1. APAE – Búzios, Formações Clínicas Campo
Lacaniano Rio de Janeiro e Fórum
Rio convidam para a I Jornada sobre:
Autismo, um debate atual: o sujeito em pleno
direito
dia 27 de setembro
Em 1911, Eugen Bleuler (1857-1939), psiquiatra suíço, criou o conceito de
‘autismo’ para nomear um sintoma da esquizofrenia, por ele descrito como a criação de
um mundo feito exclusivamente da realização de desejos. Mas ainda teríamos de esperar
muitos anos até que se começasse a falar em autismo infantil precoce. Pois somente em
1943, portanto trinta e dois anos depois, Leo Kanner (1894-1981) descreveria o quadro
clínico do “distúrbio autístico do contato afetivo” em que se observa um retraimento
severo desde os primeiros meses de vida. Kanner referiu-se às crianças que revelam
sinais de isolamento extremo e falta de apego ao ambiente, apresentam ecolalias ou
mantém-se em silêncio, evitam fixar o olhar nos outros, enfim, parecem recusar-se à
comunicação com os semelhantes.
Em 2013, estamos comemorando os setenta anos do trabalho pioneiro de Kanner.
É certo que ele não foi o único a se debruçar sobre o autismo infantil. Psicanalistas de
diferentes países, que atendiam crianças, também o fizeram. Entre eles: Margareth
Mahler (1900-1985), na Áustria e nos Estados Unidos, Francis Tustin (1913-1994),
primeiramente na Inglaterra, depois nos Estados Unidos e novamente na Inglaterra, e
Rosine e Robert Lefort, psicanalistas franceses que estiveram em diferentes países da
Europa e da América do Sul, falecendo, ambos, em 2007. No entanto, apesar de muitos,
o trabalho audacioso de Melanie Klein (1857-1939) merece certamente um destaque
especial. Com a publicação do caso Dick, em que ela defendia a possibilidade de
analisar uma criança bem pequena e diagnosticada como esquizofrênica, Melanie
propôs o que hoje se considera como o primeiro tratamento de uma criança autista dos
anais daPsicanálise.
Desde então, teve início uma polêmica. Educadores, médicos, psicanalistas e
outros profissionais que trabalham com crianças não cessaram de se interessar pelo
tema, porém com múltiplas abordagens. Jacques Lacan (1901-1981) chamou a atenção
para a leitura relativamente simplista que alguns psicanalistas haviam feito das relações
“papai, mamãe e neném”, calcadas em figuras imaginárias e na concepção de que os
pais são os principais culpados pelo autismo de seus filhos. Criou-se, assim, a figura
mítica da “mãe do autista.” Mas o determinismo psíquico é inconsciente e a transmissão
de uma a outra geração escapa à lógica da culpa direta. O que está em jogo é a relação
do sujeito com o Outro da linguagem, mesmo para aquele que não fala. Pois, se “o
momento em que o desejo se humaniza é também aquele em que a criança nasce para a
linguagem”, conforme as palavras de Lacan, em 1953, então o sujeito autista é o ser
humano por excelência, aquele que se detém nas portas da alienação aos significantes
do Outro. As palavras lhe pesam tanto, ele as toma com tamanha seriedade, que já não
pode usá-las. Mas não é essa a única característica de um autista. Ele deve ser ouvido
2. em sua singularidade de sujeito, de sujeito em pleno direito ao exercício de todas as
suas funções.
Em tempos atuais, o número de pessoas que só se comunicam com as máquinas -
notebooks, netbooks, ipads, tablets e ainda outras - ou que as utilizam como anteparo
para se aproximar do outro semelhante é incomensurável. O número de amigos
invisíveis e virtuais constituídos nas redes sociais é sempre tão fantástico e exagerado
que lembra as aventuras do “Barão de Münchhausen, o maior mentiroso do mundo”,
personagem que se equilibra entre a realidade e a fantasia. Acionada e atuada de forma
virtual, a fantasia dispensa o contato com o real que a presença do outro impõe. A
máquina se interpõe entre o sujeito e o semelhante, como elemento simultaneamente
facilitador e separador, objeto que encobre e mascara a subjetividade. “Que não haja
sujeitos!”, é o que ordena o discurso do capitalista, enquanto faz avançar a prática de
uma pedagogia ortopédica que visa treinar o autista de forma a adaptá-lo ao socius.
O enigma diante do desejo do Outro, sempre inquietante, é inerente a todo ser de
fala, mas não há respostas prontas, menos ainda universais. No entanto, podemos dizer
que, enquanto alguns recalcam a Outra cena e olham para o mundo da janela de sua
própria fantasia inconsciente, outros recorrem ao delírio, para recuperar o laço social.
Mas o que acontece com os sujeitos autistas? Existe reconciliação com o mundo para
eles?
É urgente atualizarmos a discussão sobre o diagnóstico e o tratamento do
autismo, à luz das antigas e novas teorias. É mister discutirmos a utilização que os
sujeitos vem fazendo de objetos cada vez mais complexos e, em certo sentido, mais
particulares. Embora produzidos no mundo exterior, de onde são extraídos, os objetos
trazem à cena o inconsciente de cada sujeito. Um exemplo clássico é a “máquina de
Joey”, descrita por Bruno Bettelheim (1903-1990), ou ainda a “máquina do abraço”
descrita na autobiografia de Mary Temple Grandin (1947), diagnosticada como “autista
de alto funcionamento”, por ter revolucionado as práticas para tratamento racional de
animais em fazendas e abatedouros.
Para que servem esses objetos? Por que os autistas têm tanto apego a eles? São
objetos que entravam ou favorecem o desenvolvimento do autista? São eles vetores de
uma abertura ou de um fechamento do inconsciente? Uma imposição do discurso
capitalista ou um recurso de subjetivação, aos moldes do “objeto transicional” de
Donald W. Winnicott (1986-1971) e do “objeto a” de Jacques Lacan?
É fato que os autistas apresentam uma profusão de condutas que não
compreendemos, mas que comunicam algo. Podemos citar o tão frequente hábito de
taparem os ouvidos com as mãos, como forma de dizer que não querem mais ouvir. Em
1974, na cidade de Genebra, Lacan pronunciou uma conferência sobre o sintoma.
Indagaram-lhe sobre o tratamento dos autistas, e ele então lembrou que os autistas têm
algo a nos dizer, e que é preciso que nós também tenhamos o que lhes dizer. Pois,
se emitem “signos congelados”, aqueles que souberem compartilhar tais signos,
compartilharão “momentos criativos da vida”. Pois somente o desejo pode legitimar
uma “abnegação”, ou melhor, uma prática de cuidados que, sem desejo, seria
necessariamente vivida pelos autistas como um intrusão aniquiladora. Um desejo nunca
é um cuidado anônimo.
Convocamos todos ao debate e à legitimação da criança autista como um sujeito
em pleno direito.
Elisabeth da Rocha Miranda (Presidente de FCCL-Rio)
Vera Pollo (Coordenadora do Fórum Rio)
Inscrições:
3. Até 30 de julho:
Profissionais R$50, 00 e Estudantes R$30,00
Até 15 de setembro:
Profissionais R$70, 00 e Estudantes R$50,00
No local:
R$100,00
Informações: Sede de FCCL-Rio
Rua Goethe 66 –Botafogo – email: secretaria@fcclrio.org.br
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