Este documento discute a doença de Alzheimer, incluindo sua incidência e prevalência, impacto econômico, e o uso da memantina no tratamento. A prevalência entre pessoas com mais de 60 anos é de aproximadamente 5% para homens e 6% para mulheres. A doença de Alzheimer representa 50% dos casos de demência e tem um grande impacto econômico. A memantina é eficaz no tratamento dos sintomas moderados a graves da doença de Alzheimer ao bloquear os receptores NMDA e prevenir danos neuronais.
Doença de Alzheimer: aspectos da utilização da memantina no tratamento
1. 167
REB Volume 6 (2): 167-174, 2013
ISSN 1983-7682
DOENÇA DE ALZHEIMER:
ASPECTOS EPIDEMIOLÓGICOS DA UTILIZAÇÃO DA MEMANTINA NO
TRATAMENTO1
ALZHEIMER'S DISEASE:
EPIDEMIOLOGICAL ASPECTS OF THE USE IN THE TREATMENT of
MEMANTINE
César Augusto Soares da Costa1
; Rosa Maria Braga Lopes de Moura2
.
1 Professor-tutor da Universidade Federal do Rio Grande/FURG.
2 Mestranda da Universidade do Museu Social Argentino/UMSA
Contato: csc193@hotmail.com
Resumo: Segundo o Relatório sobre a saúde no mundo, divulgado pela Organização
Mundial da Saúde em 2001, a prevalência entre maiores de 60 anos é de,
aproximadamente, 5% para o sexo masculino e 6% para o feminino. Não há indícios de
qualquer diferença na incidência por sexo, mas o número de mulheres com Alzheimer é
maior por ser a longevidade no sexo feminino. Por ser uma doença crônica de evolução
lenta (podendo durar até 20 anos) e somando-se ao fato de que, nas fases avançadas, o
paciente torna-se dependente, incapaz por si de alimentar-se ou vestir-se. Assim, o
objetivo deste artigo é abordar os problemas decorrentes da incidência social nos
portadores de Alzheimer, a importância da saúde nos cuidadores da doença, bem como
do uso da Memantina no tratamento da patologia. Foi utilizada a pesquisa bibliográfica
pertinente ao nosso foco de estudo. Por fim, assinalamos para a importância da
utilização da memantina como um dos tratamentos mais eficazes para portadores da
doença de Alzheimer.
Palavras-chave: Cuidadores, Doença de Alzheimer, Memantina.
1
Este trabalho foi apresentado como requisito final para obtenção do título de Especialização em
Genética e Ambiente na Universidade Católica de Pelotas/UPCEL.
2. 168
ABSTRACT: According to the Report on world health, published by the World Health
Organization in 2001, the prevalence among people over 60 is approximately 5% for
males and 6% for females. There are not any evidences of any difference in incidence
by sex, but the number of women with Alzheimer's Disease is larger due to greater
longevity in females. Since it is a chronic disease of slow evolution (which can last up
to 20 years) and adding to the fact that in advanced stages the patients become
dependent, unable by itself to feed or clothe themselves. This paper’s goal is to address
the social problems arising from the incidence in patients with Alzheimer's, the
importance of health in caregivers of disease as well as the use of memantine in the
treatment of disease. A relevant literature search was used to the focus of this study.
Thus, we stress the importance of the use of memantine as one of the most effective
treatments for patients with Alzheimer's disease.
Keywords: Caregivers, Alzheimer's, Memantine.
Incidências e a prevalência da doença de Alzheimer
O início da doença de Alzheimer geralmente ocorre após 65 anos de idade,
embora não seja raro seu início mais cedo, essencialmente em países onde o período
esperado de vida é mais curto, como por exemplo, a Índia. Com o avançar da idade,
aumenta rapidamente a incidência (duplicada a cada cinco anos). Isso tem óbvias
repercussões no número total de pessoas que vivem com esse transtorno, à medida que
aumenta a esperança na população.
Segundo o Relatório sobre a Saúde no Mundo, divulgado pela Organização
Mundial da Saúde em 2001, a prevalência entre maiores de 60 anos é de,
aproximadamente, 5% para o sexo masculino e 6% para o feminino. Não há indícios de
qualquer diferença na incidência por sexo, mas o número de mulheres com Alzheimer é
maior por ser a longevidade no sexo feminino.
Por ser uma doença crônica de evolução lenta (podendo durar até 20 anos) e
somando-se ao fato de que, nas fases avançadas, o paciente torna-se dependente,
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incapaz por si de alimentar-se ou vestir-se. O impacto econômico sobre a sociedade é
considerável.
Materiais e Métodos
Para este exame, utilizamos a pesquisa bibliográfica pertinente ao nosso foco de
estudo. Dados estatísticos demonstram que nos Estados Unidos em 1986 foram gastos
de 25 a 40 bilhões de dólares. Atualmente a doença de Alzheimer custa a cada ano à
sociedade norte-americana cerca de 100 bilhões de dólares, sendo que o governo arca
com pouco mais de 10 bilhões. Isto quer dizer que mais de 90 bilhões de dólares são
gastos pelo paciente e suas famílias em exames complementares e cuidados prestados
diretamente ao paciente.
A doença representa 50% dos casos de demência nos EUA e na Grã-Bretanha.
Cerca de 4,5 milhões de americanos, atualmente, são portadores de Alzheimer, que é
responsável por 100 mil óbitos por ano, sendo a quarta causa mortis em adultos nesses
países, perdendo apenas para infarto, derrame e câncer (SMITH, 1999). Estima-se que
no ano 2040, 12 a 14 milhões de americanos serão portadores de Alzheimer.
No Brasil, não temos dados estatísticos concretos sobre a doença, porém,
podemos afirmar que presença da doença de Alzheimer também é significativa em
nosso país atingindo cerca de 1,2 milhões de brasileiros. Sabendo que a família média
brasileira de 3 a 4 pessoas, somos remetidos a cifras assustadoras, uma vez que desse
modo a doença de Alzheimer atinge direta ou indiretamente mais de 4 milhões de
pessoas em nosso pais.
Resultados e Discussão
Embora a doença de Alzheimer corresponda a 50% das demências existentes,
não existem, até o presente, métodos que permitam o diagnóstico clínico definitivo.
Atualmente, o diagnóstico clínico de Alzheimer ocorre por exclusão, por meio do
descarte de outras patologias que poderiam estar causando os mesmos sintomas da
doença, como tumores e complicações cerebrais.
Quanto mais a família e os cuidadores entenderem a patologia e sua evolução,
maiores as chances de aprender estratégias e usufruir recursos paliativos com sucesso. O
envolvimento da família é um componente-chave no tratamento contínuo do paciente
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com demência. Da mesma forma, que a manutenção de um bom suporte médico,
odontológico, psicológico e nutricional ocorra, para que o paciente e os cuidadores
mantenham ou melhorem o bem estar fisiológico, psicológico e social do portador
(GOODMAN et alii,1993).
Apesar do cuidador do portador de Alzheimer não ser o paciente primário
(SNYDER, 2001), deve-se atentar também para as suas necessidades. Como já foi
demonstrado em diversos estudos, os cuidadores são mais suscetíveis a infecções e mais
deprimidos do que indivíduos não cuidadores (KIECOLT-GLASER et alii, 1995;
SNYDER, 2001). Uma frase exemplifica bem esta questão: “Eu me sinto como se
minha perna tivesse sido amputada, mas é meu marido quem está sendo preparado para
recebê-la” (SNYDER, 2001).
Proporcionar cuidado a um cônjuge com Alzheimer ou outras demências
progressivas está associado a muito sofrimento. O curso da doença é imprevisível, como
é a rapidez do declínio; a única certeza é sua morte, pois o tempo de sobrevivência
depois da instalação da doença que varia entre 8 e 20 anos (DURA et alii, 1990).
A Memantina é o primeiro e único medicamento de uma classe – antagonistas do
receptor N- metil – D – aspartato (NMDA) – para pacientes com Alzheimer,
principalmente nos estágios de moderado a grave. É o único medicamento aprovado
para esta indicação, em que nenhum tratamento estava antes disponível. A memantina é
eficaz e bem tolerada no tratamento de sintomas-chave em pacientes com Alzheimer de
moderada a grave. Devido ao seu mecanismo único de ação, a memantina restabelece a
transmissão neuronal glutamartérgica em um nível fisiológico e impede os efeitos de
níveis patologicamente elevados tônicos de glutamato sináptico, que podem conduzir à
disfunção neuronal.
O objetivo do tratamento com a memantina é tornar mais lenta a progressão dos
sintomas de Alzheimer e, desse modo, melhorar a vida diária, ou pelo menos impedir a
deterioração para executar as atividades diárias, pois o tratamento reduz a sobrecarga e
o estresse dos cuidadores. Preservada a independência do paciente, este e seus
cuidadores, mantém a qualidade de vida por tanto tempo quanto possível. E os
pacientes podem ser capazes de permanecer em casa por mais tempo antes de serem
admitidos em locais para cuidados delonga duração, e de alto custo, como clínicas
especializadas e hospitais privados.
5. 171
As propriedades da memantina – antagonista NMDA dependente de voltagem,
de afinidade moderada, não competitiva – podem explicar as melhoras cognitivas
observadas após o tratamento de cpacientes dementes, em comparação ao placebo. A
memantina é menos dependente de voltagem que o Mg 2+ basal através de receptores
NMDA. Quanto mais os níveis de glutamato na fenda sináptica são aumentados de
forma transitória, a despolarização resultante da membrama pós-sináptica é suficiente
para deslocar a memantina e permitir o influxo de Ca2+ como resultado de estimulação
mais forte.
Em conseqüência, a memantina reduz seletivamente o influxo elevado de Ca2+
basal através de receptores NMDA nas demências, mas devido à sua dependência de
voltagem não afeta o fluxo de Ca2+ sob estímulo fisiológico.
Segundo a hipótese glutamatérgica, o comprometimento cognitivo observado
nos distúrbios neuroprotetores neurodegenerativos como a doença de Alzheimer é
causado pela superativação dos receptores NMDA conduzindo os influxos excessivos
de Ca e danos neuronais. O objetivo do tratamento deve ser, portanto, impedir danos
neuronais adicionais sem impedir a plasticidade neuronal necessária ao processo de
aprendizado e memória.
Como as propriedades de ligação ao receptor da memantina são menos
dependentes de voltagem ao magnésio, a memantina bloqueia receptor NMDA na
presença de níveis elevados prolongados de glutamato sináptico, mais é deslocada
durante a ativação fisiológica que ocorre nos processos de aprendizado e memória.
Dessa maneira, a memantina possui o potencial para proteger os neurônios de
excitoxidade sem inibir a plasticidade neuronal. Isto está em contraste evidente com a
dizocilpina, que inibe a Potenciação de longa duração (LTP) e o aprendizado.
O efeito neuroprotetor foi demonstrado em doses que produzem níveis
plasmáticos no estado de equilíbrio em animais que são comparáveis aos atingidos com
doses terapêuticas da memantina em humanos. As concentrações plasmáticas no estado
de equilíbrio da memantina variam de 0,5 a 1,0 após uma dose de 20mg/dia no portador.
Isto equivale a 2,4 – 5,0mg/Kg por via intraperitonial ou 20mg/Kg ao dia por infusão
subcutânea usado em minibombas osmótica Alzet em ratos.
A alta concentração de glutamato promove a entrada anormal de cálcio no
interior do neurônio levando-o a morte. Fica claro que se esse excesso é controlado e
6. 172
bloqueado automaticamente, e os neurônios são preservados desse fenômeno. A
memantina faz exatamente isso. Impede que os níveis elevados de glutamato atuem
sobre a molécula receptora do glutamato no neurônio adjacente evitando o fluxo
excessivo de cálcio que levaria à morte neuronal.
É sabido que a acetilcolina é um neurotransmissor muito importante e
diretamente relacionado com a doença de Alzheimer (MOURA, 2005), porém não é o
único. Existe perto de uma centena de outros neurotransmissores que também podem
estar envolvidos com a doença. O glutamato é um desses neurotransmissores cujo
excesso é altamente tóxico para os neurônios.
Pacientes que recebem memantina mostram declínio cognitivo menor com
destaque para a atenção, linguagem, execução de tarefas, habilidade visual e memória.
Observa-semelhora nas atividades do dia-dia como alimentar-se, banhar-se, vestir-se,
etc. Pois a memantina já foi utilizada em mais de um milhão de pacientes com poucos
efeitos colaterais, em geral gastro-intestinais: constipação,vômitos e etc.
A memantina não é uma droga nova. Já era comercializada na Alemanha com o
nome de Akatinol desde 1980, mas com indicações diferentes e sem ter sido submetida
a estudos controlados. Em 1999, o primeiro trabalho confiável realizado no Instituto
Karolinska, na Suécia, demonstrou resultados positivos tanto em Alzheimer, como em
demências vasculares graves. Assim, a memantina foi aprovada pelo FDA como droga
para o tratamento da doença de Alzheimer em outubro de 2003, estando indicada nas
fases moderada e severa da moléstia de Alzheimer.
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