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Às vezes temo a metamorfose

       Cruz Martínez
ÍNDICE

Despertou na obscuridade.........................................................4
O olhei empunhando uma arma................................................5
O inverno..................................................................................6
Às vezes temo a metamorfose..................................................7
Quando deixo............................................................................8
Visões horríveis.......................................................................9
Escorrega pelas ruas...............................................................10
Neste mundo cruel..................................................................11
Continuam novas guerras.......................................................12
Dizer viver é incerto...............................................................13
Como amanhar.......................................................................14
Ao menino mendigo.............................................................15
Encruzilhada de pensamentos I............................................16
Encruzilhada de pensamentos II...........................................17
Se não fosse...........................................................................18
No entanto.............................................................................19
Verdugos de sonhos..............................................................20
Suicidas.................................................................................21
Agonizante fauna..................................................................22
Os dias escoam-se ..............................................................23
De que maneira num momento.............................................24
Noite......................................................................................25
Nesta hora adversa................................................................26
Ode ao desempregado...........................................................27
A paz.....................................................................................28
Ontem...................................................................................29
DESPERTOU NA OBSCURIDADE
         dum aparente dia
    Tentou alçar a sua voz, gritar
 mas o corvo com bicadas de ferro
            lhe fez calar
         e na sua garganta,
              garrotada
          ficou a palavra,
              liberdade

             Liberdade,
        amanheceu rasgada
      sepultada baixo lágrimas
        A tristeza meteu-se
            na sua cama
         sovou-lhe o corpo
        com beijos de mofo




                 4
O OLHEI EMPUNHANDO UMA ARMA
         Brincando à guerra
          nada mais nascer

             Sua mãe pareu-o
            sobre um leito de navalhas
          Nasceu coa insígnia
                    “rebelião “
  Ainda não aprendeu a caminhar e já
      sua mente pequena inventa
                           estratégias
     No seu iniciado vocabulário
     balbuciante, surge a palavra
                             “lutar”

     Chegou trazendo herdadas
                           chagas
    Da cavidade do ventre materno
      (bom campo adestrador)
     saiu às sombras ditatoriais
                      um duro lutador

        Nasceu co sorriso roto
       com sequelas de cadeias
                          na alma
      Jamais saberá o que é voar
                            jamais




                  5
O INVERNO
 fai-se patente no circundante
    A realidade impõe lutas
      Engendra soldados
          vira corpos
  Desordena tempos, sonhos

  Recrutamentos sem razões
    no nome duma pátria
Assumem-se (mas com tristeza)
     enlouquecidos feitos
  Sentes um nó no estômago
         pelos caídos
           aqueles,
   que jamais não quiseram
          ser heróis




              6
ÀS VEZES TEMO A METAMORFOSE
O brilho da moeda que nos arrasta ao presumível
domínio dum filho da puta por um mísero
                                      salário

Hoje toca-me dupla representação, os espectadores
                                      esperam ocorrências
Amanhã oscila entre preguiça e apatia
Ressona um despertador na mente como
                                    um maço
Almanaques pirómanos de sonhos
delineiam maioritariamente a preto os dias

É tarde
Os semáforos sabem-no e fodem
mudando o verde permissível
por um vermelho que paralisa
Toca o sino, já está na hora
 Mais uma vez a contenda de
                    pontualidades e
                                 atrasos
da diária jornada de perfeita proletária
                         De cancelados direitos e
                             de um montão de obrigações

 Amanhã alcançarás o teu prémio
                    subir ao céu dos idiotas
 Mas esta certeza não é suficiente
                  A fé perde adictos
                           Os comícios não convencem
As promessas tornam-se contos de fadas
e levas um corvo no bico




                        7
QUANDO DEIXO o doce estado da sonolência
                                  e torno ao mundo
vivo amanheceres duros
desajeitadas tragédias
Sinto-me acorrentada no cruel
                         silêncio
das soterradas pedras
que a infinita noite desenterra

Ao teu reverso vejo países estéreis
Cães que uivam, vaticínios da morte
Mãos que derrubam caminhos
              e lançam-me a rolar

A violência ofusca-me
coma se fosse uma fresta
            afogada na lama

Semelho uma velha de luto
           resmungando rogos




                           8
VISÕES HORRÍVEIS
          Descarnados seres
      caminham em busca do sol
 sob uma nuvem de medo, de chumbo
   Mortas paisagens criam dramas
   Não há mais distante pensamento
      que o sossego neste enxame

  O sangue espalha-se entre as pedras
das ruas onde, a liberdade estrangula-se
            antes de nascer
   onde os ratos levam ligas de latão
e dormem encolhidos sobre os membros
    Amputados membros dum povo
      no limiar do seu pôr-do-sol

            Horríveis visões
        magoam...fazem sofrer
       pelos corpos amados, que
enchem tumbas, em caminhos de sangue
  E o pranto a bolorecido de séculos
    persiste com a luta duma utopia
   verte-se continuamente enquanto
    sonha com novos amanheceres

            Onde o homem
         não mande no homem




                   9
ESCORREGAM PELAS RUAS
o peso de mortes sem sentido
Os sineiros tocam à defunto prematuro
Dos esconderijos da raiva
surgem informações sujas de sangue

Assassinos com feições de vermes
e miolos enrugados
          enchem televisões a cores

Pegadas de morte
               fortes
                    firem
Fecham tudas as portas

Ataúdes abertos mostram-se
                 no nojento marco
duma sociedade em declive




                   10
NESTE MUNDO CRUEL
emerge o desatino
fica a espada da violência
perta a ferir o sorriso

Assim sucessivamente
                  asneiras
A foice agride,não pensa em vida...
Almas penitentes dum povo
imergidas no abismo

Corpos mutilados
enchem pesadelos
Verte-se sangue sem limite
Medito na morte,
sinto-a muito intensa
                 e digo:
                    IGNORA
Por mais que...
É o mesmo...

Estás aqui loucura
vens com brutal antagonismo
És como um verme na terra
que germina erva daninha

Triste realidade,
só fica a espada e, silêncio
              TORNA TUDO AO MESMO




               11
CONTINUAM NOVAS GUERRAS a roubar sonhos
                                            a rasgar sorrisos
Os ventres da discórdia continuam a parir fetos deformes
                                                  monstros
que logo crescem e inventam novas maneiras de matar

O mundo chora
impotente lança lamentações, evoca
                         quase não sonha
Desconhece a sensação de amar
a decepção é palpável
                         vaga...
homem, aprendiz de pássaro

O pessimismo disfarça facções
Inevitáveis conclusões
                        batem na alma
Quando não existe a luz
o terror e a morte, sádicos
                      amantes
emparelham-se e engendram
                       desastre após desastre




                            12
DIZER VIVER É INCERTO
tuda palavra formosa adquire significado
                                 de conto
pertencente a um ontem, que já é passado
                         Já é recordação

Dizer viver é sonho
impalpável, escorregadiço como menino inquieto
que brinca e brinca, nos esgota
                        arremata
                             supera

O caminho dos anseios
pedregal e ambíguo não é acessível
                              Abutres
                    espreitam no circundante
cevam-se dos nossos restos e bebem
            as meninas dos nossos olhos

Enfim!... buscar a liberdade é um sonho
                                 quimera
É uma palavra,uma invenção pôde
                         mas é tão bela!

A nossa busca é tão dura que às vezes
recostada sobre as nossas muitas feridas
           a dúvida da liberdade balança-se
                        com frenética insistência




                              13
COMO AMANHAR as rotas choças internas
 Como alugar um pedaço,
 Ainda que só seça uma porção duma alegria
 ou a migalha do reflexo dum sorriso

Quando penso papa,ainda hoje que foste
                                      de pressa
como uma chama dum círio, com um assopro
                                    em um instante
como uma ligeira borboleta...
É um triste facto!

Tremo ao pensar na data do teu falecimento
A consciência da tua morte, enoja-me papa!
Não posso evitar e lembro,
                          lembro...
Amanhã que disseste adeus
aquele adeus definitivo
aquelas horas longas
                     longas
O tristonho soar do sino que ainda me fere
que bate na minha alma como um martelo
                                     e bate
                                          bate
                                                 bate...




                     14
AO MENINO MENDIGO

Ontem, hoje, sempre
               pedindo na rua

Olho os sobressalentes ossos
desenhados pela miséria
Pequenos deserdados de
                afundidos olhos
percorrem todo dia
uma multidão de frias olhadas
                        de transeuntes
                                   com pressa

Dói ver tantas infâncias
                    rotas
                            tristes
 aqui, além
nos gelados solos
duma rua qualquer
Dói pensar que o mundo
                     não muda

Curiosamente: os pobres seguem
                            tão pobres
O pão escasso. E os países?
                     ah, os países!
                             ARMADOS
                                armados até os dentes




                15
ENCRUZILHADA DE PENSAMENTOS I


 Um sem-fim de vezes estou no meio
 Justo no meio de um horizonte incerto
 Removo as turbulentas águas
 que circundam paisagens
 e criam naufrágios assombrosos

 Apanho branca espuma que cavalga
                           sobre as ondas
                                 Ondas enjoadas
                                        e brinco com elas
 Troco-me em uma partícula insignificante
 Em uma imagem imperceptível
                  furtiva caminhante
                                    alheia
                             de nenhum sítio
 Som em um instante aquilo que jamais eu não quis ser,
                                                  nada

 A mente: “encruzilhada de pensamentos”
 rola pela pendente de derradeiras
                                   demências




                      16
ENCRUZILHADA DE PENSAMENTOS II



Vagabundeia pelas ruas das noites eternas
 As trevas vistem os seus corpos despidos
 O senso procura claridades
                            nos esconderijos incertos

 Nos berços arrulham-se, dormem
                          pequenos sonhos
 que crescem só na ingenuidade
 na fantasia das olhadas
                        dum menino

 Quando crescemos a coisa mais singela
                              troca-se complexa
 O medo supera-nos
 pendura-nos a matérias feridas
 a situações de incógnitas vindouras
 Trememos quando nas suas mãos de
                            caprichoso artista
 somos bonecos surgidos da
                         sua imaginação
                                      sem limite




                      17
SE NÃO FOSSE pela pegada assassina
Pela faca suja de sangue
Pela carne aberta da inocente vítima
Se não fosse pelos famintos lobos
que enchem as ruas frias
                       Eu dizia
Ainda vives esperança
deitada à beira do mar
nas lajes deste caminho

Se não fosse pela liberdade
sufocada, soterrada
engolida pelo alçamento
de fanatismos sucessivos
Se não fosse
pelos degolados alentos
                      Eu dizia
Ainda ficas esperança
neste chão de misérias
vagando, mergulhando
apanhando murchas essências




                    18
NO ENTANTO acendo a cinza
          em perigo de labareda
       Não faço nada para dete-las
As chamas ameaçam com queimar tudo
 até o perfil desconhecido dum coração
          em vias de destruição
Arranco o precinto de seguridade duma
             bomba passional
 que se esconde detrás da identificação
           e surge o estampido,
    Sei que só o pensamento desperta
       novas formas de expressão
              que te definem

    Não quero que o esquecimento
       me tape coa sua manta
         de cinzentos cores
        que dá-me tanto frio

      E sigo acendendo as cinzas
      ainda quentes de outros dias
 Já que em definitiva, entre as chamas
     que brotam debilitadas surge
 resplandece a essência que me define




                  19
VERDUGOS DE SONHOS


Norte,sul este, oeste...
O globo mundo em sua mão
Nos contornos da terra há um homem
                               forte, frio
                              rindo-se do amor
com gargalhadas de ferro
Homem de duas caras

Há um ditador com lança de lume
agonizando resquícios de liberdade
Há um diabo com forma
                     humana
                   mestre de hipocrisia
Sepultando ideias, sonhos
e semeando morte detrás dele
Há um verdugo soterrando
                         corpos
na profundidade da terra
Corações gelados finam
                 baixo as pedras




                       20
SUICIDAS


Galopam debruçados no fracasso
coas ilusões estranguladas
                       tristes
                             cansadas
Destecendo tuda uma vida num instante
ao som das mesmas lágrimas
Nas mãos, sombras de noite pressentidas
frieza, beiços gelados
Desassossego que perdura
em cima das suas mortalhas
Murmúrios de responsos
                        ferem
                            ferem
com adeuses irremediáveis
                        definitivos

O vento traz voz de morto
vem gemendo pesar
Nosso pai que estás no céu
                dá-nos esperança




             21
A AGONIZANTE FAUNA
      fai na área preta
            fossas

  Fuel óleo incrustado nas rochas
        acampa nas praias
      Vómitos irremediáveis
    duma doença que avança

    A espuma tem um fedor
        a veneno, a morte

    A vida derruba-se na lama
    Maré negra que traz fome
 As redes fam cursos nos molhes
Os néscios ensaiam discursos enganadores
  mostram o perfil de verme
     enquanto dizem: “ não é nada”
   A incontinência verbal encaixa
     coas matanças propiciadas
         pelos 4+4 bastardos
        Estirpe de ”Pepa a Loba”

           E tu, indefesa
     segues lambendo as chagas
           Segues sendo
        insignificante ponto
          ainda num mapa
                                           16-1-03




                 22
OS DIAS ESCOAM-SE
em uma permutação de contratempos
         entre desejos
      às vezes bêbados
    Histórias interrompidas
    que furam almanaques
    dias pretos e vermelhos
          dos tempos

      Quebram-se palavras
       em cima das lajes
     de labirintos internos
      Perfumam ao vento
    melodramáticos poemas

        Os dias escoam-se
           desaparecem
Não sei que fam aqui os teus olhos
    Não sei, pero às vezes
     os silêncios choram




           23
DE QUE MANEIRA NUM MOMENTO
saes duma sombra para sumirte em outra
Imensa sombra assassina que enforca
                      as ilusões dum dia

Ninguém pode deter as aflições
                         que chegam
e firem-te sem compaixão
Elas, então ficam
rasgam-te como se fosses
folha dum manuscrito velho
sem importância, nem sentido
Como folha caída
que viste o chão nu
duma tarde de outono
Ficas como lama dum caminho
de qualquer tristonho inverno

De que maneira em um momento
saes duma sombra para
                sumirte em outra
rememorando ausências
que supuram dores
Sentindo mais dentro a morte




             24
NOITE
Tuda vestida de preto
murmuradora, envolvida
                     em medos
Mochos, morcegos
quebram o silêncio,
mudam as claridades
transformas em um grito
             de mistério

Abandonada pelas luces
 abraça-se nas trevas
                  suicidas,
                       de medo

Aprisiona-me coas suas sombras
Corre detrás de mim, dá-me medo
e assusta-me o pensamento
                    duma noite
                           sem alva
dum sol dorminhoco, preguiçoso
duma noite que não acaba
duma obscuridade eterna
                      eterna
                         e-ter-na
                                  na
                                       na...




         25
NESTA HORA ADVERSA
sem brilho, nevoeiro
mar preto, confuso horizonte
Vestidas de fuel óleo as costas
                     Vestidas de morte
Águas pretas que
soterram cadáveres
      em ataúdes de areia
                  contaminada

Que o vento faça um fado
co despertar do mal que existe
e a sensação de fome remeta
                     aos culpáveis

Na praia dança o marinheiro
sua dança sacude a terra
Quantos filhos, quantas mães
choraram,rezaram em vão
Ficaram tristes no areal
mas logo surge o sol
              A névoa finda
nas mãos dos voluntários




              26
Ode ao desempregado


Pegadas de passageiros insones
                             Batem
Afundam as portas cerebrais
                      caminham
                         abrem covas
Famintas depressões devoram
Inseguridades furam cavidades
                      do razoamento
De repente, o juízo desequilibrado
                   pendura de um fio
Os sentimentos germinam em uma raivosa
                                 consequencia
Em um complexo engrenagem
                        iniludível
Que propina duras bofetadas
                     desperta-te
                          despertamos
                               e sofrimos

As estradas e atalhos falam
Dum cada vez mais curto caminho
                       e de abismos
Dizem que a vida é só um suspiro
                  mas entretanto 5325+1
                                      cresce
                          uma fileira do desemprego




                            27
A PAZ



No som das ondas, ao longe
Fosse acaso um aparecimento
vem ansiosa na espuma
navegando sobre águas feridas
levando a bordo os medos
                 ombro a ombro

Anoréxica figura de febre
                      de febre e
                           amargura
Vestida de sombras, sombra eterna...
entre choros e presságios funestos
assinala que onde está a morte
                       não há o dia

Que inquietude mais funda!
o frio vento passa, com movimento
                       de ataque aéreo
Sustendo uma luz emprestada
                   projecta pesadelos
no rasgado espaço da contenda
Obscuro filme, de guião incerto
abre linhas abstractas
                      na terra

O homem ávido de lutas e conquistas
arrasta a humanidade pela merda




               28
ONTEM aproximada ao limite
                          mais limite
Hoje, uma atitude positiva
                         quebra
                           tudas as lutas
Arremessa às calçadas caras enlutadas
Impertinentes depressões
as húmidas lágrimas
Acometes com ímpeto,
com força de fera as circunstâncias
                            ergues-te
                              segues andando

Mordes as angústias que atacam
                             pelejas
                               ganhas
Fas de todo dia uma luz decapitadora de
                           negruras insalubres
Prelúdio de recíprocas ressonâncias
duma primavera fora de estação
acomodada no mais fundo
                  dos sentimentos

Primavera surgida da interna luz
que provoca serenidade do pensamento




                      29
Esta composição poética ganhou o 3º prémio no Certame
Literário: “ AALF- Associação de Artes e Letras de
Freamunde, 2003 Portugal.




Trabalho registrado no registro da propriedade
intelectual com o título: “ Os espelhos projectam
estruturas”.Número de assento registro 03/ 2004/620

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  • 1. Às vezes temo a metamorfose Cruz Martínez
  • 2.
  • 3. ÍNDICE Despertou na obscuridade.........................................................4 O olhei empunhando uma arma................................................5 O inverno..................................................................................6 Às vezes temo a metamorfose..................................................7 Quando deixo............................................................................8 Visões horríveis.......................................................................9 Escorrega pelas ruas...............................................................10 Neste mundo cruel..................................................................11 Continuam novas guerras.......................................................12 Dizer viver é incerto...............................................................13 Como amanhar.......................................................................14 Ao menino mendigo.............................................................15 Encruzilhada de pensamentos I............................................16 Encruzilhada de pensamentos II...........................................17 Se não fosse...........................................................................18 No entanto.............................................................................19 Verdugos de sonhos..............................................................20 Suicidas.................................................................................21 Agonizante fauna..................................................................22 Os dias escoam-se ..............................................................23 De que maneira num momento.............................................24 Noite......................................................................................25 Nesta hora adversa................................................................26 Ode ao desempregado...........................................................27 A paz.....................................................................................28 Ontem...................................................................................29
  • 4. DESPERTOU NA OBSCURIDADE dum aparente dia Tentou alçar a sua voz, gritar mas o corvo com bicadas de ferro lhe fez calar e na sua garganta, garrotada ficou a palavra, liberdade Liberdade, amanheceu rasgada sepultada baixo lágrimas A tristeza meteu-se na sua cama sovou-lhe o corpo com beijos de mofo 4
  • 5. O OLHEI EMPUNHANDO UMA ARMA Brincando à guerra nada mais nascer Sua mãe pareu-o sobre um leito de navalhas Nasceu coa insígnia “rebelião “ Ainda não aprendeu a caminhar e já sua mente pequena inventa estratégias No seu iniciado vocabulário balbuciante, surge a palavra “lutar” Chegou trazendo herdadas chagas Da cavidade do ventre materno (bom campo adestrador) saiu às sombras ditatoriais um duro lutador Nasceu co sorriso roto com sequelas de cadeias na alma Jamais saberá o que é voar jamais 5
  • 6. O INVERNO fai-se patente no circundante A realidade impõe lutas Engendra soldados vira corpos Desordena tempos, sonhos Recrutamentos sem razões no nome duma pátria Assumem-se (mas com tristeza) enlouquecidos feitos Sentes um nó no estômago pelos caídos aqueles, que jamais não quiseram ser heróis 6
  • 7. ÀS VEZES TEMO A METAMORFOSE O brilho da moeda que nos arrasta ao presumível domínio dum filho da puta por um mísero salário Hoje toca-me dupla representação, os espectadores esperam ocorrências Amanhã oscila entre preguiça e apatia Ressona um despertador na mente como um maço Almanaques pirómanos de sonhos delineiam maioritariamente a preto os dias É tarde Os semáforos sabem-no e fodem mudando o verde permissível por um vermelho que paralisa Toca o sino, já está na hora Mais uma vez a contenda de pontualidades e atrasos da diária jornada de perfeita proletária De cancelados direitos e de um montão de obrigações Amanhã alcançarás o teu prémio subir ao céu dos idiotas Mas esta certeza não é suficiente A fé perde adictos Os comícios não convencem As promessas tornam-se contos de fadas e levas um corvo no bico 7
  • 8. QUANDO DEIXO o doce estado da sonolência e torno ao mundo vivo amanheceres duros desajeitadas tragédias Sinto-me acorrentada no cruel silêncio das soterradas pedras que a infinita noite desenterra Ao teu reverso vejo países estéreis Cães que uivam, vaticínios da morte Mãos que derrubam caminhos e lançam-me a rolar A violência ofusca-me coma se fosse uma fresta afogada na lama Semelho uma velha de luto resmungando rogos 8
  • 9. VISÕES HORRÍVEIS Descarnados seres caminham em busca do sol sob uma nuvem de medo, de chumbo Mortas paisagens criam dramas Não há mais distante pensamento que o sossego neste enxame O sangue espalha-se entre as pedras das ruas onde, a liberdade estrangula-se antes de nascer onde os ratos levam ligas de latão e dormem encolhidos sobre os membros Amputados membros dum povo no limiar do seu pôr-do-sol Horríveis visões magoam...fazem sofrer pelos corpos amados, que enchem tumbas, em caminhos de sangue E o pranto a bolorecido de séculos persiste com a luta duma utopia verte-se continuamente enquanto sonha com novos amanheceres Onde o homem não mande no homem 9
  • 10. ESCORREGAM PELAS RUAS o peso de mortes sem sentido Os sineiros tocam à defunto prematuro Dos esconderijos da raiva surgem informações sujas de sangue Assassinos com feições de vermes e miolos enrugados enchem televisões a cores Pegadas de morte fortes firem Fecham tudas as portas Ataúdes abertos mostram-se no nojento marco duma sociedade em declive 10
  • 11. NESTE MUNDO CRUEL emerge o desatino fica a espada da violência perta a ferir o sorriso Assim sucessivamente asneiras A foice agride,não pensa em vida... Almas penitentes dum povo imergidas no abismo Corpos mutilados enchem pesadelos Verte-se sangue sem limite Medito na morte, sinto-a muito intensa e digo: IGNORA Por mais que... É o mesmo... Estás aqui loucura vens com brutal antagonismo És como um verme na terra que germina erva daninha Triste realidade, só fica a espada e, silêncio TORNA TUDO AO MESMO 11
  • 12. CONTINUAM NOVAS GUERRAS a roubar sonhos a rasgar sorrisos Os ventres da discórdia continuam a parir fetos deformes monstros que logo crescem e inventam novas maneiras de matar O mundo chora impotente lança lamentações, evoca quase não sonha Desconhece a sensação de amar a decepção é palpável vaga... homem, aprendiz de pássaro O pessimismo disfarça facções Inevitáveis conclusões batem na alma Quando não existe a luz o terror e a morte, sádicos amantes emparelham-se e engendram desastre após desastre 12
  • 13. DIZER VIVER É INCERTO tuda palavra formosa adquire significado de conto pertencente a um ontem, que já é passado Já é recordação Dizer viver é sonho impalpável, escorregadiço como menino inquieto que brinca e brinca, nos esgota arremata supera O caminho dos anseios pedregal e ambíguo não é acessível Abutres espreitam no circundante cevam-se dos nossos restos e bebem as meninas dos nossos olhos Enfim!... buscar a liberdade é um sonho quimera É uma palavra,uma invenção pôde mas é tão bela! A nossa busca é tão dura que às vezes recostada sobre as nossas muitas feridas a dúvida da liberdade balança-se com frenética insistência 13
  • 14. COMO AMANHAR as rotas choças internas Como alugar um pedaço, Ainda que só seça uma porção duma alegria ou a migalha do reflexo dum sorriso Quando penso papa,ainda hoje que foste de pressa como uma chama dum círio, com um assopro em um instante como uma ligeira borboleta... É um triste facto! Tremo ao pensar na data do teu falecimento A consciência da tua morte, enoja-me papa! Não posso evitar e lembro, lembro... Amanhã que disseste adeus aquele adeus definitivo aquelas horas longas longas O tristonho soar do sino que ainda me fere que bate na minha alma como um martelo e bate bate bate... 14
  • 15. AO MENINO MENDIGO Ontem, hoje, sempre pedindo na rua Olho os sobressalentes ossos desenhados pela miséria Pequenos deserdados de afundidos olhos percorrem todo dia uma multidão de frias olhadas de transeuntes com pressa Dói ver tantas infâncias rotas tristes aqui, além nos gelados solos duma rua qualquer Dói pensar que o mundo não muda Curiosamente: os pobres seguem tão pobres O pão escasso. E os países? ah, os países! ARMADOS armados até os dentes 15
  • 16. ENCRUZILHADA DE PENSAMENTOS I Um sem-fim de vezes estou no meio Justo no meio de um horizonte incerto Removo as turbulentas águas que circundam paisagens e criam naufrágios assombrosos Apanho branca espuma que cavalga sobre as ondas Ondas enjoadas e brinco com elas Troco-me em uma partícula insignificante Em uma imagem imperceptível furtiva caminhante alheia de nenhum sítio Som em um instante aquilo que jamais eu não quis ser, nada A mente: “encruzilhada de pensamentos” rola pela pendente de derradeiras demências 16
  • 17. ENCRUZILHADA DE PENSAMENTOS II Vagabundeia pelas ruas das noites eternas As trevas vistem os seus corpos despidos O senso procura claridades nos esconderijos incertos Nos berços arrulham-se, dormem pequenos sonhos que crescem só na ingenuidade na fantasia das olhadas dum menino Quando crescemos a coisa mais singela troca-se complexa O medo supera-nos pendura-nos a matérias feridas a situações de incógnitas vindouras Trememos quando nas suas mãos de caprichoso artista somos bonecos surgidos da sua imaginação sem limite 17
  • 18. SE NÃO FOSSE pela pegada assassina Pela faca suja de sangue Pela carne aberta da inocente vítima Se não fosse pelos famintos lobos que enchem as ruas frias Eu dizia Ainda vives esperança deitada à beira do mar nas lajes deste caminho Se não fosse pela liberdade sufocada, soterrada engolida pelo alçamento de fanatismos sucessivos Se não fosse pelos degolados alentos Eu dizia Ainda ficas esperança neste chão de misérias vagando, mergulhando apanhando murchas essências 18
  • 19. NO ENTANTO acendo a cinza em perigo de labareda Não faço nada para dete-las As chamas ameaçam com queimar tudo até o perfil desconhecido dum coração em vias de destruição Arranco o precinto de seguridade duma bomba passional que se esconde detrás da identificação e surge o estampido, Sei que só o pensamento desperta novas formas de expressão que te definem Não quero que o esquecimento me tape coa sua manta de cinzentos cores que dá-me tanto frio E sigo acendendo as cinzas ainda quentes de outros dias Já que em definitiva, entre as chamas que brotam debilitadas surge resplandece a essência que me define 19
  • 20. VERDUGOS DE SONHOS Norte,sul este, oeste... O globo mundo em sua mão Nos contornos da terra há um homem forte, frio rindo-se do amor com gargalhadas de ferro Homem de duas caras Há um ditador com lança de lume agonizando resquícios de liberdade Há um diabo com forma humana mestre de hipocrisia Sepultando ideias, sonhos e semeando morte detrás dele Há um verdugo soterrando corpos na profundidade da terra Corações gelados finam baixo as pedras 20
  • 21. SUICIDAS Galopam debruçados no fracasso coas ilusões estranguladas tristes cansadas Destecendo tuda uma vida num instante ao som das mesmas lágrimas Nas mãos, sombras de noite pressentidas frieza, beiços gelados Desassossego que perdura em cima das suas mortalhas Murmúrios de responsos ferem ferem com adeuses irremediáveis definitivos O vento traz voz de morto vem gemendo pesar Nosso pai que estás no céu dá-nos esperança 21
  • 22. A AGONIZANTE FAUNA fai na área preta fossas Fuel óleo incrustado nas rochas acampa nas praias Vómitos irremediáveis duma doença que avança A espuma tem um fedor a veneno, a morte A vida derruba-se na lama Maré negra que traz fome As redes fam cursos nos molhes Os néscios ensaiam discursos enganadores mostram o perfil de verme enquanto dizem: “ não é nada” A incontinência verbal encaixa coas matanças propiciadas pelos 4+4 bastardos Estirpe de ”Pepa a Loba” E tu, indefesa segues lambendo as chagas Segues sendo insignificante ponto ainda num mapa 16-1-03 22
  • 23. OS DIAS ESCOAM-SE em uma permutação de contratempos entre desejos às vezes bêbados Histórias interrompidas que furam almanaques dias pretos e vermelhos dos tempos Quebram-se palavras em cima das lajes de labirintos internos Perfumam ao vento melodramáticos poemas Os dias escoam-se desaparecem Não sei que fam aqui os teus olhos Não sei, pero às vezes os silêncios choram 23
  • 24. DE QUE MANEIRA NUM MOMENTO saes duma sombra para sumirte em outra Imensa sombra assassina que enforca as ilusões dum dia Ninguém pode deter as aflições que chegam e firem-te sem compaixão Elas, então ficam rasgam-te como se fosses folha dum manuscrito velho sem importância, nem sentido Como folha caída que viste o chão nu duma tarde de outono Ficas como lama dum caminho de qualquer tristonho inverno De que maneira em um momento saes duma sombra para sumirte em outra rememorando ausências que supuram dores Sentindo mais dentro a morte 24
  • 25. NOITE Tuda vestida de preto murmuradora, envolvida em medos Mochos, morcegos quebram o silêncio, mudam as claridades transformas em um grito de mistério Abandonada pelas luces abraça-se nas trevas suicidas, de medo Aprisiona-me coas suas sombras Corre detrás de mim, dá-me medo e assusta-me o pensamento duma noite sem alva dum sol dorminhoco, preguiçoso duma noite que não acaba duma obscuridade eterna eterna e-ter-na na na... 25
  • 26. NESTA HORA ADVERSA sem brilho, nevoeiro mar preto, confuso horizonte Vestidas de fuel óleo as costas Vestidas de morte Águas pretas que soterram cadáveres em ataúdes de areia contaminada Que o vento faça um fado co despertar do mal que existe e a sensação de fome remeta aos culpáveis Na praia dança o marinheiro sua dança sacude a terra Quantos filhos, quantas mães choraram,rezaram em vão Ficaram tristes no areal mas logo surge o sol A névoa finda nas mãos dos voluntários 26
  • 27. Ode ao desempregado Pegadas de passageiros insones Batem Afundam as portas cerebrais caminham abrem covas Famintas depressões devoram Inseguridades furam cavidades do razoamento De repente, o juízo desequilibrado pendura de um fio Os sentimentos germinam em uma raivosa consequencia Em um complexo engrenagem iniludível Que propina duras bofetadas desperta-te despertamos e sofrimos As estradas e atalhos falam Dum cada vez mais curto caminho e de abismos Dizem que a vida é só um suspiro mas entretanto 5325+1 cresce uma fileira do desemprego 27
  • 28. A PAZ No som das ondas, ao longe Fosse acaso um aparecimento vem ansiosa na espuma navegando sobre águas feridas levando a bordo os medos ombro a ombro Anoréxica figura de febre de febre e amargura Vestida de sombras, sombra eterna... entre choros e presságios funestos assinala que onde está a morte não há o dia Que inquietude mais funda! o frio vento passa, com movimento de ataque aéreo Sustendo uma luz emprestada projecta pesadelos no rasgado espaço da contenda Obscuro filme, de guião incerto abre linhas abstractas na terra O homem ávido de lutas e conquistas arrasta a humanidade pela merda 28
  • 29. ONTEM aproximada ao limite mais limite Hoje, uma atitude positiva quebra tudas as lutas Arremessa às calçadas caras enlutadas Impertinentes depressões as húmidas lágrimas Acometes com ímpeto, com força de fera as circunstâncias ergues-te segues andando Mordes as angústias que atacam pelejas ganhas Fas de todo dia uma luz decapitadora de negruras insalubres Prelúdio de recíprocas ressonâncias duma primavera fora de estação acomodada no mais fundo dos sentimentos Primavera surgida da interna luz que provoca serenidade do pensamento 29
  • 30. Esta composição poética ganhou o 3º prémio no Certame Literário: “ AALF- Associação de Artes e Letras de Freamunde, 2003 Portugal. Trabalho registrado no registro da propriedade intelectual com o título: “ Os espelhos projectam estruturas”.Número de assento registro 03/ 2004/620