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OPERAÇAO MAR VERDERelato de Alpoim Calvão no seu livro“De Conakry ao MDLP – dossier secreto”<br />∆<br />I PREPARAÇÃO<br />Assim que terminou a operação quot;
Nebulosaquot;
, o Comandante Calvão embarcou para a Metrópole, a fim de expor uma ideia ao Governador General Spínola que se encontrava na estância termal do Luso. <br />Tratava-se de eliminar os barcos do PAIGC, na própria base principal, isto é, Conakry. Para tal utilizar-se-ia uma· equipa de mergulhadores sapadores que, empregando minas-lapas, procuraria neutralizar as embarcações. <br />Faltava contudo o material explosivo: não dispúnhamos de minas-lapas. Havia no entanto a possibilidade de as obter na África do Sul. <br />O Governador aprovou a ideia e o Comandante Calvão regressou a Lisboa para tratar da deslocação. Avistou-se com o Chefe do Estado Maior da Armada (Vice-Almirante Armando de Roboredo) a quem apresentou o assunto e que, imediatamente, concordou com a viagem à África do Sul, facilitando o apoio logístico à mesma. <br />Nos primeiros dias de Setembro de 1969 embarcou o Comandante Calvão num avião da TAP rumo ao Aeroporto de Jan Smuts, na companhia do Inspector Adjunto Matos Rodrigues, cujos anteriores contactos com as autoridades Sul-Africanas poderiam ser de grande auxílio. <br />Os homens do Bureau of State Security (B.S.S.) acolheram os nossos enviados muito hospitaleiramente e, dois dias depois, eram recebidos pelo chefe do B.S.S. Exposto o problema, obteve-se um acolhimento muito favorável, de tal forma que, na manhã seguinte um major que informava que nos iam ser fornecidos algumas minas-lapas. Para evitar maiores demoras, o Comandante Calvão trouxe os engenhos explosivos como bagagem de mão, no Boing de regresso. <br />O material seguiu para Bissau, onde era preciso solucionar outro problema. Necessitavam-se planos actualizados do porto de Conakry, que não existiam no CDMG. Foram-se vasculhando discretamente os navios mercantes nacionais e estrangeiros que tocavam Bissau, até que num deles se descobriu um plano aceitável, se bem que desactualizado. <br />O Comandante Calvão propôs ao Comandante da Defesa Marítima (Comodoro Luciano Bastos), que se fizesse uma incursão a Conakry para actualização do plano. Obtida a concordância superior, embarcou na LFG quot;
Cassiopeiaquot;
 (Cap. ten. Camacho de Campos), em meados de Setembro, rumo à ilha João Vieira, onde se procedeu ao disfarce do navio e onde se estudou a melhor maneira de executar a missão. Ficou assente que, caso se aproximasse algum navio, a quot;
Cassiopeiaquot;
 içaria a bandeira do PAIGC e apenas os elementos africanos da guarnição se mostrariam no exterior. (Durante o trajecto, e com o boné de capitão-tenente na cabeça, o actual cabo-fuzileiro especial António Augusto da Silva – Touré – respondia com uma continência impecável aos pesqueiros que foram encontrados!)<br />Pelas zero horas do dia 17 de Setembro, avistaram-se as luzes de Conakry. O navio manobrou, numa volta larga, a fim de demandar o porto vindo do Sul e entro no canal entre as ilhas de Les e a península de Conakry às duas da manhã. Reduzida a marcha, colocou-se a escala mais conveniente no écran do radar e, rapidamente, esboçaramse as principais modificações que existiam no porto, mormente no que dizia respeito aos. novos molhes de acostagem. <br />Às três da manhã deu-se o trabalho por terminado. <br />À saída do canal, uma avaria nos geradores obrigou a dar fundo ao ferro, felizmente por pouco tempo, mas mesmo assim, com forte efeito nos nervos dos participantes ... <br />Terminado o cruzeiro, novos parâmetros se depararam, desta vez sob a forma dos grupos de guineenses em oposição ao regime de Sékou Touré. <br />Desde a ascenção deste político marxista ao poder, que se formou na vizinha República da Guiné um forte movimento oposicionista com várias facções. A maneira despótica e arbitrária - infelizmente tão comum aos novos estados africanos - como Sekou Touré iniciou o seu governo, deu origem a fortes reacções, principalmente da etnia Fula que foi duramente massacrada quando os franceses se retiraram do país. <br />Convém contudo historiar um pouco mais detalhadamente a conjuntura política do país nos últimos anos. <br />Logo a seguir à II Guerra Mundial, vários partidos disputaram o sufrágio dos guineenses, no decorrer de cada eleição legislativa ou municipal. Existiam, assim, o B.A.G. (Bloco Africano da Guiné) e o M.S.A. (Movimento Socialista Africano) que mais tarde se agruparam para constituirem o P.R.A. (Partido do Reagrupamento Africano) para se oporem ao cada vez mais forte R.D.A. (Rassemblement Democratique Africainl, criado por Houphouet - Boigny, na vizinha Costa do Marfim. <br />O PDG (Partido Democrático da Guiné) foi criado em Março de 1947, sete meses após a formação do RDA, do qual era a secção territorial guineana. <br />Esta, caracterizou-se pela violência da ruptura com as autoridades tradicionais, procurando substituí-las, em face da importância dada aos problemas do enquadramento político das massas e à instauração duma disciplina de ferro. <br />Revelava-se assim uma concepção comunista do partido, acentuada ainda, pelas ligações do RDA com o P.C. francês. <br />Dá-se em 1951 a ruptura entre a secção guineana e o RDA. O PDG emerge em força e ganha cada vez mais importância no contexto do território. <br />A subida ao poder, do partido e do seu secretário-geral, Amed Sékou Touré, em Outubro de 1958, fornece-lhe novos meios de acção contra os outros grupos políticos, que são completamente subjugados até fins de 1958. <br />Os partidos banidos ressurgem então no exterior da República da Guiné e iniciam uma acção clandestina contra o regime que, entretanto, depois de cortar as relações com a França, se inclina cada vez mais para o grupo dos países comunistas. Dos grupos oposicionistas destacava-se o FRONT DE L1BERATION NACIONAL GUINÉEN (FLNGl, enformado por mais de 600.000 pessoas repartidas pela Costa do Marfim, Senegal e Zâmbia. <br />Aproveitando a existência de oposicionistas, Sekou Touré, detecta quot;
complotsquot;
 em série. Uns verdadeiros, outros inventados com a finalidade de eliminar alguns indivíduos, que pela sua categoria e posição social, poderiam vir a contrariar a sua linha de conduta tirânica (Ex: EI Hadj Lamine KABA, grande IMAN de Conakry, advogado IBRAIMA DJALLO, coronel Kaman Diaby, o ex-ministro do Interior FODEBA KEIT A, o ex-representante na ONU, SORY KABA, etc.). <br />A última tentativa de quot;
complotquot;
 verificou-se em Março de 1969, organizado por militares, e que falhou, por traição de elementos da Força Aérea, que no último momento se colocaram ao lado de Sekou Touré. <br />Convém ainda recordar que, quando Amílcar Cabral fixou residência em Conakry, em fins de 1959, o PDG aprovou inteira e incondicionalmente o PAIGC, cuja estrutura marxista tinha muitos pontos de contacto com a do partido guineense. Formou-se assim uma profunda simbiose, praticamente impossível de destrinçar, o que nem sempre tem sido devidamente compreendido. <br />Desde 1964 que os oposicionistas guineenses, procuravam contactar, como é lógico, com as nossas autoridades. <br />Foram-se trocando ideias, pesando possibilidades, mas não apareciam resultados práticos palpáveis. A política seguida pelo Governo Português dera origem a uma cautelosa estratégia militar, que considerava as fronteiras (l) tabú, permitindo assim que as unidades do PAIGC tivessem sempre possibilidades de refúgio, de recompletamento e de treino. <br />Contudo, com a vinda do então Brigadeiro António de Spínola, as coisas tomaram outro rumo. Os oposicionistas guineenses começaram a sentir que havia viabilidades para realizações práticas que os poderiam ajudar a alcançar o objectivo das suas aspirações pertinazes - a queda do regime de Sekou Touré. <br />As diversas ramificações do FNLG tinham vindo a contactar as autoridades portuguesas por canais diferentes - Ministério do Ultramar em Lisboa e Sub-Delegação da D.G.S. em Bissau. Esta, com o núcleo que se ia agrupando à sua volta, iniciou a recolha dum certo número de informações que, recortadas com as que vinham de Lisboa, fizeram perceber a amplitude da dissidência guineense. <br />Foi primeira intenção do Governador e Comandante Chefe, instalar um ramo militar do FNLG algures em território da província, donde irradiariam acções de guerrilha contra o vizinho do Sul. <br />Esta hipótese foi encarada em Outubro de 1969 começando-se os preparativos para a enformar. Necessariamente, assunto tão complexo levaria muito tempo a resolver em toda a extensão e assim de facto sucedeu. <br />Mas com o decorrer do tempo, a viabilidade do plano parecia maior e verificava-se, com satisfação, que o projectado ataque aos navios do PAIGC em Conakry, poderia ser perfeitamente enquadrado nas futuras operações de guerrilha do Front. <br />Contudo, uma análise mais cuidada, lançou um balde de água fria nos planeadores. Com efeito, qual seria a reacção da ONU, OUA e países da Cortina de Ferro a respeito duma guerrilha lançada contra a República da Guiné a partir de território português? A guerrilha é uma técnica da arte militar que torna os conflitos necessariamente demorados. Assim, arriscávamo-nos a uma condenação total - hipótese mais branda - nos areópagos internacionais ou uma intervenção armada, a favor de Sekou Touré, com consequências catastróficas. <br />Acrescentemos ainda que a sorte de vinte e tantos militares portugueses que jaziam em prisões da República da Guiné, não seria com certeza melhorada na sequência duma actuação nestes moldes. <br />Havia pois que reformular o processo técnico a empregar para obter o fim em vista: o Comandante Calvão propôs que se executasse um golpe de Estado em Conakry o que obteve a imediata adesão do General Comandante Chefe. <br />Iniciou-se então, intensa actividade no campo das informações, simultânea com um programa de reunião, transporte e adestramento de exilados guineanos destinados a tomarem parte na acção. <br />Este programa apresentava muitas dificuldades que tinham de se resolver a cada passo. Os homens aos quais se destinava encontravam-se dispersos no Senegal, Gâmbia e Costa do Marfim, estavam empregados nos mais diversos mesteres; tinham famílias; alguns eram vigiados pela polícia secreta de Sekou Touré, etc., etc .. <br />Após vários encontros de coordenação entre a parte portuguesa (Cap. ten. Calvão e Inspector Adjunto Matos Rodrigues) e os representantes do FNLG, realizados em Bissau, Paris e Geneve, fizeram-se uma série de acções para a recolha do pessoal. Estas, obedeciam a um padrão, nos seguintes termos: <br />1. Combinava-se a data-hora e local de rendez-vous, limitados ao período da noite e às horas das marés e escolhendo-se locais isolados, com boas possibilidades de embarque. Assim, percorreram-se as costas do Senegal, Gâmbia e Serra Leoa, até à fronteira da Libéria, utilizando as mais variadas praias para o fim em vista. <br />2. Acordava-se o número de homens a embarcar, códigos rádio, sinais luminosos, etc., etc .. <br />Para a execução, formaram-se grupos tarefa compostos por uma ou duas LFG, comandados pelo Cap. ten. CALVÃO. Os navios eram camuflados o melhor possível, singrando a evitar qualquer navegação e içando, sempre que necessário, o pavilhão do PAIGC. A aproximação do local da RIV fazia-se com cautelas redobradas. Depois de trocados os sinais de código, lançavam-se botes de borracha à água e abicava-se às praias onde se embarcavam os homens. Desta maneira se recolheram cerca de 200 exilados guineenses, sendo principalmente utilizada no seu transporte, a LFG quot;
ORIONquot;
 (Cap. ten. Faria dos Santos) cujo comandante foi um precioso colaborador no planeamento das acções e, na execução, demonstrou ser um navegador tão hábil quanto arrojado. <br />Entretanto, não era descurada a parte das infra-estruturas. Para alojar e treinar o pessoal do FNLG, construiu-se um aquartelamento na ilha de Soga, escolhida pelo seu relativo isolamento. Foi-se recolhendo o melhor pessoal instrutor disponível: 1.° ten. Rebordão de Brito, 2.° ten. Benjamim Lopes de Abreu, furriel Marcelino da Mata, cabo FZE Lopes Rossa, mar.º FZE Luís Tristão, mar.° FZE António Augusto da Silva, alferes Ferreira, mar.º C Moita, furriel Teixeira. Estes homens conseguiram aos poucos moldar uma unidade de combate, através dum treino intensivo e, à força de muitas palavras e alguns castigos atenuaram os conflitos tribais e religiosos existentes, - pecha constante em todas as sociedades da Africa Negra - resultando um certo espírito de coesão, fundamental para a missão a desempenhar. <br />O trabalho de informação continuava. Arranjaram-se planos detalhados da cidade de Conakry, acumularam-se todas as notícias possíveis de encontrar e pouco a pouco foi-se delineando o provável teatro de operações. <br />Mandou-se executar uma maqueta da zona portuária, sobre a qual havia uma razoável certeza, mas as outras incógnitas eram muitas. Convém aqui abrir um parêntesis acerca das deficiências encontradas na obtenção da informação externa. <br />Os órgãos nacionais com serviços de informação dispunham de uma confrangedora falta de material de quot;
inteligencequot;
. Sabia-se alguma informação política, alguma informação estratégica mas, aos níveis operacional e táctico, os conhecimentos eram quase nulos. <br />Houve, pois, que montar uma organização quot;
ad hocquot;
, devotada à recolha de notícias. Estas eram obtidas através de livros, revistas, folhetos de propaganda turística e de antigos elementos do PAIGC e exilados guineenses. Contudo, estas notícias pecavam pela falta de actualidade: as mais recentes tinham quase dois anos de atraso, o que era francamente mau. Felizmente, apareceu uma mensagem de Lisboa informando a captura dum desertor, o grumete fuzileiro Alfaiate, que se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas. <br />Com vontade de se reabilitar, o grumete Alfaiate foi um colaborador de valor. E, sem as preciosas indicações que forneceu, teria sido impossível sinalizar devidamente a planta da cidade, sinalização que se revelou exacta em 95 %. <br />Dada a possibilidade de êxito do golpe de Estado, organizou-se um programa político com a colaboração dos três delegados do FNLG que, para o efeito, foram viver para Bissau. Elaborou-se uma lista de governantes, escreveram-se as primeiras declarações a fazer pela rádio, etc. etc .. <br />Assim, nos fins de Outubro de 1970, começou o trabalho de designação de tarefas e da constituição das equipas que as iriam executar. <br />Para se conseguir a paralisação de actividades necessárias ao sucesso da operação, individualizaram-se, na carta de Conakry, 52 objectivos. Ordenaram-se depois, por ordem de importância, e constituíram-se as equipas encarregadas de as neutralizar. Como era desde já intenção firme executar o desembarque numa noite de sábado para domingo, altura em que a maior parte dos serviços públicos estão desactivados e as forças militares e para-militares se encontram de licença, o número de objectivos primordiais limitou-se a 25. <br />A cada objectivo fez-se corresponder uma equipa, variável em tamanho e tipo de armamento, pois a gama de objectivos assim o justificava: ia desde a central eléctrica ao quartel da guarda republicana, do aeroporto à Villa Silly (casa de veraneio de Sekou Touré), do Estado-Maior à quot;
Gendarmeriequot;
. <br />Todo o sistema estava subordinado à seguinte determinante táctica: primeiro, obter o domínio no mar, seguidamente em terra e por fim no ar. <br />No princípio de Novembro iniciou-se uma discreta concentração de meios na ilha de Soga, propalando-se, simultaneamente, a notícia da realização duma grande operação na Ilha do Como. <br />Além do grupo de exilados guineenses reuniram-se as seguintes forças de desembarque: <br />Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 21 (Africano); (1.0 ten. Cunha e Silva). <br />- Companhia de Comandos Africanos - (Capitão João Bacar Jaló) <br />Convocaram-se também alguns elementos europeus de unidades de fuzileiros, possuidores de conhecimentos ou aptidões especiais.<br />No dia 14 de Novembro, o comandante Calvão veio a Lisboa, com uma carta do General Spínola, dirigida ao Presidente do Conselho de Ministros. No dia 17 foi recebido pelo Professor Doutor Marcelo Caetano, que deu a sua concordância à operação, com a indicação expressa de que não deveriam ficar vestígios da presença portuguesa no local da acção. <br />Por especial deferência do general Dores Delgado, que então comandava a 1.ª região aérea, regressou o Comandante Calvão a Bissau no dia 19, seguindo nesse mesmo dia para Soga a fim de ultimar os preparativos. <br />Formara-se entretanto a TG27-2, (140001NOV) incorporando os seguintes navios: LFG's ORION (cap. ten. Faria dos Santos), CASSIOPEIA (cap. ten. Lago Domingues), DRAGÃO (1.0 ten. Duque Martinho, HIDRA (1.0 ten. Fialho Góis), e LDG's BOMBARDA (cap. ten. AGUIAR DE JESUS) e MONTANTE (1.0 ten. COSTA CORREIA). <br />O CTG. 2 (cap. ten. CALVÃO) embarcou na quot;
ORIONquot;
, cujo comandante foi, mais uma vez, um colaborador de inestimável valor. <br />No meio desta actividade febricitante e quando tudo já estava ordenado, detalhado e quot;
briefadoquot;
, surgiu algo de perturbador e inesperado. O major Leal de Almeida, supervisor de Companhia de Comandos Africanos, recusava-se a tomar parte na acção! Por um estranho e inexplicável rebate de consciência, aquele oficial, já informado de todo o planeamento há cerca de 15 dias, dizia que era contra a ética militar realizar uma operação contra o governo dum país com o qual não estávamos em guerra. Apesar dos argumentos que o comandante da operação apresentou, relativos aos prisioneiros portugueses, ao apoio dado ao PAIGC, etc., o major manteve-se irredutível. <br />Foi-lhe dada voz de prisão e seguiu de helicóptero para Bissau a fim de se apresentar ao Comandante-Chefe. Este exautorou-o vigorosamente e fê-lo regressar a Soga a fim de se integrar novamente nas forças de assalto. A citada atitude produziu efeitos deletérios sobre o moral de alguns elementos da Companhia de Comandos Africanos: o próprio capitão João Bacar teve um momento de hesitação. Revelou dúvidas, condicionalismos. Posto firmemente em face do seu dever, reagiu, e o seu ascendente sobre os homens da CCA neutralizou um pouco a desmoralização incipiente. <br />Também no quot;
briefingquot;
 com os comandantes dos navios nem tudo correu perfeitamente bem: o comandante da quot;
Montantequot;
, apesar da mensagem secreta 162CC, de COMDEFMARQUINÉ, de 18 NOV 70 . I ver nota) mostrava-se renitente quanto a participar na operação. Foi claramente interpelado sobre a opção que teria de tomar. Reconsiderou e cumpriu bem as instruções que recebeu. <br />NOTA - quot;
Todas ordens emanadas CT G.2 devem ser pronta e integralmente cumpridas seja qual for a sua natureza amplitude e quaisquer que sejam implicações que dai possam resultar.quot;
 <br />II EXECUÇAO <br />No dia 17 de Novembro de 1970 o General Spínola deu conhecimento aos Comandantes Chefes Adjuntos da ordem de operações quot;
Mar Verdequot;
. Assim, foi possível fazer reforçar e alertar as posições do Exército, junto à fronteira com a República da Guiné, e a Força Aérea pôde esquematizar uma série de missões, quer de reconhecimento e apoio à TG 27-2, quer de intervenção e bombardeamento no solo (objectivos - bases referenciadas do PAIGC na República da Guiné) caso o Golpe de Estado tivesse êxito. <br />As missões de reconhecimento, executadas por um P2V-5, iniciaram-se no dia 18, às 09.20. Tinham por fim detectar discretamente quaisquer movimentos de navios de guerra e de concentrações de pesqueiros. A fim de dar uma ideia deste trabalho transcreve-se o relatório do dia 19. <br />…………………………………………………………………………………………….<br />quot;
3. Data: 19 NOV 70 - 4-ATD/ATA/ATE - 06.15/09.10/02.55. <br />    5. Efectivo empenhado (N.º/Tipo de avião) 1/P2V-5 <br />    6. Pilotos - Cardoso - 9. <br />    ……………………………………………………………………………………………<br />9. Observações <br />07.00 - Oito contactos compreendidos nos azimutes 209° e 1710 ilha de Orango entre 29 e 61 milhas. Investigados três arrastões grandes. <br />07.10 - Arrastão Pos. 14JO Tugnifilidi 17 milhas 330/8. <br />07.27 - Cinco contactados 237 Conakry 19 - não foram avistados supondo-se serem pesqueiros por pouco dispersos. <br />07.30 - Dois navios cargueiros ou arrastões grandes fundeados a 2 milhas oeste ilha Tamara. Um navio fundeado em Fotoba (cargueiro). Três navios (I grande e 2 pequenos) fundeados no canal entre Ilha de Kassa e Conakry. <br />08.ao - Sete contactos 5 milhas Norte Conakry. Foi feita aproxim'ação mas não foram confirmados visualmente. <br />08.10 - Três arrastões POso 2910 Conakry 65. Foi feita inves- <br />tigação ECM sem resultado. <br />METEO - 5/8 CU SICU - 2000' - 6000' COBERTO À 8000 <br />ESTADO DO MAR - CALMO <br />Foi feita escuta em 119.1 (Torre e aproximação de Conakryl. <br />Tráfego reportado apenas civilquot;
. <br />A missão das forças foi transmitida verbalmente no dia 18, às 09.ao, aos comandantes das unidades participantes. <br />Entregaram-se, por escrito, os anexos de comunicações, de navegação e logístico necessários à execução (ver apêndice). <br />Pintaram-se os navios (inclusivamente bóias de salvação) de forma a não revelaram quaisquer sinais identificadores. <br />As equipas foram dispostas nos navios de acordo com os locais de desembarque. Assim: <br />LFG'S DRAGÃO e CASSIOPEIA: Equipas destinadas ao grupo de objectivos do PAIGC, que incluíam a residência Villa Silly de S. Tomé e o Campo de Milícias do PDG. Eram essencialmente constituídas por elementos do DFE 21, reforçado com alguns homens de CCA e pelo 2.0 ten. Benjamim Abreu. <br />LFG quot;
HIDRAquot;
: Equipa destinada ao Aeroporto, comandada pelo cap. pára-quedista Morais. <br />LDG quot;
BOMBARDAquot;
 - Equipas destinadas a: Palácio Presidencial, Ministério do Interior, Direcção da Gendarmeria, Residência de Lansana Beavogui e Sayfoulhah Djallo, Gendarmeria, Cubanos, Emissora de Boulbinet e corte do istmo entre Conakry I e II. <br />LDG quot;
MONTANTEquot;
 - Equipas destinadas a: Central Eléctrica, Campo Samouy (Estado-Maior da Defesa Nacional) e Guarda Republicana. <br />LDG quot;
ORIONquot;
 - Equipa destinada às lanchas rápidas do PAIGC e República da Guiné. <br />Presidia à ideia da manobra a seguinte reunião de conceitos: <br />a) Obter o domínio no mar. A presença das lanchas rápidas, armadas com metralhadoras quádruplas de 25 mm e com mais de 30 nós de velocidade era francamente incómoda. Era pois necessário neutralizá-Ias rapidamente. <br />b) Obter o domínio em terra. Interessava seguidamente a neutralização das forças, que, pela sua natureza, podiam intervir mais rapidamente. Incluiam-se, pois, nos objectivos prioritários a gendarmeria, a guarda republicana, o campo de milícias e o campo militar Samouy, onde sediava o Alto Estado-Maior e uma força mecanizada. Previa-se logo a seguir o corte do istmo que separa Conakry I e II, numa largura de cerca de 150 metros, junto ao Palácio do Povo. Assim se impediria qualquer reforço vindo do Campo Alpha Yaia ou do complexo militar do quilómetro 36. O grupo de objectivos do PAIGC encontrava-se incluído neste estágio da acção. <br />c) Obter o domínio no ar. Logo que rompesse o dia, a ameaça dos MIG' S 15 e 17 tinha de estar neutralizada. Os navios do TG não dispunham de defesa AI A adequada contra este tipo de aviões e o raio de acção da nossa aviação de caça disponível não permitia cobertura aérea. <br />d) Convinha capturar, desde o início, a emissora de radiodifusão mais escutada. Desta maneira, a emissora de Boulbinet foi considerada prioritária, apesar de não se esperar que funcionasse antes das 8 horas da manhã. <br />Neste contexto, a TG 27-2 levantou ferro de Soga no dia 20, às 19.50. <br />Marcou-se a hora H para as 22.00, no ponto RIV junto à ilha de Canhambaque, navegando em coluna até dia 21 às 03.50, altura em que se formou um dispositivo aconselhado pelas circunstâncias. Deu-se também ordem, nessa altura, para ocultação rigorosa de luzes e artilharia pronta, com postos de combate AI A, a partir do nascer do sol. <br />Neste contexto, a TG 27-2 levantou ferro de Soga no dia 20, às 19.50.<br />Marcou-se a hora H para as 22.00, no ponto R/V junto à ilha de Canhambaque, navegando em coluna até dia 21 às 03.50, altura em que se formou um dispositivo aconselhado çpelas circunstâncias. Deu-se também ordem, nessa altura, para ocultação rigorosa de luzes e artilharia pronta, com postos de combate A/A, a partir do nascer do sol.<br />A distância entre o quot;
main bodyquot;
 e a quot;
screenquot;
 variava entre 4 a 6 milhas, sendo o rumo base 125. As indicações do P2V-5, de cobertura permitiam fazer o registo de navegação de superfície, manobrando a TG de forma a evitá-Ia o mais possível. <br />Às 17.50 voltou-se à formatura em coluna, pois a proximidade da noite permitia que assim se fizesse, sem perigo de detecção. A tensão a bordo dos navios aumentava de momento a momento e a felicidade com que até ali decorrera o percurso era tomada como um índice de bom augúrio. <br />Às 20.20 ordenou-se o quot;
splitquot;
 da TG-2, conforme previsão, e depois de alcançados os pontos E e F, os navios da força rumaram para as posições mais convenientes a fim de desembarcarem as equipas de assalto. Às 21.30 indicou-se, como hora de desembarque em terra, 01.30 do dia 22. <br />III O DESEMBARQUE <br />A LFG quot;
ORIONquot;
 fundeou a NW dos molhes de protecção do porto de Conakry. A maré estava completamente cheia, o vento era nulo, e apenas o clarão da cidade iluminava a noite. Os botes de assalto foram colocados na água e, pelas 0045, a equipa Victor, do comando do 2.° tenente Rebordão de Brito e composta por 14 elementos, largou discretamente em direcção aos molhes. Encostou ao quot;
Dique Nortequot;
, localizou exactamente o objectivo e partiu ao ataque. O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6, que se encontravam a N da ponte do cais bananeiro. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios: mais três vedetas e uma espécie de lancha de desembarque. Entretanto soara o alarme no porto e o inimigo abriu fogo sobre os nossos elementos que, repetindo a técnica das granadas de mão, eliminaram os focos de resistência a bordo. Os incêndios ateados pelas granadas, cresceram rapidamente e, em breve, de bordo da quot;
ORIONquot;
, avistaram-se as bolas de fogo provenientes das explosões das lanchas. <br />A equipa Victor, que realizou o notabilíssimo trabalho, regressou a bordo pelas 02:10, com dois feridos ligeiros e sem a menor perda de material. <br />As LFG's quot;
Dragãoquot;
 e quot;
Cassiopeiaquot;
, transportando a equipa ZULU, fundearam em 5 metros de fundo, na pequena baía a N da península de Conakry, junto aos baixos de quot;
La Prudentequot;
, cerca das 0015, a três milhas marítimas do local de abicagem. <br />Às 01.40 os botes (em número de 10) largaram dos navios. Houve, poucos momentos depois, um pequeno contratempo: alguns botes enrodilharam-se em várias redes de pesca, que não foram avistadas devido à escuridão da noite. Depois de aturado trabalho a desenvencilhar os hélices, conseguiu-se o desembarque pelas 02.15. <br />A equipa dividiu-se em três elementos: o primeiro, comandado pelo 1.° tenente Cunha e Silva, dirigiu-se imediatamente à prisão quot;
La Montaignequot;
, onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respectiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam. <br />O segundo, comandado pelo sub-tenente Falcão Lucas seguiu para o grupo de objectivos do PAIGC. Neutralizou uma série de sentinelas, destruíu 5 edifícios do partido, seis viaturas e abateu vários militantes que se encontravam nas instalações. <br />Finalmente o terceiro, comandado pelo 2.° tenente Benjamim Abreu, encarregou-se do Campo das Milícias e da Villa Silly, residência secundária de Sekou Touré. Com uma decisão notável, o pequeno grupo (22 homens), forçou a entrada do Campo, esmagou a débil estrutura que se começou a formar e, à granada de mão, à bazucada e com bem dirigidas rajadas de metralhadora, pôs fora de combate cerca de 60 milicianos que guarneciam as duas casernas existentes. Prevendo que a guarda da casa de Sekou Touré, tivesse acorrido à defesa dos dois portões de entrada da propriedade, o tenente Benjamim resolveu saltar o muro que separava os dois objectivos e pôde assim, colhendo-a de supresa, eliminar a referida guarda. Sekou Touré ainda não chegara a casa: o quarto de dormir, a cama, impecavelmente aberta, aguardava o ditador Guineense! Incendiado o objectivo, o grupo retirou-se a fim de se juntar ao resto da equipa, o que conseguiu pelas quatro da manhã. <br />Passou a equipa ZULU a constituir a reserva de manobra do Comandante da operação. <br />Da LDG quot;
Montantequot;
, partiram as equipas OSCAR, ÍNDIA e MIKE. A primeira, seguiu em botes de borracha conduzidos por pessoal do navio e abicou ao Quartel da Guarda Republicana, pelas 0135. Para o desembarque das outras duas, a quot;
Montantequot;
, num alarde de boa manobra, abicou pelas 01.40 ao molhe Yatch Club! <br />A equipa OSCAR, constituída por efectivos nossos e do Front (total 40 homens) e encabeçada pelos alferes Ferreira e Tomás Camará, dirigiu-se discretamente para o portão da entrada. O alferes Ferreira temerariamente tentou dominar a sentinela, a qual se refugiou na casa da guarda. O alferes, ao tentar persegui-lo foi abatido na soleira da porta por dois homens que se encontravam no interior, os quais abriram nutrido fogo sobre os assaltantes. Valeu a decisão e coragem do furriel de comandos Marcelino da Mata: mergulhou através da janela e na confusão de vidros partidos e cadeiras caídas, etc., abateu os oponentes com uma rajada de AK-47. <br />O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de supresa, os guardas republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria, perdendo-se os outros na escuridão da noite. Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos, que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria. (ver relato do Capitão Abou Sommah, ocupante da cela n.º 37). Fez-se em seguida a entrega do campo às forças do FNLG (20 homens), na pessoa do chefe Barry Ibrahima, conhecido por BARRY III e cujas qualidades o tinham feito estimar por todos quantos com ele contactaram. <br />A equipa ÍNDIA (10 homens, furriel Demda Sêca e Thiam do FLNG), atravessou a linha de caminho de ferro de Conakry - Fria e dirigiu-se para a Central. Observou a existência de quatro portas com sentinelas. Eliminou duas, prendeu o encarregado da central e obrigou-o a cortar a luz da cidade. Eram 02.15. Esta acção era primordial para o efeito psicológico que se pretendia obter. O seu sucesso contribuiu bastante para a desorientação verificada. <br />A equipa MIKE (50 homens) tinha por objectivo o Campo Militar Samory. Em marcha acelerada percorreu o quilómetro que a separava do alvo. Desarmou as sentinelas que estavam nos portões e ocupou o recinto sem efusão de sangue. A tarefa seguinte constituiu em quot;
bazucarquot;
 e destruir os veículos que vinham para o campo carregados de pessoal: foram assim destruídas 16 viaturas com algumas dezenas de soldados. Deitou-se fogo aos edifícios do Estado-Maior e, não havendo mais resistência, a equipa dividiu-se em duas: uma, com o Alferes Sisseco (ferido na boca), que conduziu os nossos elementos feridos para o molhe do Yatch Club. A outra, com o coronel do .FNLG DIALLO, o Comandante ASSAD e o jornalista do JEUNE AFRIQUE SIRADIOU DIALLO, seguiu a ligar-se à equipa INDIA. Por um acaso infeliz os rádios da equipa MIKE ficaram quase imediatamente fora de acção, o que obrigava a contactos directos com os outros grupos para saber o que se passava. <br />A LDG quot;
BOMBARDAquot;
, do comando do cap. ten. Aguiar de Jesus, cuja calma imperturbável era demonstrada pela descontracção como fumava o inseparável cigarrinho na extremidade duma já velha boquilha, pelas 01.00 pairava a 300 jardas a sul da praia Peronné. As 01.05, largaram de bordo dois botes com a equipa Hotel, encarregada de se apossar da Emissora de Boulbinet. <br />Esta equipa, comandada pelo Alferes JAMANCA e tendo como acessor do FNLG o engenheiro electrónico TIDIANE DIALLO, actuou de forma bizarra.  O alferes JAMANCA dera boas provas ao longo de 7 anos de campanha. Mas inexplicavelmente, depois de desembarcar junto do objectivo ou por desorientação do engenheiro DIALLO, conhecedor do local, ou por indecisão do alferes o facto é que, os dez homens da equipa Hotel ficaram agarrados ao local de desembarque até receberem ordem para retirar! <br />Entretanto, e em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLlE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Passada a desorientação inicial devida à escuridão provocada pelo corte de luz e por se estar numa cidade desconhecida, estas equipas, compostas por elementos da C.C.A. e do FNLG - cujos guias nem sempre se mostravam à altura da situação - seguiram para os objectivos e neutralizaram os meios importantes. <br />Apenas na Gendarmerie se encontrou resistência de vulto. Como a equipa ECHO (reforçada com a GOLF, BRAVO e DELTA, num total de 50 homens) demorou mais que o previsto a reagrupar o pessoal, ao chegar ao alvo que lhe estava destinado, verificou que uma coluna blindada se preparava para sair. O Capitão João Bacar, que comandava a equipa, atacou as viaturas com decisão, destruindo quatro e causando elevado número de baixas. <br />A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa ALFA, debandou em grande velocidade deixando aos assaltantes o problema de revistar um edifício tão grande e que se encontrava vazio! <br />Finalmente, a LFG quot;
HIDRAquot;
 (1.° tenente Fialho Goes). aproximou-se, depois duma hábil navegação, do local de desembarque da equipa Sierra (capitão pára Morais). pairando pelas 212330, com dois metros de fundo. Em 220015, os botes largaram do navio, com rumo ao local de desembarque, sob o comando do guarda-marinha Centeno, imediato da HIDRA. <br />As três milhas demoraram uma hora a percorrer e só pelas 0130 se conseguiu desembarcar. <br />A equipa Sierra era composta por: <br />a) Elementos nacionais. <br />Cap. Lopes Morais <br />2.º Sarg. mil. comando Teixeira Formação do comando <br />1.ºs cabos páras Duarte, Morais <br />Tenente Januário, com 9 homens do seu pelotão <br />Alferes Justo, com 24 homens do seu pelotão. <br />b) Elementos do FNLG <br />Sub-Lieutenant Boiro, com cinco homens, sendo um, de nome Mamadu 8aldé, antigo controlador de circulação aérea no Aeroporto de Conakry. <br />Iniciou a progressão em direcção ao campo e antes de o atingir foi surpreendido pelo som dos rebentamentos que se iam ouvindo na cidade. O Cap. Morais, apesar de uma lesão num joelho contraída recentemente num salto de pára-quedas, forçou a marcha, mas sentindo uma certa resistência ao movimento na retaguarda, mandou um dos seus homens tentar a ligação e verificou com espanto que o tenente Januário e cerca de 20 homens tinham desaparecido. <br />quot;
 ... a partir daquela altura só uma coisa importava já: localizar os MIG's e destruí-los; dirigi-me ao local, mas não estavam; entretanto, no campo Alpha Ya- Ya, ouviam-se toques de clarins e ruídos fortes de motores a trabalhar; por me ressentir do joelho fiquei com três homens a meio do quot;
taxi-wayquot;
 e ordenei ao Alf. Justo e 2.° Sarg. Teixeira para irem procurar os MIG's; voltaram vinte minutos depois, informando-me que no fim da pista estavam 3 aviões de hélice já velhos e que havia outra pista ao lado da principal e em terra batida, mas nada de MIG's. Voltei para trás e aproximei-me da placa; nessa altura ouvia-se um toque prolongado de sino no aeroporto seguindo-se-Ihe, passados alguns minutos, toques de apitos, calculo que por motivo da chegada dos pescadores a terra. Na placa havia seis aviões: 2 quot;
Caravellequot;
, que o Ten. Boiro identificou pertencerem à Companhia AIR AFRIQUE e 4 aviões bi-motores, de asa alta, tipo Fokker F-27. O Alf. Justo quis ir destruí-los, mas não autorizei. Entretanto chegou uma viatura pesada que me pareceu uma auto-metralhadora; nos hangares que estavam abertos e iluminados não havia aviõesquot;
. (do relatório do Capitão Morais). <br />Desde as duas da manhã que o comandante do T. G. tinha conhecimento da deserção do ten. Januário (msg. enviada pelo Grupo Sierra - quot;
O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens. Traiu-me miseravelmentequot;
). Embarcada a equipa Victor, a quot;
ORIONquot;
 levantou ferro, seguindo a toda a força para junto da quot;
BOMBARDAquot;
 e quot;
HIDRAquot;
. Era necessário desembarcar a equipa PAPA, destinada a cortar o istmo que separa Conakry I de Conakry II. <br />O CTG 2 passou em bote de borracha para a quot;
BOMBARDAquot;
 a fim de, face à evolução da situação, accionar a equipa PAPA. Às 02.30 recebera comunicação da quot;
HIDRAquot;
 de que a equipa quot;
Sierraquot;
 não tinha encontrado os MIG' s. <br />Pelas 03.00 algumas notícias colhidas junto de prisioneiros em terra afirmavam que os MIG' s, tinham sido enviados para LABÉ no dia 20, devido a uma remodelação ministerial no Governo de Conakry! Havia ainda a hipótese de se conseguir capturar Sekou Touré. Às 04.00, CGT 2 teve conhecimentos que o Presidente não fora visto nem na Villa Silly nem no Palácio Presidencial. Mandou suster o desembarque da equipa PAPA, quando a quot;
BOMBARDAquot;
 já manobrava para tomar posição, e quot;
fez o pontoquot;
. <br />quot;
Pelas 04.30, a situação apresentava-se da seguinte maneira: <br />- Objectivos PAIGC atingidos em boa parte. <br />- Domínio no mar, assegurado. <br />- Domínio em terra, ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso. <br />- Presidente Sekou Touré - não encontrado. <br />- Domínio no ar - não assegurado. <br />Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento pois, dali em diante, a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. <br />A possibilidade de afundamento dum navio nas águas de Conakry era de evitar a todo o custo. <br />Mandei, pois, reembarcar todo o pessoal que compareceu nos locais para isso designados em caso de insucesso. quot;
(Do relatório de CTG 27.2). <br />A LFG quot;
HIDRAquot;
, que reembarcara a equipa quot;
Sierraquot;
, foi mandada pairar na posição uma milha a sul do farol de BOULBINET. <br />Às 04.40, a LDG quot;
BOMBARDAquot;
, iniciou a tarefa, pela equipa quot;
HOTELquot;
 e terminou-a às 05.30, deixando dois botes para o grupo ALFA, que foi recolhido pela ORION, onde já se encontrava novamente o CTG 2. <br />Às 06.00 deu-se ordem à quot;
BOMBARDAquot;
 e quot;
ORIONquot;
 para constituírem a T.U. 27.2.1., seguindo para sul da ilha de KASSA onde, às 07.10, meteu ao Rv-180° durante uma hora, em diversão. Navegou depois independentemente, tendo às 13.35, recebido indicação para aguardar o resto da TG 27-2 em ORANGO. <br />O problema do reembarque na parte norte do T.O. <br />Parâmetros mais delicados devido ao baixa-mar. Além disso, o Sol já iluminava perfeitamente o terreno e uma grande multidão, que vitoriava ruidosamente as equipas que actuaram em terra, aglomerava-se agora junto aos locais de reembarque. <br />A quot;
MONTANTEquot;
 colocou-se a 1.000 jardas de terra e, com o auxílio dos botes das LFG' s, foi reembarcado o pessoal, com excepção dos elementos do FNLG que quiseram continuar em terra. De terra, às 07.40, duma posição junto ao Palácio do Povo fizeram quatro disparos de morteiro de 82 sobre a quot;
MONTANTEquot;
, muito mal regulados. O navio e a quot;
DRAGÃOquot;
 que se interpôs a fazer de escudo ao pessoal que reembarcava, calaram a boca de fogo com alguns tiros de intimidação. Às 08.05, a quot;
DRAGÃOquot;
 encostou à quot;
ORIONquot;
 para receber material de transfusão de sangue, pois o 1.° tenente MR Hélder Romero necessitava dele para o tratamento dos feridos e transbordou o sargento aviador LOBATO, que se encontrava prisioneiro há 7 anos! <br />Desde o romper do dia que a força naval se achava no mais alto grau de prontidão anti-aérea. Quando, pelas 09.00, se deu por terminado o reembarque, já havia ordem para formar em losango, dispositivo que foi executado às 10.30, ao rumo base 240.°. <br />O regresso fez-se sem incidentes, fundeando-se em SOGA em 231625. <br />Terminada a operação, que custou ao inimigo mais de 500 baixas, desfez-se a TG 27.2. <br />Respingam-se ainda os seguintes passos do relatório do CTG 27.2. <br />4. Resultados obtidos <br />Sob o ponto de vista estritamente militar, a operação decorreu de forma muito satisfatória, atendendo ainda a que foi a primeira do género, realizada entre nós. <br />Conseguiu-se surpresa total, grande parte dos objectivos foram conseguidos e numa acção normal, todos seriam atingidos, à excepção dos MIG' s por deficiente informação. <br />Atendendo, contudo, à estreita margem de liberdade de acção que os princípios da estratégia indirecta, enformadores do plano, consentiam, não se podia ir mais além. Fazê-lo, seria correr um risco gravíssimo - a possibilidade de afundamento de um dos nossos navios, prova documental irrefutável contra nós - de consequências desastrosas. <br />Por conseguinte, dentro da correcta cadeia de decisões política, estratégica, operacional, táctica e técnica - a decisão política devia sobrelevar as outras: o nosso comprometimento, tinha de se reduzir ao mínimo. <br />Nestas condições tomei a decisão de retirar. <br />5. Propostas e sugestões <br />Verificou-se que cerca de 30 % dos elementos de informação eram inexactos. <br />Mesmo assim, estou certo do êxito da acção, caso tivéssemos conseguido destruir a aviação de caça, que as notícias obtidas diziam estar estacionada no aeroporto de Alfa - Ya Ya. <br />Para isso, foi demonstrado que possuímos capacidades tácticas e técnicas. <br />O insucesso do Golpe de Estado ficou-se devendo à manifesta carência de informação, que falhou completamente no que toca à presença da aviação de caça em Conakry e aos apoios activos internos que não existiam ou, se existiam, não se concretizaram. <br />Urge, pois, encarar o problema com realismo e com vista ao futuro. Creio ser absolutamente necessário, criar um organismo dependente directamente do Presidente do Conselho e dirigido por um Subsecretário de Estado adjunto, onde sejam tratados todos os problemas de informação (no sentido de quot;
intelligencequot;
). A esse organismo competiria ainda o planeamento de operações de género desta e, para a execução das mesmas, agregaria os meios necessários. <br />O estado actual do funcionamento dos nossos serviços de informação é confrangedor, pela ausência duma estratégia nacional de informação. Chegamos mesmo ao ponto de termos órgãos de contra-informação a trabalharem em informação e a terem de dar satisfações a três ou quatro chefes diferentes. <br />Este assunto, é apenas mais um que se insere naquilo a que podemos chamar o problema da rectaguarda. <br />O insucesso do Golpe de Estado deu-se exclusivamente a deficiências de informação. A exacta localização dos MIG's teria sido a chave da acção. Mas isto só se conseguiria com agentes quot;
in-Iocoquot;
, dispondo de meios rádio que lhe permitissem, rapidamente, dar-nos a conhecer dados fundamentais. <br />É necessário, também, investigar cuidadosamente os indivíduos que se nos apresentam como chefes de oposições aos regimes africanos nossos adversários. O panorama que o FNLG nos apresentou sobre a situação na República da Guiné era basicamente correcto, mas falhou redondamente nos apoios que dizia ter. O próprio FNLG tinha duas tendências divergentes e para mal de nós escolhemos exactamente a mais desonesta para trabalhar connosco, o que aliás escrevi num memorandum entregue pelo Senhor Governador da Guiné ao Senhor Ministro do Ultramar. <br />Todos estes problemas e muitos outros, que seria ocioso enumerar, deviam ter sido estudados pelo organismo que acima sugiro. Creio que pode ser estruturado em dois ou três anos e, se dispuser dos meios necessários, teremos à disposição um trunfo muito importante para auxiliar na escolha das linhas estratégicas que conduzirão aos objectivos fixados pela Alta Política Nacionalquot;
. <br /> <br />
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Ataque naval a Conakry

  • 1. OPERAÇAO MAR VERDERelato de Alpoim Calvão no seu livro“De Conakry ao MDLP – dossier secreto”<br />∆<br />I PREPARAÇÃO<br />Assim que terminou a operação quot; Nebulosaquot; , o Comandante Calvão embarcou para a Metrópole, a fim de expor uma ideia ao Governador General Spínola que se encontrava na estância termal do Luso. <br />Tratava-se de eliminar os barcos do PAIGC, na própria base principal, isto é, Conakry. Para tal utilizar-se-ia uma· equipa de mergulhadores sapadores que, empregando minas-lapas, procuraria neutralizar as embarcações. <br />Faltava contudo o material explosivo: não dispúnhamos de minas-lapas. Havia no entanto a possibilidade de as obter na África do Sul. <br />O Governador aprovou a ideia e o Comandante Calvão regressou a Lisboa para tratar da deslocação. Avistou-se com o Chefe do Estado Maior da Armada (Vice-Almirante Armando de Roboredo) a quem apresentou o assunto e que, imediatamente, concordou com a viagem à África do Sul, facilitando o apoio logístico à mesma. <br />Nos primeiros dias de Setembro de 1969 embarcou o Comandante Calvão num avião da TAP rumo ao Aeroporto de Jan Smuts, na companhia do Inspector Adjunto Matos Rodrigues, cujos anteriores contactos com as autoridades Sul-Africanas poderiam ser de grande auxílio. <br />Os homens do Bureau of State Security (B.S.S.) acolheram os nossos enviados muito hospitaleiramente e, dois dias depois, eram recebidos pelo chefe do B.S.S. Exposto o problema, obteve-se um acolhimento muito favorável, de tal forma que, na manhã seguinte um major que informava que nos iam ser fornecidos algumas minas-lapas. Para evitar maiores demoras, o Comandante Calvão trouxe os engenhos explosivos como bagagem de mão, no Boing de regresso. <br />O material seguiu para Bissau, onde era preciso solucionar outro problema. Necessitavam-se planos actualizados do porto de Conakry, que não existiam no CDMG. Foram-se vasculhando discretamente os navios mercantes nacionais e estrangeiros que tocavam Bissau, até que num deles se descobriu um plano aceitável, se bem que desactualizado. <br />O Comandante Calvão propôs ao Comandante da Defesa Marítima (Comodoro Luciano Bastos), que se fizesse uma incursão a Conakry para actualização do plano. Obtida a concordância superior, embarcou na LFG quot; Cassiopeiaquot; (Cap. ten. Camacho de Campos), em meados de Setembro, rumo à ilha João Vieira, onde se procedeu ao disfarce do navio e onde se estudou a melhor maneira de executar a missão. Ficou assente que, caso se aproximasse algum navio, a quot; Cassiopeiaquot; içaria a bandeira do PAIGC e apenas os elementos africanos da guarnição se mostrariam no exterior. (Durante o trajecto, e com o boné de capitão-tenente na cabeça, o actual cabo-fuzileiro especial António Augusto da Silva – Touré – respondia com uma continência impecável aos pesqueiros que foram encontrados!)<br />Pelas zero horas do dia 17 de Setembro, avistaram-se as luzes de Conakry. O navio manobrou, numa volta larga, a fim de demandar o porto vindo do Sul e entro no canal entre as ilhas de Les e a península de Conakry às duas da manhã. Reduzida a marcha, colocou-se a escala mais conveniente no écran do radar e, rapidamente, esboçaramse as principais modificações que existiam no porto, mormente no que dizia respeito aos. novos molhes de acostagem. <br />Às três da manhã deu-se o trabalho por terminado. <br />À saída do canal, uma avaria nos geradores obrigou a dar fundo ao ferro, felizmente por pouco tempo, mas mesmo assim, com forte efeito nos nervos dos participantes ... <br />Terminado o cruzeiro, novos parâmetros se depararam, desta vez sob a forma dos grupos de guineenses em oposição ao regime de Sékou Touré. <br />Desde a ascenção deste político marxista ao poder, que se formou na vizinha República da Guiné um forte movimento oposicionista com várias facções. A maneira despótica e arbitrária - infelizmente tão comum aos novos estados africanos - como Sekou Touré iniciou o seu governo, deu origem a fortes reacções, principalmente da etnia Fula que foi duramente massacrada quando os franceses se retiraram do país. <br />Convém contudo historiar um pouco mais detalhadamente a conjuntura política do país nos últimos anos. <br />Logo a seguir à II Guerra Mundial, vários partidos disputaram o sufrágio dos guineenses, no decorrer de cada eleição legislativa ou municipal. Existiam, assim, o B.A.G. (Bloco Africano da Guiné) e o M.S.A. (Movimento Socialista Africano) que mais tarde se agruparam para constituirem o P.R.A. (Partido do Reagrupamento Africano) para se oporem ao cada vez mais forte R.D.A. (Rassemblement Democratique Africainl, criado por Houphouet - Boigny, na vizinha Costa do Marfim. <br />O PDG (Partido Democrático da Guiné) foi criado em Março de 1947, sete meses após a formação do RDA, do qual era a secção territorial guineana. <br />Esta, caracterizou-se pela violência da ruptura com as autoridades tradicionais, procurando substituí-las, em face da importância dada aos problemas do enquadramento político das massas e à instauração duma disciplina de ferro. <br />Revelava-se assim uma concepção comunista do partido, acentuada ainda, pelas ligações do RDA com o P.C. francês. <br />Dá-se em 1951 a ruptura entre a secção guineana e o RDA. O PDG emerge em força e ganha cada vez mais importância no contexto do território. <br />A subida ao poder, do partido e do seu secretário-geral, Amed Sékou Touré, em Outubro de 1958, fornece-lhe novos meios de acção contra os outros grupos políticos, que são completamente subjugados até fins de 1958. <br />Os partidos banidos ressurgem então no exterior da República da Guiné e iniciam uma acção clandestina contra o regime que, entretanto, depois de cortar as relações com a França, se inclina cada vez mais para o grupo dos países comunistas. Dos grupos oposicionistas destacava-se o FRONT DE L1BERATION NACIONAL GUINÉEN (FLNGl, enformado por mais de 600.000 pessoas repartidas pela Costa do Marfim, Senegal e Zâmbia. <br />Aproveitando a existência de oposicionistas, Sekou Touré, detecta quot; complotsquot; em série. Uns verdadeiros, outros inventados com a finalidade de eliminar alguns indivíduos, que pela sua categoria e posição social, poderiam vir a contrariar a sua linha de conduta tirânica (Ex: EI Hadj Lamine KABA, grande IMAN de Conakry, advogado IBRAIMA DJALLO, coronel Kaman Diaby, o ex-ministro do Interior FODEBA KEIT A, o ex-representante na ONU, SORY KABA, etc.). <br />A última tentativa de quot; complotquot; verificou-se em Março de 1969, organizado por militares, e que falhou, por traição de elementos da Força Aérea, que no último momento se colocaram ao lado de Sekou Touré. <br />Convém ainda recordar que, quando Amílcar Cabral fixou residência em Conakry, em fins de 1959, o PDG aprovou inteira e incondicionalmente o PAIGC, cuja estrutura marxista tinha muitos pontos de contacto com a do partido guineense. Formou-se assim uma profunda simbiose, praticamente impossível de destrinçar, o que nem sempre tem sido devidamente compreendido. <br />Desde 1964 que os oposicionistas guineenses, procuravam contactar, como é lógico, com as nossas autoridades. <br />Foram-se trocando ideias, pesando possibilidades, mas não apareciam resultados práticos palpáveis. A política seguida pelo Governo Português dera origem a uma cautelosa estratégia militar, que considerava as fronteiras (l) tabú, permitindo assim que as unidades do PAIGC tivessem sempre possibilidades de refúgio, de recompletamento e de treino. <br />Contudo, com a vinda do então Brigadeiro António de Spínola, as coisas tomaram outro rumo. Os oposicionistas guineenses começaram a sentir que havia viabilidades para realizações práticas que os poderiam ajudar a alcançar o objectivo das suas aspirações pertinazes - a queda do regime de Sekou Touré. <br />As diversas ramificações do FNLG tinham vindo a contactar as autoridades portuguesas por canais diferentes - Ministério do Ultramar em Lisboa e Sub-Delegação da D.G.S. em Bissau. Esta, com o núcleo que se ia agrupando à sua volta, iniciou a recolha dum certo número de informações que, recortadas com as que vinham de Lisboa, fizeram perceber a amplitude da dissidência guineense. <br />Foi primeira intenção do Governador e Comandante Chefe, instalar um ramo militar do FNLG algures em território da província, donde irradiariam acções de guerrilha contra o vizinho do Sul. <br />Esta hipótese foi encarada em Outubro de 1969 começando-se os preparativos para a enformar. Necessariamente, assunto tão complexo levaria muito tempo a resolver em toda a extensão e assim de facto sucedeu. <br />Mas com o decorrer do tempo, a viabilidade do plano parecia maior e verificava-se, com satisfação, que o projectado ataque aos navios do PAIGC em Conakry, poderia ser perfeitamente enquadrado nas futuras operações de guerrilha do Front. <br />Contudo, uma análise mais cuidada, lançou um balde de água fria nos planeadores. Com efeito, qual seria a reacção da ONU, OUA e países da Cortina de Ferro a respeito duma guerrilha lançada contra a República da Guiné a partir de território português? A guerrilha é uma técnica da arte militar que torna os conflitos necessariamente demorados. Assim, arriscávamo-nos a uma condenação total - hipótese mais branda - nos areópagos internacionais ou uma intervenção armada, a favor de Sekou Touré, com consequências catastróficas. <br />Acrescentemos ainda que a sorte de vinte e tantos militares portugueses que jaziam em prisões da República da Guiné, não seria com certeza melhorada na sequência duma actuação nestes moldes. <br />Havia pois que reformular o processo técnico a empregar para obter o fim em vista: o Comandante Calvão propôs que se executasse um golpe de Estado em Conakry o que obteve a imediata adesão do General Comandante Chefe. <br />Iniciou-se então, intensa actividade no campo das informações, simultânea com um programa de reunião, transporte e adestramento de exilados guineanos destinados a tomarem parte na acção. <br />Este programa apresentava muitas dificuldades que tinham de se resolver a cada passo. Os homens aos quais se destinava encontravam-se dispersos no Senegal, Gâmbia e Costa do Marfim, estavam empregados nos mais diversos mesteres; tinham famílias; alguns eram vigiados pela polícia secreta de Sekou Touré, etc., etc .. <br />Após vários encontros de coordenação entre a parte portuguesa (Cap. ten. Calvão e Inspector Adjunto Matos Rodrigues) e os representantes do FNLG, realizados em Bissau, Paris e Geneve, fizeram-se uma série de acções para a recolha do pessoal. Estas, obedeciam a um padrão, nos seguintes termos: <br />1. Combinava-se a data-hora e local de rendez-vous, limitados ao período da noite e às horas das marés e escolhendo-se locais isolados, com boas possibilidades de embarque. Assim, percorreram-se as costas do Senegal, Gâmbia e Serra Leoa, até à fronteira da Libéria, utilizando as mais variadas praias para o fim em vista. <br />2. Acordava-se o número de homens a embarcar, códigos rádio, sinais luminosos, etc., etc .. <br />Para a execução, formaram-se grupos tarefa compostos por uma ou duas LFG, comandados pelo Cap. ten. CALVÃO. Os navios eram camuflados o melhor possível, singrando a evitar qualquer navegação e içando, sempre que necessário, o pavilhão do PAIGC. A aproximação do local da RIV fazia-se com cautelas redobradas. Depois de trocados os sinais de código, lançavam-se botes de borracha à água e abicava-se às praias onde se embarcavam os homens. Desta maneira se recolheram cerca de 200 exilados guineenses, sendo principalmente utilizada no seu transporte, a LFG quot; ORIONquot; (Cap. ten. Faria dos Santos) cujo comandante foi um precioso colaborador no planeamento das acções e, na execução, demonstrou ser um navegador tão hábil quanto arrojado. <br />Entretanto, não era descurada a parte das infra-estruturas. Para alojar e treinar o pessoal do FNLG, construiu-se um aquartelamento na ilha de Soga, escolhida pelo seu relativo isolamento. Foi-se recolhendo o melhor pessoal instrutor disponível: 1.° ten. Rebordão de Brito, 2.° ten. Benjamim Lopes de Abreu, furriel Marcelino da Mata, cabo FZE Lopes Rossa, mar.º FZE Luís Tristão, mar.° FZE António Augusto da Silva, alferes Ferreira, mar.º C Moita, furriel Teixeira. Estes homens conseguiram aos poucos moldar uma unidade de combate, através dum treino intensivo e, à força de muitas palavras e alguns castigos atenuaram os conflitos tribais e religiosos existentes, - pecha constante em todas as sociedades da Africa Negra - resultando um certo espírito de coesão, fundamental para a missão a desempenhar. <br />O trabalho de informação continuava. Arranjaram-se planos detalhados da cidade de Conakry, acumularam-se todas as notícias possíveis de encontrar e pouco a pouco foi-se delineando o provável teatro de operações. <br />Mandou-se executar uma maqueta da zona portuária, sobre a qual havia uma razoável certeza, mas as outras incógnitas eram muitas. Convém aqui abrir um parêntesis acerca das deficiências encontradas na obtenção da informação externa. <br />Os órgãos nacionais com serviços de informação dispunham de uma confrangedora falta de material de quot; inteligencequot; . Sabia-se alguma informação política, alguma informação estratégica mas, aos níveis operacional e táctico, os conhecimentos eram quase nulos. <br />Houve, pois, que montar uma organização quot; ad hocquot; , devotada à recolha de notícias. Estas eram obtidas através de livros, revistas, folhetos de propaganda turística e de antigos elementos do PAIGC e exilados guineenses. Contudo, estas notícias pecavam pela falta de actualidade: as mais recentes tinham quase dois anos de atraso, o que era francamente mau. Felizmente, apareceu uma mensagem de Lisboa informando a captura dum desertor, o grumete fuzileiro Alfaiate, que se entregou voluntariamente às nossas autoridades, vindo de Conakry há três semanas. <br />Com vontade de se reabilitar, o grumete Alfaiate foi um colaborador de valor. E, sem as preciosas indicações que forneceu, teria sido impossível sinalizar devidamente a planta da cidade, sinalização que se revelou exacta em 95 %. <br />Dada a possibilidade de êxito do golpe de Estado, organizou-se um programa político com a colaboração dos três delegados do FNLG que, para o efeito, foram viver para Bissau. Elaborou-se uma lista de governantes, escreveram-se as primeiras declarações a fazer pela rádio, etc. etc .. <br />Assim, nos fins de Outubro de 1970, começou o trabalho de designação de tarefas e da constituição das equipas que as iriam executar. <br />Para se conseguir a paralisação de actividades necessárias ao sucesso da operação, individualizaram-se, na carta de Conakry, 52 objectivos. Ordenaram-se depois, por ordem de importância, e constituíram-se as equipas encarregadas de as neutralizar. Como era desde já intenção firme executar o desembarque numa noite de sábado para domingo, altura em que a maior parte dos serviços públicos estão desactivados e as forças militares e para-militares se encontram de licença, o número de objectivos primordiais limitou-se a 25. <br />A cada objectivo fez-se corresponder uma equipa, variável em tamanho e tipo de armamento, pois a gama de objectivos assim o justificava: ia desde a central eléctrica ao quartel da guarda republicana, do aeroporto à Villa Silly (casa de veraneio de Sekou Touré), do Estado-Maior à quot; Gendarmeriequot; . <br />Todo o sistema estava subordinado à seguinte determinante táctica: primeiro, obter o domínio no mar, seguidamente em terra e por fim no ar. <br />No princípio de Novembro iniciou-se uma discreta concentração de meios na ilha de Soga, propalando-se, simultaneamente, a notícia da realização duma grande operação na Ilha do Como. <br />Além do grupo de exilados guineenses reuniram-se as seguintes forças de desembarque: <br />Destacamento de Fuzileiros Especiais N.º 21 (Africano); (1.0 ten. Cunha e Silva). <br />- Companhia de Comandos Africanos - (Capitão João Bacar Jaló) <br />Convocaram-se também alguns elementos europeus de unidades de fuzileiros, possuidores de conhecimentos ou aptidões especiais.<br />No dia 14 de Novembro, o comandante Calvão veio a Lisboa, com uma carta do General Spínola, dirigida ao Presidente do Conselho de Ministros. No dia 17 foi recebido pelo Professor Doutor Marcelo Caetano, que deu a sua concordância à operação, com a indicação expressa de que não deveriam ficar vestígios da presença portuguesa no local da acção. <br />Por especial deferência do general Dores Delgado, que então comandava a 1.ª região aérea, regressou o Comandante Calvão a Bissau no dia 19, seguindo nesse mesmo dia para Soga a fim de ultimar os preparativos. <br />Formara-se entretanto a TG27-2, (140001NOV) incorporando os seguintes navios: LFG's ORION (cap. ten. Faria dos Santos), CASSIOPEIA (cap. ten. Lago Domingues), DRAGÃO (1.0 ten. Duque Martinho, HIDRA (1.0 ten. Fialho Góis), e LDG's BOMBARDA (cap. ten. AGUIAR DE JESUS) e MONTANTE (1.0 ten. COSTA CORREIA). <br />O CTG. 2 (cap. ten. CALVÃO) embarcou na quot; ORIONquot; , cujo comandante foi, mais uma vez, um colaborador de inestimável valor. <br />No meio desta actividade febricitante e quando tudo já estava ordenado, detalhado e quot; briefadoquot; , surgiu algo de perturbador e inesperado. O major Leal de Almeida, supervisor de Companhia de Comandos Africanos, recusava-se a tomar parte na acção! Por um estranho e inexplicável rebate de consciência, aquele oficial, já informado de todo o planeamento há cerca de 15 dias, dizia que era contra a ética militar realizar uma operação contra o governo dum país com o qual não estávamos em guerra. Apesar dos argumentos que o comandante da operação apresentou, relativos aos prisioneiros portugueses, ao apoio dado ao PAIGC, etc., o major manteve-se irredutível. <br />Foi-lhe dada voz de prisão e seguiu de helicóptero para Bissau a fim de se apresentar ao Comandante-Chefe. Este exautorou-o vigorosamente e fê-lo regressar a Soga a fim de se integrar novamente nas forças de assalto. A citada atitude produziu efeitos deletérios sobre o moral de alguns elementos da Companhia de Comandos Africanos: o próprio capitão João Bacar teve um momento de hesitação. Revelou dúvidas, condicionalismos. Posto firmemente em face do seu dever, reagiu, e o seu ascendente sobre os homens da CCA neutralizou um pouco a desmoralização incipiente. <br />Também no quot; briefingquot; com os comandantes dos navios nem tudo correu perfeitamente bem: o comandante da quot; Montantequot; , apesar da mensagem secreta 162CC, de COMDEFMARQUINÉ, de 18 NOV 70 . I ver nota) mostrava-se renitente quanto a participar na operação. Foi claramente interpelado sobre a opção que teria de tomar. Reconsiderou e cumpriu bem as instruções que recebeu. <br />NOTA - quot; Todas ordens emanadas CT G.2 devem ser pronta e integralmente cumpridas seja qual for a sua natureza amplitude e quaisquer que sejam implicações que dai possam resultar.quot; <br />II EXECUÇAO <br />No dia 17 de Novembro de 1970 o General Spínola deu conhecimento aos Comandantes Chefes Adjuntos da ordem de operações quot; Mar Verdequot; . Assim, foi possível fazer reforçar e alertar as posições do Exército, junto à fronteira com a República da Guiné, e a Força Aérea pôde esquematizar uma série de missões, quer de reconhecimento e apoio à TG 27-2, quer de intervenção e bombardeamento no solo (objectivos - bases referenciadas do PAIGC na República da Guiné) caso o Golpe de Estado tivesse êxito. <br />As missões de reconhecimento, executadas por um P2V-5, iniciaram-se no dia 18, às 09.20. Tinham por fim detectar discretamente quaisquer movimentos de navios de guerra e de concentrações de pesqueiros. A fim de dar uma ideia deste trabalho transcreve-se o relatório do dia 19. <br />…………………………………………………………………………………………….<br />quot; 3. Data: 19 NOV 70 - 4-ATD/ATA/ATE - 06.15/09.10/02.55. <br /> 5. Efectivo empenhado (N.º/Tipo de avião) 1/P2V-5 <br /> 6. Pilotos - Cardoso - 9. <br /> ……………………………………………………………………………………………<br />9. Observações <br />07.00 - Oito contactos compreendidos nos azimutes 209° e 1710 ilha de Orango entre 29 e 61 milhas. Investigados três arrastões grandes. <br />07.10 - Arrastão Pos. 14JO Tugnifilidi 17 milhas 330/8. <br />07.27 - Cinco contactados 237 Conakry 19 - não foram avistados supondo-se serem pesqueiros por pouco dispersos. <br />07.30 - Dois navios cargueiros ou arrastões grandes fundeados a 2 milhas oeste ilha Tamara. Um navio fundeado em Fotoba (cargueiro). Três navios (I grande e 2 pequenos) fundeados no canal entre Ilha de Kassa e Conakry. <br />08.ao - Sete contactos 5 milhas Norte Conakry. Foi feita aproxim'ação mas não foram confirmados visualmente. <br />08.10 - Três arrastões POso 2910 Conakry 65. Foi feita inves- <br />tigação ECM sem resultado. <br />METEO - 5/8 CU SICU - 2000' - 6000' COBERTO À 8000 <br />ESTADO DO MAR - CALMO <br />Foi feita escuta em 119.1 (Torre e aproximação de Conakryl. <br />Tráfego reportado apenas civilquot; . <br />A missão das forças foi transmitida verbalmente no dia 18, às 09.ao, aos comandantes das unidades participantes. <br />Entregaram-se, por escrito, os anexos de comunicações, de navegação e logístico necessários à execução (ver apêndice). <br />Pintaram-se os navios (inclusivamente bóias de salvação) de forma a não revelaram quaisquer sinais identificadores. <br />As equipas foram dispostas nos navios de acordo com os locais de desembarque. Assim: <br />LFG'S DRAGÃO e CASSIOPEIA: Equipas destinadas ao grupo de objectivos do PAIGC, que incluíam a residência Villa Silly de S. Tomé e o Campo de Milícias do PDG. Eram essencialmente constituídas por elementos do DFE 21, reforçado com alguns homens de CCA e pelo 2.0 ten. Benjamim Abreu. <br />LFG quot; HIDRAquot; : Equipa destinada ao Aeroporto, comandada pelo cap. pára-quedista Morais. <br />LDG quot; BOMBARDAquot; - Equipas destinadas a: Palácio Presidencial, Ministério do Interior, Direcção da Gendarmeria, Residência de Lansana Beavogui e Sayfoulhah Djallo, Gendarmeria, Cubanos, Emissora de Boulbinet e corte do istmo entre Conakry I e II. <br />LDG quot; MONTANTEquot; - Equipas destinadas a: Central Eléctrica, Campo Samouy (Estado-Maior da Defesa Nacional) e Guarda Republicana. <br />LDG quot; ORIONquot; - Equipa destinada às lanchas rápidas do PAIGC e República da Guiné. <br />Presidia à ideia da manobra a seguinte reunião de conceitos: <br />a) Obter o domínio no mar. A presença das lanchas rápidas, armadas com metralhadoras quádruplas de 25 mm e com mais de 30 nós de velocidade era francamente incómoda. Era pois necessário neutralizá-Ias rapidamente. <br />b) Obter o domínio em terra. Interessava seguidamente a neutralização das forças, que, pela sua natureza, podiam intervir mais rapidamente. Incluiam-se, pois, nos objectivos prioritários a gendarmeria, a guarda republicana, o campo de milícias e o campo militar Samouy, onde sediava o Alto Estado-Maior e uma força mecanizada. Previa-se logo a seguir o corte do istmo que separa Conakry I e II, numa largura de cerca de 150 metros, junto ao Palácio do Povo. Assim se impediria qualquer reforço vindo do Campo Alpha Yaia ou do complexo militar do quilómetro 36. O grupo de objectivos do PAIGC encontrava-se incluído neste estágio da acção. <br />c) Obter o domínio no ar. Logo que rompesse o dia, a ameaça dos MIG' S 15 e 17 tinha de estar neutralizada. Os navios do TG não dispunham de defesa AI A adequada contra este tipo de aviões e o raio de acção da nossa aviação de caça disponível não permitia cobertura aérea. <br />d) Convinha capturar, desde o início, a emissora de radiodifusão mais escutada. Desta maneira, a emissora de Boulbinet foi considerada prioritária, apesar de não se esperar que funcionasse antes das 8 horas da manhã. <br />Neste contexto, a TG 27-2 levantou ferro de Soga no dia 20, às 19.50. <br />Marcou-se a hora H para as 22.00, no ponto RIV junto à ilha de Canhambaque, navegando em coluna até dia 21 às 03.50, altura em que se formou um dispositivo aconselhado pelas circunstâncias. Deu-se também ordem, nessa altura, para ocultação rigorosa de luzes e artilharia pronta, com postos de combate AI A, a partir do nascer do sol. <br />Neste contexto, a TG 27-2 levantou ferro de Soga no dia 20, às 19.50.<br />Marcou-se a hora H para as 22.00, no ponto R/V junto à ilha de Canhambaque, navegando em coluna até dia 21 às 03.50, altura em que se formou um dispositivo aconselhado çpelas circunstâncias. Deu-se também ordem, nessa altura, para ocultação rigorosa de luzes e artilharia pronta, com postos de combate A/A, a partir do nascer do sol.<br />A distância entre o quot; main bodyquot; e a quot; screenquot; variava entre 4 a 6 milhas, sendo o rumo base 125. As indicações do P2V-5, de cobertura permitiam fazer o registo de navegação de superfície, manobrando a TG de forma a evitá-Ia o mais possível. <br />Às 17.50 voltou-se à formatura em coluna, pois a proximidade da noite permitia que assim se fizesse, sem perigo de detecção. A tensão a bordo dos navios aumentava de momento a momento e a felicidade com que até ali decorrera o percurso era tomada como um índice de bom augúrio. <br />Às 20.20 ordenou-se o quot; splitquot; da TG-2, conforme previsão, e depois de alcançados os pontos E e F, os navios da força rumaram para as posições mais convenientes a fim de desembarcarem as equipas de assalto. Às 21.30 indicou-se, como hora de desembarque em terra, 01.30 do dia 22. <br />III O DESEMBARQUE <br />A LFG quot; ORIONquot; fundeou a NW dos molhes de protecção do porto de Conakry. A maré estava completamente cheia, o vento era nulo, e apenas o clarão da cidade iluminava a noite. Os botes de assalto foram colocados na água e, pelas 0045, a equipa Victor, do comando do 2.° tenente Rebordão de Brito e composta por 14 elementos, largou discretamente em direcção aos molhes. Encostou ao quot; Dique Nortequot; , localizou exactamente o objectivo e partiu ao ataque. O grumete FZE Abu Camará eliminou silenciosamente a sentinela, o que permitiu a entrada a bordo das três vedetas P6, que se encontravam a N da ponte do cais bananeiro. Abertas as portas das cobertas foram lançadas granadas de mão ofensivas para o interior das mesmas neutralizando as guarnições. A equipa de assalto atravessou velozmente a ponte e invadiu os restantes navios: mais três vedetas e uma espécie de lancha de desembarque. Entretanto soara o alarme no porto e o inimigo abriu fogo sobre os nossos elementos que, repetindo a técnica das granadas de mão, eliminaram os focos de resistência a bordo. Os incêndios ateados pelas granadas, cresceram rapidamente e, em breve, de bordo da quot; ORIONquot; , avistaram-se as bolas de fogo provenientes das explosões das lanchas. <br />A equipa Victor, que realizou o notabilíssimo trabalho, regressou a bordo pelas 02:10, com dois feridos ligeiros e sem a menor perda de material. <br />As LFG's quot; Dragãoquot; e quot; Cassiopeiaquot; , transportando a equipa ZULU, fundearam em 5 metros de fundo, na pequena baía a N da península de Conakry, junto aos baixos de quot; La Prudentequot; , cerca das 0015, a três milhas marítimas do local de abicagem. <br />Às 01.40 os botes (em número de 10) largaram dos navios. Houve, poucos momentos depois, um pequeno contratempo: alguns botes enrodilharam-se em várias redes de pesca, que não foram avistadas devido à escuridão da noite. Depois de aturado trabalho a desenvencilhar os hélices, conseguiu-se o desembarque pelas 02.15. <br />A equipa dividiu-se em três elementos: o primeiro, comandado pelo 1.° tenente Cunha e Silva, dirigiu-se imediatamente à prisão quot; La Montaignequot; , onde, depois de violenta escaramuça, eliminou a respectiva guarda e libertou os 26 prisioneiros portugueses que lá se encontravam. <br />O segundo, comandado pelo sub-tenente Falcão Lucas seguiu para o grupo de objectivos do PAIGC. Neutralizou uma série de sentinelas, destruíu 5 edifícios do partido, seis viaturas e abateu vários militantes que se encontravam nas instalações. <br />Finalmente o terceiro, comandado pelo 2.° tenente Benjamim Abreu, encarregou-se do Campo das Milícias e da Villa Silly, residência secundária de Sekou Touré. Com uma decisão notável, o pequeno grupo (22 homens), forçou a entrada do Campo, esmagou a débil estrutura que se começou a formar e, à granada de mão, à bazucada e com bem dirigidas rajadas de metralhadora, pôs fora de combate cerca de 60 milicianos que guarneciam as duas casernas existentes. Prevendo que a guarda da casa de Sekou Touré, tivesse acorrido à defesa dos dois portões de entrada da propriedade, o tenente Benjamim resolveu saltar o muro que separava os dois objectivos e pôde assim, colhendo-a de supresa, eliminar a referida guarda. Sekou Touré ainda não chegara a casa: o quarto de dormir, a cama, impecavelmente aberta, aguardava o ditador Guineense! Incendiado o objectivo, o grupo retirou-se a fim de se juntar ao resto da equipa, o que conseguiu pelas quatro da manhã. <br />Passou a equipa ZULU a constituir a reserva de manobra do Comandante da operação. <br />Da LDG quot; Montantequot; , partiram as equipas OSCAR, ÍNDIA e MIKE. A primeira, seguiu em botes de borracha conduzidos por pessoal do navio e abicou ao Quartel da Guarda Republicana, pelas 0135. Para o desembarque das outras duas, a quot; Montantequot; , num alarde de boa manobra, abicou pelas 01.40 ao molhe Yatch Club! <br />A equipa OSCAR, constituída por efectivos nossos e do Front (total 40 homens) e encabeçada pelos alferes Ferreira e Tomás Camará, dirigiu-se discretamente para o portão da entrada. O alferes Ferreira temerariamente tentou dominar a sentinela, a qual se refugiou na casa da guarda. O alferes, ao tentar persegui-lo foi abatido na soleira da porta por dois homens que se encontravam no interior, os quais abriram nutrido fogo sobre os assaltantes. Valeu a decisão e coragem do furriel de comandos Marcelino da Mata: mergulhou através da janela e na confusão de vidros partidos e cadeiras caídas, etc., abateu os oponentes com uma rajada de AK-47. <br />O grupo entrou de rompante pelo recinto, colocando-se em posição de enfiar a saída das casernas, enquanto alguns homens corriam para a armaria. Apanhados de supresa, os guardas republicanos tentaram sair das casernas mas foram abatidos na maioria, perdendo-se os outros na escuridão da noite. Ocupado o campo, abriram-se as portas da prisão onde foram encontrados cerca de 400 presos políticos, que retomaram a liberdade no meio de grandes manifestações de alegria. (ver relato do Capitão Abou Sommah, ocupante da cela n.º 37). Fez-se em seguida a entrega do campo às forças do FNLG (20 homens), na pessoa do chefe Barry Ibrahima, conhecido por BARRY III e cujas qualidades o tinham feito estimar por todos quantos com ele contactaram. <br />A equipa ÍNDIA (10 homens, furriel Demda Sêca e Thiam do FLNG), atravessou a linha de caminho de ferro de Conakry - Fria e dirigiu-se para a Central. Observou a existência de quatro portas com sentinelas. Eliminou duas, prendeu o encarregado da central e obrigou-o a cortar a luz da cidade. Eram 02.15. Esta acção era primordial para o efeito psicológico que se pretendia obter. O seu sucesso contribuiu bastante para a desorientação verificada. <br />A equipa MIKE (50 homens) tinha por objectivo o Campo Militar Samory. Em marcha acelerada percorreu o quilómetro que a separava do alvo. Desarmou as sentinelas que estavam nos portões e ocupou o recinto sem efusão de sangue. A tarefa seguinte constituiu em quot; bazucarquot; e destruir os veículos que vinham para o campo carregados de pessoal: foram assim destruídas 16 viaturas com algumas dezenas de soldados. Deitou-se fogo aos edifícios do Estado-Maior e, não havendo mais resistência, a equipa dividiu-se em duas: uma, com o Alferes Sisseco (ferido na boca), que conduziu os nossos elementos feridos para o molhe do Yatch Club. A outra, com o coronel do .FNLG DIALLO, o Comandante ASSAD e o jornalista do JEUNE AFRIQUE SIRADIOU DIALLO, seguiu a ligar-se à equipa INDIA. Por um acaso infeliz os rádios da equipa MIKE ficaram quase imediatamente fora de acção, o que obrigava a contactos directos com os outros grupos para saber o que se passava. <br />A LDG quot; BOMBARDAquot; , do comando do cap. ten. Aguiar de Jesus, cuja calma imperturbável era demonstrada pela descontracção como fumava o inseparável cigarrinho na extremidade duma já velha boquilha, pelas 01.00 pairava a 300 jardas a sul da praia Peronné. As 01.05, largaram de bordo dois botes com a equipa Hotel, encarregada de se apossar da Emissora de Boulbinet. <br />Esta equipa, comandada pelo Alferes JAMANCA e tendo como acessor do FNLG o engenheiro electrónico TIDIANE DIALLO, actuou de forma bizarra. O alferes JAMANCA dera boas provas ao longo de 7 anos de campanha. Mas inexplicavelmente, depois de desembarcar junto do objectivo ou por desorientação do engenheiro DIALLO, conhecedor do local, ou por indecisão do alferes o facto é que, os dez homens da equipa Hotel ficaram agarrados ao local de desembarque até receberem ordem para retirar! <br />Entretanto, e em duas vagas de botes de borracha, desembarcaram as restantes equipas: ALFA, BRAVO, CHARLlE, DELTA, ECHO, FOXTROT e GOLF. Passada a desorientação inicial devida à escuridão provocada pelo corte de luz e por se estar numa cidade desconhecida, estas equipas, compostas por elementos da C.C.A. e do FNLG - cujos guias nem sempre se mostravam à altura da situação - seguiram para os objectivos e neutralizaram os meios importantes. <br />Apenas na Gendarmerie se encontrou resistência de vulto. Como a equipa ECHO (reforçada com a GOLF, BRAVO e DELTA, num total de 50 homens) demorou mais que o previsto a reagrupar o pessoal, ao chegar ao alvo que lhe estava destinado, verificou que uma coluna blindada se preparava para sair. O Capitão João Bacar, que comandava a equipa, atacou as viaturas com decisão, destruindo quatro e causando elevado número de baixas. <br />A guarda do Palácio Presidencial, ao ver chegar os dez homens da equipa ALFA, debandou em grande velocidade deixando aos assaltantes o problema de revistar um edifício tão grande e que se encontrava vazio! <br />Finalmente, a LFG quot; HIDRAquot; (1.° tenente Fialho Goes). aproximou-se, depois duma hábil navegação, do local de desembarque da equipa Sierra (capitão pára Morais). pairando pelas 212330, com dois metros de fundo. Em 220015, os botes largaram do navio, com rumo ao local de desembarque, sob o comando do guarda-marinha Centeno, imediato da HIDRA. <br />As três milhas demoraram uma hora a percorrer e só pelas 0130 se conseguiu desembarcar. <br />A equipa Sierra era composta por: <br />a) Elementos nacionais. <br />Cap. Lopes Morais <br />2.º Sarg. mil. comando Teixeira Formação do comando <br />1.ºs cabos páras Duarte, Morais <br />Tenente Januário, com 9 homens do seu pelotão <br />Alferes Justo, com 24 homens do seu pelotão. <br />b) Elementos do FNLG <br />Sub-Lieutenant Boiro, com cinco homens, sendo um, de nome Mamadu 8aldé, antigo controlador de circulação aérea no Aeroporto de Conakry. <br />Iniciou a progressão em direcção ao campo e antes de o atingir foi surpreendido pelo som dos rebentamentos que se iam ouvindo na cidade. O Cap. Morais, apesar de uma lesão num joelho contraída recentemente num salto de pára-quedas, forçou a marcha, mas sentindo uma certa resistência ao movimento na retaguarda, mandou um dos seus homens tentar a ligação e verificou com espanto que o tenente Januário e cerca de 20 homens tinham desaparecido. <br />quot; ... a partir daquela altura só uma coisa importava já: localizar os MIG's e destruí-los; dirigi-me ao local, mas não estavam; entretanto, no campo Alpha Ya- Ya, ouviam-se toques de clarins e ruídos fortes de motores a trabalhar; por me ressentir do joelho fiquei com três homens a meio do quot; taxi-wayquot; e ordenei ao Alf. Justo e 2.° Sarg. Teixeira para irem procurar os MIG's; voltaram vinte minutos depois, informando-me que no fim da pista estavam 3 aviões de hélice já velhos e que havia outra pista ao lado da principal e em terra batida, mas nada de MIG's. Voltei para trás e aproximei-me da placa; nessa altura ouvia-se um toque prolongado de sino no aeroporto seguindo-se-Ihe, passados alguns minutos, toques de apitos, calculo que por motivo da chegada dos pescadores a terra. Na placa havia seis aviões: 2 quot; Caravellequot; , que o Ten. Boiro identificou pertencerem à Companhia AIR AFRIQUE e 4 aviões bi-motores, de asa alta, tipo Fokker F-27. O Alf. Justo quis ir destruí-los, mas não autorizei. Entretanto chegou uma viatura pesada que me pareceu uma auto-metralhadora; nos hangares que estavam abertos e iluminados não havia aviõesquot; . (do relatório do Capitão Morais). <br />Desde as duas da manhã que o comandante do T. G. tinha conhecimento da deserção do ten. Januário (msg. enviada pelo Grupo Sierra - quot; O filho da puta do tenente fugiu com 20 dos meus homens. Traiu-me miseravelmentequot; ). Embarcada a equipa Victor, a quot; ORIONquot; levantou ferro, seguindo a toda a força para junto da quot; BOMBARDAquot; e quot; HIDRAquot; . Era necessário desembarcar a equipa PAPA, destinada a cortar o istmo que separa Conakry I de Conakry II. <br />O CTG 2 passou em bote de borracha para a quot; BOMBARDAquot; a fim de, face à evolução da situação, accionar a equipa PAPA. Às 02.30 recebera comunicação da quot; HIDRAquot; de que a equipa quot; Sierraquot; não tinha encontrado os MIG' s. <br />Pelas 03.00 algumas notícias colhidas junto de prisioneiros em terra afirmavam que os MIG' s, tinham sido enviados para LABÉ no dia 20, devido a uma remodelação ministerial no Governo de Conakry! Havia ainda a hipótese de se conseguir capturar Sekou Touré. Às 04.00, CGT 2 teve conhecimentos que o Presidente não fora visto nem na Villa Silly nem no Palácio Presidencial. Mandou suster o desembarque da equipa PAPA, quando a quot; BOMBARDAquot; já manobrava para tomar posição, e quot; fez o pontoquot; . <br />quot; Pelas 04.30, a situação apresentava-se da seguinte maneira: <br />- Objectivos PAIGC atingidos em boa parte. <br />- Domínio no mar, assegurado. <br />- Domínio em terra, ainda em disputa, mas com forte possibilidade de sucesso. <br />- Presidente Sekou Touré - não encontrado. <br />- Domínio no ar - não assegurado. <br />Este factor pesou fundamentalmente no meu julgamento pois, dali em diante, a minha única preocupação foi deixar o menor número de provas documentais da nossa actividade. <br />A possibilidade de afundamento dum navio nas águas de Conakry era de evitar a todo o custo. <br />Mandei, pois, reembarcar todo o pessoal que compareceu nos locais para isso designados em caso de insucesso. quot; (Do relatório de CTG 27.2). <br />A LFG quot; HIDRAquot; , que reembarcara a equipa quot; Sierraquot; , foi mandada pairar na posição uma milha a sul do farol de BOULBINET. <br />Às 04.40, a LDG quot; BOMBARDAquot; , iniciou a tarefa, pela equipa quot; HOTELquot; e terminou-a às 05.30, deixando dois botes para o grupo ALFA, que foi recolhido pela ORION, onde já se encontrava novamente o CTG 2. <br />Às 06.00 deu-se ordem à quot; BOMBARDAquot; e quot; ORIONquot; para constituírem a T.U. 27.2.1., seguindo para sul da ilha de KASSA onde, às 07.10, meteu ao Rv-180° durante uma hora, em diversão. Navegou depois independentemente, tendo às 13.35, recebido indicação para aguardar o resto da TG 27-2 em ORANGO. <br />O problema do reembarque na parte norte do T.O. <br />Parâmetros mais delicados devido ao baixa-mar. Além disso, o Sol já iluminava perfeitamente o terreno e uma grande multidão, que vitoriava ruidosamente as equipas que actuaram em terra, aglomerava-se agora junto aos locais de reembarque. <br />A quot; MONTANTEquot; colocou-se a 1.000 jardas de terra e, com o auxílio dos botes das LFG' s, foi reembarcado o pessoal, com excepção dos elementos do FNLG que quiseram continuar em terra. De terra, às 07.40, duma posição junto ao Palácio do Povo fizeram quatro disparos de morteiro de 82 sobre a quot; MONTANTEquot; , muito mal regulados. O navio e a quot; DRAGÃOquot; que se interpôs a fazer de escudo ao pessoal que reembarcava, calaram a boca de fogo com alguns tiros de intimidação. Às 08.05, a quot; DRAGÃOquot; encostou à quot; ORIONquot; para receber material de transfusão de sangue, pois o 1.° tenente MR Hélder Romero necessitava dele para o tratamento dos feridos e transbordou o sargento aviador LOBATO, que se encontrava prisioneiro há 7 anos! <br />Desde o romper do dia que a força naval se achava no mais alto grau de prontidão anti-aérea. Quando, pelas 09.00, se deu por terminado o reembarque, já havia ordem para formar em losango, dispositivo que foi executado às 10.30, ao rumo base 240.°. <br />O regresso fez-se sem incidentes, fundeando-se em SOGA em 231625. <br />Terminada a operação, que custou ao inimigo mais de 500 baixas, desfez-se a TG 27.2. <br />Respingam-se ainda os seguintes passos do relatório do CTG 27.2. <br />4. Resultados obtidos <br />Sob o ponto de vista estritamente militar, a operação decorreu de forma muito satisfatória, atendendo ainda a que foi a primeira do género, realizada entre nós. <br />Conseguiu-se surpresa total, grande parte dos objectivos foram conseguidos e numa acção normal, todos seriam atingidos, à excepção dos MIG' s por deficiente informação. <br />Atendendo, contudo, à estreita margem de liberdade de acção que os princípios da estratégia indirecta, enformadores do plano, consentiam, não se podia ir mais além. Fazê-lo, seria correr um risco gravíssimo - a possibilidade de afundamento de um dos nossos navios, prova documental irrefutável contra nós - de consequências desastrosas. <br />Por conseguinte, dentro da correcta cadeia de decisões política, estratégica, operacional, táctica e técnica - a decisão política devia sobrelevar as outras: o nosso comprometimento, tinha de se reduzir ao mínimo. <br />Nestas condições tomei a decisão de retirar. <br />5. Propostas e sugestões <br />Verificou-se que cerca de 30 % dos elementos de informação eram inexactos. <br />Mesmo assim, estou certo do êxito da acção, caso tivéssemos conseguido destruir a aviação de caça, que as notícias obtidas diziam estar estacionada no aeroporto de Alfa - Ya Ya. <br />Para isso, foi demonstrado que possuímos capacidades tácticas e técnicas. <br />O insucesso do Golpe de Estado ficou-se devendo à manifesta carência de informação, que falhou completamente no que toca à presença da aviação de caça em Conakry e aos apoios activos internos que não existiam ou, se existiam, não se concretizaram. <br />Urge, pois, encarar o problema com realismo e com vista ao futuro. Creio ser absolutamente necessário, criar um organismo dependente directamente do Presidente do Conselho e dirigido por um Subsecretário de Estado adjunto, onde sejam tratados todos os problemas de informação (no sentido de quot; intelligencequot; ). A esse organismo competiria ainda o planeamento de operações de género desta e, para a execução das mesmas, agregaria os meios necessários. <br />O estado actual do funcionamento dos nossos serviços de informação é confrangedor, pela ausência duma estratégia nacional de informação. Chegamos mesmo ao ponto de termos órgãos de contra-informação a trabalharem em informação e a terem de dar satisfações a três ou quatro chefes diferentes. <br />Este assunto, é apenas mais um que se insere naquilo a que podemos chamar o problema da rectaguarda. <br />O insucesso do Golpe de Estado deu-se exclusivamente a deficiências de informação. A exacta localização dos MIG's teria sido a chave da acção. Mas isto só se conseguiria com agentes quot; in-Iocoquot; , dispondo de meios rádio que lhe permitissem, rapidamente, dar-nos a conhecer dados fundamentais. <br />É necessário, também, investigar cuidadosamente os indivíduos que se nos apresentam como chefes de oposições aos regimes africanos nossos adversários. O panorama que o FNLG nos apresentou sobre a situação na República da Guiné era basicamente correcto, mas falhou redondamente nos apoios que dizia ter. O próprio FNLG tinha duas tendências divergentes e para mal de nós escolhemos exactamente a mais desonesta para trabalhar connosco, o que aliás escrevi num memorandum entregue pelo Senhor Governador da Guiné ao Senhor Ministro do Ultramar. <br />Todos estes problemas e muitos outros, que seria ocioso enumerar, deviam ter sido estudados pelo organismo que acima sugiro. Creio que pode ser estruturado em dois ou três anos e, se dispuser dos meios necessários, teremos à disposição um trunfo muito importante para auxiliar na escolha das linhas estratégicas que conduzirão aos objectivos fixados pela Alta Política Nacionalquot; . <br /> <br />