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Especial 
Infra-estrutura 
É preciso vencer essa guerra 
O Brasil exercitou, por anos a fio, o escapismo de atribuir a inimigos 
externos ou fictícios a culpa por suas mazelas. Perdeu, com isso, tempo 
precioso. Agora que enxerga a possibilidade de uma nova fase de 
crescimento rápido, o país terá de vencer antes uma batalha contra um 
adversário impiedoso e real. Uma batalha cujo desfecho definirá sua 
capacidade de sobreviver como competidor de peso na economia mundial. 
O inimigo está dentro de suas próprias fronteiras. São os portos 
ineficientes, as estradas malconservadas, as ferrovias obsoletas e a falta 
de energia. Nas páginas seguintes, VEJA mostra como a precariedade da 
infra-estrutura mina a competitividade do país. Indica também alternativas 
que deveriam ser postas em prática a curto prazo para começar a reverter 
esse quadro. 
Giuliano Guandalini 
Foto Paulo Vitale - Ilustração Samhart 
É alentador o fato de o governo Lula ter anunciado, no 
início do ano, um programa para destravar 
VEJA TAMBÉM 
investimentos em infra-estrutura, o Programa de 
Exclusivo on-line 
Aceleração do Crescimento (PAC). Mais salutar será se 
• Em profundidade: Crescimento 
perseguir seus objetivos com afinco. Não fosse por 
econômico 
essas deficiências, o produto interno bruto (PIB) do 
Brasil poderia ser hoje cerca de 250 bilhões de reais maior. É como se uma 
economia do tamanho da do Chile ou da Colômbia fosse a cada ano extirpada do 
país. Não se trata apenas de uma questão econômica. Morre-se tanto por acidentes 
em trechos malconservados de ruas e rodovias brasileiras quanto em atentados 
terroristas na rodovia que liga o centro de Bagdá ao principal aeroporto do Iraque. 
Nos piores trechos, as estradas brasileiras têm até cinco buracos por metro 
quadrado de pista – poucos bombardeios aéreos conseguiriam produzir tantos alvos 
em espaço tão exíguo. Nessas condições, é mais difícil, mais lento e mais caro 
transportar mercadorias pelo país. Um exemplo do desgaste que isso representa: 
os pneus de caminhões duram metade do tempo de vida que eles têm nos Estados
Unidos. Tudo isso torna a economia menos eficiente, pouco competitiva e com 
um potencial de crescimento mais baixo. As dificuldades estão longe de se 
restringir ao transporte rodoviário. A crise aérea fez regredir em mais de uma 
década a qualidade dos serviços nos aeroportos e companhias aéreas; menos da 
metade dos passageiros chega a seus destinos dentro do horário previsto. Os 
portos brasileiros aparecem entre os mais caros e lentos do planeta. A malha 
ferroviária decresceu – e a velocidade média dos trens de carga é a mesma de 
uma maria-fumaça do século XIX. Sem falar no setor energético, cujas novas 
usinas demoram a sair do papel, deixando o país sob o risco de um novo apagão. 
Competir no mercado mundial em tais condições é como correr uma maratona 
carregando nas mãos um peso de 20 quilos. E, considerando a falta de 
investimentos, com desidratação. "A infra-estrutura brasileira está há muito 
tempo sem investimento. Ao passo que a China vem fortalecendo esse setor há 
trinta anos", diz Gene Huang, economista-chefe da americana FedEx Corporation, 
uma das maiores empresas de logística do planeta. Até o início dos anos 80, o 
Brasil investia em infra-estrutura, anualmente, o equivalente a até 6% de seu 
PIB. Hoje, esse porcentual caiu para 3%. Um dos principais entraves é a tímida 
participação privada, mesmo na comparação com os vizinhos latino-americanos. 
As privatizações sanaram os gargalos em algumas áreas, sobretudo no setor de 
telecomunicações, mas falta muito a ser feito. Apenas 10.000 quilômetros de 
rodovias estão sob administração privada, o equivalente a exíguos 5% da malha 
pavimentada do país. No Chile, a participação do setor privado na geração de 
energia é o triplo daquela vista no Brasil. Mas por que não existe mais investimento 
privado? Principalmente porque as regras não são transparentes e – pior – nem 
sempre são respeitadas, como mostra o alto volume de contratos de concessão 
renegociados no Brasil: 41% foram alterados de alguma maneira, seja por decisões 
judiciais, seja por medidas do governo. Na América Latina, a média é de 30%. 
Além disso, falta liberdade de ação para que empresas possam explorar com lucro 
os setores em que os investimentos são emergenciais. Por essas e outras razões, 
não é surpresa que o Brasil perca terreno para os concorrentes na economia global. 
É preciso agir. 
Um exemplo de como o gargalo da infra-estrutura fragiliza a 
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O quadro mostra como a infra-estrutura precária do 
Brasil boicota sua capacidade de produzir bens de 
VEJA TAMBÉM 
Nesta reportagem 
forma competitiva. A soja é um dos principais 
• Quadro: A infra-estrutura 
produtos de exportação do país – cerca de 30 
milhões de toneladas ao ano são vendidas ao exterior. O clima favorável, a mão-de- 
obra barata e a terra abundante tornam o Brasil um país ideal para a produção 
desse vegetal. Ocorre que as vantagens vão se esvaindo à medida que a produção 
atravessa a porteira da fazenda e cai nas estradas vilipendiadas do interior do país. 
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trunfos dos competidores brasileiros. 
O caso da soja é apenas um dos mais vistosos. O gargalo logístico impõe a esses 
exportadores perdas de 2 bilhões de reais por ano e impede o aumento da 
produtividade no campo brasileiro. (Produtividade é o total produzido por hora, 
levando-se em conta os trabalhadores, as máquinas e os equipamentos.) Quando 
uma empresa investe e compra uma máquina mais eficiente, por exemplo, eleva 
sua produtividade. Mas, quando o país onde ela está instalada oferece péssimas
condições de infra-estrutura, esse esforço se anula. Isso porque rodovias e portos 
ineficientes produzem gastos adicionais e impõem desperdícios que limitam sua 
capacidade de produzir e expandir seus lucros. Portanto, sem infra-estrutura 
compatível, uma camisa-de-força restringe o desenvolvimento nacional. Em outras 
palavras, não basta aumentar o volume de crédito para fazer a economia 
deslanchar. É preciso meios adequados para que as empresas possam produzir, 
transportar mercadorias e exportar. Segundo estimativas do economista Sérgio 
Vale, da consultoria MB Associados, a taxa de crescimento potencial do país está 
hoje na casa dos 4%. É uma espécie de teto, um limite que não pode ser 
ultrapassado sem inflação, dadas as condições logísticas do país. Sem os problemas 
de infra-estrutura, poderíamos crescer até 6% ao ano. 
Julia Duailibi
Vôo rumo ao atraso 
A crise aérea "aumentou distâncias" e tornou a economia 
brasileira mais lenta num mundo que prima pela agilidade 
Rosana Zakabi, 
com reportagem de Marcio Orsolini 
Uma das soluções mais eficientes para contornar a 
crise aérea, segundo os consultores, seria a 
VEJA TAMBÉM 
participação mais ativa da iniciativa privada no setor. 
Nesta reportagem 
Um bom exemplo é o Aeroporto Internacional de Porto 
• Quadro: Geografia do atraso 
Seguro, na Bahia, cuja administração foi concedida à 
empresa Sinart em 2000. As instalações do aeroporto foram ampliadas e 
modernizadas. Antes da concessão, ele recebia vôos apenas da Argentina e do 
Uruguai. Hoje, de lá se voa também para Chile, Portugal, França, Holanda e Itália. 
O número de passageiros saltou de 300.000 para 700.000 ao ano. Por que esse 
exemplo não se repete nos maiores aeroportos do país? Não se sabe com exatidão. 
Em tese, bastaria que o governo decidisse tirar da estatal Infraero ao menos parte 
dos 67 aeroportos administrados atualmente por ela (a Infraero nunca esteve em 
Porto Seguro, o que facilitou a concessão). 
Outra opção seria autorizar investimentos estrangeiros na construção de novos 
aeroportos. Aí aparece outro entrave, do Código Brasileiro de Aeronáutica: existe 
um limite no investimento de capital estrangeiro no setor. Pela lei, empresas não 
brasileiras só podem deter 20% do valor de companhias que administram 
aeroportos. Multinacionais interessadas em investir no setor não faltam. É preciso 
atraí-las, pois sabem gastar dinheiro com eficiência, já que precisam ter lucro. Ao 
menos, gastam melhor que a Infraero. Nos últimos quatro anos, a empresa que 
pertence ao governo federal gastou 3 bilhões de reais para reformar aspectos 
periféricos de doze aeroportos brasileiros. Investiu-se muito mais nos terminais de 
passageiros do que em itens básicos e estruturais, como pistas e pátios. Sem falar 
nas denúncias de corrupção e incompetência na execução das obras. É um 
descalabro.
Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 
Foto Alex Silva/AE 
Ilustração Samhart 
http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial05.html [2/4/2008 14:21:13]
Setor descarrilado 
A soja e o minério brasileiros são escoados por uma malha ferroviária tão 
eficiente quanto a dos Estados Unidos da década de 30 
Cíntia Borsato 
O governante brasileiro que mais construiu ferrovias 
foi dom Pedro II, o pioneiro a fazê-lo no país, ainda no 
VEJA TAMBÉM 
século XIX. Foram 9.000 quilômetros de trilhos -- o 
Nesta reportagem 
equivalente a um terço da atual extensão da malha 
• Quadro: A passos de tartaruga 
brasileira. Depois da proclamação da República, sob o 
embalo do ciclo do café, as ferrovias avançaram para o 
interior e se transformaram no principal meio de transporte do país. Os trens 
descarrilaram a partir da década de 50, sob o governo de Juscelino Kubitschek. O 
país abraçou os carros e caminhões como seus principais meios de transporte. A 
malha férrea, que havia atingido 38.000 quilômetros, regrediu. Hoje, não passa de 
29 000 quilômetros, extensão idêntica à do início do século passado. Nos últimos 
anos, o Brasil foi obrigado a redescobrir o transporte ferroviário, pois é 
praticamente impossível -- e economicamente inviável -- transportar, em 
caminhões, mercadorias como minério de ferro. Mas as linhas estão à beira da 
saturação. As malhas são antiquadas e cruzam centros urbanos e favelas, o que 
obriga os maquinistas a reduzir a velocidade. 
Houve um certo progresso desde a concessão das linhas à iniciativa privada, em 
1996. O número de vagões cresceu e a frota de máquinas foi modernizada. Mas os 
investimentos públicos foram insuficientes. "É de responsabilidade do governo 
expandir a malha, e isso não está sendo feito. As concessionárias aumentaram a 
produtividade. No entanto, vamos chegar ao limite em 2010", diz Rodrigo Vilaça, 
presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários. Dificilmente os 
trens voltarão a ser uma forma relevante de transporte de passageiros no país. Os 
investimentos seriam muito elevados e poucas rotas teriam um movimento 
suficiente para torná-los rentáveis. Uma delas seria o trem-bala entre o Rio e São 
Paulo.
Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 
Foto Paulo Liebert/AE 
Ilustração Samhart 
http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial06.html [2/4/2008 14:22:19]
Buracos que engolem vidas e lucros 
Somente 8% das estradas brasileiras são asfaltadas – e quase todas elas 
estão em condições ruins ou péssimas 
Giuliano Guandalini 
O ano de 1997 foi pródigo na divulgação de boas 
novas para as estradas. Noticiou-se que duas das 
VEJA TAMBÉM 
rodovias federais mais movimentadas e perigosas do 
Nesta reportagem 
país, a Fernão Dias e a Régis Bittencourt, seriam 
• Quadro: Uma guerra no Iraque 
concedidas à iniciativa privada. Ela as transformaria 
por ano 
em vias de Primeiro Mundo. Dez anos se passaram e 
nada daquilo se concretizou: o projeto pula, há uma década, de um gabinete a 
outro nos corredores da burocracia de Brasília e até hoje não saiu do papel. Chega-se 
a levar quinze anos entre a concepção e a inauguração de uma rodovia no país, 
de acordo com o professor Luiz Afonso Senna, da Escola de Engenharia da 
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na China e na Índia, o prazo médio é 
de três anos. "Não podemos perder mais tempo, nossos concorrentes estão 
voando. A China comunista é hoje o país que mais faz concessão privada de 
rodovias", afirma Senna. 
Enquanto o Brasil não contorna esse impasse, 6.000 pessoas morrem, a cada ano, 
apenas nas estradas federais – o equivalente a trinta acidentes com o avião da 
TAM. O trânsito é uma das principais causas de morte no país. São cerca de 40.000 
vítimas todos os anos, uma das taxas mais elevadas do planeta – e as más 
condições das estradas têm relação direta com a maioria dessas baixas. Além de 
ser uma questão de saúde pública, a péssima qualidade das estradas é um fardo 
pesado para a competitividade do país. No Brasil, o frete é mais caro e mais 
demorado do que nos países desenvolvidos. A Rodovia BR-349, na Bahia, dá a 
dimensão do drama. Um levantamento da empresa de ônibus Real Expresso revela 
que existem 1.200 buracos num trecho de 80 quilômetros – ou um buraco a cada 
67 metros. É como se, a cada 67 metros, um naco da produtividade brasileira 
ficasse pelo caminho.
Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 
http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial.html [2/4/2008 14:24:28]
Âncoras que seguram o crescimento 
Parados no tempo, os portos são caros, lentos e incapazes de garantir ao 
país um bom escoamento de sua produção 
Julia Duailibi 
Um longo caminho é percorrido pelas sandálias 
Havaianas da fábrica da Alpargatas em Campina 
VEJA TAMBÉM 
Grande, na Paraíba, até os pés de consumidores 
Nesta reportagem 
europeus e americanos. Da Paraíba, elas são levadas 
• Quadro: Os portos brasileiros 
ao Porto de Santos, em São Paulo, de caminhão, num 
são mais ineficientes, mais 
caros, mais improdutivos e mais 
trajeto de quase 3 000 quilômetros que leva até cinco 
obsoletos 
dias. Só então ganham o rumo do Hemisfério Norte. 
Seria muito mais rápido e barato mandar os produtos 
de algum porto nordestino. Mas os únicos portos aparelhados na região dedicam-se 
quase exclusivamente à exportação de commodities e oferecem poucas alternativas 
de embarque. Os demais exportadores, muitos deles atraídos ao Nordeste por 
incentivos fiscais, ficam ilhados. Esse é um exemplo de como a falta de infra-estrutura 
corrói a competitividade do Brasil. Não fosse a dificuldade logística para 
levar as Havaianas até um dos oitenta países onde são vendidas -- dos 160 milhões 
de pares de sandália fabricados anualmente, perto de 10 milhões são exportados -- 
, as vendas externas da Alpargatas poderiam ser muito maiores. 
No Porto de Santos, o maior em movimentação de mercadorias do país, navios 
carregados esperam dias para deixar o cais. Muitos só conseguem fazê-lo quando a 
maré sobe. Isso porque o calado (profundidade) é muito baixo, de apenas 13 
metros. A licença ambiental para as obras de dragagem em Santos, que deverão 
aumentar a profundidade para 15 metros, demorou mais de um ano para sair. Não 
se trata de um detalhe. O calado é um indicador da vitalidade de um porto. Quando 
ele é raso, como são os brasileiros, os portos recebem navios com capacidade para 
até 6 000 contêineres. Nos grandes portos internacionais, os cargueiros atracam 
com o dobro da capacidade. Os exportadores tentam driblar o problema 
distribuindo a mercadoria em navios menores. Com isso, pagam mais caro pelo 
frete. Há ainda outros problemas. Poucos terminais operam com contêineres e 
grande parte do trabalho é feita por carregadores. Nada muito diferente dos 
tempos do Império.
Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 
Montagem sobre ilustração: Samhart e fotos: Justin Guariglia/CORBIS/LATIN STOCK 
http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial03.html [2/4/2008 14:25:26]
O Brasil pode apagar 
Sem investimento em novas usinas, não hverá crescimento econômico 
compatível com as necessidades do país 
Cíntia Borsato 
Há duas maneiras de medir o prejuízo causado pela 
falta de investimentos no setor energético. Pode-se 
VEJA TAMBÉM 
calcular o risco de um novo apagão. Como a oferta de 
Nesta reportagem 
eletricidade cresce num ritmo inferior ao do consumo, 
• Quadro: Às vésperas de um 
é provável que esse fantasma volte em 2010. Outra 
novo apagão 
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E aí se chega a uma conclusão surpreendente. Os brasileiros consomem sobretudo 
energia de fonte hídrica, 25% mais barata do que a nuclear. Mesmo assim, pagam 
tarifas mais caras do que na França, onde a energia nuclear reina absoluta. Isso 
ocorre por causa de uma série de fatores, todos desastrosos. O maior deles é a 
carga tributária. Ela representa metade do valor da conta de luz dos brasileiros. 
Além de absorver recursos da iniciativa privada, a tributação é usada para pagar 
contas de um governo endividado. Resultado: as contas de luz são caras, mesmo 
assim os investimentos não são feitos e, como conseqüência desse fato, é elevado 
o risco de faltar energia nos próximos anos. 
Estudo do professor Afonso Henriques Santos, da Universidade Federal de Itajubá, 
mostra que o governo Lula não iniciou nenhuma grande obra de geração de 
energia. Mais de 90% das usinas inauguradas pelo petista foram licitadas nos anos 
de Fernando Henrique Cardoso. Desde 2003, 17 500 megawatts foram 
acrescentados à matriz energética. Desses, apenas 1 700 megawatts foram 
contratados durante a atual administração, energia suficiente para abastecer não 
mais do que 5 milhões de residências. Afirma Claudio Sales, do Instituto Acende 
Brasil: "Sozinho, o governo não conseguirá suprir a demanda. É preciso dar 
segurança para que o setor privado invista".
Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 
Fotos Paulo Pinto/AE e Maurilo Clareto 
Ilustração Samhart 
http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial04.html [2/4/2008 14:26:16]
O que pode ser feito já 
As principais saídas apontadas por especialistas para reerguer a curto prazo 
a infra-estrutura do país 
ENERGIA 
Fernando Cavalcanti 
Usina de cana em São Paulo: bagaço como 
fonte alternativa de energia 
• Simplificar os procedimentos para a instalação de hidrelétricas 
• Estimular a concorrência no fornecimento de gás 
• Tornar atrativo o preço da energia gerada pelas usinas de bagaço de cana 
AVIAÇÃO 
Renata Carvalho 
Porto Seguro: eficiência após a concessão 
• Transferir para a iniciativa privada a gestão de grandes aeroportos, como 
Congonhas e Cumbica. Isso já ocorre com 10 aeroportos de pequeno porte 
• Mudar o Código Brasileiro de Aeronáutica para permitir que empresas possam ser 
donas de aeroportos 
• Separar e colocar nas mãos de empresas distintas as funções de administrar e 
fiscalizar aeroportos 
• Abolir o limite de 20% para investimento estrangeiro em aeroportos e 
companhias aéreas
ESTRADAS 
Antonio Milena/AE 
Bandeirantes, a melhor rodovia do país 
• Concluir a licitação para a melhoria de sete trechos das rodovias federais mais 
combalidas: BR-116 (dois trechos), BR-376, BR-381, BR-393, BR-153 e BR-101 
• Assegurar a rentabilidade justa para os investidores em estradas federais, como 
fez o estado de São Paulo com suas rodovias 
• Conceder autonomia e recursos à ANTT, agência reguladora federal do setor, hoje 
loteada politicamente e esfacelada 
• Fiscalizar com rigor o excesso de peso dos caminhões 
FERROVIAS 
• Retirar favelas das margens das linhas férreas 
• Construir o Ferroanel, para desafogar o transporte de cargas da área urbana de 
São Paulo 
• Aumentar a interconexão da malha ferroviária 
• Abrir licitação para a construção de novas ferrovias 
PORTOS 
Paulo Vitale 
Terminal privado em Santos 
• Abrir licitação para novas áreas portuárias 
• Acelerar as PPPs e a liberação de recursos para obras de melhoria do acesso 
terrestre aos portos 
• Proibir indicações políticas para cargos nas companhias Docas
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atracamento de supercargueiros 
Ilustração Samhart

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Infraestrutura precária freia o Brasil

  • 1. Especial Infra-estrutura É preciso vencer essa guerra O Brasil exercitou, por anos a fio, o escapismo de atribuir a inimigos externos ou fictícios a culpa por suas mazelas. Perdeu, com isso, tempo precioso. Agora que enxerga a possibilidade de uma nova fase de crescimento rápido, o país terá de vencer antes uma batalha contra um adversário impiedoso e real. Uma batalha cujo desfecho definirá sua capacidade de sobreviver como competidor de peso na economia mundial. O inimigo está dentro de suas próprias fronteiras. São os portos ineficientes, as estradas malconservadas, as ferrovias obsoletas e a falta de energia. Nas páginas seguintes, VEJA mostra como a precariedade da infra-estrutura mina a competitividade do país. Indica também alternativas que deveriam ser postas em prática a curto prazo para começar a reverter esse quadro. Giuliano Guandalini Foto Paulo Vitale - Ilustração Samhart É alentador o fato de o governo Lula ter anunciado, no início do ano, um programa para destravar VEJA TAMBÉM investimentos em infra-estrutura, o Programa de Exclusivo on-line Aceleração do Crescimento (PAC). Mais salutar será se • Em profundidade: Crescimento perseguir seus objetivos com afinco. Não fosse por econômico essas deficiências, o produto interno bruto (PIB) do Brasil poderia ser hoje cerca de 250 bilhões de reais maior. É como se uma economia do tamanho da do Chile ou da Colômbia fosse a cada ano extirpada do país. Não se trata apenas de uma questão econômica. Morre-se tanto por acidentes em trechos malconservados de ruas e rodovias brasileiras quanto em atentados terroristas na rodovia que liga o centro de Bagdá ao principal aeroporto do Iraque. Nos piores trechos, as estradas brasileiras têm até cinco buracos por metro quadrado de pista – poucos bombardeios aéreos conseguiriam produzir tantos alvos em espaço tão exíguo. Nessas condições, é mais difícil, mais lento e mais caro transportar mercadorias pelo país. Um exemplo do desgaste que isso representa: os pneus de caminhões duram metade do tempo de vida que eles têm nos Estados
  • 2. Unidos. Tudo isso torna a economia menos eficiente, pouco competitiva e com um potencial de crescimento mais baixo. As dificuldades estão longe de se restringir ao transporte rodoviário. A crise aérea fez regredir em mais de uma década a qualidade dos serviços nos aeroportos e companhias aéreas; menos da metade dos passageiros chega a seus destinos dentro do horário previsto. Os portos brasileiros aparecem entre os mais caros e lentos do planeta. A malha ferroviária decresceu – e a velocidade média dos trens de carga é a mesma de uma maria-fumaça do século XIX. Sem falar no setor energético, cujas novas usinas demoram a sair do papel, deixando o país sob o risco de um novo apagão. Competir no mercado mundial em tais condições é como correr uma maratona carregando nas mãos um peso de 20 quilos. E, considerando a falta de investimentos, com desidratação. "A infra-estrutura brasileira está há muito tempo sem investimento. Ao passo que a China vem fortalecendo esse setor há trinta anos", diz Gene Huang, economista-chefe da americana FedEx Corporation, uma das maiores empresas de logística do planeta. Até o início dos anos 80, o Brasil investia em infra-estrutura, anualmente, o equivalente a até 6% de seu PIB. Hoje, esse porcentual caiu para 3%. Um dos principais entraves é a tímida participação privada, mesmo na comparação com os vizinhos latino-americanos. As privatizações sanaram os gargalos em algumas áreas, sobretudo no setor de telecomunicações, mas falta muito a ser feito. Apenas 10.000 quilômetros de rodovias estão sob administração privada, o equivalente a exíguos 5% da malha pavimentada do país. No Chile, a participação do setor privado na geração de energia é o triplo daquela vista no Brasil. Mas por que não existe mais investimento privado? Principalmente porque as regras não são transparentes e – pior – nem sempre são respeitadas, como mostra o alto volume de contratos de concessão renegociados no Brasil: 41% foram alterados de alguma maneira, seja por decisões judiciais, seja por medidas do governo. Na América Latina, a média é de 30%. Além disso, falta liberdade de ação para que empresas possam explorar com lucro os setores em que os investimentos são emergenciais. Por essas e outras razões, não é surpresa que o Brasil perca terreno para os concorrentes na economia global. É preciso agir. Um exemplo de como o gargalo da infra-estrutura fragiliza a economia O quadro mostra como a infra-estrutura precária do Brasil boicota sua capacidade de produzir bens de VEJA TAMBÉM Nesta reportagem forma competitiva. A soja é um dos principais • Quadro: A infra-estrutura produtos de exportação do país – cerca de 30 milhões de toneladas ao ano são vendidas ao exterior. O clima favorável, a mão-de- obra barata e a terra abundante tornam o Brasil um país ideal para a produção desse vegetal. Ocorre que as vantagens vão se esvaindo à medida que a produção atravessa a porteira da fazenda e cai nas estradas vilipendiadas do interior do país. Com um transporte mais eficiente e menos custoso, os americanos anulam os trunfos dos competidores brasileiros. O caso da soja é apenas um dos mais vistosos. O gargalo logístico impõe a esses exportadores perdas de 2 bilhões de reais por ano e impede o aumento da produtividade no campo brasileiro. (Produtividade é o total produzido por hora, levando-se em conta os trabalhadores, as máquinas e os equipamentos.) Quando uma empresa investe e compra uma máquina mais eficiente, por exemplo, eleva sua produtividade. Mas, quando o país onde ela está instalada oferece péssimas
  • 3. condições de infra-estrutura, esse esforço se anula. Isso porque rodovias e portos ineficientes produzem gastos adicionais e impõem desperdícios que limitam sua capacidade de produzir e expandir seus lucros. Portanto, sem infra-estrutura compatível, uma camisa-de-força restringe o desenvolvimento nacional. Em outras palavras, não basta aumentar o volume de crédito para fazer a economia deslanchar. É preciso meios adequados para que as empresas possam produzir, transportar mercadorias e exportar. Segundo estimativas do economista Sérgio Vale, da consultoria MB Associados, a taxa de crescimento potencial do país está hoje na casa dos 4%. É uma espécie de teto, um limite que não pode ser ultrapassado sem inflação, dadas as condições logísticas do país. Sem os problemas de infra-estrutura, poderíamos crescer até 6% ao ano. Julia Duailibi
  • 4.
  • 5. Vôo rumo ao atraso A crise aérea "aumentou distâncias" e tornou a economia brasileira mais lenta num mundo que prima pela agilidade Rosana Zakabi, com reportagem de Marcio Orsolini Uma das soluções mais eficientes para contornar a crise aérea, segundo os consultores, seria a VEJA TAMBÉM participação mais ativa da iniciativa privada no setor. Nesta reportagem Um bom exemplo é o Aeroporto Internacional de Porto • Quadro: Geografia do atraso Seguro, na Bahia, cuja administração foi concedida à empresa Sinart em 2000. As instalações do aeroporto foram ampliadas e modernizadas. Antes da concessão, ele recebia vôos apenas da Argentina e do Uruguai. Hoje, de lá se voa também para Chile, Portugal, França, Holanda e Itália. O número de passageiros saltou de 300.000 para 700.000 ao ano. Por que esse exemplo não se repete nos maiores aeroportos do país? Não se sabe com exatidão. Em tese, bastaria que o governo decidisse tirar da estatal Infraero ao menos parte dos 67 aeroportos administrados atualmente por ela (a Infraero nunca esteve em Porto Seguro, o que facilitou a concessão). Outra opção seria autorizar investimentos estrangeiros na construção de novos aeroportos. Aí aparece outro entrave, do Código Brasileiro de Aeronáutica: existe um limite no investimento de capital estrangeiro no setor. Pela lei, empresas não brasileiras só podem deter 20% do valor de companhias que administram aeroportos. Multinacionais interessadas em investir no setor não faltam. É preciso atraí-las, pois sabem gastar dinheiro com eficiência, já que precisam ter lucro. Ao menos, gastam melhor que a Infraero. Nos últimos quatro anos, a empresa que pertence ao governo federal gastou 3 bilhões de reais para reformar aspectos periféricos de doze aeroportos brasileiros. Investiu-se muito mais nos terminais de passageiros do que em itens básicos e estruturais, como pistas e pátios. Sem falar nas denúncias de corrupção e incompetência na execução das obras. É um descalabro.
  • 6. Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 Foto Alex Silva/AE Ilustração Samhart http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial05.html [2/4/2008 14:21:13]
  • 7. Setor descarrilado A soja e o minério brasileiros são escoados por uma malha ferroviária tão eficiente quanto a dos Estados Unidos da década de 30 Cíntia Borsato O governante brasileiro que mais construiu ferrovias foi dom Pedro II, o pioneiro a fazê-lo no país, ainda no VEJA TAMBÉM século XIX. Foram 9.000 quilômetros de trilhos -- o Nesta reportagem equivalente a um terço da atual extensão da malha • Quadro: A passos de tartaruga brasileira. Depois da proclamação da República, sob o embalo do ciclo do café, as ferrovias avançaram para o interior e se transformaram no principal meio de transporte do país. Os trens descarrilaram a partir da década de 50, sob o governo de Juscelino Kubitschek. O país abraçou os carros e caminhões como seus principais meios de transporte. A malha férrea, que havia atingido 38.000 quilômetros, regrediu. Hoje, não passa de 29 000 quilômetros, extensão idêntica à do início do século passado. Nos últimos anos, o Brasil foi obrigado a redescobrir o transporte ferroviário, pois é praticamente impossível -- e economicamente inviável -- transportar, em caminhões, mercadorias como minério de ferro. Mas as linhas estão à beira da saturação. As malhas são antiquadas e cruzam centros urbanos e favelas, o que obriga os maquinistas a reduzir a velocidade. Houve um certo progresso desde a concessão das linhas à iniciativa privada, em 1996. O número de vagões cresceu e a frota de máquinas foi modernizada. Mas os investimentos públicos foram insuficientes. "É de responsabilidade do governo expandir a malha, e isso não está sendo feito. As concessionárias aumentaram a produtividade. No entanto, vamos chegar ao limite em 2010", diz Rodrigo Vilaça, presidente da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários. Dificilmente os trens voltarão a ser uma forma relevante de transporte de passageiros no país. Os investimentos seriam muito elevados e poucas rotas teriam um movimento suficiente para torná-los rentáveis. Uma delas seria o trem-bala entre o Rio e São Paulo.
  • 8. Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 Foto Paulo Liebert/AE Ilustração Samhart http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial06.html [2/4/2008 14:22:19]
  • 9. Buracos que engolem vidas e lucros Somente 8% das estradas brasileiras são asfaltadas – e quase todas elas estão em condições ruins ou péssimas Giuliano Guandalini O ano de 1997 foi pródigo na divulgação de boas novas para as estradas. Noticiou-se que duas das VEJA TAMBÉM rodovias federais mais movimentadas e perigosas do Nesta reportagem país, a Fernão Dias e a Régis Bittencourt, seriam • Quadro: Uma guerra no Iraque concedidas à iniciativa privada. Ela as transformaria por ano em vias de Primeiro Mundo. Dez anos se passaram e nada daquilo se concretizou: o projeto pula, há uma década, de um gabinete a outro nos corredores da burocracia de Brasília e até hoje não saiu do papel. Chega-se a levar quinze anos entre a concepção e a inauguração de uma rodovia no país, de acordo com o professor Luiz Afonso Senna, da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na China e na Índia, o prazo médio é de três anos. "Não podemos perder mais tempo, nossos concorrentes estão voando. A China comunista é hoje o país que mais faz concessão privada de rodovias", afirma Senna. Enquanto o Brasil não contorna esse impasse, 6.000 pessoas morrem, a cada ano, apenas nas estradas federais – o equivalente a trinta acidentes com o avião da TAM. O trânsito é uma das principais causas de morte no país. São cerca de 40.000 vítimas todos os anos, uma das taxas mais elevadas do planeta – e as más condições das estradas têm relação direta com a maioria dessas baixas. Além de ser uma questão de saúde pública, a péssima qualidade das estradas é um fardo pesado para a competitividade do país. No Brasil, o frete é mais caro e mais demorado do que nos países desenvolvidos. A Rodovia BR-349, na Bahia, dá a dimensão do drama. Um levantamento da empresa de ônibus Real Expresso revela que existem 1.200 buracos num trecho de 80 quilômetros – ou um buraco a cada 67 metros. É como se, a cada 67 metros, um naco da produtividade brasileira ficasse pelo caminho.
  • 10. Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial.html [2/4/2008 14:24:28]
  • 11. Âncoras que seguram o crescimento Parados no tempo, os portos são caros, lentos e incapazes de garantir ao país um bom escoamento de sua produção Julia Duailibi Um longo caminho é percorrido pelas sandálias Havaianas da fábrica da Alpargatas em Campina VEJA TAMBÉM Grande, na Paraíba, até os pés de consumidores Nesta reportagem europeus e americanos. Da Paraíba, elas são levadas • Quadro: Os portos brasileiros ao Porto de Santos, em São Paulo, de caminhão, num são mais ineficientes, mais caros, mais improdutivos e mais trajeto de quase 3 000 quilômetros que leva até cinco obsoletos dias. Só então ganham o rumo do Hemisfério Norte. Seria muito mais rápido e barato mandar os produtos de algum porto nordestino. Mas os únicos portos aparelhados na região dedicam-se quase exclusivamente à exportação de commodities e oferecem poucas alternativas de embarque. Os demais exportadores, muitos deles atraídos ao Nordeste por incentivos fiscais, ficam ilhados. Esse é um exemplo de como a falta de infra-estrutura corrói a competitividade do Brasil. Não fosse a dificuldade logística para levar as Havaianas até um dos oitenta países onde são vendidas -- dos 160 milhões de pares de sandália fabricados anualmente, perto de 10 milhões são exportados -- , as vendas externas da Alpargatas poderiam ser muito maiores. No Porto de Santos, o maior em movimentação de mercadorias do país, navios carregados esperam dias para deixar o cais. Muitos só conseguem fazê-lo quando a maré sobe. Isso porque o calado (profundidade) é muito baixo, de apenas 13 metros. A licença ambiental para as obras de dragagem em Santos, que deverão aumentar a profundidade para 15 metros, demorou mais de um ano para sair. Não se trata de um detalhe. O calado é um indicador da vitalidade de um porto. Quando ele é raso, como são os brasileiros, os portos recebem navios com capacidade para até 6 000 contêineres. Nos grandes portos internacionais, os cargueiros atracam com o dobro da capacidade. Os exportadores tentam driblar o problema distribuindo a mercadoria em navios menores. Com isso, pagam mais caro pelo frete. Há ainda outros problemas. Poucos terminais operam com contêineres e grande parte do trabalho é feita por carregadores. Nada muito diferente dos tempos do Império.
  • 12. Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 Montagem sobre ilustração: Samhart e fotos: Justin Guariglia/CORBIS/LATIN STOCK http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial03.html [2/4/2008 14:25:26]
  • 13. O Brasil pode apagar Sem investimento em novas usinas, não hverá crescimento econômico compatível com as necessidades do país Cíntia Borsato Há duas maneiras de medir o prejuízo causado pela falta de investimentos no setor energético. Pode-se VEJA TAMBÉM calcular o risco de um novo apagão. Como a oferta de Nesta reportagem eletricidade cresce num ritmo inferior ao do consumo, • Quadro: Às vésperas de um é provável que esse fantasma volte em 2010. Outra novo apagão maneira, menos comum, é comparar o preço da eletricidade para novos projetos industriais no Brasil às tarifas no resto do mundo. E aí se chega a uma conclusão surpreendente. Os brasileiros consomem sobretudo energia de fonte hídrica, 25% mais barata do que a nuclear. Mesmo assim, pagam tarifas mais caras do que na França, onde a energia nuclear reina absoluta. Isso ocorre por causa de uma série de fatores, todos desastrosos. O maior deles é a carga tributária. Ela representa metade do valor da conta de luz dos brasileiros. Além de absorver recursos da iniciativa privada, a tributação é usada para pagar contas de um governo endividado. Resultado: as contas de luz são caras, mesmo assim os investimentos não são feitos e, como conseqüência desse fato, é elevado o risco de faltar energia nos próximos anos. Estudo do professor Afonso Henriques Santos, da Universidade Federal de Itajubá, mostra que o governo Lula não iniciou nenhuma grande obra de geração de energia. Mais de 90% das usinas inauguradas pelo petista foram licitadas nos anos de Fernando Henrique Cardoso. Desde 2003, 17 500 megawatts foram acrescentados à matriz energética. Desses, apenas 1 700 megawatts foram contratados durante a atual administração, energia suficiente para abastecer não mais do que 5 milhões de residências. Afirma Claudio Sales, do Instituto Acende Brasil: "Sozinho, o governo não conseguirá suprir a demanda. É preciso dar segurança para que o setor privado invista".
  • 14. Revista VEJA | Edição 2020 | 8 de agosto de 2007 Fotos Paulo Pinto/AE e Maurilo Clareto Ilustração Samhart http://veja.abril.com.br/080807/popup_especial04.html [2/4/2008 14:26:16]
  • 15. O que pode ser feito já As principais saídas apontadas por especialistas para reerguer a curto prazo a infra-estrutura do país ENERGIA Fernando Cavalcanti Usina de cana em São Paulo: bagaço como fonte alternativa de energia • Simplificar os procedimentos para a instalação de hidrelétricas • Estimular a concorrência no fornecimento de gás • Tornar atrativo o preço da energia gerada pelas usinas de bagaço de cana AVIAÇÃO Renata Carvalho Porto Seguro: eficiência após a concessão • Transferir para a iniciativa privada a gestão de grandes aeroportos, como Congonhas e Cumbica. Isso já ocorre com 10 aeroportos de pequeno porte • Mudar o Código Brasileiro de Aeronáutica para permitir que empresas possam ser donas de aeroportos • Separar e colocar nas mãos de empresas distintas as funções de administrar e fiscalizar aeroportos • Abolir o limite de 20% para investimento estrangeiro em aeroportos e companhias aéreas
  • 16. ESTRADAS Antonio Milena/AE Bandeirantes, a melhor rodovia do país • Concluir a licitação para a melhoria de sete trechos das rodovias federais mais combalidas: BR-116 (dois trechos), BR-376, BR-381, BR-393, BR-153 e BR-101 • Assegurar a rentabilidade justa para os investidores em estradas federais, como fez o estado de São Paulo com suas rodovias • Conceder autonomia e recursos à ANTT, agência reguladora federal do setor, hoje loteada politicamente e esfacelada • Fiscalizar com rigor o excesso de peso dos caminhões FERROVIAS • Retirar favelas das margens das linhas férreas • Construir o Ferroanel, para desafogar o transporte de cargas da área urbana de São Paulo • Aumentar a interconexão da malha ferroviária • Abrir licitação para a construção de novas ferrovias PORTOS Paulo Vitale Terminal privado em Santos • Abrir licitação para novas áreas portuárias • Acelerar as PPPs e a liberação de recursos para obras de melhoria do acesso terrestre aos portos • Proibir indicações políticas para cargos nas companhias Docas
  • 17. • Aumentar o calado (profundidade) dos principais portos, permitindo o atracamento de supercargueiros Ilustração Samhart