como exemplo de coesão referencial, podemos apontar, no
“Os urubus e os sabiás”, as ocorrências dos pronomes eles (2)
e seus (8) (formas referenciais/remissivas), que fazem
referência a outro elemento do texto. O pronome pessoal do
caso reto “eles” (eles haveriam de se tornar grandes cantores
(2)) e o possessivo seus (onde estão os documentos dos seus
concursos? (8)), como formas remissivas retomam o referente
textual ativado anteriormente (“os urubus, aves por
natureza becadas...” e “... convocaram pintassilgos, sabiás e
canários para um inquérito”)
•Entretanto, essas retomadas, no processo coesivo,
não têm somente a função de estabelecer a ligação
com o referente, pois esse referente não é idêntico:
ele muda ao longo do texto, e as retomadas
coesivas apontam para essa mudança; logo, o
processo coesivo não tem implicações somente na
interligação, mas também na ressignificação do
referente.
•Por exemplo, “pintassilgos, sabiás e canários” é
retomado, mas também ressignificado como “as
pobres aves” e “os passarinhos”, por exemplo.
•D e a c o r d o c o m K o c h ( 1 9 9 1 [ 1 9 8 9 ] ) , a
referência/remissão a um referente textual pode ser
exofórica ou endofórica. A exofórica ocorre quando a
remissão é feita a algum elemento de referência da
situação comunicativa, isto é, quando o referente está
fora do texto. Já a endofórica, por sua vez, ocorre
quando o referente está expresso no texto. Se o
referente textual preceder a forma referencial/remissiva,
t e m - s e a a n á f o r a ; s e v i e r a p ó s a f o r m a
referencial/remissiva, tem-se a catáfora.
• “AO LADO DO retumbante sucesso da lei seca, começam a surgir
movimentos para questionar a sua constitucionalidade. Alguns
argumentam que o máximo de 0,2 decigramas de álcool por litro de
sangue é um exagero. Outros dizem que a imposição do bafômetro
força os cidadãos a produzirem prova contra si mesmos.
• Antônio Ermírio de Moraes
• Exemplos:
• No “Os urubus e os sabiás”, temos um exemplo de anáfora
em: “[...] Foi assim que eles organizaram concursos ... (4),
uma vez que eles fazem referência/remissão a “os urubus” e
essa retomada está textualizada após o referente textual.
• Já em “Tudo aconteceu numa terra distante” temos um caso
de catáfora, pois a forma remissiva/referencial “tudo” é
resumitiva de um referente que será explicitado em seguida: a
autorização do canto para as aves diplomadas.
• Já a coesão sequencial consiste em estabelecer conexão e interrelação
entre partes do texto, com o objetivo de possibilitar a progressão
textual. Koch (2004, p. 35) conceitua a coesão sequencial da seguinte
maneira:
• “A coesão sequencial diz respeito aos procedimentos linguísticos por
meio dos quais se estabelecem, entre os segmentos do texto
(enunciados, partes de enunciados, parágrafos e mesmo sequências
textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático-
discursivas, à medida que se faz o texto progredir.”
Coesão
• A coesão de um texto pode ser feita por:
• REITERAÇÃO
• ASSOCIAÇÃO
• CONEXÃO
• A reiteração pode ser feita por:
• REPETIÇÃO
• SUBSTITUIÇÃO
• A substituição pode ser feita por:
• Substituição gramatical: Retomada por pronomes ou por
advérbios;
• Substituição lexical: retomada por sinônimos, hiperônimos,
caracterizadores situacionais.
• Elipse: retomada por elipse
Elementos de ordem gramatical capazes de
criar a coesão referencial por substituição
• A) PRONOMES
• A derrota do Minotauro
• Quando os atenienses chegaram a Creta, a filha do rei Minos, Ariadne,
apaixonou-se por Teseu. Ofereceu-lhe ajuda em troca da promessa de
casamento, dando a ele um novelo de cordel. Teseu amarrou uma das
pontas na entrada do labirinto e entrou, liberando a corda conforme
caminhava. No meio do labirinto, lutou contra o Minotauro e o matou.
(WILKINSON, 2010, p. 62)
• Os pronomes destacados (pessoais do caso oblíquo “lhe” e “o”; pessoal do
caso reto: “ele”) são anafóricos: retomam e mantêm em foco os referentes:
“Teseu” (“lhe”, “ele”); “Minotauro” (“o”)
• B)NUMERAIS
• Buda
• Maria de Fátima da Silva, mãe do bailarino DG – assassinado em
circunstâncias ainda não esclarecidas –, é medalhista de natação em
águas abertas.
• Andréa Beltrão, minha parceira em ‘Tapas e Beijos”, é colega dela na
turma de nado do Posto 6 de Copacabana.
• Andréa mora na Atlântica, Maria de Fátima no morro do Cantagalo,
mas as duas desfrutam do mesmo mar; junto com as tartarugas, os
peixes e os sacos plásticos.
• (TORRES, 2014)
• C)ARTIGOS
• Chico na Alemanha
• “Não me ocorreria escrever esse livro com minha mãe viva”: diz Chico à
Piauí deste mês, na única entrevista à imprensa sobre o romance “O
Irmão Alemão”: que frequentou o topo das listas de mais vendidos em
2014. A revista acompanhou o escritor numa viagem à Alemanha após a
descoberta do irmão Sérgio Günther, filho de um namoro da juventude
de seu pai Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). (COZER, 2015)
• Nas formas nominais referenciais “a revista” e “o escritor”, o artigo
definido indica que se trata de referentes já apresentados no texto e
facilmente identificados: (a revista – Piauí; o escritor – Chico)
• Era uma vez um rei que tinha dois filhos. O rei vivia descontente
porque os filhos brigavam demais.
• Uma das funções do artigo indefinido é introduzir um referente no
texto. O artigo definido, por sua vez, promove a reativação ou
retomada desse referente, sinalizando a mudança de status: de uma
informação nova para informação conhecida, alocada na memória do
leitor/ouvinte.
• D) ADVÉRBIOS LOCATIVOS
• i)Contra o hiperativismo parental
• A seção de puericultura da Livraria Cultura traz 2.038 itens. Ali abundam
títulos como “Criando Filhos Vitoriosos” ou “Como Multiplicar a
Inteligência do Seu Bebê”. Será que pais têm realmente todo esse poder
sobre o futuro de suas crianças? (SCHWARTSMAN, 2013)
• Ii) Fui fazer faculdade nos Estados Unidos em 1995 e depois voltei pra
mais dois anos de mestrado lá. Saí mais otimista em relação ao Brasil do
que quando cheguei. (IOSCHPE, 2012, p. 173)
Elementos da ordem lexical para a realização
da coesão referencial por substituição
A)Sinônimos ou quase sinônimos
• Folia e foliões
• Pensei em dois assuntos para esta crônica: o Carnaval e a estupefação
da sociedade com a eleição dos novos presidentes do Congresso.
Refletindo com certa calma, verifiquei que os dois temas,
aparentemente tão conflitantes, no fundo são a mesma coisa: aquilo
que em tempos idos chamavam de “folia”. (CONY, 2013)
• B)Nomes genéricos
• Carne artificial é apresentada e degustada em evento em Londres
• Hambúrguer foi criado a partir de células de músculo de vacas
• O primeiro hambúrguer criado em laboratório foi apresentado e
degustado ontem, em uma conferência em Londres, acompanhado de
pão, alface e tomate.
• O produto, que saiu da placa de Petri e foi direto para a frigideira, foi
provado por dois voluntários, que disseram, em frente às câmeras de TV,
que o sabor se aproximava ao da carne de vaca. (FOLHA…, 2013)
• C)Expressões ou grupos nominais definidos
• Da janela da pequena casa de madeira que dividia com os pais e os três
irmãos, lagoara avistava seu quintal. As árvores da floresta amazônica e
as águas do rio funcionavam como cenário das brincadeiras do
indiozinho da etnia kambeba. Correr, subir em árvores, caçar, nadar e
pescar eram as brincadeiras que faziam o tempo passar para os
curumins em sua tribo, a cerca de quatro horas de barco de Manaus, em
uma área de proteção ambiental do rio Negro.
• A expressão nominal definida “o indiozinho da etnia kambeba” serve
para retomar de forma descritiva o referente “Iagoara”.
• D) Nominalização
• Uma vez anotei todas as senhas. Mas onde guardar a anotação? E como
lembrar onde foi guardada, depois? Seria preciso outra anotação, com o lugar
onde foi guardada, mas onde guardá-la? Não. Anotar também não é
aconselhável. A conclusão é que o mais seguro de tudo é esquecê-las todas.
Pronto. Estou completamente blindado, inclusive contra mim mesmo. Não
sou eu para nada. Não existo. Melhor assim. (TOLEDO, 2014, p. 104)
• Podemos transformar verbos em formas nominais ou nomes deverbais
(substantivo formado a partir de verbo) e, assim, promover a conexão entre
enunciados. É o que acontece no exemplo com “a anotação”, uma
nominalização do verbo “anotar” que aparece anteriormente na forma do
pretérito perfeito do indicativo – primeira pessoa do singular: “anotei”.
Substituição por elipse
• Desmantelo só quer começo
• Onze controles remotos, eis o surpreendente saldo da minha faxina: 11
controles remotos que há muito já não controlavam, mesmo que
remotamente, coisa alguma.
• Ao longo dos anos, as TVs, aparelhos de som, DVDs e videocassetes (juro,
até videocassetes) a que serviram foram partindo e deixando-os para trás:
órfãos, sem ocupação ou residência fixa, / vagavam pela casa ao sabor do
acaso; / erravam pelos planaltos das cômodas e / acampavam nas
cordilheiras dos sofás como paraquedistas caídos no deserto; / escondiam-
se em gavetas e estantes como aqueles soldados japoneses que, décadas
após o fim da guerra, seguiam enfronhados na mata, temendo o inimigo.
(PRATA, 2014)
COESÃO SEQUENCIAL POR REPETIÇÃO
• São recursos de repetição a paráfrase, o paralelismo e a
repetição propriamente dita.
• Paráfrase: voltar a dizer o que já foi dito antes, porém, com
outras palavras, como se quiséssemos traduzir o enunciado,
ou explicá-lo melhor, para deixar o conteúdo mais
transparente, sem perder, no entanto, sua originalidade
conceitual.
• Normalmente, os fragmentos parafrásicos são introduzidos por
expressões do tipo “em outras palavras”, “em outros termos”, “isto é”,
“ou seja”, “quer dizer”, “em resumo”, “em suma”, “em síntese”,
expressões que sinalizam claramente que a mesma informação, o
mesmo argumento, o mesmo item volta a ser dito, porém numa outra
formulação linguística e, por vezes, com menos acréscimos e ajustes.
A alteração no conteúdo pode indicar ajustamento, reformulação,
desenvolvimento, síntese ou, ainda, maior precisão.
•Exemplo: O ato de escrever deve ser visto como uma
atividade sociocultural. Ou, dito de outra forma,
escrevemos para alguém ler. (Faraco, 2003, p. 8).
• Paralelismo: Recurso muito ligado à coordenação de
segmentos que apresentam valores sintáticos idênticos, o
que nos leva a prever que os elementos coordenados entre si
apresentem a mesma estrutura gramatical.
• Ou seja, unidades semânticas similares devem corresponder
uma estrutura gramatical similar. É o que se chama de
paralelismo ou simetria de construção.
• Exemplos:
• É conveniente chegares a tempo e trazeres o relatório pronto.
• “Chegares a tempo” e “trazeres o relatório pronto” apresentam a
mesma estrutura sintática.
• Exemplo de quebra de paralelismo:
• É conveniente chegares a tempo e que tragas o relatório pronto.
• Uma das estruturas paralelas mais comuns ocorre no processo
correlativo de adição, possibilitado pelas expressões “não só... mas
também”; “não apenas ... mas ainda”; “não tanto ... quanto”, como se
pode observar neste exemplo:
• A Amazônia não apenas guarda um tesouro biológico incomensurável,
mas ainda possui uma enorme riqueza cultural materializada nas 52
línguas faladas atualmente pelos grupos indígenas que habitam a
região”. (Revista Família Cristã, outubro, 1996).
• Repetição propriamente dita: A repetição, como o próprio
nome indica, corresponde à ação de voltar ao que foi dito
antes pelo recurso de fazer reaparecer uma unidade que já
ocorreu previamente.
• É um recurso de grande funcionalidade, pois pode
desempenhar diferentes funções, todas elas, de alguma
forma, coesivas.
• Funções:
• 1.Uma primeira função que se pode reconhecer na repetição
corresponde à de marcar a ênfase que se pretende atribuir a um
determinado segmento. Busca-se o efeito enfático.
• Exemplos:
• A)Ninguém deve comprar imóvel sem antes fazer pesquisa. Ninguém.
• B)Seria justo, seria razoável, seria oportuno que se deixasse de
construir uma Base (Diário de Pernambuco, 10/01/1952)
• C)A Prefeitura tem ou não tem uma Diretoria de obras? Tem ou não
tem uma repartição de censura estática? E se tem um coisa ou outra,
como é que permitiu atentados de tal natureza? (Diário de Pernambuco,
10/01/1953)
• Por vezes, esse efeito enfático da repetição é conseguido até mesmo
quando a palavra se repete com outro significado, como em:
• A)Direito tem quem direito anda.
• B)Metade à vista e a outra metade a perder de vista (Toyota Corolla)
• C)Um grande carro não precisa necessariamente ser um carro grande.
(Novo Renault Clio)
• 2.Marcar contraste entre dois segmentos do enunciado:
• Exemplo:
• A)O problema não está no estudante; o problema está no sistema.
• Pretende-se ressaltar uma distinção, uma oposição.
• 3.A repetição também pode servir como gancho para uma correção,
explícita ou apenas sugerida.
• Exemplo:
• O Itamaraty assistiu com uma ponta de alma lavada ao fracasso da
comemoração dos 500 anos. A organização estava a cargo dos
diplomatas, mas Rafael Grecca assumiu-a para promover uma festa
popular. Popular? (Veja, 3/5/2000)
• 4.A repetição pode funcionar também para expressar uma
espécie de “quantificação”, até mesmo quando a aparência é
de que se está dizendo absolutamente o mesmo.
• Exemplo:
• Há três soluções para o drama da infância perdida na rua:
escola, escola, escola. (Veja, 30/10/1996).
•5. Mas, a grande função que se pode atribuir à
repetição - embutida em qualquer uso que se faça
dela - é aquela de marcar a continuidade do tema que
está em foco.
•Na verdade, se estamos falando do mesmo tema - e
isso é uma das condições da coesão - é natural que
voltemos a usar a palavra que marca essa
continuidade temática.
• Furto de Flor - Carlos Drummond de Andrade
• Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a
flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela
não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida.
• Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua
delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos
bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei
a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava
restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a
via morrer.
• Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui
depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e
repreendeu-me:
• – Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
•A repetição da palavra funciona no texto como uma
espécie de nó que une as pontas da linha que
sustenta a continuidade exigida pela própria coerência.

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Elementos de coesão textual

  • 2. • Como acontece a coesão no texto? Que estratégias podemos usar para estabelecer a conexão entre porções textuais?
  • 3. Texto 1 – Os urubus e os sabiás • A partir desse texto, constata-se que: • um texto não é apenas uma soma ou sequência de frases isoladas. • - Veja-se o início: “Tudo aconteceu...”Que “tudo” é esse? Que foi aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam? • - Em (3), temos o termo isto: “E para isto fundaram escovam...” Isto o quê? De que se está falando? Ainda em (3), qual é o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, fizeram? É o mesmo de teriam? (em “teriam a permissão de mandar nos outros) Fala-se em quais deles: deles quem? E quem são outros? • - Qual é o referente de eles em (4)?
  • 4. • - Em (5), tem-se novamente a palavra tudo: “Tudo ia muito bem...”. Será que esta segunda ocorrência do termo tem o mesmo sentido da primeira? • - Em (7), a quem se refere o pronome eles? • - E seus, em (8)? • - Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas? • - Elas, em (10), refere-se a pobres aves ou tais coisas? De que passarinhos - os passarinhos - se fala em (13)?
  • 5. • Os termos em questão são elementos da língua que têm por função estabelecer relações textuais: são recursos de coesão textual. • - tudo, em (1), remete a toda a sequência do texto, sendo, pois, um elemento catafórico, ou seja, que faz uma referência a um termo posterior, que será enunciado mais à frente na oração; • - isto, em (3) - “e para isto fundaram escolas” - remete para o enunciado anterior; é, portanto, anafórico (conversão em grandes cantores), do mesmo modo que tudo, em (5). Ao que a palavra “tudo” em (5) faz referência?;
  • 6. • - deles, em (3), remete a urubus, de (2); • - são também os urubus o sujeito (elíptico) da sequência de verbos em (3), mas não de teriam, cujo sujeito será um subconjunto do conjunto dos urubus (“quais deles seriam os mais importantes”), que exclui o subconjunto complementar formado por outros; • O que é elipse? A elipse é uma figura de linguagem que ocorre quando um termo é omitido em um enunciado, mas fica subentendido pelo contexto. • (https://www.portugues.com.br/gramatica/elipse.html)
  • 7. • - e, em (4), eles pode remeter a urubus, de (2), ou ao primeiro subconjunto citado acima; • - em (7), eles retoma os velhos urubus que, por sua vez, retoma os urubus citados anteriormente; • - seus, em (8), remete a pintassilgos, sabiás e canários; • - tais coisas, em (9), referem-se aos documentos de que se fala em (8); • - os passarinhos, em (13), remete a elas de (10), que, por seu turno, remete a pobres aves, de (9) e esta expressão a pintassilgos, sabiás e canários de (7) que retoma (6).
  • 8. •As palavras sublinhadas correspondem a elementos que fazem referência a outro elemento do texto. Na maior parte do texto, desenvolve-se um processo de retomada do item os urubus, que ocorre desde o título do texto. Há também referências a outros itens lexicais textualizados no texto, como é o caso de pintassilgos, sabiás e canários: as pobres aves, elas, os passarinhos.
  • 9. •Já as palavras destacadas em negrito correspondem a elementos que atuam na sequenciação no texto, ou seja, fazem o texto progredir assinalam determinadas relações de sentido entre enunciados ou partes de enunciados, como, por exemplo: oposição ou contraste (mas, em (2) e (11); mesmo, em (2); finalidade ou meta (para, em (3) e (11); consequência (foi assim que, em (4); e, em (7); localização temporal (até que, em (5) ); explicação ou justificativa (porque, em (9) e (10) ); adição de argumentos ou ideias ( e, em (11) ).
  • 10. •Como podemos observar na análise de alguns dos mecanismos de coesão no texto “Os urubus e sabiás”, existem dois grandes movimentos de coesão textual: a retomada de um item lexical (palavras destacadas com o sublinhado) ou a sequenciação do texto (palavras destacadas em negrito). Esses dois grandes movimentos de coesão textual (coesão referencial e coesão sequencial) têm a função de estabelecer relações semântico-discursivas entre os segmentos do texto, de modo que o processo de construção do texto, por meio de retomadas e sequenciações, constitua-se como uma unidade de sentido.
  • 11. •De acordo com Koch (1991[1989]), a coesão referencial é aquela em que um componente da superfície textual faz remissão a outro(s) elemento(s) do universo textual, ou seja, é aquela que marca as retomadas dos referentes textuais ao longo do texto. Koch (1991[1989]) chama de forma referencial ou forma remissiva o componente que faz referência a outro elemento do texto e de elemento de referência ou referente textual a forma que é referenciada. (KOCH, 1991[1989]).
  • 12. Circuito Fechado – Ricardo Ramos • Chinelos, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, creme de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente, toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoaduras, calça, meias, sapatos, gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço. Relógio, maço de cigarros, caixa de fósforos, jornal. Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapos. Quadros. Pasta, carro. Cigarro, fósforo. Mesa e poltrona, cadeira, cinzeiro, papéis, telefone, agenda, copo com lápis,
  • 13. • Como exemplo de coesão referencial, podemos apontar, no “Os urubus e os sabiás”, as ocorrências dos pronomes eles (2) e seus (8) (formas referenciais/remissivas), que fazem referência a outro elemento do texto. O pronome pessoal do caso reto “eles” (eles haveriam de se tornar grandes cantores (2)) e o possessivo seus (onde estão os documentos dos seus concursos? (8)), como formas remissivas retomam o referente textual ativado anteriormente (“os urubus, aves por natureza becadas...” e “... convocaram pintassilgos, sabiás e canários para um inquérito”)
  • 14. •Entretanto, essas retomadas, no processo coesivo, não têm somente a função de estabelecer a ligação com o referente, pois esse referente não é idêntico: ele muda ao longo do texto, e as retomadas coesivas apontam para essa mudança; logo, o processo coesivo não tem implicações somente na interligação, mas também na ressignificação do referente. •Por exemplo, “pintassilgos, sabiás e canários” é retomado, mas também ressignificado como “as pobres aves” e “os passarinhos”, por exemplo.
  • 15. •D e a c o r d o c o m K o c h ( 1 9 9 1 [ 1 9 8 9 ] ) , a referência/remissão a um referente textual pode ser exofórica ou endofórica. A exofórica ocorre quando a remissão é feita a algum elemento de referência da situação comunicativa, isto é, quando o referente está fora do texto. Já a endofórica, por sua vez, ocorre quando o referente está expresso no texto. Se o referente textual preceder a forma referencial/remissiva, t e m - s e a a n á f o r a ; s e v i e r a p ó s a f o r m a referencial/remissiva, tem-se a catáfora.
  • 16. • “AO LADO DO retumbante sucesso da lei seca, começam a surgir movimentos para questionar a sua constitucionalidade. Alguns argumentam que o máximo de 0,2 decigramas de álcool por litro de sangue é um exagero. Outros dizem que a imposição do bafômetro força os cidadãos a produzirem prova contra si mesmos. • Antônio Ermírio de Moraes
  • 17. • Exemplos: • No “Os urubus e os sabiás”, temos um exemplo de anáfora em: “[...] Foi assim que eles organizaram concursos ... (4), uma vez que eles fazem referência/remissão a “os urubus” e essa retomada está textualizada após o referente textual. • Já em “Tudo aconteceu numa terra distante” temos um caso de catáfora, pois a forma remissiva/referencial “tudo” é resumitiva de um referente que será explicitado em seguida: a autorização do canto para as aves diplomadas.
  • 18. • Já a coesão sequencial consiste em estabelecer conexão e interrelação entre partes do texto, com o objetivo de possibilitar a progressão textual. Koch (2004, p. 35) conceitua a coesão sequencial da seguinte maneira: • “A coesão sequencial diz respeito aos procedimentos linguísticos por meio dos quais se estabelecem, entre os segmentos do texto (enunciados, partes de enunciados, parágrafos e mesmo sequências textuais), diversos tipos de relações semânticas e/ou pragmático- discursivas, à medida que se faz o texto progredir.”
  • 19. Coesão • A coesão de um texto pode ser feita por: • REITERAÇÃO • ASSOCIAÇÃO • CONEXÃO • A reiteração pode ser feita por: • REPETIÇÃO • SUBSTITUIÇÃO
  • 20. • A substituição pode ser feita por: • Substituição gramatical: Retomada por pronomes ou por advérbios; • Substituição lexical: retomada por sinônimos, hiperônimos, caracterizadores situacionais. • Elipse: retomada por elipse
  • 21.
  • 22. Elementos de ordem gramatical capazes de criar a coesão referencial por substituição • A) PRONOMES • A derrota do Minotauro • Quando os atenienses chegaram a Creta, a filha do rei Minos, Ariadne, apaixonou-se por Teseu. Ofereceu-lhe ajuda em troca da promessa de casamento, dando a ele um novelo de cordel. Teseu amarrou uma das pontas na entrada do labirinto e entrou, liberando a corda conforme caminhava. No meio do labirinto, lutou contra o Minotauro e o matou. (WILKINSON, 2010, p. 62) • Os pronomes destacados (pessoais do caso oblíquo “lhe” e “o”; pessoal do caso reto: “ele”) são anafóricos: retomam e mantêm em foco os referentes: “Teseu” (“lhe”, “ele”); “Minotauro” (“o”)
  • 23. • B)NUMERAIS • Buda • Maria de Fátima da Silva, mãe do bailarino DG – assassinado em circunstâncias ainda não esclarecidas –, é medalhista de natação em águas abertas. • Andréa Beltrão, minha parceira em ‘Tapas e Beijos”, é colega dela na turma de nado do Posto 6 de Copacabana. • Andréa mora na Atlântica, Maria de Fátima no morro do Cantagalo, mas as duas desfrutam do mesmo mar; junto com as tartarugas, os peixes e os sacos plásticos. • (TORRES, 2014)
  • 24. • C)ARTIGOS • Chico na Alemanha • “Não me ocorreria escrever esse livro com minha mãe viva”: diz Chico à Piauí deste mês, na única entrevista à imprensa sobre o romance “O Irmão Alemão”: que frequentou o topo das listas de mais vendidos em 2014. A revista acompanhou o escritor numa viagem à Alemanha após a descoberta do irmão Sérgio Günther, filho de um namoro da juventude de seu pai Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982). (COZER, 2015) • Nas formas nominais referenciais “a revista” e “o escritor”, o artigo definido indica que se trata de referentes já apresentados no texto e facilmente identificados: (a revista – Piauí; o escritor – Chico)
  • 25. • Era uma vez um rei que tinha dois filhos. O rei vivia descontente porque os filhos brigavam demais. • Uma das funções do artigo indefinido é introduzir um referente no texto. O artigo definido, por sua vez, promove a reativação ou retomada desse referente, sinalizando a mudança de status: de uma informação nova para informação conhecida, alocada na memória do leitor/ouvinte.
  • 26. • D) ADVÉRBIOS LOCATIVOS • i)Contra o hiperativismo parental • A seção de puericultura da Livraria Cultura traz 2.038 itens. Ali abundam títulos como “Criando Filhos Vitoriosos” ou “Como Multiplicar a Inteligência do Seu Bebê”. Será que pais têm realmente todo esse poder sobre o futuro de suas crianças? (SCHWARTSMAN, 2013) • Ii) Fui fazer faculdade nos Estados Unidos em 1995 e depois voltei pra mais dois anos de mestrado lá. Saí mais otimista em relação ao Brasil do que quando cheguei. (IOSCHPE, 2012, p. 173)
  • 27. Elementos da ordem lexical para a realização da coesão referencial por substituição A)Sinônimos ou quase sinônimos • Folia e foliões • Pensei em dois assuntos para esta crônica: o Carnaval e a estupefação da sociedade com a eleição dos novos presidentes do Congresso. Refletindo com certa calma, verifiquei que os dois temas, aparentemente tão conflitantes, no fundo são a mesma coisa: aquilo que em tempos idos chamavam de “folia”. (CONY, 2013)
  • 28. • B)Nomes genéricos • Carne artificial é apresentada e degustada em evento em Londres • Hambúrguer foi criado a partir de células de músculo de vacas • O primeiro hambúrguer criado em laboratório foi apresentado e degustado ontem, em uma conferência em Londres, acompanhado de pão, alface e tomate. • O produto, que saiu da placa de Petri e foi direto para a frigideira, foi provado por dois voluntários, que disseram, em frente às câmeras de TV, que o sabor se aproximava ao da carne de vaca. (FOLHA…, 2013)
  • 29. • C)Expressões ou grupos nominais definidos • Da janela da pequena casa de madeira que dividia com os pais e os três irmãos, lagoara avistava seu quintal. As árvores da floresta amazônica e as águas do rio funcionavam como cenário das brincadeiras do indiozinho da etnia kambeba. Correr, subir em árvores, caçar, nadar e pescar eram as brincadeiras que faziam o tempo passar para os curumins em sua tribo, a cerca de quatro horas de barco de Manaus, em uma área de proteção ambiental do rio Negro. • A expressão nominal definida “o indiozinho da etnia kambeba” serve para retomar de forma descritiva o referente “Iagoara”.
  • 30. • D) Nominalização • Uma vez anotei todas as senhas. Mas onde guardar a anotação? E como lembrar onde foi guardada, depois? Seria preciso outra anotação, com o lugar onde foi guardada, mas onde guardá-la? Não. Anotar também não é aconselhável. A conclusão é que o mais seguro de tudo é esquecê-las todas. Pronto. Estou completamente blindado, inclusive contra mim mesmo. Não sou eu para nada. Não existo. Melhor assim. (TOLEDO, 2014, p. 104) • Podemos transformar verbos em formas nominais ou nomes deverbais (substantivo formado a partir de verbo) e, assim, promover a conexão entre enunciados. É o que acontece no exemplo com “a anotação”, uma nominalização do verbo “anotar” que aparece anteriormente na forma do pretérito perfeito do indicativo – primeira pessoa do singular: “anotei”.
  • 31. Substituição por elipse • Desmantelo só quer começo • Onze controles remotos, eis o surpreendente saldo da minha faxina: 11 controles remotos que há muito já não controlavam, mesmo que remotamente, coisa alguma. • Ao longo dos anos, as TVs, aparelhos de som, DVDs e videocassetes (juro, até videocassetes) a que serviram foram partindo e deixando-os para trás: órfãos, sem ocupação ou residência fixa, / vagavam pela casa ao sabor do acaso; / erravam pelos planaltos das cômodas e / acampavam nas cordilheiras dos sofás como paraquedistas caídos no deserto; / escondiam- se em gavetas e estantes como aqueles soldados japoneses que, décadas após o fim da guerra, seguiam enfronhados na mata, temendo o inimigo. (PRATA, 2014)
  • 32.
  • 33. COESÃO SEQUENCIAL POR REPETIÇÃO • São recursos de repetição a paráfrase, o paralelismo e a repetição propriamente dita. • Paráfrase: voltar a dizer o que já foi dito antes, porém, com outras palavras, como se quiséssemos traduzir o enunciado, ou explicá-lo melhor, para deixar o conteúdo mais transparente, sem perder, no entanto, sua originalidade conceitual.
  • 34. • Normalmente, os fragmentos parafrásicos são introduzidos por expressões do tipo “em outras palavras”, “em outros termos”, “isto é”, “ou seja”, “quer dizer”, “em resumo”, “em suma”, “em síntese”, expressões que sinalizam claramente que a mesma informação, o mesmo argumento, o mesmo item volta a ser dito, porém numa outra formulação linguística e, por vezes, com menos acréscimos e ajustes. A alteração no conteúdo pode indicar ajustamento, reformulação, desenvolvimento, síntese ou, ainda, maior precisão.
  • 35. •Exemplo: O ato de escrever deve ser visto como uma atividade sociocultural. Ou, dito de outra forma, escrevemos para alguém ler. (Faraco, 2003, p. 8).
  • 36. • Paralelismo: Recurso muito ligado à coordenação de segmentos que apresentam valores sintáticos idênticos, o que nos leva a prever que os elementos coordenados entre si apresentem a mesma estrutura gramatical. • Ou seja, unidades semânticas similares devem corresponder uma estrutura gramatical similar. É o que se chama de paralelismo ou simetria de construção.
  • 37. • Exemplos: • É conveniente chegares a tempo e trazeres o relatório pronto. • “Chegares a tempo” e “trazeres o relatório pronto” apresentam a mesma estrutura sintática. • Exemplo de quebra de paralelismo: • É conveniente chegares a tempo e que tragas o relatório pronto.
  • 38. • Uma das estruturas paralelas mais comuns ocorre no processo correlativo de adição, possibilitado pelas expressões “não só... mas também”; “não apenas ... mas ainda”; “não tanto ... quanto”, como se pode observar neste exemplo: • A Amazônia não apenas guarda um tesouro biológico incomensurável, mas ainda possui uma enorme riqueza cultural materializada nas 52 línguas faladas atualmente pelos grupos indígenas que habitam a região”. (Revista Família Cristã, outubro, 1996).
  • 39. • Repetição propriamente dita: A repetição, como o próprio nome indica, corresponde à ação de voltar ao que foi dito antes pelo recurso de fazer reaparecer uma unidade que já ocorreu previamente. • É um recurso de grande funcionalidade, pois pode desempenhar diferentes funções, todas elas, de alguma forma, coesivas.
  • 40. • Funções: • 1.Uma primeira função que se pode reconhecer na repetição corresponde à de marcar a ênfase que se pretende atribuir a um determinado segmento. Busca-se o efeito enfático. • Exemplos: • A)Ninguém deve comprar imóvel sem antes fazer pesquisa. Ninguém. • B)Seria justo, seria razoável, seria oportuno que se deixasse de construir uma Base (Diário de Pernambuco, 10/01/1952) • C)A Prefeitura tem ou não tem uma Diretoria de obras? Tem ou não tem uma repartição de censura estática? E se tem um coisa ou outra, como é que permitiu atentados de tal natureza? (Diário de Pernambuco, 10/01/1953)
  • 41. • Por vezes, esse efeito enfático da repetição é conseguido até mesmo quando a palavra se repete com outro significado, como em: • A)Direito tem quem direito anda. • B)Metade à vista e a outra metade a perder de vista (Toyota Corolla) • C)Um grande carro não precisa necessariamente ser um carro grande. (Novo Renault Clio)
  • 42. • 2.Marcar contraste entre dois segmentos do enunciado: • Exemplo: • A)O problema não está no estudante; o problema está no sistema. • Pretende-se ressaltar uma distinção, uma oposição.
  • 43. • 3.A repetição também pode servir como gancho para uma correção, explícita ou apenas sugerida. • Exemplo: • O Itamaraty assistiu com uma ponta de alma lavada ao fracasso da comemoração dos 500 anos. A organização estava a cargo dos diplomatas, mas Rafael Grecca assumiu-a para promover uma festa popular. Popular? (Veja, 3/5/2000)
  • 44. • 4.A repetição pode funcionar também para expressar uma espécie de “quantificação”, até mesmo quando a aparência é de que se está dizendo absolutamente o mesmo. • Exemplo: • Há três soluções para o drama da infância perdida na rua: escola, escola, escola. (Veja, 30/10/1996).
  • 45. •5. Mas, a grande função que se pode atribuir à repetição - embutida em qualquer uso que se faça dela - é aquela de marcar a continuidade do tema que está em foco. •Na verdade, se estamos falando do mesmo tema - e isso é uma das condições da coesão - é natural que voltemos a usar a palavra que marca essa continuidade temática.
  • 46. • Furto de Flor - Carlos Drummond de Andrade • Furtei uma flor daquele jardim. O porteiro do edifício cochilava e eu furtei a flor. Trouxe-a para casa e coloquei-a no copo com água. Logo senti que ela não estava feliz. O copo destina-se a beber, e flor não é para ser bebida. • Passei-a para o vaso, e notei que ela me agradecia, revelando melhor sua delicada composição. Quantas novidades há numa flor, se a contemplarmos bem. Sendo autor do furto, eu assumira a obrigação de conservá-la. Renovei a água do vaso, mas a flor empalidecia. Temi por sua vida. Não adiantava restituí-la ao jardim. Nem apelar para o médico das flores. Eu a furtara, eu a via morrer. • Já murcha, e com a cor particular da morte, peguei-a docemente e fui depositá-la no jardim onde desabrochara. O porteiro estava atento e repreendeu-me: • – Que ideia a sua, vir jogar lixo de sua casa neste jardim!
  • 47. •A repetição da palavra funciona no texto como uma espécie de nó que une as pontas da linha que sustenta a continuidade exigida pela própria coerência.