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Os Incríveis anos 70
Escrito por: Paulo Guedes de Almeida
Email: paulodaedna@gmail.com
Todos nós que temos mais de 60 anos já tivemos
um bom tempo em que éramos todos jovens.
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E os que ainda são jovens, um dia irão relembrar a
sua juventude.
Neste livro eu escrevi certas partes desses meus
bons tempos, espero que compartilhem.
O Autor
Lembranças...
E um dia qualquer de um verão de 2011 com a barba e o cabelo
já embranquecidos pelo tempo, lá estava eu no quintal da minha casa
sentado em uma cadeira contemplando o por do sol num dia de céu de
Brigadeiro.
Nossa mente é maravilhosa, pois se você estiver meditando em um
lugar calmo que esteja rodeado de arvores escutando o cantar dos
pássaros ou se você estiver apreciando um por do sol num lindo final de
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um dia de céu azul, a nossa mente nos fará viajar através do tempo.
(Ninguém precisa ser estúpido e usar drogas pra ‘viajar’)
Foi em umadessas‘meditações’ ou‘viagens’ queraramenteeu fazia
por não ter sempre disponível um mesmo lugar sossegado que eu me
‘transportei’ parao passado,estava vindo em minhaslembranças os anos
70 na mesma Vila em que eu moro até hoje.
Mas a Vila antes até dos anos 70 que estava se desenrolando em
minha mente agora, foi completamente diferente de como está o nosso
bairro hoje.
Para quem nãoviveu na minhavilae nem naquela época se situar, a
população do Brasil era de 90 milhões de pessoas hoje são mais de 180
milhões então os estados, as cidades e as vilas das periferias, ainda não
eram tão populosas como agora e tanto na zona norte, sul, leste e oeste
de São Paulo ainda existiam chácaras, em alguns lugares existiam
pequenos rios e em quase todos os cantos das periferias existiam muitos
terrenosbaldiosque eram cobertos de matos, os quais eram necessários
se abrir neles uma trilha que nos servia de passagem para nos levar de
uma rua a outra e em algum terreno maior, nós a molecada da época o
carpíamos para fazer dele um campinho pra jogar bola.
A iluminaçãocom aslâmpadasnospostesdas ruasnão existia e para
irmos a qualquer lugar nós tínhamos que andar por ruas de terra e
cortávamos caminho pelas trilhas dos terrenos baldios e quando era de
noite nas nossas ‘andanças nós só contávamos com a iluminação das
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luzes das poucas casas que havia aqui e ali ou então com a luzdo luar
quando era noite de lua...
Mas naquela época separando o tempo de Antes e Depois de eu ter
mecasadocom aEdnacom quem eusoucasadoaté hoje, eu vivi uns dos
melhores anos da minha vida, porque aquele foi um tempo em que eu e
meus ‘camaradas’ éramos ainda uns moleques ou adolescentes que
‘podíamos tudo’.
E conforme estava recordando da minha vila eu fui me aprofundando
com os pensamentos nesse passado real e qualquer um dos meus
colegas que viveram naquela mesma época se estivesse aqui comigo
poderia concordar que foi nesse tempo que eu e eles sempre estávamos
juntos em encrencas e brigas que aconteciam nos jogos de futebol dos
campinhos da várzea, em disputas dos jogos de bolinha de gude ou
quandoestávamosrodandopião no chão de terra de um terreno qualquer
ou ainda quandoestávamosfazendo um ‘racha’ com nossos carrinhos de
rolimã.
Sem contar as outras brincadeiras e traquinagens que fazíamos, por
exemplo, ás vezes combinava de ir ‘roubar’ caqui na chácara do
português, mas na maioria das vezes não conseguíamos pegar caqui
nenhum porque oscachorrosqueestavam lá na chácara nos punham pra
correr.
Nós fazíamos todas aquelas brincadeiras que a molecada daquele
tempo podia fazer por causa do muito espaço livre nos muitos terrenos
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baldios existentes inclusive soltar e correr atrás de pequenos balões nos
meses de junho era praxe entre a molecada.
Empinávamos pipas também, mas sem usar na linha esta droga de
cerol quesó serve pracausaracidente, brincávamos também de unha na
mula, mãe da rua, esconde-esconde e outras brincadeiras inocentes e
saudáveis que a molecada da atualidade infelizmente nem conhecem.
Na maioria das vezes nós tínhamos que ‘construir’ algo pra depois
começar as brincadeiras, mas isso era bom e até educativo, às vezes
queríamos jogar ‘Tacos’ ou ‘Malha’, mas antes tinha que fazer o ‘campo’
porque para quem não conhece o jogo de malha consiste em ficar
arremessando unsdiscosdeferro redondoe abauladosdemaisoumenos
12 cm de diâmetro por 8 mm de espessura para atingir um pino de
madeira de 15 cm de altura que fica em pé no centro de um dos círculos
queficam nos lados opostos do campo que é uma faixa reta e plana com
1,5m de largurapormaisou menos18m decomprimento eo jogo de tacos
também se jogava nesse mesmo lugar ou até na rua, mas com outros
apetrechos para fazer os pontos.
E teve um dia que estávamos jogando malha e durante o jogo o
Carlinhos um dos nossos colegas fezo que não pode fazer nunca nesse
jogo, ele se distraiu e avançou o campo na hora que o adversário ainda
estava arremessandoaultimamalha,eleavançou o campo e se agachou
pararecolherumamalha que estava caída perto dele quando a outra que
foi arremessada veio em meia altura e bateu na sua cabeça, porém ele
deusorte porqueamalhaque estava em trajetória não bateu de quina ela
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bateude ‘chapa’ nasuacabeça e depois de atingir a sua cabeça ela caiu
no mato que ficava no lado do campo.
Doeu muito com certeza, pois chorando ele foi embora pra sua casa,
mas ainda bem que a malha não bateu de quina na sua cabeça senão
esse acidente poderia ser até fatal, mas depois desse acidente o jogo
perdeua graçaentão fomosprocurara malha que tinha batido na cabeça
do Carlinhos, nós já tínhamos recolhido as outras malhas, mas por mais
que procurássemos aquela que tinha atingido a cabeça do Carlinhos
ninguém a encontrava, até carpimos um pedaço do mato que ficava no
lado do campo aonde ela tinha caído, mas ninguém a encontrou, Depois
que o Carlinhos foi socorrido e ‘medicado’ e estava tudo bem com ele,
mas sem que ninguém conseguisse encontrar a tal malha, os
engraçadinhos começaram a dizer que ela bateu e foi pra dentro da sua
cabeça que era muito grande...
Tevetambém aquelediada ‘Rabeira’ sem retorno, foi o seguinte; De
vez em quando aparecia na vila um caminhão pipa que vinha para
abasteceralgumacasacujo poço não continha mais água, ele abastecia
aquela casa e depois ele
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ia até um certo lugar que era ali perto pra ‘pegar’ mais água e voltava pra
abastecer outra casa.
E nesse vai e vem algum moleque sempre pegava rabeira nesse
caminhão, pois sabíamos que ele sempre voltava pra vila, mas na nossa
molecagem e na vontade de pegar rabeira naquele caminhão eu nem
contei que numa dessas idas o caminhão poderia estar indo embora pra
não sei onde e só voltaria não sei quando.
E foi justamente numa dessas idas que não ia ter retorno pra nossa
vila que eu e mais outro moleque pegamos rabeira naquele caminhão.
Estava tudo maravilha havia até lugar pra sentar no meio de uma
bombade água que ficava na traseira da carroceria desse caminhão e lá
fomos nós ‘passear’ passados uns 15 minutos o caminhão entrou por
umas ruas que eu nem conhecia e parece que cada vez mais ele
aumentava a velocidade, estávamos apavorados porque o caminhão
agora estava passando por umas ruas asfaltadas que era bem longe das
nossascasas, játínhamospercebido queelenãoia voltar pra nossa vila, o
motorista nem imaginava que nós estávamos na rabeira do caminhão e
9
nãotinha jeito de dizer pra ele parar, então o moleque que estava comigo
consegui descer do caminhão em movimento e eu sem ter outra saída ia
também fazer a mesma coisa que ele.
Mas devido ao meu tamanho ou ao meu apavoramento na hora de
descerdocaminhão em movimento ao por os pés no chão eu não corri o
suficiente e então cai e ao cair o meu braço com o peso do meu corpo
bateu na guia da rua, nessa hora eu vi ‘estrelas’, que se vê quando
sentimosuma forte dor, depois me sentei na calçada, pois estava zonzo e
com o braço quebrado e logo fiquei rodeado por algumas pessoas e
ficamosesperando achegadadeuma ambulância que iria me socorrer e
melevar pro hospital,depoisde medicadoláno hospital umacaminhonete
da prefeitura melevou pra casa e chegandoem casa sentiaainda alguma
dor, masfui acolhidopelaminhamãequemecolocou de‘repouso,poiseu
estava com obraço quebrado,mascom isso tive o ‘direito’ de comer uma
maça... (comer uma maça na época era muito raro).
Depois desses e de muitos outros acontecimentos se passou um
tempo, se passou alguns anos até que já não éramos mais aqueles
moleques com as nossas aventuras, então as minhas lembranças foram
para quando:
Éramos jovens e estávamos no começo dos anos 70, tínhamos
deixadodelado aquelasbrincadeirasdemolequese começaríamosagora
a ir aos bailes de garagem, íamos paquerar as minas e estaríamos
também juntosem muitosoutrostipos deaventuras mirabolantesinclusive
nos jogos de mesa de bar ou nas conquistas amorosas que cada um de
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nós ás vezes conseguia comasbelasgarotasqueusavam minissaia e por
ali moravam.
Aqueles quatro rapazes que moravam naquela vila, eu o Wilson o
Alberto e o Reinaldo que dentre muitos outros jovens, nos conhecíamos
desde que tínhamos mais ou menos nove anos de idade e devido ao
estágio da idade em que estávamos agora nós não tínhamos medo do
perigo e estávamos sempre prontos para uma nova aventura estando em
duplas em três em quatro ou em uma turma.
- Wilson, o Wilson assim que completou 18 anos de idade foi ser
militar, ele sempre foi um cara sério que gostava de ser militar e mesmo
quando estava fora daquele quartel da aeronáutica o qual ele servia, na
sua vida civil e principalmente quandonósnos juntávamos pra sair à noite
em qualquer tipo de aventura, lá estava ele com o seu jeitão de soldado e
com um revolver bem escondidonacintura,porisso que ‘colocamos’ nele
o apelido de ‘Tenente Savedra’.
E foi assim recordando da minha adolescência e agora da minha
juventude que estavam desenrolando em meus pensamentos as muitas
aventuras em que eu participei.
Teve certa noite que nós quatro e mais alguns amigos estávamos
voltando a pé de uma quermesse que tínhamos ido lá num bairro vizinho.
Nós vínhamos caminhando por aquelas ruas quase ás escuras e
cortando caminho por aqueles atalhos nos terrenos, o papo entre nós
estava animado esem queninguém combinasse o assunto virou pra fazer
gozaçãocom oWilsonentão um começouafalar pra ele maneirar porque
11
ele não precisava ser tão sério assim, outro falava que ele até parecia o
‘urtigão ’com aquele seu jeito, outro o chamava de o zangado ‘tenente
Savedra’ e fazíamos varias piadinhas de quartéis pra cima dele e ele
sempre sisudo dizia:
Para com isso seus filhos da mãe, parem de me encher o saco.
Tinha colega nosso que não sabia que ele andava armado e a
gozação então continuou pra cima do Wilson e ele muito sério falava:
Para com isso senãoeu meto bala em vocês, mas as piadinhas sem
graçaquenós fazíamos pra cimadele continuaramecontinuaram até que
um mais engraçadinho que sabia que ele andava armado disse assim;
Eu não tenho medo do seu revolver, eu mijo no cano dele.
Pra que aquele cara disse aquilo, nãodeu outra né, o Wilson que já
estava muito puto ao ouvir isso meteu a mão na cintura sacou o seu
revolver e apontando pra nós disse aos berros:
Agora vocês vão ter que correr seus filhos da mãe porque eu vou
meter bala em vocês.
Bicho. Mal deu tempo de nós ouvirmos essa ameaça e a correria foi
geral não ficou um sem correr, teve gente que no meio da correria
tropeçou ecaiu,masse levantou e continuoucorrendo sem nem olhar pra
trás e quando todos nós estávamos correndo por entre aqueles terrenos
podiase escutaros pipocosdostiroscujasbalaspassavam zunindo acima
das nossascabeçase continuamosacorreratéquechegamosnum bar, o
bar do Dito em que sempre nos reunimos e ficamos ali recuperando o
fôlego e esperando o Wilson chegar.
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Passados algunsminutoseleapareceu,vinhacaminhandoem passos
normais e quando ele chegou perto, nós agora é que estávamos bem
sérios e apreensivos e então alguém disse pra ele;
Eu não esperava que você atirasse em nós.
O Wilson bem sisudo respondeu;
Eu não avisei pra vocês parar de encher o meu saco? E quero ver
agoraquem vai tentar mijarno canodomeurevolver sem antes levar bala!
Após dizer isso o Wilson foi pra porta do bar e ficou ali com os braços
cruzadoscom aqueleseujeitão,masnãoaconteceunenhuma briga entre
nós e ninguém era louco de desafiar o Wilson mais uma vez ali no bar,
então nós fomos beber alguma coisa e comentar sobre o que tinha
ocorrido e no meio do papo alguém falou;
Caramba meu, o Savedra ficou doido? E se ele me acertasse um tiro
na bunda?
Todos caíram na gargalhada, todos menos o Wilson que só deu um
pequeno sorriso, mas com isso a tensão acabou e a amizade entre nós
continuouporquenósconhecíamos bem o Wilson ele era um cara sisudo
com seu jeitão militar, mas ele tem um bom coração e jamais ele atiraria
em algum de nós pra acertar, nós é que o provocamos pra ver se ele
atirava mesmo e as balas dos tiros que ele disparou passaram a mais ou
menos 3 metros acima das nossas cabeças e foi pra nos assustar e nos
fazer correr...
- Alberto, o Alberto apesar da pouca idade em que nós tínhamos
nessaépoca,era umapessoa quenãotinha umagrandeexperiência,mas
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certasabedoriadevida porqueem varias ocasiõesem queeleconversava
comigo que era o seu vizinho de casa e amigo de infância, ele me
aconselhava ou mostrava o melhor caminho pra sair de uma situação
embaraçosa que por acaso eu tinha me metido.
Ele era o galã da nossa turma as minas o achavam bonito, em
todos os bailes ou nas cidades em que visitávamos as minas
vinham pro seu lado, em algumas vezes uma delas a qual eu ficava
gamado nem me dava bola porque queria namorar o Alberto que por sua
vez não mostrava nenhum interesse praquela determinada garota e eu
ficava danado com essa situação, ele me chamava de Lins porque nasci
em Lins e eu de vezem quando eu o chamava de Móquense porque ele
nasceu na Mooca.
Até que num belo dia a mais linda de todas as garotas que até então
nós já tínhamos conhecido apareceu lá na nossa rua, ela estava
conversando com uma colega nossa chamada Rosana e assim que a
vimos fomos pra perto delas pra ver de perto aquela mina, a Rosana
apresentou-a, mas foi uma apresentação meio apressada que tivemos
porquelogoelateve que ir emboraequandoela tinha ido embora pra sua
casanós quisemos saber tudo sobre ela fazendo um monte de perguntas
pra Rosana sobre aquela garota que morava distante a três ruas paralela
a nossa, mas que nunca a tínhamos visto antes.
E depois que a conhecemos tanto eu como o Alberto ficamos
‘apaixonados’ porelaenão víamos à horade podervê-la novamente, mas
os dias se passavam e cadê a mina? Só faltava implorar pra Rosana
14
trazê-la de novo pra perto de nós porque ela não aparecia mais lá na
nossa rua, diziam que o seu pai não a deixava sair de casa.
Porém nesse meiotempoaRosanajá tinha comentado com a Sonia,
esse é o nome dela, que tanto eu como o Alberto estávamos loucos pra
com ela namorar e já tinha começado uma ‘disputa’ entre nós pra ver
quem conseguiria ‘ganhar’ aquela mina.
Até quenumanoite fria de junho combinamosdeir a uma festa junina
na escola que ela estudava e que ficava meio distante da nossa casa, e
nós só iríamos á esta festa porque a Rosana nos contou que a Sonia
estaria lá.
Então quando já estávamos lá na festa, não sei por que o Alberto
disseque precisava daruma chegada em sua casa, mas voltaria logo em
seguida e foi então de carro com o Zé Carlos, ele não tinha voltado ainda
quando começaram aquelas brincadeiras entre os participantes de uma
festa junina, a nossa colega Rosana estava numa roda de meninas
fazendo o papel de cupido e a Sonia que estava entre elas foi então
‘convencida’ pela Rosana a ir até onde eu estava pra que eu falasse com
ela em namoro.
Mas naquela hora eu estava curtindo uma ‘falsa identidade’ porque
estava perto do portão da escola e calhou de ficar rodeado de estudantes
do primeirograu quemefaziam várias perguntasestandotodos admirados
comigoporqueeuestavavestindo umajaqueta (blusão de frio) que era do
ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, e naquele tempo era muito
difícil ou até impossível algum pobre da periferia poder cursar uma
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universidade ainda mais cursar uma faculdade tão importante e famosa
como a ITA por isso que estavam admirados comigo, porém eles não
sabiam que eu tinha ganhado aquela jaqueta de um primo meu e não
cursavafaculdadenenhuma,mas justo na hora em que a Sonia estava se
aproximando pra que eu conversasse com ela, coincidiu que um desses
alunos se aproximou mais de mim e ficou ‘grudado’ me pedindo ajuda,
poiseu era o ‘herói’domomentoeeleveio me pedirajuda porque um dos
seus colegassedesentendeucom elee querialhepegar pra bater e nisso
a confusão foi armada porque outro aluno veio realmente pra cima dele.
Naquele momento além de eu estar rodeado de estudantes que me
faziam varias perguntas havia agora outros querendo brigar e outros que
esperavam uma intervenção minha naquela briga, que eu vi a Sonia
parada a mais ou menos 10 metros de distância me aguardando pra
conversarcom elasem sabero que estava acontecendonaquele instante.
Qualquer um largaria tudo e iria conversar com a garota dos seus
sonhos, mas além de ser um cara tímido para conquistar namoradas e
talvez por intuição eu não fosse até onde a Sonia estava porque senti
naquelemomento porcausadosbochichosque eu tinha ouvido antes que
o objetivo da Sonia nãoera namorarcomigo, mas sim conhecer melhor e
depois namorar o Alberto através de mim porque o Alberto era um cara
mais bonito do que eu e tinha uma família mais bem de vida do que a
minha, eu seria apenas um degrau para a aproximação dos dois porque
ela ficou sabendo através da Rosana que eu e o Alberto éramos amigos
de infância e sempre estávamos juntos, então naquele momento pra não
16
sofrer depois a dor e a desilusão de uma grande paixão que não seria
correspondida em vez de ir falar com ela eu me deixei envolver na
confusão dos alunos que me admiravam ou que estavam brigando me
pedindo ajuda e vi que a Sonia me esperou por um instante, mas depois
se afastou dali.
Eu me senti horrível e fiquei torcendo pra que ela não ficasse com raiva
de mim por não ter ido falar com ela e naquela noite eu não falei com
ninguém sobreoque tinha ocorrido e não sei o que Sonia falou pras suas
colegassobreisso, só sei que foi criado um mal estar entre nós dois, e se
por acaso eu tivesse contado pra alguém sobre o porquê de não ter ido
falar com a Sonia eles iriam me tirar um sarro.
Mas depois veriam que a minha ‘previsão’ se confirmaria, pois logo o
Alberto e a Sonia estavam namorando,ficaram noivose depoisde maisou
menos um ano já estavam casados, mas o trágico dessa historia, é que
nem eu e ninguém poderíamos imaginar ou supor que após mais ou
menos vinte anos, devido ás circunstancias que aconteceriam em suas
vidas houve umagrande desilusãodeambas as partes e o casal então se
separou e esta separação seria o motivo da uma decadência, uma
17
decadência psicológica e física que levaria o Alberto a beber diariamente,
até queele pegouumapneumoniaedevido á fragilidadefísica em que ele
se encontrava,á sua doença pioroue ele acabou falecendo quando tinha
mais ou menos 38 anos de idade.
Mas durante a sua‘decadência’ eu nunca o vi de porre cambaleando
sem saber o que faz, eu nunca o vi chorando ou reclamando da situação
em que se encontrava, parece até que ele sofria calado, mas perdi assim
aquele que foi o meu melhor amigo de infância...
- Durante a nossa juventude muitas outras historias reais e tristes
também ficariam para ser contadas, por exemplo, alguns dos nossos
amigos que também foram criados conosco lá na Vila se desvirtuaram e
caiupravida docrime,um deles chamado Jessé aos vinte e poucos anos
tinhase tornado um assaltantede bancos e logo acabou sendo morto em
uma troca de tiros com a Rota, outro conhecido nosso ficou tanto tempo
preso que após ser solto nem conhecia mais a Vila em que sempre
vivemos.
Outro que nem era nosso amigo, mas um conhecido, era um jovem
que possuía um invejável porte físico e de vez em quando jogava bola
com a nossa turma, ninguém sabia em que ele trabalhava ou se ele
trabalhava e certodiacomeçouum boatoqueele tinhamatado um policial
e logo depois ele desapareceu da vila.
Soubemos depois que ele estava preso e na prisão apanhou muito,
apanhou tanto que anos depois quando lhe soltaram da prisão ele
apareceu na Vila, mas agora estava irreconhecível, estava magro todo
18
torto e andava se arrastando com muletas devido às surras que tinha
levado por ter matado um policial.
Tem também os casos de outros rapazes que eram nossos
conhecidos, mas que morreram com mortes violentas cometidas através
de desentendimentos e brigas que acontecem entre marginais...
- Nessetempoparater um fusca era um sonho quase que impossível
entre alguns de nós, então muitas vezes eu que não tinha conseguido
ainda comprar uma caranga, fui um solitário andarilho nas madrugadas
porque estava sempre voltando sozinho de uma festa ou de um baile que
acontecia longe de casa, e em algumas dessas andanças eu era parado
pela Rota em uma rua qualquer para uma checagem de rotina que era
muito constante e comum nesta época, época do regime militar.
Porem eu nunca fiquei preso apesar da Rota parar e enquadrar
constantemente as pessoas até com metralhadoras na mão, porque
nessaschecagensqueospoliciais faziam, eles pediam o seu documento
de identidade e a sua carteira de trabalho e se você não fosse nenhum
foragido não ‘devesse’ nada pra policia e estivesse em um trabalho fixo,
poisa sua carteiraprofissional provaria isso, eleso dispensavam com uma
‘Boa noite ou um Bom dia e tenha cuidado’.
Lembro-me que antes do Alberto se casar em uma noite qualquer a
nossa turma toda estava naquele bar da Vila o bar do Dito, estávamos
jogandopebolim, a mesa de pebolim ficava nos fundos deste bar que era
um salão comprido e a mesa naquela noite além dos jogadores estava
rodeadadetorcedores,a algazarraera grande e semprechegavamaisum
19
queao entrar no bar soltava uma piadinha em vozalta querendo relaxar o
jogo, até paravam de jogar pra responder ao engraçadinho, mas logo
voltavam a jogar,depoismaisum engraçadinho chegava fazendo também
uma piada e depois mais outro.
Até que ninguém mais dava bola e nem paravam o jogo para
responder pra mais um engraçadinho, estavam todos concentrados num
jogo ‘importante’ tanto os que jogavam como os que torciam.
Foi então que escutamos uma voz grossa e firme vinda da porta do
bar dizendo assim:
Podem parar com esse jogo!
Maso jogocontinuouninguémdeubola enem olhamospraver quem
era aquele mais um suposto engraçadinho, mas de novo escutamos
aquela voz;
Parem com esse jogo!
O Reinaldo era um dos jogadores que estava perdendo a partida e
sem levantar a cabeça ele respondeu assim pra essa voz;
Este jogo esta uma merda mesmo e está difícil de jogar com tanta
gente enchendo o saco, foi quando ouvimos de novo aquela voz firme
dizer:
Vocês estão surdos? Eu disse pra parar com esse jogo!
Foi aí que todos nós olhamos para a porta do bar pra ver quem
estava falando.
Bicho. Havia ali oito soldados da Rota, três deles estavam de
‘metranca’ na mão e o da vozgrossa estava com um revolver, ele era um
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tenente e assim que ele confirmou que nós os tínhamos visto, ele foi
adentrando no bar acompanhado de três soldados enquanto os outros
quatro ficaram na porta e o tenente foi logo dizendo assim:
Todo mundo de mãos na cabeça e encostem-se à parede.
Não preciso dizer que todo mundo perdeu o rebolado e muito
assustadosobedecemosàquelaordem,aindabem que naquela noite não
estava com agente nenhum marginal, mas rapidamente nos encostamos
à parede com as mãos pra cima e os soldados fizeram uma rigorosa
revista em cadaum denós depoispediram os nossos documentos nós os
apresentamos, depois de chegarem os nossos documentos um a um
viram que nada constava de errado com nenhum de nós, mas estando
ainda todos encostados á parede o tenente nos exigiu atenção e após
fazer várias perguntas nos passou um severo sermão depois nos disse
Boa noite rapazes e tenham juízo e foram saindo do bar, os oito soldados
logo depois entraram em dois camburões que estavam estacionados do
ladoda porta do bar e foram embora pelas ruas escuras da Vila a cata de
marginais, depois disso relaxamos, mas o nosso jogo continuou.
Os caras da nossa turma sabiam que ao sair de casa nós tínhamos que
carregar no bolso os nossos documentos e o necessário em se carregar
21
no bolso é a nossa carteira de identidade e a nossa carteira de trabalho
com um registro que prova que você é um trabalhador, a falsificação de
documentos oficiais era muito rara nessa época e se por acaso
aparecesse alguém com um documento falso os policiais logo
identificariam e o portador desse documento ia ser preso e sofrer as
consequências.
Várias outras vezes estávamos na noite ou nas madrugadas
passeando indo ou vindo de algum baile em um fusca que pertencia a
alguém da turma e éramos parados pela Rota, a mesma historia se
repetia, nos revistavam, revistavam também o fusca apresentávamos os
nossos documentos e também os documentos do fusca e se nada de
errado constava, éramos liberados.
O simples fato de qualquer cidadão ser constantemente parado nas
ruas ou nos bares pela Rota ou por outra policia, seja de dia ou de noite
para serem revistados identificados e evidentemente impor a ordem, era
muito confortante para os cidadãos, mas se por acaso algum desses
cidadãos nessas ‘batidas’ policiais não apresentassem os seus
documentosousealguém ‘devesse’ algoprajustiça de um modo geral ou
se estivessem fazendo algumabadernaou seestivesse cometendoalgum
crime, eram presos no ato e os comprovados criminosos de todas as
espécies depois de detidos e identificados ‘puxavam’ uma cana longa e
dura.
E isto pra mim foi uma prova que a população naquele tempo tinha
umamelhorsegurança,agoracomo houveexcessoseviolênciasporparte
22
de alguns policiais e depois até de certos agentes do exercito, é outro
parâmetro da nossa historia.
Porque agora nos dias atuais o que acontece em questão de
segurança a nossa população?
Vemos vários e vários crimes serem cometidos à luz do dia ou da
noite e os criminosos nem vão presos e quando eles vão se forem uma
figura conhecida da sociedade é solto no mesmo dia independente do
crimequecometeram,vemos na televisão cenas ridículas de desordem e
bandalheira que acontecem em todo canto do país, por exemplo, vemos
diariamente bandos de ladrões estourando com dinamites os caixas de
bancos, vemos rebeliões que acontecem em vários presídios e também
nos complexos de juizado de menores, grande numero de mulheres
casadasounãosão espancadasemuitasdelas são assassinadas e nada
acontecemcomosseusalgozes, criançassãobrutalmenteespancadasou
estupradas por adultos que em muitas vezes nem respondem
criminalmente pelos seus atos, chegamos ao cumulo de ver réus
confessos de assassinatos ou ladrões do colarinho branco, livres e soltos
nas ruas, outro cara que também não foi preso deu até uma entrevista na
televisão depois que foi filmado em uma rua acelerando o seu carro e
propositalmente atropelar varias pessoas que estavam na sua frente e
dizia ele nesta ‘entrevista’ que as pessoas estavam ‘atrapalhando’ a sua
passagem, outros tantos motoristas completamente embriagados
atropelam e matam e não ficam presos nem 24horas, fora muitas outras
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tantas barbáriesqueacontecemtodosos dias e os autores desses crimes
também não ficam presos nem um dia, isso é democrático?
Não estou querendo defender a anarquia, seria uma burrice, todos
sabem que houve torturas assassinatos e injustiças durante o regime
militar,mas façam um parâmetro entre o regime militar e os dias de hoje,
sobre a violência que se abateu na população por causa da impunidade
dessademocraciabrasileira,sejam exigentes cobrem de forma pacifica e
firmeos deveres dos políticosque‘comandam’asleise a justiça de todo o
País para que os políticospelomenosrevisem e atualizem o código penal
que é arcaico e desatualizado, para que a Democracia Brasileira não se
torne conforme as ‘coisas’ estão indo, num ‘Estado’ de impunidade para
criminosos de todas as espécies.
Maschega defalar em política,isto é umapequenacomparaçãoque
eu façocom omeudireitode poder me expressar sobre o antes e o agora
da segurança geral da nossa população.
- Nos anos 70 no modo de se viver e nas muitas aventuras em que a
nossa turma participou, nós quatro, eu o Wilson o Alberto e o Reinaldo te
garanto que nunca fomos uns fora da lei no sentido de cometer algum
crime e nunca usamos drogas, apesar da maconha ser oferecida em
muitas ocasiões, porque nós tínhamos por convicção não usar drogas e
nem cometer crimes por causa da nossa educação familiar e religiosa.
Mas nesse tempo a maconha foi um mal que estava começando a
corromper certa parte da juventude, nós conhecíamos uns caras que a
fumavam, mas quem fumava maconha naquele tempo era chamado de
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bandidomaconheiro e em nossa turma eram justamente discriminados e
afastados do nosso convívio.
Era muito raro ouvir falar e a maioria dos jovens nem conheciam
quantomaisusarem cocaínaou outradroga pesada,a bebidaalcoólica foi
muitousada por nósnaqueletempo,masnão é minha intenção fazer aqui
qualquer tipo de apologia à bebida alcoólica porque entre nós todos que
bebiam além da conta se metiam em alguma encrenca mais séria e
sempretinham algum prejuízofísicooufinanceiro, então o álcool também
não deixa de ser uma droga.
- Quando chegavam os finais de semana após uma semana de
trabalhoquasesempre estávamosnaquelebarjogandobilhar ou pebolim,
batendopapo ou se preparando pra ir jogar bola e depois á noite iriam se
encontrar com as suas namoradas e muitas vezes íamos aos bailes nas
garagens e depois do baile nos reunimos novamente no bar para beber
algumas cervejas e se formava então mais uma roda de bate papo pra
contarmos as nossas aventuras do dia a dia, isto era uma das ‘boas
coisas’ que um pobre ou um classe média baixa da periferia daquele
tempo podia se fazer em questão de lazer.
Umadas ‘coisas’chiquesquetambém fazíamos era comprar mais ou
menos 2m de Tergal da cor da nossa preferência e depois ir até a um
alfaiate pra que ele tirasse as nossas medidas pra depois fazer as nossas
calças bocas de sino.
Certa vez, antes de conhecermos a Sonia, o Alberto estava
trabalhando em uma firma multinacional, ele assim com os demais
25
funcionários possuíam uma carteirinha de sócio para poder frequentar o
clube social da empresa e acontece que em tal sábado iria ter lá neste
clube uma bela festa.
Mas o Alberto não tinha um amigo que trabalhava nesta empresa
que morasse na nossa vila perto da sua casa para irem e voltarem juntos
nesta festa, porqueninguém gostadesairsozinho pra algum lugar. Então
ele me propôs a ir com ele na festa.
Mas a festa era exclusiva para os funcionários, então como eu iria
entrar nessa festa se eu não trabalhava na empresa e nem possuía a tal
carteirinha de sócio?
Simples, iríamos fazer um trambique, então pegamos a carteira do
Alberto de sócio do clube arrancamos a sua foto e colamos a minha no
seu lugar,pronto assim aminhaentradaestaria ‘garantida’ e ele iria entrar
apresentando a sua carteira profissional em vezda carteira de sócio.
Uma ideia que tivemos e que daria certo, o traje exigido pra esta
festa era social,maseununcagosteide traje socialmesmoporqueeunão
tinha este tipo de roupa, porém quando chegou o dia vestimos as
melhorescalças sociais e o nosso melhor paletó e gravata que para mim
foram emprestados e lá fomos nós pra festa, na hora de entrar no clube
era visível o meu medo de ser barrado na entrada, porém o porteiro fez
vista grossa pra ‘minha’ carteira de sócio e conseguimos entrar, depois
que entramos foi só alegria.
O prato principal do jantar que iria ter antes do baile foi purê com
camarãoeconstateidepoisque eram camarõestão grandesqueeununca
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tinha visto na vida e a bebida que serviram foi uma ótima cerveja que
existiana épocademarca PilsenExtra, tinhaneste jantarcomidaebebida
a vontade, mas antes dos comes e bebes tivemos que escutar um longo
discurso de um dos diretores da empresa, depois no jantar comi e bebi
muito porque era boca livre e logo em seguida começaria o baile que foi
num salão muito bem decorado e na decoração tinha aquele globo
giratório de espelhos, tinha luzes tipo flashes e uma luznegra que só ela
ficava acesa quando estivessem tocando uma musica lenta, essa era a
ultima novidade na época em decorações de salão de bailes.
O baile estava ótimo, quando a orquestra tocava rock toda moçada
dançava e quando eu estava dançando eu via a minha silhueta toda
tremula refletida nos espelhos porque as luzes pisca-pisca dos flashes
refletiam os movimentosatédas nossasgravatas, depoisquando parava o
rocke tocavam umamusicalenta todoscorriam paraconseguir uma‘mina’
pra com ela dançar, mas eu ia beber mais cerveja.
Porque eu estava eufórico afinal não era todo o dia que participava
de uma boca livre igual a essa, mas mesmo bebendo varias cerveja eu
não ficava grogue e percebi que quando a orquestra tocava as boas
musicas ‘lentas’ de RayConif, ninguém tirava para dançar aquela garota
muito bonita que ficava em pé junto de uma mesa a qual estavam
sentados nas cadeiras uma família bem vestida.
Então lá pelas tantas ao começar tocar outra musica lenta eu fui até
aquelamesaem queestava essa‘mina’ ea convidei para dançar, na hora
eu vi um olharsevero de um senhorque estava ali sentado, era o pai dela,
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porém elenada medisseentão pequeina mãoda garota educadamente e
a trouxe pro meiodosalãoe muitoemocionado dancei uma musica lenta
com aquela que seria uma princesa por sua beleza.
Enquanto eu dançava queria que a música não acabasse nunca,
mas além da emoção de estar dançando com ela eu sentia que quase
todo mundo estava olhando pra nós e quando acabou a musica falei
algumacoisa agradávelpra mina e ela voltou para a mesa em que estava
a sua família, houve um intervalo no baile então a maioria dos rapazes
com carasdeassustadosinclusiveoAlberto foram meio que depressa até
ondeeu estava e sussurraram;Vocêé louco?Vocêtirou a filha do homem
pra dançar.
Eu fiquei sem entender porque eles estavam tão preocupados.
E eles meexplicaramentãoque o homem a qual se referiam era um
gringoqueera o principaldiretordaempresa,ele tinha a fama de ser mau
e tinhao maiorciúmedasuafilha e ele mandavaemboraqualquer um dos
funcionários que lhe desagradasse e os rapazes então tinham medo de
dançar com a sua filha, mas pouco me importava saber disso porque eu
não era funcionário dessa empresa e a filha dele que eu cortejei, aceitou
na boa dançar comigo e dançar não é nenhum ‘crime’.
E quandorecomeçouo baile os frangotes então ficaram encorajados
com aminha atitudee começaramtambém a tirar a ‘princesa’ pra dançar,
antes de mim ninguémnem seaproximavadela,masagoratodos queriam
com ela dançar e como eu fui o primeiro bem que eu poderia tentar uma
paquera com aquela mina, mas eu sabia-me por no meu lugar, eu sabia
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queaquela garotanãoera pra mim,além domaisnas festas em que eu ia
pensava que tinha que beber todas porque era uma boca livre, eu não
chegava a ficar bêbado sem saber o que faz, mas ficava eufórico sem
pensar em namoros.
Mas as horasse passaram eaquelalindameninae sua família já não
estavam maislá naquelamesa e como às horas se passaram depressa à
maioria também estava indo embora, até que chegou o fim do baile e
também dafesta a qual o Alberto meconvidou para ir e eu entrei de bicão
e quando eu estive naquele baile que foi muito chique e animado eu fui o
primeiro a ‘desafiar’ uma fera pra dançar com sua bela...
- Não foi uma rotina as nossas vidas nos anos 70, porque sempre
estava acontecendo algo fora do comum quando eu estava com a turma
ou junto com o Alberto com o Wilson ou com o Reinaldo, certa vez em
outra noiteestávamos naesquinaem que sempre também nos reunimos,
na verdade láé umaencruzilhadacom quatroesquinas,quando chegou o
Fernando outro colega nosso.
O Fernandoeraum carametido,mas ele tinha um bom papo e fazia
questãode sempreter a calçabocadesinomaislargadoqueas nossas e
ele era um dos poucos que já tinha conseguido comprar um fusca, nos
baileselese sentia o maioralporquealgumas minas o achavam parecido
com o Jerry Adriane, um cantor que era muito famoso naquele tempo
então ele se achava o maioral e nos bailes quando ele dançava usava
quase todo o salão mostrando que sabia dançar muito bem e ao mesmo
tempo exibia a sua calça boca de sino muito larga, era um exibicionista.
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Masestava ele naquela noitequandochegou aténóslá naesquina,a
pé e meioassustado,fez questãode nos cumprimentar um a um e depois
começou a contar pra nós o que aconteceu, ele tinha saído com a sua
minae tiveram que passar por aquela outra vila e disse ele que ao passar
por lámexeram com asuaminae os forçaram asaírem correndo daquele
pedaço e com o bom papo que o Fernando tinha ele nos convenceu’ pra
irmostirar satisfaçõescom oscaraseaté nos alertouque poderia haver ali
um tremendo quebra pau.
O Dorival quetrabalhava na épocademotoristaem uma confecção
muito famosa (Gledson) estava com a Kombi da firma nesta noite.
E aventureiros comoéramosnãopensamos duas vezes, colocamos
vários porretes de madeira dentro da Kombi e lá fomos nós pra outra vila
pra ‘cobrar’ o que tinham feito com o Fernando.
Chegandoatal vila descemosdaKombicadaum com um porrete na
mão, andamos alguns passos a procura dos caras e ficamos encarando
uns gatos pingados que nada tinham a ver com alguma encrenca com o
Fernando.
Foi então que não sei de onde e nem sei por que estava tão nervoso
e bufando de ódio um cara surgiu com um machado na mão e veio para
cima de nós xingando todo mundo.
Poderia haver ali naquela hora um quebra pau de lascar ou uma
tragédia ou um linchamento, mas em vez de um quebra pau ou coisa
parecida, nós os machões de plantão principalmente o Fernando ao ver
aquelafigura com um machadonamão xingando todo mundo e vindo pra
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cimadenós, correu e logo corremos também direto pra Kombi e fugimos
dali o mais depressa possível.
Ao chegarmos a nossa vila naquela esquina, descemos da Kombi nos
reunimos e cada um então deu uma desculpa esfarrapada pra a nossa
‘saídaestratégica’,unsdiziam quenãoqueriam bater em um débil mental,
outro dizia quenão queriaque na confusão amassem a Kombi, outro dizia
que não tinha levado o seu porrete de briga, fora as outras desculpas que
escutamos uns dos outros, mas a verdade é que todo mundo correu com
medo, ninguém quis enfrentar o cara do machado.
E até hoje não sabemos o que o Fernando falou pra turma daquela
vila pra despertar tamanha raiva em alguém que veio para cima de nós
com um machado na mão e nem o Fernando nos explicou o que
realmente tinha acontecido naquela vila.
Mas conhecendo bem o Fernando qualquer um deduziria que no
mínimo alguém da outra vila tinha dado uma mancada e falou alguma
gracinha prasuamina quandoelespassavam por lá e então metido como
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ele era, ele deu uma de machão e ameaçou os caras dizendo que iria
voltar lá com a sua turma que era grande e boa de briga’ e daria um pau
em todo mundo principalmente no cara que tinha feito gracinha pra sua
mina.
Depois quando o cara que tinha mexido com a sua mina viu que nós
estávamos nasua vila com porretesna mão se assustou pensando que ia
levar um tremendo dum cacete, então antes de levar um cacete ele se
armou com um machado e veio pra cima nos enfrentando e até nos fez
correr.
È ruim heim?
Uma viagem pra Santos
Reinaldo,o seu apelido semprefoi Pé com pano ele é outro colega
de infância quefoi da nossaturma, hojeem dia é um sujeito calmo que vai
levando a vida, ele é de estatura baixa e anda mancando por causa de
umaparalisia infantilque sofreu quando ainda era uma criança, daí o seu
apelido,masnanossa juventude ele foi um tipo muito falador que gostava
de tirar sarro de todo mundo e quando bebia um pouco a mais, ficava até
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chatocom assuas intermináveisbrincadeiras, mas é um velho conhecido
de muitas aventuras em que participamos juntos é um cara boa gente.
Certa vez ainda nos meados dos anos 70 em algum dia que
antecede um dos carnavais, eu e ele por acaso estávamos conversando
com uns caras que eram seus conhecidos, mas que não eram da nossa
turmae papo vai e papo vem resolvemos que iríamos pra Santos de trem,
pois naquele tempo existia a linha de trem que ia de Santos a Jundiaí.
Esta viagem de trem para Santos que muita gente fazia era uma
viagem muito legal pra se curtir, por exemplo, na descida da serra os
vagões desciam conectados em cabo de aço até o final da serra pra
depois formarem de novo um trem que seguiria até o final da viagem.
O momento da descida da serra era tenso, pois das janelas do trem
podia se observar o tanto que era íngreme aquela serra e dava pra ver o
cabo de aço que segurava os vagões passando por umas roldanas que
ficavam ao lado dos trilhos, era um sistema de uma engenharia muito
admirável,masqueinfelizmentequaseninguém davavalor e muitomenos
nós que só queríamos zoar e aproveitar a vida.
Mas antes de fazermos a viagem que foi num sábado estávamos
em seis ou sete pessoastodos na expectativa nos abastecemos de vários
tipos de bebidas, alguém levaria um litro de vinho, outro levou um litro de
conhaque, outro um litro de cinza no.
Eu o Pé com panolevamosum litrode batida de limãoque tínhamos
compradojunto,enfim levamosbebidasosuficiente paraficarmosgrogues
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durante uns dois ou três dias, mas ninguém pensou ou se importou em
comprar algum tipo de comida que seria necessário para a viagem.
Chegou o sábado e bem cedo já estávamos prontos pra viajar, a
zoeira iria se formar, no trajeto até a estação do trem eu o pé com pano e
mais alguém, começamos a dar uns goles em alguma bebida e sempre
tem um na turma que não bebe, mas isso pouco nos importava o que nós
queríamosézoar, então começamosa mexerefazer gracinhascom todas
as minas que passavam por perto, isto era uma idiotice, mas é o que
estávamos fazendo naquele instante e achando legal, quanto mais o pé
com pano ficava ‘alegre’ por causa da bebida mais ele queria beijar as
minas que passavam perto dele quando estávamos caminhando até o
ponto pra pegar o ônibus que nos levaria a estação de trem.
Chegamosàestação,muitagente muitas malas muitas conversas e
todos querendo ser o primeiro a embarcar num trem que nem tinha
estacionado ainda, uma ansiedade até que natural, afinal era um sábado
de carnaval em que muita gente estava alegre além da conta por causa
também da bebida e muita famílias estavam reunidas porque iriam viajar
pra Santos pela primeira vez, era mais uma euforia que se forma antes
das viagens de lazer.
E algunsda nossaturma continuavam a dar goles nas bebidas até a
chegada do trem que não demorou muito e chegou logo em seguida.
O embarque foi uma coisa doida parecia até que este seria o ultimo
trem que faria esta viagem, depois então de muita confusão e empurra,
empurra todos se acomodaram nas poltronas e os que tinham malas
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colocaram nos bagageiros, depois de uns 15 minutos que tínhamos
embarcado elentamenteotrem começou a se mover, começou a viagem
pra Santos.
Nesta altura já tínhamos dado vários goles nas bebidas menos
aquele cara, o pé com pano continuava a dar goles em algum litro de
bebida,nós nem iríamosrepararnadescidada serra que era a parte mais
interessante da viagem.
O pé com pano já estava eufórico e não parava quieto em lugar
nenhum então sem ter o que fazer nós começamos a segui-lo porque ele
estava indo de um vagão ao outro até chegar ao fim do trem pra depois
voltar e começar tudo de novo, não sem antes ele dar um gole em
qualquer bebida que estivesse mais a mão.
E nessa andança boba de lá para cá que estávamos fazendo,
mexíamos com as minas, fazíamos piadinhas, algumas nos xingavam, e
nós achando que era bonito fazer aquilo.
Até que em uma dessas idas e vindas de um vagão para o outro
quando o pé com pano era o primeiro da fila, reparamos nuns caras
esquisitosqueestavam sentados nas poltronas de um dos vagões, eles já
estavam lá nós é que não tínhamos reparado neles, porém eles estavam
quietossem mexercom ninguém eum deles era bem narigudo, o pé com
pano já estava alterado com a bebida, mas reparou nesse cara que era
bem narigudo e gozador como ele era não ia deixar passar batido àquela
cena.
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Então numadessascaminhadas boba que estávamos fazendo, sem
mais e nem menos o pé com pano foi bem perto daquele cara que era
bem narigudo que estava sentado e colocou o dedo indicador nas ventas
do narizdele e disse assim:
Dá o pé louro.
Pronto, estava armada a confusão, aquele seu atrevimento foi o
suficiente para começar um quebra pau entre as duas turmas, porque
aquele caranarigudo eos seuscompanheirosrapidamente se levantaram
e vieram para cima da gente e à porrada comeu solta, mas eram mais
socos no vazio do que alguém acertando alguém até por causa do
balanço do trem, porém as escoriações estavam acontecendo, foi então
que no meio da briga eu olhei de relance para o pé com pano e vi o cara
narigudo segurando o seu colarinho com a mão esquerda e com a mão
direita segurava uma navalha prestes a lhe cortar.
Ao ver aquela cena não sei como eu fiz, só sei que me deu um
estalo sai correndo e pulei com os dois pés em cima do cara que com o
impacto deixou cair à navalha no chão, algum dos nossos recolheu a
navalhae vimosque elaestava enferrujada,deposse danavalha qualquer
um de nós nãoserialoucopraquerercortaralguém entãojogaram aquela
arma pela janela do trem e agora o engraçado foi que depois disso o
quebrapaufoi diminuindoatéqueparou,porquetambém havia chegando
várias pessoas do deixe disso e estavam nos separando.
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Automaticamente nós nos afastamos uns dos outros, mas as
ameaças com palavras de ambas às partes começaram e então eles
diziam:
Vocês vão ver o que é bom quando nós chegarmos às docas, vocês
vão apanhar quando chegarmos lá e faziam várias ameaças, alguns dos
nossos respondiam com outras ameaças, mas ficou nisso, depois cada
turma ficou em um vagão.
Fomos então ‘contar o prejuízo’ e perguntamos pro pé com pano;
Bicho você está legal?
Mas o pé com pano como estava meio doidão por causa da bebida
nem deuimportância aoacontecido (quando ele estivesse sóbrio num dia
qualquer com certeza ele iria me agradecer pelo que eu tinha feito)
Mas naquela hora sabem o que ele disse sorrindo e com a maior
cara de pau?
Vocês são uns bundão, Porque foram me separar? Eu ia quebrar
aquele cara!
Não é de lascar?
Eu também estava meio alterado por causa da bebida, mas ainda
bem quequando vi o perigo eu tomei a atitude correta na hora que vi o pé
com pano preste a levar uma navalhada na cara.
Depois disso o trem que não tinha parado continuava com a sua
viagem e nós agoratambém ficamossentadosapreensivosecomentando
sobre o que poderia ocorrer quando desembarcássemos do trem lá em
Santos, afinal nos fizeram ameaçasenósnãosabíamos se aqueles caras
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moravam em Santosou se eles tinham maisalguém esperando pornósna
estação pra juntos nos pegarem, a situação não estava de todo
resolvida então até planos de fuga foram discutidos entre nós.
Até que finalmente chegamos em Santos, e felizmente ninguém nos
esperava na plataforma do trem, mas por via das duvidas saímos de
fininho e rapidamente pelo canto da estação e fomos até o ponto do
ônibus que nos levaria até a Praia.
E antes do ônibus chegar à praia, mais gracinhas do pé com pano
com as garotas, depois entramos num ônibus e no trajeto íamos
admirando a paisagem e as praias, tudo era novidade e uns 15 ou 20
minutosdepoischegamosaPraiaGrande,algum possívelpilequetinha se
passado talvez por causa da maresia ou pelo grande calor que nos fazia
suar muito.
Naquele tempo existiam Cabines que tinham que ser alugadas pra
trocarmos de roupas, elas ficava bem perto da praia, era um tipo de um
quartinhocom uma porta e os turistas a alugavam pra trocar e guardar as
suas roupas, então foi feita uma vaquinha entre nós e alugamos a tal de
Cabine.
Rapidamenteentramosnaquelaespéciedequarto tiramos a roupa e
vestimos os nossos shorts, não víamos à hora de ir à praia, as nossas
roupas ficaram então na Cabine penduradas em cabides improvisados
inclusiveo dinheiroquecadaum tinhanobolso,a chave daporta teria que
ficar com um de nós e o escolhido foi àquele cara que não bebia.
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E lá fomosnós pra praia,masnadarninguém sabia então o Maximo
que entramos na água foi até a altura acima do joelho e na praia como
semprehavia muitasmulheresdebiquíni,opé com panosófaltou avançar
em cima de uma delas e ficamos assim brincando, andando na água e
mexendo com as minas que eram bonitas e estavam de biquíni.
As horas se passavam até que alguém disse; Pô meu vamos tomar
alguma coisa, foi quando percebemos que o cara que não bebia não
estava entre nós, mas nós precisamos da chave pra abrir a porta da
Cabine pra pegar algum dinheiro e a chave estava com ele, mas um dos
nossos que tinha enrolado algum dinheiro na cintura do seu short se
ofereceu para pagar uma bebida.
Fomosentãoaté um desses ambulantesquetem nas praias e aquele
dinheiro só deu para comprar uma caipirinha, tomamos tudo e voltamos
para ver as minas e tentar alguma paquera com elas que pareciam cada
vez mais bonitas.
E ficamos nessa bobeira até que sentimos fome, foi quando chegava
o cara que não bebia, mas que era completamente diferente do nosso
colega o ‘tenente Savedra’, e quando ele chegou perto estava com uma
cara de assustado e disse assim para nós;
Caramba meu, vocês não sabem o que aconteceu... Eu ganhei uma
mina e a levei pra Cabine para tirar um sarro, mas a mina era muito
pilantraporquequandoeu estava no bem bom ela se aproveitou e roubou
o nosso dinheiro.
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Bicho, imediatamente nós pegamos a chave dele corremos até a
Cabine para conferir os bolsos das nossas calças que estavam lá
penduradas,osnossos documentos permaneciam,masogrossodo nosso
dinheiro que não era nenhuma fortuna tinha desaparecido, restaram
alguns trocados.
A fome perece até que aumentou naquela hora, mas cadê o dinheiro
paratodos almoçaremoucomeralgum lanche,xingamosmuitoele, eu e o
pé com pano queria lhe dar umas porradas, mas os outros caras que lhe
eram mais próximo não permitiram porque ele estava se desculpando.
Então sem saber o que fazer todos nós voltamos para a praia com
uma fome danada e ficamos ali de bobeira até que fomos ‘obrigados’ a
nos juntarcom uma turma que estavam ali perto com vários instrumentos
cantando samba e fazendo batucadas, ficamos então assistindo os caras
e assim que eles perguntaram se algum de nós sabia tocar algum
instrumento eue o pé com pano rapidamente nos apresentamos como os
melhorestocadoresdebandeirooudecaixaesem demorapegamoscada
um uma caixa e tome batucada, porque assim nós teríamos a chance de
filar algum salgadinho que eles estavam comendo.
Mas rapidamente nos entrosamos com os caras porque eu e o pé
com pano sabíamos batucar no ritmo certo, então teve algum deles que
nos pagou um sorvete, bicho, com a fome que nós estávamos aquele
sorvete parecia à comida mais deliciosa do mundo, então o batuque e o
sambaficaram maisanimados e conforme as musicas foram rolando nós
doisjá tínhamostornado amigosdeconfiança daquelarapaziada então os
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outros queestavam com a gente também se juntaram a roda de samba e
assim podíamosfilaralgumacoxinha e alguma bebida, depois eles ainda
nos ofereceram um lanche, não estávamos mais passando fome e numa
forma de agradecimento eu e o pé com pano, puxamos mais batucadas
nos intervalos dasmusicasconversamosmuitocom eles,masas horas se
passavam depressa e não podíamos ficar ali o tempo todo porque estava
chegando à hora de irmos embora pra São Paulo.
Tocamosmaisalgumasmusicase entãogentilmente nos despedimos
daquelarapaziada entre abraços goles de caipirinha e promessas de nos
juntarmosem outrodiaqualquer, saímos andando e mais a frente eu o pé
com pano e os outros inclusive o safado que falou que uma piranha tinha
roubado o nosso dinheiro nos juntamos para decidir como ir embora.
O aluguel da Cabine tinha sido pago no ato era praxe, mas
precisávamos de dinheiro pra pagar os ônibus que nos levariam de volta
pra nossas casas, á situação era critica e então começamos de novo a
interrogar o safado que tinha levado para a nossa Cabine a piranha que
supostamente nos roubou.
A pressão foi muito grande em cima dele até que ele disse; Olha ela
nãolevou todo o dinheiroporqueeu fui esperto e consegui esconder uma
parte, ficou evidente que ele estava mentindo desde o começo, o safado
faltou com a consideração conosco e tinha pegado uma parte do nosso
dinheiro pra fazer não sei o que, mas em vez de lhe dar umas porradas,
naquele momento o que interessava é pegarmos o resto do dinheiro que
estava com ele.
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Pegamos e contamos o dinheiro e vimos que era o suficiente para
pagarmos os ônibus que nos levaria embora, nesta altura já estávamos
vestidos com as nossas roupas então não me lembro quem repartiu um
pouco do dinheiro para cada um de nós que seria usado pra pagar o que
tinha que ser gasto até chegarmos a São Paulo.
O clima entre nós ficou completamente diferente de quando
estávamos na vinda, pois agora que estávamos voltando e se por acaso
aparecesse alguém que por algum motivo quisesse brigar com o safado
que disse que tínhamos sido roubados, nós em vez de lhe socorrer
ajudaria esse alguém a lhe dar umas porradas.
Depois então já tínhamos entrado num ônibus que pegaria a estrada
de volta, cada um na sua poltrona nada diziam entre si, até que
adormecemos,poisestávamoscansadoseaindameiogrogues por causa
das bebidas.
Chegamos a São Paulo e descemos do ônibus, mas eu e o pé com
pano fomos para um lado da rua e eles para o outro lado, ainda
pegaríamos outro ônibus, pois cada um teria que ir pra vila aonde
morávamos...
Todos na Delegacia
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Num outro final de semanaláestava a nossa turmanum começo denoite
naquela mesma esquina que era mal iluminada, estávamos todos
conversandosobre vários assuntos até que resolvemos decidir para onde
iríamosnaquelanoite,quem sabe num baileouentão poderíamos ir jantar
num restauranteou ir a um cinema,játinhaanoitecido a um bom tempo e
todos falavam, mas ninguém chegava a um acordo,
O Marcio nesta noite estava com a gente, ele já estava trabalhando
em uma firma e tinha completado 18 anos naqueles dias, mas quase
ninguém sabiadessedetalhee o Marcio queria de qualquer jeito ir com a
gente aonde quer que fossemos.
E como a maioria não sabia que ele já tinha completado 18 anos,
começaram a falar assim pra ele; Você não vai com a gente não você é
menor de idade e o Marcio retrucava, mas outro dizia; Não queremos
crianças atrás de nós, e o Marcio retrucava e outro dizia; Você não tem
nem documentos e quer sair com a gente, e tiravam o sarro com ele,
nessa altura o Marcio já estava meio puto então ele colocou a mão no
bolsode trás da calça,todosficaram quietos, mas ele tirou do bolso a sua
carteiraprofissional ecom raiva jogouelano chãoe falando alto ele disse;
Olhem aqui seus filhos da mãe eu sou maior de idade, eu tenho a minha
carteira assinada e posso ir a qualquer lugar.
Por incrível que pareça naquele exato momento um camburão da
policia que desta veznão era da Rota, com os faróis altos acessos quase
nos atropelandobrecou em cimadagente eos policiaisdesceram com as
armas apontadas para nós e disseram;
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Todomundodemãos na cabeça, e encostem-se no muro, o Marcio
se abaixouparapegara sua carteira, mas um policial falou assim; Quieto
ai rapaze pegou ele mesmo a carteira.
Era a abordagem de sempre, nos revistaram, apresentamos os
nossos documentos, mas dessa vez invocaram com o Marcio e a sua
novíssima carteira profissional, então demos as nossas explicações um
falava daqui outro falava dali, mas os policiais estavam ‘estranhando’
porqueaquelacarteira profissionalfoi jogadaaochão,entãoquerendo me
exibire mostrarsolidariedade com oMarcio eu me encostei bem perto de
um dos policiais que comandava a ação e comecei a falar bem
educadamente;
Olhe ‘seu guarda’ eu conheço o Marcio há muito tempo ele é boa
gente, maseste policialnãoquis nem saber de papo e dando uma ordem
para os outros policiais falou assim;
Mete esses dois no camburão e vamos pra delegacia.
Ferrou né, mas mesmo indo pra delegacia dentro de um
camburão eu e o Marcio achávamos que não iríamos ficar presos
porque éramos trabalhadores tínhamos documentos não éramos
marginais e nem devemos nada pra policia.
Não íamos ficar presos se não acontecesse o seguinte:
Os policiais da viatura depois de colocar eu e o Marcio no
‘chiqueirinho’ foi descendo bem devagar uma das ruas que saia da
esquina, não sem antes os policiais terem mandado irem pra suas casas
os quetinham ficadonaesquina,todos se espalharam tomado cada um o
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seu rumo,a maioriafoiporuma só rua, outro colega nosso o Batista vulgo
Pajé que também estava na roda depois de ser mandado ir embora foi
descendo a pé a mesma rua que a viatura estava descendo, ele estava
quase acompanhando de lado a viatura porque ela ia bem devagar.
E logo adiante tinha um terreno baldio coberto com um mato alto e
com um trilhomuitoestreito no meio,este trilho ia deste terrenoaté a outra
rua, todos nós conhecíamos esses lugares e assim que o ‘pajé’ chegou
em frente desse terreno ele olhou para a viatura fezum gesto obsceno e
gritou;
Seus cavalos filhos da mãe vão prender bandidos e dando uma
risada histérica entrou em uma louca disparada naquela trilha do terreno
baldio até sumir de vista.
De dentro do ‘chiqueirinho’ eu e o Marcio ‘assistimos’ parte disso
pelas frestas de ventilação na lataria da viatura, e então eu falei assim
para o Marcio;
Meu, o pajé ficou louco, agora nós vamos apanhar quando
chegarmosàdelegacia,eaindabem queos policiasnãocismou de correr
atrás dele.
Porque em vez da viatura ir atrás do pajé, ela aumentou um pouco a
velocidade,mastomamoso rumo da delegacia e ao chegar ao distrito eu
e o Marcio estávamos tensos, abriram a porta do chiqueirinho descemos
do camburão eentramosnadelegacia,pegaram osnossos documentos e
depois nos levaram pra uma cela que felizmente não tinha ninguém, eles
ficaram com os nossos documentos e nós permaneceríamos lá naquela
45
cela,nãoapanhamos,masnãosabíamosquanto tempo iríamos ficar ali e
as horas se passavam devagar, mas enquanto às horas se passavam nos
vimos mais gente presa sendo levada pra outra cela num outro andar do
prédio (eram marginais), vimos gente que vinha a delegacia buscar
socorro, um gaiato bem bêbado foi trazido e colocado na cela ao lado da
que nós estávamos e depois começou a nos pedir cigarros
insistentemente, e como as celas nos separavam eu e o Marcio meio na
gozação falávamos assim pro cara;
Cala a boca meu se não eu vou até aí te encher de porradas, você
não me conhece não?
E vimos outras coisasacontecernaquelepátio da delegacia até que
depois de horas intermináveis estava finalmente amanhecendo o dia, foi
quando nos soltaram da cela e fomos instruídos a ir até a sala do
delegado pra pegar o nosso documento e provavelmente ir embora, mas
quandochegamosàsalado delegado,todomundo estavam lá, à dona Ida
mãe do Marcio o seu pai seu José, a irmã do Marcio Roselyo seu irmão
ZéCarlos, a sua tia, o seu cachorrooseupapagaio tinhatambém aminha
mãea donaPalmira,a minha vizinha dona Aracy, o Alberto e mais não sei
quem.
O pai do Marcioeraum comercianteitaliano muito respeitado, mas o
seu modo de falar era recheado de palavrões e quando a galera nos
recebeu e viram que estava tudo bem conosco o pai do Marcio foi até a
mesa do delegado e bem sério disse assim para ele;
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Porra, com tantos bandidos pra prenderem vocês prenderam logo o
meu filho, que Ca ralho é esse?
Poderia complicar tudo aquele jeito do seu José falar com o
delegado, mas o Delegado muito consciente relevou e disse;
Nós checamos os documentos dos dois (eu e o Marcio) houve um
mal entendido eles já iam ser liberados, não os liberamos antes porque
nãotinha ninguém aquiparaacompanhá-los,mas na verdade ele não nos
liberouantes e passamos a noite toda numa cela porque ele quis nos dar
uma canseira por causa do pajé e da bendita carteira profissional do
Marcio que não tinha nada de errado.
E a nossa galera não tinha chegado antes naquele distrito porque
eles não sabiam em que delegacia nós estávamos detidos.
O Marcio e eu estávamos mortos de sono, com sede, e com fome,
mas o bom é que os nossos familiares nos encontraram e até vieram nos
buscar na delegacia e como no momento de um modo geral estava tudo
bem, fomos todos pra nossas casas...
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Mais um dia pitoresco
Quase todos os finais de semana, alguém ou vários da nossa turma
estavam metidos em algum fato pitoresco ou em alguma confusão.
Teve um dia em que eu e o Alberto estávamos lá na casa do Wilson
o ‘tenente Savedra’ e estávamos lá porque o Savedra em uma das
incursõesqueelefazia junto com outros soldados da Aeronáutica, tinham
ido até o Xingu e passaram lá alguns dias e na volta o Savedra tinha
trazido alguns quilos de carne de jacaré e então ele nos convidou para
comer a carne de Jacaré, o pé com pano dessa veznão estava.
O pai do Savedra era vivo nesse tempo, ele gostava de tomar umas
e outras, o Alberto tinha chegado primeiro lá pelas 10horas da manhã e
logo em seguida eu cheguei também, o papo estava meio frio, mas logo
fizemos uma caipirinha começamos a beber e o papo ficou melhor, a tal
carne de jacaré estava ainda sendo temperada.
A mãe do Savedra é uma excelente pessoa ela fazia de tudo para
quenos sentíssemosa vontade quandonós íamosa suacasa, porque em
muitas noites de natal principalmente eu e o pé com pano quando já
estávamos alterados pela bebida passávamos lá para respeitosamente
cumprimentá-la e ela pacientemente nos recebia mesmo que
estivéssemos cambaleando.
Eu percebi que o Alberto não ‘simpatizou’ muito com a carne de
jacaré, porque ele nunca tinha comido tal carne, mas eu também não.
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O pai do Savedra que não era de muita conversa se juntou a nós na
roda de bate papo enquanto a carne não ficasse pronta, mas ele se
‘soltou’ e entãorolouconversa detodo tipo inclusivede outras comidas,eu
além da caipirinha dei um bico na cachaça pura que o pai do Savedra
estava tomando pra poder ‘encarar’ o prato principal.
Já era mais de meio dia quando a carne ficou pronta e a mãe do
Savedra então preparou a mesa e nos chamou para comer, depois todos
estavam comendo normalmente,masoAlberto começouacomerdevagar
aquela carne branca, mas depois que comemos o primeiro pedaço
sentimos que é uma boa carne e que tem gosto de um peixe que eu não
sei dizer o nome.
Eu gostei da carnequea principioficamoscom receio de comer, não
posso dizer o mesmo do Alberto que ficou com uma cara esquisita e
comeu pouco, mas logo ninguém queria mais saber de comer, o que
importavaagoraera o bate papoe a caipirinha, o Savedra que participava
de tudo raramentebebiabebidas alcoólicassóde vez em quandoele dava
uma bicada numa caipirinha, mas ele comeu bastante, porque comer
carne de jacaré pra ele era como comer um bife bem passado.
E o papocontinuou firme,ecomeçamosafalarem viagens de ônibus
de trem ou de avião.
O Savedra estava nos contando sobre a viagem de avião que ele e
seus companheirosdo quartel tinham feito até o Xingu, foi emocionante a
parte do encontro delescom osíndiosoSavedra noscontou que os índios
são muitoarrediosedesconfiados, mas depois que pegam confiança em
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você deacordocom assuas atitudes,eles te respeitam e te protegem dos
perigos da selva.
E muita historia dos índios foram contadas pelo Savedra, e então eu
o Alberto e elecomeçamos a conjecturar sobre uma possível viagem que
poderíamos fazer para um lugar bem longe de São Paulo.
Várias cidades foram sugeridas que poderíamos ir e nós então
ficávamos imaginando e discutindo que poderíamos chegar até ao
Amazonas de ônibus. Mas outro falava, não vamos para o Amazonas não
vamos pro Nordestee deavião, também foisugerida umaviagem de trem,
mas não para Santos, aquela que eu e o Pé com pano tínhamos feito já
era o suficiente, mas tudo ficou só na possibilidade.
O final da tarde estava chegando, o pai do Savedra já tinha ido
descansar a mãe dele já tinha lavado os pratos e os talheres que nós
tínhamos usado, a caipirinha tinha se acabado então eu e o Alberto
resolvemos ir embora, mas aquele papo sobre a possibilidade de algum
dia irmos juntos conhecermos uma cidade bem longe, tinha ficado em
nossas memórias...
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Formando uma equipe de Bailes
Mais uma vez a nossa turma naquele bar, o bar do Dito, uns jogando
pebolim outrosjogandobilhar,edessavez estava com agente o Norberto,
o Norbertoera um cara alto, bem gordinho, usava também calça boca de
sino e de vez em quando ele usava uma camisa vermelha que tinha nos
ombros aquela espécie de fita dobrada e com uns botões grandes que
estavam também nos bolsos e na frente aonde se fecha a camisa, entre
nós a gente falava que ele ficava parecendo um porteiro de hotel quando
usava aquela camisa.
Mas aí de quem falasse isso ou quisesse fazer alguma gozação pra
cimadele,porqueelepartiapra porrada,masele também eraum caraboa
gente que gostava de jogar baralho valendo dinheiro, era inteligente e
estava sempre por dentro das ultimas novidades.
O Norberto aquele dia estava comentando com a agente que viu a
rapaziada do fim da rua falando em alugar um salão pra fazerem baile e
elesugeriu então quea gente também poderiafazero mesmo,só que não
era simplesmente alugar um salão e fazer baile, nós precisamos montar
uma Equipe.
Porque é preciso uma equipe para poder alugar, depois decorar o
salão, instalar a iluminação, montar um bar, tomar conta do bar, tomar
conta da portaria, enfim muitas coisas precisam ser feitas, e estávamos
falandodo quechamaríamoshojedemicronegocio, a princípio gostamos
da ideia, mas ainda era só uma ideia.
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Depois dessa conversa o Norberto já se tornou o líder, então ele
comentoumaiscoisasedissequejá podíamos fazer alguma coisa a esse
respeito e quem topasse entrar na equipe teria que colaborar de algum
jeito, mas isso seria decidido na reunião que iríamos fazer na sede do
nosso time de futebol que tinha o nome de Nove de Julho.
No dia da reunião o Norberto é quem falava e disse mais ou menos
assim;
É o seguinte eu já estou me entendendo com a rapaziada do fim da
rua e nós vamos alugar junto aquele salão que tem ali naquela rua em
frente à casado pécom pano,era um localpróximo da nossa casa, então
todos concordaram, porém os que fariam parte da equipe foram
escolhidospelo Norberto o pé com pano não sei por que não fezparte da
equipe, talvez não se interessasse o Savedra nem da reunião participou
elenão gostava de bailesquantomaisparticiparde uma equipe de bailes,
eu era meio porra louca, mas fui escolhido pelo Norberto porque com a
sua sensibilidade ele sabia que entre aqueles que ali estavam, eu e o
Alberto éramos uma dupla que sempre estavam juntos e como o Alberto
foi um dos primeiros a ser escolhido eu também fui então á equipe ficou
formada assim; Norberto, Alberto, Israel, Bodam, Ismael, Paulo e Darcy.
O ‘Projeto’ nãoficariaprontode um dia para outro, mas pelo menos
na próxima reunião que fizemos o salão já estava alugado pelas duas
equipes e ficou combinado que em uma semana o salão era nosso e na
outra seria da outra equipe e assim por diante, este salão que não era
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nada grande possuía uma espécie de um pequeno mezanino que daria
para montar um ‘bar’.
Eu fiquei encarregadode irlá à RuaSanta Ifigêniacomprarafamosa
Luz negra que seria colocada no teto do salão, e como estava animado
com o ‘projeto’ comprei também varias cartolinas e vários tubos de tintas
fluorescentes para fazer desenhos nas cartolinas que seriam colocados
nas paredes e compramos também algumas lâmpadas coloridas que
fariam parte da decoração, tudo era na base do improviso porque, por
exemplo, comprar um globo giratório de espelhos era muito caro.
E tudo caminhava bem eu era o que fazia os desenhos nas
cartolinas,sempreia comprar isso ou aquilo, colocaria as cartolinas com
desenhos nas paredes, instalaria a luz negra, o Norberto só
acompanhava,masera ele o que contribuía com uma parte maior do que
a dos outros na hora da vaquinha pra comprar as coisas ou na hora de
pagaro aluguel dosalão,e elepediupraque cada um sugerisse um nome
para a nossa equipe, para depois escolhermos o melhor, e o nome
sugerido por ele foi Holidaye este foi o nome que ficou.
Até que Chegou o final de semana, em que íamos fazer o baile do
sábado,à tarde então lá estávamos nós decorando o salão, instalando as
luzes colocandoosdesenhos na parede, enfim cada um fazia uma coisa.
Mas faltava ainda uma vitrola e faltava comprar as bebidas, mas o
Alberto se prontificou a emprestar a vitrola da sua casa e fizemos uma
vaquinha para comprar as bebidas que seriam vários litros de Rum e
várias garrafas de coca cola.
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Ao anoitecer e antes do baile o Alberto trouxe formas com gelos da
sua casaqueseriam colocadosnumacaixa deisoporparagelarascocas-
colas e ficou combinado que cada um de nós ficaria um pouco no bar
servindo o pessoal e o Darcyficaria na ‘portaria’.
O Darcysem nenhum preconceito danossa parte era um negão forte
simplórioeboagenteque até aos 15anos nunca tinha usado sapatos, ele
andava descalçonosmatosounasruas que nem eram asfaltadas, diziam
até que quando ele pisava em algum prego, o prego amassava de tão
grossa que era a sola dos seus pés e ele sempre trabalhava em serviço
pesado, agora então com mais de 18 anos ele tinha ficado mais rude
ainda,masera um caraeducado,tinhatambém umas mãos grandes com
a pele muito grossa a sua voz era pausadas, nós o chamávamos de
Darcisão, na porrada ele não tinha medo de enfrentar quem quer que
fosse, e nesse tempo havia um marginal na área que gostava de ir aos
bailes só para aprontar e acabar com os bailes, e sabendo disso o
Darcisão entãoerao caramaisapropriadoparaficar na‘portaria’donosso
baile.
E lá pelas 7 horas da noite, com o salão todo decorado, ligamos a
luz negra e depois o nosso baile, começou. Bicho foi legal, o efeito da luz
negra em um salão que não era tão grande, fazia os desenhos nas
cartolinas que estavam penduradas brilharem parecendo que eram
quadrosiluminadosetodos nós‘ficávamos’deolhosazuis com o efeito da
luz negra, as minas iam chegando e ficavam encostadas na parede, a
rapaziada conforme iam chegando pagavam a entrada para o Darcy e
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encostavam-se à outra parede, tinha uns caras que também pagavam,
entravam e nem se encostavam, iam logo tirando uma mina para dançar,
daqui a pouco o salão estava lotado com todo mundo dançando.
Devez em quandohaviaum buchichopor causa das musicas, afinal
a nossa‘discoteca’nãoera tão vasta assim e o disco do Roberto Carlos e
dos Beatles eram ao mais tocados e sempre tem os frequentadores que
querem beber, então eles tinham comprar um tique feito à mão com um
carimbo de escritório com um cara da equipe que ficava em pé perto do
bar porque bilheteria não tinha e de posse desse tique eles bebiam um
Cuba-Libre e depois voltavam a dançar.
Quando o baile terminou, mais ou menos às onze horas, porque não
podíamos ir até mais tarde por causa dos vizinhos e nem era costume
naqueletempo os bailes de ‘garagem’ passarem das onze horas e com o
salão já vazio todos da equipe tinham que estar lá, porque era à hora de
varrer e limpar para o dia seguinte que era domingo, e íamos também
contaro dinheiroque arrecadamos para depois poder beber também uns
Cuba-Libre e comentar sobre o sucesso do nosso baile, eu não tava nem
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aí para saber quanto arrecadamos e quem ficaria como tesoureiro
guardando o dinheiro.
No dia seguinte no domingo o inicio foi mais ou menos igual ao que
tive no sábado,eu iria comprarascocas-colas e à tarde o Alberto trazia as
formas com gelos para colocar na caixa de isopor que servia como
geladeira e dessa vez tinha mais discos pra serem tocados, mas os que
prevaleciam eram do Roberto Carlos e dos Beatles, o salão lotava e nós
da equipe Holidaynos sentíamos os maiorais.
O final do baile aos domingos era dez horas, e a equipe tinha que
estar lá paravarrerem e limparem ecomoeradomingo tínhamos também
que tirar a luz negra, as luzes coloridas os quadros de cartolina e levar
embora a vitrola a caixa de isopor e as garrafas etc., porque na segunda
feira o salão pertenceria à outra equipe, mas antes de ir embora
tomávamos também vários Cuba-Libre.
No próximofinaldesemana obaileseria feito pelaoutraequipe,mas
nós tínhamosum acordo, eles não pagariam para entrar no nosso baile e
nós não pagaríamos para entrar no baile deles,
E assim ficamos fazendo bailes durante algum tempo, sempre
melhorandonamedidadopossível, nessemeiotempo o Paulo baiano um
conhecido nosso que não era da equipe tinha comprado uma bateria e
formou um ‘Conjunto’ com o Pedrinho e o Toninho playboy, eles já
estavam ensaiandoum bom tempo, inclusive eu que era doido para tocar
bateriaia assistir a todosos ensaiosdo conjunto pra torcer que de vezem
quandoo Paulobaiano medeixasse ‘arranhar’alguma musica na bateria,
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os carasjá estavam tocando legal,entãonós o ‘contratamos’ paratocarno
nosso baile.
Foi bom porque o baile agora seria ao som de um conjunto e não
mais ao som de uma vitrola e ficamos assim por mais algum tempo.
Até que o repertorio das musicas que o conjunto ‘Os Poderosos’
tocava começou a ficar repetidos e enjoativos e se prestassem atenção
eles até desafinavam quando estavam tocando a musica ‘O Milionário’,
esta musica faziamuitosucesso nos bailes, mas é difícil de ser tocada na
guitarra,afinal ‘OsPoderosos’ nãoeram OsFolhas,nem OS Incríveis nem
o conjuntodo RobertoCarlos,enfim nãoera nenhum conjunto profissional
e algunsfrequentadorescomeçavam areclamar e estavam deixando de ir
ao baile,entãotrocaram osintegrantesdo conjunto para ver se melhorava
a frequência, mas não adiantou.
Então a cada final de semana ia diminuindo os frequentadores dos
bailes e nós não tínhamos o que fazer para melhorar e porque também
começaram a surgir nas imediações outros bailes em outros salões bem
maiorese bem melhores decorados do que o nosso e com aparelhagens
sofisticadasdetocadiscosoucom palcos onde ficavam os conjuntos que
contratavam pra tocar as musicas.
E a cada final de semana o desanimo entre nós ia aumentando.
O Alberto já nem se preocupava em trazer os gelos pra colocar na
caixa de isopor pra gelar as cocas-colas porque em vezde ir ao salão na
hora do baile, ele ia pra casa da Sonia que era a sua namorada, o
Norbertotambém não apareciamaisno salão, ele mesmo estava curtindo
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os bailesem outros salões,o Bodam foi o primeiro a abandonar a equipe,
o Ismael só apareceu no nosso baile uma vez porque a sua namorada
morava na zona sul e ele sempre ia pra lá, o Israel nunca tinha feito nada
e não ia fazer agora, ele só participava da equipe com o seu nome, então
quem ficaria na equipe tomando conta dos bailes?
Eu e o Darcisão?
Não dava né, então o próximo lance foi acabar com a nossa equipe
de bailes.
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O Bar do Tuna
Como tinha se acabado a nossa equipe de bailes à chamada equipe
Holiday, todos também começamos a ir aos outros bailes, mas ainda
continuamosanos reunir no bar do Dito aos sábados e domingos, mas ia
ser inauguradoum novobar na ruada minhacasa,o dono desse novo bar
tinha o apelido de Túna ele era um cara esperto e era um bom
comerciante.
E quandose inauguraum bar nodia da inauguração àbebidaégrátis
entãolá fomosnós à inauguração dessebar não sei se a turma toda, mas
muitosde nósestávamos lá menoso Savedra porque ele não frequentava
os bares, novo bar com novas instalaçõeseàgente nem conheciaoTúna,
mas ele logo veio conversar conosco e fizemos amizade então ele disse;
O quevão beberrapaziada podem se servir porque a bebida hoje é grátis,
masse frequentarem omeubar vocês irão ver que além de servir bebidas
eu vendo também salgadinhos e petiscos e até almoço de precisarem,
coisasque nos outrosbares não tem e as mesas de bilhar ficam longe do
balcão ficam lá nos fundos, ele queria cativar os seus novos clientes e
realmente nós observamos que o bar do cara tinha um o que a mais e
começaríamos a frequenta-lo.
Depois de alguns dias da inauguração como a maioria de nós tinha
as suas namoradasnóssó íamosao bar depoisdonamoro,eu e o pécom
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pano eram os que mais tempo ficavam no bar, chegávamos bem antes
dos outros e ficávamos jogando bilhar, eram partidas intermináveis que
jogávamos em duplas ou mano a mano e quando jogávamos em duplas
eu e o pé com pano contra os outros as partida quase sempre valiam
cervejas, nós não éramos imbatíveis, mas ganhávamos bastantes
cervejas.
Tinha sábados que ficava a tarde toda jogando depois ia para casa
tomava banho jantava e depois voltava pro bar e então à rapaziada ia
chegandoum aum,o Edsonbaianoeraoutro carada turma que trazia um
violão consigo,elesabiatocarbem tinhaaté certotalentoporque além das
muitasmusicasqueelecantavae tocava ele imitava também o Ari Toledo
cantando o comedor de gilete, eu gostava quando ele tocava as musicas
dos Novos Baianosporqueem algumasdelas nós é que fazíamos o coral,
me lembro que um dos versos de tal musica era esse; ‘Abre a porta e a
janela e vem ver o sol nascer’, mas o Edson ficava nervoso quando
alguém ‘atravessava’ a sua musica e fazia um pouco de ‘charme’ e até
parava de tocar quando alguém errava a letra da musica.
E nós acostumamoscom ascantoriascom oviolãoe com asmanias
do Edson baiano, tinha noite que o bar fechava porque já estava tarde,
mas nós íamos para a famosa esquina da encruzilhada e lá ficávamos
cantando mais um pouco, ele não deixava o violão guardado no bar
porque depois de uma noite de cantorias ele fazia questão de levá-lo pra
casa e quando o Edson baiano não trazia o seu violão à maioria ficava
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pedindo einsistindo paraele ir buscarecom essabajulação pracimadele
o Edson baiano ficou mais metido.
Nas noites de cantorias e bebidas no bar do Tuna começou a
aparecerporlá um cara meio estranho, ele era de estatura mediana tinha
o cabelo bem compridos, mas não conversava com ninguém
demonstrando não querer fazer amizade, ele sempre aparecia
discretamente depois das nove ou dez horas da noite, quando o
percebíamos ele já estava sentado num mesa e ficava sozinho tomando
algumacoisasem darpalpite em nada nós o achávamos misterioso, mas
como ele não mexia com ninguém ele lá ficava.
Alem das cantorias nas pausas que eram feitas a gente conversava
sobre quase tudo, conversávamos sobre jogo sobre mulheres sobre
musicaseaté sobrea polícia quenaquelebarnãotinha aparecido ainda e
de vez em quando dávamosumaolhadaparaocabeludo quenão falava e
ele continuava lá quieto com a sua bebida e depois ninguém percebia
quando ele ia embora porque ele saia quase de fininho.
Toda vez que ele aparecia era a mesma coisa, chegava
discretamente e ia pra uma mesa e lá ficava bebendo prestando atenção
em tudo sem falar com ninguém às vezes quando não estávamos
cantandoestava todo mundo falando alto e havia um radio que era ligado
quando o baiano não estava cantando havia também o barulho do jogo e
mesmoassim ocaranãofalava nadae nem dava palpitesem nada, então
uma vez na roda de bate papos em que esse cabeludo não estava perto
da gente o pé com pano sussurrou;
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Pô meu qual que é a desse cara? E confiando na nossa turma ele
completou; Se eu me invocar eu vou dar um pau nele, mas logo nós
falamos; Deixa quieto fique na sua.
Em outra noite lá estava o cara novamente e lá estávamos nós
também foi então que o Edson baiano disse;
Eu to invocado e vou falar com esse cara pra saber qual que é a
dele,eu o pé com panoemaisalguém concordamoscom o Edson baiano
que já tinha arrastado uma cadeira e colocou-a em frente da mesa
daquele cara depois sentou e educadamente puxou o assunto.
E ai meu chapa tudo bem?
E o cara, Tudo bem.
O baiano; Você vem sempre aqui né, você mora no pedaço?
Eu moro por ai, não é longe não.
Agora nós também já estávamos sentados ao lado deles e muito
curiosos para escutar o que o cabeludo tinha pra dizer.
Daí o baianocontinuouperguntando;Você está sempre sozinho você
não tem medo de andar por ai?
O cara respondeu;
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Eu sei me cuidar muito bem mesmo andando sozinho à noite por essas
ruas escuras.
O baiano insistiu, Mas se você arrumar uma encrenca com mais de
um cara o que você vai fazer sozinho?
Ele respondeu;
È como eu ti falei eu sei me cuidar e não procuro encrenca com
ninguém, mas se a encrenca vier pro meu lado...
O caraestava sentado com umadaspernasmeioesticada edizendo
isso, bem devagar ele colocou a mão por baixo da calça ao lado da
braguilha e puxou um puta dum trabuco cromado de cano longo.
Instintivamente recuamos as cadeiras e ele sempre calmo com os
movimentos bem lentos e sem apontar a arma pra ninguém, mas
segurandoelacom firmeza deuaquelemeiogiro com o punho mostrando
bem o trabuco pra nós e disse; Isso aqui é para o caso de uma
emergência,mastem quese saberusar esta armae só se usa ela na hora
certa.
(Infelizmente hoje em dia alguém andar armado ou mostrar um
revolver pra alguém é quase comum, mas estávamos nos anos 70 em
uma noite num bar de periferia).
Então quando vimos aquele revolver nós ficamos com os olhos
arregalados durante um ou dois segundos e como as atenções estavam
em cima daquele cara ele continuou falando assim;
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Eu tenho essetrabuco há muitotempo,é um 38canolongo cromado
de sete tiros, mas este trabuco não pode estar na mão de qualquer um
não e eu só uso ele em ultimo caso.
De queixos caídos e bem pianinho nós dissemos assim pra ele;
É isso ai meuchapa fiquea vontade e se precisardealgumacoisaé
só falar com a gente e ele sem se alterar recolheu e guardou o trabuco e
continuou ali sentado e sozinho.
Agora a conversa no bar já não estava tão alta e nós saímos
discretamente de perto do cara e fomos até a porta do bar, chamamos o
pé com pano e falamos assim pra ele;
E ai valentão ainda vai querer pegar o cara?
O Alberto com a sua sapiência disse,
Viu comoébom nãomexercom quem não conhecemos e o pé com
pano agora com a cara de preocupado falou;
Vai saber se o cara não é um bandido matador e outro da nossa
turma disse assim;
Pra mim esse cara tem jeito de policia e eu falei; Bicho, o cara não
mexe com ninguém vamos deixar ele na dele e assim ficou...
De vez em quando a gente voltava praquele outro bar, o bar do Dito,
mas logo retornávamos pro bar do Túna e o cara do trabuco continuava
indo lá e continuava com seu jeitão quieto, mas agora tinha sido criado
certo respeito para com ele e quando ele aparecia no bar nós agora o
cumprimentávamos e ele respondia ao cumprimento, entre nós pareceu
até que ele seria uma espécie de ‘xerife’ que nos protegeria em qualquer
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encrenca quesurgisse,saiuatéum boato dizendoque aquelecaraeraum
‘secreta’ mas ninguém explicava o que é um ‘secreta’.
Em outranoite a cantoria no bar estava bem legal o baiano já estava
bem metido porque ele sabia que cantava e tocava bem e naquela noite
ninguém estava errando as musicas, mas aí chegou por lá um bebum e
todo bebum é chato, ninguém conhecia o cara, mas na hora em que
estávamos cantando lá vinha ele e ficava perto de alguém, pois queria
cantar também, mas ele não conseguia cantar nada só atrapalhava.
O baianoficouputoporqueem todas as musicas o bebum estava se
intrometendo e estragando a cantoria, a gente disfarçava e saia de perto
do cara,masnãoadiantava era só começaroutra musica que lá vinha ele
pra perto e ficava falando enrolado.
Então pra ver se o bebum saíafora o baiano paroua musicae disse;
Pessoal preciso afinar o violão e nós fomos pro balcão pedir mais uma
bebida, o baiano não tinha saído pra rua pra ‘afinar’ o violão, mas sim pra
ver se o cara se mandava, mas em vez de se mandar o bebum meio
cambaleando foi para onde o baiano estava e agora começou a dar
palpitessobre o seu violão, o baiano deu uns dois ou três passos indo pro
lado dizendo pro bebum; Sai daqui.
Mas o bebum foi até onde ele estava e o baiano mais uma vezdisse;
Sai daqui e foi prooutro lado, mas o bebum de novo foi pra perto dele ai o
baiano não aguentou;
Bicho. A cena a seguir só acontecia nos filmes de cinema, pois o
baiano pegou o violão com as duas mãos e meteu na cabeça do bebum,
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porem o violão não quebrou e o baiano então deu outra pancada e dessa
vez o violão se partiu, o cara caiu e ficou sentado, mas ele não estava em
condição de reagir ou querer brigar com alguém então ele ficou sentado
mais um instante depois se levantou e foi embora cambaleando não sei
pra onde.
Não deu para evitar ninguém esperava que o baiano fizesse isso, o
cara era chato pra cacete, mas não oferecia perigo nenhum, o cabeludo
que assistiu a cena balançava a cabeça negativamente desaprovando a
atitudedo baiano,se cometeu umacovardiacontra um cara que por estar
de fogo se tornou um chato que estava atrapalhando as musicas que
estávamos cantando e com isso acabou-se a cantoria naquela noite.
Porque o clima ficou ‘pesado’ e ficamos todos com cara de bundão,
mas não deixamos de falar assim pro baiano;
Pô meu não precisava fazer isso.
E ele respondeu; Vocês não viram que o cara estava enchendo o
saco de todo mundo e ficava toda hora vindo pra cima de mim e não me
deixava tocar.
Mas ninguém lhe respondeu.
O baiano dessa vez além de ficar com cara de bundão ficou também
sem o seu violão.
Naquela noite fomos todos dormir mais cedo.
Mas aindateríamosmuitasoutrasaventuras e muitas outras noites de
cantorias, as que foram narradas até aqui foi só uma pequena parte,
66
porém agoravou contar pra vocês outro tipo de historia também dos anos
70. . .
Uma Historia Policial
Capitulo 1
Ficção & Realidade
No próximosábadoquasetodosjá tinham esquecidooincidentecom
o bebum e o violão do baiano, nós até combinamos de fazer uma
vaquinha pra comprar um novo violão pro baiano, mas o deixaríamos por
enquantosem um violão pra ele se tocar que uma agressão a um bebum
não é nenhum ato heroico.
Depois com um novo violão nós não íamos ficar sem as musicas e
nem ficarsem fazer um vocal paraacompanharo Edson baiano cantando
e duranteo poucotempoqueeleficousem um violão pra tocar, o radio do
bar ficava ligado o tempo todo com o volume alto.
Num sábado ainda de tarde fui ao bar do Túna que estava lotado e
quando estava chegando podia se escutar de longe o rádio com o Raul
Seixas cantando a musica ‘Maluco beleza’, no balcão todos estava
bebendoeno salãodos fundosondeestavam às mesasde bilhartambém
estava lotado parecia que naquele dia todo mundo queria beber e jogar.
O Túna e o irmão dele não estavam dando conta para servir tanta
gente e então ele pediu para um de nós lhe darmos uma força, o Alberto
foi numaboa e começoutambémaatender o pessoal o pé com pano tava
67
louco pra jogar, mas as mesas não esvaziavam mal saia um jogador já
entrava outro então resolvemos jogar palitinho até que aparecesse uma
vaga para jogar bilhar.
O jogo de palitinho valia cerveja, tinha oito jogadores que iriam
respeitaraquelaregrabesta em queo primeiroqueacertar a mão sai fora,
o segundo que acertar está fora e assim por diante até sobrarem dois
jogadores que irão disputar quem paga a cerveja, nesse tipo de jogo eu
dava sorte porqueem todas as rodadas eu era o primeiro ou o segundo a
sair e ficava esperando pra ver quem pagava.
Jogamos várias partidas de palitinho e bebemos muitas cervejas eu
só paguei uma, teve gente que pagava direto e o pé com pano para variar
tirava o sarro de quem perdia o jogo, até que finalmente uma mesa de
bilharficouvazia e fomosentão jogaralgumaspartidas,chamamoso Túna
para nos trazer mais giz daqueles que se passa nos tacos, agora o
movimentono bar estava mais tranquilo e o Alberto já não precisava mais
ficar ajudando no atendimento.
O Túna veios nos trazer o giz e comentou com a gente sobre a
lotação do bar naquele dia e foi aí que nós sugerimos pra ele fazer um
campeonato de bilhar, porque nessas horas muita gente quer jogar, mas
as mesas estão ocupadas (no salão só cabia duas mesas), mas rolando
um campeonato obarficariacheio,mastodomundoparticiparia do jogo e
o Túna respondeu, é isso mesmo eu já pensei em fazer um campeonato
de bilhar então à hora é essa, posso contar com vocês?
68
Respondemossim,vamoscomeçar afazer as regrasdo campeonato
agora mesmo e em vez de jogar uma partida de bilhar naquela hora nos
concentramos em fazer as regras do campeonato e o Túna começou
também afazer as ‘fichas’deinscrição,eleusouum caderno ecomeçoua
escrever os nomes de quem participaria e o valor que cada um teria que
pagar pra participar do campeonato.
Os nossos nomes foram os primeiros da lista que começou assim;
Alberto, Edson, Paulo, Reinaldo e depois os outros, como o Savedra não
frequentava os bares o seu nome não apareceu na lista, eram pouca as
vezes que o Savedra estava num bar e quando ele estava lá ficava no
Maximo uns cinco minutos e ia embora, mas por sermos os primeiros da
lista não quer dizer que seriamos os primeiros a jogar porque haveria um
sorteio para saber quem joga com quem, o pé com pano olhou a lista e
disse;
Pô vocês escreveram Reinaldo,ninguémvaisaberque sou eu porque
todo mundo me conhece como pé com pano, realmente se alguém
procurasse o Reinaldo pouca gente saberia dizer quem é, mas se
procurassem oPécom pano, todo mundo o apontaria então nós falamos;
Ta legal, Túna escreve aí do lado do nome Reinaldo ‘Pé com pano’ ele
ficou satisfeito e nós voltamos às regras do jogo.
Ficou estabelecido que o primeiro lugar, o campeão ganharia um
troféu e o segundo e terceiro lugar ganhariam medalhas, as regras eram
aquelas que qualquer jogador de bilhar conhece; Ninguém que está
assistindoo jogo pode dar palpite, se o seu taco espirrar você perde a vez
69
de jogar,se você esbarrarem algumabola,o adversário escolheumabola
sua e jogaelana caçapacom a mão, não vale dar branca de propósito, e
etc. e todas essas regras eram levadas a sério.
O total de dinheiroqueiriaser arrecadadoeraparacomprar o troféu,
às medalhas e pagar um tanto de cervejas e um frango assado que só os
participantes teriam direito na hora do jogo, e qualquer um que se
inscrevesse e pagasse a taxa, mas no dia do jogo não poderia estar
presente o dinheiro não seria devolvido e o cara não poderá por outro em
seu lugar.
Com as regras feitas nós marcamos o dia do campeonato para o
final do mês, seria um prazo necessário para que os demais
frequentadores do bar tivessem o conhecimento desse campeonato e
pudessem fazer as inscrições,entãonóspagamosas nossas inscrições e
falamos para o Tuna. É isso aí, agora é só esperar chegar o dia do
campeonato, bebemos mais uma cerveja e como já era de noite nós
resolvemos ir embora.
Nós não éramos tipo esses caras que ficam no bar de segunda a
segunda de dia e de noite, quando nós estávamos no bar geralmente era
um final de semana ou alguma noite em que dávamos uma passada por
lá, toda a rapaziadaque frequentavam o bar foram tomandoconhecimento
do campeonato de bilhar que iria ter no final do mês, e as inscrições iam
sendofeitas até de um modorápido,nessetempoa maioria doscarasque
frequentava os baressabiam jogarbilhar e quando havia um campeonato
70
igual a esse a noticia percorria toda a vila, então vinha gente até de outra
vila pra fazer a sua inscrição.
E quandoem outro dianós estava no bar aindaconversando sobre o
campeonato opécom panofalou;Pode embrulharo troféu e mandar para
a minha casa porque esse já é meu, o Edson baiano disse assim pro pé
com pano,Quervaler uma dúzia de cervejapor fora? Porqueeste troféu é
meu,maisalgunscarasentraram naconversae todos eles também diziam
que iriam ganhar o troféu.
Então nós chegamos até o cara que carregava aquele trabuco e o
convidamos pra que ele participasse do campeonato, mas ele disse que
preferia assistir em vez de jogar e a sua vontade foi respeitada sem
ninguém querer convencê-lo ao contrario.
Já estava mais próximo o dia do campeonato quando o Túna
apareceu lánobar com otroféu e as medalhasque ele tinha comprado lá
na cidade, ele os colocou em exposição em uma prateleira até o dia do
jogo, o troféu era bonito com mais ou menos 25 cm de altura e tinha na
sua base aquela chapinha que dizia;
Ao campeão, Parabéns.
Naquela noite então o buchicho foi geral porque todo mundo queria
ver de perto o troféu houve até umadiscussãoentredoiscarasporque um
dizia que o troféu era muito legal, mas o outro dizia que poderia ser um
troféu maior.
71
Vai começar o campeonato
Capitulo 2
Os dias se passavam durante o dia a vida era normal, mas quando
chegava à noite, lá no bar não havia quem não falasse alguma coisa a
respeitodo campeonato,nósficamossabendo que aqueles dois caras da
outra vila que eram bons pra Caramba no bilhar, tinham feito as suas
inscrições e o Mauro da nossa vila outro cara também muito bom fez
também a sua inscrição, nós estávamos vendo que o campeonato não ia
ser moleza não.
Até que finalmente chegou o grande sábado o sábado que ia
começar o campeonato de bilhar do bar do Túna.
Quando eram ainda 8 horas da manhã já havia gente em frente ao
bar, mas o bar nem tinha sido aberto ainda, porém o Túna e o seu irmão
estavam chegando naquela horapraabriro bar e foram até aplaudidospor
uns caras mais fanáticos.
Os dois cumprimentaram a galera e ainda brincaram com a gente
dizendo assim;
72
O que vocês querem aqui?
Mas logo eles abriram a porta do bar e foram pra trás do balcão
cuidardosseus afazeres, enquanto os que já tinham chegado entraram e
foram para o salãonos fundos onde estavam as mesas de bilhar, a tabela
com osnomesdosjogadores que iriam se enfrentar já estava feita em um
pedaço de cartolina e estava ela pendurada na parede perto das mesas,
todos participantes davam palpites até que resolveram começar o
campeonato, dois dos caras que confirmamos que os seus nomes
estavam no inicio da tabela seriam os primeiros a se enfrentarem então
eles foram até o portas-tacos para escolher o melhor que tinha lá.
Enquanto os demais participantes que eram agora apenas torcidas,
procuravam osmelhoreslugaresparasesentarem aondemelhordava pra
ver o jogo, o Túna nesse meio tempo tinha trazido às caixas de giz e
colocado à disposição dos jogadores e perguntou;
E aí turma já pode trazer as cervejas, mas o pessoal respondeu,
ainda é cedo deixa pra depois, ele então voltou pro balcão.
Masteve um caraque àquela horajátinha pedidoum rabo de galo e
mandou goela abaixo, todos se ajeitam daqui e dali, mas faltava um juiz
pra ter inicio a primeira das partidas do campeonato e nessas horas
ninguém quer de ser juiz, mas não demorou muito e estava chegando o
Edson baiano o cara que tocava violão, cantava bem e era juiz nos
nossos jogos de futebol, porque então ele não seria o juizdo nosso
campeonato de bilhar?
Assim que ele entrou no bar a galera toda foi até ele e perguntaram;
73
E aí baiano você não quer ser o nosso juiz?
Como ele gostava que a atenção de todos ficasse em cima dele, ele
fingiu um desinteresse e disse que não estava a fim, mas a galera dizia
pra ele;
Pô meu nós botamos a maior fé em você porque você sabe ser um
bom juiz.
E ele todo metido disse; Ta legal, mas todo mundo tem que me
obedecer.
E a galera respondeu, Falou baiano, vamos lá.
Fomos para os nossos melhores lugares nos sentamos, os dois que
iriam jogar primeiro não tinham largado os tacos e então estavam agora
cadaum doladooposto da mesaeprontos parajogar, o baiano então deu
as primeiras instruções.
O Túna tinha vindo naquela abertura da parede que separa o bar do
salão pra assistir o inicio da partida.
E o baiano com a maior pose ao lado da mesa terminando de dizer
as regras falou pros dois jogadores;
74
Podem começar, começou então o Jogo os jogadores ficaram naquele
estuda daqui, estuda dali até que um deles deu a primeira tacada, a sua
bolasó encostou-seàdo adversário que iriaagoradar a sua tacada,tacou
e também não aconteceu nada, o jogo iria ser demorado, porque eles
estavam com aquelenervosismonaturalporserem os primeiros a jogar, e
o jogo continuou tenso até que mataram a primeira bola.
O que matou a primeira bola vai chamá-lo de jogador Aficou então
menos tenso e começou a fazer melhor as jogadas até que ele matou a
segunda, o seu adversário, vamos chamar de jogador B ficou mais tenso,
e quando chegou à vez de jogador B jogar, sem fazer mira deu uma
paulada e caiu uma bola, nós chamamos esta jogada de cagada.
Só que com essa tacada que ele deu, as bolas se abriram muito e
estava na vez dele dar outra tacada, ele deu, mas dessa vez não
aconteceu nada então o jogador A aproveitando que as bolas tinham se
espalhado caprichou najogadaematoumais uma bola depois mais outra
e ficouassim,enquanto o jogador Amatou duas ou três bolas o jogador B
tinhamatadosó uma,até que o jogadorAacaboucom a partida e a vitoria
foi confirmada pelo juiz, o baiano.
Os doisjogadoresse cumprimentaramelogoem seguidacomeçaria
outra partida,mas antes vamos molhar a goela né, o Túna então tornou a
perguntar;
Pode descer as cervejas agora?
A turma respondeu, Vai descendo aos poucos porque não chegou
todo mundo ainda, mas todos já estavam bebendo fora a parte, e nisso o
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  • 2. 2 Os Incríveis anos 70 Escrito por: Paulo Guedes de Almeida Email: paulodaedna@gmail.com Todos nós que temos mais de 60 anos já tivemos um bom tempo em que éramos todos jovens.
  • 3. 3 E os que ainda são jovens, um dia irão relembrar a sua juventude. Neste livro eu escrevi certas partes desses meus bons tempos, espero que compartilhem. O Autor Lembranças... E um dia qualquer de um verão de 2011 com a barba e o cabelo já embranquecidos pelo tempo, lá estava eu no quintal da minha casa sentado em uma cadeira contemplando o por do sol num dia de céu de Brigadeiro. Nossa mente é maravilhosa, pois se você estiver meditando em um lugar calmo que esteja rodeado de arvores escutando o cantar dos pássaros ou se você estiver apreciando um por do sol num lindo final de
  • 4. 4 um dia de céu azul, a nossa mente nos fará viajar através do tempo. (Ninguém precisa ser estúpido e usar drogas pra ‘viajar’) Foi em umadessas‘meditações’ ou‘viagens’ queraramenteeu fazia por não ter sempre disponível um mesmo lugar sossegado que eu me ‘transportei’ parao passado,estava vindo em minhaslembranças os anos 70 na mesma Vila em que eu moro até hoje. Mas a Vila antes até dos anos 70 que estava se desenrolando em minha mente agora, foi completamente diferente de como está o nosso bairro hoje. Para quem nãoviveu na minhavilae nem naquela época se situar, a população do Brasil era de 90 milhões de pessoas hoje são mais de 180 milhões então os estados, as cidades e as vilas das periferias, ainda não eram tão populosas como agora e tanto na zona norte, sul, leste e oeste de São Paulo ainda existiam chácaras, em alguns lugares existiam pequenos rios e em quase todos os cantos das periferias existiam muitos terrenosbaldiosque eram cobertos de matos, os quais eram necessários se abrir neles uma trilha que nos servia de passagem para nos levar de uma rua a outra e em algum terreno maior, nós a molecada da época o carpíamos para fazer dele um campinho pra jogar bola. A iluminaçãocom aslâmpadasnospostesdas ruasnão existia e para irmos a qualquer lugar nós tínhamos que andar por ruas de terra e cortávamos caminho pelas trilhas dos terrenos baldios e quando era de noite nas nossas ‘andanças nós só contávamos com a iluminação das
  • 5. 5 luzes das poucas casas que havia aqui e ali ou então com a luzdo luar quando era noite de lua... Mas naquela época separando o tempo de Antes e Depois de eu ter mecasadocom aEdnacom quem eusoucasadoaté hoje, eu vivi uns dos melhores anos da minha vida, porque aquele foi um tempo em que eu e meus ‘camaradas’ éramos ainda uns moleques ou adolescentes que ‘podíamos tudo’. E conforme estava recordando da minha vila eu fui me aprofundando com os pensamentos nesse passado real e qualquer um dos meus colegas que viveram naquela mesma época se estivesse aqui comigo poderia concordar que foi nesse tempo que eu e eles sempre estávamos juntos em encrencas e brigas que aconteciam nos jogos de futebol dos campinhos da várzea, em disputas dos jogos de bolinha de gude ou quandoestávamosrodandopião no chão de terra de um terreno qualquer ou ainda quandoestávamosfazendo um ‘racha’ com nossos carrinhos de rolimã. Sem contar as outras brincadeiras e traquinagens que fazíamos, por exemplo, ás vezes combinava de ir ‘roubar’ caqui na chácara do português, mas na maioria das vezes não conseguíamos pegar caqui nenhum porque oscachorrosqueestavam lá na chácara nos punham pra correr. Nós fazíamos todas aquelas brincadeiras que a molecada daquele tempo podia fazer por causa do muito espaço livre nos muitos terrenos
  • 6. 6 baldios existentes inclusive soltar e correr atrás de pequenos balões nos meses de junho era praxe entre a molecada. Empinávamos pipas também, mas sem usar na linha esta droga de cerol quesó serve pracausaracidente, brincávamos também de unha na mula, mãe da rua, esconde-esconde e outras brincadeiras inocentes e saudáveis que a molecada da atualidade infelizmente nem conhecem. Na maioria das vezes nós tínhamos que ‘construir’ algo pra depois começar as brincadeiras, mas isso era bom e até educativo, às vezes queríamos jogar ‘Tacos’ ou ‘Malha’, mas antes tinha que fazer o ‘campo’ porque para quem não conhece o jogo de malha consiste em ficar arremessando unsdiscosdeferro redondoe abauladosdemaisoumenos 12 cm de diâmetro por 8 mm de espessura para atingir um pino de madeira de 15 cm de altura que fica em pé no centro de um dos círculos queficam nos lados opostos do campo que é uma faixa reta e plana com 1,5m de largurapormaisou menos18m decomprimento eo jogo de tacos também se jogava nesse mesmo lugar ou até na rua, mas com outros apetrechos para fazer os pontos. E teve um dia que estávamos jogando malha e durante o jogo o Carlinhos um dos nossos colegas fezo que não pode fazer nunca nesse jogo, ele se distraiu e avançou o campo na hora que o adversário ainda estava arremessandoaultimamalha,eleavançou o campo e se agachou pararecolherumamalha que estava caída perto dele quando a outra que foi arremessada veio em meia altura e bateu na sua cabeça, porém ele deusorte porqueamalhaque estava em trajetória não bateu de quina ela
  • 7. 7 bateude ‘chapa’ nasuacabeça e depois de atingir a sua cabeça ela caiu no mato que ficava no lado do campo. Doeu muito com certeza, pois chorando ele foi embora pra sua casa, mas ainda bem que a malha não bateu de quina na sua cabeça senão esse acidente poderia ser até fatal, mas depois desse acidente o jogo perdeua graçaentão fomosprocurara malha que tinha batido na cabeça do Carlinhos, nós já tínhamos recolhido as outras malhas, mas por mais que procurássemos aquela que tinha atingido a cabeça do Carlinhos ninguém a encontrava, até carpimos um pedaço do mato que ficava no lado do campo aonde ela tinha caído, mas ninguém a encontrou, Depois que o Carlinhos foi socorrido e ‘medicado’ e estava tudo bem com ele, mas sem que ninguém conseguisse encontrar a tal malha, os engraçadinhos começaram a dizer que ela bateu e foi pra dentro da sua cabeça que era muito grande... Tevetambém aquelediada ‘Rabeira’ sem retorno, foi o seguinte; De vez em quando aparecia na vila um caminhão pipa que vinha para abasteceralgumacasacujo poço não continha mais água, ele abastecia aquela casa e depois ele
  • 8. 8 ia até um certo lugar que era ali perto pra ‘pegar’ mais água e voltava pra abastecer outra casa. E nesse vai e vem algum moleque sempre pegava rabeira nesse caminhão, pois sabíamos que ele sempre voltava pra vila, mas na nossa molecagem e na vontade de pegar rabeira naquele caminhão eu nem contei que numa dessas idas o caminhão poderia estar indo embora pra não sei onde e só voltaria não sei quando. E foi justamente numa dessas idas que não ia ter retorno pra nossa vila que eu e mais outro moleque pegamos rabeira naquele caminhão. Estava tudo maravilha havia até lugar pra sentar no meio de uma bombade água que ficava na traseira da carroceria desse caminhão e lá fomos nós ‘passear’ passados uns 15 minutos o caminhão entrou por umas ruas que eu nem conhecia e parece que cada vez mais ele aumentava a velocidade, estávamos apavorados porque o caminhão agora estava passando por umas ruas asfaltadas que era bem longe das nossascasas, játínhamospercebido queelenãoia voltar pra nossa vila, o motorista nem imaginava que nós estávamos na rabeira do caminhão e
  • 9. 9 nãotinha jeito de dizer pra ele parar, então o moleque que estava comigo consegui descer do caminhão em movimento e eu sem ter outra saída ia também fazer a mesma coisa que ele. Mas devido ao meu tamanho ou ao meu apavoramento na hora de descerdocaminhão em movimento ao por os pés no chão eu não corri o suficiente e então cai e ao cair o meu braço com o peso do meu corpo bateu na guia da rua, nessa hora eu vi ‘estrelas’, que se vê quando sentimosuma forte dor, depois me sentei na calçada, pois estava zonzo e com o braço quebrado e logo fiquei rodeado por algumas pessoas e ficamosesperando achegadadeuma ambulância que iria me socorrer e melevar pro hospital,depoisde medicadoláno hospital umacaminhonete da prefeitura melevou pra casa e chegandoem casa sentiaainda alguma dor, masfui acolhidopelaminhamãequemecolocou de‘repouso,poiseu estava com obraço quebrado,mascom isso tive o ‘direito’ de comer uma maça... (comer uma maça na época era muito raro). Depois desses e de muitos outros acontecimentos se passou um tempo, se passou alguns anos até que já não éramos mais aqueles moleques com as nossas aventuras, então as minhas lembranças foram para quando: Éramos jovens e estávamos no começo dos anos 70, tínhamos deixadodelado aquelasbrincadeirasdemolequese começaríamosagora a ir aos bailes de garagem, íamos paquerar as minas e estaríamos também juntosem muitosoutrostipos deaventuras mirabolantesinclusive nos jogos de mesa de bar ou nas conquistas amorosas que cada um de
  • 10. 10 nós ás vezes conseguia comasbelasgarotasqueusavam minissaia e por ali moravam. Aqueles quatro rapazes que moravam naquela vila, eu o Wilson o Alberto e o Reinaldo que dentre muitos outros jovens, nos conhecíamos desde que tínhamos mais ou menos nove anos de idade e devido ao estágio da idade em que estávamos agora nós não tínhamos medo do perigo e estávamos sempre prontos para uma nova aventura estando em duplas em três em quatro ou em uma turma. - Wilson, o Wilson assim que completou 18 anos de idade foi ser militar, ele sempre foi um cara sério que gostava de ser militar e mesmo quando estava fora daquele quartel da aeronáutica o qual ele servia, na sua vida civil e principalmente quandonósnos juntávamos pra sair à noite em qualquer tipo de aventura, lá estava ele com o seu jeitão de soldado e com um revolver bem escondidonacintura,porisso que ‘colocamos’ nele o apelido de ‘Tenente Savedra’. E foi assim recordando da minha adolescência e agora da minha juventude que estavam desenrolando em meus pensamentos as muitas aventuras em que eu participei. Teve certa noite que nós quatro e mais alguns amigos estávamos voltando a pé de uma quermesse que tínhamos ido lá num bairro vizinho. Nós vínhamos caminhando por aquelas ruas quase ás escuras e cortando caminho por aqueles atalhos nos terrenos, o papo entre nós estava animado esem queninguém combinasse o assunto virou pra fazer gozaçãocom oWilsonentão um começouafalar pra ele maneirar porque
  • 11. 11 ele não precisava ser tão sério assim, outro falava que ele até parecia o ‘urtigão ’com aquele seu jeito, outro o chamava de o zangado ‘tenente Savedra’ e fazíamos varias piadinhas de quartéis pra cima dele e ele sempre sisudo dizia: Para com isso seus filhos da mãe, parem de me encher o saco. Tinha colega nosso que não sabia que ele andava armado e a gozação então continuou pra cima do Wilson e ele muito sério falava: Para com isso senãoeu meto bala em vocês, mas as piadinhas sem graçaquenós fazíamos pra cimadele continuaramecontinuaram até que um mais engraçadinho que sabia que ele andava armado disse assim; Eu não tenho medo do seu revolver, eu mijo no cano dele. Pra que aquele cara disse aquilo, nãodeu outra né, o Wilson que já estava muito puto ao ouvir isso meteu a mão na cintura sacou o seu revolver e apontando pra nós disse aos berros: Agora vocês vão ter que correr seus filhos da mãe porque eu vou meter bala em vocês. Bicho. Mal deu tempo de nós ouvirmos essa ameaça e a correria foi geral não ficou um sem correr, teve gente que no meio da correria tropeçou ecaiu,masse levantou e continuoucorrendo sem nem olhar pra trás e quando todos nós estávamos correndo por entre aqueles terrenos podiase escutaros pipocosdostiroscujasbalaspassavam zunindo acima das nossascabeçase continuamosacorreratéquechegamosnum bar, o bar do Dito em que sempre nos reunimos e ficamos ali recuperando o fôlego e esperando o Wilson chegar.
  • 12. 12 Passados algunsminutoseleapareceu,vinhacaminhandoem passos normais e quando ele chegou perto, nós agora é que estávamos bem sérios e apreensivos e então alguém disse pra ele; Eu não esperava que você atirasse em nós. O Wilson bem sisudo respondeu; Eu não avisei pra vocês parar de encher o meu saco? E quero ver agoraquem vai tentar mijarno canodomeurevolver sem antes levar bala! Após dizer isso o Wilson foi pra porta do bar e ficou ali com os braços cruzadoscom aqueleseujeitão,masnãoaconteceunenhuma briga entre nós e ninguém era louco de desafiar o Wilson mais uma vez ali no bar, então nós fomos beber alguma coisa e comentar sobre o que tinha ocorrido e no meio do papo alguém falou; Caramba meu, o Savedra ficou doido? E se ele me acertasse um tiro na bunda? Todos caíram na gargalhada, todos menos o Wilson que só deu um pequeno sorriso, mas com isso a tensão acabou e a amizade entre nós continuouporquenósconhecíamos bem o Wilson ele era um cara sisudo com seu jeitão militar, mas ele tem um bom coração e jamais ele atiraria em algum de nós pra acertar, nós é que o provocamos pra ver se ele atirava mesmo e as balas dos tiros que ele disparou passaram a mais ou menos 3 metros acima das nossas cabeças e foi pra nos assustar e nos fazer correr... - Alberto, o Alberto apesar da pouca idade em que nós tínhamos nessaépoca,era umapessoa quenãotinha umagrandeexperiência,mas
  • 13. 13 certasabedoriadevida porqueem varias ocasiõesem queeleconversava comigo que era o seu vizinho de casa e amigo de infância, ele me aconselhava ou mostrava o melhor caminho pra sair de uma situação embaraçosa que por acaso eu tinha me metido. Ele era o galã da nossa turma as minas o achavam bonito, em todos os bailes ou nas cidades em que visitávamos as minas vinham pro seu lado, em algumas vezes uma delas a qual eu ficava gamado nem me dava bola porque queria namorar o Alberto que por sua vez não mostrava nenhum interesse praquela determinada garota e eu ficava danado com essa situação, ele me chamava de Lins porque nasci em Lins e eu de vezem quando eu o chamava de Móquense porque ele nasceu na Mooca. Até que num belo dia a mais linda de todas as garotas que até então nós já tínhamos conhecido apareceu lá na nossa rua, ela estava conversando com uma colega nossa chamada Rosana e assim que a vimos fomos pra perto delas pra ver de perto aquela mina, a Rosana apresentou-a, mas foi uma apresentação meio apressada que tivemos porquelogoelateve que ir emboraequandoela tinha ido embora pra sua casanós quisemos saber tudo sobre ela fazendo um monte de perguntas pra Rosana sobre aquela garota que morava distante a três ruas paralela a nossa, mas que nunca a tínhamos visto antes. E depois que a conhecemos tanto eu como o Alberto ficamos ‘apaixonados’ porelaenão víamos à horade podervê-la novamente, mas os dias se passavam e cadê a mina? Só faltava implorar pra Rosana
  • 14. 14 trazê-la de novo pra perto de nós porque ela não aparecia mais lá na nossa rua, diziam que o seu pai não a deixava sair de casa. Porém nesse meiotempoaRosanajá tinha comentado com a Sonia, esse é o nome dela, que tanto eu como o Alberto estávamos loucos pra com ela namorar e já tinha começado uma ‘disputa’ entre nós pra ver quem conseguiria ‘ganhar’ aquela mina. Até quenumanoite fria de junho combinamosdeir a uma festa junina na escola que ela estudava e que ficava meio distante da nossa casa, e nós só iríamos á esta festa porque a Rosana nos contou que a Sonia estaria lá. Então quando já estávamos lá na festa, não sei por que o Alberto disseque precisava daruma chegada em sua casa, mas voltaria logo em seguida e foi então de carro com o Zé Carlos, ele não tinha voltado ainda quando começaram aquelas brincadeiras entre os participantes de uma festa junina, a nossa colega Rosana estava numa roda de meninas fazendo o papel de cupido e a Sonia que estava entre elas foi então ‘convencida’ pela Rosana a ir até onde eu estava pra que eu falasse com ela em namoro. Mas naquela hora eu estava curtindo uma ‘falsa identidade’ porque estava perto do portão da escola e calhou de ficar rodeado de estudantes do primeirograu quemefaziam várias perguntasestandotodos admirados comigoporqueeuestavavestindo umajaqueta (blusão de frio) que era do ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, e naquele tempo era muito difícil ou até impossível algum pobre da periferia poder cursar uma
  • 15. 15 universidade ainda mais cursar uma faculdade tão importante e famosa como a ITA por isso que estavam admirados comigo, porém eles não sabiam que eu tinha ganhado aquela jaqueta de um primo meu e não cursavafaculdadenenhuma,mas justo na hora em que a Sonia estava se aproximando pra que eu conversasse com ela, coincidiu que um desses alunos se aproximou mais de mim e ficou ‘grudado’ me pedindo ajuda, poiseu era o ‘herói’domomentoeeleveio me pedirajuda porque um dos seus colegassedesentendeucom elee querialhepegar pra bater e nisso a confusão foi armada porque outro aluno veio realmente pra cima dele. Naquele momento além de eu estar rodeado de estudantes que me faziam varias perguntas havia agora outros querendo brigar e outros que esperavam uma intervenção minha naquela briga, que eu vi a Sonia parada a mais ou menos 10 metros de distância me aguardando pra conversarcom elasem sabero que estava acontecendonaquele instante. Qualquer um largaria tudo e iria conversar com a garota dos seus sonhos, mas além de ser um cara tímido para conquistar namoradas e talvez por intuição eu não fosse até onde a Sonia estava porque senti naquelemomento porcausadosbochichosque eu tinha ouvido antes que o objetivo da Sonia nãoera namorarcomigo, mas sim conhecer melhor e depois namorar o Alberto através de mim porque o Alberto era um cara mais bonito do que eu e tinha uma família mais bem de vida do que a minha, eu seria apenas um degrau para a aproximação dos dois porque ela ficou sabendo através da Rosana que eu e o Alberto éramos amigos de infância e sempre estávamos juntos, então naquele momento pra não
  • 16. 16 sofrer depois a dor e a desilusão de uma grande paixão que não seria correspondida em vez de ir falar com ela eu me deixei envolver na confusão dos alunos que me admiravam ou que estavam brigando me pedindo ajuda e vi que a Sonia me esperou por um instante, mas depois se afastou dali. Eu me senti horrível e fiquei torcendo pra que ela não ficasse com raiva de mim por não ter ido falar com ela e naquela noite eu não falei com ninguém sobreoque tinha ocorrido e não sei o que Sonia falou pras suas colegassobreisso, só sei que foi criado um mal estar entre nós dois, e se por acaso eu tivesse contado pra alguém sobre o porquê de não ter ido falar com a Sonia eles iriam me tirar um sarro. Mas depois veriam que a minha ‘previsão’ se confirmaria, pois logo o Alberto e a Sonia estavam namorando,ficaram noivose depoisde maisou menos um ano já estavam casados, mas o trágico dessa historia, é que nem eu e ninguém poderíamos imaginar ou supor que após mais ou menos vinte anos, devido ás circunstancias que aconteceriam em suas vidas houve umagrande desilusãodeambas as partes e o casal então se separou e esta separação seria o motivo da uma decadência, uma
  • 17. 17 decadência psicológica e física que levaria o Alberto a beber diariamente, até queele pegouumapneumoniaedevido á fragilidadefísica em que ele se encontrava,á sua doença pioroue ele acabou falecendo quando tinha mais ou menos 38 anos de idade. Mas durante a sua‘decadência’ eu nunca o vi de porre cambaleando sem saber o que faz, eu nunca o vi chorando ou reclamando da situação em que se encontrava, parece até que ele sofria calado, mas perdi assim aquele que foi o meu melhor amigo de infância... - Durante a nossa juventude muitas outras historias reais e tristes também ficariam para ser contadas, por exemplo, alguns dos nossos amigos que também foram criados conosco lá na Vila se desvirtuaram e caiupravida docrime,um deles chamado Jessé aos vinte e poucos anos tinhase tornado um assaltantede bancos e logo acabou sendo morto em uma troca de tiros com a Rota, outro conhecido nosso ficou tanto tempo preso que após ser solto nem conhecia mais a Vila em que sempre vivemos. Outro que nem era nosso amigo, mas um conhecido, era um jovem que possuía um invejável porte físico e de vez em quando jogava bola com a nossa turma, ninguém sabia em que ele trabalhava ou se ele trabalhava e certodiacomeçouum boatoqueele tinhamatado um policial e logo depois ele desapareceu da vila. Soubemos depois que ele estava preso e na prisão apanhou muito, apanhou tanto que anos depois quando lhe soltaram da prisão ele apareceu na Vila, mas agora estava irreconhecível, estava magro todo
  • 18. 18 torto e andava se arrastando com muletas devido às surras que tinha levado por ter matado um policial. Tem também os casos de outros rapazes que eram nossos conhecidos, mas que morreram com mortes violentas cometidas através de desentendimentos e brigas que acontecem entre marginais... - Nessetempoparater um fusca era um sonho quase que impossível entre alguns de nós, então muitas vezes eu que não tinha conseguido ainda comprar uma caranga, fui um solitário andarilho nas madrugadas porque estava sempre voltando sozinho de uma festa ou de um baile que acontecia longe de casa, e em algumas dessas andanças eu era parado pela Rota em uma rua qualquer para uma checagem de rotina que era muito constante e comum nesta época, época do regime militar. Porem eu nunca fiquei preso apesar da Rota parar e enquadrar constantemente as pessoas até com metralhadoras na mão, porque nessaschecagensqueospoliciais faziam, eles pediam o seu documento de identidade e a sua carteira de trabalho e se você não fosse nenhum foragido não ‘devesse’ nada pra policia e estivesse em um trabalho fixo, poisa sua carteiraprofissional provaria isso, eleso dispensavam com uma ‘Boa noite ou um Bom dia e tenha cuidado’. Lembro-me que antes do Alberto se casar em uma noite qualquer a nossa turma toda estava naquele bar da Vila o bar do Dito, estávamos jogandopebolim, a mesa de pebolim ficava nos fundos deste bar que era um salão comprido e a mesa naquela noite além dos jogadores estava rodeadadetorcedores,a algazarraera grande e semprechegavamaisum
  • 19. 19 queao entrar no bar soltava uma piadinha em vozalta querendo relaxar o jogo, até paravam de jogar pra responder ao engraçadinho, mas logo voltavam a jogar,depoismaisum engraçadinho chegava fazendo também uma piada e depois mais outro. Até que ninguém mais dava bola e nem paravam o jogo para responder pra mais um engraçadinho, estavam todos concentrados num jogo ‘importante’ tanto os que jogavam como os que torciam. Foi então que escutamos uma voz grossa e firme vinda da porta do bar dizendo assim: Podem parar com esse jogo! Maso jogocontinuouninguémdeubola enem olhamospraver quem era aquele mais um suposto engraçadinho, mas de novo escutamos aquela voz; Parem com esse jogo! O Reinaldo era um dos jogadores que estava perdendo a partida e sem levantar a cabeça ele respondeu assim pra essa voz; Este jogo esta uma merda mesmo e está difícil de jogar com tanta gente enchendo o saco, foi quando ouvimos de novo aquela voz firme dizer: Vocês estão surdos? Eu disse pra parar com esse jogo! Foi aí que todos nós olhamos para a porta do bar pra ver quem estava falando. Bicho. Havia ali oito soldados da Rota, três deles estavam de ‘metranca’ na mão e o da vozgrossa estava com um revolver, ele era um
  • 20. 20 tenente e assim que ele confirmou que nós os tínhamos visto, ele foi adentrando no bar acompanhado de três soldados enquanto os outros quatro ficaram na porta e o tenente foi logo dizendo assim: Todo mundo de mãos na cabeça e encostem-se à parede. Não preciso dizer que todo mundo perdeu o rebolado e muito assustadosobedecemosàquelaordem,aindabem que naquela noite não estava com agente nenhum marginal, mas rapidamente nos encostamos à parede com as mãos pra cima e os soldados fizeram uma rigorosa revista em cadaum denós depoispediram os nossos documentos nós os apresentamos, depois de chegarem os nossos documentos um a um viram que nada constava de errado com nenhum de nós, mas estando ainda todos encostados á parede o tenente nos exigiu atenção e após fazer várias perguntas nos passou um severo sermão depois nos disse Boa noite rapazes e tenham juízo e foram saindo do bar, os oito soldados logo depois entraram em dois camburões que estavam estacionados do ladoda porta do bar e foram embora pelas ruas escuras da Vila a cata de marginais, depois disso relaxamos, mas o nosso jogo continuou. Os caras da nossa turma sabiam que ao sair de casa nós tínhamos que carregar no bolso os nossos documentos e o necessário em se carregar
  • 21. 21 no bolso é a nossa carteira de identidade e a nossa carteira de trabalho com um registro que prova que você é um trabalhador, a falsificação de documentos oficiais era muito rara nessa época e se por acaso aparecesse alguém com um documento falso os policiais logo identificariam e o portador desse documento ia ser preso e sofrer as consequências. Várias outras vezes estávamos na noite ou nas madrugadas passeando indo ou vindo de algum baile em um fusca que pertencia a alguém da turma e éramos parados pela Rota, a mesma historia se repetia, nos revistavam, revistavam também o fusca apresentávamos os nossos documentos e também os documentos do fusca e se nada de errado constava, éramos liberados. O simples fato de qualquer cidadão ser constantemente parado nas ruas ou nos bares pela Rota ou por outra policia, seja de dia ou de noite para serem revistados identificados e evidentemente impor a ordem, era muito confortante para os cidadãos, mas se por acaso algum desses cidadãos nessas ‘batidas’ policiais não apresentassem os seus documentosousealguém ‘devesse’ algoprajustiça de um modo geral ou se estivessem fazendo algumabadernaou seestivesse cometendoalgum crime, eram presos no ato e os comprovados criminosos de todas as espécies depois de detidos e identificados ‘puxavam’ uma cana longa e dura. E isto pra mim foi uma prova que a população naquele tempo tinha umamelhorsegurança,agoracomo houveexcessoseviolênciasporparte
  • 22. 22 de alguns policiais e depois até de certos agentes do exercito, é outro parâmetro da nossa historia. Porque agora nos dias atuais o que acontece em questão de segurança a nossa população? Vemos vários e vários crimes serem cometidos à luz do dia ou da noite e os criminosos nem vão presos e quando eles vão se forem uma figura conhecida da sociedade é solto no mesmo dia independente do crimequecometeram,vemos na televisão cenas ridículas de desordem e bandalheira que acontecem em todo canto do país, por exemplo, vemos diariamente bandos de ladrões estourando com dinamites os caixas de bancos, vemos rebeliões que acontecem em vários presídios e também nos complexos de juizado de menores, grande numero de mulheres casadasounãosão espancadasemuitasdelas são assassinadas e nada acontecemcomosseusalgozes, criançassãobrutalmenteespancadasou estupradas por adultos que em muitas vezes nem respondem criminalmente pelos seus atos, chegamos ao cumulo de ver réus confessos de assassinatos ou ladrões do colarinho branco, livres e soltos nas ruas, outro cara que também não foi preso deu até uma entrevista na televisão depois que foi filmado em uma rua acelerando o seu carro e propositalmente atropelar varias pessoas que estavam na sua frente e dizia ele nesta ‘entrevista’ que as pessoas estavam ‘atrapalhando’ a sua passagem, outros tantos motoristas completamente embriagados atropelam e matam e não ficam presos nem 24horas, fora muitas outras
  • 23. 23 tantas barbáriesqueacontecemtodosos dias e os autores desses crimes também não ficam presos nem um dia, isso é democrático? Não estou querendo defender a anarquia, seria uma burrice, todos sabem que houve torturas assassinatos e injustiças durante o regime militar,mas façam um parâmetro entre o regime militar e os dias de hoje, sobre a violência que se abateu na população por causa da impunidade dessademocraciabrasileira,sejam exigentes cobrem de forma pacifica e firmeos deveres dos políticosque‘comandam’asleise a justiça de todo o País para que os políticospelomenosrevisem e atualizem o código penal que é arcaico e desatualizado, para que a Democracia Brasileira não se torne conforme as ‘coisas’ estão indo, num ‘Estado’ de impunidade para criminosos de todas as espécies. Maschega defalar em política,isto é umapequenacomparaçãoque eu façocom omeudireitode poder me expressar sobre o antes e o agora da segurança geral da nossa população. - Nos anos 70 no modo de se viver e nas muitas aventuras em que a nossa turma participou, nós quatro, eu o Wilson o Alberto e o Reinaldo te garanto que nunca fomos uns fora da lei no sentido de cometer algum crime e nunca usamos drogas, apesar da maconha ser oferecida em muitas ocasiões, porque nós tínhamos por convicção não usar drogas e nem cometer crimes por causa da nossa educação familiar e religiosa. Mas nesse tempo a maconha foi um mal que estava começando a corromper certa parte da juventude, nós conhecíamos uns caras que a fumavam, mas quem fumava maconha naquele tempo era chamado de
  • 24. 24 bandidomaconheiro e em nossa turma eram justamente discriminados e afastados do nosso convívio. Era muito raro ouvir falar e a maioria dos jovens nem conheciam quantomaisusarem cocaínaou outradroga pesada,a bebidaalcoólica foi muitousada por nósnaqueletempo,masnão é minha intenção fazer aqui qualquer tipo de apologia à bebida alcoólica porque entre nós todos que bebiam além da conta se metiam em alguma encrenca mais séria e sempretinham algum prejuízofísicooufinanceiro, então o álcool também não deixa de ser uma droga. - Quando chegavam os finais de semana após uma semana de trabalhoquasesempre estávamosnaquelebarjogandobilhar ou pebolim, batendopapo ou se preparando pra ir jogar bola e depois á noite iriam se encontrar com as suas namoradas e muitas vezes íamos aos bailes nas garagens e depois do baile nos reunimos novamente no bar para beber algumas cervejas e se formava então mais uma roda de bate papo pra contarmos as nossas aventuras do dia a dia, isto era uma das ‘boas coisas’ que um pobre ou um classe média baixa da periferia daquele tempo podia se fazer em questão de lazer. Umadas ‘coisas’chiquesquetambém fazíamos era comprar mais ou menos 2m de Tergal da cor da nossa preferência e depois ir até a um alfaiate pra que ele tirasse as nossas medidas pra depois fazer as nossas calças bocas de sino. Certa vez, antes de conhecermos a Sonia, o Alberto estava trabalhando em uma firma multinacional, ele assim com os demais
  • 25. 25 funcionários possuíam uma carteirinha de sócio para poder frequentar o clube social da empresa e acontece que em tal sábado iria ter lá neste clube uma bela festa. Mas o Alberto não tinha um amigo que trabalhava nesta empresa que morasse na nossa vila perto da sua casa para irem e voltarem juntos nesta festa, porqueninguém gostadesairsozinho pra algum lugar. Então ele me propôs a ir com ele na festa. Mas a festa era exclusiva para os funcionários, então como eu iria entrar nessa festa se eu não trabalhava na empresa e nem possuía a tal carteirinha de sócio? Simples, iríamos fazer um trambique, então pegamos a carteira do Alberto de sócio do clube arrancamos a sua foto e colamos a minha no seu lugar,pronto assim aminhaentradaestaria ‘garantida’ e ele iria entrar apresentando a sua carteira profissional em vezda carteira de sócio. Uma ideia que tivemos e que daria certo, o traje exigido pra esta festa era social,maseununcagosteide traje socialmesmoporqueeunão tinha este tipo de roupa, porém quando chegou o dia vestimos as melhorescalças sociais e o nosso melhor paletó e gravata que para mim foram emprestados e lá fomos nós pra festa, na hora de entrar no clube era visível o meu medo de ser barrado na entrada, porém o porteiro fez vista grossa pra ‘minha’ carteira de sócio e conseguimos entrar, depois que entramos foi só alegria. O prato principal do jantar que iria ter antes do baile foi purê com camarãoeconstateidepoisque eram camarõestão grandesqueeununca
  • 26. 26 tinha visto na vida e a bebida que serviram foi uma ótima cerveja que existiana épocademarca PilsenExtra, tinhaneste jantarcomidaebebida a vontade, mas antes dos comes e bebes tivemos que escutar um longo discurso de um dos diretores da empresa, depois no jantar comi e bebi muito porque era boca livre e logo em seguida começaria o baile que foi num salão muito bem decorado e na decoração tinha aquele globo giratório de espelhos, tinha luzes tipo flashes e uma luznegra que só ela ficava acesa quando estivessem tocando uma musica lenta, essa era a ultima novidade na época em decorações de salão de bailes. O baile estava ótimo, quando a orquestra tocava rock toda moçada dançava e quando eu estava dançando eu via a minha silhueta toda tremula refletida nos espelhos porque as luzes pisca-pisca dos flashes refletiam os movimentosatédas nossasgravatas, depoisquando parava o rocke tocavam umamusicalenta todoscorriam paraconseguir uma‘mina’ pra com ela dançar, mas eu ia beber mais cerveja. Porque eu estava eufórico afinal não era todo o dia que participava de uma boca livre igual a essa, mas mesmo bebendo varias cerveja eu não ficava grogue e percebi que quando a orquestra tocava as boas musicas ‘lentas’ de RayConif, ninguém tirava para dançar aquela garota muito bonita que ficava em pé junto de uma mesa a qual estavam sentados nas cadeiras uma família bem vestida. Então lá pelas tantas ao começar tocar outra musica lenta eu fui até aquelamesaem queestava essa‘mina’ ea convidei para dançar, na hora eu vi um olharsevero de um senhorque estava ali sentado, era o pai dela,
  • 27. 27 porém elenada medisseentão pequeina mãoda garota educadamente e a trouxe pro meiodosalãoe muitoemocionado dancei uma musica lenta com aquela que seria uma princesa por sua beleza. Enquanto eu dançava queria que a música não acabasse nunca, mas além da emoção de estar dançando com ela eu sentia que quase todo mundo estava olhando pra nós e quando acabou a musica falei algumacoisa agradávelpra mina e ela voltou para a mesa em que estava a sua família, houve um intervalo no baile então a maioria dos rapazes com carasdeassustadosinclusiveoAlberto foram meio que depressa até ondeeu estava e sussurraram;Vocêé louco?Vocêtirou a filha do homem pra dançar. Eu fiquei sem entender porque eles estavam tão preocupados. E eles meexplicaramentãoque o homem a qual se referiam era um gringoqueera o principaldiretordaempresa,ele tinha a fama de ser mau e tinhao maiorciúmedasuafilha e ele mandavaemboraqualquer um dos funcionários que lhe desagradasse e os rapazes então tinham medo de dançar com a sua filha, mas pouco me importava saber disso porque eu não era funcionário dessa empresa e a filha dele que eu cortejei, aceitou na boa dançar comigo e dançar não é nenhum ‘crime’. E quandorecomeçouo baile os frangotes então ficaram encorajados com aminha atitudee começaramtambém a tirar a ‘princesa’ pra dançar, antes de mim ninguémnem seaproximavadela,masagoratodos queriam com ela dançar e como eu fui o primeiro bem que eu poderia tentar uma paquera com aquela mina, mas eu sabia-me por no meu lugar, eu sabia
  • 28. 28 queaquela garotanãoera pra mim,além domaisnas festas em que eu ia pensava que tinha que beber todas porque era uma boca livre, eu não chegava a ficar bêbado sem saber o que faz, mas ficava eufórico sem pensar em namoros. Mas as horasse passaram eaquelalindameninae sua família já não estavam maislá naquelamesa e como às horas se passaram depressa à maioria também estava indo embora, até que chegou o fim do baile e também dafesta a qual o Alberto meconvidou para ir e eu entrei de bicão e quando eu estive naquele baile que foi muito chique e animado eu fui o primeiro a ‘desafiar’ uma fera pra dançar com sua bela... - Não foi uma rotina as nossas vidas nos anos 70, porque sempre estava acontecendo algo fora do comum quando eu estava com a turma ou junto com o Alberto com o Wilson ou com o Reinaldo, certa vez em outra noiteestávamos naesquinaem que sempre também nos reunimos, na verdade láé umaencruzilhadacom quatroesquinas,quando chegou o Fernando outro colega nosso. O Fernandoeraum carametido,mas ele tinha um bom papo e fazia questãode sempreter a calçabocadesinomaislargadoqueas nossas e ele era um dos poucos que já tinha conseguido comprar um fusca, nos baileselese sentia o maioralporquealgumas minas o achavam parecido com o Jerry Adriane, um cantor que era muito famoso naquele tempo então ele se achava o maioral e nos bailes quando ele dançava usava quase todo o salão mostrando que sabia dançar muito bem e ao mesmo tempo exibia a sua calça boca de sino muito larga, era um exibicionista.
  • 29. 29 Masestava ele naquela noitequandochegou aténóslá naesquina,a pé e meioassustado,fez questãode nos cumprimentar um a um e depois começou a contar pra nós o que aconteceu, ele tinha saído com a sua minae tiveram que passar por aquela outra vila e disse ele que ao passar por lámexeram com asuaminae os forçaram asaírem correndo daquele pedaço e com o bom papo que o Fernando tinha ele nos convenceu’ pra irmostirar satisfaçõescom oscaraseaté nos alertouque poderia haver ali um tremendo quebra pau. O Dorival quetrabalhava na épocademotoristaem uma confecção muito famosa (Gledson) estava com a Kombi da firma nesta noite. E aventureiros comoéramosnãopensamos duas vezes, colocamos vários porretes de madeira dentro da Kombi e lá fomos nós pra outra vila pra ‘cobrar’ o que tinham feito com o Fernando. Chegandoatal vila descemosdaKombicadaum com um porrete na mão, andamos alguns passos a procura dos caras e ficamos encarando uns gatos pingados que nada tinham a ver com alguma encrenca com o Fernando. Foi então que não sei de onde e nem sei por que estava tão nervoso e bufando de ódio um cara surgiu com um machado na mão e veio para cima de nós xingando todo mundo. Poderia haver ali naquela hora um quebra pau de lascar ou uma tragédia ou um linchamento, mas em vez de um quebra pau ou coisa parecida, nós os machões de plantão principalmente o Fernando ao ver aquelafigura com um machadonamão xingando todo mundo e vindo pra
  • 30. 30 cimadenós, correu e logo corremos também direto pra Kombi e fugimos dali o mais depressa possível. Ao chegarmos a nossa vila naquela esquina, descemos da Kombi nos reunimos e cada um então deu uma desculpa esfarrapada pra a nossa ‘saídaestratégica’,unsdiziam quenãoqueriam bater em um débil mental, outro dizia quenão queriaque na confusão amassem a Kombi, outro dizia que não tinha levado o seu porrete de briga, fora as outras desculpas que escutamos uns dos outros, mas a verdade é que todo mundo correu com medo, ninguém quis enfrentar o cara do machado. E até hoje não sabemos o que o Fernando falou pra turma daquela vila pra despertar tamanha raiva em alguém que veio para cima de nós com um machado na mão e nem o Fernando nos explicou o que realmente tinha acontecido naquela vila. Mas conhecendo bem o Fernando qualquer um deduziria que no mínimo alguém da outra vila tinha dado uma mancada e falou alguma gracinha prasuamina quandoelespassavam por lá e então metido como
  • 31. 31 ele era, ele deu uma de machão e ameaçou os caras dizendo que iria voltar lá com a sua turma que era grande e boa de briga’ e daria um pau em todo mundo principalmente no cara que tinha feito gracinha pra sua mina. Depois quando o cara que tinha mexido com a sua mina viu que nós estávamos nasua vila com porretesna mão se assustou pensando que ia levar um tremendo dum cacete, então antes de levar um cacete ele se armou com um machado e veio pra cima nos enfrentando e até nos fez correr. È ruim heim? Uma viagem pra Santos Reinaldo,o seu apelido semprefoi Pé com pano ele é outro colega de infância quefoi da nossaturma, hojeem dia é um sujeito calmo que vai levando a vida, ele é de estatura baixa e anda mancando por causa de umaparalisia infantilque sofreu quando ainda era uma criança, daí o seu apelido,masnanossa juventude ele foi um tipo muito falador que gostava de tirar sarro de todo mundo e quando bebia um pouco a mais, ficava até
  • 32. 32 chatocom assuas intermináveisbrincadeiras, mas é um velho conhecido de muitas aventuras em que participamos juntos é um cara boa gente. Certa vez ainda nos meados dos anos 70 em algum dia que antecede um dos carnavais, eu e ele por acaso estávamos conversando com uns caras que eram seus conhecidos, mas que não eram da nossa turmae papo vai e papo vem resolvemos que iríamos pra Santos de trem, pois naquele tempo existia a linha de trem que ia de Santos a Jundiaí. Esta viagem de trem para Santos que muita gente fazia era uma viagem muito legal pra se curtir, por exemplo, na descida da serra os vagões desciam conectados em cabo de aço até o final da serra pra depois formarem de novo um trem que seguiria até o final da viagem. O momento da descida da serra era tenso, pois das janelas do trem podia se observar o tanto que era íngreme aquela serra e dava pra ver o cabo de aço que segurava os vagões passando por umas roldanas que ficavam ao lado dos trilhos, era um sistema de uma engenharia muito admirável,masqueinfelizmentequaseninguém davavalor e muitomenos nós que só queríamos zoar e aproveitar a vida. Mas antes de fazermos a viagem que foi num sábado estávamos em seis ou sete pessoastodos na expectativa nos abastecemos de vários tipos de bebidas, alguém levaria um litro de vinho, outro levou um litro de conhaque, outro um litro de cinza no. Eu o Pé com panolevamosum litrode batida de limãoque tínhamos compradojunto,enfim levamosbebidasosuficiente paraficarmosgrogues
  • 33. 33 durante uns dois ou três dias, mas ninguém pensou ou se importou em comprar algum tipo de comida que seria necessário para a viagem. Chegou o sábado e bem cedo já estávamos prontos pra viajar, a zoeira iria se formar, no trajeto até a estação do trem eu o pé com pano e mais alguém, começamos a dar uns goles em alguma bebida e sempre tem um na turma que não bebe, mas isso pouco nos importava o que nós queríamosézoar, então começamosa mexerefazer gracinhascom todas as minas que passavam por perto, isto era uma idiotice, mas é o que estávamos fazendo naquele instante e achando legal, quanto mais o pé com pano ficava ‘alegre’ por causa da bebida mais ele queria beijar as minas que passavam perto dele quando estávamos caminhando até o ponto pra pegar o ônibus que nos levaria a estação de trem. Chegamosàestação,muitagente muitas malas muitas conversas e todos querendo ser o primeiro a embarcar num trem que nem tinha estacionado ainda, uma ansiedade até que natural, afinal era um sábado de carnaval em que muita gente estava alegre além da conta por causa também da bebida e muita famílias estavam reunidas porque iriam viajar pra Santos pela primeira vez, era mais uma euforia que se forma antes das viagens de lazer. E algunsda nossaturma continuavam a dar goles nas bebidas até a chegada do trem que não demorou muito e chegou logo em seguida. O embarque foi uma coisa doida parecia até que este seria o ultimo trem que faria esta viagem, depois então de muita confusão e empurra, empurra todos se acomodaram nas poltronas e os que tinham malas
  • 34. 34 colocaram nos bagageiros, depois de uns 15 minutos que tínhamos embarcado elentamenteotrem começou a se mover, começou a viagem pra Santos. Nesta altura já tínhamos dado vários goles nas bebidas menos aquele cara, o pé com pano continuava a dar goles em algum litro de bebida,nós nem iríamosrepararnadescidada serra que era a parte mais interessante da viagem. O pé com pano já estava eufórico e não parava quieto em lugar nenhum então sem ter o que fazer nós começamos a segui-lo porque ele estava indo de um vagão ao outro até chegar ao fim do trem pra depois voltar e começar tudo de novo, não sem antes ele dar um gole em qualquer bebida que estivesse mais a mão. E nessa andança boba de lá para cá que estávamos fazendo, mexíamos com as minas, fazíamos piadinhas, algumas nos xingavam, e nós achando que era bonito fazer aquilo. Até que em uma dessas idas e vindas de um vagão para o outro quando o pé com pano era o primeiro da fila, reparamos nuns caras esquisitosqueestavam sentados nas poltronas de um dos vagões, eles já estavam lá nós é que não tínhamos reparado neles, porém eles estavam quietossem mexercom ninguém eum deles era bem narigudo, o pé com pano já estava alterado com a bebida, mas reparou nesse cara que era bem narigudo e gozador como ele era não ia deixar passar batido àquela cena.
  • 35. 35 Então numadessascaminhadas boba que estávamos fazendo, sem mais e nem menos o pé com pano foi bem perto daquele cara que era bem narigudo que estava sentado e colocou o dedo indicador nas ventas do narizdele e disse assim: Dá o pé louro. Pronto, estava armada a confusão, aquele seu atrevimento foi o suficiente para começar um quebra pau entre as duas turmas, porque aquele caranarigudo eos seuscompanheirosrapidamente se levantaram e vieram para cima da gente e à porrada comeu solta, mas eram mais socos no vazio do que alguém acertando alguém até por causa do balanço do trem, porém as escoriações estavam acontecendo, foi então que no meio da briga eu olhei de relance para o pé com pano e vi o cara narigudo segurando o seu colarinho com a mão esquerda e com a mão direita segurava uma navalha prestes a lhe cortar. Ao ver aquela cena não sei como eu fiz, só sei que me deu um estalo sai correndo e pulei com os dois pés em cima do cara que com o impacto deixou cair à navalha no chão, algum dos nossos recolheu a navalhae vimosque elaestava enferrujada,deposse danavalha qualquer um de nós nãoserialoucopraquerercortaralguém entãojogaram aquela arma pela janela do trem e agora o engraçado foi que depois disso o quebrapaufoi diminuindoatéqueparou,porquetambém havia chegando várias pessoas do deixe disso e estavam nos separando.
  • 36. 36 Automaticamente nós nos afastamos uns dos outros, mas as ameaças com palavras de ambas às partes começaram e então eles diziam: Vocês vão ver o que é bom quando nós chegarmos às docas, vocês vão apanhar quando chegarmos lá e faziam várias ameaças, alguns dos nossos respondiam com outras ameaças, mas ficou nisso, depois cada turma ficou em um vagão. Fomos então ‘contar o prejuízo’ e perguntamos pro pé com pano; Bicho você está legal? Mas o pé com pano como estava meio doidão por causa da bebida nem deuimportância aoacontecido (quando ele estivesse sóbrio num dia qualquer com certeza ele iria me agradecer pelo que eu tinha feito) Mas naquela hora sabem o que ele disse sorrindo e com a maior cara de pau? Vocês são uns bundão, Porque foram me separar? Eu ia quebrar aquele cara! Não é de lascar? Eu também estava meio alterado por causa da bebida, mas ainda bem quequando vi o perigo eu tomei a atitude correta na hora que vi o pé com pano preste a levar uma navalhada na cara. Depois disso o trem que não tinha parado continuava com a sua viagem e nós agoratambém ficamossentadosapreensivosecomentando sobre o que poderia ocorrer quando desembarcássemos do trem lá em Santos, afinal nos fizeram ameaçasenósnãosabíamos se aqueles caras
  • 37. 37 moravam em Santosou se eles tinham maisalguém esperando pornósna estação pra juntos nos pegarem, a situação não estava de todo resolvida então até planos de fuga foram discutidos entre nós. Até que finalmente chegamos em Santos, e felizmente ninguém nos esperava na plataforma do trem, mas por via das duvidas saímos de fininho e rapidamente pelo canto da estação e fomos até o ponto do ônibus que nos levaria até a Praia. E antes do ônibus chegar à praia, mais gracinhas do pé com pano com as garotas, depois entramos num ônibus e no trajeto íamos admirando a paisagem e as praias, tudo era novidade e uns 15 ou 20 minutosdepoischegamosaPraiaGrande,algum possívelpilequetinha se passado talvez por causa da maresia ou pelo grande calor que nos fazia suar muito. Naquele tempo existiam Cabines que tinham que ser alugadas pra trocarmos de roupas, elas ficava bem perto da praia, era um tipo de um quartinhocom uma porta e os turistas a alugavam pra trocar e guardar as suas roupas, então foi feita uma vaquinha entre nós e alugamos a tal de Cabine. Rapidamenteentramosnaquelaespéciedequarto tiramos a roupa e vestimos os nossos shorts, não víamos à hora de ir à praia, as nossas roupas ficaram então na Cabine penduradas em cabides improvisados inclusiveo dinheiroquecadaum tinhanobolso,a chave daporta teria que ficar com um de nós e o escolhido foi àquele cara que não bebia.
  • 38. 38 E lá fomosnós pra praia,masnadarninguém sabia então o Maximo que entramos na água foi até a altura acima do joelho e na praia como semprehavia muitasmulheresdebiquíni,opé com panosófaltou avançar em cima de uma delas e ficamos assim brincando, andando na água e mexendo com as minas que eram bonitas e estavam de biquíni. As horas se passavam até que alguém disse; Pô meu vamos tomar alguma coisa, foi quando percebemos que o cara que não bebia não estava entre nós, mas nós precisamos da chave pra abrir a porta da Cabine pra pegar algum dinheiro e a chave estava com ele, mas um dos nossos que tinha enrolado algum dinheiro na cintura do seu short se ofereceu para pagar uma bebida. Fomosentãoaté um desses ambulantesquetem nas praias e aquele dinheiro só deu para comprar uma caipirinha, tomamos tudo e voltamos para ver as minas e tentar alguma paquera com elas que pareciam cada vez mais bonitas. E ficamos nessa bobeira até que sentimos fome, foi quando chegava o cara que não bebia, mas que era completamente diferente do nosso colega o ‘tenente Savedra’, e quando ele chegou perto estava com uma cara de assustado e disse assim para nós; Caramba meu, vocês não sabem o que aconteceu... Eu ganhei uma mina e a levei pra Cabine para tirar um sarro, mas a mina era muito pilantraporquequandoeu estava no bem bom ela se aproveitou e roubou o nosso dinheiro.
  • 39. 39 Bicho, imediatamente nós pegamos a chave dele corremos até a Cabine para conferir os bolsos das nossas calças que estavam lá penduradas,osnossos documentos permaneciam,masogrossodo nosso dinheiro que não era nenhuma fortuna tinha desaparecido, restaram alguns trocados. A fome perece até que aumentou naquela hora, mas cadê o dinheiro paratodos almoçaremoucomeralgum lanche,xingamosmuitoele, eu e o pé com pano queria lhe dar umas porradas, mas os outros caras que lhe eram mais próximo não permitiram porque ele estava se desculpando. Então sem saber o que fazer todos nós voltamos para a praia com uma fome danada e ficamos ali de bobeira até que fomos ‘obrigados’ a nos juntarcom uma turma que estavam ali perto com vários instrumentos cantando samba e fazendo batucadas, ficamos então assistindo os caras e assim que eles perguntaram se algum de nós sabia tocar algum instrumento eue o pé com pano rapidamente nos apresentamos como os melhorestocadoresdebandeirooudecaixaesem demorapegamoscada um uma caixa e tome batucada, porque assim nós teríamos a chance de filar algum salgadinho que eles estavam comendo. Mas rapidamente nos entrosamos com os caras porque eu e o pé com pano sabíamos batucar no ritmo certo, então teve algum deles que nos pagou um sorvete, bicho, com a fome que nós estávamos aquele sorvete parecia à comida mais deliciosa do mundo, então o batuque e o sambaficaram maisanimados e conforme as musicas foram rolando nós doisjá tínhamostornado amigosdeconfiança daquelarapaziada então os
  • 40. 40 outros queestavam com a gente também se juntaram a roda de samba e assim podíamosfilaralgumacoxinha e alguma bebida, depois eles ainda nos ofereceram um lanche, não estávamos mais passando fome e numa forma de agradecimento eu e o pé com pano, puxamos mais batucadas nos intervalos dasmusicasconversamosmuitocom eles,masas horas se passavam depressa e não podíamos ficar ali o tempo todo porque estava chegando à hora de irmos embora pra São Paulo. Tocamosmaisalgumasmusicase entãogentilmente nos despedimos daquelarapaziada entre abraços goles de caipirinha e promessas de nos juntarmosem outrodiaqualquer, saímos andando e mais a frente eu o pé com pano e os outros inclusive o safado que falou que uma piranha tinha roubado o nosso dinheiro nos juntamos para decidir como ir embora. O aluguel da Cabine tinha sido pago no ato era praxe, mas precisávamos de dinheiro pra pagar os ônibus que nos levariam de volta pra nossas casas, á situação era critica e então começamos de novo a interrogar o safado que tinha levado para a nossa Cabine a piranha que supostamente nos roubou. A pressão foi muito grande em cima dele até que ele disse; Olha ela nãolevou todo o dinheiroporqueeu fui esperto e consegui esconder uma parte, ficou evidente que ele estava mentindo desde o começo, o safado faltou com a consideração conosco e tinha pegado uma parte do nosso dinheiro pra fazer não sei o que, mas em vez de lhe dar umas porradas, naquele momento o que interessava é pegarmos o resto do dinheiro que estava com ele.
  • 41. 41 Pegamos e contamos o dinheiro e vimos que era o suficiente para pagarmos os ônibus que nos levaria embora, nesta altura já estávamos vestidos com as nossas roupas então não me lembro quem repartiu um pouco do dinheiro para cada um de nós que seria usado pra pagar o que tinha que ser gasto até chegarmos a São Paulo. O clima entre nós ficou completamente diferente de quando estávamos na vinda, pois agora que estávamos voltando e se por acaso aparecesse alguém que por algum motivo quisesse brigar com o safado que disse que tínhamos sido roubados, nós em vez de lhe socorrer ajudaria esse alguém a lhe dar umas porradas. Depois então já tínhamos entrado num ônibus que pegaria a estrada de volta, cada um na sua poltrona nada diziam entre si, até que adormecemos,poisestávamoscansadoseaindameiogrogues por causa das bebidas. Chegamos a São Paulo e descemos do ônibus, mas eu e o pé com pano fomos para um lado da rua e eles para o outro lado, ainda pegaríamos outro ônibus, pois cada um teria que ir pra vila aonde morávamos... Todos na Delegacia
  • 42. 42 Num outro final de semanaláestava a nossa turmanum começo denoite naquela mesma esquina que era mal iluminada, estávamos todos conversandosobre vários assuntos até que resolvemos decidir para onde iríamosnaquelanoite,quem sabe num baileouentão poderíamos ir jantar num restauranteou ir a um cinema,játinhaanoitecido a um bom tempo e todos falavam, mas ninguém chegava a um acordo, O Marcio nesta noite estava com a gente, ele já estava trabalhando em uma firma e tinha completado 18 anos naqueles dias, mas quase ninguém sabiadessedetalhee o Marcio queria de qualquer jeito ir com a gente aonde quer que fossemos. E como a maioria não sabia que ele já tinha completado 18 anos, começaram a falar assim pra ele; Você não vai com a gente não você é menor de idade e o Marcio retrucava, mas outro dizia; Não queremos crianças atrás de nós, e o Marcio retrucava e outro dizia; Você não tem nem documentos e quer sair com a gente, e tiravam o sarro com ele, nessa altura o Marcio já estava meio puto então ele colocou a mão no bolsode trás da calça,todosficaram quietos, mas ele tirou do bolso a sua carteiraprofissional ecom raiva jogouelano chãoe falando alto ele disse; Olhem aqui seus filhos da mãe eu sou maior de idade, eu tenho a minha carteira assinada e posso ir a qualquer lugar. Por incrível que pareça naquele exato momento um camburão da policia que desta veznão era da Rota, com os faróis altos acessos quase nos atropelandobrecou em cimadagente eos policiaisdesceram com as armas apontadas para nós e disseram;
  • 43. 43 Todomundodemãos na cabeça, e encostem-se no muro, o Marcio se abaixouparapegara sua carteira, mas um policial falou assim; Quieto ai rapaze pegou ele mesmo a carteira. Era a abordagem de sempre, nos revistaram, apresentamos os nossos documentos, mas dessa vez invocaram com o Marcio e a sua novíssima carteira profissional, então demos as nossas explicações um falava daqui outro falava dali, mas os policiais estavam ‘estranhando’ porqueaquelacarteira profissionalfoi jogadaaochão,entãoquerendo me exibire mostrarsolidariedade com oMarcio eu me encostei bem perto de um dos policiais que comandava a ação e comecei a falar bem educadamente; Olhe ‘seu guarda’ eu conheço o Marcio há muito tempo ele é boa gente, maseste policialnãoquis nem saber de papo e dando uma ordem para os outros policiais falou assim; Mete esses dois no camburão e vamos pra delegacia. Ferrou né, mas mesmo indo pra delegacia dentro de um camburão eu e o Marcio achávamos que não iríamos ficar presos porque éramos trabalhadores tínhamos documentos não éramos marginais e nem devemos nada pra policia. Não íamos ficar presos se não acontecesse o seguinte: Os policiais da viatura depois de colocar eu e o Marcio no ‘chiqueirinho’ foi descendo bem devagar uma das ruas que saia da esquina, não sem antes os policiais terem mandado irem pra suas casas os quetinham ficadonaesquina,todos se espalharam tomado cada um o
  • 44. 44 seu rumo,a maioriafoiporuma só rua, outro colega nosso o Batista vulgo Pajé que também estava na roda depois de ser mandado ir embora foi descendo a pé a mesma rua que a viatura estava descendo, ele estava quase acompanhando de lado a viatura porque ela ia bem devagar. E logo adiante tinha um terreno baldio coberto com um mato alto e com um trilhomuitoestreito no meio,este trilho ia deste terrenoaté a outra rua, todos nós conhecíamos esses lugares e assim que o ‘pajé’ chegou em frente desse terreno ele olhou para a viatura fezum gesto obsceno e gritou; Seus cavalos filhos da mãe vão prender bandidos e dando uma risada histérica entrou em uma louca disparada naquela trilha do terreno baldio até sumir de vista. De dentro do ‘chiqueirinho’ eu e o Marcio ‘assistimos’ parte disso pelas frestas de ventilação na lataria da viatura, e então eu falei assim para o Marcio; Meu, o pajé ficou louco, agora nós vamos apanhar quando chegarmosàdelegacia,eaindabem queos policiasnãocismou de correr atrás dele. Porque em vez da viatura ir atrás do pajé, ela aumentou um pouco a velocidade,mastomamoso rumo da delegacia e ao chegar ao distrito eu e o Marcio estávamos tensos, abriram a porta do chiqueirinho descemos do camburão eentramosnadelegacia,pegaram osnossos documentos e depois nos levaram pra uma cela que felizmente não tinha ninguém, eles ficaram com os nossos documentos e nós permaneceríamos lá naquela
  • 45. 45 cela,nãoapanhamos,masnãosabíamosquanto tempo iríamos ficar ali e as horas se passavam devagar, mas enquanto às horas se passavam nos vimos mais gente presa sendo levada pra outra cela num outro andar do prédio (eram marginais), vimos gente que vinha a delegacia buscar socorro, um gaiato bem bêbado foi trazido e colocado na cela ao lado da que nós estávamos e depois começou a nos pedir cigarros insistentemente, e como as celas nos separavam eu e o Marcio meio na gozação falávamos assim pro cara; Cala a boca meu se não eu vou até aí te encher de porradas, você não me conhece não? E vimos outras coisasacontecernaquelepátio da delegacia até que depois de horas intermináveis estava finalmente amanhecendo o dia, foi quando nos soltaram da cela e fomos instruídos a ir até a sala do delegado pra pegar o nosso documento e provavelmente ir embora, mas quandochegamosàsalado delegado,todomundo estavam lá, à dona Ida mãe do Marcio o seu pai seu José, a irmã do Marcio Roselyo seu irmão ZéCarlos, a sua tia, o seu cachorrooseupapagaio tinhatambém aminha mãea donaPalmira,a minha vizinha dona Aracy, o Alberto e mais não sei quem. O pai do Marcioeraum comercianteitaliano muito respeitado, mas o seu modo de falar era recheado de palavrões e quando a galera nos recebeu e viram que estava tudo bem conosco o pai do Marcio foi até a mesa do delegado e bem sério disse assim para ele;
  • 46. 46 Porra, com tantos bandidos pra prenderem vocês prenderam logo o meu filho, que Ca ralho é esse? Poderia complicar tudo aquele jeito do seu José falar com o delegado, mas o Delegado muito consciente relevou e disse; Nós checamos os documentos dos dois (eu e o Marcio) houve um mal entendido eles já iam ser liberados, não os liberamos antes porque nãotinha ninguém aquiparaacompanhá-los,mas na verdade ele não nos liberouantes e passamos a noite toda numa cela porque ele quis nos dar uma canseira por causa do pajé e da bendita carteira profissional do Marcio que não tinha nada de errado. E a nossa galera não tinha chegado antes naquele distrito porque eles não sabiam em que delegacia nós estávamos detidos. O Marcio e eu estávamos mortos de sono, com sede, e com fome, mas o bom é que os nossos familiares nos encontraram e até vieram nos buscar na delegacia e como no momento de um modo geral estava tudo bem, fomos todos pra nossas casas...
  • 47. 47 Mais um dia pitoresco Quase todos os finais de semana, alguém ou vários da nossa turma estavam metidos em algum fato pitoresco ou em alguma confusão. Teve um dia em que eu e o Alberto estávamos lá na casa do Wilson o ‘tenente Savedra’ e estávamos lá porque o Savedra em uma das incursõesqueelefazia junto com outros soldados da Aeronáutica, tinham ido até o Xingu e passaram lá alguns dias e na volta o Savedra tinha trazido alguns quilos de carne de jacaré e então ele nos convidou para comer a carne de Jacaré, o pé com pano dessa veznão estava. O pai do Savedra era vivo nesse tempo, ele gostava de tomar umas e outras, o Alberto tinha chegado primeiro lá pelas 10horas da manhã e logo em seguida eu cheguei também, o papo estava meio frio, mas logo fizemos uma caipirinha começamos a beber e o papo ficou melhor, a tal carne de jacaré estava ainda sendo temperada. A mãe do Savedra é uma excelente pessoa ela fazia de tudo para quenos sentíssemosa vontade quandonós íamosa suacasa, porque em muitas noites de natal principalmente eu e o pé com pano quando já estávamos alterados pela bebida passávamos lá para respeitosamente cumprimentá-la e ela pacientemente nos recebia mesmo que estivéssemos cambaleando. Eu percebi que o Alberto não ‘simpatizou’ muito com a carne de jacaré, porque ele nunca tinha comido tal carne, mas eu também não.
  • 48. 48 O pai do Savedra que não era de muita conversa se juntou a nós na roda de bate papo enquanto a carne não ficasse pronta, mas ele se ‘soltou’ e entãorolouconversa detodo tipo inclusivede outras comidas,eu além da caipirinha dei um bico na cachaça pura que o pai do Savedra estava tomando pra poder ‘encarar’ o prato principal. Já era mais de meio dia quando a carne ficou pronta e a mãe do Savedra então preparou a mesa e nos chamou para comer, depois todos estavam comendo normalmente,masoAlberto começouacomerdevagar aquela carne branca, mas depois que comemos o primeiro pedaço sentimos que é uma boa carne e que tem gosto de um peixe que eu não sei dizer o nome. Eu gostei da carnequea principioficamoscom receio de comer, não posso dizer o mesmo do Alberto que ficou com uma cara esquisita e comeu pouco, mas logo ninguém queria mais saber de comer, o que importavaagoraera o bate papoe a caipirinha, o Savedra que participava de tudo raramentebebiabebidas alcoólicassóde vez em quandoele dava uma bicada numa caipirinha, mas ele comeu bastante, porque comer carne de jacaré pra ele era como comer um bife bem passado. E o papocontinuou firme,ecomeçamosafalarem viagens de ônibus de trem ou de avião. O Savedra estava nos contando sobre a viagem de avião que ele e seus companheirosdo quartel tinham feito até o Xingu, foi emocionante a parte do encontro delescom osíndiosoSavedra noscontou que os índios são muitoarrediosedesconfiados, mas depois que pegam confiança em
  • 49. 49 você deacordocom assuas atitudes,eles te respeitam e te protegem dos perigos da selva. E muita historia dos índios foram contadas pelo Savedra, e então eu o Alberto e elecomeçamos a conjecturar sobre uma possível viagem que poderíamos fazer para um lugar bem longe de São Paulo. Várias cidades foram sugeridas que poderíamos ir e nós então ficávamos imaginando e discutindo que poderíamos chegar até ao Amazonas de ônibus. Mas outro falava, não vamos para o Amazonas não vamos pro Nordestee deavião, também foisugerida umaviagem de trem, mas não para Santos, aquela que eu e o Pé com pano tínhamos feito já era o suficiente, mas tudo ficou só na possibilidade. O final da tarde estava chegando, o pai do Savedra já tinha ido descansar a mãe dele já tinha lavado os pratos e os talheres que nós tínhamos usado, a caipirinha tinha se acabado então eu e o Alberto resolvemos ir embora, mas aquele papo sobre a possibilidade de algum dia irmos juntos conhecermos uma cidade bem longe, tinha ficado em nossas memórias...
  • 50. 50 Formando uma equipe de Bailes Mais uma vez a nossa turma naquele bar, o bar do Dito, uns jogando pebolim outrosjogandobilhar,edessavez estava com agente o Norberto, o Norbertoera um cara alto, bem gordinho, usava também calça boca de sino e de vez em quando ele usava uma camisa vermelha que tinha nos ombros aquela espécie de fita dobrada e com uns botões grandes que estavam também nos bolsos e na frente aonde se fecha a camisa, entre nós a gente falava que ele ficava parecendo um porteiro de hotel quando usava aquela camisa. Mas aí de quem falasse isso ou quisesse fazer alguma gozação pra cimadele,porqueelepartiapra porrada,masele também eraum caraboa gente que gostava de jogar baralho valendo dinheiro, era inteligente e estava sempre por dentro das ultimas novidades. O Norberto aquele dia estava comentando com a agente que viu a rapaziada do fim da rua falando em alugar um salão pra fazerem baile e elesugeriu então quea gente também poderiafazero mesmo,só que não era simplesmente alugar um salão e fazer baile, nós precisamos montar uma Equipe. Porque é preciso uma equipe para poder alugar, depois decorar o salão, instalar a iluminação, montar um bar, tomar conta do bar, tomar conta da portaria, enfim muitas coisas precisam ser feitas, e estávamos falandodo quechamaríamoshojedemicronegocio, a princípio gostamos da ideia, mas ainda era só uma ideia.
  • 51. 51 Depois dessa conversa o Norberto já se tornou o líder, então ele comentoumaiscoisasedissequejá podíamos fazer alguma coisa a esse respeito e quem topasse entrar na equipe teria que colaborar de algum jeito, mas isso seria decidido na reunião que iríamos fazer na sede do nosso time de futebol que tinha o nome de Nove de Julho. No dia da reunião o Norberto é quem falava e disse mais ou menos assim; É o seguinte eu já estou me entendendo com a rapaziada do fim da rua e nós vamos alugar junto aquele salão que tem ali naquela rua em frente à casado pécom pano,era um localpróximo da nossa casa, então todos concordaram, porém os que fariam parte da equipe foram escolhidospelo Norberto o pé com pano não sei por que não fezparte da equipe, talvez não se interessasse o Savedra nem da reunião participou elenão gostava de bailesquantomaisparticiparde uma equipe de bailes, eu era meio porra louca, mas fui escolhido pelo Norberto porque com a sua sensibilidade ele sabia que entre aqueles que ali estavam, eu e o Alberto éramos uma dupla que sempre estavam juntos e como o Alberto foi um dos primeiros a ser escolhido eu também fui então á equipe ficou formada assim; Norberto, Alberto, Israel, Bodam, Ismael, Paulo e Darcy. O ‘Projeto’ nãoficariaprontode um dia para outro, mas pelo menos na próxima reunião que fizemos o salão já estava alugado pelas duas equipes e ficou combinado que em uma semana o salão era nosso e na outra seria da outra equipe e assim por diante, este salão que não era
  • 52. 52 nada grande possuía uma espécie de um pequeno mezanino que daria para montar um ‘bar’. Eu fiquei encarregadode irlá à RuaSanta Ifigêniacomprarafamosa Luz negra que seria colocada no teto do salão, e como estava animado com o ‘projeto’ comprei também varias cartolinas e vários tubos de tintas fluorescentes para fazer desenhos nas cartolinas que seriam colocados nas paredes e compramos também algumas lâmpadas coloridas que fariam parte da decoração, tudo era na base do improviso porque, por exemplo, comprar um globo giratório de espelhos era muito caro. E tudo caminhava bem eu era o que fazia os desenhos nas cartolinas,sempreia comprar isso ou aquilo, colocaria as cartolinas com desenhos nas paredes, instalaria a luz negra, o Norberto só acompanhava,masera ele o que contribuía com uma parte maior do que a dos outros na hora da vaquinha pra comprar as coisas ou na hora de pagaro aluguel dosalão,e elepediupraque cada um sugerisse um nome para a nossa equipe, para depois escolhermos o melhor, e o nome sugerido por ele foi Holidaye este foi o nome que ficou. Até que Chegou o final de semana, em que íamos fazer o baile do sábado,à tarde então lá estávamos nós decorando o salão, instalando as luzes colocandoosdesenhos na parede, enfim cada um fazia uma coisa. Mas faltava ainda uma vitrola e faltava comprar as bebidas, mas o Alberto se prontificou a emprestar a vitrola da sua casa e fizemos uma vaquinha para comprar as bebidas que seriam vários litros de Rum e várias garrafas de coca cola.
  • 53. 53 Ao anoitecer e antes do baile o Alberto trouxe formas com gelos da sua casaqueseriam colocadosnumacaixa deisoporparagelarascocas- colas e ficou combinado que cada um de nós ficaria um pouco no bar servindo o pessoal e o Darcyficaria na ‘portaria’. O Darcysem nenhum preconceito danossa parte era um negão forte simplórioeboagenteque até aos 15anos nunca tinha usado sapatos, ele andava descalçonosmatosounasruas que nem eram asfaltadas, diziam até que quando ele pisava em algum prego, o prego amassava de tão grossa que era a sola dos seus pés e ele sempre trabalhava em serviço pesado, agora então com mais de 18 anos ele tinha ficado mais rude ainda,masera um caraeducado,tinhatambém umas mãos grandes com a pele muito grossa a sua voz era pausadas, nós o chamávamos de Darcisão, na porrada ele não tinha medo de enfrentar quem quer que fosse, e nesse tempo havia um marginal na área que gostava de ir aos bailes só para aprontar e acabar com os bailes, e sabendo disso o Darcisão entãoerao caramaisapropriadoparaficar na‘portaria’donosso baile. E lá pelas 7 horas da noite, com o salão todo decorado, ligamos a luz negra e depois o nosso baile, começou. Bicho foi legal, o efeito da luz negra em um salão que não era tão grande, fazia os desenhos nas cartolinas que estavam penduradas brilharem parecendo que eram quadrosiluminadosetodos nós‘ficávamos’deolhosazuis com o efeito da luz negra, as minas iam chegando e ficavam encostadas na parede, a rapaziada conforme iam chegando pagavam a entrada para o Darcy e
  • 54. 54 encostavam-se à outra parede, tinha uns caras que também pagavam, entravam e nem se encostavam, iam logo tirando uma mina para dançar, daqui a pouco o salão estava lotado com todo mundo dançando. Devez em quandohaviaum buchichopor causa das musicas, afinal a nossa‘discoteca’nãoera tão vasta assim e o disco do Roberto Carlos e dos Beatles eram ao mais tocados e sempre tem os frequentadores que querem beber, então eles tinham comprar um tique feito à mão com um carimbo de escritório com um cara da equipe que ficava em pé perto do bar porque bilheteria não tinha e de posse desse tique eles bebiam um Cuba-Libre e depois voltavam a dançar. Quando o baile terminou, mais ou menos às onze horas, porque não podíamos ir até mais tarde por causa dos vizinhos e nem era costume naqueletempo os bailes de ‘garagem’ passarem das onze horas e com o salão já vazio todos da equipe tinham que estar lá, porque era à hora de varrer e limpar para o dia seguinte que era domingo, e íamos também contaro dinheiroque arrecadamos para depois poder beber também uns Cuba-Libre e comentar sobre o sucesso do nosso baile, eu não tava nem
  • 55. 55 aí para saber quanto arrecadamos e quem ficaria como tesoureiro guardando o dinheiro. No dia seguinte no domingo o inicio foi mais ou menos igual ao que tive no sábado,eu iria comprarascocas-colas e à tarde o Alberto trazia as formas com gelos para colocar na caixa de isopor que servia como geladeira e dessa vez tinha mais discos pra serem tocados, mas os que prevaleciam eram do Roberto Carlos e dos Beatles, o salão lotava e nós da equipe Holidaynos sentíamos os maiorais. O final do baile aos domingos era dez horas, e a equipe tinha que estar lá paravarrerem e limparem ecomoeradomingo tínhamos também que tirar a luz negra, as luzes coloridas os quadros de cartolina e levar embora a vitrola a caixa de isopor e as garrafas etc., porque na segunda feira o salão pertenceria à outra equipe, mas antes de ir embora tomávamos também vários Cuba-Libre. No próximofinaldesemana obaileseria feito pelaoutraequipe,mas nós tínhamosum acordo, eles não pagariam para entrar no nosso baile e nós não pagaríamos para entrar no baile deles, E assim ficamos fazendo bailes durante algum tempo, sempre melhorandonamedidadopossível, nessemeiotempo o Paulo baiano um conhecido nosso que não era da equipe tinha comprado uma bateria e formou um ‘Conjunto’ com o Pedrinho e o Toninho playboy, eles já estavam ensaiandoum bom tempo, inclusive eu que era doido para tocar bateriaia assistir a todosos ensaiosdo conjunto pra torcer que de vezem quandoo Paulobaiano medeixasse ‘arranhar’alguma musica na bateria,
  • 56. 56 os carasjá estavam tocando legal,entãonós o ‘contratamos’ paratocarno nosso baile. Foi bom porque o baile agora seria ao som de um conjunto e não mais ao som de uma vitrola e ficamos assim por mais algum tempo. Até que o repertorio das musicas que o conjunto ‘Os Poderosos’ tocava começou a ficar repetidos e enjoativos e se prestassem atenção eles até desafinavam quando estavam tocando a musica ‘O Milionário’, esta musica faziamuitosucesso nos bailes, mas é difícil de ser tocada na guitarra,afinal ‘OsPoderosos’ nãoeram OsFolhas,nem OS Incríveis nem o conjuntodo RobertoCarlos,enfim nãoera nenhum conjunto profissional e algunsfrequentadorescomeçavam areclamar e estavam deixando de ir ao baile,entãotrocaram osintegrantesdo conjunto para ver se melhorava a frequência, mas não adiantou. Então a cada final de semana ia diminuindo os frequentadores dos bailes e nós não tínhamos o que fazer para melhorar e porque também começaram a surgir nas imediações outros bailes em outros salões bem maiorese bem melhores decorados do que o nosso e com aparelhagens sofisticadasdetocadiscosoucom palcos onde ficavam os conjuntos que contratavam pra tocar as musicas. E a cada final de semana o desanimo entre nós ia aumentando. O Alberto já nem se preocupava em trazer os gelos pra colocar na caixa de isopor pra gelar as cocas-colas porque em vezde ir ao salão na hora do baile, ele ia pra casa da Sonia que era a sua namorada, o Norbertotambém não apareciamaisno salão, ele mesmo estava curtindo
  • 57. 57 os bailesem outros salões,o Bodam foi o primeiro a abandonar a equipe, o Ismael só apareceu no nosso baile uma vez porque a sua namorada morava na zona sul e ele sempre ia pra lá, o Israel nunca tinha feito nada e não ia fazer agora, ele só participava da equipe com o seu nome, então quem ficaria na equipe tomando conta dos bailes? Eu e o Darcisão? Não dava né, então o próximo lance foi acabar com a nossa equipe de bailes.
  • 58. 58 O Bar do Tuna Como tinha se acabado a nossa equipe de bailes à chamada equipe Holiday, todos também começamos a ir aos outros bailes, mas ainda continuamosanos reunir no bar do Dito aos sábados e domingos, mas ia ser inauguradoum novobar na ruada minhacasa,o dono desse novo bar tinha o apelido de Túna ele era um cara esperto e era um bom comerciante. E quandose inauguraum bar nodia da inauguração àbebidaégrátis entãolá fomosnós à inauguração dessebar não sei se a turma toda, mas muitosde nósestávamos lá menoso Savedra porque ele não frequentava os bares, novo bar com novas instalaçõeseàgente nem conheciaoTúna, mas ele logo veio conversar conosco e fizemos amizade então ele disse; O quevão beberrapaziada podem se servir porque a bebida hoje é grátis, masse frequentarem omeubar vocês irão ver que além de servir bebidas eu vendo também salgadinhos e petiscos e até almoço de precisarem, coisasque nos outrosbares não tem e as mesas de bilhar ficam longe do balcão ficam lá nos fundos, ele queria cativar os seus novos clientes e realmente nós observamos que o bar do cara tinha um o que a mais e começaríamos a frequenta-lo. Depois de alguns dias da inauguração como a maioria de nós tinha as suas namoradasnóssó íamosao bar depoisdonamoro,eu e o pécom
  • 59. 59 pano eram os que mais tempo ficavam no bar, chegávamos bem antes dos outros e ficávamos jogando bilhar, eram partidas intermináveis que jogávamos em duplas ou mano a mano e quando jogávamos em duplas eu e o pé com pano contra os outros as partida quase sempre valiam cervejas, nós não éramos imbatíveis, mas ganhávamos bastantes cervejas. Tinha sábados que ficava a tarde toda jogando depois ia para casa tomava banho jantava e depois voltava pro bar e então à rapaziada ia chegandoum aum,o Edsonbaianoeraoutro carada turma que trazia um violão consigo,elesabiatocarbem tinhaaté certotalentoporque além das muitasmusicasqueelecantavae tocava ele imitava também o Ari Toledo cantando o comedor de gilete, eu gostava quando ele tocava as musicas dos Novos Baianosporqueem algumasdelas nós é que fazíamos o coral, me lembro que um dos versos de tal musica era esse; ‘Abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer’, mas o Edson ficava nervoso quando alguém ‘atravessava’ a sua musica e fazia um pouco de ‘charme’ e até parava de tocar quando alguém errava a letra da musica. E nós acostumamoscom ascantoriascom oviolãoe com asmanias do Edson baiano, tinha noite que o bar fechava porque já estava tarde, mas nós íamos para a famosa esquina da encruzilhada e lá ficávamos cantando mais um pouco, ele não deixava o violão guardado no bar porque depois de uma noite de cantorias ele fazia questão de levá-lo pra casa e quando o Edson baiano não trazia o seu violão à maioria ficava
  • 60. 60 pedindo einsistindo paraele ir buscarecom essabajulação pracimadele o Edson baiano ficou mais metido. Nas noites de cantorias e bebidas no bar do Tuna começou a aparecerporlá um cara meio estranho, ele era de estatura mediana tinha o cabelo bem compridos, mas não conversava com ninguém demonstrando não querer fazer amizade, ele sempre aparecia discretamente depois das nove ou dez horas da noite, quando o percebíamos ele já estava sentado num mesa e ficava sozinho tomando algumacoisasem darpalpite em nada nós o achávamos misterioso, mas como ele não mexia com ninguém ele lá ficava. Alem das cantorias nas pausas que eram feitas a gente conversava sobre quase tudo, conversávamos sobre jogo sobre mulheres sobre musicaseaté sobrea polícia quenaquelebarnãotinha aparecido ainda e de vez em quando dávamosumaolhadaparaocabeludo quenão falava e ele continuava lá quieto com a sua bebida e depois ninguém percebia quando ele ia embora porque ele saia quase de fininho. Toda vez que ele aparecia era a mesma coisa, chegava discretamente e ia pra uma mesa e lá ficava bebendo prestando atenção em tudo sem falar com ninguém às vezes quando não estávamos cantandoestava todo mundo falando alto e havia um radio que era ligado quando o baiano não estava cantando havia também o barulho do jogo e mesmoassim ocaranãofalava nadae nem dava palpitesem nada, então uma vez na roda de bate papos em que esse cabeludo não estava perto da gente o pé com pano sussurrou;
  • 61. 61 Pô meu qual que é a desse cara? E confiando na nossa turma ele completou; Se eu me invocar eu vou dar um pau nele, mas logo nós falamos; Deixa quieto fique na sua. Em outra noite lá estava o cara novamente e lá estávamos nós também foi então que o Edson baiano disse; Eu to invocado e vou falar com esse cara pra saber qual que é a dele,eu o pé com panoemaisalguém concordamoscom o Edson baiano que já tinha arrastado uma cadeira e colocou-a em frente da mesa daquele cara depois sentou e educadamente puxou o assunto. E ai meu chapa tudo bem? E o cara, Tudo bem. O baiano; Você vem sempre aqui né, você mora no pedaço? Eu moro por ai, não é longe não. Agora nós também já estávamos sentados ao lado deles e muito curiosos para escutar o que o cabeludo tinha pra dizer. Daí o baianocontinuouperguntando;Você está sempre sozinho você não tem medo de andar por ai? O cara respondeu;
  • 62. 62 Eu sei me cuidar muito bem mesmo andando sozinho à noite por essas ruas escuras. O baiano insistiu, Mas se você arrumar uma encrenca com mais de um cara o que você vai fazer sozinho? Ele respondeu; È como eu ti falei eu sei me cuidar e não procuro encrenca com ninguém, mas se a encrenca vier pro meu lado... O caraestava sentado com umadaspernasmeioesticada edizendo isso, bem devagar ele colocou a mão por baixo da calça ao lado da braguilha e puxou um puta dum trabuco cromado de cano longo. Instintivamente recuamos as cadeiras e ele sempre calmo com os movimentos bem lentos e sem apontar a arma pra ninguém, mas segurandoelacom firmeza deuaquelemeiogiro com o punho mostrando bem o trabuco pra nós e disse; Isso aqui é para o caso de uma emergência,mastem quese saberusar esta armae só se usa ela na hora certa. (Infelizmente hoje em dia alguém andar armado ou mostrar um revolver pra alguém é quase comum, mas estávamos nos anos 70 em uma noite num bar de periferia). Então quando vimos aquele revolver nós ficamos com os olhos arregalados durante um ou dois segundos e como as atenções estavam em cima daquele cara ele continuou falando assim;
  • 63. 63 Eu tenho essetrabuco há muitotempo,é um 38canolongo cromado de sete tiros, mas este trabuco não pode estar na mão de qualquer um não e eu só uso ele em ultimo caso. De queixos caídos e bem pianinho nós dissemos assim pra ele; É isso ai meuchapa fiquea vontade e se precisardealgumacoisaé só falar com a gente e ele sem se alterar recolheu e guardou o trabuco e continuou ali sentado e sozinho. Agora a conversa no bar já não estava tão alta e nós saímos discretamente de perto do cara e fomos até a porta do bar, chamamos o pé com pano e falamos assim pra ele; E ai valentão ainda vai querer pegar o cara? O Alberto com a sua sapiência disse, Viu comoébom nãomexercom quem não conhecemos e o pé com pano agora com a cara de preocupado falou; Vai saber se o cara não é um bandido matador e outro da nossa turma disse assim; Pra mim esse cara tem jeito de policia e eu falei; Bicho, o cara não mexe com ninguém vamos deixar ele na dele e assim ficou... De vez em quando a gente voltava praquele outro bar, o bar do Dito, mas logo retornávamos pro bar do Túna e o cara do trabuco continuava indo lá e continuava com seu jeitão quieto, mas agora tinha sido criado certo respeito para com ele e quando ele aparecia no bar nós agora o cumprimentávamos e ele respondia ao cumprimento, entre nós pareceu até que ele seria uma espécie de ‘xerife’ que nos protegeria em qualquer
  • 64. 64 encrenca quesurgisse,saiuatéum boato dizendoque aquelecaraeraum ‘secreta’ mas ninguém explicava o que é um ‘secreta’. Em outranoite a cantoria no bar estava bem legal o baiano já estava bem metido porque ele sabia que cantava e tocava bem e naquela noite ninguém estava errando as musicas, mas aí chegou por lá um bebum e todo bebum é chato, ninguém conhecia o cara, mas na hora em que estávamos cantando lá vinha ele e ficava perto de alguém, pois queria cantar também, mas ele não conseguia cantar nada só atrapalhava. O baianoficouputoporqueem todas as musicas o bebum estava se intrometendo e estragando a cantoria, a gente disfarçava e saia de perto do cara,masnãoadiantava era só começaroutra musica que lá vinha ele pra perto e ficava falando enrolado. Então pra ver se o bebum saíafora o baiano paroua musicae disse; Pessoal preciso afinar o violão e nós fomos pro balcão pedir mais uma bebida, o baiano não tinha saído pra rua pra ‘afinar’ o violão, mas sim pra ver se o cara se mandava, mas em vez de se mandar o bebum meio cambaleando foi para onde o baiano estava e agora começou a dar palpitessobre o seu violão, o baiano deu uns dois ou três passos indo pro lado dizendo pro bebum; Sai daqui. Mas o bebum foi até onde ele estava e o baiano mais uma vezdisse; Sai daqui e foi prooutro lado, mas o bebum de novo foi pra perto dele ai o baiano não aguentou; Bicho. A cena a seguir só acontecia nos filmes de cinema, pois o baiano pegou o violão com as duas mãos e meteu na cabeça do bebum,
  • 65. 65 porem o violão não quebrou e o baiano então deu outra pancada e dessa vez o violão se partiu, o cara caiu e ficou sentado, mas ele não estava em condição de reagir ou querer brigar com alguém então ele ficou sentado mais um instante depois se levantou e foi embora cambaleando não sei pra onde. Não deu para evitar ninguém esperava que o baiano fizesse isso, o cara era chato pra cacete, mas não oferecia perigo nenhum, o cabeludo que assistiu a cena balançava a cabeça negativamente desaprovando a atitudedo baiano,se cometeu umacovardiacontra um cara que por estar de fogo se tornou um chato que estava atrapalhando as musicas que estávamos cantando e com isso acabou-se a cantoria naquela noite. Porque o clima ficou ‘pesado’ e ficamos todos com cara de bundão, mas não deixamos de falar assim pro baiano; Pô meu não precisava fazer isso. E ele respondeu; Vocês não viram que o cara estava enchendo o saco de todo mundo e ficava toda hora vindo pra cima de mim e não me deixava tocar. Mas ninguém lhe respondeu. O baiano dessa vez além de ficar com cara de bundão ficou também sem o seu violão. Naquela noite fomos todos dormir mais cedo. Mas aindateríamosmuitasoutrasaventuras e muitas outras noites de cantorias, as que foram narradas até aqui foi só uma pequena parte,
  • 66. 66 porém agoravou contar pra vocês outro tipo de historia também dos anos 70. . . Uma Historia Policial Capitulo 1 Ficção & Realidade No próximosábadoquasetodosjá tinham esquecidooincidentecom o bebum e o violão do baiano, nós até combinamos de fazer uma vaquinha pra comprar um novo violão pro baiano, mas o deixaríamos por enquantosem um violão pra ele se tocar que uma agressão a um bebum não é nenhum ato heroico. Depois com um novo violão nós não íamos ficar sem as musicas e nem ficarsem fazer um vocal paraacompanharo Edson baiano cantando e duranteo poucotempoqueeleficousem um violão pra tocar, o radio do bar ficava ligado o tempo todo com o volume alto. Num sábado ainda de tarde fui ao bar do Túna que estava lotado e quando estava chegando podia se escutar de longe o rádio com o Raul Seixas cantando a musica ‘Maluco beleza’, no balcão todos estava bebendoeno salãodos fundosondeestavam às mesasde bilhartambém estava lotado parecia que naquele dia todo mundo queria beber e jogar. O Túna e o irmão dele não estavam dando conta para servir tanta gente e então ele pediu para um de nós lhe darmos uma força, o Alberto foi numaboa e começoutambémaatender o pessoal o pé com pano tava
  • 67. 67 louco pra jogar, mas as mesas não esvaziavam mal saia um jogador já entrava outro então resolvemos jogar palitinho até que aparecesse uma vaga para jogar bilhar. O jogo de palitinho valia cerveja, tinha oito jogadores que iriam respeitaraquelaregrabesta em queo primeiroqueacertar a mão sai fora, o segundo que acertar está fora e assim por diante até sobrarem dois jogadores que irão disputar quem paga a cerveja, nesse tipo de jogo eu dava sorte porqueem todas as rodadas eu era o primeiro ou o segundo a sair e ficava esperando pra ver quem pagava. Jogamos várias partidas de palitinho e bebemos muitas cervejas eu só paguei uma, teve gente que pagava direto e o pé com pano para variar tirava o sarro de quem perdia o jogo, até que finalmente uma mesa de bilharficouvazia e fomosentão jogaralgumaspartidas,chamamoso Túna para nos trazer mais giz daqueles que se passa nos tacos, agora o movimentono bar estava mais tranquilo e o Alberto já não precisava mais ficar ajudando no atendimento. O Túna veios nos trazer o giz e comentou com a gente sobre a lotação do bar naquele dia e foi aí que nós sugerimos pra ele fazer um campeonato de bilhar, porque nessas horas muita gente quer jogar, mas as mesas estão ocupadas (no salão só cabia duas mesas), mas rolando um campeonato obarficariacheio,mastodomundoparticiparia do jogo e o Túna respondeu, é isso mesmo eu já pensei em fazer um campeonato de bilhar então à hora é essa, posso contar com vocês?
  • 68. 68 Respondemossim,vamoscomeçar afazer as regrasdo campeonato agora mesmo e em vez de jogar uma partida de bilhar naquela hora nos concentramos em fazer as regras do campeonato e o Túna começou também afazer as ‘fichas’deinscrição,eleusouum caderno ecomeçoua escrever os nomes de quem participaria e o valor que cada um teria que pagar pra participar do campeonato. Os nossos nomes foram os primeiros da lista que começou assim; Alberto, Edson, Paulo, Reinaldo e depois os outros, como o Savedra não frequentava os bares o seu nome não apareceu na lista, eram pouca as vezes que o Savedra estava num bar e quando ele estava lá ficava no Maximo uns cinco minutos e ia embora, mas por sermos os primeiros da lista não quer dizer que seriamos os primeiros a jogar porque haveria um sorteio para saber quem joga com quem, o pé com pano olhou a lista e disse; Pô vocês escreveram Reinaldo,ninguémvaisaberque sou eu porque todo mundo me conhece como pé com pano, realmente se alguém procurasse o Reinaldo pouca gente saberia dizer quem é, mas se procurassem oPécom pano, todo mundo o apontaria então nós falamos; Ta legal, Túna escreve aí do lado do nome Reinaldo ‘Pé com pano’ ele ficou satisfeito e nós voltamos às regras do jogo. Ficou estabelecido que o primeiro lugar, o campeão ganharia um troféu e o segundo e terceiro lugar ganhariam medalhas, as regras eram aquelas que qualquer jogador de bilhar conhece; Ninguém que está assistindoo jogo pode dar palpite, se o seu taco espirrar você perde a vez
  • 69. 69 de jogar,se você esbarrarem algumabola,o adversário escolheumabola sua e jogaelana caçapacom a mão, não vale dar branca de propósito, e etc. e todas essas regras eram levadas a sério. O total de dinheiroqueiriaser arrecadadoeraparacomprar o troféu, às medalhas e pagar um tanto de cervejas e um frango assado que só os participantes teriam direito na hora do jogo, e qualquer um que se inscrevesse e pagasse a taxa, mas no dia do jogo não poderia estar presente o dinheiro não seria devolvido e o cara não poderá por outro em seu lugar. Com as regras feitas nós marcamos o dia do campeonato para o final do mês, seria um prazo necessário para que os demais frequentadores do bar tivessem o conhecimento desse campeonato e pudessem fazer as inscrições,entãonóspagamosas nossas inscrições e falamos para o Tuna. É isso aí, agora é só esperar chegar o dia do campeonato, bebemos mais uma cerveja e como já era de noite nós resolvemos ir embora. Nós não éramos tipo esses caras que ficam no bar de segunda a segunda de dia e de noite, quando nós estávamos no bar geralmente era um final de semana ou alguma noite em que dávamos uma passada por lá, toda a rapaziadaque frequentavam o bar foram tomandoconhecimento do campeonato de bilhar que iria ter no final do mês, e as inscrições iam sendofeitas até de um modorápido,nessetempoa maioria doscarasque frequentava os baressabiam jogarbilhar e quando havia um campeonato
  • 70. 70 igual a esse a noticia percorria toda a vila, então vinha gente até de outra vila pra fazer a sua inscrição. E quandoem outro dianós estava no bar aindaconversando sobre o campeonato opécom panofalou;Pode embrulharo troféu e mandar para a minha casa porque esse já é meu, o Edson baiano disse assim pro pé com pano,Quervaler uma dúzia de cervejapor fora? Porqueeste troféu é meu,maisalgunscarasentraram naconversae todos eles também diziam que iriam ganhar o troféu. Então nós chegamos até o cara que carregava aquele trabuco e o convidamos pra que ele participasse do campeonato, mas ele disse que preferia assistir em vez de jogar e a sua vontade foi respeitada sem ninguém querer convencê-lo ao contrario. Já estava mais próximo o dia do campeonato quando o Túna apareceu lánobar com otroféu e as medalhasque ele tinha comprado lá na cidade, ele os colocou em exposição em uma prateleira até o dia do jogo, o troféu era bonito com mais ou menos 25 cm de altura e tinha na sua base aquela chapinha que dizia; Ao campeão, Parabéns. Naquela noite então o buchicho foi geral porque todo mundo queria ver de perto o troféu houve até umadiscussãoentredoiscarasporque um dizia que o troféu era muito legal, mas o outro dizia que poderia ser um troféu maior.
  • 71. 71 Vai começar o campeonato Capitulo 2 Os dias se passavam durante o dia a vida era normal, mas quando chegava à noite, lá no bar não havia quem não falasse alguma coisa a respeitodo campeonato,nósficamossabendo que aqueles dois caras da outra vila que eram bons pra Caramba no bilhar, tinham feito as suas inscrições e o Mauro da nossa vila outro cara também muito bom fez também a sua inscrição, nós estávamos vendo que o campeonato não ia ser moleza não. Até que finalmente chegou o grande sábado o sábado que ia começar o campeonato de bilhar do bar do Túna. Quando eram ainda 8 horas da manhã já havia gente em frente ao bar, mas o bar nem tinha sido aberto ainda, porém o Túna e o seu irmão estavam chegando naquela horapraabriro bar e foram até aplaudidospor uns caras mais fanáticos. Os dois cumprimentaram a galera e ainda brincaram com a gente dizendo assim;
  • 72. 72 O que vocês querem aqui? Mas logo eles abriram a porta do bar e foram pra trás do balcão cuidardosseus afazeres, enquanto os que já tinham chegado entraram e foram para o salãonos fundos onde estavam as mesas de bilhar, a tabela com osnomesdosjogadores que iriam se enfrentar já estava feita em um pedaço de cartolina e estava ela pendurada na parede perto das mesas, todos participantes davam palpites até que resolveram começar o campeonato, dois dos caras que confirmamos que os seus nomes estavam no inicio da tabela seriam os primeiros a se enfrentarem então eles foram até o portas-tacos para escolher o melhor que tinha lá. Enquanto os demais participantes que eram agora apenas torcidas, procuravam osmelhoreslugaresparasesentarem aondemelhordava pra ver o jogo, o Túna nesse meio tempo tinha trazido às caixas de giz e colocado à disposição dos jogadores e perguntou; E aí turma já pode trazer as cervejas, mas o pessoal respondeu, ainda é cedo deixa pra depois, ele então voltou pro balcão. Masteve um caraque àquela horajátinha pedidoum rabo de galo e mandou goela abaixo, todos se ajeitam daqui e dali, mas faltava um juiz pra ter inicio a primeira das partidas do campeonato e nessas horas ninguém quer de ser juiz, mas não demorou muito e estava chegando o Edson baiano o cara que tocava violão, cantava bem e era juiz nos nossos jogos de futebol, porque então ele não seria o juizdo nosso campeonato de bilhar? Assim que ele entrou no bar a galera toda foi até ele e perguntaram;
  • 73. 73 E aí baiano você não quer ser o nosso juiz? Como ele gostava que a atenção de todos ficasse em cima dele, ele fingiu um desinteresse e disse que não estava a fim, mas a galera dizia pra ele; Pô meu nós botamos a maior fé em você porque você sabe ser um bom juiz. E ele todo metido disse; Ta legal, mas todo mundo tem que me obedecer. E a galera respondeu, Falou baiano, vamos lá. Fomos para os nossos melhores lugares nos sentamos, os dois que iriam jogar primeiro não tinham largado os tacos e então estavam agora cadaum doladooposto da mesaeprontos parajogar, o baiano então deu as primeiras instruções. O Túna tinha vindo naquela abertura da parede que separa o bar do salão pra assistir o inicio da partida. E o baiano com a maior pose ao lado da mesa terminando de dizer as regras falou pros dois jogadores;
  • 74. 74 Podem começar, começou então o Jogo os jogadores ficaram naquele estuda daqui, estuda dali até que um deles deu a primeira tacada, a sua bolasó encostou-seàdo adversário que iriaagoradar a sua tacada,tacou e também não aconteceu nada, o jogo iria ser demorado, porque eles estavam com aquelenervosismonaturalporserem os primeiros a jogar, e o jogo continuou tenso até que mataram a primeira bola. O que matou a primeira bola vai chamá-lo de jogador Aficou então menos tenso e começou a fazer melhor as jogadas até que ele matou a segunda, o seu adversário, vamos chamar de jogador B ficou mais tenso, e quando chegou à vez de jogador B jogar, sem fazer mira deu uma paulada e caiu uma bola, nós chamamos esta jogada de cagada. Só que com essa tacada que ele deu, as bolas se abriram muito e estava na vez dele dar outra tacada, ele deu, mas dessa vez não aconteceu nada então o jogador A aproveitando que as bolas tinham se espalhado caprichou najogadaematoumais uma bola depois mais outra e ficouassim,enquanto o jogador Amatou duas ou três bolas o jogador B tinhamatadosó uma,até que o jogadorAacaboucom a partida e a vitoria foi confirmada pelo juiz, o baiano. Os doisjogadoresse cumprimentaramelogoem seguidacomeçaria outra partida,mas antes vamos molhar a goela né, o Túna então tornou a perguntar; Pode descer as cervejas agora? A turma respondeu, Vai descendo aos poucos porque não chegou todo mundo ainda, mas todos já estavam bebendo fora a parte, e nisso o