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Era de noite. A voz ecoava pela vila toda, como relâmpagos furiosos... com uma
curiosa serenidade. - Juntai-vos, cidadãos do Novo Império! Entre vós não se encontram
Imperadores, nem Rebeldes. Estão presentes entre vós a nova comunidade, o vosso
Futuro! Abracem-no, comuniquem com ele. Com ele irão viver os próximos anos. Não
tentem fugir dele! – E todas as pessoas estavam reunidas na praça principal. Ninguém
entendia o que tinha acontecido. Tinham saído de uma espécie de ditadura, para entrar
numa nova. Só ficou mais moderna.
- Esqueçam os vossos nomes. Esqueçam os vossos trabalhos. Esqueçam tudo
o que sabiam! A partir de agora, todos vós terão um número, esse número será a vossa
identificação. - Todos desconheciam quem falava. Ao lado dele estavam mais seis
pessoas. Eram todas iguais, apenas diferentes de quem falava. Todas vestiam a mesma
roupa: calças brancas com diversas faixas cinzentas, ridículas botas negras que
chegavam ao joelho e uma camisola simples branca. O falador tinha mangas douradas.
O mesmo continuou a falar.
- As vossas ocupações dependerão do número que obtiverem. Aqui têm um
exemplo prático. - As seis pessoas foram então buscar um pequeno painel, que
colocaram ao lado do falador. O painel iluminou-se, e aparece no céu uma espécie de
esquema.
NÚMEROS TERMINADOS EM 1 E 6 – QUINTAS E GADO. COZINHAS.
NÚMEROS TERMINADOS EM 2 E 7 – FLORESTA E TRATAMENTO DE
MADEIRAS
NÚMEROS TERMINADOS EM 3 E 8 – MINAS E TRATAMENTO DE PEDRAS
NÚMEROS TERMINADOS EM 4 E 9 – CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS
NÚMEROS TERMINADOS EM 5 – TRABALHO VARIADO
NÚMEROS TERMINADOS EM 0 – EXTERMÍNIO
- Parece-me bem. – Prosseguiu o falador, com uma voz hipócrita. - O que acham,
queridos cidadãos? Nós, os vossos proprietários, achámos que o melhor é não terminar
com os empregos que por aqui tinham. Mas claro, tudo será feito como nós queremos! -
Da população, surgiu um burburinho. Extermínio?! O falador, felizmente, não percebeu o
que diziam, embora tenha dado conta que os “seus cidadãos” se encontravam
preocupados.
- Não se preocupem! – Gritou ele. – Amanhã tudo será resolvido, e cada um terá o
seu nome! Vão para as vossas casas, onde encontraram um pequeno livro onde
explicará as vossas novas regras. Todos vós terão um Soldado que vos vigiará. –
Subitamente, o falador parece que perde a paciência. – VÃO TODOS EMBORA! E sejam
leais NOVO IMPÉRIO! – Berra, ficando com o rosto vermelho. Os diversos clones, os
ditos Soldados, cercaram a população. As pessoas, ainda chocadas, começaram então a
ir para casa. Amanhã seria um novo dia… ou não.
***
Nas masmorras, reinava o pânico. Seth e Theo encontravam-se num estado de
completo nervosismo, enquanto Lorena e Magenta mantinham-se num canto, com o
rosto entre os joelhos. Winston pensava no que poderia fazer.
- Isto é de loucos! – Explodiu Seth. – Para onde foi o nosso esforço? O nosso
trabalho? TUDO?! Mas quem são estes gajos?
- Estes gajos, - disse Winston – são uma criação do teu pai. O teu pai já tinha
criado isto há relativamente bastante tempo, para dar controlo àquilo que seria o novo
Império. Ao ficarem inteligentes, mataram o teu pai e ficaram com a identidade dele.
Provavelmente terão o controlo de todo o Império neste momento. Diria que o feitiço
virou-se contra o feiticeiro…
Desta vez quem explodiu foi Theo. - O feitiço digo-lhes eu! Não vou deixar que isto
controle a nossa vila!
- E o que planeias fazer? – Perguntou uma Lorena bastante descontente. Theo
calou-se. Não sabia o que dizer.
Do corredor das masmorras, que dava à pequena cela onde estavam os cinco,
começou a surgir um estranho barulho, que aumentava de som a cada momento.
Pareciam passos. Lorena e Magenta levantam-se, alarmadas. Subitamente, a pequena
janela da porta da cela abre-se, para revelar Ivy, que estava do outro lado.
- IVY! – Gritou aliviada Lorena, ao ver a amiga. A mesma não perdeu tempo a
transmitir as informações.
- Lembrei-me das passagens secretas que me disse Magenta – disse, ao abrir a
porta. – Quando soube que estes sacanas tinham vos raptado e posto aqui, caiu-me o
mundo. Eu e a Edna ainda tivemos tempo de nos abrigar, e só agora conseguimos sair.
Há polícias por todo o lado, todos iguais!
- Fizeste muito bem. – Disse Seth, aproximando-se dela. – Vamos embora daqui!
- Espera! Não podem simplesmente sair… eu tenho um plano!
- E do que se trata esse plano? – Perguntou Winston.
- Na verdade, só pensei mais na Magenta e em ti, Lorena. Como sabes, ambas e
Edna estamos grávidas. O meu plano baseia-se em simplesmente apanhar um barco,
nós as três e mais uns habitantes da vila, para a Ilha Quebrada. Teríamos que atravessar
o Mar Profundo, e com sorte na Ilha Quebrada conseguiríamos criar um novo Império,
caso este termine de vez… pois uma guerra não tarda nada irá explodir.
- Eu farei com que expluda. – Disse Seth. – É o meu dever… - Theo olhou para o
amigo. – Tens o meu apoio. Sempre o terás. – Concluiu. Ambos se olharam com
confiança.
Magenta parecia concordar com a ideia dada pela pupila. – Não temos tempo a
perder. Vamos para a Oculta do Sul. – A passagem secreta virada para o Mar Profundo.
E a noite acabou por os acolher.
***
E um novo dia chegava à Vila 21. Os cinco prisioneiros, mais a ajudante, estavam
prestes a sair da Oculta do Sul. Verificavam se era então seguro sair daquele grande
Casarão. - Tudo me parece ok. – afirmava Ivy, que espreitava pelos pequenos buracos
da porta da Oculta. – O barco com os cidadãos estará pronto não tarda nada. Basta
lançá-lo ao mar… - Lorena e Magenta olhavam-se atentamente perante tais informações.
Pareciam saber muito bem o que fazer. Era incrível a ligação que conseguiram criar ao
longo de tão pouco tempo.
Já Seth estava um bocado impaciente. – Quero sair daqui! – Dizia várias
vezes, que se seguia com uma possibilidade de um plano. - O mais fácil, para mim e
para Theo, seria matar dois desses guardas ou soldados ou o raio, e vestir as roupas
deles…
- Mas não sabes se, ao matá-los, não vais acionar uma merda qualquer que vá
notificar o Casarão. – Disse Winston. – Isto anda tudo bastante moderno.
- Mas não temos tempo de pensar noutra possibilidade. – Continuou Seth. –
Senão serão notificados que alguém escapou das prisões mais rapidamente do que isso.
Subitamente, uma voz surgiu do nada. Era a mesma voz de ontem. Imponente. Fria. - BOM
DIA CIDADÃOS! O segundo dia do Novo Império começa já hoje! Certamente que, entre vós, já
começaram a questionar: o que é o “Extermínio”? Simples! Saibam, desde já, que os vossos
números serão aleatoriamente atribuídos. Tirando, porém, os números terminados em zero. Esses
serão como que naturalmente implementados. Se se vos aparecer um zero no vosso pulso
esquerdo, saberão que são um inimigo do estado, que devem ser levados ao Extermínio. Tal
aparecimento deverá ocorrer agora mesmo.
Seth não esperou mais para ver se tinha o dito zero. E, de facto, tinha. Um redondo
zero, vermelho, tinha sido formado no seu pulso esquerdo. Era oficialmente um inimigo do estado.
Todos os outros que estavam consigo também o tinham… ou nem todos. Winston parecia não ter
nada no seu pulso esquerdo.
Entretanto, a voz prosseguiu: - Acalmem-se, Inimigos, o vosso tempo chegará
rapidamente! Agora o mais importante é…
- Porque não tens o zero, Winston? – Disse Seth quase silenciosamente, interrompendo
a voz. Olhou nos olhos de Winston. A raiva aumentava pouco a pouco. – Não és um Inimigo?
- Eu não entendo… - começou a gaguejar. – Deve já a-a-aparecer!
- Aparece uma merda! – Explodiu Seth, que se aproximava de Winston. – Porque não
dizes quem tu és?!
- Tenham calma! – Ainda tentou pedir Magenta, mas não valeu de pena. Seth não
hesitou em se atirar para Winston, socando-lhe repetidamente a cabeça. Pouco a pouco,
a mesma começou a sangrar.
- SETH! – Gritou Theo, que tirava o amigo do corpo do traidor. – Deixa-o!
Seth, ao perceber que Winston provavelmente estaria desmaiado, separou-se
dele. E dizia algumas palavras soltas. – Traidor! Eu sabia. Nunca era a favor dos planos.
O meu pai. O Império. Que sabe ele? DO QUE SABIA ELE?
- Calma! – Disse Theo abanando os ombros do amigo. Entretanto, ao olhar
para o corpo de Winston, acalmou-se. – Parece que está morto.
- Que esteja. Vamos sair daqui antes que nos apanhem. – Finalmente disse Ivy,
abrindo a porta. Lá fora, a voz ecoou novamente por toda a vila. - E que a caça pelos
Inimigos COMECE!
Era agora ou nunca. Os guardas iam começar a buscar pelos Zeros do Novo
Império…
- Nós ficamos bem Seth, agora vai! – Disse Lorena, perto do pequeno barco que já
tinha Morena, Ivy e Edna, bem como alguns cidadãos.
- Peço desculpa por tudo isto… - balbuciava Seth. - Nem conseguimos
perceber bem o que nós somos… - tentou dizer Seth.
- Não penses nisso! Vai tratar do teu plano! Vai! – Dizia apressadamente Lorena,
empurrando o irmão gémeo para fora do areal. Seth ainda observou o barco a ir embora,
acenando pesadamente para Lorena e as restantes.
Do outro lado, Theo corria em direção ao amigo. Ofegante, parou ao pé de
Seth, com as mãos nos joelhos e a respirar muito rapidamente, ao mesmo tempo que
tenta falar. – Encontrei ali d-dois… isolados… aliii! – Apontava para uma pequena colina.
- Calma amigo. – Disse Seth, dando uma palmada amigável no ombro de
Theo. – Já estás melhor? – Perguntou-lhe, passando alguma tempo. Theo acenou que
sim. - Vamos lá ver quem são então. – E dirigiram-se a passos largos em direção aos
guardas que planeavam matar. Ao encontrarem os mesmos no cimo da colina,
esconderam-se atrás de um pequeno arbusto, para não serem encontrados.
- Como vamos atacar se não temos armas? – Perguntou Theo. – Eles
certamente terão algo melhor do que nós… - Seth começou a apanhar pedras do chão
perante a afirmação. – Atacamos com o que podermos… - Subitamente, os dois amigos
são surpreendidos pelos dois guardas, que facilmente os apanham. Seth ainda tenta
debater-se perante os enormes – e ridículos – braços do guarda, mas não consegue.
Sente então uma picada dolorosa no pescoço, soltando um berro. Desmaia logo a seguir.
***
Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai… Clones, cavalos alados, Jogos do
Império, pai… EU SOU O ESCOLHIDO! Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai…
Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai…
Seth ainda tinha o mesmo sonho na mente quando acordou. Com os olhos
quase cerrados, pouco conseguia ver. Apenas grandes luzes brancas. - Theo… -
Balbuciou. Era a única coisa que se lembrava nitidamente. A sua visão melhorava
progressivamente, assim como a sua perceção do local. Parecia uma sala, pintada de
branco, com uma única porta verde. Não tinha janelas.
Seth continuou a observar a sala. Uma porta verde… vermelha. ??? Paredes
pintadas de… amarelo. ??? Janelas por todo o lado. Perto de um canto, um conjunto de
pássaros mortos. Seth cambaleava ao tentar caminhar ao ir ter com os pássaros mortos.
Pareciam apenas isso.
Foi então que a cabeça dos pássaros começou a alterar-se. Em cada um,
começou a formar-se um rosto de uma pessoa. Lorena… viu Seth num, Ivy… Richard...
Theo… Cada pássaro tinha um rosto bem definido. Seth começou a recuar, quando
todos os pássaros ganhavam voo. Ao olharem atentamente para Seth, voam em direção
dele, prontos a atacar…
***
Quando um grupo de colaboradores chegou à sala onde Seth estava, este
encontrava-se num estado terrível. Gritava desalmadamente, e com os olhos muito
abertos, olha para as paredes nuas. Tocava, esmurrava violentamente.
Theo! Vem-me salvar Theo! Tira-me daqui. Salva-as e fujam daqui. Mar
Profundo, Ilha Quebrada… Querem foder-me a cabeça!
Os colaboradores, possíveis cientistas, não hesitaram a chegar-se ao pé dele.
Pegaram-no ele, e com força imobilizaram-no. Seth tentava se debater violentamente,
berrando o nome de Theo. As luzes brancas acabaram por quase o cegar. Foi então que
o colaborador mais alto, loiro e musculado, espetou-lhe a seringa no pescoço. Salva-
os… foi o último pensamento do Seth. As luzes brancas começaram a ficar negras. Dois
fios de sangue caíram do seu nariz. Ainda conseguiu risos. E a escuridão apoderou-se
dele.
***
Quanto tempo passou? Quantos vezes o sol nasceu e se pôs? Quantas folhas de
um calendário foram folheadas? Ninguém sabia responder. Ninguém sabia explicar ao
Seth. Onde estou eu? Quem sou eu? Que sala é esta? Perguntava-se. Onde estava
tinha apenas uma porta pequena, com uma janela igualmente pequena, à sua frente. Ao
levantar-se, Seth dirigiu-se para ela, lentamente. Abriu-a.
Luz. Muita luz entrou repentinamente, fazendo com que Seth fecha-se os seus
olhos, coloca-se a sua mão à frente do seu rosto, a tentar tapar a luz incomodativa.
Habitou-se à luz pouco tempo depois, podendo ver onde estava. Via uma enorme praça,
cheia de pessoas. Não conhecia ninguém de quem podia ver. Ao seu lado estava uma
espécie de caixa pendurada, e estava tapada. Onde estou eu, merda? Quem é esta
gente?!
Pouco a pouco, Seth começou a perceber que alguém falava para aquela imensidão
de pessoas. – E isto é o que acontece aos traidores do Império! – E a caixa pendurada
revelou-se. Lá dentro estava um corpo, cheio de riscos vermelhos. Pingava sangue. A
cabeça do corpo estava parcialmente queimada, e uma parte do cérebro era visível. Eu
conheço esta pessoa, pensou Seth. Mas quem é?
- Aqui ao lado temos Theo Beans! – Disse a tal voz, apontando para a caixa. A
população reagiu com um som de surpresa e indignação. – E, no outro, temos Seth
Beans, amigo dele! Que bom que se tenha juntado a nós. Possivelmente isto é muito
confuso para ti meu jovem, mas é mesmo assim. O Seth, querida Vila, não se lembra
nada desde do Dia da Criação. Clones significam algo para ti, filho? - Clones? Que
merda está ele a falar? Pensou Seth, olhando de forma confusa para o homem. Das
pessoas na praça, imensos burburinhos se ouviam. - Filho, isto é o Império. Tudo
regressou à normalidade… depois de tempo considerável. Aqueles que se tornarem
transgressores do Império, serão punidos. Ou fodemos a memória, ou são mortos.
Seth não entendeu o que poderia se referir a normalidade. Entendeu no entanto o
que significava Império. E o entendimento não foi bom… lentamente, as informações
faziam sentido…- Agora junta-te à população, Seth. E já sabem cidadãos. Alguma
referência ao passado, serão severamente punidos! – Terminou o homem. E Seth foi
deixado à entrada do Casarão, com um Theo morto ao seu lado.
***
- MAGENTA! – Gritou Lorena, curvando-se com dor. Ao pé dos seus pés, começou
a formar-se uma poça de água. - As águas arrebentaram... – Disse Ivy., que estava ao
seu lado – Está na altura. – E correu para fora da pequena casa de madeira, à procura
de Magenta. O filho de Seth e Lorena ia finalmente nascer.
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chegou. Iniciaram o trabalho de parto.
O nascimento foi rápido, e correu bem. O bebé estava saudável. Lorena estava feliz.
Foi então quando Magenta olhou atentamente para o recém-nascido. A Promessa…
a Profecia… O filho esperado do Império. É este. À frente deles, estava a possível
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  • 1.
  • 2. Era de noite. A voz ecoava pela vila toda, como relâmpagos furiosos... com uma curiosa serenidade. - Juntai-vos, cidadãos do Novo Império! Entre vós não se encontram Imperadores, nem Rebeldes. Estão presentes entre vós a nova comunidade, o vosso Futuro! Abracem-no, comuniquem com ele. Com ele irão viver os próximos anos. Não tentem fugir dele! – E todas as pessoas estavam reunidas na praça principal. Ninguém entendia o que tinha acontecido. Tinham saído de uma espécie de ditadura, para entrar numa nova. Só ficou mais moderna. - Esqueçam os vossos nomes. Esqueçam os vossos trabalhos. Esqueçam tudo o que sabiam! A partir de agora, todos vós terão um número, esse número será a vossa identificação. - Todos desconheciam quem falava. Ao lado dele estavam mais seis pessoas. Eram todas iguais, apenas diferentes de quem falava. Todas vestiam a mesma roupa: calças brancas com diversas faixas cinzentas, ridículas botas negras que chegavam ao joelho e uma camisola simples branca. O falador tinha mangas douradas. O mesmo continuou a falar.
  • 3. - As vossas ocupações dependerão do número que obtiverem. Aqui têm um exemplo prático. - As seis pessoas foram então buscar um pequeno painel, que colocaram ao lado do falador. O painel iluminou-se, e aparece no céu uma espécie de esquema. NÚMEROS TERMINADOS EM 1 E 6 – QUINTAS E GADO. COZINHAS. NÚMEROS TERMINADOS EM 2 E 7 – FLORESTA E TRATAMENTO DE MADEIRAS NÚMEROS TERMINADOS EM 3 E 8 – MINAS E TRATAMENTO DE PEDRAS NÚMEROS TERMINADOS EM 4 E 9 – CONSTRUÇÃO DE EDIFÍCIOS NÚMEROS TERMINADOS EM 5 – TRABALHO VARIADO NÚMEROS TERMINADOS EM 0 – EXTERMÍNIO - Parece-me bem. – Prosseguiu o falador, com uma voz hipócrita. - O que acham, queridos cidadãos? Nós, os vossos proprietários, achámos que o melhor é não terminar com os empregos que por aqui tinham. Mas claro, tudo será feito como nós queremos! - Da população, surgiu um burburinho. Extermínio?! O falador, felizmente, não percebeu o que diziam, embora tenha dado conta que os “seus cidadãos” se encontravam preocupados.
  • 4. - Não se preocupem! – Gritou ele. – Amanhã tudo será resolvido, e cada um terá o seu nome! Vão para as vossas casas, onde encontraram um pequeno livro onde explicará as vossas novas regras. Todos vós terão um Soldado que vos vigiará. – Subitamente, o falador parece que perde a paciência. – VÃO TODOS EMBORA! E sejam leais NOVO IMPÉRIO! – Berra, ficando com o rosto vermelho. Os diversos clones, os ditos Soldados, cercaram a população. As pessoas, ainda chocadas, começaram então a ir para casa. Amanhã seria um novo dia… ou não. *** Nas masmorras, reinava o pânico. Seth e Theo encontravam-se num estado de completo nervosismo, enquanto Lorena e Magenta mantinham-se num canto, com o rosto entre os joelhos. Winston pensava no que poderia fazer.
  • 5. - Isto é de loucos! – Explodiu Seth. – Para onde foi o nosso esforço? O nosso trabalho? TUDO?! Mas quem são estes gajos? - Estes gajos, - disse Winston – são uma criação do teu pai. O teu pai já tinha criado isto há relativamente bastante tempo, para dar controlo àquilo que seria o novo Império. Ao ficarem inteligentes, mataram o teu pai e ficaram com a identidade dele. Provavelmente terão o controlo de todo o Império neste momento. Diria que o feitiço virou-se contra o feiticeiro… Desta vez quem explodiu foi Theo. - O feitiço digo-lhes eu! Não vou deixar que isto controle a nossa vila! - E o que planeias fazer? – Perguntou uma Lorena bastante descontente. Theo calou-se. Não sabia o que dizer. Do corredor das masmorras, que dava à pequena cela onde estavam os cinco, começou a surgir um estranho barulho, que aumentava de som a cada momento. Pareciam passos. Lorena e Magenta levantam-se, alarmadas. Subitamente, a pequena janela da porta da cela abre-se, para revelar Ivy, que estava do outro lado. - IVY! – Gritou aliviada Lorena, ao ver a amiga. A mesma não perdeu tempo a transmitir as informações.
  • 6. - Lembrei-me das passagens secretas que me disse Magenta – disse, ao abrir a porta. – Quando soube que estes sacanas tinham vos raptado e posto aqui, caiu-me o mundo. Eu e a Edna ainda tivemos tempo de nos abrigar, e só agora conseguimos sair. Há polícias por todo o lado, todos iguais! - Fizeste muito bem. – Disse Seth, aproximando-se dela. – Vamos embora daqui! - Espera! Não podem simplesmente sair… eu tenho um plano! - E do que se trata esse plano? – Perguntou Winston. - Na verdade, só pensei mais na Magenta e em ti, Lorena. Como sabes, ambas e Edna estamos grávidas. O meu plano baseia-se em simplesmente apanhar um barco, nós as três e mais uns habitantes da vila, para a Ilha Quebrada. Teríamos que atravessar o Mar Profundo, e com sorte na Ilha Quebrada conseguiríamos criar um novo Império, caso este termine de vez… pois uma guerra não tarda nada irá explodir. - Eu farei com que expluda. – Disse Seth. – É o meu dever… - Theo olhou para o amigo. – Tens o meu apoio. Sempre o terás. – Concluiu. Ambos se olharam com confiança. Magenta parecia concordar com a ideia dada pela pupila. – Não temos tempo a perder. Vamos para a Oculta do Sul. – A passagem secreta virada para o Mar Profundo. E a noite acabou por os acolher.
  • 7. *** E um novo dia chegava à Vila 21. Os cinco prisioneiros, mais a ajudante, estavam prestes a sair da Oculta do Sul. Verificavam se era então seguro sair daquele grande Casarão. - Tudo me parece ok. – afirmava Ivy, que espreitava pelos pequenos buracos da porta da Oculta. – O barco com os cidadãos estará pronto não tarda nada. Basta lançá-lo ao mar… - Lorena e Magenta olhavam-se atentamente perante tais informações. Pareciam saber muito bem o que fazer. Era incrível a ligação que conseguiram criar ao longo de tão pouco tempo. Já Seth estava um bocado impaciente. – Quero sair daqui! – Dizia várias vezes, que se seguia com uma possibilidade de um plano. - O mais fácil, para mim e para Theo, seria matar dois desses guardas ou soldados ou o raio, e vestir as roupas deles… - Mas não sabes se, ao matá-los, não vais acionar uma merda qualquer que vá notificar o Casarão. – Disse Winston. – Isto anda tudo bastante moderno. - Mas não temos tempo de pensar noutra possibilidade. – Continuou Seth. – Senão serão notificados que alguém escapou das prisões mais rapidamente do que isso.
  • 8. Subitamente, uma voz surgiu do nada. Era a mesma voz de ontem. Imponente. Fria. - BOM DIA CIDADÃOS! O segundo dia do Novo Império começa já hoje! Certamente que, entre vós, já começaram a questionar: o que é o “Extermínio”? Simples! Saibam, desde já, que os vossos números serão aleatoriamente atribuídos. Tirando, porém, os números terminados em zero. Esses serão como que naturalmente implementados. Se se vos aparecer um zero no vosso pulso esquerdo, saberão que são um inimigo do estado, que devem ser levados ao Extermínio. Tal aparecimento deverá ocorrer agora mesmo. Seth não esperou mais para ver se tinha o dito zero. E, de facto, tinha. Um redondo zero, vermelho, tinha sido formado no seu pulso esquerdo. Era oficialmente um inimigo do estado. Todos os outros que estavam consigo também o tinham… ou nem todos. Winston parecia não ter nada no seu pulso esquerdo. Entretanto, a voz prosseguiu: - Acalmem-se, Inimigos, o vosso tempo chegará rapidamente! Agora o mais importante é… - Porque não tens o zero, Winston? – Disse Seth quase silenciosamente, interrompendo a voz. Olhou nos olhos de Winston. A raiva aumentava pouco a pouco. – Não és um Inimigo? - Eu não entendo… - começou a gaguejar. – Deve já a-a-aparecer! - Aparece uma merda! – Explodiu Seth, que se aproximava de Winston. – Porque não dizes quem tu és?!
  • 9. - Tenham calma! – Ainda tentou pedir Magenta, mas não valeu de pena. Seth não hesitou em se atirar para Winston, socando-lhe repetidamente a cabeça. Pouco a pouco, a mesma começou a sangrar. - SETH! – Gritou Theo, que tirava o amigo do corpo do traidor. – Deixa-o! Seth, ao perceber que Winston provavelmente estaria desmaiado, separou-se dele. E dizia algumas palavras soltas. – Traidor! Eu sabia. Nunca era a favor dos planos. O meu pai. O Império. Que sabe ele? DO QUE SABIA ELE? - Calma! – Disse Theo abanando os ombros do amigo. Entretanto, ao olhar para o corpo de Winston, acalmou-se. – Parece que está morto. - Que esteja. Vamos sair daqui antes que nos apanhem. – Finalmente disse Ivy, abrindo a porta. Lá fora, a voz ecoou novamente por toda a vila. - E que a caça pelos Inimigos COMECE! Era agora ou nunca. Os guardas iam começar a buscar pelos Zeros do Novo Império… - Nós ficamos bem Seth, agora vai! – Disse Lorena, perto do pequeno barco que já tinha Morena, Ivy e Edna, bem como alguns cidadãos. - Peço desculpa por tudo isto… - balbuciava Seth. - Nem conseguimos perceber bem o que nós somos… - tentou dizer Seth.
  • 10. - Não penses nisso! Vai tratar do teu plano! Vai! – Dizia apressadamente Lorena, empurrando o irmão gémeo para fora do areal. Seth ainda observou o barco a ir embora, acenando pesadamente para Lorena e as restantes. Do outro lado, Theo corria em direção ao amigo. Ofegante, parou ao pé de Seth, com as mãos nos joelhos e a respirar muito rapidamente, ao mesmo tempo que tenta falar. – Encontrei ali d-dois… isolados… aliii! – Apontava para uma pequena colina. - Calma amigo. – Disse Seth, dando uma palmada amigável no ombro de Theo. – Já estás melhor? – Perguntou-lhe, passando alguma tempo. Theo acenou que sim. - Vamos lá ver quem são então. – E dirigiram-se a passos largos em direção aos guardas que planeavam matar. Ao encontrarem os mesmos no cimo da colina, esconderam-se atrás de um pequeno arbusto, para não serem encontrados. - Como vamos atacar se não temos armas? – Perguntou Theo. – Eles certamente terão algo melhor do que nós… - Seth começou a apanhar pedras do chão perante a afirmação. – Atacamos com o que podermos… - Subitamente, os dois amigos são surpreendidos pelos dois guardas, que facilmente os apanham. Seth ainda tenta debater-se perante os enormes – e ridículos – braços do guarda, mas não consegue. Sente então uma picada dolorosa no pescoço, soltando um berro. Desmaia logo a seguir.
  • 11. *** Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai… Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai… EU SOU O ESCOLHIDO! Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai… Clones, cavalos alados, Jogos do Império, pai… Seth ainda tinha o mesmo sonho na mente quando acordou. Com os olhos quase cerrados, pouco conseguia ver. Apenas grandes luzes brancas. - Theo… - Balbuciou. Era a única coisa que se lembrava nitidamente. A sua visão melhorava progressivamente, assim como a sua perceção do local. Parecia uma sala, pintada de branco, com uma única porta verde. Não tinha janelas. Seth continuou a observar a sala. Uma porta verde… vermelha. ??? Paredes pintadas de… amarelo. ??? Janelas por todo o lado. Perto de um canto, um conjunto de pássaros mortos. Seth cambaleava ao tentar caminhar ao ir ter com os pássaros mortos. Pareciam apenas isso. Foi então que a cabeça dos pássaros começou a alterar-se. Em cada um, começou a formar-se um rosto de uma pessoa. Lorena… viu Seth num, Ivy… Richard... Theo… Cada pássaro tinha um rosto bem definido. Seth começou a recuar, quando todos os pássaros ganhavam voo. Ao olharem atentamente para Seth, voam em direção dele, prontos a atacar…
  • 12. *** Quando um grupo de colaboradores chegou à sala onde Seth estava, este encontrava-se num estado terrível. Gritava desalmadamente, e com os olhos muito abertos, olha para as paredes nuas. Tocava, esmurrava violentamente. Theo! Vem-me salvar Theo! Tira-me daqui. Salva-as e fujam daqui. Mar Profundo, Ilha Quebrada… Querem foder-me a cabeça! Os colaboradores, possíveis cientistas, não hesitaram a chegar-se ao pé dele. Pegaram-no ele, e com força imobilizaram-no. Seth tentava se debater violentamente, berrando o nome de Theo. As luzes brancas acabaram por quase o cegar. Foi então que o colaborador mais alto, loiro e musculado, espetou-lhe a seringa no pescoço. Salva- os… foi o último pensamento do Seth. As luzes brancas começaram a ficar negras. Dois fios de sangue caíram do seu nariz. Ainda conseguiu risos. E a escuridão apoderou-se dele.
  • 13. *** Quanto tempo passou? Quantos vezes o sol nasceu e se pôs? Quantas folhas de um calendário foram folheadas? Ninguém sabia responder. Ninguém sabia explicar ao Seth. Onde estou eu? Quem sou eu? Que sala é esta? Perguntava-se. Onde estava tinha apenas uma porta pequena, com uma janela igualmente pequena, à sua frente. Ao levantar-se, Seth dirigiu-se para ela, lentamente. Abriu-a. Luz. Muita luz entrou repentinamente, fazendo com que Seth fecha-se os seus olhos, coloca-se a sua mão à frente do seu rosto, a tentar tapar a luz incomodativa. Habitou-se à luz pouco tempo depois, podendo ver onde estava. Via uma enorme praça, cheia de pessoas. Não conhecia ninguém de quem podia ver. Ao seu lado estava uma espécie de caixa pendurada, e estava tapada. Onde estou eu, merda? Quem é esta gente?! Pouco a pouco, Seth começou a perceber que alguém falava para aquela imensidão de pessoas. – E isto é o que acontece aos traidores do Império! – E a caixa pendurada revelou-se. Lá dentro estava um corpo, cheio de riscos vermelhos. Pingava sangue. A cabeça do corpo estava parcialmente queimada, e uma parte do cérebro era visível. Eu conheço esta pessoa, pensou Seth. Mas quem é?
  • 14. - Aqui ao lado temos Theo Beans! – Disse a tal voz, apontando para a caixa. A população reagiu com um som de surpresa e indignação. – E, no outro, temos Seth Beans, amigo dele! Que bom que se tenha juntado a nós. Possivelmente isto é muito confuso para ti meu jovem, mas é mesmo assim. O Seth, querida Vila, não se lembra nada desde do Dia da Criação. Clones significam algo para ti, filho? - Clones? Que merda está ele a falar? Pensou Seth, olhando de forma confusa para o homem. Das pessoas na praça, imensos burburinhos se ouviam. - Filho, isto é o Império. Tudo regressou à normalidade… depois de tempo considerável. Aqueles que se tornarem transgressores do Império, serão punidos. Ou fodemos a memória, ou são mortos. Seth não entendeu o que poderia se referir a normalidade. Entendeu no entanto o que significava Império. E o entendimento não foi bom… lentamente, as informações faziam sentido…- Agora junta-te à população, Seth. E já sabem cidadãos. Alguma referência ao passado, serão severamente punidos! – Terminou o homem. E Seth foi deixado à entrada do Casarão, com um Theo morto ao seu lado.
  • 15. *** - MAGENTA! – Gritou Lorena, curvando-se com dor. Ao pé dos seus pés, começou a formar-se uma poça de água. - As águas arrebentaram... – Disse Ivy., que estava ao seu lado – Está na altura. – E correu para fora da pequena casa de madeira, à procura de Magenta. O filho de Seth e Lorena ia finalmente nascer. Magenta não demorou muito a ir ter à casa. Consigo, mais uma rapariga da Vila 21 chegou. Iniciaram o trabalho de parto. O nascimento foi rápido, e correu bem. O bebé estava saudável. Lorena estava feliz. Foi então quando Magenta olhou atentamente para o recém-nascido. A Promessa… a Profecia… O filho esperado do Império. É este. À frente deles, estava a possível salvação da Vila 21, e do Império há já muito destruído.