1. Desde Novembro que os nossos dias são passados entre trincheiras, numa guerra que
se faz entre três frentes. De um lado da batalha aparecem as escolas que se governam com os
contratos de associação que há anos fizeram com o Estado, estão os pais, alunos, funcionários
docentes e não docentes. Em outra frente surge a senhora Ministra da Educação, todos os
senhores políticos e todo o poderio que neste nosso país fala sem saber bem de quê, larga
bombas sem saber onde e maltrata sem saber quem. E depois, e em segredo, surge o exército
que se ergue em maior número, o que nos apunhala com mais força – que de políticos não
temos medo –, vem a força que apareceu do meio da neblina, o inimigo que mais nos
atormenta e aquele que à partida desvalorizámos. Erro nosso, que a esse adversário
chamamos ignorância e a ignorância é a arma das gentes e trava-nos os passos que queremos
dar em frente. São comentários infundados, são opiniões alheadas, frases ocas, juízos errados,
é a ignorância do povo.
É revoltante ouvir tantas opiniões que se acham sabidas mas que na verdade do
assunto nada sabem, é revoltante estar do lado fraco da batalha mas é também revigorante
ver que os fracos são só fracos no estatuto e que se revelam fortes na atitude, enquanto os
outros, com a força nas mãos, agem como homens fracos que vêm sendo.
O meu nome é Marta Duarte e sou aluna do Externato de Penafirme há já quase oito
anos. Frequento esta escola porque, na verdade, não tive leque de escolha, uma vez que é a
escola que acolhe todos os alunos da minha área de residência. Sorte a minha, sorte a nossa,
que temos a oportunidade de frequentar uma escola pública e gratuita onde, mais que
ensinados, somos educados. Se a educação é um luxo, se os valores são um luxo então não
tenho problemas em afirmar que os alunos do Externato de Penafirme têm um grande luxo.
Sem piscinas, campos de golfe, cavalos ou grandes carros, que foram disparates desses que
nos lançou a ministra, temos o luxo da educação de qualidade. Sem passar por qualquer
processo de selecção, sem pagar qualquer tipo de propinas, frequentando uma escola pública
e gratuita, que consegue oferecer um excelente nível de ensino, ensinando-nos a cidadania.
Na minha escola sou pessoa e no meu país sou uma peça do futuro, mas para políticos
e ministros sou um número, um dado estatístico, uma despesa, uma criancinha, diz-me a
Ministra. Corrompem-nos a liberdade e vandalizam-nos a educação e nem se apercebem que
em vez da economia, este é o principal problema dos nossos dias, porque para resolverem
buracos económicos, abrem-nos gigantes onde é preciso ser consistente.
Marta Duarte, aluna do 12º ano, Curso de Artes Visuais do Externato de Penafirme