SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 438
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 1
SUMÁRIO
PREFÁCIO...................................................................................................................................................................................4
I-Um testemunho pessoal.........................................................................................................................................4
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO TEMA.............................................................................................................13
I –Introdução.................................................................................................................................................................13
II–A Primeira Mentira..............................................................................................................................................13
III–Por que a mentira?.............................................................................................................................................21
IV–Como o conceito de “alma imortal” entrou no Judaísmo............................................................29
CAPÍTULO 2 – OS PAIS DA IGREJA E A IMORTALIDADE DA ALMA...............................................37
I–Os Pais da Igreja criam na imortalidade da alma?.............................................................................37
II–A Dormição de Maria e a Imortalidade da Alma ...............................................................................48
CAPÍTULO 3 – CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO................................51
I–Conceitos com relação à alma ........................................................................................................................51
II–Qual é o conceito correto?...............................................................................................................................51
III–O que é o “espírito” [ruach] e o que é a “alma” [nephesh]? .......................................................53
IV–A morte da alma...................................................................................................................................................75
V–Conclusão..................................................................................................................................................................94
VI–Sobre os significados secundários para a alma................................................................................95
CAPÍTULO 4 – A CRENÇA DA IMORTALIDADE DA ALMA NO ANTIGO TESTAMENTO .103
I –Introdução ao Capítulo...................................................................................................................................103
II–Moisés, Jó e a Imortalidade da Alma......................................................................................................104
III–Os Livros Poéticos...........................................................................................................................................109
IV–A posição dos Livros Proféticos..............................................................................................................120
V–Saul conversou com Samuel depois de morto?...............................................................................123
VI–A alma no lugar de silêncio........................................................................................................................129
VII–Conclusão............................................................................................................................................................132
VIII–Estavam enganados os escritores do Antigo Testamento?.................................................136
CAPÍTULO 5 – A CRENÇA NA IMORTALIDADE DA ALMA NO NOVO TESTAMENTO.......146
I–Introdução ao Capítulo....................................................................................................................................146
CAPÍTULO 5.1 – JESUS PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?...............................................147
II–A Parábola do rico e do Lázaro.................................................................................................................147
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 2
III–A Origem pagã do Hades.............................................................................................................................154
IV–O que é o Sheol?................................................................................................................................................156
V–O Significado da Parábola.............................................................................................................................160
VI–Deus de vivos, não de mortos – Argumento contra ou a favor da imortalidade da
alma?...............................................................................................................................................................................174
VII–Mateus 10:28 e a destruição da alma ................................................................................................177
VIII–Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso?......................................................................................182
IX–Um espírito não tem carne e ossos.......................................................................................................196
CAPÍTULO 5.2 – O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU?..................................................................199
X–Sobre a entrada no Reino ou na condenação....................................................................................199
XI–Sobre Imortalidade e Vida Eterna.........................................................................................................208
XII–Sobre o Estado Final dos ímpios...........................................................................................................210
XIII–A Ressurreição de Lázaro........................................................................................................................211
CAPÍTULO 5.3 – OS APÓSTOLOS PREGAVAM A IMORTALIDADE DA ALMA?................216
XIV–Atos dos Apóstolos.......................................................................................................................................216
CAPÍTULO 5.4 – PAULO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?............................................225
XV–Ausente do corpo e presente com Cristo.........................................................................................225
XVI–A realidade da ressurreição em contraste com a alma imortal........................................237
XVII–A consolação do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses..........................................................245
XVIII–“Buscando” aquilo que nós já temos?...........................................................................................250
XIX–Deus, o único que possui a imortalidade........................................................................................253
XX–Levou cativo o cativeiro..............................................................................................................................256
XXI–A Bíblia e as Experiências Fora do Corpo.......................................................................................260
XXII–A Entrada no Reino é somente na Ressurreição......................................................................262
XXIII–Últimas considerações dos ensinos de Paulo contra a imortalidade da alma......271
CAPÍTULO 5.5 – AFINAL, ALGUM APÓSTOLO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?
.................................................................................................................................................................................................277
XXIV–O autor desconhecido de Hebreus também desconhecia a Imortalidade da Alma
.............................................................................................................................................................................................277
XXV–Pedro pregou a Imortalidade da Alma?.........................................................................................289
XXVI–João pregou a Imortalidade da Alma?...........................................................................................300
XXVII–Mais pilares do imortalismo sendo derrubados...................................................................304
CAPÍTULO 6 – O SONO DA MORTE.....................................................................................................................319
I–A Metáfora do Sono............................................................................................................................................319
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 3
II–O “dormir” é referência somente para o corpo?.............................................................................323
CAPÍTULO 7 – A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS.......................................................................................329
I-A Ressurreição é Física?...................................................................................................................................329
II–O que é a “Ressurreição”?.............................................................................................................................341
III–A recompensa é no momento da morte ou somente na ressurreição? ..........................343
IV–Morte – o maior inimigo..............................................................................................................................345
V–O que acontece na Ressurreição?............................................................................................................346
CAPÍTULO 8 – A DOUTRINA DO INFERNO E DOS ACONTECIMENTOS FINAIS...................358
I-Introdução ao Capítulo.....................................................................................................................................358
CAPÍTULO 8.1 – INFERNO: TORMENTO ETERNO OU ANIQUILACIONISMO?.................361
II–Conceitos errôneos sobre o Inferno......................................................................................................361
III–O Repertório Bíblico de Aniquilamento.............................................................................................363
IV–Analisando as passagens utilizadas pelos imortalistas............................................................373
V–O Aniquilamento dos Ímpios......................................................................................................................395
VI–A Lei da Proporcionalidade.......................................................................................................................410
VII-A Lei Moral..........................................................................................................................................................419
VIII–Conclusão..........................................................................................................................................................422
CAPÍTULO 8.2 – OS ACONTECIMENTOS FINAIS...................................................................................425
I–Onde passaremos a eternidade?................................................................................................................425
II-Novos Céus e Nova Terra..............................................................................................................................428
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................................................433
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 4
PREFÁCIO
I-Um testemunho pessoal
“Se as pessoas que morreram em Cristo já estão no Céu, então qual a necessidade da
ressurreição? Por que elas precisariam deixar o Céu, voltar para o corpo sepultado,
ressuscitar novamente e retornar para o Céu? Será que é por causa deste ‘dilema
doutrinário’, impossível de ser resolvido, que não se vê muita pregação sobre a ressurreição
nas igrejas cristãs que creem no estado consciente dos mortos?”1
Quem estiver lendo este livro pela primeira vez pode se surpreender em saber que seu
autor não é adventista ou testemunha de Jeová, mas um evangélico comum que cria na
imortalidade da alma, a exemplo do que a grande maioria dos evangélicos ainda creem. A
noção de que Deus tenha implantando um elemento imortal no homem, que sobrevive à
parte do corpo na morte e volta para Deus em estado incorpóreo esperando a ressurreição
em um estado intermediário é ponto de fé em muitas religiões, inclusive cristãs.
Nasci e cresci aprendendo a doutrina da imortalidade da alma. Talvez a primeira coisa que
eu tenha ouvido sobre a morte é que a alma é imortal. Sobre ressurreição? Não, isso não
era muito importante. Um mero detalhe desnecessário e de menor importância, que não era
muito ressaltado nas igrejas. Tinha apenas um leve conhecimento sobre ressurreição, mas
sobre imortalidade da alma estava na ponta da língua. Fui doutrinado, tanto pelas igrejas
que eu frequentava quanto pelos sites apologéticos evangélicos na internet, que a alma era
imortal.
Quando comecei a construção de meu primeiro site2, em 2009, eu dediquei uma página
para “provar” a imortalidade da alma, baseando-me naquelas mesmas meia dúzia de
passagens bíblicas isoladas que todo bom imortalista sabe de cor: partir e estar com Cristo,
as “almas” debaixo do altar clamando vingança, o ladrão da cruz, a parábola do Lázaro, os
espíritos em prisão, etc. Passava essas passagens no site achando que era tudo aquilo que
a Bíblia tinha a dizer sobre o tema. E, nos debates, sustentava essa mesma posição.
Antes de contar como que eu deixei de crer na imortalidade da alma, será necessário
começar contando como que tudo começou. Uma daquelas perguntas que todo cristão tem
em mente mas que apenas alguns poucos têm coragem de assumi-la é sobre como que um
Deus cheio de amor, graça, justiça e misericórdia poderia deixar queimando literalmente
entre as chamas de um lago de fogo e enxofre por toda a eternidade os pecadores que
durante alguns anos não serviram a Cristo em suas vidas terrenas.
Não é preciso ser um filósofo para entender que tal punição seria injusta. Um tormento
infinito por pecados finitos não entrava na minha cabeça, pelo menos não com o Deus que
nos é revelado nas Escrituras, que tanto amou o mundo ao ponto de dar o Seu único Filho
por todos nós. Se nem eu ou você seríamos tão cruéis e implacáveis ao ponto de mandar o
nosso maior inimigo para literalmente as chamas de um fogo eterno, para sofrer
terrivelmente para sempre e sem volta, quanto menos Deus, que ama muito mais essa
pessoa do que eu ou você!
1 MEDEIROS, Gilson. Jesus falou mais sobre o inferno do que sobre o Céu. Será? Disponível em:
<http://prgilsonmedeiros.blogspot.com.br/2009/07/cuidado-com-o-fogo-do-inferno.html>. Acesso em:
22/08/2013.
2 apologiacrista.com
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 5
As explicações que ouvia sobre isso não me eram satisfatórias. Uns diziam que o inferno foi
criado para o diabo e seus anjos, e que “por acidente” os não-cristãos vão acabar
partilhando do destino do diabo e seus anjos. Mas como Deus é onisciente e sabia muito
bem de todo o desenrolar da história humana antes mesmo de criar o homem, fica ainda
mais incoerente crer que ele não tenha previsto esse inferno de tormento eterno para os
homens pecadores. Na verdade, essa explicação não ajudava nada.
Por esta época, eu comecei a me aventurar a ler vários daqueles relatos de vida após a
morte. Li desde pessoas que supostamente foram ao Céu, até pessoas que passaram pelo
inferno e voltaram (há também pessoas que dizem ter visitado o purgatório e o limbo).
Claro que a maior ênfase e quantidade de relatos era deste último, o inferno. Li desde as
visões de Santa Faustina do inferno, até a “divina revelação do inferno” de Mary Baxter, os
“23 minutos no inferno” de Bill Wiese, dentre muitas outras “revelações”, as quais eu me
amarrava, e tinha toda a credulidade do mundo de que tais visões eram reais.
Na época, eu não tinha qualquer conhecimento bíblico sério sobre o que era realmente o
inferno bíblico, apenas tinha aquela visão tradicional de inferno, herdada a nós pela Igreja
Católica na Idade Média, ao maior estilo “Comédia de Dante”. Para mim, o inferno era um
local subterrâneo, onde as almas ou espíritos imortais dos pecadores desciam, e lá eram
atormentados por demônios, por fogo, por torturas colossais de todos os tipos. O inferno
era praticamente uma Disneylândia do demônio, que se divertia à beça torturando os
pecadores.
Em outras palavras, ao invés de o inferno ser uma punição para o demônio (pois
foi “preparado para o diabo e seus anjos” – cf. Mt.25:41), era uma total curtição para ele.
Mas não era somente isso que me estranhava nestes relatos “infernais”. Não era preciso ter
nenhum conhecimento teológico para perceber que os relatos eram sempre contraditórios
entre si (portanto, mutuamente excludentes), e em quase todos os casos as pessoas
encontravam por lá personagens famosos, como Michael Jackson, John Lennon, o papa João
Paulo II, dentre outros. E os “espíritos”? Estes sangravam, vestiam roupas humanas,
tinham até pele e ossos.
Tudo isso me parecia muito estranho, para dizer pouco. Mas o ponto em comum em todas
as visões do inferno é que a pessoa que foi supostamente levada até lá estava ao lado de
Jesus, que se mostrava profundamente triste com o sofrimento daquelas pessoas, quase
que arrependido, como se não tivesse sido ele próprio que tivesse preparado aquele lugar e
soubesse de antemão o destino que os não-salvos teriam ali. Mas dizia que naquele
momento já não restava mais nada a ser feito, pois aquelas pessoas já estariam
condenadas para passarem toda a eternidade naquele lugar. Apenas mais tarde fui entender
que os mortos só serão julgados e condenados na segunda vinda de Cristo (cf. 2Tm.4:1;
Jo.5:28,29; At.17:31).
Contudo, ao invés de me conformar com essa explicação, isso piorava ainda mais as coisas,
pois passava a ideia de um Deus que é incapaz de solucionar os problemas ou resgatar as
pessoas daquele lugar terrível, que sabia premeditadamente que aquelas pessoas iriam
para aquele lugar, e, ao invés de decretar um juízo justo e correspondente aos pecados de
cada um, decide por um tormento eterno para todos, indiscriminadamente. Um rapaz de
doze anos que não conheceu Jesus teria a mesma pena de Adolf Hitler, que exterminou os
judeus.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 6
O diabo, autor do pecado e que peca desde o princípio (cf. 1Jo.3:8), ficaria se divertindo
torturando aqueles que pecaram somente durante algum tempo. Todas as respostas que lia
e ouvia não serviam para melhorar a situação, mas apenas serviam para acentuar o
problema. A base filosófica podia às vezes parecer racional, mas nunca atingia o cerne da
questão. E, com medo de questionar se isso é justo ou não e ir parar neste local infernal,
tinha receio de questionar o próprio Deus sobre isso, ou de perguntar a outras pessoas.
Afinal, o motor que rege muitos crentes para viverem certinho não é Deus ou a vida eterna,
é o fogo do inferno. Muitos crentes querem ser santos à marra, por força de obrigação e
não por livre e espontânea vontade de amar a Deus, porque tem medo de morrer no
pecado e irem parar neste local infernal. Sendo assim, a real motivação para servir a Cristo
acaba sendo escapar do inferno, e não encontrar seu Salvador. Para elas, se um tormento
eterno não existisse, valeria mais a pena viver no pecado!
E cristãos firmados sobre o medo do inferno não são cristãos verdadeiros. O cristão tem que
estar firmado em Cristo, e somente nEle. Mas isso é muito difícil para alguém que tem em
mente a ideia de que, se cometer algum deslize, tem um local embaixo da terra com vários
seres passando por tormentos colossais nas mãos de criaturas demoníacas com um garfo
na mão, junto a um fogo que queima espíritos incorpóreos para sempre.
Seria mais justo que Deus punisse cada pecador com o tanto correspondente aos seus
pecados do que enviar todos juntos para uma mesma condenação de um tormento infinito
por pecados finitos. Da mesma forma que eu considerava injusto que não houvesse castigo
nem punição pelos pecados, igualmente achava injusto que essa punição fosse eterna para
todos, indistintamente. A solução para isso seria um castigo proporcional aos pecados de
cada um, e não uma extinção de vida antes de pagar pelos pecados, e muito menos um
tormento eterno, que só serviria para perpetuar o pecado, os pecadores, o mal, as
blasfêmias e o tormento no Universo para sempre, ao invés de eliminá-lo de uma vez por
todas.
Foi então que, lendo um artigo do doutor Samuele Bacchiocchi (o qual eu faço questão de
citar neste livro em várias ocasiões), eu descobri a verdade sobre o inferno, que consiste
em um castigo proporcional às obras e em aniquilacionismo, e não em um tormento
eterno. É claro que isso não era tudo. Comecei a estudar o assunto e perceber a falácia dos
argumentos imortalistas para um tormento eterno, os quais serão examinados ao longo
deste livro. Descobri, então, que Deus não castiga da mesma forma todos os pecadores com
um tormento eterno para todos indistintamente, mas pune a cada um com o tanto
correspondente pelos seus pecados.
Descobri que Deus não dá “infinitos açoites” em ninguém, mas que uns receberão “muitos
açoites” (cf. Lc.12:47), enquanto outros, por sua vez, receberão “poucos açoites” (cf.
Lc.12:48). Descobri, finalmente, a linguagem bíblica que expressa de maneira grandiosa a
justiça de Deus: que os ímpios serão castigados pelo tanto correspondente aos seus
pecados e, em seguida, eliminados, e não atormentados para sempre.
Essa descoberta foi duplamente libertadora: primeiro, me libertou de um engano bíblico
tremendo que é a crença em um inferno de tormento eterno e consc iente, baseando-me em
uma ou outra passagem isolada, quando a Bíblia por completo rejeita tal doutrina. Segundo,
ela me libertou de outro tormento, o psicológico, pois pude ver novamente como que o
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 7
amor e a justiça de Deus andam de mãos dadas, e que Ele não é incoerente com relação ao
destino eterno dos perdidos. Como o próprio Bacchiocchi disse, “a recuperação do ponto de
vista bíblico do juízo final pode soltar a língua dos pregadores, porque podem pregar esta
doutrina vital sem receio de retratar a Deus como um monstro”3.
Mesmo após crer na crença bíblica da destruição eterna dos ímpios e rejeitar a tese do
tormento eterno, o fato é que eu continuei crendo no estado intermediário, onde as almas
dos justos já estariam com Deus e as dos ímpios já estariam no inferno (ainda que não seja
eternamente). Sim, é incoerente crer nisso, pois se a alma sobrevive à morte do corpo é
porque ela não morre; ou seja, que ela é imortal. Mas se ela morre na segunda morte,
então ela não é imortal! Em outras palavras, crer que a alma sobrevive após a morte e ao
mesmo tempo crer que ela perecerá no dia do juízo é ser incoerente: seria o mesmo que
dizer que a alma morre e não morre, que ela é e não é imortal.
Portanto, de duas, uma: ou a crença no tormento eterno do inferno é verdadeira, ou então,
se não é, a própria imortalidade da alma em um estado intermediário é falsa. Demorou
mais algum tempo para descobrir isso, e dessa vez a bomba veio com um
nome: ressurreição dos mortos! Sim, essa crença tão esquecida e praticamente abandonada
pelos pastores e igrejas em nossos dias foi exatamente aquilo que me levou rejeitar a
imortalidade da alma.
É certo que as igrejas que pregam a imortalidade da alma, em sua maioria, não rejeitam a
ressurreição dos mortos. Porém, isso não muda o fato de que ambas as doutrinas são
mutuamente excludentes. Os gregos da época de Cristo, que difundiram enormemente a
tese da alma imortal para o mundo, não criam na ressurreição dos mortos, e por isso
zombaram de Paulo no Areópago (cf. At.17:32). O teólogo luterano Oscar Cullmann logo
percebeu esse contraste e escreveu o livro: “Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos
Mortos?”, onde ele aborda tal contraste abismal entre ambas as doutrinas.
O fato é que a imortalidade da alma anula completamente o valor e a importância (e
principalmente a necessidade) da ressurreição. Prova disso é que raramente se vê
pregações colocando o foco na esperança da ressurreição nos dias de hoje. Desde quando a
doutrina pagã na imortalidade da alma entrou no Cristianismo, o foco passou a ser a
esperança da imortalidade da alma, e não mais a esperança de ressurgir dentre os mortos
na manhã da ressurreição do último dia. O foco mudou completamente.
Da Igreja Primitiva, onde nunca se ouviu falar de “alma imortal” [psiquê athanatos], e que
pregava que a única esperança dos cristãos era na ressurreição, para a igreja atual, onde
não se ouve mais pregações sobre a ressurreição, onde ninguém fala que a sua maior
esperança é em ressuscitar dos mortos, onde a crença na alma imortal suprimiu a crença
fundamental na ressurreição. Rejeitar a imortalidade da alma não é apenas repudiar uma
doutrina falsa oriunda do paganismo grego, mas é engrandecer e enaltecer novamente a
ressurreição dos mortos, assim como era crida na Igreja primitiva.
Diante disso, chegou o dia em que eu parei para ler 1ª Coríntios, capítulo 15. Nunca vou me
esquecer daquele dia. Nunca algum capítulo mexeu tanto comigo. A cada verso que lia, a
cada compreensão do ensino de Paulo sobre a ressurreição, eu ficava admirado, e ao
mesmo tempo espantado – como nunca havia percebido aquilo antes? Era difícil acreditar
3 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o
destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 8
que a Igreja se distanciou tanto daquele ensino. Era difícil acreditar que a cada versículo eu
me convencia cada vez mais que imortalidade da alma não condiz com ressurreição dos
mortos.
Confesso que fiquei pálido quando li no verso 18 Paulo dizendo que, se não fosse pela
ressurreição, os que dormiram em Cristo já pereceram. Confesso que fiquei mais pálido
ainda quando li no verso seguinte que a nossa esperança em Cristo se limitaria somente a
esta presente vida, se não existisse a ressurreição. Quanto mais eu lia, mais me convencia
que, se não fosse pela ressurreição do último dia, não existiria nada depois da morte. Tanto
é que Paulo diz que, sem ressurreição, seria melhor comer, beber e depois morrer (v.32), e
estaríamos correndo perigos à toa (v.30).
Nunca havia visto um imortalista pregar essas passagens. E até hoje nunca vi alguém as
explicar satisfatoriamente, à luz de sua crença na imortalidade da alma. Afinal, Paulo
poderia ter dito que viveríamos no Céu do mesmo jeito sem a ressurreição, estando com
nossas almas no Paraíso sem um corpo. Para os imortalistas, a ressurreição é isso: um
detalhe desnecessário. Para que ressuscitar um corpo morto, se já estaríamos no Céu? De
qualquer forma, na teologia imortalista, a ressurreição é desnecessária e inútil, pois
estaríamos com Deus no Céu com ou sem um corpo físico glorioso.
Estaríamos desfrutando das delícias do Paraíso para sempre, do mesmo jeito. Estaríamos
com Deus eternamente, independentemente de um corpo se levantar dos mortos ou não.
Mas, se a alma não é imortal, então a ressurreição é totalmente necessária. Sem ela, os
mortos já teriam perecido para sempre (v.18). Sem ela, não haveria outra vida após a
morte, e a nossa esperança seria somente esta vida presente (v.19). Sem ela, é inútil sofrer
perseguições por amor a Cristo (v.30). Sem ela, a própria vida é inútil (v.32). Quanta
diferença entre imortalidade da alma e ressurreição dos mortos!
Depois, li os versos 51-54, onde vejo Paulo dizendo que seremos dotados de imortalidade
somente após a ressurreição, pois ela não é algo que já trazemos conosco em nossa
natureza no presente momento. E vejo também que a morte não é a libertadora da alma
imortal, mas o maior inimigo a ser vencido (vs. 54-55), e que só é tragada na ressurreição
(v.54). Quão importante, gloriosa e fundamental é a ressurreição!
Quando descobri o valor da ressurreição no Cristianismo, o tanto que ela é importante e
como ela foi sendo tão sistematicamente abandonada até chegar aos nossos dias (a tal
ponto que raramente se vê pregações sobre a ressurreição hoje em dia), tentei entender o
porquê que ela foi tão esquecida. Afinal, isso tudo não poderia ter acontecido do nada, sem
uma razão de ser. Ao lermos o livro de Atos vemos que em 2/3 das ocasiões em que a
palavra “esperança” entra em cena ela está relacionada à esperança da ressurreição dos
mortos, no último dia.
O próprio Paulo disse que “nessa esperança”, isto é, na esperança da “redenção do nosso
corpo”, é que “fomos salvos” (cf. Rm.8:24), que tinha “a mesma esperança desses homens,
de que haverá ressurreição tanto de justos como de injustos” (cf. At.24:15), e de que
estava sendo julgado “por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos” (cf.
At.23:6). Se a esperança da ressurreição era o foco da Igreja primitiva e foi perdendo
espaço até os dias atuais, é porque algo aconteceu, porque alguma outra coisa foi ganhando
este espaço.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 9
E, ao estudarmos a história da Igreja, vemos que no final do século II os filósofos cristãos,
admiradores da filosofia de Platão, decidiram criar um meio de tentar conciliar o ensino da
ressurreição com a imortalidade da alma, inventando um estado intermediário, onde as
almas esperariam em forma incorpórea a ressurreição dos seus corpos. A partir de então, a
imortalidade da alma foi ganhando cada vez mais espaço, e a ressurreição perdendo cada
vez mais. Pois, se a alma já vai para o Céu sem a necessidade da ressurreição, para que
existe ressurreição? A ressurreição seria desnecessária, pois já estaríamos na glória ou pelo
menos assegurados entre os salvos.
E tudo aquilo que Paulo disse aos coríntios em 1ª Coríntios 15 perderia completamente o
sentido e a razão de existir. Ao invés de Paulo estar pregando a necessidade da
ressurreição, ele estaria simplesmente pregando a existência dela. A ressurreição que a
Bíblia ensina é uma ressurreição não apenas física e real, mas necessária e fundamental. A
ressurreição crida pelos imortalistas, no entanto, é inútil e desnecessária (pois já estaríamos
no Céu antes dela e continuaríamos lá sem ela, mesmo se ela nunca existisse).
Esse evidente contraste entre os pontos de vista mortalista e imortalista em relação à vida
após a morte fica ainda mais acentuado quando vemos que, se de fato é apenas na
ressurreição que ganhamos vida, então essa deve ser a nossa maior esperança, mas se a
nossa alma já está no Céu antes dela e sem a necessidade dela, então a nossa esperança
não é a ressurreição dos mortos, como tão insistentemente pregavam os apóstolos, mas a
imortalidade da alma.
E é neste espantalho criado pelos imortalistas e apelidado de “ressurreição” que eles
acreditam: uma ressurreição desnecessária, sem razão lógica de existir, em que viveríamos
muito bem sem ela e onde é absurdo colocar “esperança” numa tão simples religação de
corpo com alma por ocasião da segunda vinda de Cristo. A maior razão deste livro existir
não é dizer que a alma morre, mas é anunciar a verdadeira ressurreição, retornando às
raízes da esperança cristã primitiva, voltando aos primórdios de quando a imortalidade da
alma estava das portas para fora da Igreja, e por essa mesma razão a ressurreição era o
foco de todo o pensamento apostólico e neotestamentário.
Para o inimigo, bastou inventar a mentira de que “certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4),
que o homem rapidamente deixou de lado, arquivado em algum lugar, a sua crença numa
ressurreição vindoura. Bastou ensinar que a alma não morre para trazer junto consigo todas
as outras heresias que vemos hoje: oração pelos mortos, culto aos mortos, intercessão dos
santos falecidos, reencarnação, consulta aos espíritos, purgatório, limbo, dentre outras
inúmeras heresias perpetuadas até os dias de hoje, tendo todas elas essa mesma base
inventada pelo maligno, de que existe vida consciente entre a morte e a ressurreição.
O que vemos, na verdade, é que todas as heresias têm como fundamento a crença de que a
alma sobrevive após a morte. Sem ela, nenhuma das maiores heresias citadas acima
existiria. Sem ela, Satanás não teria um pretexto para fazer com que o povo ascenda velas
aos mortos, beije imagens deles, se prostre diante delas, reze a alguém que já faleceu, ore
por eles ou os consulte. A imortalidade da alma foi a primeira mentira inventada por
Satanás na história da humanidade (cf. Gn.3:4), porque ela é a base e o fundamento de
todas as demais mentiras.
Na verdade, a maioria dos evangélicos perde tempo enquanto refuta a crença no purgatório,
intercessão dos santos, imagens, idolatria, culto aos mortos, dentre tantas outras heresias,
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 10
pois elas são apenas a consequência de uma heresia maior. Todas elas
são consequências da crença na imortalidade da alma. Destruindo essa maior mentira,
todas as outras mentiras secundárias caem por terra, sem fazer qualquer esforço, como em
um efeito dominó. Enquanto os evangélicos apenas atacarem essas doutrinas em si
mesmas, não estarão fazendo qualquer progresso. Só conseguirão quando perceberem que
o mal só é cortado se for pela raiz: quando destruirmos a base e o fundamento de todas
essas heresias, que é precisamente a imortalidade da alma.
Em resumo, aqui escreve alguém que sempre foi doutrinado com os ensinos de imortalidade
da alma e tormento eterno, que sempre frequentou igrejas que criam e creem nisso, que
sempre ouviu isso a vida inteira, aí veio a Bíblia e mudou tudo. Como é que isso ocorre?
Somente quando estamos com a mente aberta para a verdade. O curioso é que eu já havia
lido 1ª Coríntios 15 diversas vezes antes daquele dia. Por que nunca havia notado nada
“diferente”? Porque estava com a mente fechada para a verdade.
Enquanto eu estava apenas seguindo uma orientação religiosa proveniente de tradições
humanas denominacionais de uma igreja X ou Y, eu podia ler mil vezes aquele capítulo, que
iria estar como que com um “véu” espiritual me cobrindo. Mas, uma vez que dispus em meu
coração o interesse de descobrir a verdade, e nada além da verdade bíblica, eu conheci a
verdade, e a verdade me libertou. Todos se deparam com a verdade, mas apenas alguns
poucos estão realmente abertos a aceitá-la. Da mesma forma que Cristo bate na porta do
coração de cada um de nós, mas só o aceitamos se estivermos dispostos a isso (cf.
Ap.3:20), o mesmo acontece com as verdades bíblicas. Certa vez um amigo meu comentou
o seguinte:
“Sabe o que acontece, Lucas? O problema é que a gente pode até ampliar alguma coisa
sobre isso, mas não vai pegar. Você, e nem eu, ou quem quer que seja, consegue falar tão
alto. A coisa talvez até mude, talvez, se quem padronizou o mandamento, no caso a Igreja
Católica, reverter o quadro, dizendo que houve um erro. Muitos recebem as mudanças com
alegria, satisfação, concordando com tudo, mas em apenas alguns dias elas voltam à crença
comum. Pode-se encher isso aqui de textos e mais textos que convençam as pessoas que
nada vai resolver. Que se encha isso aqui de argumentos que nos deixem com olhos
lacrimejantes de satisfação, com apenas dez dias sem tocar no assunto, as pessoas são
novamente empurradas para a crença tradicional ensinada há milênios, no que se refere a
esses assuntos”
Essa é a mais pura verdade, e é o que eu mais constato nestes tempos em que eu debato
sobre isso. A maioria das pessoas não segue a Bíblia, segue uma religião. Não segue Cristo,
segue o ensino denominacional mais tradicional. Não falo mal e nem quero desmerecer
nenhuma denominação, mas a verdade está somente na Bíblia. Isso vale tanto para
católicos, como principalmente para os evangélicos, que dizem seguir a Sola Scriptura.
O que vemos é que muitas pessoas não estão com a mente aberta para decidir pela
verdade bíblica. Elas já têm uma verdade pré-estabelecida na mente delas, oriunda da
tradição da igreja X, e defendem essa tradição com unhas e dentes, usando a Bíblia não
para descobrir a verdade que está nela, mas somente para encontrar pretextos e passagens
que possam corroborar com a crença da tradição. Ao invés de fazerem um estudo sério e
honesto, com a mente totalmente aberta para a verdade, elas já estão com uma verdade
pré-concebida na mente delas, e buscam apoio para essa verdade na Bíblia.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 11
Em outras palavras, a Bíblia não é a fonte da verdade para essas pessoas. A fonte da
verdade é a tradição denominacional, e a Bíblia é apenas um meio para dar pretextos para
essa crença. Sendo assim, não me assusta que tantas pessoas leiam 1ª Coríntios 15 a
exemplo de como fazem com inúmeras outras passagens das Escrituras que desmentem
claramente a imortalidade da alma, mas elas continuam batendo nessa mesma tecla.
Enquanto eu estive com a mente fechada, ainda que lesse 1ª Coríntios 15 ou ouvisse falar
sobre ressurreição, não a compreendia. Era como os discípulos, que ouviam Jesus falando
explicitamente a eles que iria morrer e ressuscitar ao terceiro dia, mas mesmo sendo assim
tão claro, eles mesmo assim não entendiam, pois o seu entendimento estava encoberto (cf.
Lc.9:45). Porém, quando estive com a mente aberta para a verdade, a quantidade
insuperável de evidências bíblicas era tão grande que precisei fazer um livro sobre isso.
Com a mente aberta para a verdade bíblica, não foi difícil achar uma riqueza bíblica que eu
jamais teria descoberto se não me lançasse nas Escrituras e mergulhasse nelas. Jamais
teria descoberto tudo isso se não fosse por estar com a mente aberta para a verdade
bíblica. É claro que a ajuda de apologistas experientes me ajudaram bastante neste
processo. Tenho que ser grato a Azenilto Brito (que gentilmente me apresentou o livro de
Bacchiocchi e que me ajudou muito com os seus brilhantes artigos sobre o tema), a
Samuele Bacchiocchi, a Leandro Quadros, a Oscar Cullmann e a tantos outros, em suas
maravilhosas defesas deste ponto sobre a vida após a morte.
Porém, acima de tudo, tenho que ser agradecido a Deus, por ter nos dado a Sua Santa
Palavra. Eu não tive nenhum sonho, nenhuma revelação, não vi Deus, não tive contato com
um anjo poderoso com uma espada na mão, não fui alvo de uma profecia e nem fui
arrebatado ao terceiro céu. Tudo isso que eu descobri não foi de alguma forma
extraordinária: foi somente lendo a Bíblia. Algo tão simples, mas tão pouco praticado por
muitos.
Fico imensamente agradecido ao Senhor por ter me dado a honra de militar por essa
doutrina tão abandonada de nossas igrejas nos dias de hoje, chamada ressurreição dos
mortos, e de poder combater a raiz de todas as heresias e a primeira de todas as mentiras,
chamada imortalidade da alma. É claro que isso me custou caro. Muito caro. Já fui chamado
de “herege” por causa disso não poucas vezes. Muitos outros evangélicos perdem o
prestígio e consideração que tem por mim por verem que eu prego uma coisa que vai
contra a tradição da igreja deles. Já sabia desse risco desde o início.
Se eu quisesse agradar a homens, estaria pregando aquilo que todo mundo gostaria de
ouvir. Se eu quisesse agradar a homens, estaria ensinando que “certamente não morrerás”.
Se a minha intenção em Cristo fosse de fazer amigos que dessem um tapinha nas costas e
me apoiassem em tudo o que eu dissesse, certamente estaria pregando que possuímos uma
alma, e não que somos uma (cf. Gn.2:7). Esse é o preço pago por pregar a verdade, e sei
que pagarei esse preço até o fim da minha vida.
Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se
tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me
confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus. E, por essa mesma graça, hoje eu
fico muito feliz em ver que tantas pessoas já se libertaram dessa doutrina pagã, e hoje
estão livres para pregar a ressurreição e a vida em Jesus Cristo.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 12
E eu não sou o único. Poderia passar todo o dia mostrando inúmeros teólogos de diferentes
segmentos religiosos evangélicos imortalistas, mas que, através de uma leitura sincera e
honesta das Escrituras, adotaram a postura bíblica da mortalidade natural da alma humana.
Poderíamos referir aqui os nomes de Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John
William Weham, Edward Green, Philip Hughes, David Edwards, Basil Atkinson, Greg Boyd,
William Branham, Harold Camping, Charles Fitch, Roger Foster, Fudge Edward, Charles
Gore, Henry Grew, Homer Hailey, Emmanuel Pétavel-Olliff, Oliver Chase Quick, Ulrich Ernst
Simon, George Storrs, William Temple, dentre tantos outros eruditos e teólogos de renome,
que não eram adventistas nem testemunhas de Jeová, e que, mesmo fazendo parte de
denominações que pregavam a imortalidade da alma, adotaram a postura de mortalidade
da alma após um exame bíblico sério e honesto consigo mesmos.
Todos eles poderiam ter mantido a sua crença na imortalidade da alma, o que seria muito
mais fácil e confortável para eles. Mas, mesmo sofrendo não poucas vezes a oposição e
perseguição de ataques contrários, eles não puderam fechar os olhos para as tão grandes e
notáveis evidências bíblicas que combatem tão fortemente a crença na imortalidade da
alma, que pode até enganar a muitos com uma dúzia de versos isolados sem exegese, mas
que dificilmente resiste a um exame bíblico criterioso respeitando as normas da
hermenêutica bíblica.
É claro que ainda existem aqueles que hesitam, que perseguem, que chamam os outros de
hereges sem examinar a si mesmos, que olham torto, que são fechados para a verdade ou
que lerão este livro meramente na intenção de refutá-lo. Isso sempre existiu, e sempre
existirá. Paulo foi debochado pelos gregos, porque pregava a ressurreição dos mortos, e
eles a imortalidade da alma (cf. At.17:32). Por isso, não é de se surpreender que a mesma
coisa aconteça nos dias de hoje.
Mas a minha alegria é ver que não estou sozinho nesta batalha – estou cercado de tão
grande nuvem de testemunhas, entre leigos e eruditos, das mais diferentes denominações
religiosas, que cada vez mais estão abrindo os olhos para a verdade e se libertando do
engano. Destes, sou apenas mais um militante. Apenas mais um que, ao invés de iludir
você dizendo que certamente não morrerás, digo que Deus é o único que possui a
imortalidade, mas que Cristo é a ressurreição e a vida.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 13
CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO TEMA
I –Introdução
“Nenhuma das minhas publicações provocou tal entusiasmo ou tão violenta hostilidade”4.
É assim que Oscar Cullmann, renomado teólogo suíço, definiu o seu livro ferrenhamente
atacado: “Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos mortos?”, após uma mudança de
posição e consciência sobre a vida pós-morte. A ideia de imortalidade inerente está
enraizada nas principais religiões do mundo, mas atualmente cresce o número de eruditos
que, lendo a Bíblia, abandonam tal crença. O que leva tantos teólogos na atualidade, como
Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John William Weham, Edward Green, Philip
Hughes, David Edwards, entre muitos outros, a abandonarem a visão de estado
intermediário e de eternidade no lago de fogo, se nasceram aprendendo que tais crenças
eram verdadeiras e apenas as “seitas heréticas” pregavam o contrário? Simplesmente,
continue lendo. Você vai entender!
II–A Primeira Mentira
“Certamente não morrerás” (cf. Gênesis 3:4)
Não é a toa que a crença na imortalidade da alma está presente em praticamente todas as
religiões pagãs. Todos sabem que existem principados (demônios) atuando por trás dos
grandes sistemas religiosos, que monitoram, regem, comandam e perpetuam esses
enganos. Muitas mentiras foram implantadas nas raízes da Igreja ao longo dos séculos, e
como a tradição foi tendo um valor doutrinário cada vez mais acentuado e muito maior do
que a própria Escritura Sagrada, estes enganos passaram a atuar nos cristãos como
verdades independentes da Bíblia.
A justificação ficou por obras, o evangelho deixou de ser “Cristocêntrico”, os que morreram
passaram a ser intercessores, a ressurreição dos mortos começou a perder a sua
importância, a salvação da alma poderia perfeitamente achar-se por meio da venda de
indulgências, a Santa Inquisição tratou de “dar um fim” em quem fosse contra os dogmas
sagrados da tradição e o evangelho puro, simples, sincero e verdadeiro, que não estava
sujeito a acréscimos (cf. Gl.1:8), começou a se desviar do Caminho, do foco, daquilo que
lhes foi originalmente pregado por Cristo e pelos apóstolos.
Ao longo dos séculos, muitos enganos e mentiras foram perspicazmente sendo infiltrados na
Igreja, e o evangelho estava gritantemente angustiado por uma Reforma. Como os dogmas
não podiam ser contestados (eram “infalíveis” por meio do Magistério), ninguém ousava
contrariar aquilo que lhes era dito. E, se alguém ousasse tanto, poderia ser queimado ou
torturado, intitulado como herege e inimigo público da Santa Sé. É claro que existia um
livro, que foi praticamente reprimido das mãos do povo, livro este que continha aquilo que
foi originalmente anunciado, que continha o evangelho puro, sincero, da maneira como era
no início.
4 CULLMANN, Oscar. Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos? Disponível em:
<http://www.mentesbereanas.org/download/imort-ressur_folheto.pdf>. Acesso em: 13/08/2013.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 14
Essas Sagradas Letras tinham que ser reprimidas, ou, doutra forma, as próprias pessoas
acabariam por descobrir dezenas de mentiras que foram invadindo o Cristianismo com o
tempo. O mundo, enquanto sob o jugo da Igreja Romana, vivia em trevas. O povo, sem as
divinas Escrituras traduzidas em sua língua. E o clero, cada vez mais explorando a
ignorância deste povo. Isso levou a Igreja Católica a proibir a leitura da Bíblia e a lutar ao
máximo contra a divulgação dela. O Concílio de Tolosa (1229) categoricamente declarou:
“Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda
mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As
casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de
homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente
destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas,
e qualquer que os abrigar será severamente punido”5
Os leigos eram proibidos de lerem as Escrituras Sagradas em sua própria língua e até
mesmo de possuírem a Bíblia. Tais homens que tivessem uma Bíblia em casa deveriam ser
condenados, caçados, inteiramente destruídos, perseguidos e caçados nas florestas e
cavernas. Nesta época de trevas, a Igreja Católica, a serviço de Satanás, lançava dura
perseguição contra o povo de Deus que se apegava às Escrituras, que tinha que buscar
locais de esconderijo em retiros subterrâneos para poderem ler a Bíblia, mas a Igreja
Católica ordenava caçar e perseguir tais homens até nas cavernas ou em qualquer outro
lugar, até serem destruídos por completo.
Nenhuma perseguição à Bíblia feita por um não-cristão em toda a história da humanidade
se comparou a perseguição elaborada pela Igreja Romana, nem mesmo a de Diocleciano ou
a de Nero. O Papa Pio IX defendia que as sociedades bíblicas eram pestes que deveriam ser
destruídas por todos os meios possíveis:
“Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bíblicas... pestes estas
devem ser destruídas através de todos os meios possíveis”6
A leitura da Bíblia era absolutamente proibida aos leigos e considerada como sendo uma
peste:
“Essa peste (a Bíblia) assumiu tal extensão, que algumas pessoas indicaram sacerdotes
por si próprias, e mesmo alguns evangélicos que distorcem e destruíram a verdade do
evangelho e fizeram um evangelho para seus próprios propósitos... elas sabem que a
pregação e explanação da Bíblia são absolutamente proibidas aos membros
leigos”7
John Wycliffe (1328 – 1384 d.C), que lutou fortemente pela restauração do evangelho
bíblico e chegou até a elaborar uma tradução das Escrituras para tirar o povo das trevas, foi
chamado de pestilento canalha de abominável heresia, por ter lutado em prol da divulgação
da leitura bíblica pelos leigos:
5 Concil. Tolosanum, Papa Gregório IX, Anno Chr. 1229, Canons 14:2.
6 Papa Pio IX, em sua Encíclica “Quanta Cura”, Título IV, 8 de Dezembro de 1866.
7 Acts of Inquisition, Philip Van Limborch, History of the Inquisition, cap. 8.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 15
“O pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução das
Escrituras em sua língua materna”8
As decisões dos concílios eram claras: a leitura da Bíblia era proibida aos leigos, mas,
enquanto a Bíblia era um livro proibido, as “Horas da Bem-aventurada Virgem” era
permitido:
“Proibimos ainda que seja permitido aos leigos possuir os livros do Velho e Novo
Testamento, êxito o Saltério, ou o Breviário para dizer o Ofício divino, ou as Horas da
Bem-aventurada Virgem a quem as desejar ter por devoção; porém proibimos estritamente
que esses livros sejam em língua vulgar”9
Em outra encíclica do papa Pio IX, ele reitera a proibição da leitura da Bíblia em língua
vulgar, por sanção geral de toda a Igreja:
"Nas regras que foram aprovadas pelos Padres designados pelo Concílio Tridentino,
aprovadas por Pio IV e antepostas ao Índice dos livros proibidos, lê-se por sanção geral que
não se deve permitir a leitura da Bíblia publicada em língua vulgar”10
O papa Leão XII também se revoltou contra aqueles que tentavam trazer ao povo a tão
sonhada leitura da Bíblia em sua própria língua:
“Não se vos oculta, Veneráveis Irmãos, que certa Sociedade vulgarmente chamada bíblica
percorre audazmente todo o orbe e, desprezadas as tradições dos santos Padres, contra o
conhecidíssimo decreto do Concílio Tridentino [v. 786], juntando para isso as suas forças e
todos os meios, tenta que os Sagrados Livros se vertam, ou melhor, se pervertam nas
línguas vulgares de todas as nações”11
O papa Pio VII reforça que não somente ele, mas também os seus predecessores avisavam
constantemente que a leitura da Bíblia ao povo é mais um dano do que algo útil, e a única
versão permitida era a Vulgata Latina:
"Porque deverias ter tido diante dos olhos o que constantemente avisaram também os
nossos predecessores, a saber: que se os sagrados Livros se permitem correntemente e
em língua vulgar e sem discernimento, disso há de resultar mais dano que utilidade.
Ora, a Igreja Romana que somente admite a edição Vulgata, por prescrição bem notória do
Concílio Tridentino (ver 785 s), rejeita as versões das outras línguas”12
Como a Vulgata estava escrita em latim e praticamente a totalidade do povo da época não
entendia nada deste idioma (alguns mal sabiam a sua própria língua, quanto menos o
latim!), então eles astutamente permitiam somente esta versão da Bíblia, para que o povo
não entendesse nada do que estava escrito.
Também o papa Clemente XI, em sua Constituição Dogmática “Unigenitus”, condenou
vigorosamente como erradas uma série de reivindicações feitas por Pascásio Quesnel.
8 Condenação de Wycliffe pelo Concílio de Constança, em 1415.
9 Concílio de Tolosa, 1229, cap. 14.
10 Pio IX, Encíclica Inter praecipuas, 16 de Maio de 1844.
11 Leão XII, Encíclica Ubi primum de 5 de Maio de 1824.
12 Pio VII, carta Magno et acerbo, 3 de Setembro de 1816; Denzinger # 1603.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 16
Entre elas, inclui-se a necessidade de estudar as Escrituras, que a leitura da Bíblia é para
todos, que é danoso querer retrair os cristãos da leitura bíblica, que as mulheres poderiam
ler a Bíblia, que os cristãos poderiam ler o Novo Testamento, que o povo simples teria o
direito de ler as Escrituras, entre outros:
70. Útil e necessário é em todo tempo, em todo lugar e para todo gênero de pessoas
estudar e conhecer o espírito, a piedade e os mistérios da Sagrada Escritura.
71. A leitura da Sagrada Escritura é para todos.
81. A obscuridade santa da Palavra de Deus não é para os leigos razão de dispensar-se da
sua leitura.
82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos cristãos com piedosas leituras e, sobretudo,
das Sagradas Escrituras. É coisa danosa querer retrair os cristãos desta leitura.
83. É ilusão querer convencer-se de que o conhecimento dos mistérios da religião não
devem comunicar-se às mulheres pela leitura dos Livros Sagrados.
84. Arrebatar das mãos dos cristãos o Novo Testamento ou mantê-lo fechado, tirando-lhes
o modo de entendê-lo, é fechar-lhes a boca de Cristo.
86. Arrebatar ao povo simples este consolo de unir a sua voz à voz de toda a Igreja, é uso
contrário à prática apostólica e à intenção de Deus.
(Denzinger #1429-1434, 1436, 8 de Setembro de 1713)
Por que estamos dizendo tudo isso? Simplesmente porque a própria Igreja Católica
sabia que tinha algo a esconder. Sabia que, se as Sagradas Letras fossem reveladas ao
povo, muitas lendas que foram surgindo através dos séculos pela tradição iriam ruir
sistematicamente. O próprio Magistério católico reconhecia que, de fato, muitas doutrinas
mentirosas que vão contra o evangelho verdadeiro foram, ao passar dos séculos,
encontrando lugar na Igreja. Uma dessas principais mentiras era que, como o catecismo
católico expõe: “A Igreja ensina que toda alma espiritual é criada imediatamente por Deus--
não é ‘produzida’ pelos pais – e também é imortal: não perece quando se separa do
corpo por ocasião da morte”13
Apesar de boa parte dos “rebeldes” serem facilmente silenciados de um ou de outro jeito
(na maioria das vezes, do outro), começaram a surgir homens levantados por Deus a fim de
fazer com que, ao passar dos séculos, a doutrina fosse aos poucos voltando ao foco inicial.
Muitas doutrinas claramente contraditórias à Palavra de Deus foram aos poucos sendo
repensadas. O próprio Martinho Lutero chegou a expressar-se de maneira contraria às teses
de imortalidade da alma, colocando-a no grupo das “monstruosidades sem fim no monte de
estrume dos decretos romanos”:
“Contudo, eu permito ao Papa estabelecer artigos de fé para si mesmo e para seus próprios
fiéis – tais como: que o pão e o vinho são transubstanciados no sacramento; que a essência
de Deus não gera nem é gerada; que a alma é a forma substancial do corpo humano; que
ele [o papa] é o imperador do mundo e rei dos céus, e deus terreno; que a alma é
13 Catechism of the Catholic Church, pág.93.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 17
imortal; e todas estas monstruosidades sem fim no monte de estrume dos
decretos romanos – para que tal qual sua fé é, tal seja seu evangelho, e tal a sua igreja,
e que os lábios tenham alface apropriada e a tampa possa ser digna da panela"14
Em outra ocasião, Lutero chamou a imortalidade da alma de "sonho humano" e de "doutrina
de demônios":
"Daí os especialistas em Roma recentemente pronunciaram um decreto sagrado [no Quinto
Concílio Laterano, 1512-1517] que estabelece que a alma do homem é imortal, agindo
como se nós não disséssemos todos em nosso comum Credo, “eu acredito na vida eterna”.
E, com a assistência do gênio Aristóteles, eles decretam além disto que a alma é
“essencialmente a forma do corpo humano”, e muitos outros esplêndidos artigos de
natureza parecida. Estes decretos são, de fato, mais apropriados para a igreja papal,
pois eles possibilitam a eles manter sonhos humanos e as doutrinas de demônios
enquanto eles pisam e destroem a fé e ensino de Cristo"15
A visão de Lutero era de uma natureza humana holista, de uma alma mortal e de os mortos
“dormindo” até a manhã da ressurreição do último dia, quando “Ele nos chamar e nos
acordar juntamente com todos os Seus queridos filhos para a Sua eterna glória e juízo”.
Enquanto isso, eles “nada sentem absolutamente”:
“Não há ali deveres, ciência, conhecimento, sabedoria. Salomão opinou que os mortos
estão a dormir, e nada sentem absolutamente. Pois os mortos ali jazem, não levando
em conta nem dias nem anos; mas, quando despertarem, parecer-lhes-á haver dormido
apenas um minuto”16
“Assim como alguém que dorme e chega a manhã inesperadament e, quando acorda, sem
saber o que aconteceu: assim nós nos ergueremos no último dia sem saber como chegamos
a morte e como passamos por ela. Nós dormiremos até que Ele venha e bata na
pequena sepultura e diga: Dr. Martinho, levanta-te! Então eu me erguerei num
momento e serei feliz com Ele para sempre”17
“Nós devemos aprender a ver nossa morte com a luz correta, de forma que não fiquemos
alarmados por causa dela, como o descrente faz; porque em Cristo ela não é de fato morte,
mas um fino, doce e breve sono, que nos traz libertação deste vale de lágrimas, do pecado
e do temor e extremidade da verdadeira morte e de todos os desfortúnios desta vida, e nós
devemos estar seguros e sem cuidado, descansando docemente e gentilmente por um
breve momento, como em um sofá, até o tempo quando ele nos chamar e nos
acordar juntamente com todos seus queridos filhos para sua eterna glória e gozo.
Pois já que nós o chamamos de sono, nós sabemos que não ficaremos nele, mas seremos
novamente acordados e vivificados, e que o tempo durante o qual dormimos, não parecerá
mais longo do que se nós tivéssemos apenas caído no sono. Daí nós devemos nos censurar
por estarmos surpresos ou alarmados com tal sono na hora da morte, e de repente formos
14 Martinho Lutero, Assertio Omnium Articulorum M. Lutheri per Bullam Leonis X. Novissimam
Damnatorum.
15 Lutero, LW 32:77.
16 Exposição do Livro de Salomão, Chamado Eclesiastes, de Lutero.
17 The Chrislian Hope-pág.37.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 18
revividos da cova e da decomposição, e inteiramente bem, novo, com uma pura, clara e
glorificada vida, encontrarmos nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nas nuvens”18
Infelizmente, a noção de Calvino de que a alma era imortal acabou falando mais alto e a
maioria das igrejas reformadas acabaram adotando a tese da imortalidade da alma. Para
não causar divisão e nem atrito com os demais reformadores, Lutero acabou não
dogmatizando a questão e deixou-a em aberto para quem quisesse crer que a alma era
imortal (como Calvino cria) ou para quem se unisse à sua crença particular na mortalidade
natural da alma.
Isso não impediu que, com o tempo, um número impressionante de mestres e teólogos
respeitados e reconhecidos começassem a repensar as suas doutrinas de imortalidade da
alma à luz das Sagradas Escrituras, e passaram a ver que, de fato, a doutrina da
imortalidade da alma não bate com a doutrina da ressurreição e muito menos com o que as
Sagradas Letras tem a nos dizer. O número de pessoas que deixam a visão dualista da
natureza humana impressiona não apenas pela quantidade, mas também por estar em
franco crescimento. De fato, a imortalidade da alma pode ser classificada como sendo a
primeira mentira que entrou no mundo e provavelmente a última a sair dele.
Muitas pessoas de bem têm sido enganadas atualmente sobre o estado dos mortos. Mas
não é de hoje que isso acontece. Deus disse para o homem, como consequência do pecado:
“Certamente morrerás” (cf. Gn.2:17). Mas Satanás, a serpente, retruc ou: “Certamente que
não morrerás” (cf. Gn.3:4). Quem estava com a razão? Deus ou Satanás? Certamente que
Deus.
A própria presença da “árvore da vida” no jardim do Éden indica claramente que a
imortalidade era condicional à participação do fruto de tal árvore. Nós não tínhamos uma
“alma imortal”! Com a Queda da humanidade, quando o pecado entrou no mundo, a morte
(que não estava prevista no plano inicial de Deus para com a Sua Criação) passou a tornar-
se uma realidade. O estado do homem alterou-se, e este passou a ser um ser mortal.
A segurança de imortalidade baseava-se em partilharem da árvore da vida no Jardim, que
lhes garantia exatamente a imortalidade (cf. Gn.3:22). É evidente que Deus não iria colocar
tal árvore a disposição caso já tivesse implantado uma alma eterna que lhes garantisse tal
imortalidade. Visto que a condição para “viver para sempre” constituía-se na participação do
fruto da árvore da vida, fica muito claro que eles não detinham em si mesmos a
imortalidade, supostamente na forma de um elemento eterno implantado em seu ser. Se
Deus colocou no ser humano uma alma imortal, então por que razão existiria a “árvore da
vida” no Jardim do Éden?
Ora, se já fôssemos imortais isso seria totalmente desnecessário! Se o homem comesse da
árvore da vida, se tornaria imortal (cf. Gn.3:22). Contudo, foram expulsos do Jardim do
Éden, sem terem comido da árvore da vida, e dois querubins ficaram na guarda do
Jardim, exatamente a fim de que não comessem da árvore da vida e vivessem eternamente
(cf. Gn.3:24). Tudo isso seria totalmente desnecessário se já possuíssemos uma alma
imortal. Para que guardar o homem de comer do fruto da árvore da vida e viver para
sempre se ele já era imortal por meio de uma alma eterna que já lhes teria sido
implantada?
18 Compend of Luther’s Theology, editado por Hugh Thomson Kerr, Jr., p. 242.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 19
O homem seria imortal caso comesse do fruto da árvore da vida, mas não comeu. Deus não
fez o homem com o conhecimento do bem e do mal, mas ele comeu do fruto da árvore do
conhecimento do bem e do mal e teve tal conhecimento. Da mesma maneira, Deus não fez
o homem com uma alma imortal. A imortalidade era condicional a participação do fruto da
árvore da vida, assim como o conhecimento do bem e do mal era condicional a participação
daquela árvore. Mas, ao contrário do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal na
qual eles comeram, eles não comeram do fruto da árvore da vida!
O resultado disso é que o homem não tornou-se um ser imortal. Ele, “morrendo, morreria”
(cf. Gn.2:7). O homem era mortal pela sua natureza original, sem uma alma imortal, mas
com a possibilidade de receber a imortalidade por meio da participação da árvore da vida.
Isso, contudo, ele perdeu ao ser expulso do Jardim, e, portanto, perderam a possibilidade
de participação na árvore da vida que lhes poderia nutrir de imortalidade. O homem perdeu
a imortalidade quando foi expulso do Éden, e assim a morte veio a partir do pecado, sendo
revertida na ressurreição (cf. 1Co.15:22,23).
A Bíblia, contudo, nos apresenta que a árvore da vida (imortalidade) estará novamente
presente no Paraíso, somente aos salvos, após a ressurreição dos mortos (cf.
Ap.22:2). E acontecerá que “quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça a
água da vida” (cf. Ap.22:17). O homem, agora sim, se tornaria imortal. A árvore da vida
representava a imortalidade na comunhão com Deus, mas com o pecado fomos privados do
acesso desta fonte de eternidade, que agora continua na presença dEle, onde iremos
desfrutá-la depois que formos ressuscitados (cf. Ap.22:2). A eternidade no homem era
condicional, não a uma alma que lhes teria implantada, mas sim a obediência ao Ser
Criador do Universo, como um dom de Deus.
O homem foi privado da árvore da vida para que não se tornasse imortal como Deus, e, de
fato, não comemos da árvore da vida (cf. Gn.3:22-23). Com a desobediência a Deus, a
participação na árvore da vida foi cortada (cf. Gn.3:22,23), o que demonstra claramente
que a imortalidade não residia numa alma imortal recém-implantada, mas sim na
obediência a Deus. A desobediência foi o que ocasionaria a morte, em um contraste direto
com a vida eterna residente na forma da árvore da vida. Quando entrou o pecado do
mundo, juntamente com ele entrou a morte: O processo da morte teria início.
O texto original hebraico simplesmente reza que: “Morrendo, morrereis”. A Bíblia não diz
que “no dia em que comerdes, certamente morrerás no mesmo dia”. Diz somente que ele
morreria, mas não diz quando. A morte não estava no plano inicial de Deus para com a Sua
Criação. Contudo, com o pecado reinou a morte (cf. Rm.5:21; Rm.5:12), que só será
revertida na ressurreição do último dia (cf. 1Co.15:51-55; 1Co.15:22,23; Jo.6:39,40).
No dia em que Adão comesse daquela árvore proibida ele ia morrer, ou seja, tornar-se-ia
um ser mortal, o que ele realmente se tornou. O processo de morte como consequência do
pecado alcançaria a todos os seres humanos a partir do momento em que este pecasse
contra Deus, tornando-se receptível ao processo de morte que lhes sucederia. Analisando o
texto original hebraico, vemos que, realmente, a morte seria a cessação total de vida.
O que foi dito a eles: ”umê`êtshadda`ath thobh vârâ` lo' tho'khal mimmennu kiy beyom
'akhâlkhamimmennu moth tâmuth” (cf. Gn.2:17). Analisando as duas últimas palavras,
vemos claramente quando é que o homem morreria: “moth tâmuth” – traduzindo:
“morrendo morrereis”. Isso é omitido pela maioria das versões vernáculas porque contraria
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 20
diretamente a posição imortalista de que ocorreu apenas uma “morte espiritual” e que esta
morte teria acontecido logo naquele mesmo dia, ignorando o fato de que o hebraico diz
taxativamente que tal morte seria quando o homem morresse – “morrendo, morrereis”.
Passando para o bom linguajar português dos dias de hoje, o que Deus estava dizendo era
que “quando vocês morressem iriam morrer mesmo”! A morte seria o fim total de qualquer
existência humana, corpo e alma, pois, como consequência do pecado, o processo de morte
teria início a partir do primeiro falecimento. A verdade incontestável é que não existiria
nenhum estado de vida entre a morte e a ressurreição.
Ora, se o homem continuasse vivo em um estado intermediário após a morte corporal que
todos nós passamos, então o homem não morreria completamente – ele estaria vivo em um
estado desencarnado. Essa é exatamente a mentira que a serpente pregou à Eva (cf.
Gn.3:4), e que engana milhões de pessoas até hoje, invalidando toda uma consequência de
morte – física e espiritual – que o homem encontraria como consequência do pecado.
Ademais, a mentira de Satanás seria classificada como uma “verdade”, uma vez que o
homem não morreria mesmo – viveria eternamente por meio de uma alma imortal que teria
sido supostamente implantada no ser humano. Fica muito claro que o homem não seria
inerentemente imortal, mas passaria por um estado de morte – “morrendo, morrereis” –
por causa do pecado, uma “lacuna”, um período sem vida entre a morte e a ressurreição,
fato esse que Satanás queria desmentir, dizendo que “certamente não morrerás” (cf.
Gn.3:4).
O processo de morte alcançaria todos os seres humanos, pois “o salário do pecado é a
morte” (cf. Rm.6:23) e “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (cf.
Rm.3:23), por isso, “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4). Isso tudo nos deixa
claro que a morte como consequência do pecado não alcançaria tão somente o corpo, mas o
ser integral do ser humano, corpo e alma (cf. Ez.18:4,20; Gn.2:7). Como bem disse o
pastor luterano Martin Volkmann: “Como vemos, há duas concepções de vida após a morte.
A diferença, segundo certo modo de pensar, é que a parte supostamente imortal não foi
afetada pelo pecado em nós, enquanto na outra forma de pensar reconhece-se a
natureza radical do pecado e proclama uma nova vida através da obra salvadora
de Deus”.
A morte seria a cessação total de vida. Corpo e alma foram afetados pelo pecado. A
imortalidade não era uma possessão natural através de uma alma recém-implantada, mas
condicionada à obediência a Deus na participação da árvore da vida. Mas o homem pecou.
Transgrediu a ordenança divina. Trouxe a morte para si mesmo. Perdeu a participação na
árvore da vida. Tornou-se naturalmente mortal. E, a partir deste dia, ele morreria na morte
– não teria uma existência contínua em forma incorpórea após a morte.
Felizmente, a Palavra de Deus nos apresenta uma reviravolta neste quadro, apresentando
que o processo de morte iniciado em Adão e a cessação de vida como consequência do
pecado não seria um quadro perpétuo, mas seria revertido em Cristo, na Sua Vinda: “Pois
da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados.
Mas cada um por sua vez: Cristo, as primícias; depois, quando ele vier, os que lhe
pertencem” (cf. 1Co.15:22,23).
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 21
O processo de cessação de vida na morte, ocorrido com todos os seres humanos e iniciado
em Adão – “em Adão todos morrem” – seria revertido no “último dia” (cf. Jo.6:39,40),
quando Cristo há de vivificar os que lhe pertencem por ocasião de sua segunda vinda,
porque Ele venceu a morte (cf. Hb.2:14), dando-nos também vitória sobre a morte na
ressurreição (cf. 1Co.15:54). Neste momento, então, Cristo nos resgatará da morte, nos
vivificará e nos levará para as nossas moradas celestiais onde Ele está (cf. Jo.14:2,3).
Em Adão todos morrem porque ele certamente não viveria eternamente (cf. Gn.2:17;
Gn.3:4), mas como consequência do pecado ele passaria por um estado sem vida que teria
início no momento da morte física. Mas a esperança cristã é a de que este estado não é
perpétuo, mas é revertido pelo milagre da ressurreição, que nos traz vida e nos resgata da
morte a fim de possuirmos a nossa herança celestial em Cristo.
Por isso os cristãos tem na ressurreição a sua maior esperança (cf. At.26:7), pois é ela que
nos diz que nem tudo está perdido, que o trabalho dos cristãos não é em vão (cf.
1Co.15:32), que haverá o momento em que a morte será tragada pela vitória (cf.
1Co.15:54), que aqueles que fizeram o bem “sairão para a ressurreição da vida” (cf.
Jo.5:29), quando terão a recompensa pelo o que fizeram em vida e tomarão posse de suas
moradas eternas. A ressurreição é o antídoto para a morte, é o milagre que Deus
providenciou a fim de que não ficássemos para sempre sem vida, mas que por meio de
Cristo pudéssemos herdar a vida eterna.
Claro, não demorou muito para Satanás entrar em cena e deturpar essa verdade,
propagando o que hoje é a base e fundamento da doutrina imortalista, retirada
diretamente da boca da serpente: “Certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4) – o
homem seria inerentemente imortal! A ressurreição já não era mais o antídoto para a
morte, mas sim a libertação da alma se desprendendo da prisão do corpo, como pregava
Platão. Este foi, com toda a certeza, o primeiro sermão imortalista na história, a primeira
das mentiras que Satanás implantou no mundo: a lenda da imortalidade da alma.
III–Por que a mentira?
Por que a mentira? – O motivo desta pergunta é: “Qual é o objetivo de Satanás em pregar
tal mentira?”. Certamente que ele teria uma boa razão para isso, além de contradizer o
ensino claro de Deus (cf. Gn.2:17). Para respondermos a esta pergunta, temos
primeiramente que ter em mente que o principal objetivo de Satanás é desviar o cristão da
verdade. Passar a ideia de um Deus mal.
Eis aí a principal das armas de engano de Satanás: Desviar o caráter imutável do amor
de Deus. Satanás é a serpente, é aquele que engana. Quanto mais pessoas ele conseguir
desviar de Deus, de preferência passando a ideia de um deus sanguinário, que tem uma ira
pelos ímpios que não cessa nunca, melhor. Infelizmente, essa tática tem causado muito
sucesso nas nossas igrejas.
Muitos milhões de indivíduos no mundo todo abandonam a crença em Deus por causa desta
ideia, por não conseguirem admitir que Deus possa ser ao mesmo tempo bom e mal e com
duas faces, ou que para demonstrar Sua justiça tenha que atormentar eternamente no fogo
a alma de bilhões de pessoas, e acabam por pensar: “Ele não existe”. Muitos têm saído das
fileiras do Cristianismo por causa deste assunto. Isto poderia ser evitado, caso fosse feito
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 22
um estudo sincero, honesto e fiel à exegese e ao contexto das Escrituras, que é o que
faremos ao longo de todo este estudo.
O Dr. Samuelle Bacchiocchi elucida a questão nas seguintes palavras:
“Um Deus que inflige torturas infindáveis a Suas criaturas assemelha-se muito mais a
Satanás do que a um Pai amoroso a nós revelado por Jesus Cristo (...) A justiça divina
nunca poderia requerer para pecadores finitos a infinita penalidade da eterna dor, porque o
tormento infindável não serve a qualquer propósito reformatório, precisamente porque não
tem fim”19
John Stott manifesta a mesma opinião, ao dizer:
“Eu não minimizo a gravidade do pecado como rebelião contra Deus, nosso Criador, mas
questiono se o tormento eterno consciente é compatível com a revelação bíblica da divina
justiça”20
A verdade é que muitas pessoas têm deixado as fileiras do Cristianismo por não poderem
acreditar que Deus, em Sua Onisciência, poderia criar seres sabendo que os puniria com um
tormento eterno e infindável de maneira premeditada. Seria muito mais lógico e racional
(pela justiça e pelo amor de Deus) crermos que Ele puniria a cada um de acordo com aquilo
que cada ser merece, e não uma pena infindável para cada ser que comete pecados finitos,
tendo como consequência a queima eterna de sua alma em um verdadeiro lago de fogo.
Se tal fato sucedesse, poderíamos também dar margens a movimentos como a “Santa”
Inquisição, por exemplo, que matou e torturou milhões na Idade Média, mas, como apontou
Azenilto Brito, “se Deus é impiedoso ao punir pecadores com tormentos infindáveis no
mundo por vir, porque não devia a Igreja agir de modo semelhante neste presente mundo,
torturando e queimando os heréticos?”21
O assunto é motivo de entusiasmo para os ateus, e a grande maioria dos cristãos
defensores da imortalidade da alma não conseguem conciliar o amor divino com a crueldade
eterna que seria tal destino aos impenitentes. Ademais, muitos cristãos que já est ão dentro
da Igreja não saem, não por buscarem um comprometimento sincero e verdadeiro com
Deus, mas para escaparem de um tormento eterno no inferno. O Cristianismo não somente
muda de sentido como também perde o foco, o amor, a justiça e a misericórdia nos
revelada mediante o evangelho. Na verdade, todos estes atributos – e muitos outros –
fazem parte da natureza divina e nenhum deles daria margem a um tormento eterno por
pecados finitos.
Como a Igreja pode coerentemente apresentar Deus como sendo alguém que amou o
mundo de tal maneira que enviou o Seu único Filho para que todo aquele que nele crê não
pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo.3:16), se, por outro lado, odeia os pecadores de tal
maneira que os envia para um lago de fogo e enxofre onde passarão tormentos infinitos
19 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o
destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
20
STOTT, John. Essentials: A Liberal-Evangelical Dialogue. Londres: Hodder and Stoughton, 1988, p.
316.
21 BRITO, Azenilto Guimarães. Implicações Morais e Cosmológicas do Tormento Eterno. Disponível
em: <http://www.salvos.com.br/inferno>. Acesso em: 15/08/2013.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 23
perpetuados por toda a eternidade sob choro e ranger de dentes e sofrendo torturas
colossais? Se Deus ama os pecadores (como a teologia moderna ensina), como conciliar
isso com permitir tamanhos horrores aos pecadores impenitentes?
Ora, se nem mesmo uma pessoa humana, falível e que nem ama tanto assim o próximo (ou
é até mesmo odeia o próximo) não chegaria ao ponto de enviá-lo para “o quinto dos
infernos”, sob as chamas de um fogo eterno para sofrer tormentos horríveis por toda a
eternidade, quanto menos Deus, que em teoria é aquele que mais ama, que mais perdoa e
que é a fonte de toda a misericórdia! Enquanto a Igreja tiver a noção deste deus mutável,
que ama os pecadores nesta vida mas já preparou um inferno eterno onde eles deverão
sofrer horrivelmente após a morte e para sempre, dificilmente um descrente poderá
compreender perfeitamente o amor de Deus que excede todo o entendimento. Sempre t erá
em mente este contraste que vai claramente contra a moral humana, quanto mais a divina.
Apenas um regresso às Escrituras nos faria ter em mente um Deus justo e verdadeiro, que
recompensa os justos com a vida eterna e que pude os ímpios de acordo com aquilo que
cada um merece, e não com um tormento eterno para todos indistintamente. Isso sim é
unir a justiça e o amor de Deus como descrito no evangelho bíblico. A justiça e o amor de
Deus andam juntos, e o que Satanás mais quer é desqualificá-los ao perpetuar a primeira e
provavelmente a maior de todas as mentiras – a da “imortalidade da alma”.
Um exame fiel e honesto das Escrituras não apenas mostra o quanto não-bíblica é essa
doutrina, mas também nos faz voltar ao Cristianismo puro e verdadeiro focado em um Deus
de amor e justiça e na ressurreição para a vida eterna que Ele nos concede pela Sua Graça.
A imortalidade condicional e a “vida somente em Cristo” afirmam a realidade do inferno sem
impugnar o caráter de Deus, e dá honra completa para Cristo como "a ressurreição e a
vida”.
A crença na imortalidade inerente como base de fé – Satanás continua usando dos mais
variados meios a fim de perpetuar a primeira mentira, pois isso é um forte meio de desviar
as pessoas da sinceridade e pureza devidas a Cristo. Por meio da crença da sobrevivência
da alma na morte, inúmeras religiões do mundo terminam cursando os mais variados meios
de consulta aos mortos em desobediência à Palavra de Deus.
Existem religiões que tem como base a doutrina da sobrevivência da alma em um estado
intermediário. Caso essa doutrina esteja errada, a religião termina. O culto aos mortos no
catolicismo é um bom exemplo disso, uma vez que Cristo deixou claro que “só ao Senhor
teu Deus darás culto” (cf. Mt.4:10) e que “há um só Deus e um só mediador entre Deus e
os homens, Cristo Jesus” (cf. 1Tm.2:5).
Satanás usa das mais variadas maneiras para deturpar a Palavra de Deus e perpetuar a
primeira mentira, da imortalidade da alma, a fim de que o que Paulo mais temia
acontecesse: “Pois, assim como Eva foi enganada pelas mentiras da cobra, eu tenho medo
de que a mente de vocês seja corrompida e vocês abandonem a devoção pura e sincera a
Cristo” (cf. 2Co.11:3). A imortalidade da alma foi a doutrina que Satanás encontrou uma
“brecha” a fim de que o evangelho fosse sutilmente modificado por meio de homens que
“introduziram secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os
resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (cf. 2Pe.2:1).
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 24
O culto aos mortos é um bom exemplo de um meio que a Serpente continua utilizando a fim
de desviar o cristão do evangelho puro e genuíno somente a Cristo. Quando o evangelho
deixa de ser Cristocêntrico, a missão de Satanás está completa. E qual é o meio que ele
usa para perpetuar tais enganos? Claro, a mesma mentira pregada à Eva no Jardim:
“...certamente não morrereis” (cf. Gn.3:4).
O que Satanás ensina, na verdade, é bem simples. Ele diz que o nosso “verdadeiro eu”, a
nossa “alma eterna”, não morre. De modo que, se não formos tão bons, “a reza resolve
tudo”! Tal visão de imortalidade inerente que Satanás ensina é bem mais simples do que o
que Deus quer que creiamos: que “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4), porque a
consequência do pecado seria “moth tâmuth” – “morrendo, morrereis” (cf. Gn.2:17). Todas
as práticas de culto aos mortos, de intercessão de santos já falecidos, de invocação ou
comunicação com os mortos ou de qualquer coisa do gênero, que quase sempre geram
idolatria e apego no coração dos homens àquilo que já morreu ao invés de se focar Naquele
que está vivo (Jesus), tem como base e fundamento a crença na imortalidade da alma.
No espiritismo, então, a coisa complica ainda mais. A consulta aos mortos, que existe de
maneira “mascarada” no catolicismo mediante a oração que é um claro meio de
comunicação, é “desmascarada” no espiritismo que abertamente declara isso
convictamente. A própria crença na reencarnação, que é crida não somente por espíritas
mas também por muitos outros grupos panteístas (como o budismo e o hinduísmo) também
tem por base a crença que a alma sobrevive consciente após a morte. Afinal, se a alma não
sobrevive, não há como reencarnar.
A Bíblia afirma categoricamente que “entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a
seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem
feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico,
nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor;
e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti" (cf. Dt.18:9-12).
Afinal, “a favor dos vivos consultar-se-ão os mortos?” (cf. Is.8:19). Não!
Deus sabe muito bem dessa impossibilidade de comunicação dos mortos com os vivos, e foi
por isso o Senhor proibiu o seu povo israelita de tentar tal “comunicação”, a fim de que não
fossem enganados por espíritos demoníacos (cf. Lv.19:31; 20:6; 1Sm.28:7-25; Is.8:19;
1Tm.4:1; Ap.16:14), dada a devida impossibilidade de comunicação com os que já
morreram (cf. Gn.2:7; Sl.13:3; Ec.9:5,6; Ec.9:10; Sl.146:4; Sl.6:5; Sl.115:17; Sl. 13:3; Jó
14:11,12; Sl.30:9; Is.38:18; Is.28:19; Sl.94:17). Dada tal impossibilidade, quem se
apresenta no “além" para se comunicar com os vivos são os espíritos dos demônios, e se
aproveitando, é claro, da mentira da imortalidade da alma.
Tudo isso poderia ser perfeitamente removido e o evangelho restaurado caso fosse
realizado um exame apurado das Escrituras, analisando a um conteúdo total e não se
apegando cegamente a um texto ou outro descontextualizado tomando tais textos isolados
como regra de doutrina. Mas, como Jesus disse em Mateus 28:20 para ensinarmos tudo,
também precisamos revelar às pessoas o que realmente acontece depois da morte, pois
isso nos faria voltar ao evangelho Cristocêntrico tão abandonado por consequência da
primeira mentira.
Imagine um mundo onde todos creem conforme a Bíblia diz: que a alma que pecar, essa
morrerá (cf. Ez.18:4). Imagine um mundo onde a mentira de que “certamente não
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 25
morrerás” não engana mais ninguém. Imagine um mundo onde todos creem que a
ressurreição é o caminho para uma nova vida no retorno à existência. Ou seja: imagine o
mundo todo seguindo os padrões bíblicos. No que isso implicaria? Isso implicaria na
completa inexistência da idolatria no mundo, visto que grande parte dela subsiste com base
na crença que “espíritos” ou “almas” subsistem após a morte e são dignos de serem
consultados, venerados, cultuados ou adorados.
Isso implicaria na completa inexistência de todos os falsos sistemas religiosos que tem por
base a crença que a alma é imortal, o que inc lui espiritismo, catolicismo, budismo,
hinduísmo, religiões panteístas, politeístas e pagãs, que tem como fundamento a crença da
transmigração das almas, da reencarnação, da evocação dos mortos, da intercessão dos
falecidos, da veneração e culto aos defuntos. Isso implicaria também em um mundo mais
Cristocêntrico, isto é, um mundo onde Aquele que vive é o único digno de toda a glória,
toda a honra, toda a majestade e todo o louvor, pois é aquele que venceu a morte e
ressuscitou, Cristo Jesus.
Todas as orações e todo o culto em todo o mundo seriam voltados e dirigidos unicamente
Àquele que era, que é e que há de vir. Todas as nações seriam felizes e haveria paz no
mundo, pois “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor” (cf. Sl.33:12). Todos os nossos atos de
adoração seriam sempre voltados por Ele e para Ele. Você poderia pensar: “Este é um
mundo utópico, imaginário, impossível de ser verdade um dia”. Mas seria isso tão somente
o reflexo de um mundo onde a primeira mentira implantada pela serpente já não teria mais
lugar, e as suas consequências também não. O único que fica feliz da vida em ver o povo
continuar crendo e propagando a heresia de que a alma é imortal é o diabo que inventou
essa mentira, pois é por meio dela que ele sempre enganou e continua cegando bilhões de
pessoas em todo o planeta.
A imortalidade da alma é a carta “coringa” de Satanás. É por meio dela que tantas pessoas
desviam o foco e a atenção que deveriam ser direcionadas a Deus. Sem essa carta na
manga, dificilmente o Inimigo conseguiria desenvolver outros métodos para desviar a
devoção pura e sincera somente a Cristo. Por outro lado, o exame sincero e honesto das
Escrituras nos faria desmantelar sistemas religiosos totalmente baseados na crença em uma
alma imortal. Isso faria voltar ao evangelho puro e sincero de devoção somente a um
homem, aquele que mesmo tendo morrido ainda vive, e por isso pode interceder por nós –
Cristo: “Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele,
aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (cf. Hebreus 7:25).
Resumindo este ponto, o que devemos ter em mente é que toda falsa doutrina criada
por Satanás tem algum objetivo por detrás dela, e este objetivo nunca é levar o
cristão mais perto de Cristo e da devoção única a Ele, mas sempre reside em desviar as
pessoas da devoção única ao Senhor (cf. 2Co.11:3). Seria muito estranho que o diabo
quisesse “inventar a mentira da mortalidade da alma”, uma vez sendo que isso apenas
serviria para destruir por completo com todos os enganos existentes nos mais diversos
sistemas religiosos falsos que existem no mundo, e que se baseiam na crença em uma alma
imortal.
Em outras palavras, o diabo não ganharia nada pregando a mortalidade da alma; ao
contrário, apenas perderia o seu império de engano e o veria caindo às ruínas. Teria que
inventar outras mentiras que substituíssem a crença em uma alma imortal para conseguir
conduzir novamente o povo à perdição. Não faz qualquer sentido a mortalidade da alma ser
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 26
uma “heresia”, pois heresia é algo criado por Satanás com uma finalidade que de alguma
forma consiste em poder desviar o cristão de Cristo. Quem é que vai “se desviar de Cristo”
por crer que a vida termina na morte e recomeça na ressurreição? Ninguém. Ao contrário,
iria apenas reforçar a importância do papel da ressurreição dentro da comunidade cristã.
Iria fazer-nos retornar aos primórdios da fé, aos tempos em que a ressurreição era a maior
esperança dos cristãos (cf. At.24:15; 26:6; 28:20; 23:6; 26:7).
Mas seria totalmente lógico que ele implantasse a mentira da imortalidade da alma e
assim conseguisse enganar cada vez mais pessoas através dela, como de fato engana, pois
a imortalidade da alma sim tem o poder de desviar o cristão de Cristo, de criar falsos
sistemas religiosos em torno dela, de servir como base para a perda de um evangelho
Cristocêntrico para colocar o foco nos mortos, para dar plausibilidade às crenças na
transmigração e reencarnação das almas, evocação e consulta aos espíritos, oração e
intercessão dos mortos e pelos mortos, culto e veneração àqueles que já morreram, e por aí
vai.
Por isso que foi a primeira mentira implantada pela serpente no Jardim (cf.
Gn.3:4). Note que Satanás não perdeu tempo em implantar essa mentira no mundo. Ela
não foi a terceira, nem a quarta mentira inventada. Não foi inventada depois de muitos
séculos, foi a primeira, foi a que serviu como ponto de partida para todas as demais
mentiras que vimos acima.
Por tudo isso, eu concordo plenamente com a colocação verdadeira feita pelo professor
Sikberto sobre isso: “A imortalidade da alma é a base doutrinária da rebelião de
Lúcifer, e o fundamento das demais mentiras. Sempre que ele entra em ação em
uma situação nova, a primeira coisa que tenta fazer crer é que a alma não morre.
E sabe por quê? Pelo fato de que assim é mais fácil crer nas demais mentiras
dele”22
Desvantagens óbvias em crer que os mortos já estão no Céu – Embora para algumas
pessoas o simples fato de pensar que os seus entes queridos não estejam neste exato
momento no Paraíso possa ser uma dura realidade, também devemos ressaltar o fato de
que, em primeiro lugar, em absolutamente nunca alguém na Bíblia é consolado com a
notícia de que alguma pessoa já tenha subido aos Céus.
Pelo contrário, é dito de maneira clara há uma multidão de mais de três mil pessoas no
Pentecoste que Davi não subiu aos Céus (cf. At.2:34), algo que os apóstolos evitariam ao
máximo de pronunciar diante de tão grande multidão no caso de Davi, ao contrário, já
tivesse subido aos Céus. Em segundo lugar, quando o apóstolo Paulo envia consolações aos
tessalonicenses sobre os seus parentes falecidos ele foca-se inteiramente na esperança da
ressurreição, e não no “fato” de que eles supostamente já estivessem no Céu ou em algum
lugar de bem-aventurança (cf. 1Ts.4:13-18).
Tal consolação focada completamente na esperança da ressurreição do último dia não seria
logicamente cabível caso a ressurreição fosse somente um mero “detalhe” e as suas almas
já estivessem no Paraíso. Até porque, se tal se sucedesse, bastaria que Paulo relatasse isso
e pronto – já estariam consolados. O próprio fato de ele omitir completamente tal menção
22 MARKS, Sikberto. História da Adoração. Disponível em: <http://cristoembrevevira.com/introducao-a-
historia-da-adoracao/>. Acesso em: 15/08/2013.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 27
nos faz pensarmos que ou (1) Paulo não os consolou direto da maneira que qualquer
imortalista faria; ou (2) eles realmente não estão no Céu, mas irão ressuscitar no último
dia, o que explicaria devidamente o porquê de Paulo tê-los consolado somente com a
esperança de alcançar superior ressurreição.
Em terceiro lugar, ao enviar consolações à família de Onesíforo (já morto), ele novamente
em nada fala que este já estivesse desfrutando das bênçãos paradisíacas; pelo contrário, de
novo foca-se inteiramente na esperança de alcançar a misericórdia de Deus “naquele dia”:
“Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia, encontre misericórdia da parte do Senhor!” (cf.
2Tm.1:17).
Ademais, tal “consolação” não faria sentido em caso que Onesíforo já estivesse no Céu
porque se assim fosse ele já teria alcançado a misericórdia de Deus já adentrando no
Paraíso junto com os demais santos. Isso é somente lógica. Até mesmo quando Jesus Cristo
foi consolar as irmãs de Lázaro, já falecido, ele em nada indica que já este estivesse na
“glória”, mas insiste em apontar a ressurreição “no último dia” como única fonte de
consolação (cf. Jo.11:17-27).
Além disso, ressalta o aspecto inconsciente e não-consciente do ser racional na morte ao
fazer a devida analogia de Lázaro com um estado de “sono”, uma indicação de inatividade,
e não de atividade: “Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas
vou despertá-lo do seu sono” (cf. Jo.11:11). Se Lázaro estivesse consciente na glória
desfrutando das maravilhas do “estado intermediário” então a analogia correta seria com o
“acordado” e não com o “dormindo”, tendo que ser “despertado” de seu “sono”. A
caracterização é de inconsciência na morte e de um “despertar” na ressurreição.
Vemos, portanto, que se ninguém em parte alguma da Bíblia enviou “consolações”
baseando-se no suposto “fato” de que alguém já estivesse no Céu, então não seria absurdo
demais acreditar que, de fato, eles não estão lá. Difícil mesmo seria acreditar que os
apóstolos criam na imortalidade da alma e mesmo assim insistiam em nunca se basear nela
para consolar alguém, como todo e qualquer bom imortalista faz nos dias de hoje, focando-
se na crença de que o falecido “já está no Céu” e não que “ele irá ressuscitar um dia”.
O que realmente vemos é o apóstolo Paulo focando-se no momento em que realmente
atingiremos a imortalidade, que é quando todos os que estão dormindo, “num momento,
num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta, a trombeta soará, e os mortos
ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é
corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da
imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é
mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada
foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua
vitória?” (cf. 1Co.15:51-54).
Tal imortalidade não é obtida no momento do nascimento mediante a posse de uma “alma
imortal”, mas sim no momento da ressurreição dos mortos. Por fim, seria imensamente
mais desfavorável imaginarmos, por exemplo, que alguma pessoa justa morra e a sua
“alma imortal” parta de imediato ao Paraíso, aguardando a entrada celestial dos seus entes
queridos, mas passa-se o tempo e... nada. Passa-se mais tempo e eles continuam sem
aparecer por lá.
A Lenda da Imortalidade da Alma Página 28
Mais algumas gerações vão passando e, vendo que ninguém ali se achega, tem que chegar
à triste conclusão de que os seus parentes morreram sem alcançar a salvação e, pior, estão
sofrendo em torturas colossais em um inferno de fogo e enxofre, assim condenados por
toda a eternidade. Como pode ter paz e alegria celestiais um homem sob tais condições?
Felizmente, o que a Bíblia nos mostra é que nós, os vivos, de modo nenhum precederemos
os que dormem – entraremos nas nossas moradas no mesmo instante deles (cf. 1Ts.4:15),
quando Cristo voltar para nos levar onde ele está (cf. Jo.14:2,3).
A motivação errada – Se para manter alguém na linha for preciso a ameaça de um inferno e
demônios torturadores terríveis, então nesse contexto Jesus se torna apenas um meio
utilizável para se escapar do mal. O objetivo e finalidade dessa "conversão" é fugir do
inferno e não Jesus. Para aqueles que tem a fé edificada sobre a rocha que é Cristo, a bem-
aventurança de obter superior ressurreição e uma vida eterna somente em Cristo é
motivação mais do que suficiente que o mundo jamais poderia imaginar, ainda assim
continuarei cristão, pois eu não fui convertido pelo medo de um tormento eterno.
Certa vez, enquanto eu debatia com um católico romano, ele me veio com a seguinte
indagação: “Que vantagem teriam os justos diante dos maus, se ambos morrem, acabam-
se e simplesmente a única vantagem é os justos gozarem a vida eterna”? Infelizmente, esse
é um pensamento bastante comum entre os defensores do tormento eterno.
Lamentavelmente, acham ser pouco e insuficiente gozar de uma vida eterna em um Paraíso
junto a Deus. Só teria validade caso víssemos os “hereges” queimando eternamente,
incluindo muitos parentes e até mesmo irmãos! Adoraríamos a Deus por medo e não por
amor! Infelizmente, para muitos o Paraíso só seria uma recompensa mesmo caso houvesse
pessoas queimando para todo o sempre. Se não houvessem seres queimando
miseravelmente por toda a eternidade vivendo terrores colossais, então nem vale a pena
ser justo!
A vida eterna é suficiente para mim. Adoro a Deus não com medo de um inferno eterno,
mas pelo dom da vida eterna que ele concede gratuitamente a todos aqueles que creem.
Infelizmente, a doutrina da imortalidade da alma cria “cristãos” edificados sobre o medo do
inferno e não sobre a graça de Deus. Disso resulta toda uma desvalorização do que é o dom
da vida eterna e da imortalidade que Deus concede aos justos pela Sua Graça. Os livros de
Mary Baxter, por exemplo, produzem "conversões" motivadas pelo medo do inferno. Nos
seus livros, os “espíritos” ali mencionados detêm inclusive ossos e sangue! Pasme! Isso sem
mencionar o fato de que os “espíritos” da “Divina Revelação do Inferno” descem a este
lugar ainda vestidos com as suas roupas usuais! As outras “revelações” infernais vão daí
para pior!
Isso nos mostra claramente que tais “revelações” realmente não passam de mais investidas
do maligno a fim de perpetuar, de todas as maneiras possíveis, a primeira mentira. O que o
diabo mais quer é “revelar” para o povo aquilo que Deus não revelou na Bíblia, ainda mais
quando tal revelação claramente a contraria. Pessoas assim vivem debaixo de um legalismo
terrível e suas vidas se tornam um verdadeiro inferno. Elas são atormentadas pela
insegurança da própria salvação e enxergam Deus de forma volúvel, mutável e leviano. E a
fé dessas pessoas depende desse tormento pra continuarem "firmes na fé", pois se o
inferno não existir mais para elas, então elas pensam que já não vale a pena viver em
santidade.
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada
A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Cozinha Trivial Churrasco
Cozinha Trivial ChurrascoCozinha Trivial Churrasco
Cozinha Trivial Churrascotsunamidaiquiri
 
Cantos livro de musica web
Cantos livro de musica webCantos livro de musica web
Cantos livro de musica webtorrasko
 
2015 curso de direito do trabalho maurício godinho -
2015 curso de direito do trabalho   maurício godinho -2015 curso de direito do trabalho   maurício godinho -
2015 curso de direito do trabalho maurício godinho -celso dias
 
Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos 2009
Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos   2009Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos   2009
Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos 2009gisa_legal
 
O Dossie Socrates 2. Ed. 3 17 9 2009
O Dossie Socrates   2. Ed.   3   17 9 2009O Dossie Socrates   2. Ed.   3   17 9 2009
O Dossie Socrates 2. Ed. 3 17 9 2009Edgar Castelo
 
Apostila direito penal
Apostila direito penalApostila direito penal
Apostila direito penalGi Olli
 

Mais procurados (8)

Cozinha Trivial Churrasco
Cozinha Trivial ChurrascoCozinha Trivial Churrasco
Cozinha Trivial Churrasco
 
Apostila karate básico
Apostila karate básicoApostila karate básico
Apostila karate básico
 
Cantos livro de musica web
Cantos livro de musica webCantos livro de musica web
Cantos livro de musica web
 
Mulheres da biblia
Mulheres da bibliaMulheres da biblia
Mulheres da biblia
 
2015 curso de direito do trabalho maurício godinho -
2015 curso de direito do trabalho   maurício godinho -2015 curso de direito do trabalho   maurício godinho -
2015 curso de direito do trabalho maurício godinho -
 
Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos 2009
Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos   2009Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos   2009
Análise e emissão de laudos eletrocardiográficos 2009
 
O Dossie Socrates 2. Ed. 3 17 9 2009
O Dossie Socrates   2. Ed.   3   17 9 2009O Dossie Socrates   2. Ed.   3   17 9 2009
O Dossie Socrates 2. Ed. 3 17 9 2009
 
Apostila direito penal
Apostila direito penalApostila direito penal
Apostila direito penal
 

Semelhante a A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada

20 razões porque não sou testemunha de jeová ami lto justus
20 razões porque não sou testemunha de jeová   ami lto justus20 razões porque não sou testemunha de jeová   ami lto justus
20 razões porque não sou testemunha de jeová ami lto justusDeusdete Soares
 
A obra completa de orunmilá osamaro
A obra completa de orunmilá  osamaroA obra completa de orunmilá  osamaro
A obra completa de orunmilá osamaroDenise Hemerly
 
O livro dos espíritos comentado
O livro dos espíritos comentadoO livro dos espíritos comentado
O livro dos espíritos comentadosijoral
 
AS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL II
AS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL IIAS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL II
AS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL IITeol. Sandra Ferreira
 
João calvino institutas 2 - tradução do latim
João calvino   institutas 2 - tradução do latimJoão calvino   institutas 2 - tradução do latim
João calvino institutas 2 - tradução do latimprisesoul
 
As Institutas - João Calvino 02 classica
As Institutas - João Calvino 02   classicaAs Institutas - João Calvino 02   classica
As Institutas - João Calvino 02 classicaRosangela Borkoski
 
A Violência na Sociedade e Você - uma Leitura Espiritual
A Violência na Sociedade e Você - uma Leitura EspiritualA Violência na Sociedade e Você - uma Leitura Espiritual
A Violência na Sociedade e Você - uma Leitura EspiritualADALBERTO COELHO DA SILVA JR
 
Apostila biologia pró-técnico
Apostila   biologia pró-técnicoApostila   biologia pró-técnico
Apostila biologia pró-técniconetoalvirubro
 
Perguntas e Respostas da Torah
Perguntas e Respostas da TorahPerguntas e Respostas da Torah
Perguntas e Respostas da TorahPatriciaMorgado10
 
Sumario final 1
Sumario final 1Sumario final 1
Sumario final 1BeefPoint
 
Allan kardec a prece segundo o evangelho
Allan kardec   a prece segundo o evangelhoAllan kardec   a prece segundo o evangelho
Allan kardec a prece segundo o evangelhoJuarezSouzaMagnus
 
Magia Elemental Franz Bardon
Magia Elemental   Franz BardonMagia Elemental   Franz Bardon
Magia Elemental Franz Bardonorismagus
 
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo MichaelMagia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo MichaelHOME
 
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo MichaelMagia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michaelguest301cb2
 

Semelhante a A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada (20)

As corporacoes-orixas
As corporacoes-orixasAs corporacoes-orixas
As corporacoes-orixas
 
20 razões porque não sou testemunha de jeová ami lto justus
20 razões porque não sou testemunha de jeová   ami lto justus20 razões porque não sou testemunha de jeová   ami lto justus
20 razões porque não sou testemunha de jeová ami lto justus
 
A obra completa de orunmilá osamaro
A obra completa de orunmilá  osamaroA obra completa de orunmilá  osamaro
A obra completa de orunmilá osamaro
 
O livro dos espíritos comentado
O livro dos espíritos comentadoO livro dos espíritos comentado
O livro dos espíritos comentado
 
AS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL II
AS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL IIAS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL II
AS INSTITUTAS - TRATADO DA RELIGIÃO CRISTÃ - JOÃO CALVINO - VOL II
 
João calvino institutas 2 - tradução do latim
João calvino   institutas 2 - tradução do latimJoão calvino   institutas 2 - tradução do latim
João calvino institutas 2 - tradução do latim
 
As Institutas - João Calvino 02 classica
As Institutas - João Calvino 02   classicaAs Institutas - João Calvino 02   classica
As Institutas - João Calvino 02 classica
 
A Violência na Sociedade e Você - uma Leitura Espiritual
A Violência na Sociedade e Você - uma Leitura EspiritualA Violência na Sociedade e Você - uma Leitura Espiritual
A Violência na Sociedade e Você - uma Leitura Espiritual
 
Canto
CantoCanto
Canto
 
Apostila biologia pró-técnico
Apostila   biologia pró-técnicoApostila   biologia pró-técnico
Apostila biologia pró-técnico
 
A chave do segredo
A chave do segredoA chave do segredo
A chave do segredo
 
Perguntas e Respostas da Torah
Perguntas e Respostas da TorahPerguntas e Respostas da Torah
Perguntas e Respostas da Torah
 
Sumario final 1
Sumario final 1Sumario final 1
Sumario final 1
 
Reavivamento e Seus Resultados
Reavivamento e Seus ResultadosReavivamento e Seus Resultados
Reavivamento e Seus Resultados
 
Allan kardec a prece segundo o evangelho
Allan kardec   a prece segundo o evangelhoAllan kardec   a prece segundo o evangelho
Allan kardec a prece segundo o evangelho
 
Magia Elemental Franz Bardon
Magia Elemental   Franz BardonMagia Elemental   Franz Bardon
Magia Elemental Franz Bardon
 
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo MichaelMagia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
 
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo MichaelMagia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
Magia Elemental Ali Mohamad Onaissi Instituto Arcanjo Michael
 
Lesp br
Lesp brLesp br
Lesp br
 
O Livro dos Espiritos
O Livro dos EspiritosO Livro dos Espiritos
O Livro dos Espiritos
 

Último

As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................natzarimdonorte
 
Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra Espirita
Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra EspiritaHa muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra Espirita
Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra EspiritaSessuana Polanski
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAMarco Aurélio Rodrigues Dias
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxCelso Napoleon
 
TEMPERAMENTOS.pdf.......................
TEMPERAMENTOS.pdf.......................TEMPERAMENTOS.pdf.......................
TEMPERAMENTOS.pdf.......................CarlosJnior997101
 
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).natzarimdonorte
 
Formação da Instrução Básica - Congregação Mariana
Formação da Instrução Básica - Congregação MarianaFormação da Instrução Básica - Congregação Mariana
Formação da Instrução Básica - Congregação MarianaMarcoTulioMG
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a CrençaSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a CrençaRicardo Azevedo
 
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfAS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfnatzarimdonorte
 
G6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE de efeitos intelectuais
G6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE  de efeitos intelectuaisG6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE  de efeitos intelectuais
G6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE de efeitos intelectuaisFilipeDuartedeBem
 
Formação de Formadores III - Documentos Concílio.pptx
Formação de Formadores III - Documentos Concílio.pptxFormação de Formadores III - Documentos Concílio.pptx
Formação de Formadores III - Documentos Concílio.pptxVivianeGomes635254
 
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAMATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAInsituto Propósitos de Ensino
 
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusTaoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusVini Master
 
Oração Pelos Cristãos Refugiados
Oração Pelos Cristãos RefugiadosOração Pelos Cristãos Refugiados
Oração Pelos Cristãos RefugiadosNilson Almeida
 
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.LucySouza16
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19PIB Penha
 
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfBaralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfJacquelineGomes57
 

Último (20)

As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................As festas esquecidas.pdf................
As festas esquecidas.pdf................
 
Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra Espirita
Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra EspiritaHa muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra Espirita
Ha muitas moradas na Casa de meu Pai - Palestra Espirita
 
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRAEUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
EUBIOSOFIA - MEMÓRIAS DA SOCIEDADE TEOSÓFICA BRASILEIRA
 
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptxLição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
Lição 4 - Como se Conduzir na Caminhada.pptx
 
TEMPERAMENTOS.pdf.......................
TEMPERAMENTOS.pdf.......................TEMPERAMENTOS.pdf.......................
TEMPERAMENTOS.pdf.......................
 
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
A Besta que emergiu do Abismo (O OITAVO REI).
 
Formação da Instrução Básica - Congregação Mariana
Formação da Instrução Básica - Congregação MarianaFormação da Instrução Básica - Congregação Mariana
Formação da Instrução Básica - Congregação Mariana
 
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a CrençaSérie Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
Série Evangelho no Lar - Pão Nosso - Cap. 131 - O Mundo e a Crença
 
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdfAS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
AS FESTAS DO CRIADOR FORAM ABOLIDAS NA CRUZ?.pdf
 
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITAVICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS  NA VISÃO ESPÍRITA
VICIOS MORAIS E COMPORTAMENTAIS NA VISÃO ESPÍRITA
 
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina EspíritaMediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
Mediunidade e Obsessão - Doutrina Espírita
 
G6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE de efeitos intelectuais
G6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE  de efeitos intelectuaisG6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE  de efeitos intelectuais
G6 - AULA 7.pdf ESDE G6 - MEDIUNIDADE de efeitos intelectuais
 
Formação de Formadores III - Documentos Concílio.pptx
Formação de Formadores III - Documentos Concílio.pptxFormação de Formadores III - Documentos Concílio.pptx
Formação de Formadores III - Documentos Concílio.pptx
 
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIAMATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
MATERIAL DE APOIO - E-BOOK - CURSO TEOLOGIA DA BÍBLIA
 
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmoAprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
Aprendendo a se amar e a perdoar a si mesmo
 
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos viniciusTaoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
Taoismo (Origem e Taoismo no Brasil) - Carlos vinicius
 
Oração Pelos Cristãos Refugiados
Oração Pelos Cristãos RefugiadosOração Pelos Cristãos Refugiados
Oração Pelos Cristãos Refugiados
 
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.O Sacramento do perdão, da reconciliação.
O Sacramento do perdão, da reconciliação.
 
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 199ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
9ª aula - livro de Atos dos apóstolos Cap 18 e 19
 
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdfBaralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
Baralho Cigano Significado+das+cartas+slides.pdf
 

A Lenda da Imortalidade da Alma Desmistificada

  • 1. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 1 SUMÁRIO PREFÁCIO...................................................................................................................................................................................4 I-Um testemunho pessoal.........................................................................................................................................4 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO TEMA.............................................................................................................13 I –Introdução.................................................................................................................................................................13 II–A Primeira Mentira..............................................................................................................................................13 III–Por que a mentira?.............................................................................................................................................21 IV–Como o conceito de “alma imortal” entrou no Judaísmo............................................................29 CAPÍTULO 2 – OS PAIS DA IGREJA E A IMORTALIDADE DA ALMA...............................................37 I–Os Pais da Igreja criam na imortalidade da alma?.............................................................................37 II–A Dormição de Maria e a Imortalidade da Alma ...............................................................................48 CAPÍTULO 3 – CONCEITOS BÍBLICOS SOBRE CORPO, ALMA E ESPÍRITO................................51 I–Conceitos com relação à alma ........................................................................................................................51 II–Qual é o conceito correto?...............................................................................................................................51 III–O que é o “espírito” [ruach] e o que é a “alma” [nephesh]? .......................................................53 IV–A morte da alma...................................................................................................................................................75 V–Conclusão..................................................................................................................................................................94 VI–Sobre os significados secundários para a alma................................................................................95 CAPÍTULO 4 – A CRENÇA DA IMORTALIDADE DA ALMA NO ANTIGO TESTAMENTO .103 I –Introdução ao Capítulo...................................................................................................................................103 II–Moisés, Jó e a Imortalidade da Alma......................................................................................................104 III–Os Livros Poéticos...........................................................................................................................................109 IV–A posição dos Livros Proféticos..............................................................................................................120 V–Saul conversou com Samuel depois de morto?...............................................................................123 VI–A alma no lugar de silêncio........................................................................................................................129 VII–Conclusão............................................................................................................................................................132 VIII–Estavam enganados os escritores do Antigo Testamento?.................................................136 CAPÍTULO 5 – A CRENÇA NA IMORTALIDADE DA ALMA NO NOVO TESTAMENTO.......146 I–Introdução ao Capítulo....................................................................................................................................146 CAPÍTULO 5.1 – JESUS PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?...............................................147 II–A Parábola do rico e do Lázaro.................................................................................................................147
  • 2. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 2 III–A Origem pagã do Hades.............................................................................................................................154 IV–O que é o Sheol?................................................................................................................................................156 V–O Significado da Parábola.............................................................................................................................160 VI–Deus de vivos, não de mortos – Argumento contra ou a favor da imortalidade da alma?...............................................................................................................................................................................174 VII–Mateus 10:28 e a destruição da alma ................................................................................................177 VIII–Hoje mesmo estarás comigo no Paraíso?......................................................................................182 IX–Um espírito não tem carne e ossos.......................................................................................................196 CAPÍTULO 5.2 – O QUE JESUS REALMENTE ENSINOU?..................................................................199 X–Sobre a entrada no Reino ou na condenação....................................................................................199 XI–Sobre Imortalidade e Vida Eterna.........................................................................................................208 XII–Sobre o Estado Final dos ímpios...........................................................................................................210 XIII–A Ressurreição de Lázaro........................................................................................................................211 CAPÍTULO 5.3 – OS APÓSTOLOS PREGAVAM A IMORTALIDADE DA ALMA?................216 XIV–Atos dos Apóstolos.......................................................................................................................................216 CAPÍTULO 5.4 – PAULO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA?............................................225 XV–Ausente do corpo e presente com Cristo.........................................................................................225 XVI–A realidade da ressurreição em contraste com a alma imortal........................................237 XVII–A consolação do apóstolo Paulo aos Tessalonicenses..........................................................245 XVIII–“Buscando” aquilo que nós já temos?...........................................................................................250 XIX–Deus, o único que possui a imortalidade........................................................................................253 XX–Levou cativo o cativeiro..............................................................................................................................256 XXI–A Bíblia e as Experiências Fora do Corpo.......................................................................................260 XXII–A Entrada no Reino é somente na Ressurreição......................................................................262 XXIII–Últimas considerações dos ensinos de Paulo contra a imortalidade da alma......271 CAPÍTULO 5.5 – AFINAL, ALGUM APÓSTOLO PREGOU A IMORTALIDADE DA ALMA? .................................................................................................................................................................................................277 XXIV–O autor desconhecido de Hebreus também desconhecia a Imortalidade da Alma .............................................................................................................................................................................................277 XXV–Pedro pregou a Imortalidade da Alma?.........................................................................................289 XXVI–João pregou a Imortalidade da Alma?...........................................................................................300 XXVII–Mais pilares do imortalismo sendo derrubados...................................................................304 CAPÍTULO 6 – O SONO DA MORTE.....................................................................................................................319 I–A Metáfora do Sono............................................................................................................................................319
  • 3. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 3 II–O “dormir” é referência somente para o corpo?.............................................................................323 CAPÍTULO 7 – A RESSURREIÇÃO DOS MORTOS.......................................................................................329 I-A Ressurreição é Física?...................................................................................................................................329 II–O que é a “Ressurreição”?.............................................................................................................................341 III–A recompensa é no momento da morte ou somente na ressurreição? ..........................343 IV–Morte – o maior inimigo..............................................................................................................................345 V–O que acontece na Ressurreição?............................................................................................................346 CAPÍTULO 8 – A DOUTRINA DO INFERNO E DOS ACONTECIMENTOS FINAIS...................358 I-Introdução ao Capítulo.....................................................................................................................................358 CAPÍTULO 8.1 – INFERNO: TORMENTO ETERNO OU ANIQUILACIONISMO?.................361 II–Conceitos errôneos sobre o Inferno......................................................................................................361 III–O Repertório Bíblico de Aniquilamento.............................................................................................363 IV–Analisando as passagens utilizadas pelos imortalistas............................................................373 V–O Aniquilamento dos Ímpios......................................................................................................................395 VI–A Lei da Proporcionalidade.......................................................................................................................410 VII-A Lei Moral..........................................................................................................................................................419 VIII–Conclusão..........................................................................................................................................................422 CAPÍTULO 8.2 – OS ACONTECIMENTOS FINAIS...................................................................................425 I–Onde passaremos a eternidade?................................................................................................................425 II-Novos Céus e Nova Terra..............................................................................................................................428 CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................................................433
  • 4. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 4 PREFÁCIO I-Um testemunho pessoal “Se as pessoas que morreram em Cristo já estão no Céu, então qual a necessidade da ressurreição? Por que elas precisariam deixar o Céu, voltar para o corpo sepultado, ressuscitar novamente e retornar para o Céu? Será que é por causa deste ‘dilema doutrinário’, impossível de ser resolvido, que não se vê muita pregação sobre a ressurreição nas igrejas cristãs que creem no estado consciente dos mortos?”1 Quem estiver lendo este livro pela primeira vez pode se surpreender em saber que seu autor não é adventista ou testemunha de Jeová, mas um evangélico comum que cria na imortalidade da alma, a exemplo do que a grande maioria dos evangélicos ainda creem. A noção de que Deus tenha implantando um elemento imortal no homem, que sobrevive à parte do corpo na morte e volta para Deus em estado incorpóreo esperando a ressurreição em um estado intermediário é ponto de fé em muitas religiões, inclusive cristãs. Nasci e cresci aprendendo a doutrina da imortalidade da alma. Talvez a primeira coisa que eu tenha ouvido sobre a morte é que a alma é imortal. Sobre ressurreição? Não, isso não era muito importante. Um mero detalhe desnecessário e de menor importância, que não era muito ressaltado nas igrejas. Tinha apenas um leve conhecimento sobre ressurreição, mas sobre imortalidade da alma estava na ponta da língua. Fui doutrinado, tanto pelas igrejas que eu frequentava quanto pelos sites apologéticos evangélicos na internet, que a alma era imortal. Quando comecei a construção de meu primeiro site2, em 2009, eu dediquei uma página para “provar” a imortalidade da alma, baseando-me naquelas mesmas meia dúzia de passagens bíblicas isoladas que todo bom imortalista sabe de cor: partir e estar com Cristo, as “almas” debaixo do altar clamando vingança, o ladrão da cruz, a parábola do Lázaro, os espíritos em prisão, etc. Passava essas passagens no site achando que era tudo aquilo que a Bíblia tinha a dizer sobre o tema. E, nos debates, sustentava essa mesma posição. Antes de contar como que eu deixei de crer na imortalidade da alma, será necessário começar contando como que tudo começou. Uma daquelas perguntas que todo cristão tem em mente mas que apenas alguns poucos têm coragem de assumi-la é sobre como que um Deus cheio de amor, graça, justiça e misericórdia poderia deixar queimando literalmente entre as chamas de um lago de fogo e enxofre por toda a eternidade os pecadores que durante alguns anos não serviram a Cristo em suas vidas terrenas. Não é preciso ser um filósofo para entender que tal punição seria injusta. Um tormento infinito por pecados finitos não entrava na minha cabeça, pelo menos não com o Deus que nos é revelado nas Escrituras, que tanto amou o mundo ao ponto de dar o Seu único Filho por todos nós. Se nem eu ou você seríamos tão cruéis e implacáveis ao ponto de mandar o nosso maior inimigo para literalmente as chamas de um fogo eterno, para sofrer terrivelmente para sempre e sem volta, quanto menos Deus, que ama muito mais essa pessoa do que eu ou você! 1 MEDEIROS, Gilson. Jesus falou mais sobre o inferno do que sobre o Céu. Será? Disponível em: <http://prgilsonmedeiros.blogspot.com.br/2009/07/cuidado-com-o-fogo-do-inferno.html>. Acesso em: 22/08/2013. 2 apologiacrista.com
  • 5. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 5 As explicações que ouvia sobre isso não me eram satisfatórias. Uns diziam que o inferno foi criado para o diabo e seus anjos, e que “por acidente” os não-cristãos vão acabar partilhando do destino do diabo e seus anjos. Mas como Deus é onisciente e sabia muito bem de todo o desenrolar da história humana antes mesmo de criar o homem, fica ainda mais incoerente crer que ele não tenha previsto esse inferno de tormento eterno para os homens pecadores. Na verdade, essa explicação não ajudava nada. Por esta época, eu comecei a me aventurar a ler vários daqueles relatos de vida após a morte. Li desde pessoas que supostamente foram ao Céu, até pessoas que passaram pelo inferno e voltaram (há também pessoas que dizem ter visitado o purgatório e o limbo). Claro que a maior ênfase e quantidade de relatos era deste último, o inferno. Li desde as visões de Santa Faustina do inferno, até a “divina revelação do inferno” de Mary Baxter, os “23 minutos no inferno” de Bill Wiese, dentre muitas outras “revelações”, as quais eu me amarrava, e tinha toda a credulidade do mundo de que tais visões eram reais. Na época, eu não tinha qualquer conhecimento bíblico sério sobre o que era realmente o inferno bíblico, apenas tinha aquela visão tradicional de inferno, herdada a nós pela Igreja Católica na Idade Média, ao maior estilo “Comédia de Dante”. Para mim, o inferno era um local subterrâneo, onde as almas ou espíritos imortais dos pecadores desciam, e lá eram atormentados por demônios, por fogo, por torturas colossais de todos os tipos. O inferno era praticamente uma Disneylândia do demônio, que se divertia à beça torturando os pecadores. Em outras palavras, ao invés de o inferno ser uma punição para o demônio (pois foi “preparado para o diabo e seus anjos” – cf. Mt.25:41), era uma total curtição para ele. Mas não era somente isso que me estranhava nestes relatos “infernais”. Não era preciso ter nenhum conhecimento teológico para perceber que os relatos eram sempre contraditórios entre si (portanto, mutuamente excludentes), e em quase todos os casos as pessoas encontravam por lá personagens famosos, como Michael Jackson, John Lennon, o papa João Paulo II, dentre outros. E os “espíritos”? Estes sangravam, vestiam roupas humanas, tinham até pele e ossos. Tudo isso me parecia muito estranho, para dizer pouco. Mas o ponto em comum em todas as visões do inferno é que a pessoa que foi supostamente levada até lá estava ao lado de Jesus, que se mostrava profundamente triste com o sofrimento daquelas pessoas, quase que arrependido, como se não tivesse sido ele próprio que tivesse preparado aquele lugar e soubesse de antemão o destino que os não-salvos teriam ali. Mas dizia que naquele momento já não restava mais nada a ser feito, pois aquelas pessoas já estariam condenadas para passarem toda a eternidade naquele lugar. Apenas mais tarde fui entender que os mortos só serão julgados e condenados na segunda vinda de Cristo (cf. 2Tm.4:1; Jo.5:28,29; At.17:31). Contudo, ao invés de me conformar com essa explicação, isso piorava ainda mais as coisas, pois passava a ideia de um Deus que é incapaz de solucionar os problemas ou resgatar as pessoas daquele lugar terrível, que sabia premeditadamente que aquelas pessoas iriam para aquele lugar, e, ao invés de decretar um juízo justo e correspondente aos pecados de cada um, decide por um tormento eterno para todos, indiscriminadamente. Um rapaz de doze anos que não conheceu Jesus teria a mesma pena de Adolf Hitler, que exterminou os judeus.
  • 6. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 6 O diabo, autor do pecado e que peca desde o princípio (cf. 1Jo.3:8), ficaria se divertindo torturando aqueles que pecaram somente durante algum tempo. Todas as respostas que lia e ouvia não serviam para melhorar a situação, mas apenas serviam para acentuar o problema. A base filosófica podia às vezes parecer racional, mas nunca atingia o cerne da questão. E, com medo de questionar se isso é justo ou não e ir parar neste local infernal, tinha receio de questionar o próprio Deus sobre isso, ou de perguntar a outras pessoas. Afinal, o motor que rege muitos crentes para viverem certinho não é Deus ou a vida eterna, é o fogo do inferno. Muitos crentes querem ser santos à marra, por força de obrigação e não por livre e espontânea vontade de amar a Deus, porque tem medo de morrer no pecado e irem parar neste local infernal. Sendo assim, a real motivação para servir a Cristo acaba sendo escapar do inferno, e não encontrar seu Salvador. Para elas, se um tormento eterno não existisse, valeria mais a pena viver no pecado! E cristãos firmados sobre o medo do inferno não são cristãos verdadeiros. O cristão tem que estar firmado em Cristo, e somente nEle. Mas isso é muito difícil para alguém que tem em mente a ideia de que, se cometer algum deslize, tem um local embaixo da terra com vários seres passando por tormentos colossais nas mãos de criaturas demoníacas com um garfo na mão, junto a um fogo que queima espíritos incorpóreos para sempre. Seria mais justo que Deus punisse cada pecador com o tanto correspondente aos seus pecados do que enviar todos juntos para uma mesma condenação de um tormento infinito por pecados finitos. Da mesma forma que eu considerava injusto que não houvesse castigo nem punição pelos pecados, igualmente achava injusto que essa punição fosse eterna para todos, indistintamente. A solução para isso seria um castigo proporcional aos pecados de cada um, e não uma extinção de vida antes de pagar pelos pecados, e muito menos um tormento eterno, que só serviria para perpetuar o pecado, os pecadores, o mal, as blasfêmias e o tormento no Universo para sempre, ao invés de eliminá-lo de uma vez por todas. Foi então que, lendo um artigo do doutor Samuele Bacchiocchi (o qual eu faço questão de citar neste livro em várias ocasiões), eu descobri a verdade sobre o inferno, que consiste em um castigo proporcional às obras e em aniquilacionismo, e não em um tormento eterno. É claro que isso não era tudo. Comecei a estudar o assunto e perceber a falácia dos argumentos imortalistas para um tormento eterno, os quais serão examinados ao longo deste livro. Descobri, então, que Deus não castiga da mesma forma todos os pecadores com um tormento eterno para todos indistintamente, mas pune a cada um com o tanto correspondente pelos seus pecados. Descobri que Deus não dá “infinitos açoites” em ninguém, mas que uns receberão “muitos açoites” (cf. Lc.12:47), enquanto outros, por sua vez, receberão “poucos açoites” (cf. Lc.12:48). Descobri, finalmente, a linguagem bíblica que expressa de maneira grandiosa a justiça de Deus: que os ímpios serão castigados pelo tanto correspondente aos seus pecados e, em seguida, eliminados, e não atormentados para sempre. Essa descoberta foi duplamente libertadora: primeiro, me libertou de um engano bíblico tremendo que é a crença em um inferno de tormento eterno e consc iente, baseando-me em uma ou outra passagem isolada, quando a Bíblia por completo rejeita tal doutrina. Segundo, ela me libertou de outro tormento, o psicológico, pois pude ver novamente como que o
  • 7. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 7 amor e a justiça de Deus andam de mãos dadas, e que Ele não é incoerente com relação ao destino eterno dos perdidos. Como o próprio Bacchiocchi disse, “a recuperação do ponto de vista bíblico do juízo final pode soltar a língua dos pregadores, porque podem pregar esta doutrina vital sem receio de retratar a Deus como um monstro”3. Mesmo após crer na crença bíblica da destruição eterna dos ímpios e rejeitar a tese do tormento eterno, o fato é que eu continuei crendo no estado intermediário, onde as almas dos justos já estariam com Deus e as dos ímpios já estariam no inferno (ainda que não seja eternamente). Sim, é incoerente crer nisso, pois se a alma sobrevive à morte do corpo é porque ela não morre; ou seja, que ela é imortal. Mas se ela morre na segunda morte, então ela não é imortal! Em outras palavras, crer que a alma sobrevive após a morte e ao mesmo tempo crer que ela perecerá no dia do juízo é ser incoerente: seria o mesmo que dizer que a alma morre e não morre, que ela é e não é imortal. Portanto, de duas, uma: ou a crença no tormento eterno do inferno é verdadeira, ou então, se não é, a própria imortalidade da alma em um estado intermediário é falsa. Demorou mais algum tempo para descobrir isso, e dessa vez a bomba veio com um nome: ressurreição dos mortos! Sim, essa crença tão esquecida e praticamente abandonada pelos pastores e igrejas em nossos dias foi exatamente aquilo que me levou rejeitar a imortalidade da alma. É certo que as igrejas que pregam a imortalidade da alma, em sua maioria, não rejeitam a ressurreição dos mortos. Porém, isso não muda o fato de que ambas as doutrinas são mutuamente excludentes. Os gregos da época de Cristo, que difundiram enormemente a tese da alma imortal para o mundo, não criam na ressurreição dos mortos, e por isso zombaram de Paulo no Areópago (cf. At.17:32). O teólogo luterano Oscar Cullmann logo percebeu esse contraste e escreveu o livro: “Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos?”, onde ele aborda tal contraste abismal entre ambas as doutrinas. O fato é que a imortalidade da alma anula completamente o valor e a importância (e principalmente a necessidade) da ressurreição. Prova disso é que raramente se vê pregações colocando o foco na esperança da ressurreição nos dias de hoje. Desde quando a doutrina pagã na imortalidade da alma entrou no Cristianismo, o foco passou a ser a esperança da imortalidade da alma, e não mais a esperança de ressurgir dentre os mortos na manhã da ressurreição do último dia. O foco mudou completamente. Da Igreja Primitiva, onde nunca se ouviu falar de “alma imortal” [psiquê athanatos], e que pregava que a única esperança dos cristãos era na ressurreição, para a igreja atual, onde não se ouve mais pregações sobre a ressurreição, onde ninguém fala que a sua maior esperança é em ressuscitar dos mortos, onde a crença na alma imortal suprimiu a crença fundamental na ressurreição. Rejeitar a imortalidade da alma não é apenas repudiar uma doutrina falsa oriunda do paganismo grego, mas é engrandecer e enaltecer novamente a ressurreição dos mortos, assim como era crida na Igreja primitiva. Diante disso, chegou o dia em que eu parei para ler 1ª Coríntios, capítulo 15. Nunca vou me esquecer daquele dia. Nunca algum capítulo mexeu tanto comigo. A cada verso que lia, a cada compreensão do ensino de Paulo sobre a ressurreição, eu ficava admirado, e ao mesmo tempo espantado – como nunca havia percebido aquilo antes? Era difícil acreditar 3 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007.
  • 8. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 8 que a Igreja se distanciou tanto daquele ensino. Era difícil acreditar que a cada versículo eu me convencia cada vez mais que imortalidade da alma não condiz com ressurreição dos mortos. Confesso que fiquei pálido quando li no verso 18 Paulo dizendo que, se não fosse pela ressurreição, os que dormiram em Cristo já pereceram. Confesso que fiquei mais pálido ainda quando li no verso seguinte que a nossa esperança em Cristo se limitaria somente a esta presente vida, se não existisse a ressurreição. Quanto mais eu lia, mais me convencia que, se não fosse pela ressurreição do último dia, não existiria nada depois da morte. Tanto é que Paulo diz que, sem ressurreição, seria melhor comer, beber e depois morrer (v.32), e estaríamos correndo perigos à toa (v.30). Nunca havia visto um imortalista pregar essas passagens. E até hoje nunca vi alguém as explicar satisfatoriamente, à luz de sua crença na imortalidade da alma. Afinal, Paulo poderia ter dito que viveríamos no Céu do mesmo jeito sem a ressurreição, estando com nossas almas no Paraíso sem um corpo. Para os imortalistas, a ressurreição é isso: um detalhe desnecessário. Para que ressuscitar um corpo morto, se já estaríamos no Céu? De qualquer forma, na teologia imortalista, a ressurreição é desnecessária e inútil, pois estaríamos com Deus no Céu com ou sem um corpo físico glorioso. Estaríamos desfrutando das delícias do Paraíso para sempre, do mesmo jeito. Estaríamos com Deus eternamente, independentemente de um corpo se levantar dos mortos ou não. Mas, se a alma não é imortal, então a ressurreição é totalmente necessária. Sem ela, os mortos já teriam perecido para sempre (v.18). Sem ela, não haveria outra vida após a morte, e a nossa esperança seria somente esta vida presente (v.19). Sem ela, é inútil sofrer perseguições por amor a Cristo (v.30). Sem ela, a própria vida é inútil (v.32). Quanta diferença entre imortalidade da alma e ressurreição dos mortos! Depois, li os versos 51-54, onde vejo Paulo dizendo que seremos dotados de imortalidade somente após a ressurreição, pois ela não é algo que já trazemos conosco em nossa natureza no presente momento. E vejo também que a morte não é a libertadora da alma imortal, mas o maior inimigo a ser vencido (vs. 54-55), e que só é tragada na ressurreição (v.54). Quão importante, gloriosa e fundamental é a ressurreição! Quando descobri o valor da ressurreição no Cristianismo, o tanto que ela é importante e como ela foi sendo tão sistematicamente abandonada até chegar aos nossos dias (a tal ponto que raramente se vê pregações sobre a ressurreição hoje em dia), tentei entender o porquê que ela foi tão esquecida. Afinal, isso tudo não poderia ter acontecido do nada, sem uma razão de ser. Ao lermos o livro de Atos vemos que em 2/3 das ocasiões em que a palavra “esperança” entra em cena ela está relacionada à esperança da ressurreição dos mortos, no último dia. O próprio Paulo disse que “nessa esperança”, isto é, na esperança da “redenção do nosso corpo”, é que “fomos salvos” (cf. Rm.8:24), que tinha “a mesma esperança desses homens, de que haverá ressurreição tanto de justos como de injustos” (cf. At.24:15), e de que estava sendo julgado “por causa da minha esperança na ressurreição dos mortos” (cf. At.23:6). Se a esperança da ressurreição era o foco da Igreja primitiva e foi perdendo espaço até os dias atuais, é porque algo aconteceu, porque alguma outra coisa foi ganhando este espaço.
  • 9. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 9 E, ao estudarmos a história da Igreja, vemos que no final do século II os filósofos cristãos, admiradores da filosofia de Platão, decidiram criar um meio de tentar conciliar o ensino da ressurreição com a imortalidade da alma, inventando um estado intermediário, onde as almas esperariam em forma incorpórea a ressurreição dos seus corpos. A partir de então, a imortalidade da alma foi ganhando cada vez mais espaço, e a ressurreição perdendo cada vez mais. Pois, se a alma já vai para o Céu sem a necessidade da ressurreição, para que existe ressurreição? A ressurreição seria desnecessária, pois já estaríamos na glória ou pelo menos assegurados entre os salvos. E tudo aquilo que Paulo disse aos coríntios em 1ª Coríntios 15 perderia completamente o sentido e a razão de existir. Ao invés de Paulo estar pregando a necessidade da ressurreição, ele estaria simplesmente pregando a existência dela. A ressurreição que a Bíblia ensina é uma ressurreição não apenas física e real, mas necessária e fundamental. A ressurreição crida pelos imortalistas, no entanto, é inútil e desnecessária (pois já estaríamos no Céu antes dela e continuaríamos lá sem ela, mesmo se ela nunca existisse). Esse evidente contraste entre os pontos de vista mortalista e imortalista em relação à vida após a morte fica ainda mais acentuado quando vemos que, se de fato é apenas na ressurreição que ganhamos vida, então essa deve ser a nossa maior esperança, mas se a nossa alma já está no Céu antes dela e sem a necessidade dela, então a nossa esperança não é a ressurreição dos mortos, como tão insistentemente pregavam os apóstolos, mas a imortalidade da alma. E é neste espantalho criado pelos imortalistas e apelidado de “ressurreição” que eles acreditam: uma ressurreição desnecessária, sem razão lógica de existir, em que viveríamos muito bem sem ela e onde é absurdo colocar “esperança” numa tão simples religação de corpo com alma por ocasião da segunda vinda de Cristo. A maior razão deste livro existir não é dizer que a alma morre, mas é anunciar a verdadeira ressurreição, retornando às raízes da esperança cristã primitiva, voltando aos primórdios de quando a imortalidade da alma estava das portas para fora da Igreja, e por essa mesma razão a ressurreição era o foco de todo o pensamento apostólico e neotestamentário. Para o inimigo, bastou inventar a mentira de que “certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4), que o homem rapidamente deixou de lado, arquivado em algum lugar, a sua crença numa ressurreição vindoura. Bastou ensinar que a alma não morre para trazer junto consigo todas as outras heresias que vemos hoje: oração pelos mortos, culto aos mortos, intercessão dos santos falecidos, reencarnação, consulta aos espíritos, purgatório, limbo, dentre outras inúmeras heresias perpetuadas até os dias de hoje, tendo todas elas essa mesma base inventada pelo maligno, de que existe vida consciente entre a morte e a ressurreição. O que vemos, na verdade, é que todas as heresias têm como fundamento a crença de que a alma sobrevive após a morte. Sem ela, nenhuma das maiores heresias citadas acima existiria. Sem ela, Satanás não teria um pretexto para fazer com que o povo ascenda velas aos mortos, beije imagens deles, se prostre diante delas, reze a alguém que já faleceu, ore por eles ou os consulte. A imortalidade da alma foi a primeira mentira inventada por Satanás na história da humanidade (cf. Gn.3:4), porque ela é a base e o fundamento de todas as demais mentiras. Na verdade, a maioria dos evangélicos perde tempo enquanto refuta a crença no purgatório, intercessão dos santos, imagens, idolatria, culto aos mortos, dentre tantas outras heresias,
  • 10. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 10 pois elas são apenas a consequência de uma heresia maior. Todas elas são consequências da crença na imortalidade da alma. Destruindo essa maior mentira, todas as outras mentiras secundárias caem por terra, sem fazer qualquer esforço, como em um efeito dominó. Enquanto os evangélicos apenas atacarem essas doutrinas em si mesmas, não estarão fazendo qualquer progresso. Só conseguirão quando perceberem que o mal só é cortado se for pela raiz: quando destruirmos a base e o fundamento de todas essas heresias, que é precisamente a imortalidade da alma. Em resumo, aqui escreve alguém que sempre foi doutrinado com os ensinos de imortalidade da alma e tormento eterno, que sempre frequentou igrejas que criam e creem nisso, que sempre ouviu isso a vida inteira, aí veio a Bíblia e mudou tudo. Como é que isso ocorre? Somente quando estamos com a mente aberta para a verdade. O curioso é que eu já havia lido 1ª Coríntios 15 diversas vezes antes daquele dia. Por que nunca havia notado nada “diferente”? Porque estava com a mente fechada para a verdade. Enquanto eu estava apenas seguindo uma orientação religiosa proveniente de tradições humanas denominacionais de uma igreja X ou Y, eu podia ler mil vezes aquele capítulo, que iria estar como que com um “véu” espiritual me cobrindo. Mas, uma vez que dispus em meu coração o interesse de descobrir a verdade, e nada além da verdade bíblica, eu conheci a verdade, e a verdade me libertou. Todos se deparam com a verdade, mas apenas alguns poucos estão realmente abertos a aceitá-la. Da mesma forma que Cristo bate na porta do coração de cada um de nós, mas só o aceitamos se estivermos dispostos a isso (cf. Ap.3:20), o mesmo acontece com as verdades bíblicas. Certa vez um amigo meu comentou o seguinte: “Sabe o que acontece, Lucas? O problema é que a gente pode até ampliar alguma coisa sobre isso, mas não vai pegar. Você, e nem eu, ou quem quer que seja, consegue falar tão alto. A coisa talvez até mude, talvez, se quem padronizou o mandamento, no caso a Igreja Católica, reverter o quadro, dizendo que houve um erro. Muitos recebem as mudanças com alegria, satisfação, concordando com tudo, mas em apenas alguns dias elas voltam à crença comum. Pode-se encher isso aqui de textos e mais textos que convençam as pessoas que nada vai resolver. Que se encha isso aqui de argumentos que nos deixem com olhos lacrimejantes de satisfação, com apenas dez dias sem tocar no assunto, as pessoas são novamente empurradas para a crença tradicional ensinada há milênios, no que se refere a esses assuntos” Essa é a mais pura verdade, e é o que eu mais constato nestes tempos em que eu debato sobre isso. A maioria das pessoas não segue a Bíblia, segue uma religião. Não segue Cristo, segue o ensino denominacional mais tradicional. Não falo mal e nem quero desmerecer nenhuma denominação, mas a verdade está somente na Bíblia. Isso vale tanto para católicos, como principalmente para os evangélicos, que dizem seguir a Sola Scriptura. O que vemos é que muitas pessoas não estão com a mente aberta para decidir pela verdade bíblica. Elas já têm uma verdade pré-estabelecida na mente delas, oriunda da tradição da igreja X, e defendem essa tradição com unhas e dentes, usando a Bíblia não para descobrir a verdade que está nela, mas somente para encontrar pretextos e passagens que possam corroborar com a crença da tradição. Ao invés de fazerem um estudo sério e honesto, com a mente totalmente aberta para a verdade, elas já estão com uma verdade pré-concebida na mente delas, e buscam apoio para essa verdade na Bíblia.
  • 11. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 11 Em outras palavras, a Bíblia não é a fonte da verdade para essas pessoas. A fonte da verdade é a tradição denominacional, e a Bíblia é apenas um meio para dar pretextos para essa crença. Sendo assim, não me assusta que tantas pessoas leiam 1ª Coríntios 15 a exemplo de como fazem com inúmeras outras passagens das Escrituras que desmentem claramente a imortalidade da alma, mas elas continuam batendo nessa mesma tecla. Enquanto eu estive com a mente fechada, ainda que lesse 1ª Coríntios 15 ou ouvisse falar sobre ressurreição, não a compreendia. Era como os discípulos, que ouviam Jesus falando explicitamente a eles que iria morrer e ressuscitar ao terceiro dia, mas mesmo sendo assim tão claro, eles mesmo assim não entendiam, pois o seu entendimento estava encoberto (cf. Lc.9:45). Porém, quando estive com a mente aberta para a verdade, a quantidade insuperável de evidências bíblicas era tão grande que precisei fazer um livro sobre isso. Com a mente aberta para a verdade bíblica, não foi difícil achar uma riqueza bíblica que eu jamais teria descoberto se não me lançasse nas Escrituras e mergulhasse nelas. Jamais teria descoberto tudo isso se não fosse por estar com a mente aberta para a verdade bíblica. É claro que a ajuda de apologistas experientes me ajudaram bastante neste processo. Tenho que ser grato a Azenilto Brito (que gentilmente me apresentou o livro de Bacchiocchi e que me ajudou muito com os seus brilhantes artigos sobre o tema), a Samuele Bacchiocchi, a Leandro Quadros, a Oscar Cullmann e a tantos outros, em suas maravilhosas defesas deste ponto sobre a vida após a morte. Porém, acima de tudo, tenho que ser agradecido a Deus, por ter nos dado a Sua Santa Palavra. Eu não tive nenhum sonho, nenhuma revelação, não vi Deus, não tive contato com um anjo poderoso com uma espada na mão, não fui alvo de uma profecia e nem fui arrebatado ao terceiro céu. Tudo isso que eu descobri não foi de alguma forma extraordinária: foi somente lendo a Bíblia. Algo tão simples, mas tão pouco praticado por muitos. Fico imensamente agradecido ao Senhor por ter me dado a honra de militar por essa doutrina tão abandonada de nossas igrejas nos dias de hoje, chamada ressurreição dos mortos, e de poder combater a raiz de todas as heresias e a primeira de todas as mentiras, chamada imortalidade da alma. É claro que isso me custou caro. Muito caro. Já fui chamado de “herege” por causa disso não poucas vezes. Muitos outros evangélicos perdem o prestígio e consideração que tem por mim por verem que eu prego uma coisa que vai contra a tradição da igreja deles. Já sabia desse risco desde o início. Se eu quisesse agradar a homens, estaria pregando aquilo que todo mundo gostaria de ouvir. Se eu quisesse agradar a homens, estaria ensinando que “certamente não morrerás”. Se a minha intenção em Cristo fosse de fazer amigos que dessem um tapinha nas costas e me apoiassem em tudo o que eu dissesse, certamente estaria pregando que possuímos uma alma, e não que somos uma (cf. Gn.2:7). Esse é o preço pago por pregar a verdade, e sei que pagarei esse preço até o fim da minha vida. Todavia, não me importo, nem considero a minha vida de valor algum para mim mesmo, se tão somente puder terminar a corrida e completar o ministério que o Senhor Jesus me confiou, de testemunhar do evangelho da graça de Deus. E, por essa mesma graça, hoje eu fico muito feliz em ver que tantas pessoas já se libertaram dessa doutrina pagã, e hoje estão livres para pregar a ressurreição e a vida em Jesus Cristo.
  • 12. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 12 E eu não sou o único. Poderia passar todo o dia mostrando inúmeros teólogos de diferentes segmentos religiosos evangélicos imortalistas, mas que, através de uma leitura sincera e honesta das Escrituras, adotaram a postura bíblica da mortalidade natural da alma humana. Poderíamos referir aqui os nomes de Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John William Weham, Edward Green, Philip Hughes, David Edwards, Basil Atkinson, Greg Boyd, William Branham, Harold Camping, Charles Fitch, Roger Foster, Fudge Edward, Charles Gore, Henry Grew, Homer Hailey, Emmanuel Pétavel-Olliff, Oliver Chase Quick, Ulrich Ernst Simon, George Storrs, William Temple, dentre tantos outros eruditos e teólogos de renome, que não eram adventistas nem testemunhas de Jeová, e que, mesmo fazendo parte de denominações que pregavam a imortalidade da alma, adotaram a postura de mortalidade da alma após um exame bíblico sério e honesto consigo mesmos. Todos eles poderiam ter mantido a sua crença na imortalidade da alma, o que seria muito mais fácil e confortável para eles. Mas, mesmo sofrendo não poucas vezes a oposição e perseguição de ataques contrários, eles não puderam fechar os olhos para as tão grandes e notáveis evidências bíblicas que combatem tão fortemente a crença na imortalidade da alma, que pode até enganar a muitos com uma dúzia de versos isolados sem exegese, mas que dificilmente resiste a um exame bíblico criterioso respeitando as normas da hermenêutica bíblica. É claro que ainda existem aqueles que hesitam, que perseguem, que chamam os outros de hereges sem examinar a si mesmos, que olham torto, que são fechados para a verdade ou que lerão este livro meramente na intenção de refutá-lo. Isso sempre existiu, e sempre existirá. Paulo foi debochado pelos gregos, porque pregava a ressurreição dos mortos, e eles a imortalidade da alma (cf. At.17:32). Por isso, não é de se surpreender que a mesma coisa aconteça nos dias de hoje. Mas a minha alegria é ver que não estou sozinho nesta batalha – estou cercado de tão grande nuvem de testemunhas, entre leigos e eruditos, das mais diferentes denominações religiosas, que cada vez mais estão abrindo os olhos para a verdade e se libertando do engano. Destes, sou apenas mais um militante. Apenas mais um que, ao invés de iludir você dizendo que certamente não morrerás, digo que Deus é o único que possui a imortalidade, mas que Cristo é a ressurreição e a vida.
  • 13. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 13 CAPÍTULO 1 – INTRODUÇÃO AO TEMA I –Introdução “Nenhuma das minhas publicações provocou tal entusiasmo ou tão violenta hostilidade”4. É assim que Oscar Cullmann, renomado teólogo suíço, definiu o seu livro ferrenhamente atacado: “Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos mortos?”, após uma mudança de posição e consciência sobre a vida pós-morte. A ideia de imortalidade inerente está enraizada nas principais religiões do mundo, mas atualmente cresce o número de eruditos que, lendo a Bíblia, abandonam tal crença. O que leva tantos teólogos na atualidade, como Oscar Cullmann, Clark Pinnock, John Stott, John William Weham, Edward Green, Philip Hughes, David Edwards, entre muitos outros, a abandonarem a visão de estado intermediário e de eternidade no lago de fogo, se nasceram aprendendo que tais crenças eram verdadeiras e apenas as “seitas heréticas” pregavam o contrário? Simplesmente, continue lendo. Você vai entender! II–A Primeira Mentira “Certamente não morrerás” (cf. Gênesis 3:4) Não é a toa que a crença na imortalidade da alma está presente em praticamente todas as religiões pagãs. Todos sabem que existem principados (demônios) atuando por trás dos grandes sistemas religiosos, que monitoram, regem, comandam e perpetuam esses enganos. Muitas mentiras foram implantadas nas raízes da Igreja ao longo dos séculos, e como a tradição foi tendo um valor doutrinário cada vez mais acentuado e muito maior do que a própria Escritura Sagrada, estes enganos passaram a atuar nos cristãos como verdades independentes da Bíblia. A justificação ficou por obras, o evangelho deixou de ser “Cristocêntrico”, os que morreram passaram a ser intercessores, a ressurreição dos mortos começou a perder a sua importância, a salvação da alma poderia perfeitamente achar-se por meio da venda de indulgências, a Santa Inquisição tratou de “dar um fim” em quem fosse contra os dogmas sagrados da tradição e o evangelho puro, simples, sincero e verdadeiro, que não estava sujeito a acréscimos (cf. Gl.1:8), começou a se desviar do Caminho, do foco, daquilo que lhes foi originalmente pregado por Cristo e pelos apóstolos. Ao longo dos séculos, muitos enganos e mentiras foram perspicazmente sendo infiltrados na Igreja, e o evangelho estava gritantemente angustiado por uma Reforma. Como os dogmas não podiam ser contestados (eram “infalíveis” por meio do Magistério), ninguém ousava contrariar aquilo que lhes era dito. E, se alguém ousasse tanto, poderia ser queimado ou torturado, intitulado como herege e inimigo público da Santa Sé. É claro que existia um livro, que foi praticamente reprimido das mãos do povo, livro este que continha aquilo que foi originalmente anunciado, que continha o evangelho puro, sincero, da maneira como era no início. 4 CULLMANN, Oscar. Imortalidade da Alma ou Ressurreição dos Mortos? Disponível em: <http://www.mentesbereanas.org/download/imort-ressur_folheto.pdf>. Acesso em: 13/08/2013.
  • 14. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 14 Essas Sagradas Letras tinham que ser reprimidas, ou, doutra forma, as próprias pessoas acabariam por descobrir dezenas de mentiras que foram invadindo o Cristianismo com o tempo. O mundo, enquanto sob o jugo da Igreja Romana, vivia em trevas. O povo, sem as divinas Escrituras traduzidas em sua língua. E o clero, cada vez mais explorando a ignorância deste povo. Isso levou a Igreja Católica a proibir a leitura da Bíblia e a lutar ao máximo contra a divulgação dela. O Concílio de Tolosa (1229) categoricamente declarou: “Proibimos os leigos de possuírem o Velho e o Novo Testamento... Proibimos ainda mais severamente que estes livros sejam possuídos no vernáculo popular. As casas, os mais humildes lugares de esconderijo, e mesmo os retiros subterrâneos de homens condenados por possuírem as Escrituras devem ser inteiramente destruídos. Tais homens devem ser perseguidos e caçados nas florestas e cavernas, e qualquer que os abrigar será severamente punido”5 Os leigos eram proibidos de lerem as Escrituras Sagradas em sua própria língua e até mesmo de possuírem a Bíblia. Tais homens que tivessem uma Bíblia em casa deveriam ser condenados, caçados, inteiramente destruídos, perseguidos e caçados nas florestas e cavernas. Nesta época de trevas, a Igreja Católica, a serviço de Satanás, lançava dura perseguição contra o povo de Deus que se apegava às Escrituras, que tinha que buscar locais de esconderijo em retiros subterrâneos para poderem ler a Bíblia, mas a Igreja Católica ordenava caçar e perseguir tais homens até nas cavernas ou em qualquer outro lugar, até serem destruídos por completo. Nenhuma perseguição à Bíblia feita por um não-cristão em toda a história da humanidade se comparou a perseguição elaborada pela Igreja Romana, nem mesmo a de Diocleciano ou a de Nero. O Papa Pio IX defendia que as sociedades bíblicas eram pestes que deveriam ser destruídas por todos os meios possíveis: “Socialismo, comunismo, sociedades clandestinas, sociedades bíblicas... pestes estas devem ser destruídas através de todos os meios possíveis”6 A leitura da Bíblia era absolutamente proibida aos leigos e considerada como sendo uma peste: “Essa peste (a Bíblia) assumiu tal extensão, que algumas pessoas indicaram sacerdotes por si próprias, e mesmo alguns evangélicos que distorcem e destruíram a verdade do evangelho e fizeram um evangelho para seus próprios propósitos... elas sabem que a pregação e explanação da Bíblia são absolutamente proibidas aos membros leigos”7 John Wycliffe (1328 – 1384 d.C), que lutou fortemente pela restauração do evangelho bíblico e chegou até a elaborar uma tradução das Escrituras para tirar o povo das trevas, foi chamado de pestilento canalha de abominável heresia, por ter lutado em prol da divulgação da leitura bíblica pelos leigos: 5 Concil. Tolosanum, Papa Gregório IX, Anno Chr. 1229, Canons 14:2. 6 Papa Pio IX, em sua Encíclica “Quanta Cura”, Título IV, 8 de Dezembro de 1866. 7 Acts of Inquisition, Philip Van Limborch, History of the Inquisition, cap. 8.
  • 15. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 15 “O pestilento canalha de abominável heresia, que inventou uma nova tradução das Escrituras em sua língua materna”8 As decisões dos concílios eram claras: a leitura da Bíblia era proibida aos leigos, mas, enquanto a Bíblia era um livro proibido, as “Horas da Bem-aventurada Virgem” era permitido: “Proibimos ainda que seja permitido aos leigos possuir os livros do Velho e Novo Testamento, êxito o Saltério, ou o Breviário para dizer o Ofício divino, ou as Horas da Bem-aventurada Virgem a quem as desejar ter por devoção; porém proibimos estritamente que esses livros sejam em língua vulgar”9 Em outra encíclica do papa Pio IX, ele reitera a proibição da leitura da Bíblia em língua vulgar, por sanção geral de toda a Igreja: "Nas regras que foram aprovadas pelos Padres designados pelo Concílio Tridentino, aprovadas por Pio IV e antepostas ao Índice dos livros proibidos, lê-se por sanção geral que não se deve permitir a leitura da Bíblia publicada em língua vulgar”10 O papa Leão XII também se revoltou contra aqueles que tentavam trazer ao povo a tão sonhada leitura da Bíblia em sua própria língua: “Não se vos oculta, Veneráveis Irmãos, que certa Sociedade vulgarmente chamada bíblica percorre audazmente todo o orbe e, desprezadas as tradições dos santos Padres, contra o conhecidíssimo decreto do Concílio Tridentino [v. 786], juntando para isso as suas forças e todos os meios, tenta que os Sagrados Livros se vertam, ou melhor, se pervertam nas línguas vulgares de todas as nações”11 O papa Pio VII reforça que não somente ele, mas também os seus predecessores avisavam constantemente que a leitura da Bíblia ao povo é mais um dano do que algo útil, e a única versão permitida era a Vulgata Latina: "Porque deverias ter tido diante dos olhos o que constantemente avisaram também os nossos predecessores, a saber: que se os sagrados Livros se permitem correntemente e em língua vulgar e sem discernimento, disso há de resultar mais dano que utilidade. Ora, a Igreja Romana que somente admite a edição Vulgata, por prescrição bem notória do Concílio Tridentino (ver 785 s), rejeita as versões das outras línguas”12 Como a Vulgata estava escrita em latim e praticamente a totalidade do povo da época não entendia nada deste idioma (alguns mal sabiam a sua própria língua, quanto menos o latim!), então eles astutamente permitiam somente esta versão da Bíblia, para que o povo não entendesse nada do que estava escrito. Também o papa Clemente XI, em sua Constituição Dogmática “Unigenitus”, condenou vigorosamente como erradas uma série de reivindicações feitas por Pascásio Quesnel. 8 Condenação de Wycliffe pelo Concílio de Constança, em 1415. 9 Concílio de Tolosa, 1229, cap. 14. 10 Pio IX, Encíclica Inter praecipuas, 16 de Maio de 1844. 11 Leão XII, Encíclica Ubi primum de 5 de Maio de 1824. 12 Pio VII, carta Magno et acerbo, 3 de Setembro de 1816; Denzinger # 1603.
  • 16. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 16 Entre elas, inclui-se a necessidade de estudar as Escrituras, que a leitura da Bíblia é para todos, que é danoso querer retrair os cristãos da leitura bíblica, que as mulheres poderiam ler a Bíblia, que os cristãos poderiam ler o Novo Testamento, que o povo simples teria o direito de ler as Escrituras, entre outros: 70. Útil e necessário é em todo tempo, em todo lugar e para todo gênero de pessoas estudar e conhecer o espírito, a piedade e os mistérios da Sagrada Escritura. 71. A leitura da Sagrada Escritura é para todos. 81. A obscuridade santa da Palavra de Deus não é para os leigos razão de dispensar-se da sua leitura. 82. O dia do Senhor deve ser santificado pelos cristãos com piedosas leituras e, sobretudo, das Sagradas Escrituras. É coisa danosa querer retrair os cristãos desta leitura. 83. É ilusão querer convencer-se de que o conhecimento dos mistérios da religião não devem comunicar-se às mulheres pela leitura dos Livros Sagrados. 84. Arrebatar das mãos dos cristãos o Novo Testamento ou mantê-lo fechado, tirando-lhes o modo de entendê-lo, é fechar-lhes a boca de Cristo. 86. Arrebatar ao povo simples este consolo de unir a sua voz à voz de toda a Igreja, é uso contrário à prática apostólica e à intenção de Deus. (Denzinger #1429-1434, 1436, 8 de Setembro de 1713) Por que estamos dizendo tudo isso? Simplesmente porque a própria Igreja Católica sabia que tinha algo a esconder. Sabia que, se as Sagradas Letras fossem reveladas ao povo, muitas lendas que foram surgindo através dos séculos pela tradição iriam ruir sistematicamente. O próprio Magistério católico reconhecia que, de fato, muitas doutrinas mentirosas que vão contra o evangelho verdadeiro foram, ao passar dos séculos, encontrando lugar na Igreja. Uma dessas principais mentiras era que, como o catecismo católico expõe: “A Igreja ensina que toda alma espiritual é criada imediatamente por Deus-- não é ‘produzida’ pelos pais – e também é imortal: não perece quando se separa do corpo por ocasião da morte”13 Apesar de boa parte dos “rebeldes” serem facilmente silenciados de um ou de outro jeito (na maioria das vezes, do outro), começaram a surgir homens levantados por Deus a fim de fazer com que, ao passar dos séculos, a doutrina fosse aos poucos voltando ao foco inicial. Muitas doutrinas claramente contraditórias à Palavra de Deus foram aos poucos sendo repensadas. O próprio Martinho Lutero chegou a expressar-se de maneira contraria às teses de imortalidade da alma, colocando-a no grupo das “monstruosidades sem fim no monte de estrume dos decretos romanos”: “Contudo, eu permito ao Papa estabelecer artigos de fé para si mesmo e para seus próprios fiéis – tais como: que o pão e o vinho são transubstanciados no sacramento; que a essência de Deus não gera nem é gerada; que a alma é a forma substancial do corpo humano; que ele [o papa] é o imperador do mundo e rei dos céus, e deus terreno; que a alma é 13 Catechism of the Catholic Church, pág.93.
  • 17. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 17 imortal; e todas estas monstruosidades sem fim no monte de estrume dos decretos romanos – para que tal qual sua fé é, tal seja seu evangelho, e tal a sua igreja, e que os lábios tenham alface apropriada e a tampa possa ser digna da panela"14 Em outra ocasião, Lutero chamou a imortalidade da alma de "sonho humano" e de "doutrina de demônios": "Daí os especialistas em Roma recentemente pronunciaram um decreto sagrado [no Quinto Concílio Laterano, 1512-1517] que estabelece que a alma do homem é imortal, agindo como se nós não disséssemos todos em nosso comum Credo, “eu acredito na vida eterna”. E, com a assistência do gênio Aristóteles, eles decretam além disto que a alma é “essencialmente a forma do corpo humano”, e muitos outros esplêndidos artigos de natureza parecida. Estes decretos são, de fato, mais apropriados para a igreja papal, pois eles possibilitam a eles manter sonhos humanos e as doutrinas de demônios enquanto eles pisam e destroem a fé e ensino de Cristo"15 A visão de Lutero era de uma natureza humana holista, de uma alma mortal e de os mortos “dormindo” até a manhã da ressurreição do último dia, quando “Ele nos chamar e nos acordar juntamente com todos os Seus queridos filhos para a Sua eterna glória e juízo”. Enquanto isso, eles “nada sentem absolutamente”: “Não há ali deveres, ciência, conhecimento, sabedoria. Salomão opinou que os mortos estão a dormir, e nada sentem absolutamente. Pois os mortos ali jazem, não levando em conta nem dias nem anos; mas, quando despertarem, parecer-lhes-á haver dormido apenas um minuto”16 “Assim como alguém que dorme e chega a manhã inesperadament e, quando acorda, sem saber o que aconteceu: assim nós nos ergueremos no último dia sem saber como chegamos a morte e como passamos por ela. Nós dormiremos até que Ele venha e bata na pequena sepultura e diga: Dr. Martinho, levanta-te! Então eu me erguerei num momento e serei feliz com Ele para sempre”17 “Nós devemos aprender a ver nossa morte com a luz correta, de forma que não fiquemos alarmados por causa dela, como o descrente faz; porque em Cristo ela não é de fato morte, mas um fino, doce e breve sono, que nos traz libertação deste vale de lágrimas, do pecado e do temor e extremidade da verdadeira morte e de todos os desfortúnios desta vida, e nós devemos estar seguros e sem cuidado, descansando docemente e gentilmente por um breve momento, como em um sofá, até o tempo quando ele nos chamar e nos acordar juntamente com todos seus queridos filhos para sua eterna glória e gozo. Pois já que nós o chamamos de sono, nós sabemos que não ficaremos nele, mas seremos novamente acordados e vivificados, e que o tempo durante o qual dormimos, não parecerá mais longo do que se nós tivéssemos apenas caído no sono. Daí nós devemos nos censurar por estarmos surpresos ou alarmados com tal sono na hora da morte, e de repente formos 14 Martinho Lutero, Assertio Omnium Articulorum M. Lutheri per Bullam Leonis X. Novissimam Damnatorum. 15 Lutero, LW 32:77. 16 Exposição do Livro de Salomão, Chamado Eclesiastes, de Lutero. 17 The Chrislian Hope-pág.37.
  • 18. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 18 revividos da cova e da decomposição, e inteiramente bem, novo, com uma pura, clara e glorificada vida, encontrarmos nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo nas nuvens”18 Infelizmente, a noção de Calvino de que a alma era imortal acabou falando mais alto e a maioria das igrejas reformadas acabaram adotando a tese da imortalidade da alma. Para não causar divisão e nem atrito com os demais reformadores, Lutero acabou não dogmatizando a questão e deixou-a em aberto para quem quisesse crer que a alma era imortal (como Calvino cria) ou para quem se unisse à sua crença particular na mortalidade natural da alma. Isso não impediu que, com o tempo, um número impressionante de mestres e teólogos respeitados e reconhecidos começassem a repensar as suas doutrinas de imortalidade da alma à luz das Sagradas Escrituras, e passaram a ver que, de fato, a doutrina da imortalidade da alma não bate com a doutrina da ressurreição e muito menos com o que as Sagradas Letras tem a nos dizer. O número de pessoas que deixam a visão dualista da natureza humana impressiona não apenas pela quantidade, mas também por estar em franco crescimento. De fato, a imortalidade da alma pode ser classificada como sendo a primeira mentira que entrou no mundo e provavelmente a última a sair dele. Muitas pessoas de bem têm sido enganadas atualmente sobre o estado dos mortos. Mas não é de hoje que isso acontece. Deus disse para o homem, como consequência do pecado: “Certamente morrerás” (cf. Gn.2:17). Mas Satanás, a serpente, retruc ou: “Certamente que não morrerás” (cf. Gn.3:4). Quem estava com a razão? Deus ou Satanás? Certamente que Deus. A própria presença da “árvore da vida” no jardim do Éden indica claramente que a imortalidade era condicional à participação do fruto de tal árvore. Nós não tínhamos uma “alma imortal”! Com a Queda da humanidade, quando o pecado entrou no mundo, a morte (que não estava prevista no plano inicial de Deus para com a Sua Criação) passou a tornar- se uma realidade. O estado do homem alterou-se, e este passou a ser um ser mortal. A segurança de imortalidade baseava-se em partilharem da árvore da vida no Jardim, que lhes garantia exatamente a imortalidade (cf. Gn.3:22). É evidente que Deus não iria colocar tal árvore a disposição caso já tivesse implantado uma alma eterna que lhes garantisse tal imortalidade. Visto que a condição para “viver para sempre” constituía-se na participação do fruto da árvore da vida, fica muito claro que eles não detinham em si mesmos a imortalidade, supostamente na forma de um elemento eterno implantado em seu ser. Se Deus colocou no ser humano uma alma imortal, então por que razão existiria a “árvore da vida” no Jardim do Éden? Ora, se já fôssemos imortais isso seria totalmente desnecessário! Se o homem comesse da árvore da vida, se tornaria imortal (cf. Gn.3:22). Contudo, foram expulsos do Jardim do Éden, sem terem comido da árvore da vida, e dois querubins ficaram na guarda do Jardim, exatamente a fim de que não comessem da árvore da vida e vivessem eternamente (cf. Gn.3:24). Tudo isso seria totalmente desnecessário se já possuíssemos uma alma imortal. Para que guardar o homem de comer do fruto da árvore da vida e viver para sempre se ele já era imortal por meio de uma alma eterna que já lhes teria sido implantada? 18 Compend of Luther’s Theology, editado por Hugh Thomson Kerr, Jr., p. 242.
  • 19. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 19 O homem seria imortal caso comesse do fruto da árvore da vida, mas não comeu. Deus não fez o homem com o conhecimento do bem e do mal, mas ele comeu do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal e teve tal conhecimento. Da mesma maneira, Deus não fez o homem com uma alma imortal. A imortalidade era condicional a participação do fruto da árvore da vida, assim como o conhecimento do bem e do mal era condicional a participação daquela árvore. Mas, ao contrário do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal na qual eles comeram, eles não comeram do fruto da árvore da vida! O resultado disso é que o homem não tornou-se um ser imortal. Ele, “morrendo, morreria” (cf. Gn.2:7). O homem era mortal pela sua natureza original, sem uma alma imortal, mas com a possibilidade de receber a imortalidade por meio da participação da árvore da vida. Isso, contudo, ele perdeu ao ser expulso do Jardim, e, portanto, perderam a possibilidade de participação na árvore da vida que lhes poderia nutrir de imortalidade. O homem perdeu a imortalidade quando foi expulso do Éden, e assim a morte veio a partir do pecado, sendo revertida na ressurreição (cf. 1Co.15:22,23). A Bíblia, contudo, nos apresenta que a árvore da vida (imortalidade) estará novamente presente no Paraíso, somente aos salvos, após a ressurreição dos mortos (cf. Ap.22:2). E acontecerá que “quem tem sede, venha; e quem quiser, receba de graça a água da vida” (cf. Ap.22:17). O homem, agora sim, se tornaria imortal. A árvore da vida representava a imortalidade na comunhão com Deus, mas com o pecado fomos privados do acesso desta fonte de eternidade, que agora continua na presença dEle, onde iremos desfrutá-la depois que formos ressuscitados (cf. Ap.22:2). A eternidade no homem era condicional, não a uma alma que lhes teria implantada, mas sim a obediência ao Ser Criador do Universo, como um dom de Deus. O homem foi privado da árvore da vida para que não se tornasse imortal como Deus, e, de fato, não comemos da árvore da vida (cf. Gn.3:22-23). Com a desobediência a Deus, a participação na árvore da vida foi cortada (cf. Gn.3:22,23), o que demonstra claramente que a imortalidade não residia numa alma imortal recém-implantada, mas sim na obediência a Deus. A desobediência foi o que ocasionaria a morte, em um contraste direto com a vida eterna residente na forma da árvore da vida. Quando entrou o pecado do mundo, juntamente com ele entrou a morte: O processo da morte teria início. O texto original hebraico simplesmente reza que: “Morrendo, morrereis”. A Bíblia não diz que “no dia em que comerdes, certamente morrerás no mesmo dia”. Diz somente que ele morreria, mas não diz quando. A morte não estava no plano inicial de Deus para com a Sua Criação. Contudo, com o pecado reinou a morte (cf. Rm.5:21; Rm.5:12), que só será revertida na ressurreição do último dia (cf. 1Co.15:51-55; 1Co.15:22,23; Jo.6:39,40). No dia em que Adão comesse daquela árvore proibida ele ia morrer, ou seja, tornar-se-ia um ser mortal, o que ele realmente se tornou. O processo de morte como consequência do pecado alcançaria a todos os seres humanos a partir do momento em que este pecasse contra Deus, tornando-se receptível ao processo de morte que lhes sucederia. Analisando o texto original hebraico, vemos que, realmente, a morte seria a cessação total de vida. O que foi dito a eles: ”umê`êtshadda`ath thobh vârâ` lo' tho'khal mimmennu kiy beyom 'akhâlkhamimmennu moth tâmuth” (cf. Gn.2:17). Analisando as duas últimas palavras, vemos claramente quando é que o homem morreria: “moth tâmuth” – traduzindo: “morrendo morrereis”. Isso é omitido pela maioria das versões vernáculas porque contraria
  • 20. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 20 diretamente a posição imortalista de que ocorreu apenas uma “morte espiritual” e que esta morte teria acontecido logo naquele mesmo dia, ignorando o fato de que o hebraico diz taxativamente que tal morte seria quando o homem morresse – “morrendo, morrereis”. Passando para o bom linguajar português dos dias de hoje, o que Deus estava dizendo era que “quando vocês morressem iriam morrer mesmo”! A morte seria o fim total de qualquer existência humana, corpo e alma, pois, como consequência do pecado, o processo de morte teria início a partir do primeiro falecimento. A verdade incontestável é que não existiria nenhum estado de vida entre a morte e a ressurreição. Ora, se o homem continuasse vivo em um estado intermediário após a morte corporal que todos nós passamos, então o homem não morreria completamente – ele estaria vivo em um estado desencarnado. Essa é exatamente a mentira que a serpente pregou à Eva (cf. Gn.3:4), e que engana milhões de pessoas até hoje, invalidando toda uma consequência de morte – física e espiritual – que o homem encontraria como consequência do pecado. Ademais, a mentira de Satanás seria classificada como uma “verdade”, uma vez que o homem não morreria mesmo – viveria eternamente por meio de uma alma imortal que teria sido supostamente implantada no ser humano. Fica muito claro que o homem não seria inerentemente imortal, mas passaria por um estado de morte – “morrendo, morrereis” – por causa do pecado, uma “lacuna”, um período sem vida entre a morte e a ressurreição, fato esse que Satanás queria desmentir, dizendo que “certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4). O processo de morte alcançaria todos os seres humanos, pois “o salário do pecado é a morte” (cf. Rm.6:23) e “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (cf. Rm.3:23), por isso, “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4). Isso tudo nos deixa claro que a morte como consequência do pecado não alcançaria tão somente o corpo, mas o ser integral do ser humano, corpo e alma (cf. Ez.18:4,20; Gn.2:7). Como bem disse o pastor luterano Martin Volkmann: “Como vemos, há duas concepções de vida após a morte. A diferença, segundo certo modo de pensar, é que a parte supostamente imortal não foi afetada pelo pecado em nós, enquanto na outra forma de pensar reconhece-se a natureza radical do pecado e proclama uma nova vida através da obra salvadora de Deus”. A morte seria a cessação total de vida. Corpo e alma foram afetados pelo pecado. A imortalidade não era uma possessão natural através de uma alma recém-implantada, mas condicionada à obediência a Deus na participação da árvore da vida. Mas o homem pecou. Transgrediu a ordenança divina. Trouxe a morte para si mesmo. Perdeu a participação na árvore da vida. Tornou-se naturalmente mortal. E, a partir deste dia, ele morreria na morte – não teria uma existência contínua em forma incorpórea após a morte. Felizmente, a Palavra de Deus nos apresenta uma reviravolta neste quadro, apresentando que o processo de morte iniciado em Adão e a cessação de vida como consequência do pecado não seria um quadro perpétuo, mas seria revertido em Cristo, na Sua Vinda: “Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. Mas cada um por sua vez: Cristo, as primícias; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem” (cf. 1Co.15:22,23).
  • 21. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 21 O processo de cessação de vida na morte, ocorrido com todos os seres humanos e iniciado em Adão – “em Adão todos morrem” – seria revertido no “último dia” (cf. Jo.6:39,40), quando Cristo há de vivificar os que lhe pertencem por ocasião de sua segunda vinda, porque Ele venceu a morte (cf. Hb.2:14), dando-nos também vitória sobre a morte na ressurreição (cf. 1Co.15:54). Neste momento, então, Cristo nos resgatará da morte, nos vivificará e nos levará para as nossas moradas celestiais onde Ele está (cf. Jo.14:2,3). Em Adão todos morrem porque ele certamente não viveria eternamente (cf. Gn.2:17; Gn.3:4), mas como consequência do pecado ele passaria por um estado sem vida que teria início no momento da morte física. Mas a esperança cristã é a de que este estado não é perpétuo, mas é revertido pelo milagre da ressurreição, que nos traz vida e nos resgata da morte a fim de possuirmos a nossa herança celestial em Cristo. Por isso os cristãos tem na ressurreição a sua maior esperança (cf. At.26:7), pois é ela que nos diz que nem tudo está perdido, que o trabalho dos cristãos não é em vão (cf. 1Co.15:32), que haverá o momento em que a morte será tragada pela vitória (cf. 1Co.15:54), que aqueles que fizeram o bem “sairão para a ressurreição da vida” (cf. Jo.5:29), quando terão a recompensa pelo o que fizeram em vida e tomarão posse de suas moradas eternas. A ressurreição é o antídoto para a morte, é o milagre que Deus providenciou a fim de que não ficássemos para sempre sem vida, mas que por meio de Cristo pudéssemos herdar a vida eterna. Claro, não demorou muito para Satanás entrar em cena e deturpar essa verdade, propagando o que hoje é a base e fundamento da doutrina imortalista, retirada diretamente da boca da serpente: “Certamente não morrerás” (cf. Gn.3:4) – o homem seria inerentemente imortal! A ressurreição já não era mais o antídoto para a morte, mas sim a libertação da alma se desprendendo da prisão do corpo, como pregava Platão. Este foi, com toda a certeza, o primeiro sermão imortalista na história, a primeira das mentiras que Satanás implantou no mundo: a lenda da imortalidade da alma. III–Por que a mentira? Por que a mentira? – O motivo desta pergunta é: “Qual é o objetivo de Satanás em pregar tal mentira?”. Certamente que ele teria uma boa razão para isso, além de contradizer o ensino claro de Deus (cf. Gn.2:17). Para respondermos a esta pergunta, temos primeiramente que ter em mente que o principal objetivo de Satanás é desviar o cristão da verdade. Passar a ideia de um Deus mal. Eis aí a principal das armas de engano de Satanás: Desviar o caráter imutável do amor de Deus. Satanás é a serpente, é aquele que engana. Quanto mais pessoas ele conseguir desviar de Deus, de preferência passando a ideia de um deus sanguinário, que tem uma ira pelos ímpios que não cessa nunca, melhor. Infelizmente, essa tática tem causado muito sucesso nas nossas igrejas. Muitos milhões de indivíduos no mundo todo abandonam a crença em Deus por causa desta ideia, por não conseguirem admitir que Deus possa ser ao mesmo tempo bom e mal e com duas faces, ou que para demonstrar Sua justiça tenha que atormentar eternamente no fogo a alma de bilhões de pessoas, e acabam por pensar: “Ele não existe”. Muitos têm saído das fileiras do Cristianismo por causa deste assunto. Isto poderia ser evitado, caso fosse feito
  • 22. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 22 um estudo sincero, honesto e fiel à exegese e ao contexto das Escrituras, que é o que faremos ao longo de todo este estudo. O Dr. Samuelle Bacchiocchi elucida a questão nas seguintes palavras: “Um Deus que inflige torturas infindáveis a Suas criaturas assemelha-se muito mais a Satanás do que a um Pai amoroso a nós revelado por Jesus Cristo (...) A justiça divina nunca poderia requerer para pecadores finitos a infinita penalidade da eterna dor, porque o tormento infindável não serve a qualquer propósito reformatório, precisamente porque não tem fim”19 John Stott manifesta a mesma opinião, ao dizer: “Eu não minimizo a gravidade do pecado como rebelião contra Deus, nosso Criador, mas questiono se o tormento eterno consciente é compatível com a revelação bíblica da divina justiça”20 A verdade é que muitas pessoas têm deixado as fileiras do Cristianismo por não poderem acreditar que Deus, em Sua Onisciência, poderia criar seres sabendo que os puniria com um tormento eterno e infindável de maneira premeditada. Seria muito mais lógico e racional (pela justiça e pelo amor de Deus) crermos que Ele puniria a cada um de acordo com aquilo que cada ser merece, e não uma pena infindável para cada ser que comete pecados finitos, tendo como consequência a queima eterna de sua alma em um verdadeiro lago de fogo. Se tal fato sucedesse, poderíamos também dar margens a movimentos como a “Santa” Inquisição, por exemplo, que matou e torturou milhões na Idade Média, mas, como apontou Azenilto Brito, “se Deus é impiedoso ao punir pecadores com tormentos infindáveis no mundo por vir, porque não devia a Igreja agir de modo semelhante neste presente mundo, torturando e queimando os heréticos?”21 O assunto é motivo de entusiasmo para os ateus, e a grande maioria dos cristãos defensores da imortalidade da alma não conseguem conciliar o amor divino com a crueldade eterna que seria tal destino aos impenitentes. Ademais, muitos cristãos que já est ão dentro da Igreja não saem, não por buscarem um comprometimento sincero e verdadeiro com Deus, mas para escaparem de um tormento eterno no inferno. O Cristianismo não somente muda de sentido como também perde o foco, o amor, a justiça e a misericórdia nos revelada mediante o evangelho. Na verdade, todos estes atributos – e muitos outros – fazem parte da natureza divina e nenhum deles daria margem a um tormento eterno por pecados finitos. Como a Igreja pode coerentemente apresentar Deus como sendo alguém que amou o mundo de tal maneira que enviou o Seu único Filho para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (cf. Jo.3:16), se, por outro lado, odeia os pecadores de tal maneira que os envia para um lago de fogo e enxofre onde passarão tormentos infinitos 19 BACCHIOCCHI, Samuele. Imortalidade ou Ressurreição: Uma abordagem bíblica sobre a natureza e o destino eterno. Unaspress, 1ª edição, 2007. 20 STOTT, John. Essentials: A Liberal-Evangelical Dialogue. Londres: Hodder and Stoughton, 1988, p. 316. 21 BRITO, Azenilto Guimarães. Implicações Morais e Cosmológicas do Tormento Eterno. Disponível em: <http://www.salvos.com.br/inferno>. Acesso em: 15/08/2013.
  • 23. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 23 perpetuados por toda a eternidade sob choro e ranger de dentes e sofrendo torturas colossais? Se Deus ama os pecadores (como a teologia moderna ensina), como conciliar isso com permitir tamanhos horrores aos pecadores impenitentes? Ora, se nem mesmo uma pessoa humana, falível e que nem ama tanto assim o próximo (ou é até mesmo odeia o próximo) não chegaria ao ponto de enviá-lo para “o quinto dos infernos”, sob as chamas de um fogo eterno para sofrer tormentos horríveis por toda a eternidade, quanto menos Deus, que em teoria é aquele que mais ama, que mais perdoa e que é a fonte de toda a misericórdia! Enquanto a Igreja tiver a noção deste deus mutável, que ama os pecadores nesta vida mas já preparou um inferno eterno onde eles deverão sofrer horrivelmente após a morte e para sempre, dificilmente um descrente poderá compreender perfeitamente o amor de Deus que excede todo o entendimento. Sempre t erá em mente este contraste que vai claramente contra a moral humana, quanto mais a divina. Apenas um regresso às Escrituras nos faria ter em mente um Deus justo e verdadeiro, que recompensa os justos com a vida eterna e que pude os ímpios de acordo com aquilo que cada um merece, e não com um tormento eterno para todos indistintamente. Isso sim é unir a justiça e o amor de Deus como descrito no evangelho bíblico. A justiça e o amor de Deus andam juntos, e o que Satanás mais quer é desqualificá-los ao perpetuar a primeira e provavelmente a maior de todas as mentiras – a da “imortalidade da alma”. Um exame fiel e honesto das Escrituras não apenas mostra o quanto não-bíblica é essa doutrina, mas também nos faz voltar ao Cristianismo puro e verdadeiro focado em um Deus de amor e justiça e na ressurreição para a vida eterna que Ele nos concede pela Sua Graça. A imortalidade condicional e a “vida somente em Cristo” afirmam a realidade do inferno sem impugnar o caráter de Deus, e dá honra completa para Cristo como "a ressurreição e a vida”. A crença na imortalidade inerente como base de fé – Satanás continua usando dos mais variados meios a fim de perpetuar a primeira mentira, pois isso é um forte meio de desviar as pessoas da sinceridade e pureza devidas a Cristo. Por meio da crença da sobrevivência da alma na morte, inúmeras religiões do mundo terminam cursando os mais variados meios de consulta aos mortos em desobediência à Palavra de Deus. Existem religiões que tem como base a doutrina da sobrevivência da alma em um estado intermediário. Caso essa doutrina esteja errada, a religião termina. O culto aos mortos no catolicismo é um bom exemplo disso, uma vez que Cristo deixou claro que “só ao Senhor teu Deus darás culto” (cf. Mt.4:10) e que “há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus” (cf. 1Tm.2:5). Satanás usa das mais variadas maneiras para deturpar a Palavra de Deus e perpetuar a primeira mentira, da imortalidade da alma, a fim de que o que Paulo mais temia acontecesse: “Pois, assim como Eva foi enganada pelas mentiras da cobra, eu tenho medo de que a mente de vocês seja corrompida e vocês abandonem a devoção pura e sincera a Cristo” (cf. 2Co.11:3). A imortalidade da alma foi a doutrina que Satanás encontrou uma “brecha” a fim de que o evangelho fosse sutilmente modificado por meio de homens que “introduziram secretamente heresias destruidoras, chegando a negar o Soberano que os resgatou, trazendo sobre si mesmos repentina destruição” (cf. 2Pe.2:1).
  • 24. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 24 O culto aos mortos é um bom exemplo de um meio que a Serpente continua utilizando a fim de desviar o cristão do evangelho puro e genuíno somente a Cristo. Quando o evangelho deixa de ser Cristocêntrico, a missão de Satanás está completa. E qual é o meio que ele usa para perpetuar tais enganos? Claro, a mesma mentira pregada à Eva no Jardim: “...certamente não morrereis” (cf. Gn.3:4). O que Satanás ensina, na verdade, é bem simples. Ele diz que o nosso “verdadeiro eu”, a nossa “alma eterna”, não morre. De modo que, se não formos tão bons, “a reza resolve tudo”! Tal visão de imortalidade inerente que Satanás ensina é bem mais simples do que o que Deus quer que creiamos: que “a alma que pecar, essa morrerá” (cf. Ez.18:4), porque a consequência do pecado seria “moth tâmuth” – “morrendo, morrereis” (cf. Gn.2:17). Todas as práticas de culto aos mortos, de intercessão de santos já falecidos, de invocação ou comunicação com os mortos ou de qualquer coisa do gênero, que quase sempre geram idolatria e apego no coração dos homens àquilo que já morreu ao invés de se focar Naquele que está vivo (Jesus), tem como base e fundamento a crença na imortalidade da alma. No espiritismo, então, a coisa complica ainda mais. A consulta aos mortos, que existe de maneira “mascarada” no catolicismo mediante a oração que é um claro meio de comunicação, é “desmascarada” no espiritismo que abertamente declara isso convictamente. A própria crença na reencarnação, que é crida não somente por espíritas mas também por muitos outros grupos panteístas (como o budismo e o hinduísmo) também tem por base a crença que a alma sobrevive consciente após a morte. Afinal, se a alma não sobrevive, não há como reencarnar. A Bíblia afirma categoricamente que “entre ti não se achará quem faça passar pelo fogo a seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; nem encantador, nem quem consulte a um espírito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos; pois todo aquele que faz tal coisa é abominação ao Senhor; e por estas abominações o Senhor teu Deus os lança fora de diante de ti" (cf. Dt.18:9-12). Afinal, “a favor dos vivos consultar-se-ão os mortos?” (cf. Is.8:19). Não! Deus sabe muito bem dessa impossibilidade de comunicação dos mortos com os vivos, e foi por isso o Senhor proibiu o seu povo israelita de tentar tal “comunicação”, a fim de que não fossem enganados por espíritos demoníacos (cf. Lv.19:31; 20:6; 1Sm.28:7-25; Is.8:19; 1Tm.4:1; Ap.16:14), dada a devida impossibilidade de comunicação com os que já morreram (cf. Gn.2:7; Sl.13:3; Ec.9:5,6; Ec.9:10; Sl.146:4; Sl.6:5; Sl.115:17; Sl. 13:3; Jó 14:11,12; Sl.30:9; Is.38:18; Is.28:19; Sl.94:17). Dada tal impossibilidade, quem se apresenta no “além" para se comunicar com os vivos são os espíritos dos demônios, e se aproveitando, é claro, da mentira da imortalidade da alma. Tudo isso poderia ser perfeitamente removido e o evangelho restaurado caso fosse realizado um exame apurado das Escrituras, analisando a um conteúdo total e não se apegando cegamente a um texto ou outro descontextualizado tomando tais textos isolados como regra de doutrina. Mas, como Jesus disse em Mateus 28:20 para ensinarmos tudo, também precisamos revelar às pessoas o que realmente acontece depois da morte, pois isso nos faria voltar ao evangelho Cristocêntrico tão abandonado por consequência da primeira mentira. Imagine um mundo onde todos creem conforme a Bíblia diz: que a alma que pecar, essa morrerá (cf. Ez.18:4). Imagine um mundo onde a mentira de que “certamente não
  • 25. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 25 morrerás” não engana mais ninguém. Imagine um mundo onde todos creem que a ressurreição é o caminho para uma nova vida no retorno à existência. Ou seja: imagine o mundo todo seguindo os padrões bíblicos. No que isso implicaria? Isso implicaria na completa inexistência da idolatria no mundo, visto que grande parte dela subsiste com base na crença que “espíritos” ou “almas” subsistem após a morte e são dignos de serem consultados, venerados, cultuados ou adorados. Isso implicaria na completa inexistência de todos os falsos sistemas religiosos que tem por base a crença que a alma é imortal, o que inc lui espiritismo, catolicismo, budismo, hinduísmo, religiões panteístas, politeístas e pagãs, que tem como fundamento a crença da transmigração das almas, da reencarnação, da evocação dos mortos, da intercessão dos falecidos, da veneração e culto aos defuntos. Isso implicaria também em um mundo mais Cristocêntrico, isto é, um mundo onde Aquele que vive é o único digno de toda a glória, toda a honra, toda a majestade e todo o louvor, pois é aquele que venceu a morte e ressuscitou, Cristo Jesus. Todas as orações e todo o culto em todo o mundo seriam voltados e dirigidos unicamente Àquele que era, que é e que há de vir. Todas as nações seriam felizes e haveria paz no mundo, pois “feliz é a nação cujo Deus é o Senhor” (cf. Sl.33:12). Todos os nossos atos de adoração seriam sempre voltados por Ele e para Ele. Você poderia pensar: “Este é um mundo utópico, imaginário, impossível de ser verdade um dia”. Mas seria isso tão somente o reflexo de um mundo onde a primeira mentira implantada pela serpente já não teria mais lugar, e as suas consequências também não. O único que fica feliz da vida em ver o povo continuar crendo e propagando a heresia de que a alma é imortal é o diabo que inventou essa mentira, pois é por meio dela que ele sempre enganou e continua cegando bilhões de pessoas em todo o planeta. A imortalidade da alma é a carta “coringa” de Satanás. É por meio dela que tantas pessoas desviam o foco e a atenção que deveriam ser direcionadas a Deus. Sem essa carta na manga, dificilmente o Inimigo conseguiria desenvolver outros métodos para desviar a devoção pura e sincera somente a Cristo. Por outro lado, o exame sincero e honesto das Escrituras nos faria desmantelar sistemas religiosos totalmente baseados na crença em uma alma imortal. Isso faria voltar ao evangelho puro e sincero de devoção somente a um homem, aquele que mesmo tendo morrido ainda vive, e por isso pode interceder por nós – Cristo: “Portanto, ele é capaz de salvar definitivamente aqueles que, por meio dele, aproximam-se de Deus, pois vive sempre para interceder por eles” (cf. Hebreus 7:25). Resumindo este ponto, o que devemos ter em mente é que toda falsa doutrina criada por Satanás tem algum objetivo por detrás dela, e este objetivo nunca é levar o cristão mais perto de Cristo e da devoção única a Ele, mas sempre reside em desviar as pessoas da devoção única ao Senhor (cf. 2Co.11:3). Seria muito estranho que o diabo quisesse “inventar a mentira da mortalidade da alma”, uma vez sendo que isso apenas serviria para destruir por completo com todos os enganos existentes nos mais diversos sistemas religiosos falsos que existem no mundo, e que se baseiam na crença em uma alma imortal. Em outras palavras, o diabo não ganharia nada pregando a mortalidade da alma; ao contrário, apenas perderia o seu império de engano e o veria caindo às ruínas. Teria que inventar outras mentiras que substituíssem a crença em uma alma imortal para conseguir conduzir novamente o povo à perdição. Não faz qualquer sentido a mortalidade da alma ser
  • 26. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 26 uma “heresia”, pois heresia é algo criado por Satanás com uma finalidade que de alguma forma consiste em poder desviar o cristão de Cristo. Quem é que vai “se desviar de Cristo” por crer que a vida termina na morte e recomeça na ressurreição? Ninguém. Ao contrário, iria apenas reforçar a importância do papel da ressurreição dentro da comunidade cristã. Iria fazer-nos retornar aos primórdios da fé, aos tempos em que a ressurreição era a maior esperança dos cristãos (cf. At.24:15; 26:6; 28:20; 23:6; 26:7). Mas seria totalmente lógico que ele implantasse a mentira da imortalidade da alma e assim conseguisse enganar cada vez mais pessoas através dela, como de fato engana, pois a imortalidade da alma sim tem o poder de desviar o cristão de Cristo, de criar falsos sistemas religiosos em torno dela, de servir como base para a perda de um evangelho Cristocêntrico para colocar o foco nos mortos, para dar plausibilidade às crenças na transmigração e reencarnação das almas, evocação e consulta aos espíritos, oração e intercessão dos mortos e pelos mortos, culto e veneração àqueles que já morreram, e por aí vai. Por isso que foi a primeira mentira implantada pela serpente no Jardim (cf. Gn.3:4). Note que Satanás não perdeu tempo em implantar essa mentira no mundo. Ela não foi a terceira, nem a quarta mentira inventada. Não foi inventada depois de muitos séculos, foi a primeira, foi a que serviu como ponto de partida para todas as demais mentiras que vimos acima. Por tudo isso, eu concordo plenamente com a colocação verdadeira feita pelo professor Sikberto sobre isso: “A imortalidade da alma é a base doutrinária da rebelião de Lúcifer, e o fundamento das demais mentiras. Sempre que ele entra em ação em uma situação nova, a primeira coisa que tenta fazer crer é que a alma não morre. E sabe por quê? Pelo fato de que assim é mais fácil crer nas demais mentiras dele”22 Desvantagens óbvias em crer que os mortos já estão no Céu – Embora para algumas pessoas o simples fato de pensar que os seus entes queridos não estejam neste exato momento no Paraíso possa ser uma dura realidade, também devemos ressaltar o fato de que, em primeiro lugar, em absolutamente nunca alguém na Bíblia é consolado com a notícia de que alguma pessoa já tenha subido aos Céus. Pelo contrário, é dito de maneira clara há uma multidão de mais de três mil pessoas no Pentecoste que Davi não subiu aos Céus (cf. At.2:34), algo que os apóstolos evitariam ao máximo de pronunciar diante de tão grande multidão no caso de Davi, ao contrário, já tivesse subido aos Céus. Em segundo lugar, quando o apóstolo Paulo envia consolações aos tessalonicenses sobre os seus parentes falecidos ele foca-se inteiramente na esperança da ressurreição, e não no “fato” de que eles supostamente já estivessem no Céu ou em algum lugar de bem-aventurança (cf. 1Ts.4:13-18). Tal consolação focada completamente na esperança da ressurreição do último dia não seria logicamente cabível caso a ressurreição fosse somente um mero “detalhe” e as suas almas já estivessem no Paraíso. Até porque, se tal se sucedesse, bastaria que Paulo relatasse isso e pronto – já estariam consolados. O próprio fato de ele omitir completamente tal menção 22 MARKS, Sikberto. História da Adoração. Disponível em: <http://cristoembrevevira.com/introducao-a- historia-da-adoracao/>. Acesso em: 15/08/2013.
  • 27. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 27 nos faz pensarmos que ou (1) Paulo não os consolou direto da maneira que qualquer imortalista faria; ou (2) eles realmente não estão no Céu, mas irão ressuscitar no último dia, o que explicaria devidamente o porquê de Paulo tê-los consolado somente com a esperança de alcançar superior ressurreição. Em terceiro lugar, ao enviar consolações à família de Onesíforo (já morto), ele novamente em nada fala que este já estivesse desfrutando das bênçãos paradisíacas; pelo contrário, de novo foca-se inteiramente na esperança de alcançar a misericórdia de Deus “naquele dia”: “Conceda-lhe o Senhor que, naquele dia, encontre misericórdia da parte do Senhor!” (cf. 2Tm.1:17). Ademais, tal “consolação” não faria sentido em caso que Onesíforo já estivesse no Céu porque se assim fosse ele já teria alcançado a misericórdia de Deus já adentrando no Paraíso junto com os demais santos. Isso é somente lógica. Até mesmo quando Jesus Cristo foi consolar as irmãs de Lázaro, já falecido, ele em nada indica que já este estivesse na “glória”, mas insiste em apontar a ressurreição “no último dia” como única fonte de consolação (cf. Jo.11:17-27). Além disso, ressalta o aspecto inconsciente e não-consciente do ser racional na morte ao fazer a devida analogia de Lázaro com um estado de “sono”, uma indicação de inatividade, e não de atividade: “Assim falou; e depois disse-lhes: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do seu sono” (cf. Jo.11:11). Se Lázaro estivesse consciente na glória desfrutando das maravilhas do “estado intermediário” então a analogia correta seria com o “acordado” e não com o “dormindo”, tendo que ser “despertado” de seu “sono”. A caracterização é de inconsciência na morte e de um “despertar” na ressurreição. Vemos, portanto, que se ninguém em parte alguma da Bíblia enviou “consolações” baseando-se no suposto “fato” de que alguém já estivesse no Céu, então não seria absurdo demais acreditar que, de fato, eles não estão lá. Difícil mesmo seria acreditar que os apóstolos criam na imortalidade da alma e mesmo assim insistiam em nunca se basear nela para consolar alguém, como todo e qualquer bom imortalista faz nos dias de hoje, focando- se na crença de que o falecido “já está no Céu” e não que “ele irá ressuscitar um dia”. O que realmente vemos é o apóstolo Paulo focando-se no momento em que realmente atingiremos a imortalidade, que é quando todos os que estão dormindo, “num momento, num abrir e fechar de olhos, ante a última trombeta, a trombeta soará, e os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados. Porque convém que isto que é corruptível se revista da incorruptibilidade, e que isto que é mortal se revista da imortalidade. E, quando isto que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e isto que é mortal se revestir da imortalidade, então cumprir-se-á a palavra que está escrita: Tragada foi a morte na vitória. Onde está, ó morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?” (cf. 1Co.15:51-54). Tal imortalidade não é obtida no momento do nascimento mediante a posse de uma “alma imortal”, mas sim no momento da ressurreição dos mortos. Por fim, seria imensamente mais desfavorável imaginarmos, por exemplo, que alguma pessoa justa morra e a sua “alma imortal” parta de imediato ao Paraíso, aguardando a entrada celestial dos seus entes queridos, mas passa-se o tempo e... nada. Passa-se mais tempo e eles continuam sem aparecer por lá.
  • 28. A Lenda da Imortalidade da Alma Página 28 Mais algumas gerações vão passando e, vendo que ninguém ali se achega, tem que chegar à triste conclusão de que os seus parentes morreram sem alcançar a salvação e, pior, estão sofrendo em torturas colossais em um inferno de fogo e enxofre, assim condenados por toda a eternidade. Como pode ter paz e alegria celestiais um homem sob tais condições? Felizmente, o que a Bíblia nos mostra é que nós, os vivos, de modo nenhum precederemos os que dormem – entraremos nas nossas moradas no mesmo instante deles (cf. 1Ts.4:15), quando Cristo voltar para nos levar onde ele está (cf. Jo.14:2,3). A motivação errada – Se para manter alguém na linha for preciso a ameaça de um inferno e demônios torturadores terríveis, então nesse contexto Jesus se torna apenas um meio utilizável para se escapar do mal. O objetivo e finalidade dessa "conversão" é fugir do inferno e não Jesus. Para aqueles que tem a fé edificada sobre a rocha que é Cristo, a bem- aventurança de obter superior ressurreição e uma vida eterna somente em Cristo é motivação mais do que suficiente que o mundo jamais poderia imaginar, ainda assim continuarei cristão, pois eu não fui convertido pelo medo de um tormento eterno. Certa vez, enquanto eu debatia com um católico romano, ele me veio com a seguinte indagação: “Que vantagem teriam os justos diante dos maus, se ambos morrem, acabam- se e simplesmente a única vantagem é os justos gozarem a vida eterna”? Infelizmente, esse é um pensamento bastante comum entre os defensores do tormento eterno. Lamentavelmente, acham ser pouco e insuficiente gozar de uma vida eterna em um Paraíso junto a Deus. Só teria validade caso víssemos os “hereges” queimando eternamente, incluindo muitos parentes e até mesmo irmãos! Adoraríamos a Deus por medo e não por amor! Infelizmente, para muitos o Paraíso só seria uma recompensa mesmo caso houvesse pessoas queimando para todo o sempre. Se não houvessem seres queimando miseravelmente por toda a eternidade vivendo terrores colossais, então nem vale a pena ser justo! A vida eterna é suficiente para mim. Adoro a Deus não com medo de um inferno eterno, mas pelo dom da vida eterna que ele concede gratuitamente a todos aqueles que creem. Infelizmente, a doutrina da imortalidade da alma cria “cristãos” edificados sobre o medo do inferno e não sobre a graça de Deus. Disso resulta toda uma desvalorização do que é o dom da vida eterna e da imortalidade que Deus concede aos justos pela Sua Graça. Os livros de Mary Baxter, por exemplo, produzem "conversões" motivadas pelo medo do inferno. Nos seus livros, os “espíritos” ali mencionados detêm inclusive ossos e sangue! Pasme! Isso sem mencionar o fato de que os “espíritos” da “Divina Revelação do Inferno” descem a este lugar ainda vestidos com as suas roupas usuais! As outras “revelações” infernais vão daí para pior! Isso nos mostra claramente que tais “revelações” realmente não passam de mais investidas do maligno a fim de perpetuar, de todas as maneiras possíveis, a primeira mentira. O que o diabo mais quer é “revelar” para o povo aquilo que Deus não revelou na Bíblia, ainda mais quando tal revelação claramente a contraria. Pessoas assim vivem debaixo de um legalismo terrível e suas vidas se tornam um verdadeiro inferno. Elas são atormentadas pela insegurança da própria salvação e enxergam Deus de forma volúvel, mutável e leviano. E a fé dessas pessoas depende desse tormento pra continuarem "firmes na fé", pois se o inferno não existir mais para elas, então elas pensam que já não vale a pena viver em santidade.