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A LUTA DA
   JAPUARA
          Rosa Barros
Vinde, musa mensageira
Com poder, força e valor
Dai-me santa inspiração
Mandada por Nosso Senhor
Para falar na tragédia
Que César Campos formou

Canindé, cidade santa
De festa e devoção
Onde abrange muitas léguas
A sua grande admiração
Romeiro de longe vem
Cumprir sua devoção

Passou o ano setenta
Em Canindé foi um bom ano
Chegou a setenta e um
Com o gênio desumano
O César Campos, em Canindé
Foi logo mudando os planos

No dia dois de janeiro
César Campos juntou
Uns oitenta e cinco homens
E disse assim: - Vá, feitor
Arrombem o açude e derribem
As casas dos “morador”

As casas encheram logo
De homens pra viajar
Pra fazenda Japuara
Começaram a caminhar
Para ganhar dez cruzeiros
E sua vida arriscar

Todos eles bem satisfeitos
Pra ganharem esse trocado
Talvez pensando que não fosse
Um trabalho pesado
Porém, encontraram lá
Um serviço complicado

Chegaram os carros lá
Às oito horas do dia
Os motoristas pararam
Em frente uma moradia
A qual morada era
Onde Pio Nogueira residia
2

Os homens desceram todos
Otávio Abreu, o ffeitor
Disse: - Todos me acompanhem
Para uma cerca marchou
Dizendo: - Derribem esta
Pra começar o labor

O Pio não estava em casa
Chegou nesta ocasião
Lá das bandas doa çude
Disse a eles: - Olhe, preste atenção
Derrubem todas as cercas
Porém, a casa, não!

Porém, nesta ocasião
Respondeu, alto, o feitor:
- Ninguém veio ouvir conversa!...
Pio Nogueira se calou
Eles trouxeram as escadas
Na parede encostou

Logo no oitão da casa
Começaram a trabalhar
Derribando todas as cercas
Uns e outros a conversar
Dizendo: - Logo, as casas
Nós iremos derrubar

Derrubaram todas as cercas
Saindo do outro lado
Nada tendo acontecido
Todo mundo animado
Mas, para o fim do trabalho
Vamos ver o resultado

- Vocês já encostaram as escadas
Quem quiser pode subir
Ou então me deixe em paz
Porque eu não vou me afligir
Enquanto seu César não me pagar
Eu não sairei daqui

Foi neste mesmo momento
Que um subiu na escada
João Longá era seu nome
Subiu sem fazer zoada
Pio Nogueira, nesta hora
Não pensou em mais nada

O futuro é enganoso
Dele não sabe ninguém
Não queiram perder seus direitos
Para ganhar um vintém
César Campos não é homem
Que dê camisa a ninguém
3

A sala já estava
Com uma parte destelhada
João Longá, lá em cima
Como quem não temia nada
Nesta hora o Dourado
Foi subindo na escada

Bem no canto da parede
Subiu Longá disfarçado
Pio Nogueira, nesta hora
Deu-lhe um cartucho emprestado
Coitado, não voltou mais
Pra contar o resultado

Os outros que já estavam
Pertinho da cumeeira
Quando ouviram a zoada
Disse: - Não é brincadeira
De um pulo quebrou um pé
E ainda deu uma carreira

Nisto, o resto da tropa
Começou logo a correr
Uns diziam: - Meu Jesus
Desça pra nos defender
Uns perdidos nas matas
Outros no chão pra morrer

Eram dez horas do dia
Dquando este fogo cessou
Todos os homens correram
Só os mortos ficou
Vamos saber da notícia
Quando em Canindé chegou

Com duas horas depois
Do caso acontecido
Chegaram uns homens vexado
Fazendo grande alarido
Dizendo: - Lá, já morreu gente
E os homens tão prevenido

César Campos inventou
Que sofria do coração
Atcou-lhe logo os nervos
Mandou chamar seu irmão
Pra com ele fazer as pazes
E amenizar a situação

Naquele mesmo momento
Deram parte ao delegado
Este chamou logo os homens
Todos eles bem armados
Mas não sbiam que os homens
Se achavam bem preparados
4

Pio Nogueiram, em sua casa
Estava bem despreocupado
Com homens e muitas armas
Com as armas que eles tinham deixado
Da chegada da polícia
Vamos ver o resultado

Cídio Martins, o delegado
Comanda o destacamento
Todos dentro dos carros
Preveniu seu armamento
Só não foi o coronel
Por não estar no momento

Pra fazenda Japuara
Seguiram os carros apressado
Para prender Pio Nogueira
Pelo crime praticado
O culpado é César Campos
É quem deve pagar o pato

Chegaram numa latada
Em frente, o carro parou
Cídio Martins não pensava
Para ela marchou
Mal pisou debaixo dela
O tiroteio começou

Bateu de mão o revólver
O gatilho apertou
Como nunca aconteceu
A arma não disparou
Um de seus homens de perto dele
Com um facão lhe cutelou

Deu-lhe um golpe na cabeça
Como um leão assanhado
Aí, o soldao Freitas
Partiu como um alucinado
Dizendo: - Tu paga a morte
Desse homem tão falado

Porém, antes de chegar
Francisco Martins atirou
Em cima do peito esquerdo
O bandido bambeou
Caiu no chão, já sem vida
O que devia, pagou

Francisco Martins lutou
Mas não ficou caído
O resto, todos correram
Valdemar ficou ferido
Quando terminou o fogo
O Freitas já tinha morrido
5

Pois um soldado disposto
Saiu muito estragado
Magalhães não morreu
Porque saiu premiado
E mesmo ele voltou são
Para levar o recado

Com quatro mortos no chão
Uns feridos, outros cortados
Pio Nogueira e seus homens
Já tinham se retirado
Para tirar os mortos
Vamos ver o resultado

Quando chegu em Canindé
Os carros, todos ensanguentado
Em frente à Casa Campos
Francisco Martins cortado
Pois com um tiro nas costas
Vinha também estragado

Disseram que quatro homens
Mortos já tinham ficado
Nonato Vinte e Um
Cídio Martins, o delegado
O carreteiro e o soldado
Com três meses de casado

Coronel Raimundo Pereira
Passou logo urgentemente
Um telegrama pedindo
Uma força competente
E o comandante, logo
De tudo ficou ciente

Deixando a tropa aí
Pronto para viajar
Vamos saber de frei Lucas
Que os cadáveres foi buscar
Foi só quem se atreveu
Chegar no dito lugar

Frei Lucas apanhnou a kombi
Com uma bandeira na mão
Um crucifixo na outra
Fez a sua obrigação
Despediu-se das irmãs
E segiu sua missão

Quando ele entrou no carro
Alguém quis lhe acompanhar
Disse ele: - Irei só
Para não prejudicar
Algum pai de família
Que tem pra quem trabalhar
6

Pra fazenda Japuara
O frade saiu vexado
Mário Neco disse: - Eu vou
Lhe fazer acompanhado
Porque numa missão dessa
Todo homem é Obrigado

Apanhou um carro e foi
Fazer sua obrigação
A kombia ia na frente
Veloz como um avião
Parou antes de chegar
Onde deu-se a traição

Saiu do carro frei Lucas
Com a bandeira na mão
E o crucifixo no peito
Pediu de Pio a benção
Dizendo: - Eu não venho aqui
Pra lhe fazer traição

Pio Nogueira abriu a porta
Vendo o vigário acenar
Com a bandeira da paz
Disse: - Pode se encostar
Frei Lulcas chegou pra frente
Começar a conversar

Frei Lucas disse: - Eu não venho
Aqui para lhe prender
Só quero que me autorize
Os cadáveres eu recolher
- Pois, não!, lhe respondeu Pio
Faça o que o senhor entender

Entraram e se sentaram
Quando olharam para estrada
Um jipe vinha chegando
De frente sua morada
Acelerou e parou
Bem pertinho da latada

Foi Mário Neco que lembrou-se
De ir o vigário ajudar
Botaram os cadáveres dentro
Para a kombi transportar
Depois arrodiaram a casa
E começaram a conversar

Pio Nogueira e Mário Neco
Que lhe pede e lhe implora:
- Fuja desta moradia
Deixe tudo e vá embora
Não resista com polícia
Se entregue ou caia fora
7

Eu, como amigo, lhe peço:
É melhor se retirar
Já foi pedido reforço
E não tarda mais chegar
Se retire e vá embora
Não adianta enfrentar

Com toda essa exclamação
Não se mexia ninguém
É Mário Neco dizendo:
- Dou-lhe este conselho pra o bem
Vocês resistem com cinco
Mas não resistem com cem

Deu-lhe este conselho
Entrou no carro e voltou
Frei Lucas com os cadáveres
Também se encaminhou
Com vinte minutos depois
Em Canindé chegou

Levaram pra enfermaria
Todos os sangue lavaram
Os enfermeiros, depois
Todos os golpes costuraram
E alguns feridos com vida
Para o hospital transportaram

Vamos dexar os cadáveres
Para serem sepultados
E os feridos, cotiados
Para serem recuperados
Vamos falar nos reforços
De Fortaleza chegados

Uns dozes soldados armados
Para vingar mestre Cídio
Seguiram pra Japuara
Pelo trágico ou presídio (sic)
Em procura do autor
Daquele grande homícidio

Chegaram na Japuara
Às cinco horas ou mais
Já era pela tardinha
Todos os policiais
Procurando Pio Nogueira
Por dentro dos matagais

Fizeram fogo na casa
Onde o Pio residia
Mas, como estava em silêncio
Nada ali estremecia
A noite muito sutil
Nem uma palha bulia
8

Assim passaram a noite
Nesta tristonha emboscada
Andando dentro dos matos
Em vereda e em estrada
A fim de pegar os homens
Mas não encontraram nada

No outro dia, bem cedo
Começaram procurar
Uns diziam: - Ele fugiu
Não está no Ceará
Outros diziam: - Ele já vai
Do Sete-Estrelo pra lá

E assim continuou
Aquela grande emboscada
Assim puderam sair
Onde tinha uma morada
Na mesma, a esposa dele
Se achava hospedada

Investigaram a mulher
Ela disse que não sabia
Porque quando ele saiu
Não disse pra onde ia
Disse o sargento: - A senhora
Vai para a delegacia

Veio ela e outra parenta
Que também foi encontrada
Decerto fizem parte
Daquela luta pesada
Chegando, tornaram a ser
Novamente investigada

Disse a ela o delegado:
- Então, não sabe do seu marido?
Disse ela: - Não, senhor
Ele anda foragido
Porque quando ele saiu
Eu estava sem sentido

Portanto, a investigação
Não deu o menor resultado
Disse o coronel: - Bote elas
Em um quarto resguardado
E vamos ver se encontramos
Um roteiro aproximado

Assim, porém, novamente
Com outra séria emboscada
Pegaram um conhecido dele
E outro seu camarada
Deixaram eles detidos
E seguiram outra jornada
9

Uns diziam que Pio Nogueira
Estava no mato escondido
Outros diziam que ele está
Em lugar desconhecido
Outros disseram: - Em Fortaleza
Ele já está protegido

Pio Nogueira, ele é
Do sindicato, delegado
O sr. Lindolfo lhe protege
É o seu advogado
E ele não quis sair
Sem que fosse indenizado

Portanto, vamos deixar
A polícia em emboscada
Vamos falar como o Pio
Formou bem sua cilada
Ele e seus companheiros
Dentro da mata fechada

Já era pela tardinha
Que Pio Nogueira arribou
Ele e cinco companheiros
No mato se destinou
Com sede e fome e com sono
Pelas matas penetrou

Assim passaram no matos
Sábado, o dia primeiro
E para mais sofrimento
O segundo e o terceiro
Atravessando riacho
Rios, grotas e tabuleiros

No terceiro dia que Pio
Andava no mato degredado
Um de seus companheiros chega
Onde ele estava hospedado
Com um balaço na perna
Pulando muito arrastado

Disse Pio ao dito homem:
- Cuide logo em se tratar
Vá para o meio da estrada
Procure um carro apanhar
Vá direto a Canindé
Cuide logo em se hospitalizar

Assim mesmo o rapaz fez
Procurou logo a estrada
Deixando Pio e os outros
Naquela mata fechada
Aí, o bom leitor veja
Que quadra negra pesada
10

Ficando o Pio e os outros
Naquele mato arriscado
Já era de madrugada
Avistaram um arruado
Com fome, procuraram lá
Pois se achavam Obrigado(a),

No mesmo arruado tinha
Numa rua um quarteirão
No quarteirão, uma venda
A qual fazia plantão
Pio, com fome, entrou na venda
Fez a sua obrigação

Pede um quilo de bolacha
Come com seus camaradas
Mesmo em cima do balcão
Como quem não teme nada
Neste momento, um carro
Fez zoada na estrada

Aí, eles se assustaram
Mas ficaram parados
Logo o carro ali parou
Desceram dois advogados
Um era o dr. Lindolfo
Que os levou com cuidado

Pio direto a Fortaleza
Seguiu nesta mesma ocasião
Ele e seus companheiros
Não foram contra a razão
E seus dois advogados
Acompanharam a prisão

Em São José da Macaoca
É o nome do arruado
Onde Pio e seus companheiros
Foram logo encontrado
Para ir responder júri
Na capital do estado

Na hora do noticiário
Do Peixoto de Alencar
Dr. Lindolfo Cordeiro
Levou o Pio pra apresentar
Falando e contando as ruínas
Que eles puderam atravessar

Disse Pio que até a onça
Os perseguiu lá no mato
Ouvindo bem de pertinho
O rosnado de um gato
Disse ele: - Meu Deus do céu
Ó que momento arriscado
11

Disse também qu epediu
Ainda com paciência:
- Não derribem esta casa
Não façam esta violência
E seus filhinhos gritando
Pedindo a Deus providência

- Ninguém ligou meus pedidos
Começaram a derribar
Todas as telhas e jogando
Em baixo para quebrar
Aí, eu também de dentrou
Atirei mais pra intimidar

Aí, eu não vi mais nada
Fiquei louco, certamente
De tudo que aconteceu
Agora não tou ciente
Porque meu sangue ferveu
E eu mudei de repente

Aqui, deixo o Pio Nogueira
Cumprindo com seu destino
Perseguido por César Campos
Homem de instinto ferino
Maltrando o seu próximo
Sem temer um Deus divino

Aqui em nosso Ceará
As cousas estão mudando
Coronel metido a besta
Pensa que vai mandando
Termina perdendo a terra
Quando não sai apanhando

Nas terras de Canindé
Hoje há grande destruição
Por lutas com os camponeses
Contra toda exploração
Os indivíduos foram embora
E vem chegando a união

O sr. César Cammpos
Um perverso e malfeitor
Ordenou os capangas
Perseguiu os trabalhador
Derribou as suas casas
Para provocar terror

O César Campos pensava
O sindicato comprar
Ou mesmo lhe dar dinheiro
Pra do seu lado ficar
Este foi seu maior erro
Que ainda o faz chorar
12

Quando os camponeses viram
A chegada dos malfeiror
Reuniu-se toda a turma
E um bom plano traçou
Armada de foice e cacete
Assim os expulsou

O capataz do perverso
Mandou o seu bando armado
Destelhar todas as casas
Saindo logo alvejado
Caiu um em cima de um toco
Morreu sem dar um piado

A polícia veio logo
Os camponeses atacou
Deram mais de quinhentos tiros
Mas só um tiro acertou
Perderam o delegado
Um cabra e um atirador

Depois desse tiroteio
A turma toda correu
Foi dizer a César Campos
Quem matou e quem morreu
Ele ainda está doente
Do susto que receberu

Aqui termino a história
Escrevi o que ouvi contar
Por rádio e televisão
Agora deixo o restante
Para o César Campos
Contar depois que ele se calar

Fim

Canindé, Ceará, 1971

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  • 2. 2 Os homens desceram todos Otávio Abreu, o ffeitor Disse: - Todos me acompanhem Para uma cerca marchou Dizendo: - Derribem esta Pra começar o labor O Pio não estava em casa Chegou nesta ocasião Lá das bandas doa çude Disse a eles: - Olhe, preste atenção Derrubem todas as cercas Porém, a casa, não! Porém, nesta ocasião Respondeu, alto, o feitor: - Ninguém veio ouvir conversa!... Pio Nogueira se calou Eles trouxeram as escadas Na parede encostou Logo no oitão da casa Começaram a trabalhar Derribando todas as cercas Uns e outros a conversar Dizendo: - Logo, as casas Nós iremos derrubar Derrubaram todas as cercas Saindo do outro lado Nada tendo acontecido Todo mundo animado Mas, para o fim do trabalho Vamos ver o resultado - Vocês já encostaram as escadas Quem quiser pode subir Ou então me deixe em paz Porque eu não vou me afligir Enquanto seu César não me pagar Eu não sairei daqui Foi neste mesmo momento Que um subiu na escada João Longá era seu nome Subiu sem fazer zoada Pio Nogueira, nesta hora Não pensou em mais nada O futuro é enganoso Dele não sabe ninguém Não queiram perder seus direitos Para ganhar um vintém César Campos não é homem Que dê camisa a ninguém
  • 3. 3 A sala já estava Com uma parte destelhada João Longá, lá em cima Como quem não temia nada Nesta hora o Dourado Foi subindo na escada Bem no canto da parede Subiu Longá disfarçado Pio Nogueira, nesta hora Deu-lhe um cartucho emprestado Coitado, não voltou mais Pra contar o resultado Os outros que já estavam Pertinho da cumeeira Quando ouviram a zoada Disse: - Não é brincadeira De um pulo quebrou um pé E ainda deu uma carreira Nisto, o resto da tropa Começou logo a correr Uns diziam: - Meu Jesus Desça pra nos defender Uns perdidos nas matas Outros no chão pra morrer Eram dez horas do dia Dquando este fogo cessou Todos os homens correram Só os mortos ficou Vamos saber da notícia Quando em Canindé chegou Com duas horas depois Do caso acontecido Chegaram uns homens vexado Fazendo grande alarido Dizendo: - Lá, já morreu gente E os homens tão prevenido César Campos inventou Que sofria do coração Atcou-lhe logo os nervos Mandou chamar seu irmão Pra com ele fazer as pazes E amenizar a situação Naquele mesmo momento Deram parte ao delegado Este chamou logo os homens Todos eles bem armados Mas não sbiam que os homens Se achavam bem preparados
  • 4. 4 Pio Nogueiram, em sua casa Estava bem despreocupado Com homens e muitas armas Com as armas que eles tinham deixado Da chegada da polícia Vamos ver o resultado Cídio Martins, o delegado Comanda o destacamento Todos dentro dos carros Preveniu seu armamento Só não foi o coronel Por não estar no momento Pra fazenda Japuara Seguiram os carros apressado Para prender Pio Nogueira Pelo crime praticado O culpado é César Campos É quem deve pagar o pato Chegaram numa latada Em frente, o carro parou Cídio Martins não pensava Para ela marchou Mal pisou debaixo dela O tiroteio começou Bateu de mão o revólver O gatilho apertou Como nunca aconteceu A arma não disparou Um de seus homens de perto dele Com um facão lhe cutelou Deu-lhe um golpe na cabeça Como um leão assanhado Aí, o soldao Freitas Partiu como um alucinado Dizendo: - Tu paga a morte Desse homem tão falado Porém, antes de chegar Francisco Martins atirou Em cima do peito esquerdo O bandido bambeou Caiu no chão, já sem vida O que devia, pagou Francisco Martins lutou Mas não ficou caído O resto, todos correram Valdemar ficou ferido Quando terminou o fogo O Freitas já tinha morrido
  • 5. 5 Pois um soldado disposto Saiu muito estragado Magalhães não morreu Porque saiu premiado E mesmo ele voltou são Para levar o recado Com quatro mortos no chão Uns feridos, outros cortados Pio Nogueira e seus homens Já tinham se retirado Para tirar os mortos Vamos ver o resultado Quando chegu em Canindé Os carros, todos ensanguentado Em frente à Casa Campos Francisco Martins cortado Pois com um tiro nas costas Vinha também estragado Disseram que quatro homens Mortos já tinham ficado Nonato Vinte e Um Cídio Martins, o delegado O carreteiro e o soldado Com três meses de casado Coronel Raimundo Pereira Passou logo urgentemente Um telegrama pedindo Uma força competente E o comandante, logo De tudo ficou ciente Deixando a tropa aí Pronto para viajar Vamos saber de frei Lucas Que os cadáveres foi buscar Foi só quem se atreveu Chegar no dito lugar Frei Lucas apanhnou a kombi Com uma bandeira na mão Um crucifixo na outra Fez a sua obrigação Despediu-se das irmãs E segiu sua missão Quando ele entrou no carro Alguém quis lhe acompanhar Disse ele: - Irei só Para não prejudicar Algum pai de família Que tem pra quem trabalhar
  • 6. 6 Pra fazenda Japuara O frade saiu vexado Mário Neco disse: - Eu vou Lhe fazer acompanhado Porque numa missão dessa Todo homem é Obrigado Apanhou um carro e foi Fazer sua obrigação A kombia ia na frente Veloz como um avião Parou antes de chegar Onde deu-se a traição Saiu do carro frei Lucas Com a bandeira na mão E o crucifixo no peito Pediu de Pio a benção Dizendo: - Eu não venho aqui Pra lhe fazer traição Pio Nogueira abriu a porta Vendo o vigário acenar Com a bandeira da paz Disse: - Pode se encostar Frei Lulcas chegou pra frente Começar a conversar Frei Lucas disse: - Eu não venho Aqui para lhe prender Só quero que me autorize Os cadáveres eu recolher - Pois, não!, lhe respondeu Pio Faça o que o senhor entender Entraram e se sentaram Quando olharam para estrada Um jipe vinha chegando De frente sua morada Acelerou e parou Bem pertinho da latada Foi Mário Neco que lembrou-se De ir o vigário ajudar Botaram os cadáveres dentro Para a kombi transportar Depois arrodiaram a casa E começaram a conversar Pio Nogueira e Mário Neco Que lhe pede e lhe implora: - Fuja desta moradia Deixe tudo e vá embora Não resista com polícia Se entregue ou caia fora
  • 7. 7 Eu, como amigo, lhe peço: É melhor se retirar Já foi pedido reforço E não tarda mais chegar Se retire e vá embora Não adianta enfrentar Com toda essa exclamação Não se mexia ninguém É Mário Neco dizendo: - Dou-lhe este conselho pra o bem Vocês resistem com cinco Mas não resistem com cem Deu-lhe este conselho Entrou no carro e voltou Frei Lucas com os cadáveres Também se encaminhou Com vinte minutos depois Em Canindé chegou Levaram pra enfermaria Todos os sangue lavaram Os enfermeiros, depois Todos os golpes costuraram E alguns feridos com vida Para o hospital transportaram Vamos dexar os cadáveres Para serem sepultados E os feridos, cotiados Para serem recuperados Vamos falar nos reforços De Fortaleza chegados Uns dozes soldados armados Para vingar mestre Cídio Seguiram pra Japuara Pelo trágico ou presídio (sic) Em procura do autor Daquele grande homícidio Chegaram na Japuara Às cinco horas ou mais Já era pela tardinha Todos os policiais Procurando Pio Nogueira Por dentro dos matagais Fizeram fogo na casa Onde o Pio residia Mas, como estava em silêncio Nada ali estremecia A noite muito sutil Nem uma palha bulia
  • 8. 8 Assim passaram a noite Nesta tristonha emboscada Andando dentro dos matos Em vereda e em estrada A fim de pegar os homens Mas não encontraram nada No outro dia, bem cedo Começaram procurar Uns diziam: - Ele fugiu Não está no Ceará Outros diziam: - Ele já vai Do Sete-Estrelo pra lá E assim continuou Aquela grande emboscada Assim puderam sair Onde tinha uma morada Na mesma, a esposa dele Se achava hospedada Investigaram a mulher Ela disse que não sabia Porque quando ele saiu Não disse pra onde ia Disse o sargento: - A senhora Vai para a delegacia Veio ela e outra parenta Que também foi encontrada Decerto fizem parte Daquela luta pesada Chegando, tornaram a ser Novamente investigada Disse a ela o delegado: - Então, não sabe do seu marido? Disse ela: - Não, senhor Ele anda foragido Porque quando ele saiu Eu estava sem sentido Portanto, a investigação Não deu o menor resultado Disse o coronel: - Bote elas Em um quarto resguardado E vamos ver se encontramos Um roteiro aproximado Assim, porém, novamente Com outra séria emboscada Pegaram um conhecido dele E outro seu camarada Deixaram eles detidos E seguiram outra jornada
  • 9. 9 Uns diziam que Pio Nogueira Estava no mato escondido Outros diziam que ele está Em lugar desconhecido Outros disseram: - Em Fortaleza Ele já está protegido Pio Nogueira, ele é Do sindicato, delegado O sr. Lindolfo lhe protege É o seu advogado E ele não quis sair Sem que fosse indenizado Portanto, vamos deixar A polícia em emboscada Vamos falar como o Pio Formou bem sua cilada Ele e seus companheiros Dentro da mata fechada Já era pela tardinha Que Pio Nogueira arribou Ele e cinco companheiros No mato se destinou Com sede e fome e com sono Pelas matas penetrou Assim passaram no matos Sábado, o dia primeiro E para mais sofrimento O segundo e o terceiro Atravessando riacho Rios, grotas e tabuleiros No terceiro dia que Pio Andava no mato degredado Um de seus companheiros chega Onde ele estava hospedado Com um balaço na perna Pulando muito arrastado Disse Pio ao dito homem: - Cuide logo em se tratar Vá para o meio da estrada Procure um carro apanhar Vá direto a Canindé Cuide logo em se hospitalizar Assim mesmo o rapaz fez Procurou logo a estrada Deixando Pio e os outros Naquela mata fechada Aí, o bom leitor veja Que quadra negra pesada
  • 10. 10 Ficando o Pio e os outros Naquele mato arriscado Já era de madrugada Avistaram um arruado Com fome, procuraram lá Pois se achavam Obrigado(a), No mesmo arruado tinha Numa rua um quarteirão No quarteirão, uma venda A qual fazia plantão Pio, com fome, entrou na venda Fez a sua obrigação Pede um quilo de bolacha Come com seus camaradas Mesmo em cima do balcão Como quem não teme nada Neste momento, um carro Fez zoada na estrada Aí, eles se assustaram Mas ficaram parados Logo o carro ali parou Desceram dois advogados Um era o dr. Lindolfo Que os levou com cuidado Pio direto a Fortaleza Seguiu nesta mesma ocasião Ele e seus companheiros Não foram contra a razão E seus dois advogados Acompanharam a prisão Em São José da Macaoca É o nome do arruado Onde Pio e seus companheiros Foram logo encontrado Para ir responder júri Na capital do estado Na hora do noticiário Do Peixoto de Alencar Dr. Lindolfo Cordeiro Levou o Pio pra apresentar Falando e contando as ruínas Que eles puderam atravessar Disse Pio que até a onça Os perseguiu lá no mato Ouvindo bem de pertinho O rosnado de um gato Disse ele: - Meu Deus do céu Ó que momento arriscado
  • 11. 11 Disse também qu epediu Ainda com paciência: - Não derribem esta casa Não façam esta violência E seus filhinhos gritando Pedindo a Deus providência - Ninguém ligou meus pedidos Começaram a derribar Todas as telhas e jogando Em baixo para quebrar Aí, eu também de dentrou Atirei mais pra intimidar Aí, eu não vi mais nada Fiquei louco, certamente De tudo que aconteceu Agora não tou ciente Porque meu sangue ferveu E eu mudei de repente Aqui, deixo o Pio Nogueira Cumprindo com seu destino Perseguido por César Campos Homem de instinto ferino Maltrando o seu próximo Sem temer um Deus divino Aqui em nosso Ceará As cousas estão mudando Coronel metido a besta Pensa que vai mandando Termina perdendo a terra Quando não sai apanhando Nas terras de Canindé Hoje há grande destruição Por lutas com os camponeses Contra toda exploração Os indivíduos foram embora E vem chegando a união O sr. César Cammpos Um perverso e malfeitor Ordenou os capangas Perseguiu os trabalhador Derribou as suas casas Para provocar terror O César Campos pensava O sindicato comprar Ou mesmo lhe dar dinheiro Pra do seu lado ficar Este foi seu maior erro Que ainda o faz chorar
  • 12. 12 Quando os camponeses viram A chegada dos malfeiror Reuniu-se toda a turma E um bom plano traçou Armada de foice e cacete Assim os expulsou O capataz do perverso Mandou o seu bando armado Destelhar todas as casas Saindo logo alvejado Caiu um em cima de um toco Morreu sem dar um piado A polícia veio logo Os camponeses atacou Deram mais de quinhentos tiros Mas só um tiro acertou Perderam o delegado Um cabra e um atirador Depois desse tiroteio A turma toda correu Foi dizer a César Campos Quem matou e quem morreu Ele ainda está doente Do susto que receberu Aqui termino a história Escrevi o que ouvi contar Por rádio e televisão Agora deixo o restante Para o César Campos Contar depois que ele se calar Fim Canindé, Ceará, 1971